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6 Contabilidade das Instituições Financeiras 1. Auditoria Interna do Banco Central (Rotina) Todas as empresas precisam ser monitoradas, controladas e fiscalizadas, principalmente as instituições financeiras, que lidam com um montante muito grande de fundos de terceiros. A instituição fiscalizadora das instituições financeiras é o Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN). Dessa forma, o BCB zela pela Governança Corporativa (GC) em suas auditorias. A GC é um “sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal” (IBGC, 2011). As boas práticas da GC envolvem os princípios fundamentais de transparência (disclosure), equidade (fairness), prestação de contas (accountability), cumprimento das leis (compliance) e ética. Conheça um pouco mais sobre a Governança Corporativa e a atuação do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) nesta missão, assistindo ao vídeo indicado. Como vimos, as instituições financeiras devem enviar mensal, semestral e anualmente relatórios para o BCB, justamente para monitoramento e controle das instituições financeiras, que deverão ser analisados. O objetivo da auditoria é obter uma segurança razoável de que as operações de crédito: ▪ Representam autênticos débitos de clientes; ▪ Encontram-se suportadas por documentação hábil (documento idôneo); ▪ Representam valores realizáveis, estando suportadas por garantias adequadas (estando avalizados); ▪ Estão corretamente classificadas e contabilizadas; ▪ Foram realizadas em conformidade com as normas do BCB. Saiba Mais Assista agora 7Contabilidade das Instituições Financeiras Segundo a Portaria BACEN 94.591/2017, que divulgou a Política de Auditoria Interna do Banco Central do Brasil (BRASIL, 2017, art. 1), no que se refere ao papel institucional da auditoria interna do BCB: Art. 1º: O papel institucional da Auditoria Interna do Banco Central do Brasil (Audit) é auxiliar o Banco Central do Brasil (BCB) a alcançar seus fins institucionais, avaliando, de forma sistemática, objetiva e independente, a eficácia dos processos de gestão de riscos, de controle interno e de governança. São inúmeros os riscos que as instituições financeiras atravessam pelo objeto de sua atividade. Os principais riscos relacionados às operações de crédito realizadas pelas instituições financeiras com reflexos não desejáveis, na opinião do auditor, são: ▪ A inadimplência do cliente, afetando a realização futura do ativo, com efeito nas demonstrações financeiras; ▪ Contabilização inadequada da operação ou de suas atualizações, (amortizações, depreciações etc.), distorcendo as demonstrações financeiras. Na avaliação da exatidão dos dados, o auditor precisa saber como as informações que podem afetar materialmente as demonstrações financeiras são iniciadas, processadas e registradas e se os controles internos estão sendo cumpridos. Veja, a seguir, os aspectos que representam os requisitos mínimos para o controle sobre operações de crédito: ▪ As políticas relacionadas às operações e às delegação de alçadas devem estar claramente definidas em manuais de instruções; ▪ Os responsáveis pela aprovação das operações devem conhecer os princípios básicos de cada modalidade de operação, as políticas e diretrizes da instituição, as leis e os regulamentos aplicáveis. As aprovações devem estar claramente documentadas. ▪ Os títulos representativos de obrigações ou garantia, os contratos e outros documentos devem ser guardados adequadamente; 8 Contabilidade das Instituições Financeiras ▪ As liberações dos créditos ocorrem somente após a conferência da documentação e do registro das garantias; ▪ Deve existir uma adequada segregação entre as funções de controle de documentos e garantia, pagamentos, recebimentos e registros contábeis; ▪ Devem definir procedimentos apropriados para permitir um trabalho efetivo de cobrança dos créditos vencidos. ▪ As renovações e renegociações de operações de crédito devem ser autorizadas em consonância com os níveis de alçadas. Podemos observar que os controles mencionados são de competência de pessoas, funcionários. Os funcionários que trabalham com permissões (alçadas) devem ser pessoas de bastante confiança das instituições financeiras, pois, por meio delas, as liberações de crédito são efetuadas. Os sistemas integrados registram a liberação por meio de senhas pessoais, pois, dessa forma, quando confrontadas com as permissões delegadas a cada funcionário, fica evidenciado de onde partiu a liberação. Se um funcionário não tem determinada permissão, este não poderá realizar alguns tipos de procedimentos. 1.1 Levantamento da Carteira Além da fiscalização do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Imobiliários, conforme os termos da Lei 9.447/97, as instituições financeiras devem passar por auditoria independente (Lei 4.595/64; Lei 6.385/76) e estes responderão administrativamente perante o BCB pelos atos praticados e omissões em que estiverem incorrido no desempenho das atividades de auditoria das instituições financeiras. As instituições financeiras devem ser auditadas por auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que atendam aos requisitos mínimos a serem fixados pelo Banco Central do Brasil, segundo Niyama e Gomes (2012, p. 174) são: I – as demonstrações contábeis, inclusive notas explicativas: a) das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, exceto as sociedades de crédito ao microempreendedor; 9Contabilidade das Instituições Financeiras b) das câmaras e prestadores de serviços de compensação e de liquidação; II – as demonstrações contábeis do consolidado econômico- financeiro (Conef ); III – o documento Informações Financeiras Trimestrais (IFT), na forma de revisão especial. A qualquer momento, a Auditoria Independente pode ser substituída. Se a independência da mesma for questionada, por exemplo, pois o papel dos auditores independentes é dar credibilidade à informação financeira fornecida pelas instituições financeiras. Um caso muito famoso ocorrido no ano de 2014 foi a crise do Banco Panamericano. Muito se questionou sobre falhas na auditoria do Banco Central do Brasil e da Auditoria Independente. Assista ao vídeo indicado e entenda a importância da auditoria sobre as instituições financeiras. As demonstrações financeiras semestrais devem ser publicadas acompanhadas do Parecer da Auditoria Independente e do Relatório da Administração sobre os negócios sociais e os principais fatos administrativos do período. O levantamento da carteira das instituições financeiras é essencial para o devido controle da liberação dos créditos aos diversos clientes. A liberação de crédito deve ser respaldada em avaliações confiáveis dos clientes e, dependendo do montante liberado, deve estar avalizado de alguma forma para que as instituições financeiras não sofram com possíveis inadimplências. São diversos os processos e as ferramentas utilizadas pelas auditorias para verificar, analisar e validar os relatórios e os procedimentos contábeis das instituições financeiras, que se espera que sejam aplicados de forma independente e ética. Saiba Mais Assista agora 10 Contabilidade das Instituições Financeiras 1.2 Auditoria de Caixa No capítulo 1 do COSIF, em Normas Básicas, encontram-se as contas que são consideradas disponibilidades: Caixa, Reservas Livres em Espécie, Aplicações em Ouro e Conciliações. Quando são encontradas diferenças na conta CAIXA, segundo o COSIF e a Circular 1.273 devem ser feitos os seguintes procedimentos contábeis: a) quando a menor, em DEVEDORES DIVERSOS - PAÍS, no subtítulo de uso interno Diferenças de Caixa, com indicação do nome do funcionário responsável, transferindo-se a diferença não regularizada, após esgotados todos os meios usuaise normais de cobrança, até o final do semestre seguinte para PERDAS DE CAPITAL. Admite-se a transferência antes desse prazo, se ficar comprovada a impossibilidade de recuperação; b) quando a maior, em CREDORES DIVERSOS - PAÍS, no subtítulo de uso interno Diferenças de Caixa, transferindo-se a diferença não regularizada até o final do semestre seguinte ao da ocorrência para GANHOS DE CAPITAL. Para as instituições financeiras, a conta CAIXA é uma das mais importantes, pois a maioria dos valores que efetivamente entram ou saem do banco passa por esta conta. Assim, é de suma importância que essa conta seja auditada com mais rigor. Mais à frente, veremos que várias fraudes (lavagem de dinheiro) ocorrem movimentando a conta CAIXA das instituições financeiras. 1.3 Auditoria de Procedimentos Os procedimentos utilizados pelas instituições financeiras e a extensão destes procedimentos dependerão das operações realizadas por cada instituição e da avaliação do controle interno. Importante 11Contabilidade das Instituições Financeiras Vejamos os procedimentos de auditoria realizados nas instituições financeiras: ▪ Avaliar o sistema de controle interno contábil relacionado com a área de operações de crédito, no tocante a: política de concessão de crédito, formalização dos empréstimos e garantias, critérios de contabilização das operações, apropriação das rendas e atualizações, provisão e baixa de créditos em liquidação; ▪ Verificar, por amostragem, as operações de crédito em seus regulamentos específicos, documentação e cobrança de encargos; ▪ Efetuar exame nos processos de concessão de crédito; ▪ Examinar saldo de contas, principalmente do CAIXA e outras sujeitas a reajustes mensais, como: variações cambiais, correção monetária etc. Os procedimentos de auditoria estão relacionados à prevenção à lavagem de dinheiro. Nos anos 80, a prevenção da lavagem de dinheiro passou a ser considerada uma estratégia prioritária para o combate ao crime organizado e, em especial, ao narcotráfico. Países e organismos internacionais passaram a incentivar a adoção de medidas para inibir a proliferação desses crimes, firmando diversos acordos internacionais, após a Convenção de Viena, no âmbito das Nações Unidas, em 1988 e essa Convenção foi aceita pelo Brasil por meio do Decreto 154/1991 (BRASIL, 1991). Em 1989, foi criado o Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro (GAFI/FATF), no âmbito da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), com a finalidade de examinar medidas, desenvolver e promover políticas de combate à lavagem de dinheiro. O Brasil passou a integrar o GAFI/FATF em 1999, como observador, tornando-se membro efetivo em 2000. O marco brasileiro na prevenção à lavagem de dinheiro foi a aprovação da Lei 9.613/1998 (alterada pelas Leis 10.701/2003 e 12.683/2012), conhecida como Lei da Lavagem de Dinheiro (ocultação de bens, direitos e valores), que criou também o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF. (BRASIL, 1998). Até a promulgação desta lei, não existia no ordenamento jurídico brasileiro a figura do crime de lavagem de dinheiro. 12 Contabilidade das Instituições Financeiras O COAF é um órgão de deliberação coletiva com jurisdição em todo território nacional, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, “com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades”, segundo a Lei 9.613/1998 (BRASIL, 1998, art. 14). Como uma das autoridades administrativas encarregadas de promover a aplicação da Lei 9.613/1998, o Banco Central do Brasil editou normas estabelecendo as obrigações das instituições financeiras quanto à prevenção de lavagem de dinheiro. Da mesma forma, a Comissão de Valores Mobiliários editou a Instrução 301/1999 (CVM, 1999, art. 1), alterada pelas Instruções 463/08, 506/11, 523/12, 534/13 e 553/14, na qual a CVM regulamenta as obrigações das instituições sujeitas a sua regulação e fiscalização, conforme a seguir: Art. 1º: São regulados pelas disposições da presente Instrução a identificação e o cadastro de clientes, o registro de transações e o limite de valores, bem como as políticas, procedimentos e controles internos para controle das operações e o cadastramento dos clientes de que tratam os incisos I, II e III do art. 10, o monitoramento e a comunicação das operações e o limite referidos nos incisos I a III do art. 11, e a responsabilidade administrativa prevista nos arts. 12 e 13, todos dispositivos da Lei 9.613, de 3 de março de 1998, que trata dos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, inclusive no que se refere à prevenção da utilização do sistema financeiro para a prática de tais ilícitos. Lavagem de dinheiro é a expressão utilizada para definir o processo pelo qual um indivíduo ou organização buscam, por meio de operações financeiras ou comerciais, dissimular a origem ilícita (ilegal) de recursos ou bens, incorporando-os à economia formal. A grosso modo, lavar recursos é fazer com que produtos do crime pareçam ter sido adquiridos legalmente, transformando em “dinheiro limpo” (dinheiro com aparência lícita, legal) (BB, 2018). A jurisprudência brasileira consolidou o entendimento de que a lavagem de dinheiro é um crime autônomo, ou seja, não é apenas um 13Contabilidade das Instituições Financeiras agravante de outro crime. Por exemplo, se alguém obtém recursos financeiros por meio de corrupção e o próprio corrupto tenta mascarar a origem ilícita por meio de uma simulação, ele cometeu dois crimes; corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Infelizmente temos vários casos destes como exemplos reais no Brasil. Os mecanismos mais utilizados no processo de lavagem de dinheiro envolvem, basicamente, três etapas independentes que, com frequência, ocorrem simultaneamente para despistar as ocorrências, conforme veremos a seguir na Figura 1. Figura 1: Etapas da lavagem de dinheiro. Fonte: Adaptado de BB (2018). Colocação: é o ingresso dos recursos no sistema financeiro ou em outras instituições. Ocultação: a segunda etapa do processo, consiste em dificultar o rastreamento dos recursos ilícitos. Lavagem de dinheiro Colocação Ocultação Integração 14 Contabilidade das Instituições Financeiras Integração: nesta última etapa, os ativos são incorporados formalmente ao sistema econômico. O combate à lavagem de dinheiro tem mostrado que determinados tipos de entidades, setores e atividades são mais visados pelos criminosos em razão de algumas particularidades, como: ▪ Complexidade de operações; ▪ Rapidez de decisões; ▪ Controle fraco ou insuficiente de negociações, bem como das partes envolvidas; ▪ Falta de registro de operações; ▪ Alto índice de liquidez; ▪ Subjetividade na avaliação de bens. Os setores econômicos relacionados como especialmente sensíveis (alvos) na Lei de Lavagem de Dinheiro são: ▪ Instituições Financeiras; ▪ Bolsa de Valores; ▪ Seguradoras; ▪ Agências de turismo; ▪ Joias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e antiguidades; ▪ Revendedoras de veículos; ▪ Empresas de factoring; ▪ Jogos e sorteios; ▪ Imobiliárias; ▪ Internet e comércio eletrônico etc. Vamos entender por que alguns desses setores são mais visados pelos criminosos para praticar a lavagem de dinheiro, conforme Figura 2. 15Contabilidade das Instituições Financeiras Figura 2: Alguns setores visados para a lavagem de dinheiro. Fonte: Adaptado de Mink (2005). Existem países em situações especialmente suspeitas, segundo menciona Mink (2005), como: ▪ Paraísos Fiscais: os chamados paraísos fiscais são países ou dependências que, por não tributarem a renda, ou por tributarem- na à alíquota inferior a 20% ou, ainda, por terem uma legislação que garante o sigilo relativo à composição societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade, oferecem oportunidadesatraentes e vantajosas para a movimentação de recursos. Instituições Financeiras – No Brasil, controladas pelo Banco Central do Brasil , compõem um dos setores mais visados pelas organizações criminosas para a realização de operações de lavagem de dinheiro. A razão disso é que as novas tecnologias e a globalização dos serviços financeiros imprimem uma velocidade sem precedentes à circulação do dinheiro. Em busca de taxas de juros mais atraentes, compra e venda de divisas e operações internacionais de empréstimo e financiamento, recursos misturam-se num vasto circuito de transações complexas. Nessas transações, o dinheiro “sujo” se confunde com quantias que essas instituições movimentam legalmente todos os dias, o que favorece o processo de dissimulação da origem ilegal. Seguradoras – o mercado de seguros, capitalização e previdência privada aberta, fiscalizados no Brasil pela Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, é outro setor vulnerável à lavagem de dinheiro, seja em relação aos acionistas, seja em relação aos segurados, subscritores, participantes e intermediários. Os acionistas de uma Seguradora podem deliberar pela realização de determinados investimentos que possibilitem a prática de lavagem de dinheiro; os segurados podem apresentar avisos de sinistros falsos ou fraudulentos visando também à lavagem de dinheiro; os subscritores e participantes podem transferir a propriedade de títulos de capitalização, promover a inscrição de pessoas inexistentes ou falecidas como “laranjas” em planos de previdência privada e assim por diante. DG: Agências de turismo – As agências de turismo podem se transformar em um caminho clandestino para se remeter dinheiro ao exterior. Algumas delas chegam a movimentar milhares de dólares por dia em operações com câmbio no mercado paralelo, sustentando um esquema de evasão de divisas. Essas agências costumam ser bastante simples na aparência, porém mantêm um esquema de movimentação de dólares, euros e libras entre vários países, possibilitando a lavagem de dinheiro. Bolsa de Valores – As condições favoráveis à realização de operações de lavagem de dinheiro proporcionadas pelas Bolsas de Valores envolvem o alto índice de liquidez dos papéis negociados, a realização das operações por meio de corretores, a grande competitividade entre os corretores, a realização de negócios com características internacionais e o curto espaço de tempo em que as transações com os papéis podem ser realizadas. 16 Contabilidade das Instituições Financeiras ▪ Centros Off-shore: são centros bancários extraterritoriais não submetidos ao controle das autoridades administrativas de nenhum país, sendo, portanto, isentos de qualquer tipo de controle. Os centros off-shore compartilham com os paraísos fiscais a ideia de representarem uma finalidade legítima e certa justificação comercial, embora ambos estejam envolvidos diretamente nos principais casos de lavagem de dinheiro descobertos nos últimos anos envolvendo organizações criminosas na execução de manobras ilegais. ▪ Países e Territórios não Cooperantes: são países e territórios que não colaboram no combate à lavagem de dinheiro por manterem legislação que facilita a adoção de práticas que propiciam o crime de lavagem de dinheiro, preservando sigilos, permitindo manobras legais, dificultando o acesso às informações e o rastreamento de recursos obtidos com a prática de ilícitos antecedentes à lavagem de dinheiro. Dessa forma, o COAF entra em ação e tem um papel importantíssimo. São competências do COAF, segundo a Instrução CVM 301/1999: I. coordenar e propor mecanismos de cooperação e troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes na prevenção e no combate à ocultação ou à dissimulação de bens, direitos e valores; II. receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na lei; III. disciplinar e aplicar penas administrativas a empresas ligadas a setores que não possuem órgão regulador ou fiscalizador próprio; IV. comunicar às autoridades competentes, para a instauração dos procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de fundados indícios da prática do crime de lavagem de dinheiro ou de qualquer outro crime. São diversas as medidas de prevenção à lavagem de dinheiro nas instituições financeiras. O BACEN, por meio da Carta Circular 3.542/2012 (BCB, 2012) e da Circular 3.461/2009 (BCB, 2009), determinou que as instituições financeiras e demais instituições sob sua regulamentação devem 17Contabilidade das Instituições Financeiras manter atualizados os cadastros dos clientes; manter controles internos para verificar, além da adequada identificação do cliente, a compatibilidade entre as correspondentes movimentações de recursos, atividade econômica e capacidade financeira dos usuários do sistema financeiro nacional; manter registros de operações; promover treinamento para seus empregados; implementar procedimentos internos de controle para detecção de operações suspeitas; e comunicar operações ou situações suspeitas ao Banco Central. A Carta Circular 3.542/2012 divulga relação de operações e situações que podem configurar indício de ocorrência dos crimes previstos na Lei 9.613/1998 (operações consideradas suspeitas), e estabelece procedimentos para sua comunicação ao Banco Central do Brasil. A Circular 3.461/2009 consolida as regras sobre os procedimentos a serem adotados na prevenção e no combate às atividades relacionadas aos crimes previstos na Lei da Lavagem de Dinheiro, com ênfase em três obrigações das instituições financeiras: ▪ implementar políticas, procedimentos e controles internos, de forma compatível com seu porte e volume de operações, destinados a prevenir sua utilização na prática do crime de lavagem de dinheiro; ▪ coletar e manter atualizadas as informações cadastrais de seus clientes permanentes; ▪ identificar entre seus clientes permanentes quais são Pessoas Expostas Politicamente (PEPs). Pessoas Expostas Politicamente são os agentes públicos que desempenham ou tenham desempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em outros países, funções públicas relevantes, assim como seus familiares, representantes e outras pessoas de seu relacionamento próximo. Esses clientes necessitam, conforme previsão legal, de um acompanhamento mais criterioso de sua movimentação financeira. Veremos, a seguir, o que são operações consideradas suspeitas, conforme as determinações da Carta Circular 3.542/012. A realização das operações ou a verificação das situações apresentadas a seguir podem configurar indícios de ocorrência do crime de lavagem de dinheiro. 18 Contabilidade das Instituições Financeiras São diversas as operações consideradas suspeitas, geralmente relacionadas às seguintes tipologias: movimentações em espécie, manutenção de contas, atividades internacionais e empregados das instituições financeiras. Detectada a ocorrência de qualquer operação suspeita, é obrigação da instituição financeira comunicar a operação imediatamente ao BACEN. Além das operações consideradas suspeitas mencionadas anteriormente, há duas modalidades de operações em espécie que o Banco Central também obriga que sejam comunicadas, conforme Carta Circular 3.461/2009 (BCB, 2009, art. 13). São elas: ▪ as movimentações em espécie de valores iguais ou superiores ao limite estabelecido pelo BACEN, atualmente R$ 10 mil, realizadas por uma mesma pessoa, conglomerado ou grupo em um mesmo dia. Estas operações devem ser registradas pelas instituições financeiras e comunicadas ao Banco Central ao fim do dia em que ocorreram; ▪ todas as movimentações em espécie de valor igual ou superior a R$ 100 mil, independentemente de qualquer análise. Essas operações devem ser comunicadas ao BACEN no mesmo dia de sua ocorrência, durante o horário de expediente bancário. Quando se refere a operações em espécie, a normatização do BACEN inclui tanto depósitos quanto saques.E é importante lembrar que as comunicações, quando feitas voluntariamente, não acarretam responsabilidade civil ou administrativa às Instituições, aos seus controladores, aos administradores e aos empregados, porém, há entendimento de que a omissão de qualquer comunicação poderá caracterizar coautoria da instituição financeira. De acordo com a Circular BACEN 3.461/2009 (BCB, 2009), as instituições financeiras devem coletar e manter atualizadas as informações cadastrais de seus clientes permanentes, incluindo, no mínimo: a. pessoas físicas: nome completo, filiação, nacionalidade, data e local do nascimento, documento de identificação (tipo, número, data de Importante 19Contabilidade das Instituições Financeiras emissão e órgão expedidor) e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF); b. pessoas jurídicas: firma ou denominação social, atividade principal, forma e data de constituição, informações referidas na alínea “a” que qualifiquem e autorizem os administradores, mandatários ou prepostos, número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e dados dos atos constitutivos devidamente registrados na forma da lei; endereços residencial e comercial completos; número do telefone e código de Discagem Direta a Distância (DDD); valores de renda mensal e patrimônio, no caso de pessoas naturais, e de faturamento médio mensal referente aos doze meses anteriores, no caso de pessoas jurídicas; e declaração firmada sobre os propósitos e a natureza da relação de negócio com a instituição. As instituições financeiras são ainda obrigadas a manter registros e controles internos consolidados que permitam a adequada identificação do cliente e a verificação da compatibilidade entre a movimentação financeira e a atividade econômica/capacidade financeira dos clientes. As instituições financeiras devem ainda manter registros, na forma estabelecida pelo BACEN, de operações envolvendo moeda nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliários, metais ou qualquer outro ativo passível de ser convertido em dinheiro. É importante conhecer os clientes das instituições financeiras (suas atividades), prevenindo assim contra o crime de Lavagem de Dinheiro. Para conhecer bem o cliente, os seguintes procedimentos devem ser observados: ▪ Identificar e conhecer o cliente previamente à abertura de conta ou à realização de negócios; ▪ Identificar e registrar o patrimônio e os recursos financeiros reais e presumíveis do cliente; ▪ Identificar e registrar referências pessoais, profissionais e bancárias do cliente; 20 Contabilidade das Instituições Financeiras ▪ Identificar e registrar as atividades profissionais e empresariais do cliente; ▪ Identificar, registrar e monitorar com especial atenção e prioridade os negócios, operações e as movimentações financeiras dos clientes classificados como pessoas expostas politicamente – PEP, dos clientes que mantêm contas em áreas fronteiriças e dos clientes que exercem atividades consideradas de maior risco de ocorrência dos crimes de lavagem de dinheiro; ▪ Realizar visitas aos clientes pessoas jurídicas para conhecer os clientes; ▪ Adotar os procedimentos de identificação cadastral para as pessoas jurídicas, de maneira que as exigências alcancem todos os representantes, tanto pessoas físicas ou jurídicas; ▪ Monitorar a compatibilidade entre as movimentações financeiras e a evolução patrimonial dos clientes e sua renda ou faturamento. A criminalização da lavagem de dinheiro foi exigida por vários instrumentos de Direito Internacional, com destaque para a Convenção de Viena de 1988, a Convenção Contra o Crime Organizado Transnacional de 2000, e a Convenção Contra a Corrupção de 2003. O Grupo de Ação Financeira Internacional sugeriu a criminalização logo nas suas primeiras recomendações, emitidas em 1990. O Brasil assinou a Convenção de Viena e, em março de 1998, aprovou a Lei 9.613, que tipifica o crime de lavagem de dinheiro. Em 09 de julho de 2012, foi aprovada a Lei 12.683, que revoga a lista anterior de crimes antecedentes necessários para que haja condenação por lavagem. A partir dessa data, todos os ilícitos previstos no Código Penal Brasileiro são considerados antecedentes. A pena criminal aplicável aos que praticarem o crime de lavagem de dinheiro é de reclusão, de três a dez anos, e multa. 21Contabilidade das Instituições Financeiras Síntese Nesta unidade de aprendizagem, vimos a importância da auditoria nas instituições financeiras com a obrigatoriedade do Banco Central do Brasil, em fiscalizar; da Auditoria Independente, em analisar e validar os relatórios contábeis; e da CVM, em divulgar as informações dessas instituições. Abordamos, também, a importância da checagem da conta CAIXA e do levantamento dos procedimentos bancários para se ter instituições financeiras confiáveis e livres de tentativas de fraudes. Conhecemos os inúmeros cuidados e preocupações que as instituições financeiras adotam para trabalhar contra a lavagem de dinheiro, uma vez que são alvos rotineiros de golpistas e estelionatários. Evidencia-se, assim, a importância das precauções que devem fazer parte do dia a dia dessas instituições financeiras. 22 Contabilidade das Instituições Financeiras Referências BB. Conheça o que é e como ocorre a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo. Disponível em: <https://www.bb.com.br/portalbb/ page251,105,5269,0,0,1,1.bb?codigoNoticia=2970&codigoMenu=580>. Acesso em: 29 out. 2018. BCB. Carta Circular 3.542, de 12 de março de 2012. Disponível em: <https:// www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/ Lists/Normativos/Attachments/49233/C_Circ_3542_v1_O.pdf>. Acesso em: 29 out. 2018. ______. Carta Circular 3.461, de 24 de julho de 2009. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo. asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/47555/Circ_3461_v8_L.pdf>. Acesso em: 29 out. 2018. BRASIL. Circular Bacen 1.273, de 29 de dezembro de 1987. 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Instrução CVM 301, de 16 de abril de 1999. Disponível em: <http:// www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/ inst301consolid.pdf>. Acesso em: 27 out. 2018. IBGC. Origem da boa governança. Disponível em: <https://www.ibgc.org. br/>. Acesso em: 22 out. 2018. MINK, Gisele Fernandes Cardoso. Lavagem de Dinheiro. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/menu/acesso_informacao/ serieshistoricas/trabalhos_academicos/anexos/Gisele_Fernandes_Cardoso_ Mink-lavagem-dinheiro.pdf>. Acesso em: 25 out. 2018. NIYAMA, Jorge Katsumi; GOMES, Amaro L. Oliveira. Contabilidade de instituições financeiras. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012. TV SENADO. Henrique Meirelles (pres. BACEN) fala sobre falhas na auditoria do Banco Panamericano. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=ShHD0ygj87I>. Acesso em: 31 out. 2018.
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