Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. SubStânciaS MutagênicaS, carcinogênicaS e teratogênicaS Elaboração Danilo Cardim Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA ................................................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 AVALIAÇÃO DO RISCO ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 TESTES PRÉ-CLÍNICOS DE SEGURANÇA E TOXICIDADE .......................................................... 13 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO DOSE/RESPOSTA ............................................................................. 19 CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO HUMANA ................................................................................... 22 UNIDADE II SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS ............................................................................................................... 25 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MUTAGÊNESE ........................................................................... 25 CAPÍTULO 2 TESTES DE MUTAGENICIDADE .................................................................................................. 27 CAPÍTULO 3 MECANISMOS DE MUTAGÊNESE QUÍMICA E FÍSICA ................................................................ 29 CAPÍTULO 4 CLASSIFICAÇÃO E MODO DE AÇÃO DE AGENTES GENOTÓXICOS ......................................... 32 UNIDADE III SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS ........................................................................................................ 41 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CARCINOGÊNESE.................................................................... 41 CAPÍTULO 2 BASES MOLECULARES DA CARCINOGÊNESE ........................................................................... 44 CAPÍTULO 3 PRINCIPAIS ETAPAS DA CARCINOGÊNESE INDUZIDA POR AGENTES QUÍMICOS GENOTÓXICOS 46 CAPÍTULO 4 POTENCIAL CARCINOGÊNICO DE COMPOSTOS QUÍMICOS E SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS ....................................................................... 48 CAPÍTULO 5 TABAGISMO ........................................................................................................................... 49 UNIDADE IV SUBSTÂNCIAS TERATOGÊNICAS ............................................................................................................ 51 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA DA REPRODUÇÃO .................................................................. 51 CAPÍTULO 2 EXPOSIÇÃO A AGENTES QUÍMICOS TERATOGÊNICOS ............................................................. 52 CAPÍTULO 3 TOXICIDADE PRÉ-NATAL ......................................................................................................... 56 CAPÍTULO 4 TESTES DE TOXICIDADE PRÉ-NATAL ......................................................................................... 57 CAPÍTULO 5 CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS DE AÇÃO DE SUBSTÂNCIAS TERATOGÊNICAS ...................... 60 CAPÍTULO 6 UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS NA GRAVIDEZ ...................................................................... 63 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 68 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fi m de que o aluno faça uma pausa e refl ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifi que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As refl exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, fi lmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 7 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de � xação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fi xação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verifi car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certifi cação. Para (não) � nalizar Texto integrador, ao fi nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução A Toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos das substâncias químicas nos organismos vivos. Trata-se de uma ciência multidisciplinar que envolve conhecimentos de Farmacologia, Bioquímica, Química, Fisiologia, Genética, Patologia entre outros. De forma mais detalhada, estuda a interação entre os agentes químicos e os sistemas biológicos com o objetivo de determinar quantitativamente o potencial dessas substâncias em induzir danos que resultem em efeitos adversos para os diferentes organismos. Dessa forma, esse material tem como objetivo promover o conhecimento da Toxicologia de forma geral, visando à investigação e compreensão da natureza dosefeitos adversos dos agentes químicos, a sua incidência, o seu mecanismo de produção, os fatores que influenciem o seu desenvolvimento e a sua reversibilidade. Objetivos » 9 UNIDADE IAVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA CAPÍTULO 1 Avaliação do risco O risco associado a uma substância química se define como a probabilidade de que uma substância produza um efeito adverso, um dano, sob condições específicas de uso. Nem sempre a substância de maior toxicidade é a de maior risco, ou seja, de maior “perigo” para o homem. Dependendo das condições de uso, uma substância classificada como muito tóxica pode ser menos “perigosa” do que uma pouco tóxica. Existindo um risco associado ao uso de uma substância química, há a necessidade de estabelecer condições de segurança. Portanto define-se como segurança, a certeza prática de que não resultará efeitos adversos para um indivíduo exposto a uma determinada substância em quantidade e forma recomendada de uso. Ou seja, quando fala-se em risco e segurança, significa a possibilidade ou não da ocorrência de uma situação adversa. Um problema sério, no entanto, é estabelecer o que é um risco aceitável no uso de substância química. Esta decisão é bastante complexa e envolve a relação risco/benefício, em que, por exemplo, altos riscos podem ser aceitáveis no uso de fármacos indispensáveis e não serem aceitáveis no uso de aditivos de alimentos. Na Toxicologia, perigo é caracterizado como a capacidade de uma substância causar um efeito adverso e risco a probabilidade de um evento nocivo ocorrer, devido à exposição a um agente químico e/ou biológico. A avaliação do risco é um processo sistemático por meio do qual o perigo, a exposição e o risco são identificados e quantificados. É definido também como a caracterização sistemática e científica dos efeitos adversos resultantes da exposição humana aos agentes químicos. Considerando-se os resultados dessa avaliação e outros fatores como, por exemplo, os benefícios para a sociedade, um processo de tomada de decisão deve ser estabelecido no sentido de reduzir ao mínimo o risco que determinada substância possa exercer para a saúde da população. Avaliação de risco não é um processo definido, 10 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA mas sim um delineamento analítico, que define o tipo de dados e a metodologia que são empregados para avaliar o risco, no qual também devem ser detalhadas as incertezas e os problemas associados com determinada avaliação. Assim, a avaliação do risco depende tanto da toxicidade do agente químico, quanto da intensidade de exposição. Na fase de identificação do perigo, verifica-se a capacidade do agente químico pesquisado de causar um efeito adverso e estabelece-se a natureza dos efeitos presentes numa população ou ecossistema. Nesse estágio, são utilizados, principalmente, dados provenientes de estudos com animais de experimentação e/ou de estudos clínicos ou epidemiológicos em populações expostas. Nas experimentações em animais, determina-se o limiar de toxicidade pelo estabelecimento do nível de dose, no qual não são observados efeitos adversos e da menor dose na qual são observados efeitos adversos. Adicionalmente, dados gerados a partir de estudos celulares e bioquímicos podem auxiliar a esclarecer possíveis respostas para o homem. A toxicidade também pode ser predita pela similaridade da estrutura química de uma substância com a outra, cuja toxicidade já é conhecida. A base da relação quantitativa entre a exposição a um agente e a incidência de uma resposta adversa é chamada de caracterização do perigo, cujo objetivo é quantificar o perigo e embasar a escolha dos níveis de dose, onde não são observados efeitos adversos, que, por sua vez, deverão ser utilizados no processo de caracterização do risco à saúde da população. Nessa fase, quando os dados da exposição do homem a um agente tóxico não são suficientes para predizer uma resposta, é necessário utilizar dados obtidos com animais para obter a relação dose/resposta. Dois tipos de extrapolação são necessários: quantitativa, que envolve a extrapolação das altas doses utilizadas nos experimentos para aquelas presentes na exposição ambiental, e a qualitativa, que envolve a extrapolação dos resultados em animais para o homem. Dessa forma, propõe-se utilizar fatores de incerteza e/ou variabilidade, quando é necessário » realizar extrapolação interespécie; » considerar a variação intraespécie; » utilizar dados de estudo subcrônico ao invés de crônico, quando se considera a exposição ao longo prazo; e » considerar se o banco de dados está incompleto. A caracterização do perigo para substâncias que apresentam limiar de resposta envolve o cálculo de Doses de Referência, conhecidas como as doses às quais a população pode estar exposta sem apresentar risco de aparecimentos de efeitos nocivos à saúde. Um 11 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA │ UNIDADE I conceito semelhante é utilizado para calcular os níveis de exposição crônica permissíveis para o homem a resíduos de praguicidas e aditivos alimentares, conhecido como Ingestão Diária Aceitável (IDA), que baseia-se nos efeitos não carcinogênicos de agentes químicos. Para determinar os valores das doses de referência e da IDA, o nível no qual não são observados efeitos adversos é dividido por fatores de segurança ou incerteza para fornecer uma margem de segurança permissível para a exposição humana. A caracterização do risco é a etapa final da avaliação e envolve a predição da frequência e da severidade dos efeitos adversos numa população exposta. A caracterização do risco integra os dados obtidos com identificação do perigo, caracterização do perigo e exposição a um agente químico. Com base na severidade dos efeitos adversos e de sua probabilidade de ocorrência, verifica-se se o risco estimado é negligenciável, tolerável ou intolerável. Além da avaliação científica, a interpretação do risco também é vinculada à percepção pessoal. Dessa forma, a caracterização do risco representa um importante elo entre os dados científicos obtidos nos diferentes estudos e as decisões governamentais e de ordem política quanto à regulamentação, ao gerenciamento e à comunicação do risco. Durante o processo de registro de comercialização de substâncias químicas, por exemplo, é que informações adicionais para refinar a avaliação do risco, que subsidiem decisões quanto à medidas mitigadoras, são geralmente requeridas. Os processos de avaliação do risco e do manejo do risco estão intimamente relacionados e visam o emprego de técnicas de controle adequadas e o estabelecimento de níveis de risco aceitáveis. No processo de manejo do risco, aspectos como a importância social do risco; qual será o risco mínimo ou aceitável; necessidade de se buscar alternativas para redução do risco; austeridade da redução do risco e das medidas mitigadoras; estudo dos fatores econômicos envolvidos; prioridades de preocupações e ações; necessidade de ferramentas legais e a análise da percepção do risco são considerados fundamentais no processo de avaliação. Esse, por sua vez, vem sendo empregado internacionalmente, seguindo as diretrizes de segurança química, com o propósito de prevenir os danos à saúde e ao meio ambiente, proporcionados pelo contato, pelo uso e/ou pelo manuseio de substâncias químicas. Considerando-se os tópicos abordados acima é importante ressaltar que na utilização das substâncias químicas para diversas finalidades, alguns fatores devem ser considerados na determinação de um risco aceitável, são eles: » necessidade do uso da substância; » disponibilidade e adequação de outras substâncias alternativas para o uso correspondente; 12 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA » efeitos sobre a qualidade do ambiente e conservação dos recursos naturais; » avaliação antecipada sobre o que ela poderá causar sobre a população em geral; » considerações econômicas. 13 CAPÍTULO 2 Testes pré-clínicos de segurança e toxicidadePara se estudar o potencial tóxico de uma substância química é necessário, além de se estabelecer uma relação dose/resposta, realizar uma série de outros estudos toxicológicos ou testes de toxicidade. Uma das finalidades desses testes é fornecer dados que possam ser utilizados para avaliação do risco do uso de substâncias químicas para o homem e estabelecer limites de segurança para a exposição aos agentes químicos. Após o episódio da talidomida (epidemia de má formação congênita, entre 1959 e 1961, em crianças cujas respectivas mães haviam feito uso da talidomida no início da gravidez), governos de diversos países exigiram um maior rigor na realização dos testes toxicológicos com o objetivo de erradicar ou diminuir a ocorrência das chamadas reações adversas aos medicamentos quanto a seus efeitos colaterais e tóxicos. Tipos de testes de toxicidade Não se tratando de medicamento, esses testes devem ser realizados para cada substância química a ser utilizada ou produzida em larga escala, geralmente acima de 1 tonelada/ ano. Os tipos de testes a serem realizados podem variar regionalmente, porém devem considerar os principais critérios de avaliação de toxicidade: » exame anatopatológico (aspectos macro e microscópico); » massa dos órgãos; » crescimento do animal; » exames fisiológicos; » exames bioquímicos; » estudos do comportamento; » efeito sobre a fertilidade e feto; » DE50 e DL50; » CE50 e CL50. 14 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA No Brasil, a Resolução no 1/78 (Diário Oficial de 17/10/78) do Conselho Nacional de Saúde, estabelece 5 tipos de ensaios de toxicidade: aguda, subaguda, crônica, teratogenicidade, embriotoxicidade e estudos especiais, como de comportamento, carcinogenicidade etc. Teste de toxicidade aguda Este estudo é caracterizado pela administração ou exposição da substância química em dose única (ou múltipla em um período de 24 horas), utilizando pelo menos duas espécies. A DL50 (e CL50) é a prova mais comum de toxicidade aguda. Os principais objetivos deste estudo são: » avaliar a toxicidade intrínseca do agente tóxico ou substância química; » avaliar a suscetibilidade das espécies; » identificar órgãos-alvo; » promover informações para o delineamento e seleção dos níveis de dose para estudo mais prolongados (toxicidade crônica). Testes de toxicidade subcrônica O tempo de exposição desse estudo varia de um a três meses. São utilizadas três doses experimentais (mínima, intermediária e máxima), sendo que a dose máxima não deve produzir um índice de letalidade acima de 10% de forma que não inviabilize as avaliações histopatológicas e bioquímicas. Os principais objetivos deste estudo são: » determinar a dose de nenhum efeito observado – DNEO (que significa a dose máxima na qual não se observa efeito); » estudar mais efetivamente órgãos alvos e determinar aqueles com mais suscetibilidade; » prover dados sobre dosagens seletivas para estudo de toxicidade crônica. Teste de Toxicidade Crônica O estudo é semelhante ao subcrônico, porém o período de exposição é de dois anos ou quase toda a vida do animal. Como no teste anterior, esse também não procura 15 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA │ UNIDADE I letalidade e utiliza três níveis de dose pela via de administração, segundo a via de uso prescrita. O protocolo experimental compreende as observações e alterações especificadas no estudo de toxicidade subcrônica e outros parâmetros bioquímicos que permitem uma melhor avaliação de todos os órgãos e funções, principalmente função renal e hepática. Os principais objetivos desse estudo são: » verificar níveis máximos de dose das substâncias que não produzem efeitos discerníveis de doença quando administrados durante a maior parte da vida do animal; » verificar os efeitos tóxicos que não são resultados dos estudos de toxicidade subcrônica; » procurar determinar o mecanismo de ação tóxica das substâncias químicas. Teste de carcinogenicidade As evidências primárias que podem apontar o potencial carcinogênico das substâncias químicas são de origem epidemiológica ou experimental em roedores. Esses efeitos devem ser observados em pelo menos duas espécies de animais de laboratório, com uma duração máxima de 130 semanas em ratos, 120 semanas em camundongos e 130 semanas em hamsters. São utilizadas, no mínimo, duas doses da substância. A maior dose é a dose máxima tolerada (DMT), definida como sendo aquela que não provoca no animal uma perda de peso superior a 10% e não induz mortalidade ou sinais clínicos de toxicidade. A menor dose corresponde à metade da DMT. Cada grupo experimental é constituído por pelo menos 50 animais. Todos os animais utilizados no experimento são submetidos à necropsia completa. A avaliação final do risco de carcinogenicidade para o homem, além das evidências primárias, é obtida pela execução de testes de curta duração (evidências secundárias). Os testes podem ser agrupados em três categorias gerais: 1. Testes que detectam lesão do DNA, incluindo o estudo da formação de ligações entre o DNA e os produtos ativos formados na biotransformação do agente tóxico, quebra de fitas, indução de prófagos e reparo do DNA. 2. Testes que evidenciam alterações dos produtos gênicos ou das funções celulares. 3. Testes que avaliam alterações cromossômicas. 16 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA A evidência de carcinogenicidade é considerada limitada nas seguintes situações: » números reduzidos de experimentos; » impropriedade de dose e vias de administração; » emprego de uma única espécie animal; » duração imprópria do experimento; » número reduzido de animais; e » dificuldade em diferenciar as neoplasias malignas e benignas. A evidência inadequada é indicada nas seguintes situações: » a não exclusão do acaso nos estudos realizados; » a existência de vícios no delineamento experimental; » a existência de outros estudos que demonstrem a ausência de carcinogenicidade. Teste de mutagenicidade Os efeitos mutagênicos das substâncias químicas podem ser avaliados por ensaios em microrganismos e em organismos superiores, inclusive o homem. Os ensaios com microrganismos, realizados in vitro, são indicados na triagem rotineira dos agentes tóxicos. Os ensaios com microrganismos avaliam basicamente o dano provocado ao DNA pela substância química estudada ou seu produto de biotransformação. No estudo do potencial mutagênico de um composto, os ensaios com animais de laboratório oferecem grandes vantagens, especialmente a de reproduzir as condições de exposição do homem. Nesses ensaios, as alterações cromossômicas são identificadas na medula óssea do fêmur de ratos e camundongos expostos experimentalmente ao agente tóxico. Teste de teratogenicidade A avaliação do efeito teratogênico de um composto químico, por meio de métodos experimentais, em animais de laboratório é executada num complexo protocolo envolvendo três fases distintas. A primeira fase tem por objetivo avaliar o potencial tóxico do composto químico sobre a fertilidade e o desempenho reprodutivo. Compreende o tratamento dos animais, machos e fêmeas, durante um período de no mínimo 60 dias antes do acasalamento e, depois, para as fêmeas durante a gestação e lactação. Ao meio termo da gravidez procede-se o sacrifício da metade dos animais do grupo 17 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA │ UNIDADE I experimental para a constatação de anormalidades uterinas. Ao final, são observados o número, sexo, peso corpóreo e anormalidades externas em todos os filhotes. Na segunda fase, as informações são obtidas a partir da administração de doses diárias da substância química na dieta de animais fêmeas grávidas no período da organogênese. Nesse estudo é feita uma avaliação minuciosa e detalhada da mãe e filhotes. Os estudos da terceira fase avaliam os efeitos das substâncias sobre o desenvolvimento peri e pós natal. A administração da substância química é feita durante o período que compreende o último terçoda gestação até o desmame. Neste estudo é avaliado o desenvolvimento somático, neuromotor, sensorial e comportamento da prole. Testes comportamentais Devido a uma maior preocupação da população relacionada aos efeitos neurocomportamentais e aos poluentes ambientais, o desenvolvimento de testes comportamentais em animais de laboratórios têm alcançado maior relevância. Temos o exemplo do chumbo, que foi proibida sua adição na gasolina, não pela incidência de encefalopatias e sim pelos estudos no comportamento. Atualmente, 25% dos limites de segurança para substâncias químicas derivam de estudos no comportamento. Estudos observados no homem São estudos que se realizam com o devido respeito pelos direitos da dignidade humana e submetidos a códigos de ética específicos estabelecidos por organizações nacionais e internacionais. Por exemplo, o instrumento internacional relativo a essa questão é a Declaração de Helsinki e o artigo VII do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos adotados pela Assembleia Geral da ONU em 1966. Esses estudos geralmente estão relacionados à uma simulação de exposição ocupacional à agentes químicos, ou mesmo a um estudo clínico desta exposição. O alcance das provas de toxicidade necessárias (ou requeridas) dependerá de algumas considerações. Como primeiro passo poderá ser útil realizar uma estimativa aproximada de toxicidade com base na estrutura química e nas propriedades físico-químicas das substâncias e as correlações conhecidas destas variáveis com a atividade biológica. Essas considerações serão úteis para adotar decisões a respeito das medidas de segurança durante os trabalhos de laboratório. A avaliação preliminar de toxicidade deverá começar quando sintetizadas as substâncias químicas na fase de Laboratório de Desenvolvimento de um processo industrial. A avaliação completa das substâncias químicas em questão, tanto a respeito da exposição profissional como da exposição da população geral, e a 18 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA avaliação de possível contaminação de água, ou dos alimentos, deverão iniciar mais tarde, quando já têm-se resolvido levar adiante a produção. Ou seja, no caso de medicamento, os testes toxicológicos são realizados após as triagens farmacológicas, uma vez comprovados seus efeitos terapêuticos. Os dados de toxicidade obtidos durante as etapas de desenvolvimento de um processo tecnológico podem ser fontes de dados a respeito dos perigos sobre a saúde, não somente das matérias primas, mas também de outras substâncias utilizadas ou produzidas, como produtos intermediários, no processo tecnológico. Além disso, a avaliação toxicológica pode facilitar a seleção de um processo tecnológico substituto que seja menos nocivo para a saúde. Na definição de normas ambientais e sanitárias e necessário dar preferência às substâncias químicas que manifestem um grau significativo de toxicidade e constituem um perigo de saúde, as quais serão utilizadas amplamente na indústria, na agricultura e nos produtos de consumo. É importante considerar que as mudanças e a evolução dos processos industriais, a formulação de novas substâncias químicas e as modificações no emprego das substâncias químicas conhecidas podem propor novos e maiores perigos. E isso requer uma constante reavaliação das prioridades. 19 CAPÍTULO 3 Avaliação da relação dose/resposta De acordo com a Toxicologia, qualquer substância pode ser considerada um agente tóxico, estando sujeita a certas condições de exposição, como dose administrada ou absorvida, tempo e frequência de exposição e via de administração. Com isto, torna-se essencial conhecer as condições para uso seguro de substâncias químicas tanto para a saúde humana quanto ambiental. Se por um lado todas as substâncias possuem um potencial tóxico, por outro, elas podem ser utilizadas de forma segura, uma vez que as condições de exposição sejam mantidas abaixo dos níveis de tolerância. A toxicidade de uma substância a um organismo define-se como a sua capacidade de causar-lhe dano grave ou morte, sendo que a relação entre a intensidade do efeito tóxico, concentração e tempo de exposição é dependente da faixa etária e das condições de saúde do indivíduo. Adicionalmente, tais efeitos tóxicos em sistemas biológicos só se manifestam se o agente tóxico (substância) ou determinado produto de sua biotransformação atingir sítios específicos do organismo em concentração e tempo suficientes para causar o efeito. Dessa forma, é necessário se conhecer não somente o tipo de efeito produzido e a dose necessária para que ele ocorra, mas também as informações sobre o agente, exposição e sua cinética no organismo. Nesse sentido, a avaliação toxicológica se constitui na análise de dados toxicológicos de determinada substância química com o objetivo de classificá-la em categorias toxicológicas, e ao mesmo tempo, fornecer informações a respeito da forma correta e segura de seu uso, bem como medidas de prevenção e profilaxia. Efeitos tóxicos são definidos como alterações anormais, indesejáveis ou nocivas após exposição a substâncias potencialmente tóxicas, sendo a morte o efeito mais drástico da interação com estas substâncias. Sistemas biológicos apresentam a característica de homeostasia, ou seja, a capacidade de responder a variações externas de forma a manter seu funcionamento normal. Tal fenômeno, por meio de alterações bioquímicas, morfológicas e de mecanismos fisiológicos, permite que os organismos se adaptem às condições adversas de exposição sem manifestação de efeitos tóxicos ou adversos. No entanto, devido à homeostasia ser limitada a certos limiares de adaptação, uma vez que esses são excedidos a toxicidade se manifesta. Com isto, a distinção entre efeito patológico (adverso) e alteração fisiológica (adaptação) na maioria das vezes se torna muito confusa e requer um estudo aprofundado. 20 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA Relação dose/resposta e concentração/resposta O conceito de dose é utilizado para determinar a quantidade da substância a ser administrada a um indivíduo, e de forma geral é expressa por unidade de massa corporal. De acordo com a via de administração, a dose efetiva absorvida pode não ser a mesma da administrada e para se conhecer a dose efetiva que causa um efeito adverso tem-se que conhecer a sua toxicocinética, levando-se em consideração as diferentes vias de exposição à substância. Por sua vez, o conceito de concentração de determinada substância indica as quantidades a que os indivíduos estão expostos em seu meio ambiente. As relações dose/resposta e concentração/resposta descrevem a relação entre as características da exposição e o espectro de efeitos adversos (tóxicos), e são representadas por uma curva gaussiana teórica, dificilmente encontrada na prática. Tal curva é obtida por cálculos estatísticos de observações de mortalidade após exposição de uma população a doses e concentrações de uma determinada substância e é vastamente utilizada para se determinar a dose letal 50% (DL50) ou a concentração letal 50% (CL50). Os índices DL50 e CL50 indicam, respectivamente, a dose e a concentração de uma substância que podem causar a morte de 50% de uma população teste em condições experimentais. Outro índice relevante que pode ser derivado dessas relações é a dose ou concentração limite, isto é, a dose mínima necessária para produzir uma resposta detectável na população testada. De acordo com a Comunidade Europeia, foram adotados os seguintes critérios para classificação da toxicidade de substâncias: Tabela 1. Critérios para classificação de toxicidade segundo a Comunidade Europeia. Categoria DL50 para ratos (mg/kg massa corporal) Muito tóxico Menor que 25 Tóxico De 25 a 200 Nocivo 200 a 2000 Os valores de DL50 devem ser sempre referidos e acompanhados da via de exposição e excipiente empregados, dado que estes parâmetros modificam a toxicocinética das substânciase podem modificar a expressão do efeito nocivo. Além disso, quando apresentados, tais valores devem discriminar a espécie animal a partir da qual foram obtidos. Algumas premissas devem ser consideradas para a elaboração da curva dose/resposta de determinada substância. Primeiramente, a resposta da substância não deve ser atribuída à sua administração e sim à sua dose, e a avaliação da resposta deve ser feita por métodos quantificáveis e expressar precisamente a toxicidade. Os valores de DL50/CL50 não fornecem o tipo de curva dose/concentração/resposta na qual se baseiam, além da 21 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA │ UNIDADE I necessidade de um grande número de cobaias para se obter dados estatísticos confiáveis. São expressos geralmente em quantidade da substância por quilo de massa corporal ou expressos em quantidade da substância por cm2, sendo esta última importante nos casos de extrapolação de dados entre animais de diferentes tamanhos e espécies com o homem. Os dados resultantes da curva dose/resposta são muito úteis para a seleção de doses em testes de exposição a médio e longo prazos, pois a partir dela, além do cálculo do DL50 e CL50, torna-se possível avaliar a dose ou concentração limite. Os experimentos e cálculos de DL50/CL50 estão atualmente sendo substituídos pelo chamado teste de dose fixa. Nesse teste, a substância é administrada a uma espécie em uma certa dose, selecionada a partir de doses anteriormente fixadas, as quais seguem as classificações de instituições regulamentadoras. Após a administração da substância, delimita-se um tempo de 14 dias de observação, e a dose que apresenta sinais de toxicidade é utilizada para classificar o material em estudo. Conforme estudos de valores de DL50, 80 a 90% dos compostos que produzem sinais de toxicidade, sem morte, nas doses de 5, 50 e 500 mg/kg de massa corporal, após administração por via oral, apresentavam valores de DL50 de respectivamente mais de 25, de 25 a 200 e de 200 a 2000 mg/kg de massa corporal segundo a classificação de toxicidade da Comunidade Europeia. Dessa forma, recomenda-se que um grupo de 10 animais (5 machos e 5 fêmeas) seja tratado com uma dose oral de 500 mg/kg de massa corporal. Caso não ocorram sinais de toxicidade, a substância não será classificada em nenhuma das categorias mencionadas. Se ocorrer manifestação de toxicidade sem morte, a substância será classificada como nociva. Se houver morte, efetua-se um novo teste agora com a dose de 50 mg/kg de massa corporal. A substância será classificada como tóxica nos casos em que, com a menor dose, embora sejam detectados sinais de toxicidade, não se observe mortalidade. Se com esta dose houver mortalidade, a substância deve ser novamente avaliada na dose de 5 mg/kg de massa corporal. Nesse caso, se sinais de toxicidade e/ou mortalidade forem observados, a substância deve ser classificada como muito tóxica. Entretanto, se a dose de 500 mg/kg de massa corporal não mostrar sinais de toxicidade, é necessário que se teste a dose de 2000 mg/kg de massa corporal, para a avaliação total de riscos. A vantagem do teste de dose fixa consiste na diminuição do número de animais e na possibilidade de minimizar o seu sofrimento, visto que não há necessidade de ocorrência de morte. 22 CAPÍTULO 4 Avaliação da exposição humana Exposição é a medida do contato entre o agente tóxico e a superfície corpórea do organismo e o objetivo de sua avaliação é determinar a intensidade, a frequência e a duração da exposição humana a um agente químico, ou estimar exposições que podem surgir pelo uso de determinadas substâncias. De uma forma mais abrangente, a avaliação da exposição descreve a magnitude, a duração e via de exposição, o tamanho, a natureza e a classe da população exposta, e as incertezas do processo. A avaliação da exposição constitui-se em uma etapa primordial do processo de avaliação do risco, pois se não houver contato, até mesmo substâncias altamente tóxicas não representariam ameaça. O conceito de exposição a um agente químico pode ser abordado sob diferentes aspectos: » como vias de contato de uma substância química com as barreiras externas do indivíduo (pele, tratos digestivo e respiratório); » como a estimativa qualitativa e quantitativa deste contato. Além disso, são estimadas as proporções da substância química que atravessam essas barreiras, predizendo assim a dose interna. As vias de contato ganham maior ou menor importância, de acordo com a área da Toxicologia em estudo. As vias pulmonares e a cutânea (pele) são as mais relevantes na Toxicologia Ambiental e Ocupacional e a via gastrointestinal na Toxicologia de Alimentos e Medicamentos. Geralmente, a substância química está dispersa no meio ambiente, em algum produto ou meio carreador e a concentração no ponto de contato corresponde à concentração de exposição, que pode ser tempo-dependente caso ocorra durante certo período de tempo. O estágio de avaliação da exposição inclui três fases: 1. caracterização da fonte de exposição; 2. identificação dos meios e vias de exposição; e 3. quantificação da exposição. 23 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA │ UNIDADE I As principais variáveis estudadas na avaliação da exposição são: » populações expostas; » tipo de substâncias; » substâncias únicas ou misturadas; » duração da exposição; » meios e vias de exposição. O avaliador da exposição deverá, primeiramente, identificar o meio de contato e as populações potencialmente expostas, nas quais alguns grupos podem estar sob maior risco, devido à susceptibilidade a níveis mais altos de exposição. A duração de uma exposição é importante na determinação do efeito tóxico, assim como de sua intensidade. Geralmente a exposição pode ser classificada, quanto à duração em: » exposição aguda: exposição única ou múltipla que ocorre em um período máximo de 24 horas; » exposição subaguda: ocorre durante algumas semanas (1 mês ou mais); » exposição subcrônica: ocorre durante alguns meses (usualmente por 3 meses); » exposição crônica: ocorre durante toda a vida. Quanto à frequência da exposição verifica-se que doses ou concentrações fracionadas podem reduzir o efeito tóxico, caso a duração da exposição não seja aumentada. Assim, uma dose única de um agente que produz efeito imediato e severo, quando fracionada e administrada durante um longo período de tempo, poderá produzir menos do que a metade ou nenhum efeito. No entanto, é importante ressaltar que a redução do efeito provocado pelo aumento da frequência de administração só ocorrerá quando: » a velocidade de eliminação for maior do que a de absorção, de modo que os processos de biotransformação e/ou excreção ocorram no espaço entre duas exposições; » o efeito tóxico pela substância for parcial ou totalmente revertido antes da exposição seguinte. Caso nenhuma dessas possibilidades ocorram, o aumento de frequência resultará em efeitos tóxicos crônicos. 24 UNIDADE I │ AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA A concentração de contato pode ser quantificada por meio de medidas diretas ou indiretas, e as mais relevantes são: » Medição direta da dose potencial de contato: realizada enquanto houver exposição, mensurando e integrando essa dose com o tempo de exposição. Pode ser realizada por técnicas de monitoramento individual. » Medição da concentração do agente químico no meio de exposição: realizada por mensurações ambientais em função do tempo de exposição. Essas mensurações se dão nos cenários de exposição e são conhecidas como medidas indiretas da exposição. » Estimativa de dose potencial: determinada pelos indicadores internos após a exposição. Trata-se de uma medida indireta e pode ser obtida por meio de estudos de biomonitoramento. Além dessas medidas, dados qualitativos obtidos por meio de questionários e de modelos de dispersão também são frequentemente utilizados. Nesses casos, a avaliação da exposição pode requerer a determinaçãodas emissões, dos meios, das vias de movimentação e da biodegradação da substância, de forma a estimar a concentração a qual podem estar expostos a população e o ambiente. A estimativa da exposição pode resultar em uma frequência ou, então, em dados numéricos, que representam a intensidade, a taxa e a duração da exposição. A dose de contato obtida é expressa geralmente em mg/kg de massa corporal/dia, de forma a se comparar com os dados obtidos na caracterização do perigo. 25 UNIDADE IISUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS CAPÍTULO 1 Introdução ao estudo da mutagênese O DNA (ácido desoxirribonucleico) é o material genético de todos os seres vivos e de muitos vírus, sendo a sequência de bases nitrogenadas a forma na qual a informação genética é armazenada (LEWIN, 2001). Por apresentar essa função essencial, o DNA é bastante protegido, sendo a única molécula biológica que apresenta um mecanismo próprio para prevenção e reparo de falhas em seu metabolismo. Entretanto, este mecanismo ainda está sujeito a falhas, denominadas mutações. As mutações despertam grandes interesses por estarem diretamente relacionadas ao desenvolvimento de diversas doenças degenerativas tais como câncer (DE FLORA, 1998; SEO et al., 2000). Em nosso cotidiano estamos constantemente em contato com agentes mutagênicos como a radiação solar, poluentes presentes no ar e na água ou mesmo elementos presentes em nossa dieta, estando, portanto, sujeitos a mutações a todo instante. A distribuição exata do material genético às células filhas durante a divisão mitótica envolve muitos eventos coordenados, que vão desde a replicação do DNA, até a segregação cromossômica. A manutenção da normalidade da célula somática, isto é, de seu estado diploide e perfeito equilíbrio gênico, depende da exatidão do processo em todos os níveis. Na linhagem germinativa ocorre também a meiose, que é responsável pela redução dos cromossomos ao seu estado haploide, e dela depende a integridade informacional dos gametas, essencial à sobrevivência da espécie a curto prazo. Entretanto, a longo prazo, a sobrevivência da espécie depende da variabilidade gênica que é decorrente de modificações no material genético. Todos os organismos sofrem certo número de mutações como resultado do funcionamento normal de suas células e de sua interação com o ambiente. A maioria das mutações é deletéria e normalmente eliminada, mas eventualmente, pode ocorrer alguma que confira vantagens adaptativas à espécie. Essa irá substituir o gene selvagem na população pelo processo de seleção 26 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS natural. Tais alterações, de acordo com Lewin (2001), podem ser resultados de processos celulares normais (mutações espontâneas) ou da exposição do organismo a agentes químicos ou físicos (mutações induzidas). Mutação é, portanto, uma alteração súbita do material genético que é transmitido à descendência. Dependendo da linhagem celular em que ocorra, germinativa ou somática, a mutação passará, respectivamente, às novas gerações ou às células filhas. O interesse na identificação de produtos naturais ou sintéticos que possam ter propriedades antimutagênicas ou anticarcinogênicas tem aumentado gradativamente, pois o conhecimento de tais produtos pode servir como medida preventiva para o ser humano no combate a diversas doenças. O descobrimento de produtos que reduzem a taxa de mutações fatalmente diminuiria a incidência de câncer e outras doenças degenerativas, de forma que a população poderia aumentar a exposição a determinados agentes mutagênicos efetivos, especialmente por meio da alimentação. 27 CAPÍTULO 2 Testes de mutagenicidade Os efeitos mutagênicos de substâncias químicas podem ser avaliados por meio de ensaios com microrganismos e no homem. Agente mutagênico é todo agente físico, químico ou biológico que pode causar mutação em células do organismo. Os ensaios com microrganismos, realizados in vitro, são indicados na triagem rotineira dos agentes tóxicos, e avaliam basicamente o dano provocado ao DNA pela substância química estudada ou seu produto de biotransformação. Vários testes in vitro e in vivo foram desenvolvidos para determinação da capacidade mutagênica das substâncias químicas, devido à necessidade de se quantificar o perigo de indução ao material genético e por consequência a transmissão hereditária das mutações em potencial. O teste de Ames tem sido amplamente utilizado para identificação de mutágenos entre substâncias puras, misturas complexas ou amostras ambientais. É caracterizado pela utilização de linhagens indicadoras de Salmonella typhimurium sensíveis a substâncias capazes de promover diferentes tipos de mutação. Na presença de agentes mutagênicos, essas linhagens revertem seu caráter de auxotrofia (incapacidade de sintetizar um composto essencial ao seu próprio crescimento) para síntese de histidina e passam a formar colônias em meio desprovido desse aminoácido. Desta forma, contando-se as colônias por placa torna-se possível estabelecer a ação mutagênica de certo composto em função de sua concentração. (ZEIGER, 2001) O teste do micronúcleo tem sido frequentemente usado para quantificar a exposição a agentes químicos ou à radiação (TUCKER; PRESTON, 1996; MAJER et al., 2001), sendo o primeiro procedimento desenvolvido para estudos de toxicidade. (KRISHNA; HAYASHI, 2000) Os micronúcleos foram caracterizados como inclusões citoplasmáticas em células vermelhas do sangue de gatos anêmicos. Jolly, em 1901, observou essas mesmas estruturas em trabalhos com eritrócitos de embriões de ratos (SLESINKI; GUZZIE, 1988). Segundo Heddle et al. (1983), diferentes mecanismos podem estar envolvidos na formação dos micronúcleos, incluindo quebras cromossômicas (clastogênese) e rompimento das fibras do fuso mitótico (aneuploidiogênese). Isso ocasiona a formação de um pequeno núcleo (micronúcleo), isolado do núcleo principal por uma membrana, mas com coloração semelhante devido ao seu conteúdo de DNA. (SLESINKI; GUZZIE, 1988) Embora os micronúcleos possam ser originados espontaneamente, a sua indução é comumente usada para detecção de danos genotóxicos resultantes de exposição a agentes 28 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS mutagênicos (HEDDLE, et al., 1983; MAJER et al., 2001). Embora o teste do micronúcleo seja considerado uma alternativa à análise de aberrações cromossômicas, somente poucos tipos de aberrações cromossômicas aparecem como micronúcleos (GRAWÉ et al., 1998). As principais vantagens deste teste constituem-se na velocidade e a facilidade de realização, especialmente quando é aplicado em roedores em estudos in vivo, além de permitir a inferência de processos de aneugênese e clastogênese. (SURRALLÉS; NATARAJAN, 1997) Embora o potencial mutagênico das substâncias seja avaliado nesses testes, os resultados obtidos não são facilmente extrapolados para o homem. Frequentemente, os testes de mutagenicidade são utilizados para prever o desenvolvimento de câncer, tendo-se como fundamento uma das teorias de carcinogênese química que indica o desenvolvimento de uma mutação como seu evento inicial. Assim, tais testes fazem parte do processo de tiragem para prever o potencial carcinogênico das substâncias; no entanto, apenas avaliam as substâncias que produzem câncer por mecanismos genotóxicos, ou seja, aquelas que interagem diretamente com o DNA. (OGA et al., 2008) 29 CAPÍTULO 3 Mecanismos de mutagênese química e física Agentes químicos Os mutagênicos químicos podem são classificados em diferentes grupos: » Análogos de base: moléculas que mimetizam a estrutura das bases que ocorrem naturalmente no DNA e que, quando incorporadas durante um ciclo de replicação, levam ao pareamento errado no ciclo seguinte. A 5-bromouracila (5BU) é semelhante à timina, podendo ser incorporada em seu lugar num par T-A, que passará a 5BU-A. A eletronegatividade do bromo ligado ao carbono 5 favorece a forma tautomérica que pareia com a guanina;no ciclo seguinte teremos 5BU-G e depois C-G. Como exemplo de outros análogos, temos a 5-bromodesoxiuridina, a timidina e a 2-aminopurina, da adenina. A 2-aminopurina dá origem a transições AT-CG e GC-AT. » Agentes de ação direta sobre as bases do DNA: o ácido nitroso (HNO2), por exemplo, causa desaminação oxidativa da adenina, citosina e guanina. Quando o oxigênio substitui o grupo amino no carbono 6, modificações nas propriedades das pontes de hidrogênio levam a transições: G-C → A-T e A-T → G-C. A timina e a uracila não são afetadas pelo HNO2 porque não apresentam grupo amino na molécula. Outra substância de ação direta é a hidroxilamina, que também induz transições GC-AT, reagindo especificamente com a citosina, de modo que ela passa a parear com a adenina. » Agentes alquilantes: compostos muito reativos que adicionam grupos alquila (etila ou metila) em várias posições das bases do DNA. O etil etanosulfonato (EES) e o etil metano sulfonato (EMS) agem diretamente sobre a guanina, adicionando grupos etila ou metila, respectivamente, ao oxigênio ligado ao carbono 6, modificando seu pareamento normal. As bases alquiladas também podem ser perdidas por enfraquecimento de sua ligação com a desoxirribose e, deste modo, origina-se um sítio apurínico ou apirimidínico na cadeia de DNA. Dependendo de qual das quatro bases é envolvida no preenchimento desta falha, há uma transversão 30 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS ou transição. Esses agentes modificam o DNA independentemente da replicação, podendo inclusive alquilar as bases antes de serem incorporadas, mas seu efeito é dependente dela para se manifestar. » Agentes intercalantes: posicionam-se entre as bases nitrogenadas no interior da hélice de DNA, intercalando-se e distorcendo a molécula no lugar da inserção. A compensação dessa alteração é feita pela adição ou eliminação de bases que, por sua vez, podem acarretar modificação do quadro de leitura. Dentre eles, pode-se citar a acridina, o brometo de etídio e a proflavina. Um agente intercalante muito comum na fumaça de cigarros e de combustíveis fósseis é o benzopireno, cujo potencial mutagênico foi ligado diretamente às transformações malignas em diferentes tipos de câncer de pulmão. Agentes físicos São representados pelos diferentes tipos de radiação a que os organismos estão expostos. Dois tipos se destacam, por apresentarem a capacidade de causar danos estruturais ao DNA: as radiações ionizantes (raios X, gama e partículas atômicas) e a radiação ultravioleta (UV). As radiações ionizantes provocam o aparecimento de átomos, moléculas e radicais ionizados altamente reativos. O raio X foi um dos primeiros mutagênicos a ser descoberto, sendo responsável pela indução de quebras e rearranjos cromossômicos, além de mudanças pontuais. Estudos em diferentes condições, dentre os quais podem se destacar linfócitos humanos, camundongos e Drosophila, demonstram que existe uma relação diretamente proporcional entre a dose de raio X e o seu efeito em potencial. Em algumas espécies, como a Drosophila melanogaster, verifica-se o mesmo nível de indução de mutações letais ligadas ao cromossomo X para uma determinada dose de radiação, independentemente da exposição ter sido aguda ou crônica, mostrando o efeito cumulativo desse agente. Em outros animais, como o camundongo, devido à existência de sistemas de reparo do DNA, esta característica parece ser atenuada. A radiação UV de comprimento de onda adequado (entre 250 a 400 nm) pode causar transições eletrônicas em orbitais moleculares, levando a alterações químicas nas bases do DNA quando absorvida por elas. A modificação mais frequente é a produção de dímeros entre duas pirimidinas adjacentes numa mesma cadeia de DNA (C-C, C-T, T-T), os quais são removidos pelos sistemas de reparo. Em bactérias, foi demonstrada a existência de mutantes para os genes envolvidos no sistema de reparo do DNA, fato que as tornam muito vulneráveis ao efeito letal da radiação UV. As sobreviventes, no 31 SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS │ UNIDADE II entanto, não são mutantes. Os dímeros interferem tanto com a transcrição quanto com a replicação, porém o efeito mutacional da radiação UV é causado durante o processo de reparo, não sendo consequência direta da radiação. Aparentemente, o efeito letal da radiação UV é causado pela interferência de ligações cruzadas (crosslinks) que se formam após dimerização com a síntese de DNA. 32 CAPÍTULO 4 Classificação e modo de ação de agentes genotóxicos Os agentes genotóxicos podem ser classificados em três tipos: químicos, físicos e biológicos. A sequência de um gene pode ser alterada de diversas maneiras. Mutações genéticas causam diversos efeitos no organismo, e dependendo de sua localização, alteram a função de proteínas essenciais. De forma estrutural, as mutações podem ser classificadas em: Mutações de pequena escala (microlesões): Mutação pontual: considerada a principal causa das doenças genéticas, é geralmente provocada por substâncias mutagênicas ou erros na replicação do DNA, e é caracterizada pela troca de um único nucleotídeo por outro (FREESE, 1959a). A mais comum, conhecida por transição, ocorre quando há a troca de uma purina por outra purina (A ↔ G) ou uma pirimidina por outra pirimidina (C ↔ T). Transições podem ser causadas por Ácido Nítrico, erro de pareamento entre as bases, ou mutagênicos análogos, como 5-bromo-2-desoxiuridina (BrdU). Um tipo de mutação pontual menos comum é a transversão, em que há a troca de uma purina por uma pirimidina, ou vice-versa (C/T ↔ A/G). Uma mutação pontual pode ser revertida por outra mutação pontual em que o nucleotídeo é mudado de volta ao seu estado original (reversão verdadeira) ou por uma reversão a partir de outra mutação (uma mutação complementar em outro local que resulta no retorno do gene à função anterior) (FREESE, 1959b). A substituição de bases na região codificadora, pode determinar três tipos diferentes de mutação (OGA et al., 2008): 1. Mutação silenciosa (ou isso-semântica): o códon mutado codifica para o mesmo aminoácido. 2. Mutação “mis-sense” (com troca de sentido): codifica para um aminoácido diferente, pois a substituição de um par de bases altera o sentido de um códon. 3. Mutação sem sentido (non-sense): codifica para um códon de parada (sinalizador de finalização da transcrição), que interrompe a proteína antes de seu término. 33 SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS │ UNIDADE II A adição (inserção) ou deleção de bases também constitui outra classe de alterações que podem resultar na modificação do quadro de leitura do DNA: Inserção: ocorre pela adição de um ou mais nucleotídeos na sequência de DNA. Essa modalidade de mutação é geralmente causada por erros durante a replicação de elementos repetitivos. Inserções na região codificadora de um gene podem alterar o corte do RNA mensageiro, ou causar mudança no quadro de leitura dos códons, levando a alterações significativas do produto gênico. Deleção: remoção de um ou mais nucleotídeos da sequência de DNA, modificando o quadro de leitura do gene. Ressalta-se que uma deleção não é o oposto de uma inserção, isto é, enquanto deleções são aleatórias, inserções consistem de uma sequência específica sendo inserida em locais que não são completamente aleatórios. Mutações de grande escala (macrolesões do DNA) Amplificação (duplicação gênica): multiplicação de um segmento de DNA, aumentando o seu número de genes. A duplicação ou a inversão de segmentos de DNA relativamente longos também podem ocorrer, causando alteração no genoma. Deleção: como visto acima, consiste na remoção de regiões cromossômicas, de tamanhos variáveis, levando à perda dos genes presentes nessas regiões e alterações nos quadros de leitura do DNA. Certas modalidades de mutações tem o potencial de unir partes do DNA anteriormente separadas, levando à união de genes de tal forma que surjam genes fundidos funcionalmente distintos. Esses tipos demutações incluem: » Translocação cromossômica: ocorre a troca de porções de cadeias de DNA entre cromossomos não homólogos e pode determinar o aparecimento de cromossomos aberrantes e genes anômalos » Inversão cromossômica: Ocorre a inversão da orientação de um segmento do cromossomo. Mesmo sem exposição a agentes genotóxicos, as alterações da molécula de DNA são eventos frequentes, e devido a esse fenômeno, as células dispõem de diversos mecanismos de reparação capazes de restaurar a molécula à sua estrutura inicial. 34 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS O mecanismo de excisão de bases, excisão de nucleotídeos, reparação de quebras duplas e a reparação mismatch constituem os processos básicos de reparação do DNA. As fases fundamentais dos sistemas de reparação incluem o reconhecimento, excisão do dano, síntese de DNA e ligação. Em último caso, e se não for possível reparar o dano, as células podem iniciar o processo de apoptose. (PRESTON; HOFFMAN, 2001) Mecanismos de reparo do DNA As vias de reparo do DNA geralmente trabalham apenas para lesões em DNA de dupla fita, com a fita não lesada fornecendo a informação genética correta para restaurar a fita lesada ao seu estado original. Entretanto, certos tipos de lesão, como as quebras de fitas duplas, fitas duplas cruzadas, ou lesões em uma única fita de DNA, a fita complementar está, ela própria, lesada ou ausente. As quebras de duplas fitas e as lesões na fita única de DNA mais frequentemente surgem quando a forquilha de replicação encontra uma lesão de DNA não reparada. Tais lesões e o cruzamento no DNA podem também resultar da radiação ionizante e reações oxidativas. A indução de danos oxidativos nas bases do DNA ocorre a partir da sua reação com ROS (reactive oxygen species). Essas lesões podem ocorrer devido à oxidação direta dos ácidos nucléicos ou, muitas vezes, podem levar à formação de quebras em uma das cadeias do DNA (quebras simples – SSB, single strand break) ou quebras simples em posições aproximadamente simétricas nas duas cadeias do DNA (quebras duplas – DSB, double strand break). Além disso, quebras simples podem gerar quebras duplas durante a replicação celular. (NELSON; COX, 2002; BERRA; MENCK, 2006) Em uma forquilha de replicação parada, há dois caminhos a reparar (figura 1). Na ausência de uma segunda fita, a informação requerida para o reparo acurado deve vir de um cromossomo homólogo, separado. O sistema de reparo, dessa forma, envolve a recombinação genética homóloga e é denominado reparo de recombinação do DNA. Sob algumas condições, uma segunda via de reparo, a síntese do DNA translesão sujeita a erros torna-se disponível. Quando essa via estiver ativa, o reparo do DNA torna-se significativamente menos acurado e podendo resultar em uma alta taxa de mutação. (NELSON; COX, 2002) 35 SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS │ UNIDADE II Figura 1. Lesão do DNA e seu efeito na replicação do DNA. Se a forquilha de replicação encontra uma lesão não reparada ou uma quebra de fita, a replicação geralmente para e a forquilha pode colabar. A lesão é deixada para trás em um segmento de DNA de fita simples não replicada; a quebra de fita torna-se uma quebra de fita dupla. Há dois possíveis caminhos para o reparo: o reparo por recombinação do DNA ou, quando as lesões forem não usualmente numerosas, o reparo sujeito a erros. Tal mecanismo é referido como sujeito a erros porque frequentemente surgem mutações. Fonte: Retirado de NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 3ª ed. São Paulo: Editora Savier, 2002. Nas bactérias, a recombinação genética homóloga é principalmente um processo de reparo do DNA e, nesse contexto, é referido como reparo de recombinação do DNA. Ele é usualmente direcionado à reconstrução das forquilhas de replicação paradas em sítios lesados no DNA. A recombinação genética homóloga pode também ocorrer durante a conjugação quando o DNA cromossômico é transferido de um doador para uma célula bacteriana recipiente. A recombinação durante a conjugação, embora rara em populações bacterianas selvagens, contribui para a diversidade genética. (NELSON; COX, 2002) Nos eucariotos, a recombinação genética homóloga possui vários papéis na replicação e divisão celular, incluindo o reparo das forquilhas de replicação paradas. A recombinação ocorre com maior frequência durante a meiose, processo pelo qual células da linha germinativa diploide, com dois conjuntos de cromossomos, dividem-se para produzir gametas haploides – células espermatozoides ou óvulos nos eucariotos superiores – cada gameta possuindo apenas um membro de cada par de cromossomos. (NELSON; COX, 2002) A recombinação homóloga serve a pelo menos três funções identificáveis (NELSON; COX, 2002): 1. contribui para o reparo de vários tipos de lesão do DNA; 36 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS 2. fornece, em células eucarióticas, uma ligação transitória física entre cromátides que promovem a segregação ordenada dos cromossomos na primeira divisão celular meiótica; e 3. aumenta a diversidade genética em uma população. Uma via de recombinação homóloga durante a meiose está esboçada na figura 2. O modelo apresenta quatro características chave. Primeiro, os cromossomos homólogos são alinhados. Segundo, uma quebra da fita dupla em uma molécula de DNA é aumentada por uma exonuclease, deixando uma fita simples extensa com um grupo 3’ – hidroxila livre na extremidade quebrada. Terceiro, as extremidades 3’ expostas invadem o DNA duplex intacto, e isso é seguido pela migração da ramificação e/ou replicação para criar um par de estruturas de permutação, chamadas junções Holliday. Quarto, a clivagem das duas permutações cria dois produtos de recombinação completos. (NELSON; COX, 2002) Nesse modelo de reparo da quebra da fita dupla para a recombinação, as extremidades 3’ são usadas para iniciar a troca genética. Uma vez pareada com a fita complementar no homólogo intacto, uma região do DNA hibrido é criada, a qual contém fitas complementares dos dois DNAs parentais diferentes. Cada uma das extremidades 3’ pode então atuar como um iniciador para a replicação do DNA. As estruturas assim formadas, intermediários de Holliday, são a característica das vias da recombinação genética homologa em todos os organismos. A recombinação homóloga pode variar em muitos detalhes de uma espécie para outra, mas a maioria das etapas esboçadas está geralmente presente em alguma forma. (NELSON; COX, 2002) Há duas maneiras para clivar o intermediário de Holliday, de forma que os dois produtos recombinantes carreguem genes na mesma ordem linear como nos substratos – os cromossomos não recombinados originais. Se clivado de uma maneira, o DNA flanqueando a região que contém o DNA híbrido não é recombinado; se clivada de outra maneira, o DNA flanqueado é recombinado. Ambos os resultados são observados in vivo nos eucariotos e nos procariotos. (NELSON; COX, 2002) A recombinação homóloga é um processo muito elaborado com consequências moleculares sutis para a geração da diversidade genética. Dois cromossomos homólogos que sofrem recombinação não são necessariamente idênticos. O arranjo linear de genes pode ser o mesmo, mas as sequências de bases em alguns deles pode diferir levemente. A diferença pode constituir de um ou mais pares de bases entre milhões. A recombinação homóloga não altera o arranjo linear dos genes, mas ela pode determinar que alelos se liguem a um cromossomo único. (NELSON; COX, 2002) 37 SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS │ UNIDADE II Figura 2. Recombinação durante a meiose. Modelo de reparo da quebra de fita dupla para a recombinação genética homóloga. Os dois cromossomos envolvidos nesse evento recombinante possuem sequências similares. Cada um dos dois genes mostrados possui diferentes alelos nos dois cromossomos. Fonte: Retirado de NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 3ª ed. São Paulo: Editora Savier, 2002. Comotodas as células, as bactérias carregam altos níveis de lesão do DNA, mesmo sob condições de crescimento normal. A maioria das lesões é reparada rapidamente por excisão de base, por excisão de nucleotídeo e por outras vias. Entretanto, quase 38 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS toda forquilha de replicação bacteriana encontra uma lesão do DNA não reparada ou quebra em algum ponto na sua jornada, que vai da origem ao término da replicação. O DNA polimerase III não conseguem passar por muitos tipos de lesão, e esses embates tendem a deixar a lesão com uma lacuna na fita simples. Um embate com uma fita de DNA quebrada cria uma quebra da fita dupla. Ambas as situações requerem reparo de recombinação do DNA. Sob condições normais de crescimento, as forquilhas de replicação paradas são reativadas por uma via de reparo elaborada, abarcando o reparo de recombinação do DNA, o reinício da replicação e o reparo de qualquer lesão deixada para trás. Todos os aspectos do metabolismo do DNA se reúnem nesse processo. (NELSON; COX, 2002) Uma vez que a forquilha de replicação tenha sido parada, ela pode ser restaurada por, pelo menos, duas vias principais, ambas requerem a proteína RecA. A via de reparo para lesões, que contém lacunas de DNA, também requer proteínas RecF, RecO e RecR. O reparo de quebras de fita dupla requer a enzima RecBCD. Etapas de recombinação adicionais são seguidas por um processo chamado de reinício da replicação independente da origem, em que a forquilha de replicação é montada com a ajuda de um complexo de sete proteínas (PriA, B e C e DNAB, C, G e T). Esse complexo, originalmente descoberto como um componente para a replicação do DNA ФX174 in vitro, é agora chamado de iniciossoma de reinício da replicação. O restauro da forquilha de replicação também requer o DNA polimerase II, um papel ainda não definido, abrindo caminho ao DNA polimerase III para a replicação extensiva, geralmente requerida para completar o cromossomo. (NELSON; COX, 2002) O reparo das forquilhas de replicação paradas (figura 3) exige uma transição coordenada da replicação para a recombinação e de volta para a replicação. As etapas de recombinação funcionam para preencher a lacuna de DNA ou reunir o ramo de DNA quebrado para recriar a estrutura de DNA ramificada na forquilha de replicação. Lesões deixadas para trás, no que é agora um DNA dupla fita, são reparadas por vias de reparo como a excisão de base ou a excisão de nucleotídeo. Assim, uma grande variedade de enzimas, abarcando cada aspecto do metabolismo do DNA, participa no reparo de uma forquilha de replicação parada. Esse tipo de processo de reparo é claramente uma função principal do sistema de recombinação homólogo de toda célula, e defeitos no reparo de recombinação do DNA desempenham um importante papel em doenças humanas. (NELSON; COX, 2002) 39 SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS │ UNIDADE II Figura 3. Modelo para o reparo de recombinação do DNA das forquilhas de replicação paradas. (a) A forquilha de replicação colaba ao encontrar uma lesão de DNA (à esquerda) ou uma quebra de fita (à direita). (b) Enzimas de recombinação promovem a transferência da fita de DNA necessária para reparar a estrutura do DNA ramificada na forquilha de replicação. Uma lesão em uma lacuna de fita simples é reparada em uma reação, requerendo as proteínas RecF, RecO e RecR. Quebras de fitas duplas de DNA são reparadas em uma via, requerendo a enzima RecBCD. Ambas as vias requerem RecA. (c) Intermediários de recombinação são processados por enzimas adicionais (RuvA, RuvB, RuvC, que processam intermediários Holliday). Lesões no DNA de fita dupla são reparadas pelo reparo de excisão de nucleotídeo ou de outras vias. (d) A forquilha de replicação é restabelecida com a ajuda de enzimas que catalisam o reinício da replicação, independentemente da origem, e a replicação do cromossomo é completada. Fonte: Retirado de NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 3ª ed. São Paulo: Editora Savier, 2002. 40 UNIDADE II │ SUBSTÂNCIAS MUTAGÊNICAS O câncer humano se desenvolve quando certos genes que regulam a divisão celular normal (oncogenes e genes supressores de tumores) falham ou estão alterados. As células podem crescer fora de controle e formar um tumor. Os genes que controlam a divisão celular podem ser lesados por mutação espontânea ou sobrepujados pela invasão de um tumor viral. Não surpreendentemente, alterações nos genes de reparo do DNA, que levam a um aumento na velocidade de mutação, podem aumentar muito a suscetibilidade ao câncer. Defeitos nos genes que codificam as proteínas envolvidas no reparo por excisão de nucleotídeos, no reparo de despareamento e no reparo de recombinação, todos eles tem sido ligados ao câncer humano. Claramente, o reparo do DNA pode ser uma questão de vida ou de morte. (NELSON; COX, 2002) A maioria dos cânceres de mama humanos ocorre em mulheres com nenhuma predisposição. Entretanto, cerca de 10% dos casos são associados a defeitos herdados em dois genes, Brca1 e Brca2. As proteínas BRCA1 e BRCA2 interagem com uma proteína chamada Rad 51, a homóloga da proteína RecA. Isso sugere que BRCA1 e 2 estejam envolvidas no reparo de recombinação do DNA. Mulheres com defeitos em qualquer um dos genes Brca1 e Brca2 tem uma probabilidade maior que 80% de desenvolver o câncer de mama. (NELSON; COX, 2002) O potencial genotóxico de uma substância é um relevante fator de risco para o aparecimento de efeitos a longo prazo, como câncer ou esterilidade. A probabilidade desse dano genético originar um efeito real na saúde do indivíduo depende da natureza do dano, da capacidade da célula para reparar ou amplificar esse dano, da oportunidade que a célula pode ter ou não de expressar essa alteração e ainda da capacidade do organismo de reconhecer e suprimir a multiplicação de células anormais. (SILBERGELD, 2001) 41 UNIDADE IIISUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS CAPÍTULO 1 Introdução ao estudo da carcinogênese O processo de carcinogênese envolve interações complexas com muitos fatores, tanto ambientais quanto genéticos, hormonais entre outros. Análises de incidência de tumores em função da idade do indivíduo demonstram que são necessárias 3 a 4 alterações genéticas (que causem mutação) para desencadear leucemias, e de 6 a 7 para carcinomas. As alterações celulares que ocorrem durante a carcinogênese envolvem mutações genéticas ou epigenéticas (quando o padrão de expressão gênica celular é alterado por outros fatores independentemente de mutações). Sendo a carcinogênese um processo que envolve várias alterações tipo mutação, tais alterações teriam efeito cumulativo no decorrer da vida do indivíduo até a expressão do fenótipo final. Os agentes carcinogênicos que promovem alterações no DNA são subdivididos em três categorias: 1. carcinógenos químicos, 2. energia radiante e 3. vírus oncogênicos. Inicialmente, as células são expostas a carcinógenos que promovem mutações no DNA e então ocorre proliferação das células transformadas. Carcinogênese química Uma grande quantidade de substâncias químicas apresenta potencial carcinogênico. Algumas não necessitam de transformação química para promover carcinogênese e são chamadas de carcinógenos de ação direta. Outras requerem conversão metabólica in 42 UNIDADE III │ SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS vivo para que os produtos finais sejam capazes de transformar as células, sendo nesse caso conhecidas como carcinógenos de ação indireta. Os agentes químicos de atuação direta são da classe dos compostos eletrofílicos, ou seja, aqueles que reagem com regiões carregadas negativamente de outros compostos. Entretanto, a maioria dos compostos é de ação indireta e requerem metabolização para adquirir potencial carcinogênico, que ocorre pela indução de centros eletrolíticos na molécula inativa. Essa ativação ocorre devido ao sistema de desintoxicação do organismo, cuja finalidade é tornar oselementos nocivos solúveis em água para que sejam eliminados na urina. Primeiramente, ocorre uma série de reações oxidativas catalisadas por um conjunto de enzimas ligadas às membranas do retículo endoplasmático, capazes de oxidar compostos não reativos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, produzindo epóxidos (muito reativos). Esses, por sua vez, são hidrolisados em seus grupos hidroxilas que se ligam com ácido glicurônico ou outros grupos, produzindo compostos hidrossolúveis. Essa reação pode ser muitas vezes retardada e o seu composto intermediário age no organismo como carcinógeno. Os carcinógenos pertencem a três principais classes de substâncias: 1. hidrocarbonetos aromáticos policíclicos; 2. N-nitrosaminas, e 3. aminas aromáticas. Por exemplo, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos estão presentes na exaustão de motores à combustão, nos combustíveis fósseis e fumaça de cigarro (na qual também se encontram as aminas), podendo estar associados ao câncer de pulmão. A exposição a N-nitrosaminas é oriunda da inalação ou ingestão de compostos pré- formados no ambiente ou da nitrosação de aminas precursoras no organismo, e pode estar relacionada ao câncer de esôfago. Radiação A radiação ultravioleta da luz solar e as radiações eletromagnéticas (raios x, raios gama) e particuladas (partículas alfa, beta, próton e nêutron) podem provocar modificações celulares (mutação) e consequente desenvolvimento de câncer. Os raios ultravioleta estão relacionados ao aumento da incidência de carcinoma de células escamosas, carcinoma basocelular e melanoma de pele. As radiações ionizantes de origem radioterápica e de mineração de elementos radioativos estão associadas amplamente associadas à carcinogênese. 43 SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS │ UNIDADE III Carcinogênese viral Vários vírus (de DNA ou RNA) têm mostrado potencial para promoção de carcinogêse. Alguns exemplos de vírus de DNA implicados na causa de câncer são o papilomavírus (HPV) e o vírus Epstein-Barr (EBV). Com relação aos vírus de RNA, apenas o vírus tipo 1 da leucemia de célula T humana (HTLV-1) está associado a uma forma de leucemia/ linfoma de célula T. 44 CAPÍTULO 2 Bases moleculares da carcinogênese Com os avanços da Genética e Biologia Molecular verificou-se um aprofundamento dos conhecimentos sobre a origem e o desenvolvimento das neoplasias. Fundamentalmente, o câncer é iniciado no DNA das células, que uma vez exposto a diversos fatores pode sofrer mutação e eventualmente causar alterações nas proteínas codificadas. De acordo com essa abordagem, o câncer é entendido como uma doença genética. Ciclo Celular e a Carcinogênese De forma a se entender o processo de carcinogênese, o qual envolve a perda do controle de proliferação e apoptose, é necessário ter em mente que certos mecanismos, coordenadamente, levam as células a aumentar seu material genético e citoplasmático, dividir-se, diferenciar-se e morrer. De forma resumida, o modelo do ciclo celular consiste de uma fase S, na qual ocorre síntese do DNA e uma fase M, representada pelo período em que ocorre mitose, intercaladas por duas fases de crescimento celular (G1 e G2). Desta forma, uma série de procedimentos realizados no ciclo celular são desencadeados por um complexo sistema de sinais bioquímicos externos e internos à célula e coordenados por proteínas-chave sintetizadas pela célula, que determinaram como, onde e quando se dará a proliferação celular. (CERQUEIRA, 2000) Mutações nos genes que sintetizam as moléculas que são substratos dessas proteínas- chave reguladoras do ciclo celular tornam a transição de uma fase para outra autônoma, menos dependentes de sinais externos e insensíveis a controles internos. Dessa forma, o processo de carcinogênese é associado a diversos fatores como a inibição dos genes supressores de tumores, que tem como função a codificação de proteínas que mantêm a célula em seu estado basal não replicativo (G0); a ativação dos oncogenes relacionados com a proliferação celular; e ativação de genes responsáveis por coordenar os mecanismos de reparo do DNA. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) Genes do Câncer Da informação gênica à proteína O processo de carcinogênese está fortemente ligado aos mecanismos pelos quais as proteínas atuam, viabilizando o funcionamento do organismo como um todo, abrangendo 45 SUBSTÂNCIAS CARCINOGÊNICAS │ UNIDADE III desde o metabolismo celular até a atividade funcional de tecidos e órgãos. Diversos genes estão ligados à transformação maligna, entretanto, pode-se destacar os que têm papeis mais relevante em duas categorias: 1. oncogenes, cujos metabólitos favorecem o crescimento celular desordenado; 2. genes que cessam o crescimento e diferenciação, pertencendo a essa categoria os genes supressores de tumores, genes de reparo de DNA, genes controladores da apoptose etc. A carcinogênese é iniciada quando ocorrem alterações qualitativas e quantitativas nesses genes, sendo que na maioria dos tumores os principais a serem afetados são os oncogenes e genes supressores de tumores. (FILHO, 2000; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) Oncogenes e genes supressores de tumores Os eventos que regem o ciclo celular são determinados pelo estímulo ou inibição da ação de proteínas, oriundas de genes específicos. Como descrição geral do processo de proliferação celular, pode-se dizer que todas as ações estão fortemente interligadas, tendo as proteínas papel fundamental, e a menor alteração no seu funcionamento resulta em erros no processo mitótico. Como as alterações nessas proteínas são o resultado de mutações em genes específicos, tais defeitos na composição gênica são decisivos para o processo de carcinogênese. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) Considerando as proteínas que atuam durante processo de replicação celular, podem- se definir dois grupos distintos: proteínas que exercem ação estimulante de ciclo (ciclinas, proteína ras, proteínas E2F etc.); e as inibidoras do ciclo (proteínas rb, p53 e p21). A carcinogênese é baseada em alterações no equilíbrio proteico estabelecido devido à presença de mutações nos genes responsáveis pela expressão das proteínas estimuladoras e inibidoras do ciclo celular. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) As proteínas estimuladoras submetidas a este tipo de processo são denominadas oncoproteínas e seus respectivos genes como oncogenes. Esses mesmos genes em condições proliferativas normais (na ausência de mutações) são denominados prooncogenes. Por outro lado, a ausência de proteínas inibidoras do ciclo celular como resultado de mutações em genes denominados genes supressores de tumores gera um desequilibro tecidual resultante do predomínio de fatores estimuladores de divisões celulares, levando também ao surgimento de neoplasias (READ, 2002, p. 428). O processo carcinogênico é iniciado, na maioria dos tumores, quando ambos oncogenes e genes supressores de tumor sofrem alterações. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) 46 CAPÍTULO 3 Principais etapas da carcinogênese induzida por agentes químicos genotóxicos Etapas da Carcinogênese O câncer é uma doença de múltiplos estágios, havendo a necessidade de diversas lesões no genoma para estruturar uma transformação maligna. Desta forma, o processo de carcinogênese é classicamente dividido em quatro fases (INCA, 2006): 1. Iniciação, 2. Promoção, 3. Manutenção e 4. Progressão Tumoral. Inicialmente, a célula sofrerá a ação de um agente genotóxico que causa alterações no material genético, compreendendo o estágio de iniciação. Porém, de forma que a patologia seja estabelecida, essa mutação deve ser herdada pelas células-filhas originadas por mitose, sendo que uma única alteração no DNA não é suficiente para causar o câncer. Adicionalmente, o efeito nocivo dessa mutação deve ocorrer em classes de genes específicos, preferencialmente, os genes supressores de tumores e os prooncogenes, sendo também de importante relevância os genes de reparo de DNA (POLLOCK, 2006). A
Compartilhar