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Interações salinidade-fertilidade do solo Rivaldo V. dos Santos1, Lourival F. Cavalcante1 & Adriana de F. M. Vital1 1 Universidade Federal de Campina Grande 2 Universidade Federal da Paraíba Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados ISBN 978-85-7563-489-9 Fortaleza - CE 2010 Introdução As interações salinidade-fertilidade Origem e classificação dos solos salinizados Classificação-interação Atributos do solo na interação Dinâmica dos nutrientes em solos salinizados Disponibilidade de nutrientes Deficiência de nutrientes Toxicidade de íons Na+ Influência da matéria orgânica Disponibilidade de nutrientes Efeitos da sodicidade Manejo da fertilidade em solos salinos e sódicos Fertilização e nutrição mineral Alguns resultados de pesquisa Espécies arbóreas Gramíneas e leguminosas Oleaginosas Frutíferas Corretivos e atributos químicos Estudo de correlação Referências INTRODUÇÃO A busca por áreas ou solos férteis antecede a era cristã e tem dependência direta pela demanda dos povos por alimentos e seu crescimento populacional. Escritos antigos (2500 a.C) fazem referência a fertilidade do solo na Mesopotânia entre os rios Tigres e Eufrates; já Heródoto (500 a.C) e Theophrastus (300 a.C) atribuem o aumento de produção a maior fertilidade do solo pela inundação das áreas pelas águas dos rios. A partir do século XIX a explosão demográfica exigiu novas fronteiras agrícolas e atualmente há limitação de solos férteis e produtivos, devido ação antrópica inadequada ou clima, principalmente nas regiões áridas e semi-áridas. Na região semi-árida, caracterizada por elevada evapotranspiração, em torno de 2000 mm ano-1, e baixos índices pluviométricos, os solos tendem a apresentar alta concentração de bases trocáveis decorrente do incipiente processo de lixiviação, indicando a princípio, solos de alta fertilidade. No entanto em áreas irrigadas, pelo intenso processo de solubilização de minerais há acúmulo de íons, que quando precipitam, originam solos com acúmulo de sais, muitas vezes de reação alcalina, limitando sua fertilidade e a produtividade das culturas. O termo “fértil” é sinônimo de “frutífero” e “prolífico”. Na realidade, na Ciência do Solo a fertilidade é sinônimo de disponibilidade de nutrientes assimiláveis às plantas em quantidades suficientes e balanceadas, de modo que a produção agrícola seja satisfatória. Além disso, devem estar livres de substâncias ou elementos tóxicos e possuir atributos físicos, químicos e biológicos satisfatórios. Deve- se deixar claro que um solo fértil apenas produz satisfatoriamente caso localize-se em zonas climáticas favoráveis. Os solos localizados na região semi-árida, por apresentarem elevada evapotranspiração, tendem a concentrar elementos químicos na solução do solo, principalmente sais solúveis e sódio, reduzindo sua fertilidade e resultando em severos prejuízos à produtividade agrícola. Nesse contexto, fica evidenciado que os solos podem ser bem supridos em nutrientes sob a forma disponível e serem inférteis e improdutivos, pois outros fatores que limitam o desenvolvimento vegetal. Por exemplo, os solos salinizados, presentes principalmente em áreas irrigadas do semi-árido, contêm elevada concentração de nutrientes, no entanto, por apresentarem altos conteúdos de sais solúveis e/ou de sódio trocável não são produtivos. Conceitualmente, por apresentarem elevada saturação por bases, a princípio, se poderia afirmar que estes solos tem elevada fertilidade química, no entanto as condições adversas presentes nestes provocam prejuízos nos atributos do solo com drásticas limitações na disponibilidade de nutrientes e toxicidade de elementos químicos nos vegetais. Quando o crescimento vegetal é limitado por outros fatores que não seja a disponibilidade de nutrientes, a eficiência no uso de fertilizantes é reduzida. Mas os solos com problemas salinos, comuns em regiões áridas e semi-áridas, apresentam limitações químicas específicas e sua correção e aplicação de nutrientes é indispensável à produção agrícola. A compreensão da dinâmica dos atributos físicos nos solos salinizados e o domínio de técnicas visando a recuperação dos mesmos constituem-se avanços promissores, onde comprovadamente o uso de corretivos traz melhoria dessas condições. No entanto, quanto aos atributos químicos há um longo caminho a ser percorrido, seja relativo ao balanceamento iônico na solução do solo após a lavagem do solo ou a aplicação de corretivos. A compreensão dessa interação salinidade-correção- fertilidade constitui-se num desafio para reintegrar tais áreas degradadas à exploração agrícola e minimizar o Interações salinidade-fertilidade do solo 230 Rivaldo V. dos Santos et al. impacto sócio-ecômico-ambiental resultante do processo de salinização nas regiões áridas e semi-áridas. Nesse capítulo será enfatizado o efeito do excesso de sais e de sódio trocável nos atributos do solo, sua interação com a fertilidade e, em especial, sua influência na nutrição mineral e na produção de culturas. AS INTERAÇÕES SALINIDADE-FERTILIDADE Origem e classificação dos solos salinizados Nas regiões áridas e semi-áridas, devido ao baixo conteúdo de água nos solos, os minerais primários e secundários sofrem um incipiente processo de degradação química, onde as reações de hidrólise, hidratação, carbonatação e oxi-redução restringem-se a um curto período de tempo, liberando poucos eletrólitos para a solução do solo; no entanto, ao longo do tempo há acumulações periódicas de cátions e ânions que, por estarem localizados em ambiente com grande índice de evapotranspiração, tendem a precipitar-se sob a forma de sais. Esses compostos apresentam solubilidade variável, sendo representados por sulfatos, carbonatos, cloretos e bicarbonatos. A influência desses sais confere aos solos características específicas e têm impacto direto e indireto em sua fertilidade. A ocorrência de minerais no ambiente do solo e seu intemperismo são de extrema importância para compreensão da salinização primária do solo. As reações de hidrólise, hidratação, oxidação e redução são discutidas em capítulo específico por Kampf et al. (2007) Os solos afetados por sais têm sua classificação baseado na concentração de sais solúveis do extrato da solução do solo, na percentagem de sódio trocável e no pH. Os solos salinos (álcali-branco) são aqueles em que o crescimento das plantas é limitado pela grande quantidade de sais solúveis. Podem ser convertidos em solos não salinos pela lixiviação do excesso de sais da zona radicular. A condutividade elétrica (CE) é maior que 4 dS m-1 e o percentual de sódio trocável (PST) menor que 15%. O pH é geralmente inferior a 8,5 e normalmente são bem floculados. Os solos salino- sódicos apresentam CE maior que 4 dS m-1 e PST superior a 15%, enquanto seu pH situa-se em torno de 8,5. A sua limitação à produtividade vegetal deve-se ao efeito conjunto da concentração excessiva de sais solúveis e de sódio trocável. Nestes solos ocorre a lixiviação mais intensa dos sais solúveis que do sódio trocável, convertendo-o a solo sódico. Os solos sódicos (álcali-negro) têm CE inferior a 4 dS m-1, PST maior que 15% e frequentemente pH superior a 8,5. Deve-se destacar que o pH do solo não é fator decisivo na classificação, pois é comum encontrar-se solos sódicos ou salino-sódicos com reação ácida, com pH variando de 5,0 6,0. A alcalinidade dos solos salinizados é mais frequente nos solos salino-sódico e sódicos, e esta deve-se a baixa concentração hidrogeniônica (H+) e a elevada concentração dos ânions OH-, CO32- e HCO3-. Classificação-interação Solos salinos: O pH é um atributo químico do solo que exerce intensa influência nas trocas iônicas do solo principalmente nos solos com mineralogia onde predomina as argilas 1:1, tais como caulinita, nontronita e óxidos de Fe e Al, que são situações onde as cargas negativas presentes na superfície externa dos minerais são dependentes do pH, ou seja, aumentam juntamente com o pH. Nos solos salinos devido a alta concentração de sais solúveisos valores de pH variam de 6,5-8,0, quanto a fertilidade e disponibilidade de nutrientes apresentam uma faixa adequada; no entanto a concentração excessiva de sais solúveis aumenta a CE da solução do solo tornando seu potencial osmótico (os) mais negativo. Na realidade o potencial osmótico tomado como referência é o os da água pura, livre de sais, nesta a energia livre da água é máxima e o os é igual a zero. À medida que a concentração de sais aumenta o os vai tornando-se mais negativo, tornando o meio hipertônico, e a força de retenção de água no solo é maior, aumentando a dificuldade das plantas obterem água e nutrientes para seu crescimento, restringindo a fertilidade desses solos. Como a água migra de uma região de maior concentração (mais moléculas de água) para outra de menor concentração, é evidente que as raízes vegetais quando em contato com a solução salina não conseguem absorver água, ao contrário perdem, originando murchamento das células vegetais, com consequente secamento e morte das plantas. Relativo ao atributo físico, a concentração excessiva de sais confere uma maior permeabilidade aos solos salinos. È um aspecto positivo no manejo desses solos e na melhoria de sua fertilidade. Dessa forma sua recuperação exige a adição de volumes de água no solo de modo que ocorra a lixiviação de sais do perfil e a manutenção do lençol freático abaixo da zona radicular. Na realidade, a maior concentração de eletrólitos há uma maior compressão da dupla camada difusa, fazendo com que as partículas fiquem mais próximas; nesta caso as forças de Van der Waals superam as forças repulsivas, resultando num aumento do grau de floculação das partículas. Isso ocorre quando a distância entre as 231Interações salinidade-fertilidade do solo partículas é inferior a 20 Angstrons (A). A maior floculação é também proporcional à concentração de Ca2+ e Al3+. Assim, apesar dos solos salinos apresentarem uma elevada soma por bases trocáveis e solúveis, com saturação por bases superior a 70% (V), a rigor não são solos férteis, devido seu fator osmótico limitar sua fertilidade. Dessa forma a V não é recomendável na avaliação da fertilidade dos solos salinos, devido a concentração excessiva de sais, mesmo quando subtrai- se do total dos sais aqueles solúveis e considera-se apenas os cátions trocáveis. Os valores do pH em solo salino tendem a ser baixo em decorrência da elevada concentração iônica na solução do solo, principalmente excesso de K+, Cl- que são quantificados no processo potenciômetro. Solos salino-sódicos: A fertilidade do solo é limitada pelos aspectos apresentados no item anterior, acrescentando-se a esses os aspectos da sodicidade, que caracteriza-se pela alta concentração de sódio trocável e, na maioria das vezes, está associada também a condições de reações básicas. Os solos salino-sódicos são comuns nos perímetros irrigados do semi-árido paraibano e sua implicação na fertilidade dos solos têm três vertentes: a primeira deve- se ao aspecto químico desfavorável da alta concentração de sais solúveis e seu impacto negativo do baixo os na solução do solo e a segunda refere-se a concentração excessiva de sódio solúvel e trocável que acrescenta uma dificuldade específica no manejo desses solos, e a terceira relaciona-se com a reação dos solos, normalmente têm pH que variam de 8,5 a 11, esta com influência direta e indireta na disponibilidade de nutrientes. A primeira implicação já foi discutida no item A. Solos sódicos: A fertilidade do solo é afetada pela concentração excessiva de sódio trocável e solúvel o qual provoca implicações negativas nos atributos químicos e físicos do solo. A alta concentração de sódio resulta em sua toxidez na zona radicular e antagonismo com a absorção de potássio pelas plantas. a) O sódio e a dispersão O excesso de sódio provoca um aspecto extremamente desfavorável no solo: a dispersão das argilas. Estando ainda associado a dominância de cargas negativas, adsorvidas e em solução, excesso de Mg2+ e matéria orgânica e a baixa concentração de eletrólitos. Tal fato ocorre quando a distância inter-partículas supera 20 Angstrons, as forças repulsivas são dominantes, criando uma suspensão de argilas estáveis, provocando severos prejuízos no solo. A dispersão destrói a estrutura do solo, separando as partículas unitárias de areia, silte e argila. A argila, por apresentar menor diâmetro, preenche toda a porosidade do solo, provocando o encrostamento do solo, minimizando a condutividade hidráulica do solo, aumentando sua densidade e compactação, reduzindo a capacidade de retenção de água, provocando uma maior resistência mecânica à germinação e ao crescimento radicular e restringindo a dinâmica dos nutrientes no solo. Há sob essa condição uma forte limitação à produtividade vegetal. A má aeração dos solos sódicos, devido a ausência do oxigênio, provoca implicações negativas na disponibilidade de nutrientes. O oxigênio é o receptor primário de elétrons no solo e, em sua ausência, outros receptores secundários passam a substituí-lo, dentre esses o Mn3+, Mn4+, Fe3+, NO3- e SO42-. Tais nutrientes sofrem redução, convertendo-se em formas indesejáveis à agricultura, ou seja, Mn2+, Fe2+, NO, N2 N2O e H2S, que volatilizam ou passam a atingirem concentrações tóxicas. b) Reação do solo e disponibilidade de nutrientes A forte reação alcalina (pH=10) de muitos solos sódicos é causada pela alcalinização, que resulta da hidrólise dos íons Na+ adsorvido a argila do solo e do Na2CO3 (TAN, 1982 ). Reações Na2CO3 + 2H2O → 2 Na+ + 2 OH- + H2CO3. Os íons OH- produzidos aumentam com o pH do solo. ARGILA- Na+ + H2O → ARGILA–H+ + Na+ + OH- A sodificação do solo está associada a excessos dos ânions OH-, HCO3- e CO32-, conferindo-o forte alcalinidade, a qual implica, para o vegetais, numa severa toxicidade de sódio e boro e deficiências de Zn, Fe, Cu, Mn e P. Os solos sódicos intensamente lixiviados tendem a ser ácidos (pH~5,5) e com baixas concentrações de Ca, Mg e K. Sob condições de pH variando de 8,5 a 11, associado a alta PST, há acúmulo de matéria orgânica e reduzida mineralização, com a consequente diminuição na disponibilidade de N, P, S e B aos vegetais. Atributos do solo na interação A fertilidade do solo é grandemente afetada pelas condições salinas. Quanto a influência da concentração excessiva de sais solúveis destaca-se seu efeito no aumento da condutividade elétrica e na concentração de ânions, tais como cloretos, sulfatos, carbonatos, bicarbonatos e boratos, na solução do solo. Sob condições sódicas um outro agravante é a presença de elevado pH (> 8,5). Tais condições originam toxicidade 232 Rivaldo V. dos Santos et al. e provocam deficiências nutricionais às plantas. A compreensão da dinâmica desses íons, assim como da reação do solo é indispensável para que se possa evitar concentrações excessivas e desbalanceadas de nutrientes, ou adicionar aqueles que estão em concentrações muito baixas. Além de influir nos atributos químicos, as condições salinas, especificamente o excesso de íons de sódio, provocam alterações desfavoráveis nos atributos físicos do solo. O elevado poder dispersante do sódio reduz a floculação e a estabilidade dos agregados do solo, aumentando a densidade, reduzindo sua porosidade e a capacidade de retenção e de infiltração de água no solo. Na realidade o sistema salinizado é complexo: o solo com excesso de sais solúveis pode apresentar uma saturação por bases alta, porém não é fértil; e o solo com excesso de sódio exerce implicação negativa direta e indireta na química e na física do solo O acúmulo de matéria orgânica em solos sódicos é outra característica marcante, indicada pela presença de manchas escurecidas na superfície. Os atributos químicos, físicos e biológicos característicos dos solos afetados por sais restringem a disponibilidade de nutrientes para as plantas e, portanto, a fertilidade do solo. A adoção de práticas de manejo nesses solos exige a compreensão da complexidade e intensidade da interação salinidade-sodicidade-fertilidade; só assim podem-se ter uma melhor nutrição mineral das plantas e tornar esses solos economicamente viáveis à exploração agrícola. Potencial osmótico: O potencial osmótico (PO) é resultante da hidratação dos íons na solução do solo. Pode-se usar a equação de Van’t Hoff para calcular o potencial osmótico de uma solução: PO = -RTC, onde R é a constante universal dos gases (84,7 cca.L.mol- 1.K-1), T é a temperatura absoluta da solução em Kelvin, e C é a constante do soluto em Mol. L-1 (Amaro Filho et al, 2009). A osmose corresponde a um processo pelo qual a água, e não os sais, passam através de uma membrana semi-permeável de uma solução menos concentrada para outra com maior teor de sais. A concentração excessiva de sais na solução do solo diminui a energia livre da água, reduzindo sua absorção pelas plantas e aumentando a condutividade elétrica (CE). Para determinar-se a CE, a solução é colocada entre dois eletrodos com mesma geometria e colocados a mesma distância. È proporcional a concentração de sais na solução, sendo determinada pela relação: TSS (mg L-1) = CE (dS m-1) x 640, para soluções cuja CE varia de 0,1 a 5 dS m-1, onde TSS representa o total de sais solúveis. Em extratos com CE variando de 3 a 30 dS m-1, utiliza-se PO (atm)= CE (dS m-1) x (-0,36) (Bohn et al., 1985). O principal efeito dos sais é osmótico, já que o alto nível de sais no solo dificulta a absorção de água pelas plantas. As plantas apresentam uma membrana semi- permeável que permite a passagem de água, mas evita a passagem de sais. Quanto mais salina a água, mais osmoticamente difícil é de extraí-la da solução do solo. No interior do citoplasma ou vacúolo celular há uma solução composta com uma determinada PO, essas quando em contato com uma solução muito salinizada, com menos moléculas de água, tendem a perder água para o meio, murchando e levando esse murchamento para toda a parte aérea das plantas. Sabe-se que os nutrientes apenas são absorvidos pelos vegetais quando encontram-se sob forma iônica e solubilizados, e antes de ocorrer o processo de absorção há necessidade que ocorra o contato íon-raiz, que verifica-se por fluxo de massa, difusão ou interceptação radicular. No fluxo de massa o nutriente desloca-se com a solução do solo e é muito reduzida pelo aumento da condutividade elétrica, restringindo principalmente a absorção de nitrogênio e potássio. Há necessidade de eliminar das áreas salinas o excesso de sais solúveis. O manejo dos solos salinos deve considerar prioritariamente o balanço de sais na área. Deve-se ter em mente que a quantidade de sais que sai da área deve ser maior ou igual àquela que entra, de modo que a CE do extrato de saturação seja, no mínimo 4 dS m-1, ou 2 dS m-1 segundo conceito mais recente (Bohn, 1985). A alternativa é manter o excesso de sais precipitados, e assim, inativos com relação às plantas ou mesmo solúvel, desde que o lençol freático permaneça abaixo da zona radicular. Apesar das plantas desenvolverem-se normalmente quando os sais estão precipitados deve-se atentar para que isso não conduza à condições sódicas ou a desequilíbrios nutricionais. Entre os manejos, o mais recomendável é a eliminação do excesso de sais solúveis, aplicando-se uma lâmina de água de boa qualidade. A quantidade de água a ser aplicada para reduzir a concentração de sais a um nível tolerável é calculada através da necessidade de lixiviação (NL), sendo tratada em outro capítulo. Reação do solo: A alcalinidade do solo refere-se a condição onde o pH do solo é superior a 7,0; ocorrendo em áreas de formação geológica com altas concentrações em calcita e dolomita e atividades bioclimáticas favoráveis à decomposição química desses minerais, com a consequente adição de ânions à solução do solo, tais como OH-, CO3=, HCO3-, superando a concentração hidrogeniônica. Tais solos apresentam 233Interações salinidade-fertilidade do solo bases, que conceitualmente são substâncias que, dissolvidas em água, se dissociam, fornecendo íons hidróxido como único tipo de ânion: NaOH → Na+ + OH-. Quimicamente base é toda espécie química que produz OH- ou que recebe prótons H+. A reação dos solos sob condições salinas é variável. Os solos salinos tendem a apresentar reação salina levemente alcalina ou ácida, normalmente tem pH < 8,5. Quanto aos solos salino-sódicos, apresentam pH 8,5; já nos solos sódicos o pH é superior a 8,5. Em alguns solos sódicos intensamente lixiviados o pH atinge valores baixos que variam de 5,5 a 6,0, sendo denominados de solodi. Tais solos são comuns na área irrigada de São José do Bonfim, no semi-árido da Paraíba. A reação desses solos durante muito tempo tem sido expressa por sua alcalinidade, ou seja, pela diferença entre a concentração total de cátions e a concentração total de ânions. Como nos solos com excesso de sais e de sódio os ânions dominantes são o carbonato, o bicarbonato e a hidroxila, sua alcalinidade é expressa por: Alcalinidade = HCO 3 ] + 2 [CO3 2 - ] + [OH-] - [ H+] Os colchetes denotam concentração molar. Dessa forma, a elevação de pH é acompanhada pelo aumento na concentração de carbonatos como ocorre no intemperismo de carbonatos sob a influência de CO2: CaCO3 + H2O = Ca2+ + 2HCO3- ARGILA - Na + H2O + CO2 = ARGILA - H+ + Na+ + HCO3- Assim, a elevação da pressão parcial de CO2 aumenta o pH do sistema. Em solos sódicos, devido à elevada concentração de carbonatos e bicarbonato de sódio, o pH situa-se em torno de 10. Solos ricos em CaCO3 tem frequentemente pH próximo a 8,0. Sob tais condições, o pH da pasta saturada varia de 7,1, em solos altamente salinos a 8,2 em solos não salinos. Medições do pH em suspensão solo:água (1:2) revelam pH de 7,6 para solos altamente salinos e, em torno de 8,5 - 8,6 em solos não salinos. O acúmulo de sais reduz o pH em solos salinos, pois íons em excesso como K+ e Cl- são quantificados. Em solos sódicos, contudo, o pH aumenta com a elevação da sadicidade, devido a presença de altas concentrações de íons carbonato e bicarbonato de sódio. A diluição da suspensão solo-água também aumenta o pH. A diferença do pH entre o extrato de saturação e a suspensão solo:água de solos sódicos ou salino sódicos aproxima-se de uma unidade de pH em solos com baixa salinidade, e de 0,2 a 0,4 unidades de pH em solos altamente salinos. A Figura 1 apresenta a variação do pH e da condutividade elétrica em extratos obtido da pasta saturada e de suspensão solo:água (1:2 ). Figura 1. Efeito da diluição e de sais solúveis na alteração do pH em solos salino-sódicos e sódicos (Gupta & Abrol, 1990) Apesar do maior valor de pH nas suspensões solo:água, têm-se observado menor alcalinidade em extratos aquosos, quando comparado com os valores do extrato de saturação. Esse paradoxo pH-alcalinidade foi associado com o equilíbrio cálcio-carbonato (Lindsay,1979). No sistema carbonato de cálcio (H2O - CO2 - CaCO3), a relação entre PCO2 e pH tem sido representada pelas Eqs. 4 ou 5: pH = 5,983 - 2/3 log (PCO2) + 1/3 log(gH2CO3) - 1/3 log (gCa2+) log (PCO2) = 8,975 - 1,5 pH + ½ log (gHCO3) - ½ log (gCa2+) onde g refere-se ao coeficiente de atividade do íon. A relação entre pH e alcalinidade (alcalinidade do carbonato) pode ser estabelecida pela substituição dos valores de CO32- e HCO3- nos termos da Eq. 6: Substituindo a Eq. 5 em 6, obtém-se uma relação que sugere que o aumento na PCO2 poderia reduzir o pH e aumentar a alcalinidade do carbonato. Dessa forma parece que o paradoxo pode ser devido a queda na PCO2 com o aumento da relação solo:água e perda do H2CO3 durante a extração a vácuo da amostra. CE (dS m-1) p H Extrato de saturação Extrato de saturação Salino Sódico 1:2 234 Rivaldo V. dos Santos et al. Quanto a relação entre sodicidade e pH, verifica-se que o alto valor de pH sob tais condições é causado pela presença de minerais de carbonato e bicarbonato de sódio em solos sódicos ou salino-sódicos, os quais precipitam os carbonatos de cálcio e magnésio durante a evaporação e conduz a um aumento na relação de adsorção de sódio (RAS) da soluçãodo solo. Uma íntima relação entre pH e sodicidade (RST) foi verificada em solos sob condições de alcalinidade. Gupta et al. (1981) desenvolveram uma relação de dependência do pH simultaneamente com o complexo de troca Na+ e Ca2+ + Mg2+ e o equilíbrio da calcita em solos sódicos a salino-sódicos (pH > 7,0). A relação é expressa por (Eq. 7): log RST = pH -5,2336 + 0,5 log[P(CO2)] + log (Na+) + 0,5I1/2 onde RST refere-se a relação de sódio trocável (NaT), conforme Eq. 8, e I é a força iônica da solução do solo. A variação aproximada da PST correspondente ao pH do solo em pasta saturada do solo e em suspensões solo:água (1:2) é frequentemente observada sob condições de campo, conforme Tabela 1. Seu cálculo é feito pela Eq. 9. Para estabelecer-se a metodologia de análises da fertilidade dos solos, a padronização do método de extração é de extrema importância, já que existe diferenças nos valores de pH e evidentemente, da concentração iônica de cátions mono e bivalentes quando se utiliza diferentes métodos de obtenção do extrato. A manutenção do pH entre 6,0 e 6,5 em solos com condições salinas deve ser meta prioritária, já que esse atributo químico apresenta uma estreita relação com a disponibilidade de nutrientes (Figura 2), e assim com a fertilidade dos solos. Evidentemente não há disponibilidade máxima de todos os nutrientes nessa faixa de pH. Tabela 1. Dependência do pH na sodicidade do solo PST - Percentagem de Sódio Trocável. Fonte : Gupta & Abrol (1990) Figura 2. Gráfico ilustrativo do efeito do pH na disponibilidade de nutrientes. (Fonte: Lopes, 1989, adaptado) A aplicação de doses crescentes de ácido sulfúrico em solo salino-sódico do perímetro irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB (PST = 94 e pH inicial 10,4) reduziu os valores de pH, por um período de 48 semanas, indicando que com a dose de ácido de 3,06 mL kg-1, após 16 dias, obtém-se um pH de 6,5, quimicamente adequado ao crescimento vegetal (Tabela 2). No mesmo solo, adição do ácido sulfúrico resultou em um aumento na disponibilidade de fósforo segundo a equação P = 1,19x H2SO4 + 12,03, onde a unidades são P (mg kg-1) e H2SO4 (mL kg-1). (Costa Silva, 1997) Dispersão e floculação: Dispersão significa separação, desagregação ou distanciamento das partículas unitárias do solo. Consistindo basicamente no afastamento das partículas de areia, silte e argila resultando na desestruturação do solo. As partículas de argila, que formam um sistema coloidal (< 0,001mm) ou não (< 0,002mm), dispersas sofrem eluviação e pH D is po ni bi lid ad e cr es ce nt e 235Interações salinidade-fertilidade do solo preenchem toda a porosidade do solo, reduzindo a aeração e infiltração de água. O aumento da densidade acarreta acúmulo de água na superfície do solo, encharcando-o e originando um ambiente de baixa reação de oxi-redução. A dispersão é um fenômeno típico de solos com excesso de sódio trocável. Os sistemas argilosos são dispersos devido a predominância de cargas negativas, de íons sódio e magnésio, e a reduzida concentração de eletrólitos. O alto raio hidratado do sódio e do magnésio e as forças repulsivas na dupla camada difusa são decisivos na explicação do processo de dispersão. Devido a repulsão das partículas unitárias, a dispersão da argila resulta na formação de uma suspensão de partículas estáveis em água. Na dispersão de argilas típicas de solos sódicos, tais como a montmorilonita e a ilita, predominam movimentos brownianos. Ao se aumentar a concentração de eletrólitos, as forças repulsivas são reduzidas, prevalecendo as forças de atração de van der Walls. Sob tais condições, os sistemas floculam, permitindo a separação das fases sólida e líquida. O mínimo de eletrólitos para que esse processo ocorra é denominado de concentração de floculação crítica (CFC). Quirk & Schofield (1955) ilustram em um gráfico a complexidade da interrelação entre os fatores que influem na dispersão da argila: a curva da “concentração limiar” (Figura 3). A dispersão e a floculação das argilas depende da espessura da dupla camada difusa ao redor das partículas e, portanto da concentração de cátions (Ca2+, Mg2+, K+, Na+, etc) que estão próximos a sua superfície. Por influenciar na disponibilidade de nutrientes e em atributos físicos do solo, tais condições, especialmente a dispersão das argilas em solos sódicos, podem restringir o crescimento vegetal. O fenômeno da floculação e a estabilidade dos agregados é de extrema importância no equilíbrio água- ar, e sua manutenção nos solos degradados por sódio constitui-se em um desafio. Os agregados estáveis apenas podem ser mantidos em solos que contenham argilas floculadas, quando há atração entre as partículas, denominadas forças de Van der Walls, predominando em distâncias muito pequenas. Se a argila permanece dispersa, o solo compacta-se. Solos adensados são pegajosos quando úmidos e duros quando secos. O crescimento das raízes e a aeração dos solos requerem uma condição porosa. Caso a água da chuva promova a lixiviação dos eletrólitos do solo, as partículas de argila podem tornar-se dispersas. Tornando-se seco, o solo endurece e a compactação pode ocorrer. Isso reduz a porosidade do solo, que inibe sua aeração, condição indispensável para o adequado crescimento radicular, já que a presença de oxigênio é essencial ao metabolismo vegetal, especialmente na síntese de energia, ou seja, ATP. Por outro lado, pode- se manter uma concentração de eletrólitos no solo que provoque floculação. Para alcançar tais condições pode- se aplicar gesso, CaCl2, H2SO4 ou calcário. O cálcio é conhecido por apresentar alto poder de floculação das partículas de argila com cargas negativas, melhorando as condições de fertilidade física do solo. O agravante é que as quantidades exigidas de “corretivos” de sodicidade são em quantidades demasiadas, provocando um desbalaceamento nas proporções adequadas de nutrientes, principalmente nas relações Ca/Mg, Ca/K, Na/K, SO42-/HPO42-, etc. Apesar da mesma valência que o Ca, o Mg apresenta menor raio iônico e, por isso, maior raio hidratado, dificultando sua aproximação das partículas coloidais carregadas negativamente para neutralização de suas cargas elétricas. Isto gera um remanescente de carga negativa nas partículas dos solos, com consequente dispersão e movimentação de colóides ao longo do perfil do solo, provocando a criação de camadas mais adensadas que funcionam como impedimento à movimentação de ar e água em profundidade (Ribeiro et al., 2009). Tabela 2. Efeito do H2SO4 no pH do solo em vários períodos Figura 3. Fatores que afetam a curva da “concentração limiar” para separar solos dispersos de floculados. Fonte: Sumner (1993) CE PS T Disperso Floculado AUMENTO NA: Energia mecânica, cargas negativas, smectita ou ilita, K e Mg, adsorção de Aniônica, exposição de novas superfícies DIMINUIÇÃO NA: PCO2, matéria orgânica cargas positivas, sesquióxidos, caulinita, sais do intemperismo 236 Rivaldo V. dos Santos et al. Estabilidade dos agregados: Na realidade o grau de estabilidade dos agregados é diretamente proporcional à floculação. Nos solos cultivados e úmidos, os agregados quebram-se originando microagregados que deslocam-se verticalmente no perfil, bloqueando a porosidade do solo, e originando camadas adensadas, o que restringe a taxa de infiltração da água no solo. No entanto, apenas o umedecimento do solo não reduz necessariamente sua fertilidade e produtividade. Porém, se a umidade é seguida pela dispersão, observações no campo mostram que isso conduz, em muitos casos, a atributos físicos indesejáveis, tais como, drenagem deficiente, superfície encrostada, endurecimento e difícil traficabilidade e trabalhabilidade do solo, o que eventualmente conduz a uma redução na fertilidade do solo e, portanto, na produção das culturas. É importante destacar que essa compactação ocorre naturalmente, sem ação do homem, tendo como fator decisivo o clima, destacando-se a alta evaporação da água dos solos. O nível baixo de salinidade (< 0,3 dS m-1) provoca expansão daargila, resultando em quebra dos agregados, adensamento e reduzida permeabilidade do solo. A alta salinidade reduz a expansão, a quebra dos agregados e a dispersão das partículas do solo, enquanto que a elevada sodicidade tem efeito oposto. Portanto, tanto a salinidade quanto a Relação de Adsorção de Sódio tem sido considerada conjuntamente para avaliar o potencial de perigo da qualidade da água nos atributos físicos do solo. Quando o RAS é elevada (> 15) recomenda-se adicionar à água gesso agrícola. Quanto ao impacto negativo dos sais da água na fertilidade dos há uma classificação segundo a CE (Tabela 3). determinam a velocidade de fluxo de água no subsolo, que é o fator determinante do crescimento e produção das culturas desenvolvidas nestes solos. Uma consequência da reduzida taxa de redistribuição ou da drenagem da superfície do solo, é a temporária saturação, que não é benéfica à germinação, e geralmente atrasa o preparo do solo. A saturação do solo está associada com a ausência de oxigênio necessário à respiração das sementes, as quais apresentam uma embebição excessiva, prejudicando o desenvolvimento adequado do embrião, a germinação, o crescimento vegetal e a produção agrícola. Tanto o encrostamento quanto o endurecimento de camadas do solo reduzem a emergência de plântulas. O elevado conteúdo de água durante o período de saturação na superfície são seguidos por uma elevada taxa de evaporação (estágio 1), similar a evaporação em uma superfície livre. No entanto, caso a condutividade hidráulica do solo seja muito baixa e incapaz de igualar- se à perda de água, a superfície seca rapidamente seguida pela contração e rachadura. Isso é limitado a poucos centímetros de espessura do perfil do solo. Ao contrário, se a condutividade hidráulica do solo é alta e a capacidade de contração do solo é limitada, tais como em solos com alto conteúdo de silte e areia, o secamento pode estender-se a uma maior profundidade do solo, resultando em seu endurecimento. A superfície encrostada ou endurecida representa uma camada “protetora” seca onde o movimento de água é lento e predominantemente na forma de vapor Tabela 3. Perigo da salinidade na fertilidade do solo Fonte: Richards (1954) citado por Tan (1982). A Figura 4 mostra os possíveis mecanismos pelo qual a sodicidade pode afetar o comportamento físico do solo e sua fertilidade, com consequências negativas em atributos químicos e à produção agrícola em solos cultivados. Quando o solo hidrata-se após rápido umedecimento seguido pela dispersão, resulta na formação de camadas superficiais endurecidas com reduzida condutividade hidráulica. Isto por sua vez provoca redução na taxa de infiltração, redistribuição e evaporação da água no solo. Esses são os três processos fundamentais que Figura 4. Modelo dos mecanismos do efeito do umedecimento e da dispersão nos atributos físicos do solo (Adaptado de So & Aylmore, 1993) 237Interações salinidade-fertilidade do solo (estágio 2 de evaporação). Logo a taxa de evaporação é reduzida consideravelmente, resultando em uma velocidade de secamento mais lenta. Consequentemente o subsolo tende a permanecer úmido e torna-se susceptível a compactação. O tráfego de máquinas e o cultivo nesse momento intensificam a compactação antrópica do subsolo e a excessiva formação de torrões, que é prejudicial à germinação de sementes. Os subsolos úmidos são também susceptíveis a compactação devido a pressão de argilas expandidas e/ou da sobrecarga do solo úmido. A redução da quantidade de água no subsolo restringe também a dissolução de minerais e a disponibilidade de nutrientes na solução do solo, causando efeito também na fertilidade química do solo, provocando consequentemente significante redução na produção das culturas. Além disso, a reduzida infiltração e o aumento no escorrimento superficial, conjuntamente com a hidratação e a dispersão, aumentam as perdas do solo pela erosão. O sódio reduz o processo de redistribuição e evaporação da água no perfil do solo, o que pode resultar em uma temporária inundação da superfície do solo, que prejudica a germinação das sementes devido a ausência de oxigênio. Essa condição também resulta em um período mais prolongado de umedecimento, dificultando as operações de manejo. DINÂMICA DOS NUTRIENTES EM SOLOS SALINIZADOS A redução da concentração de sais solúveis através da lavagem e a neutralização do sódio trocável e solúvel e sua remoção também por lavagem, constituem-se em práticas consolidadas que resultam em melhoria nos atributos físicos dos solos. No entanto, tais benefícios não são estendidos à produção vegetal. Há necessidade de intensificar estudos do balanço iônico buscando, após a adoção de práticas de recuperação destes solos, um balanceamento iônico adequado, de modo que ocorra uma maior disponibilidade de nutrientes resultando numa maior nutrição mineral às plantas. A compreensão da química desses solos associado com a seleção de plantas mais tolerantes a estas condições adversas é a chave para reintegrar tais áreas à exploração agrícola e resolver um grave problema sócio-econômico e ambiental nas áreas irrigadas das regiões áridas e semi-áridas. Em solos salinos as plantas são adversamente afetadas pela baixa absorção de água pelas raízes devido aos efeitos do potencial osmótico (Bernstein, 1975). Quando a salinidade é dada principalmente por cloreto de sódio, a toxicidade de íons também afeta a produtividade vegetal. Em solos sódicos a elevada alcalinidade e as condições anóxicas reduzem a concentração de nutrientes e a fertilidade do solo, limitando o crescimento vegetal. O delicado balanço de nutrientes é facilmente alterado em solos sódicos devido à adoção de práticas de manejo impróprias. O que se necessita é a condução de ensaios em solos sódicos relacionando a disponibilidade de nutrientes com atributos do solo afetados pela toxicidade, assim como a resposta de plantas aos nutrientes em menor disponibilidade no solo. Na escolha do fertilizante a ser aplicado, o conhecimento da reação do solo é um aspecto importante a ser considerado. Para a maioria dos solos sódicos deve-se optar por produtos de reação ácida. Compreender a química da solução do solo, os processos que afetam sua composição e a influência da matéria orgânica na disponibilidade de nutrientes são aspectos de extrema relevância. Até uma década aspectos da fertilidade em solos salinizados tem sido pesquisada principalmente na literatura estrangeira. No Brasil essa preocupação em compreender a interação salinidade-fertilidade em solos do semi-árido é recente (Santos el al. 1997) e ultimamente outras publicações tem colaborado com informações de extrema importância no que se refere a disponibilidade de nitrogênio e fósforo e também na dinâmica da matéria orgânica em ambientes degradados por sais (Freire et al., 2007). Disponibilidade de nutrientes Os solos sódicos e salino-sódicos apresentam degradação física e isso acarreta prejuízos quanto a disponibilidade de nutrientes. Abaixo são citadas as classes de solo sódico e os prejuízos mais comuns em sua fertilidade, conforme Rengasamy & Olsson (1991). São apresentados interações com atributos físicos e morfológicos. A) Solo Sódico Alcalino (pH > 8) a) Toxicidade dos nutrientes Mo, B, Na (quando o pH > 9) b) Deficiências de nutrientes Cu, Zn, Mn, Fe, Co, N, Mg, Ca (se pH > 9) e P (8,0 < pH < 8,5) c) Efeitos físicos prejudiciais no subsolo saturado, pobre infiltração e pobre aeração B) Solo Sódico Neutro (6< pH <8) a) Toxicidade dos nutrientes Mo, B, Fe, Cu e Mn b) Efeitos físicos prejudiciais: superfícies encrostadas, superfície e subsuperfície saturadas, condições anóxicas: toxidez de Mn e Fe. C) Solo Sódico Ácido (pH < 6) a) Toxicidade de Fe, Mn, Al, Cu e Zn b) Deficiências de Mo, P, Ca, Mg e K c) Duripans em alguns solos 238 Rivaldo V. dos Santos et al. Desse modo, tanto a fertilidade química quanto a física dos solos, são afetadas pela sodicidade. Altas concentrações de sódio, alto pH, alto estresse osmótico e pobre aeração induzemmuitos problemas de fertilidade química nos solos. A utilização de nutrientes via fertilizantes em solos sódicos é restrita. A grande maioria dos trabalhos refere-se à aplicação de corretivos e seus efeitos na melhoria das propriedades físicas do solo. A compreensão da dinâmica da solução do solo também é um aspecto importante para entender as reações químicas que se verificam nestes solos, e em que intensidade elas influem na disponibilidade de nutrientes para as plantas. Química da solução do solo sódico: A composição química de uma solução do solo é dinâmica (Figura 5) e determinada por um equilíbrio multifase envolvendo: a) a fase sólida, compreendendo minerais de argila, compostos inorgânicos amorfos e materiais orgânicos; b) uma fase líquida, representada pela água do solo; c) uma fase gasosa, compreendendo principalmente oxigênio e dióxido de carbono, e d) o complexo de troca. Juntamente com os componentes do solo e do clima, o manejo do solo tal como a adição de gesso, calcário, matéria orgânica, o cultivo, a irrigação e o período que o solo encontra-se exposto (sem proteção), também afetam os processos que ocorrem na solução do solo. Quando não se aplicam fertilizantes os nutrientes são derivados principalmente dos produtos do intemperismo dos minerais primários e de argila e da decomposição da matéria orgânica. A liberação de nutrientes na solução do solo envolve vários mecanismos, entre os quais a troca iônica, a solubilização e precipitação, a formação de par iônico, a adsorção específica e a assimilação e excreção microbiológica. A assimilação e excreção microbiológica são importantes processos que podem afetar a concentração de nutrientes na solução do solo. As complexações com ligantes, a quelação, são reações vitais que controlam a concentração de micronutrientes em solos. Ânions como sulfato e carbonatos associam-se a cátions multivalentes e formam espécies não iônicas, reduzindo a atividade das espécies iônicas e a disponibilidade dos nutrientes. Tais complexos podem também reduzir a toxicidade de íons para as plantas. Por exemplo, a formação de par de íons de Al 3+ com SO42- reduz a atividade de Al 3+ e sua toxicidade às raízes das plantas, mas tal reação não é comum em solos sódicos, pois apresentam baixa concentração de Al3+. Em solos sódicos os pares iônicos com carbonato, bicarbonato e sulfato reduzem a atividade de íons divalentes (Ca2+, Mg2+). Por isso a RAS calculada a partir da concentração iônica superestima seu valor. Devido ao constante acúmulo de água em solos sódicos, nestes predominam reações de redução. O estado de redox do solo é descrito pela atividade dos elétrons livres, pE (isto é: - log(e-)), em conjunto com a atividade dos prótons (pH). A pH 7 solos sub-óxicos tem um pE que varia de +2 a +7, enquanto solos anóxicos tem um pE < +2. Em solos sódicos o Fe, Mn, N, O, S e C são os nutrientes mais comuns que sofrem reações de oxi-redução, originando outras espécies (Tabela 4). Figura 5. A dinâmica da química da solução do solo sódico. (Fonte: Adaptado de Naidu & Rengasamy, 1993) O cloreto, carbonato, bicarbonato, sulfato, magnésio e sódio são os íons dominantes no extrato de solos sódicos. O cálcio, nesses solos, está presente em baixas quantidades e é geralmente um fator limitante tanto para a nutrição de plantas quanto para a estabilidade estrutural do solo. O potássio é também encontrado em baixas proporções, mas o constante suprimento de potássio é garantido na solução de solos sódicos devido a prevalência da mica hidratada. O borato, nitrato e fosfato são encontrados em consideráveis quantidades na solução de alguns solos sódicos e água subterrânea. Tabela 4. Atividade dos elétrons (pE) a pH 7 para algumas reações químicas em solo sódico 239Interações salinidade-fertilidade do solo Na ausência de oxigênio tanto organismos facultativos quanto anaeróbios usam o Mn4+, Fe3+, NO3- e SO42- nas reações de transferência de elétrons e produzem Mn2+, Fe2+, N2 e S2-. Essas reações aumentam excessivamente a disponibilidade de nutrientes (Mn2+, Fe2+) para as plantas ou suas perdas (N2, S2-). Embora comente-se que os íons Zn2+, Co2+, Cu2+, Fe2+ e MoO42- sejam solúveis em solos pobremente drenados, o efeito do pH é dominante em solos sódicos alcalinos e provoca a precipitação desses íons. Embora esses metais pesados possam ser solubilizados através da quelação por moléculas orgânicas, derivadas da decomposição anaeróbica da matéria orgânica, o estado de oxi-redução que ocorre em solos sódicos conduz a sua complexação com a superfície sólida do solo e a sua indisponibilidade às plantas. Nos solos com excesso d’água pode ocorrer também perdas de N por desnitrificação. Em solos com alto pH, por exemplo, os solos sódicos calcários, o N pode ser volatilizado na forma de NH3 ou precipitado como (NH4)2CO3. A disponibilidade de N é muito reduzida sob essas condições quando a uréia é a fonte de N, devido a baixa atividade da urease a altos valores de pH (Nitant & Bhumbla, 1974). A disponibilidade de N em solos sódicos é problemática. Estudos são necessários para relacionar a influência da sodicidade nas transformações do N nesses solos. A disponibilidade de fósforo é geralmente aumentada em solos alagados devido a redução de fosfatos férrico e a dissolução de outros fosfatos. O sódio trocável pode aumentar a dissociação de ânions orgânicos, os quais substituem o P dos fosfatos de Fe e Al. A alta disponibilidade de P em solos sódicos alcalinos indianos foi atribuída por Gupta & Abrol (1990) aos altos níveis de pH, RAS e CO32-. A aplicação de superfosfatos é uma prática comum em solos australianos para aumentar sua absorção pelas plantas. Outros solos sódicos aluviais também apresentam alta concentração total de P. O feijão vigna responde significavamente à aplicação de H3PO4 (Santos, 1996). Deve-se procurar saber se esse efeito deve-se ao P aplicado ou a redução do pH do solo devido a aplicação de fonte ácida de P. Pesquisas com solo salino-sódico do Nordeste brasileiro indicam também com a aplicação de doses crescentes de H3PO4 (0, 70, 140 210 mg dm-3) tem reduzido o pH do solo, aumentado a disponibilidade de P no solo e proporcionado aumento na produção de milheto forrageiro, cuja massa seca (g vaso-1) aumentou segundo as equações Y=11,78+ 0,04X e Y = 7,4 + 0,04X ( Y= massa seca e X= doses de P, mg dm-3) ( Ferreira et al. 2008a; Ferreira et al. 2008b). O ácido sulfúrico constitui- se em outra alternativa para minimizar o efeito nocivo do sódio e reduzir o pH em solos sódicos ou salino-sódicos com pH acima de 9,0. Não está claro se o aumento na solubilidade de P sob condições sódicas reduz a necessidade de aplicação de superfosfatos nesses solos. O fósforo encontra-se predominantemente sob a forma de fosfato de cálcio em solos sódicos. Neste caso, sugere-se sua extração utilizando o método de Olsen (NaHCO3 0,5 N). O efeito do sódio trocável na adsorção/dessorção do P tem sido estudada (Sharpley et al., 1988). Geralmente aceita-se que o fósforo em solução aumenta quando a saturação por sódio no complexo de troca aumenta. Quando o sódio substitui o Ca, Mg e Al nos sítios de troca o potencial negativo da superfície é aumentado, conduzindo a dessorção de P. Os efeitos interativos da salinidade sobre os níveis de nutrientes no crescimento do trigo mostraram que a aplicação de doses crescente de N, P, K, Ca, Mg e S aumentou a tolerância do trigo à salinidade. Os autores acrescentam ainda que a salinidade exerce seus principais efeitos na fase inicial de crescimento, e que, a principal estratégia para aumentam a produção de trigo em solo salino é: (1) aumentar o suprimento de nutrientes em solos pobres, (2) criar condições favoráveis na zona radicular pela eliminação dos sais e (3) aumentar a densidade das plantas (Hu et al, 1997). Leite et al. (2007), estudando a correção da sodicidade de dois solos irrigados em resposta à aplicação de gesso agrícola, verificaram que aplicação das doses de gesso 0,0; 2,5; 7,5; 10,0 e 12,5 g kg-1 aumentou a concentração do Mg extraídoda pasta saturada. Isso pode ser atribuído a impurezas de Mg contidas no gesso ou, segundo Fassender (1986) ao maior poder de seletividade do Ca no complexo de troca do solo (Ca>Mg>K>Al>Na), o qual substitui o Mg fazendo com que este desloque-se para a solução do solo e seja quantificado. Deficiência de nutrientes A preocupação com ao ajustamento na concentração iônica na solução do solo remonta algum tempo. Champagnol (1970) em revisão sobre o tema relação entre a nutrição fosfatada e a toxicidade dos sais nas plantas, observou um efeito positivo em 34 das 37 espécies estudadas, e recomenda uma aplicação moderada de fertilizantes solúveis (nitratos, cloretos, sulfatos) para evitar um aumento na concentração de sais na solução do solo e o risco no aumento da toxicidade. No entanto, deve-se considerar que os solos salinizados apresentam uma elevada heterogeneidade química e, numa mesma área ou perímetro irrigado necessita-se fazer estudo específico. 240 Rivaldo V. dos Santos et al. Os solos sódicos apresentam de moderada a fraca fertilidade, com variada capacidade de fornecer nutrientes às plantas. Acentuadas deficiências de N e P são comuns e frequentemente estão associadas com a deficiência de outros nutrientes, especialmente o S e os micronutrientes Mo, Cu, Zn e Mn. A baixa fertilidade desses solos pode estar relacionada com sua idade e materiais de origem. A limitada lixiviação e a inundação dos solos afetados por influência da salinização e a consequente sodificação também causam transformações de nutrientes reduzindo a fertilidade. A extensiva salinização em solos de regiões áridas e semi- áridas resulta em alto pH, causando deficiências de nutrientes e, em alguns casos, a toxicidade de íons. A deficiência de micronutrientes resulta da interação das condições do solo, variação genética entre espécies, clima e desbalanços de nutrientes. As condições de sodicidade apresentadas pelos solos sódicos afetam a natureza da solução do solo e a disponibil;idade de nutrientes. O baixo conteúdo de O2 em solos sódicos inundados conduz à transformações químicas dos nutrientes, tornando-os indisponíveis às plantas ou atingindo níveis tóxicos. Na realidade há poucas informações sobre a disponibilidade de micronutrientes em solos sódicos. Trabalhos indicam apreciável liberação de Zn2+ de solos sódicos (pH ³ 9,1) apenas após o solo ser acidificado para eliminar o CaCO3. Sem esse tratamento, tanto o Zn2+ quanto o Cu2+ são praticamente indetectáveis no solo, apresentando concentrações na solução do solo de 10-3 a 10-6 e de 10- 6 a 10-7 mol L-1, respectivamente para o Zn2+ e Cu2+. A incorporação de matéria orgânica no solo pode mobilizar estes nutrientes e fornecer Zn e Cu para as plantas. Em trabalhos com solução nutritiva (Tabela 5) constataram que os teores de N, P, e Ca na alfafa reduziram nas soluções com Cl e SO4 com o aumento da salinidade, enquanto os de K e Mg aumentaram (Soltanpour et al, 1999). Quanto ao Fe3+, Fe2+ e Mn2+ em solos sódicos, apresentam redução de suas atividades logaritmicamente, para cada aumento de uma unidade no pH e alcançam o valor mínimo ao redor de pH 9 (Lindsay, 1979). A “clorose de Fe induzida pelo calcário” é comum sob essas condições. Entre os fatores que restringem a disponibilidade de Fe citam-se o excesso de CaCO3 e de HCO3-, excesso de água, o alto pH (> 8,5), a pobre drenagem e a deficiente aeração das raízes (Naidu & Rengasamy, 1993). A necessidade da aplicação prévia de gesso nos solos salino-sódicos provoca desbalanços dos teores de bases trocáveis, além de reduzir a disponibilidade de fósforo ao longo do seu manejo (Santos, 1955), como mostra os dados da Tabela 6. Em solos salino-sódicos uma alternativa para aumentar a absorção de macronutrientes é a aplicação de uma fonte ácida de fósforo, tal como o H3PO4 (Santos, 1996). Tabela 5. Impacto da salinidade do cloro e sulfato na concentração de nutrientes da parte aérea da alfafa Fonte: Adaptada de Soltanpour et al (1999) Tabela 6. Características químicas de um solo salino- sódico antes da aplicação do gesso (AAG), após a lixiviação dos sais (ALS) e após cultivo do feijão (ACF) SS = saturação por sódio O boro e o molibdênio são mais solúveis em solos sódicos que em solos com pH neutro. Todavia, alterações no pH e a complexação por compostos orgânicos têm maior influência sobre a sua disponibilidade. A deficiência de Mo ou B ocorre mais 241Interações salinidade-fertilidade do solo facilmente sob condições de acidez que sob sodicidade. Já a toxidez de B é bastante comum em solos sódicos, onde encontra-se frequentemente concentrações acima de 10 mg kg-1. A aplicação de gesso seguido de lavagem do solo reduz os níveis de B a concentrações toleráveis. Toxicidade de íons Na+ A acumulação de sais solúveis nos solos inibe drasticamente o crescimento das plantas. Tal ocorrência induz a plasmólise, pela qual a água move-se da planta para a solução do solo. A presença de altas quantidades de íons de Na+ origina condições tóxicas às plantas. A sensibilidade das plantas ao Na+ varia entre os genótipos. Entre as espécies, a cultura do arroz tem apresentado maior tolerância a toxicidade. Além do efeito direto do Na+, a baixa concentração de Ca2+ (< 1 mmol L-1) conduz a uma alta relação Na/Ca causando desbalanços nutricionais e efeitos fisiológicos adversos nas plantas. Devido a alta absorção de Na+ e baixa de Ca2+ pelas plantas, em solos sódicos, a permeabilidade da membrana é afetada, reduzindo o transporte de íons. A baixa concentração de Ca2+ nesses solos também conduz a um aumento na absorção e toxicidade dos elementos Zn, Ni, Mg, Pb, Se, Al e B. A proporção relativa de Ca2+ na solução do solo, que é normalmente adequada para as plantas sob condições não salinas, torna-se inadequada sob condições salino- sódicas. O fato é que os baixos níveis de Ca2+ e Mg2+ em solos sódicos aumenta a RAS da solução do solo conduzindo a deficiências de Ca2+ e/ou Mg2+ para as plantas. A alternativa é a aplicação de uma fonte de Ca2+, como o gesso. A disponibilidade de Ca2+ é um importante fator no manejo de solos sódicos e salino-sódicos. Nos primeiros a deficiência de Ca2+ ocorre principalmente devido a alto pH e a inadequada aeração, já no segundo deve-se a competição iônica durante o processo de absorção. A alta concentração de Na+ também provoca deficiência de outros nutrientes, tais como o K, Zn Cu e Mn. INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA Disponibilidade de nutrientes Há uma aceitação geral que a matéria orgânica aumenta a fertilidade do solo por sua capacidade de fornecer nutrientes para as plantas, especialmente o N. Na realidade, a matéria orgânica é a maior fonte de cargas negativas, sendo responsável tanto pela retenção quanto pela liberação de nutrientes para a solução do solo, especialmente o N, P e S, através do processo de mineralização. O acúmulo de matéria orgânica em solos sódicos é difícil porque os complexos orgânicos com Na+ são altamente solúveis e móveis. O grau de formação de ligações covalentes do Na+ com moléculas orgânicas é baixa devido ao seu pequeno potencial quando comparado com o de íons divalentes ou trivalentes. No entanto, devido a baixa atividade microbiana em ambientes com excesso de sódio, é comum encontrar manchas superficiais escurecidas (álcali-negro) em solos sódicos. Muito do N e s em solos agrícolas provem da matéria orgânica. Evidentemente, para que o suprimento destes nutrientes seja contínuo é necessário que ocorra a mineralização da matéria orgânica e que esta esteja em quantidade suficiente para uma maior atividade microbiológica. A principal limitação é que em solos sódicos ou salino-sódicos, o excesso de sódio ou o estresse osmótico reduz a população microbiana. Sabe- se que a nitrificação é completamente inibida a PST > 7,0, portanto a manutenção de baixas concentrações de Na+ no solo é indispensável para que ocorra uma maior disponibilidade de N. Em geral, a capacidade dos cátions de estimular a mineralização do N orgânico diminui juntamente com o seu potencial iônico(Al3+ > Fe3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ > Na+). Assim, como ocorre em solos sódicos, quando o valor da RAS é aumentado, a contribuição de nutrientes via matéria orgânica é diminuída. Trabalhos em solo salino-sódico tem indicado, entre outros, um acentuado aumento nos teores de fósforo extraído em resina quando se aplicou material vegetal proveniente de mucuna-preta (Tabela 7) (Santos, 1996). Efeitos da sodicidade A matéria orgânica é conhecida como promotora da macroagregação do solo, melhorando suas propriedades físicas. Mas os agentes cimentantes da matéria orgânica são representados pelos polissacarídeos, que correspondem a apenas ¼ da matéria orgânica. De fato, o material orgânico pode provocar tanto expansão quanto a dispersão quando aplicado nos solos, especialmente em solos salino-sódicos ou sódicos que já apresentam um alto potencial dispersivo. A literatura é conflitante quando trata dos efeitos da matéria orgânica na dispersão de solos sódicos. A dispersão tem sido inversamente correlacionada com os conteúdos de matéria orgânica em solos sódicos com baixos valores de PST (Loveday et al., 1987). Todavia, a adição de matéria orgânica aumenta a dispersão de argila em altos valores de RAS (Gupta et al., 1984), indicando que sua remoção pode reduzir a dispersão em solos saturados por sódio. Oades (1984) estudando os 242 Rivaldo V. dos Santos et al. mecanismos e as implicações da matéria orgânica no manejo do solo concluiu que a dispersão das partículas de argila nos microagregados é promovida por sua complexação com ácidos orgânicos, os quais aumentam as cargas negativas na superfície das argilas. Acredita-se que a matéria orgânica pode dispersar partículas do solo, principalmente quando presente em pequenas quantidades, pelo fato de incluir alta concentração de ácidos orgânicos de baixo peso molecular, e pelas cargas negativas do complexo argila- óxido metálico-matéria orgânica estarem a maior distância da partícula devido a presença de Na+ no sítio de troca. O efeito dispersivo da matéria orgânica pode ser explicado pelo efeito da alta concentração de ácidos orgânicos (fúlvicos, húmicos, oxálicos, cítricos, tartárico) nas partículas do solo. Os passos abaixo explicam o processo: a) O alto percentual de ácidos orgânicos eleva a concentração de cargas negativas na dupla camada difusa (DCD), aumentando a distância entre as partículas sólidas, O efeito isolado do Na trocável em promover dispersão da matéria orgânica pode ser explicado, pelo menos em parte, pela ineficiência do sódio como cátion ligante, quando comparado com cátions polivalentes como o Ca2+, Al3+ e Fe3+. O cátion ligante une tanto as argilas com cargas negativas permanentes a grupos funcionais da matéria orgânica quanto os ânions orgânicos às cargas variáveis das argilas, quando estas são positivamente carregadas sob condições ácidas. Sem estes cátions, a agregação nos solos é reduzida. MANEJO DA FERTILIDADE EM SOLOS SALINOS E SÓDICOS Os efeitos interativos da fertilidade-salinidade- sodicidade tem sido estudados apenas superficialmente. Os resultados tem sido contraditórios, dependendo da condição particular de cada estudo. Os efeitos osmóticos da alta concentração de sais são os mais prejudiciais em solos salino-sódicos (Figura 6). Em solos sódicos, a degradação estrutural é o fator primário que afeta diretamente as propriedades físicas do solo e, portanto, a disponibilidade de nutrientes. Em solos salino-sódicos, quando a concentração de Na aumenta, a necessidade de nutrientes para as plantas, tanto no substrato quanto nos tecidos vegetais, também Tabela 7. Efeito de resíduos orgânicos nos teores de nutrientes nas diferentes doses de gesso aplicadas em solo salino- sódico Na vertical,números seguidos por letras distintas diferem a 5% de probabilidade pelo teste de tukey. b) Os ânions orgânicos podem ainda complexar o Fe3+ e Al3+ que tem poder agregante, contribuindo para a menor agregação do solo, deixando a argila contida nos agregados mais propensa a sofrer a dispersão. Figura 6. Mecanismos que explicam o efeito prejudicial da CE e da RAS na disponibilidade de nutrientes. Fonte: Adaptado de Naidu & Rengasamy, 1993) Ca Mg K P Fe Cu Zn Mn Gesso Mg ha-1 Mat. org. g vaso-1 cmolc dm-3 g cm-3 0 0 12,6a 2,8a 0,31a 17,0a 168a 2,6a 4,1a 115a 35 12,8a 2,8a 0,35b 26,3b 170b 2,7a 3,7a 118a 7 0 14,3a 2,5a 0,26a 16,1a 167a 2,5a 3,2a 114a 35 14,2a 2,5a 0,27a 25,3b 163a 3,0a 3,8b 116a 14 0 15,1a 2,1a 0,24a 16,1a 186a 3,6a 3,7a 118a 35 16,0b 2,0a 0,32b 25,7b 205b 5,7b 3,7a 126b 21 0 17,1a 1,9a 0,23a 13,9a 167a 6,2a 4,2a 110a 35 17,8a 1,6b 0,29b 25,0b 168a 6,3a 4,1a 116a 243Interações salinidade-fertilidade do solo aumenta. Caso a cultura não seja sensível aos sais e o nível de salinidade não seja alto, o estresse osmótico pode ser compensado pela aplicação de fertilizantes. A produção vegetal aumenta devido a aplicação de fertilizantes até um certo nível de CE na solução do solo (Figura 7). Fertilização e nutrição mineral Em revisão sobre a interação salinidade e a absorção de nutrientes em hortícolas (Grattan & Grieve, 1998) afirmam que a adequada Nutrição Mineral depende intensamente da fertilidade dos solos e consequentemente do balanço iônico da solução do solo. A relação entre a salinidade e a nutrição mineral em hortícolas é muito complexa e uma melhor compreensão dessa interação exige um grupo multidisciplinar de cientistas. O crescimento das culturas pode ser afetado pela salinidade e esta induzir desordens nutricionais, tais como, efeito na disponibilidade de nutrientes, competitividade na absorção, transporte ou redistribuição de nutrientes. No entanto, relativo a aspectos de nutrição mineral, pouca atenção tem sido dado ao sulfato. Os efeitos dos sais da solução do solo nas plantas são geralmente dispostos em três categorias: (1) impacto fisiológico, (2) deficiências de nutrientes e (3) excesso de elementos ‘não nutrientes’. A primeira influência refere-se ao ‘efeito osmótico’, correspondendo à redução do potencial osmótico (PO) da solução e a disponibilidade de água para as plantas; os outros dois referem-se ao ‘efeito iônico não específico’. O PO é definido pela expressão: PO (o) = RT N/V, onde R ( 0,082 L.atm/K.Mol) é a constante dos gases, T é a temperatura em Kelvin (K = oC + 273) e N/V = concentração osmótica. A toxicidade de íons refere-se ao aumento na concentração de elementos provocando redução na produção devido ao desbalanceamento na disponibilidade de outro nutriente, resultando em deficiências nutricionais. Deve-se deixar claro que o nutriente tem uma ‘dose resposta’, expressa por uma ‘curva resposta’, fato que não ocorre com os elementos tóxicos. A adequada nutrição mineral das plantas nos solos salinizados depende de um ajuste favorável dos atributos químicos e físicos dos solos e de um balanço de nutrientes durante os processos de absorção, uma vez que há uma interação natural entre os elementos essenciais: nos sítios de absorção há competição entre o nitrato e cloro, o amônio reduz a absorção de cálcio e magnésio, já quanto ao fósforo os resultados têm sido conflitantes (Kafikafi, 1987). A fertilização líquida atenuou os efeitos depressivos da salinidade mais que a sólida, no que se refere a produção de frutos de tomateiro cultivado em solo ‘não salino’ salinizado. Os fertilizantes sólidos foram nitrato de amônio superfosfato e sulfato de potássio, aplicados nas doses de 49 g ha-1 de N, 62 kg ha-1 de P2O5 e 30 kg ha-1 de K, respectivamente; quanto a líquida foi composta por uma mistura de ácido fosfórico, sulfato de potássio e ácido nítrico, aplicados em igual quantidade (Sami et al., 1992). Figura 7. A produção relacionada a condições salinas e sódicas Por outro lado, a indisponibilidade de nutrientes em solos sódicos são causados indiretamente por efeitos físicos prejudiciais, tais como o reduzido transporte de água e nutrientes. No entanto é importante ter em mente que, para a aplicação de fertilizantes proporcionar aumentos à produção das culturasé necessário que a correção das propriedades físicas, para solos sódicos, e a lixiviação do excesso de sais, para os solos salinos, sejam efetuadas. A deficiência de nutrientes e a toxicidade de íons ocorre tanto em solos salinos quanto em sódicos. Todavia, os mecanismos do efeito prejudicial no crescimento das plantas em solos sódicos difere dos solos salinos. A fertilidade dos solos sódicos depende (1) da presença de água, oxigênio e nutrientes na forma iônica; (2) da capacidade do solo em liberar oxigênio e nutrientes por fluxo de massa e difusão para a superfície das raízes; (3) da presença de uma composição iônica favorável e (4) da ausência de substâncias que reduzam o movimento de nutrientes para as raízes. O fornecimento de água, oxigênio e nutrientes para as raízes em solos sódicos é restringida pela deterioração da estrutura do solo causada pela sodicidade. A maior concentração de Na+ que de Ca2+ nesses solos é a maior causa dos problemas físicos e de disponibilidade de nutrientes. Portanto, a correção da sodicidade é o primeiro passo a ser considerado quando se tenta aumentar a produtividade dos solos sódicos. A redução do pH superior a 9,0 para valores menores que 8,0 seria um dos maiores passos para melhorar a correção de solos sódicos. A liberação de H+ no sistema através da mineralização da matéria orgânica e reações de transformações do N podem adequar o pH. 244 Rivaldo V. dos Santos et al. Epstein & Bloom (2006) citam que uma das principais condições que impõem estresses minerais às plantas são a salinidade, pela alta concentração de sais, mais frequentemente o sódio, e a sodicidade, principalmente quando há alta proporção de sódio (> 10%) adsorvidos nos sítios de troca catiônica do solo. Além disso ainda citam relevantes aspectos da fisiologia do estresse por sais. Nitrogênio: O Nitrogênio seja na forma nítrica (NO3), amoniacal (NH4) ou gasosa (N2), corresponde em torno de 80% do nutriente mineral absorvido pelas plantas. Evidentemente o seu emprego adequado no solo frequentemente aumenta a produção vegetal, em ambiente salino ou não, e acredita-se que o nitrogênio reduz os efeitos prejudiciais, em certa extensão da salinidade do solo. São inúmeros os trabalhos de pesquisa procurando compreender a interação nitrogênio-salinidade: macieira, feijão, cenoura, caupi, milho, tomate, espinafre; isto quando o grau de salinidade é baixo e quando a dose de nitrogênio aplicada é menor que aquela considerada ótima para condições não-salinas. A presença de nitrato reduz a absorção e acumulação de Cl nas plantas. A interação nitrogênio-salinidade obviamente é complexa. A maioria dos estudos indica que a absorção ou acumulação de nitrogênio na parte aérea pode ser reduzida pelas condições de salinidade. Devido a baixa fertilidade dos solos sódicos a salino- sódicos, as culturas tem o suprimento de N deficiente e este deve ser suplementado através de fertilizantes. A uréia é um dos fertilizantes mais frequentemente usados. Quando a uréia é hidrolizada à amônia e CO2 pela enzima urease, ocorre perdas de N através da volatilização da amônia, e tal processo é mais intenso em solos com pH elevado, característica típica de solos sódicos ou salino-sódicos. Devido o aumento do pH provocar maior volatização da NH3 da uréia ou de outras fontes (Fenn & Kissel, 1973), deve-se procurar alternativas que minimizem essas perdas. A aplicação de fontes ácidas, como o H2SO4 ou de reação ácida como a pirita (FeS2), a incorporação do fertilizante a maiores profundidades ou seu parcelamento em 3 ou 4 vezes são práticas recomendáveis. Foram aplicados 150 kg ha-1 N e 37,5 kg ha-1 P2O5 em trigo cultivado em solução salina e constatou-se que ocorreu efeito positivo do nitrogênio e fósforo na fase de enchimento dos grãos (Soliman et al, 1994) (Tabela 8). Por influirem na reação do solo e, portanto, em sua fertilidade, deve-se aplicar outras fontes nitrogenadas. Por exemplo, a solução saturada que se produz na “Zona do fertilizante” é alcalina quando se aplica fosfato diamônico (pH = 7,98; 3,82 Mol L-1 P) e é ácida para o monoamônico (pH = 3,47; 2,87 Mol l-1 P); assim, é favorável o uso desta fonte em solos sob condições alcalinas. Os produtos resultantes da reação de fertilizantes em solos sódicos calcários pode ser um parâmetro para se escolher a fonte a ser usada, segundo mostram as reações do sulfato de amônio, fosfato diamônico (Figura 8) e nitrato de amônio (Figura 9). Tabela 8. Interação da salinidade na produção de grãos de trigo 0= omissão; 1=presença. Figura 8. Reação do sulfato de amônio e fosfato diamônico em um solo sódico calcário Figura 9. Reação do nitrato de amônio em um solo sódico calcário 245Interações salinidade-fertilidade do solo A precipitação dos produtos pouco solúveis resultantes da reação do sulfato de amônio e do fosfato diamônico acelera a reação e a intensidade de perdas de NH3. Por outro lado, a formação de produtos solúveis, no caso do NH4NO3 evita a precipitação, cessando a liberação de NH4+ para a solução do solo quando esta atinge alta concentração. As perdas de nitrogênio, em forma NH3, após a aplicação de fontes nitrogenadas em solos com excesso de sódio variam grandemente entre os solos: 87% a pH 10,5 (Jewitt, 1942), ou de 30 a 65% (Rao & Batra, 1983). As taxas de volatilização e as perdas de N podem ser substancialmente reduzidas ( 90%) se o fertilizante for aplicado na profundidade de 6 a 7 cm do solo, e em torno de 10 cm para a cultura do arroz. A incorporação de resíduos orgânicos pode também compensar as possíveis perdas do nitrogênio. A dose de N recomendada para solos com pH alto é em torno de 120 kg ha-1 de N. A aplicação de 60 gplanta-1 de nitrogênio e 60 g planta-1 ano-1 de fósforo em solo sódico, PST = 20 e pH 8,9 aumentou a produção de flores. (R.S. Kativar et al., 1999). Fósforo: A interação entre salinidade e nutrição de fósforo é igualmente complexa como a de nitrogênio, e depende da espécie vegetal, estágio de crescimento das plantas, composição, nível de salinidade e da concentração de fósforo no substrato. Os resultados de pesquisa da interação fósforo-salinidade têm sido conflitantes: têm aumentado a absorção de fósforo, reduzido ou não apresentado efeito. A interação salinidade-fertilidade em milho e algodão demonstra um melhor efeito da fertilização fosfatada nos índices mais baixos de salinidade. Para o algodão a produção foi maior em menor salinidade maior dose de nitrogênio (Khalil et al., 1967). A Tabela 9 apresenta os valores para a cultura do milho. Champagnol (1970) em revisão sobre o tema salinidade-fertilidade mostra a relação entre a nutrição fosfatada e a toxicidade dos sais nas plantas. Observaram um efeito positivo em 34 das 37 espécies estudadas, recomendando inclusive uma aplicação moderada de fertilizantes solúveis (nitratos, cloretos, sulfatos) para evitar um aumento na concentração de sais na solução do solo e o risco no aumento da toxicidade vegetal. Os sintomas visuais da toxicidade de sais no trigo foram minimizados com a aplicação de fósforo, em solo ‘não salino’, com aplicação de doses crescentes de NaCl (Gibson, 1985). Apesar de existir, segundo a literatura, uma maior concentração de fósforo disponível com o aumento da sodicidade e dos níveis de CaCO3 nos solos, Chhabra et al. (1981) relatam que o fósforo extraído pelo método de Olsen reduziu-se à medida que a dose de gesso aplicada no solo foi aumentada. A aplicação de gesso em solos salino-sódicos de origem aluvial tem provocado redução nos teores de fósforo disponível (Santos, 1995). Isso apesar destes solos apresentarem teores totais de P elevados (547 mg cm-3). A aplicação de esterco e palha de arroz em solo em solo sódico aumentou o teor de Fe, Mn e P extraídos. A disponibilidade de fósforo no solo foi maior com a aplicação de esterco e palha de arroz, superior ao gesso (Anad Swarup, 1982). O fósforo extraído por Olsen (05,M NaHCO3 pH 8,5) decresceu na seguinte ordem: controle > esterco > palha de arroz > gesso. A formação de fosfatos orgânicos como fosfolipídiose fosfoproteínas pode ter elevado tal disponibilidade. Já em trabalho em solução nutritiva o fósforo aumentou a tolerância do tomateiro à salinidade e os autores associam a um aumento no turgor osmótico nas células proporcionado pela adição de fósforo, que nesse estudo foi aplicado via ácido fosfórico (Tabela 10) (Awad et al., 1990). Tabela 9. Teores de fósforo no milho em diferentes salinidades Adaptado de Awad et al., (1990) Tabela 10. Efeito do NaCl na concentração de P nas folhas de idade mediana A indisponibilidade de fósforo em solos sódicos corrigidos com gesso pode estar associada a formação de fosfatos de cálcio insolúveis, que precipitam na solução do solo com altos valores de pH, o que é comum 246 Rivaldo V. dos Santos et al. em solos com excesso de sódio. A necessidade de aplicar-se corretivo em tais solos exige a adoção de práticas que reduzam a precipitação do fósforo nos solos sódicos ou salino-sódicos. A aplicação de ácidos tem aumentado a disponibilidade de fósforo em solo salino- sódico (Tabela 11). alta concentração de cálcio nas folhas reduz drasticamente a de magnésio. Ainda relativo a aspectos da nutrição mineral, pouca atenção tem sido dada ao sulfato, que é um nutriente de extrema importância na dinâmica fertilidade-salinidade, visto que é adicionado durante a correção do solo salinizado em grandes proporções como gipsita moída, gesso agrícola, fosfogesso, ácido sulfúrico ou enxofre elementar, elevando a concentração de eletrólitos e a concentração aniônica na solução do solo e reduzindo a absorção do molibdênio por provocar inibição competitiva. Plântulas de arroz cultivadas em solos sódicos fertilizados com fósforo apresentaram maior crescimento radicular. A maior absorção de fósforo e potássio restringiram a absorção de sódio e levaram as plantas até a maturidade (Qadar, 1998). RESULTADOS DE PESQUISA Na última década tem-se desenvolvido pesquisas em solos degradados por sais do semi-árido do Estado da Paraíba com o escopo de observar-se o comportamento de espécies arbóreas no estágio inicial de crescimento, de gramíneas forrageiras, leguminosas, frutíferas e oleaginosas. Objetiva-se ainda, com outros estudos, compreender a ação dos corretivos e fertilizantes na reação dos solos, na disponibilidade de nutrientes e nutrição mineral das plantas, e também a correlação entre atributos químicos dos solos, com o intuito de buscar uma metodologia mais simplificada que substitua as determinações em extrato de saturação, já que esta é mais demorada e dispendiosa. Esses trabalhos visam, através do uso de corretivos de salinidade, tal como o gesso agrícola, ácido sulfúrico ou de rejeitos de mineração, minimizar os efeitos nocivos dos sais e do sódio, aumentar a fertilidade do solo, proporcionando uma maior produção vegetal. A região semi-árida apresenta uma intensa exploração de minérios, dentre as quais a de caulim e vermiculita, as quais produzem uma quantidade excessiva de rejeitos, que são depositados em áreas adjacentes à empresa. A sua utilização em solos degradados por sais visa também buscar um fim agrícola para esses rejeitos. Convém destacar que muitos dos resultados de pesquisa citados a seguir ainda não foram publicados em periódico especializados ou encontram-se em fase de publicação, e são dados parciais de experimentos conduzidos no Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Campus de Patos. Espécies arbóreas As espécies arbóreas constituem-se numa alternativa para áreas degradadas por sais por apresentar um sistema Tabela 11. Efeito das doses de fósforo na quantidade de nutrientes absorvidos pelo feijoeiro vigna cultivado em solo salino-sódico Potássio: Em solos salino-sódicos ou sódicos, a alta concentração de sódio na solução do solo, não apenas interfere na absorção de potássio pelas raízes, mas também pode deformar a membrana das células das raízes e sua seletividade. De modo geral a concentração de K+ nas plantas em ambientes salinos tende a ser menor com o aumento do Na+ ou da relação Na+/Ca2+ na solução do solo. A disponibilidade de potássio em solos salino-sódicos ou sódicos é adequada. A predominância de micas em solos de regiões áridas e semi-áridas, as trocas Na-K na biotita, e a dissolução das unidades estruturais das muscovitas liberam grande quantidade de potássio sob condições com excesso de sódio. Hu e Schmidhalter (1997) estudaram o crescimento do trigo, em experimento de hidroponia, em soluções salinas crescentes (0, 30, 60, 90, 120 e 150 M NaCl) e constataram que, ao contrário das folhas e ramos, os grãos apresentaram um aumento na concentração de Na e Cl, e redução na de Ca, Mg e K com aumento da salinidade. Nas folhas e ramos o Na e Cl aumentaram significativamente com o aumento na concentração de sais. Cálcio: A sodicidade não apenas reduz a disponibilidade de cálcio, mas também o seu transporte e redistribuição nas plantas, afetando os órgãos vegetativos e reprodutivos. Dessa forma, a salinidade pode afetar diretamente a absorção de nutrientes: o Na+ reduzindo a absorção de K+ , Cl- e de NO3-. E a Na horizontal números seguidos por letras distintas diferem a 5% pelo teste de Tukey. 247Interações salinidade-fertilidade do solo radicular profundo e extenso, as quais após a morte forma canalículos no solo, contribuindo para uma maior porosidade e fluxo d‘água nas camadas subsuperficiais, fato extremamente benéfico em solos com argilas dispersas e pouco aerados. Apesar de exigirem uma maior área para plantio e, como os lotes apresentam superfície restrita, deve-se deixar claro que essas espécies podem ser associadas a outras em sistemas agrosilviculturais. Evidentemente que o fator econômico deve ser considerado na recuperação dessas áreas, mas não deve- se esquecer que por estarem inseridas no semi-árido, sua revegetação, independente de espécies, constitui-se num avanço sob o ponto de vista ambiental. Tem-se conduzido trabalhos em solo salino-sódico, com PST 98, do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB. Um destes com seis espécies arbóreas moringa (Moringa oleifera), algaroba (Prosopis julifora), sabiá (Mimosa caelsalpiniaefolia), jucá (Caesalpinia ferrea), leucena (Leucaena leucocephala), tamboril (Enterolobium contortisiliquum). Avaliando-se os resultados constatou- se que as espécies arbóreas apresentaram uma severa redução em seu crescimento quando cultivadas em solos salinizados sem a aplicação prévia do gesso e ácido sulfúrico comprovando a necessidade de utilizar-se corretivos, principalmente o ácido sulfúrico (Tabela 12), já que este proporcionou maior crescimento e produção de material vegetal seco das plantas. Quanto a comparação entre as espécies verificou-se que nas condições do experimento recomenda-se a utilização do tamboril, algaroba e moringa (Tabela 13) com a aplicação prévia de ácido sulfúrico nestas últimas, como as mais indicadas para serem implantadas na recuperação de áreas ou ambientes da região semi-árida degradados quimicamente por sais e sódio. Comparando-se as espécies, tomando-se por base seu crescimento relativo, comprova-se as informações mencionadas (Leite et al., 2002). Comparando-se o crescimento das espécies com no solo tratado com ácido com o no solo não salino constata-se que a moringa apresenta 111 %, leucena 102,8%, algaroba 82,5 %, tamboril 80,3%, jucá 75,8 % e sabiá 74,7% de crescimento relativo (Tabela 13). No mesmo solo realizou-se um outro experimento com quatro espécies: mororó (Bauhinia cheilantha), catingueira (Caesalpinia pyramidalis), jurema-preta (Mimosa hostilis) e favela (Cnidoscolus phyllacanthus). Na Tabela 14 são apresentados resultados estatísticos da altura das plantas na sétima semana. Considerando o comportamento das espécies em um solo salino-sódico com corretivo, o ácido sulfúrico foi mais eficaz que o gesso, e a catingueira com ácido sulfúrico apresentou desenvolvimento estatisticamente igual a um solo não salino. Para o mororó e a catingueira não ocorreu diferenças estatísticas entre os solos não salino e com ácido sulfúrico, sugerido-se que essas são as
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