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1 HISTORIA DA HOMINIZACAO AS PRIMEIRAS CIVILIZACOES

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17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações
https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 1/27
HISTÓRIA DA HOMINIZAÇÃO
ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES
CAPÍTULO 1 - COMO A HISTÓRIA E A
ARQUEOLOGIA ESTUDAM O PASSADO?
Fernando Silva de Almeida
 
INICIAR
17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações
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Introdução
A hominização é o processo que transformou as primeiras espécies de
hominídeos, os antepassados dos seres humanos que já possuíam andar bípede e
postura ereta, no Homo sapiens sapiens. Estudar esse processo e a formação das
primeiras civilizações são tarefas que dependem da aplicação de diferentes
metodologias de pesquisa, que devem estar associadas a disciplinas que estudam
o passado e o modo de vida das primeiras populações humanas, bem como o
modo de vida nômade, o sedentarismo e a formação dos primeiros espaços
urbanos. Você saberia dizer quais são as principais disciplinas responsáveis pelo
estudo destes processos? E quais seriam as fontes disponíveis para o estudo desse
passado tão remoto? Ou ainda, qual é a importância desse passado para a nossa
sociedade, ou seja, qual é a relação entre a Arqueologia e a História e o presente?
Neste capítulo vamos conhecer as fontes documentais e responder a estas
questões, apresentando diferentes abordagens que podem ser utilizadas no
estudo da Pré-História e da História Antiga. Sem o conhecimento sobre o papel
dessas disciplinas, bem como sobre os seus objetivos, o estudo do passado se
torna uma tarefa árdua e difícil, que pode conduzir o pesquisador ao campo das
falsas interpretações, já que somente por meio do uso de fontes documentais
confiáveis, obtidas na pesquisa histórica e arqueológica, é possível
compreendermos o passado. Primeiramente, vamos estudar as principais
características da arqueologia, a ciência responsável pelo estudo do modo de vida
e do passado das populações humanas. O segundo tópico aborda a relação entre a
arqueologia e o estudo da Pré-História. Depois, vamos identificar os objetivos da
pesquisa histórica e, por fim, o quarto tópico procura estabelecer a relação entre
os estudos históricos e o mundo antigo.
1.1 Arqueologia: ciência ou
ferramenta?
A arqueologia, geralmente, é considerada uma disciplina envolvida em mistérios.
Muito do que conhecemos a seu respeito, atualmente, é resultado do que vemos
na mídia. Mas qual é o potencial informativo destas pesquisas? Como podemos
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separar as informações úteis, dos projetos científicos, das pesquisas realizadas por
amadores que buscam somente o entretenimento?
Neste tópico iremos analisar as diversas características referentes à pesquisa
arqueológica, desde a compreensão e importância do conceito de arqueologia até
a demonstração dos objetivos e dos passos necessários para a realização de uma
pesquisa arqueológica sobre a Pré-História. Você sabe como os objetos podem nos
trazer informações sobre o passado? O objetivo deste tópico é, justamente,
responder a este e outros questionamentos, apresentando uma pequena
explicação sobre a prática arqueológica.
1.1.1 Conceito de arqueologia
De uma maneira geral, podemos dizer que a arqueologia é conhecida como o
estudo das coisas antigas. Tal pensamento é comum, pois imaginamos
arqueólogos procurando por artefatos arqueológicos em todo o mundo, tal como
o personagem do cinema Indiana Jones. Afinal, esta é a imagem transmitida,
principalmente por meio dos filmes e documentários de televisão. Assim,
percebemos a arqueologia como uma ciência que envolve aventuras e
descobertas extraordinárias. Mas, qual é o foco e o que, de fato, caracteriza a
pesquisa arqueológica?
De acordo com Funari (2003, p. 15), a arqueologia estuda diretamente “a
totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma
cultura total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico”, ou, em
outras palavras, a pesquisa arqueológica busca todo e qualquer vestígio material
não só produzido, mas também utilizado pela sociedade, não importando qual é o
período do tempo, desde o passado mais remoto até o presente.
Para ampliarmos nosso conhecimento sobre a arqueologia precisamos
desmistificar algumas interpretações ligadas a alguns documentários de canais de
televisão, que passam a falsa imagem de construções históricas famosas, como as
pirâmides do Egito ou as ruínas da cidade peruana de Machu Picchu, entre outras,
como obras realizadas por seres de outros planetas, desconsiderando a
capacidade de criação do ser humano. Outros filmes e programas de televisão são
orientados, exclusivamente, para a descoberta de tesouros arqueológicos, nem
sempre reais, onde há uma despreocupação com o contexto cultural destes
objetos, além da construção da ideia de que fazer arqueologia é buscar bens
preciosos almejando ganhos financeiros.
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Outro aspecto que devemos mencionar é a relação entre a arqueologia e a
paleontologia. Talvez você já tenha percebido que muitas pessoas associam
arqueologia à descoberta de fósseis de dinossauros, encontrados em diversos
lugares do país. É importante destacar que este tipo de estudo é realizado por
paleontólogos, que estudam os vestígios preservados de seres vivos, como os
próprios dinossauros, que foram extintos há, aproximadamente, 65 milhões de
anos. Mas, preste atenção, pois, conforme argumentou Funari (2003), ao citar que
não importa qual é o período de tempo que pretendemos estudar, aos
arqueólogos interessa o passado, em um período que pode alcançar até,
aproximadamente, sete milhões de anos atrás, época em que, possivelmente,
viveu o hominídeo mais antigo já conhecido até hoje, o Sahelanthropus tchadensis.
Figura 1 - Pirâmides do Egito, um dos principais monumentos da Antiguidade. Fonte: Dudarev
Mikhail, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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Um dos pioneiros da arqueologia, Mortimer Wheeler, já afirmava no início do
século XX que a arqueologia “escava pessoas e não coisas” (FUNARI, 2003, p. 20).
Podemos afirmar, portanto, que a cultura material, ou seja, a relação entre os
vestígios materiais e a sociedade, é o foco da arqueologia. Mas, vale destacar, que
o objetivo da disciplina é compreender a história e o modo de vida das pessoas,
que produziram e utilizaram esses materiais, desde o passado mais remoto até a
atualidade. Portanto, consideramos que o trabalho do arqueólogo não consiste
somente na escavação e na coleta de objetos, mas na pesquisa e compreensão
dos grupos humanos por trás de sua existência.
Mortimer Wheeler (1890 – 1976) foi um dos primeiros arqueólogos a se preocupar com o estudo da
sequência de diferentes camadas do solo na escavação e com a posição exata dos artefatos. Além de
ter atuado em duas guerras mundiais, realizou importantes escavações em sítios no sul da Índia,
incluindo a escavação do sítio arqueológico Arikamedu, a única cidade indiana que apresenta vestígios
da antiga civilização romana. 
Até meados do século XX, um dos principais objetivos da arqueologia foi a coleção,
a descrição e a classificação de objetos, havendo pouco interesse nas pessoas que
os produziram (FUNARI, 2003). Existia uma finalidade puramente técnica, baseada
na escavação, na coleta e na transferência dos materiais para os museus. Neste
momento, a arqueologia estava mais próximado colecionismo, deixando para
outras ciências, como a história e a antropologia, a responsabilidade de
interpretar o passado e o modo de vida das populações humanas.
VOCÊ O CONHECE?
VOCÊ QUER VER?
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O filme Indiana Jones e os caçadores da Arca Perdida  (EUA, 1981), estrelado por Harrison Ford e
produzido por George Lucas, mostra a saga do arqueólogo mais famoso do cinema contra as forças
nazistas de Adolf Hitler. Apesar de apresentar somente o lado aventureiro e pouco científico da
arqueologia, este é o mais famoso filme sobre o tema já produzido na história do cinema e foi o
responsável pela escolha profissional de muitos arqueólogos contemporâneos. 
Ainda hoje existem pessoas que consideram a arqueologia uma atividade,
essencialmente, técnica e uma disciplina auxiliar, que só deve ser aplicada na
ausência da documentação escrita. Porém, cada vez mais arqueólogos a
compreendem como uma ciência independente e interdisciplinar, que
compartilha questões comuns a outras disciplinas. Desde meados do século XX, a
arqueologia passou, então, a ser considerada, por esses profissionais, como uma
disciplina que não se ocupa somente dos artefatos e do seu contexto, e foi
reconhecida como as demais ciências sociais: como uma ciência que estuda os
sistemas socioculturais, sua estrutura, funcionamento e seu comportamento ao
longo do tempo (FUNARI, 2003).
Como já dissemos, as pesquisas arqueológicas nos trazem informações relevantes
sobre o passado, que até então desconhecíamos. Esse é o caso, por exemplo, das
evidências que temos das primeiras populações que viveram no atual território
brasileiro. Há pouco tempo acreditávamos que esses povos chegaram aqui por
volta de 12 mil anos atrás. Contudo, novas pesquisas realizadas no Mato Grosso e
no Piauí ampliaram esse período para mais de 20 mil anos, modificando
completamente o conhecimento que possuíamos sobre o povoamento do nosso
continente (BOËDA et al, 2014; VIALOU et al, 2015).
Este é um dos exemplos capazes de demonstrar a importância da arqueologia na
nossa sociedade contemporânea. Por meio das pesquisas arqueológicas sabemos,
por exemplo, que na pré-história brasileira, antes da chegada dos europeus em
nosso país, existiram duas populações com características biológicas distintas
(NEVES et al, 2008), que grande parte da biodiversidade amazônica pode ter sido
resultado do manejo ambiental realizado por populações indígenas (NEVES, 2000)
e que o sítio arqueológico e o patrimônio histórico da humanidade Cais do
Valongo, no Rio de Janeiro, foi o principal porto de entrada de africanos no Brasil
até a metade do século XIX (LIMA, 2013).
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VOCÊ SABIA?
O crânio humano encontrado no início dos anos 1970 em Minas Gerais, apelidado
de Luzia, é o mais antigo já encontrado na América. Esse fóssil se refere a uma
mulher e uma de suas principais características é a morfologia craniana, que
demonstra traços semelhantes aos aborígenes australianos e não aos grupos
indígenas contemporâneos (NEVES et al, 2008).
Por trás dessas descobertas existem as teorias, que exercem forte influência nos
arqueólogos e são os elementos que norteiam as pesquisas arqueológicas. No
passado, elas já foram utilizadas, inclusive, para promover a supremacia racial e
para tornar invisível a história de populações inteiras, como é o caso dos grupos
indígenas da América do Sul (FUNARI, 2003). Dessa forma, devemos reconhecer a
importância da fundamentação teórica nas pesquisas arqueológicas e entender
que elas são realizadas a partir de diferentes abordagens, que acompanham o
desenvolvimento da disciplina desde a sua criação. A seguir vamos conhecer
algumas destas abordagens.
Arqueologia histórico-cultural
A arqueologia histórico-cultural é utilizada desde o final do século XIX. Neste tipo
de pesquisa as sociedades são definidas a partir de distintos estágios,
representando diferentes identidades étnicas e culturais, definidas a partir da
cultura material, como idade da pedra lascada, da pedra polida, do bronze, do
ferro, até chegar à indústria (FUNARI, 2003). Esse modelo histórico-cultural ainda é
utilizado no Brasil, apesar de ter sido bastante criticado por modelos teóricos
posteriores, principalmente por afirmar que a morfologia dos artefatos é um
indicador de cultura, excluindo a ampla quantidade de fatores que podem
determinar a forma desses materiais. 
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Arqueologia processual
Também conhecida como Nova Arqueologia, é utilizada desde a década de 1960 e
busca encontrar regularidades no registro arqueológico e estabelecer leis gerais de
comportamento humano. Trata-se de uma abordagem teórica mais próxima da
antropologia. Conforme os arqueólogos adeptos desta teoria, todas as sociedades
viviam com o intuito de minimizar os esforços, para adquirir recursos e maximizar
os resultados, desenvolvendo estratégias cada vez mais eficazes (FUNARI, 2003).
Essa vertente teórica surgiu como uma crítica à arqueologia histórico-cultural,
sendo ainda bastante utilizada nas pesquisas brasileiras.
As novas teorias que foram surgindo desde a década de 1980 também levantaram
críticas à arqueologia histórico-cultural por definir culturas homogêneas a partir
da cultura material, e também ao processualismo, por considerar somente o viés
econômico das sociedades humanas, como se o único objetivo fosse adquirir
recursos de subsistência. Essas novas interpretações deram mais ênfase ao caráter
simbólico do registro material e possuem uma grande variedade de pontos de
Figura 2 - Ponta de lança em metal: um dos estágios da arqueologia histórico-cultural. Fonte: I. Pilon,
Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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vista teóricos e metodológicos. As abordagens referentes a essas correntes
teóricas incluem discussões sobre gênero, a subjetividade das pesquisas
arqueológicas, a relação entre os grupos humanos e as paisagens, entre outras. 
1.1.2 Objetivo da pesquisa arqueológica
A pesquisa arqueológica se orienta a partir de princípios teóricos que já devem
estar claros na mente do arqueólogo, e não deve depender somente da
observação direta dos materiais, mas sim de um conjunto de problemáticas
inerentes às discussões já existentes na disciplina. Se a atividade arqueológica
consistisse somente na escavação e na coleta de materiais, por exemplo, não
haveria a necessidade de definirmos metodologias, e o trabalho poderia ser
realizado de forma aleatória, ou seja, era só chegar no sítio e abrir um buraco no
solo, sem a preocupação de registrar tudo o que acontece. Contudo, as pesquisas
arqueológicas são orientadas a partir de metodologias de campo que, por sua vez,
são definidas a partir de um conjunto teórico pertinente.
A escavação é a principal e mais conhecida atividade relacionada à pesquisa
arqueológica. Mas, antes de escavar, outros passos devem ser planejados pelo
arqueólogo, sendo todos necessários para o bom andamento da pesquisa. A
primeira etapa da pesquisa é feita no laboratório e consiste no planejamento.
Neste momento, alguns dos questionamentos que devem ser feitos são: o que
escavar? Por que escavar? Qual é o objetivo? Pois, sem uma problemática definida,
o arqueólogo não tem motivos para iniciar uma escavação, sabendo que na
maioria dos casos essa atividade é destrutiva, e em muitas situações o sítio que
será impactado nãopoderá ser pesquisado novamente.
A primeira etapa de campo realizada na pesquisa arqueológica é a prospecção,
uma atividade que consiste na identificação dos sítios arqueológicos e se baseia
na utilização de diferentes estratégias, intrusivas ou não, como, por exemplo, o
caminhamento sistemático em áreas com potencial arqueológico (caminhada em
linhas paralelas, realizada em equipes, por toda a área de pesquisa definida pelo
arqueólogo), a conversa com moradores da região sobre a existência de sítios, e
também a intervenção sistemática no subsolo. Esta atividade é executada por
meio da abertura de poços-teste, com o auxílio de uma ferramenta denominada
cavadeira articulada, e tem o objetivo de encontrar materiais arqueológicos
enterrados, identificando as áreas com melhor potencial para a escavação.
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Outras estratégias incluem a abertura de pequenas sondagens de até um metro
quadrado que, além de identificar vestígios arqueológicos enterrados, permite a
interpretação da estratificação do terreno, isto é, das diferentes camadas de solo
presentes no sítio. As estratégias de prospecção podem incluir também outros
tipos de intervenção, como a utilização de fotografias aéreas, a utilização de
técnicas como o radar de penetração no solo (GPR), um método eletromagnético
utilizado para identificar as camadas abaixo da superfície e que permite a
identificação de estruturas arqueológicas sem a necessidade de uma intervenção
no subsolo.
A escavação arqueológica é, de fato, a atividade que melhor representa o trabalho
realizado pelos arqueólogos. Nesta etapa é muito comum a utilização de
ferramentas de campo como pás, picaretas, colheres de pedreiro, pincéis, baldes,
peneiras, cordas, papeis para anotações, trenas etc. É a atividade que demanda
maior tempo e que produz grande parte dos resultados de uma pesquisa
arqueológica, gerando a coleção que será estudada em laboratório. Para a
realização de uma escavação é importante montar uma equipe composta por
vários pesquisadores, onde cada um desempenhará atividades distintas, como
escavar, peneirar, escrever, coletar materiais, desenhar etc.
O objetivo da escavação é a reconstrução das atividades e das ações que foram
realizadas no passado pelas antigas populações que habitaram o sítio
arqueológico estudado. No momento em que um determinado local foi
abandonado por esses grupos humanos, os vestígios materiais remanescentes
passaram por uma série de processos naturais que transformaram esse local em
um sítio arqueológico.
Portanto, podemos dizer que os materiais arqueológicos são os dados que serão
utilizados para a interpretação do que aconteceu nesse local no passado, e o
arqueólogo responsável por essa interpretação deve ser fiel às evidências
encontradas. Sendo assim, a partir de um contexto que pode ser considerado
estático (o sítio arqueológico), o arqueólogo tem como objetivo principal
compreender o contexto dinâmico, ou seja, as atividades desempenhadas no sítio
em tempos pretéritos.
1.2 Arqueologia e Pré-História
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Após abordarmos o conceito, a importância e os objetivos da arqueologia, vamos
conhecer agora outras características desta disciplina. Quais são as fontes que o
arqueólogo tem à disposição para compreender o período anterior à escrita? O
que essas fontes podem nos dizer sobre as populações pré-históricas? Por que a
arqueologia é uma das principais disciplinas capazes de estudar a Pré-História?
Neste tópico vamos verificar algumas das possibilidades de estudos das fontes
materiais, que costumam aparecer nos sítios arqueológicos pré-históricos.
Estudaremos também as principais áreas de pesquisa, além da relação entre a
ciência arqueológica e os estudos pré-históricos.
1.2.1 A Pré-História e as origens da humanidade
Lembre-se que, no século XIX, o passado da humanidade ainda era visto sob uma
ótica fortemente religiosa. Tais interpretações foram se modificando na medida
em que as pesquisas arqueológicas, baseadas na teoria evolucionista, inspiradas
em temas como “A origem das espécies”, de Charles Darwin (2002), deram um
novo foco para o estudo do passado da humanidade. A partir deste momento, a
arqueologia começou a dar mais ênfase à evolução da espécie humana e
intensificaram-se as pesquisas sobre o passado mais remoto, por meio da busca
de uma história mais antiga do que as registradas nos estudos bíblicos.
Depois, a partir da metade do século XIX, intensificaram-se os estudos sobre esses
períodos mais antigos, na medida em que artefatos arqueológicos, como os
instrumentos em pedra lascada, foram cada vez mais associados à criação
humana. Foi o estudo dessas ferramentas que deu origem aos termos paleolítico,
ou Idade da Pedra Antiga, e neolítico, ou Idade da Pedra Recente (FUNARI; NOELLI,
2002).
Assim, o termo arqueologia pré-histórica começou a ser utilizado, e se referia ao
período anterior ao surgimento da escrita. Contudo, sabemos que essa invenção
ocorreu em diferentes momentos e em diferentes regiões do nosso planeta
(FUNARI, NOELLI, 2002). No Brasil, a arqueologia pré-histórica, por exemplo, se
refere ao período anterior à chegada dos europeus na América. Sendo assim,
reconhecemos, atualmente, que o marco inicial da Pré-História do nosso
continente se refere ao processo de chegada das primeiras populações humanas,
dando origem à história de longa duração dos milhares de povos que aqui
existiram. Por outro lado, o termo Pré-História ainda é muito utilizado como uma
forma de justificar a suposta inferioridade dos povos indígenas em relação aos
europeus.
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As principais pesquisas sobre arqueologia pré-histórica, no Brasil, se referem ao
povoamento do atual território brasileiro, às características dos esqueletos
encontrados em sítios arqueológicos, às reflexões sobre a arte rupestre, às
características das sociedades amazônicas e a importância do manejo ambiental
nessas sociedades, à importância dos sambaquis do litoral brasileiro, além de uma
grande quantidade de pesquisas sobre tecnologia lítica (pedra lascada e polida) e
cerâmica em sítios pré-históricos (FUNARI, 2003).
Perceba que a principal maneira de conhecer o passado pré-histórico consiste no
estudo das fontes materiais que o arqueólogo tem à disposição. A cultura material,
portanto, é a evidência utilizada pelo arqueólogo e, por meio das prospecções e
também da escavação, é possível interpretar as características dos sítios
arqueológicos, caracterizando o modo de vida das populações pré-históricas.
Em relação à diversidade material presente nos sítios arqueológicos, na
arqueologia pré-histórica existem especialistas que trabalham com diferentes
artefatos, sendo os mais comuns os produzidos em pedra lascada. A pedra é o
material mais duradouro que podemos encontrar no registro arqueológico, e há
evidências de sua utilização desde, aproximadamente, 2,6 milhões de anos atrás
(KOTTAK, 2013). Essa matéria-prima foi intensamente utilizada para a confecção
de instrumentos, como machados e pontas de flecha, muito comuns nas caças e
guerras, além de artefatos que serviam para cortar, raspar ou perfurar, e também
instrumentos que possuíam finalidades simbólicas.
Além disso, as populações pré-históricas utilizavam com frequência a argila para a
produção de materiais cerâmicos. Estes artefatos surgiram em períodos mais
recentes, se compararmos com a pedra lascada, há aproximadamente 10 mil anos,
e estão associados, principalmente, aos processos de sedentarização das
populações humanas. A cerâmica é encontrada,geralmente, em fragmentos, mas
o seu estudo em laboratório permite, em alguns casos, a completa remontagem
de recipientes, proporcionando também a visualização de suas morfologias,
elementos decorativos e a interpretação de suas funcionalidades.
Também são objetos de pesquisa as construções, como é o caso dos sambaquis,
que consistem em estruturas de até 25 metros de altura, construídas por
populações pré-históricas, constituídas, principalmente, por um amontoado de
conchas, instrumentos líticos, ossos de mamífero e até esqueletos humanos,
existentes em toda a costa do atual território brasileiro, principalmente nas
regiões Sul e Sudeste. Podemos citar ainda os cerritos do Sul do Brasil, que
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consistem em elevações no terreno, produzidas por ação humana, que podem
alcançar até sete metros de altura, e, geralmente, estão presentes em áreas
alagadiças.
O livro “Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro”, escrito pela arqueóloga Madu Gaspar (1999), é
uma ótima referência sobre o histórico das pesquisas arqueológicas referentes aos sambaquis do atual
território brasileiro, desde as pesquisas pioneiras no final do século XIX até as pesquisas mais recentes.
O livro apresenta também os últimos resultados das escavações ocorridas em Santa Catarina e Rio de
Janeiro.
As representações rupestres são conhecidas na Pré-História do Brasil e são
evidências que podem trazer inúmeras informações sobre os povos da Pré-
História. Estas representações, como pinturas e gravuras, mostram atividades do
cotidiano, como a caça, e também apresentam representações simbólicas, como
rituais e festas. Em conjunto com outras evidências materiais, as representações
rupestres permitem melhor interpretação do passado das populações humanas
pré-históricas.
VOCÊ QUER LER?
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Os hominídeos também utilizavam, além dos instrumentos em pedra, materiais
produzidos em ossos, madeira e outros materiais perecíveis. Contudo, como
estamos nos referindo a um passado de milhares de anos atrás, sabemos que os
vestígios produzidos nestes materiais possuem baixos índices de preservação e só
aparecem em condições excepcionais.
Há também vestígios de pequenas dimensões encontrados nos sítios
arqueológicos, como os carvões, que em muitos casos se referem a antigas
estruturas de fogueira, produzidas pelas populações que habitaram este local. É
importante destacar que a datação destes materiais por carbono 14 permite
associar o contexto arqueológico ao período de ocupação desse sítio, isto é, cria a
possibilidade de compreender em que período da história esses materiais foram
produzidos.
Existem inúmeros e variados exemplos de abordagens utilizadas na arqueologia
pré-histórica. Por ser uma ciência interdisciplinar, a arqueologia conta com
profissionais experientes em diversas áreas de conhecimento, incluindo
pesquisadores que trabalham, por exemplo, na relação entre a arqueologia e as
ciências da terra (geoarqueologia), com os restos de fauna encontrados nos sítios
arqueológicos (zooarqueologia), com vestígios arqueológicos submersos
(arqueologia subaquática), com o estudo dos restos de madeira carbonizados e
Figura 3 - Animais em representação rupestre. Fonte: Andrey Burmakin, Shutterstock, 2018.
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encontrados em sítios arqueológicos (antracologia), com o estudo de
remanescentes ósseos humanos (bioarqueologia), entre várias outras áreas, com
metodologias e objetivos distintos.
Outro exemplo de pesquisa que está ganhando novos adeptos é o estudo de DNA
de humanos, de animais e de plantas presentes nos sítios arqueológicos. Esses
estudos são utilizados, por exemplo, para a análise genética de grupos indígenas
do continente americano, e o resultado dessas pesquisas tem levantado diferentes
hipóteses sobre a origem e as rotas de dispersão das primeiras populações que
ocuparam o continente, estabelecendo relações com as populações indígenas
contemporâneas (TELLES; DINIZ-FILHO, 2004).
Outros profissionais fundamentais na arqueologia são os museólogos,
responsáveis pelo estudo de gestão do patrimônio arqueológico. São eles que
pesquisam as diferentes maneiras de preservar e apresentar este patrimônio ao
público, buscando mais conscientização sobre sua importância e proteção.
Podemos dizer que, hoje em dia, ainda é pequeno o número de arqueólogos
atuando no Brasil. O território do nosso país é imenso e a variedade de
abordagens que podem ser utilizadas em um sítio arqueológico, em conjunto com
a grande quantidade de coleções disponíveis para estudo, existentes em museus e
universidades espalhados pelo país, demonstram a necessidade de formação de
mais profissionais nesta área. Nos cursos de História e Antropologia, a Pré-História
e a arqueologia ainda são pouco estudadas. Nas escolas, a grade curricular aborda
poucas questões referentes à Pré-história brasileira, o que demonstra também a
necessidade da valorização da disciplina.
1.3 Teoria e filosofia da história
Você sabia que a história e a arqueologia são ciências complementares e não
excludentes? Elas se complementam por estarem inseridas no campo das ciências
humanas e por possuírem o foco na compreensão do passado do ser humano. Por
outro lado, elas se distanciam no que diz respeito às fontes e abordagens
utilizadas. Observe: enquanto a cultura material é o objeto de estudo da
arqueologia, os documentos escritos e não-escritos produzidos no passado são o
objeto de estudo da história.
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Como sabemos, a história é a disciplina que está mais preocupada em
compreender o passado da humanidade. Neste tópico abordaremos seu conceito,
sua relevância no âmbito das ciências humanas, e a importância das fontes
documentais para a interpretação do passado. Quais são as principais fontes
históricas e qual é a importância da análise rigorosa destas fontes? E, qual é a
relação da história com o presente? Estas e outras questões serão abordadas
agora. Nosso objetivo é apresentar as principais problemáticas desta disciplina,
bem como as possibilidades de uso das fontes documentais. Trata-se um tópico
relevante para avaliarmos, posteriormente, as inúmeras possibilidades de
utilização das fontes históricas no estudo do mundo antigo.
Marc Bloch (2002, p. 55) define a história como a “ciência dos homens no tempo”.
Para ele, esta disciplina não deve se prender somente ao passado e, ao mesmo
tempo, não deve estudar fenômenos isolados. Podemos acrescentar ainda que a
História estuda o passado a partir do presente, utilizando perspectivas e
problemáticas atuais. Para o autor, a história quer capturar os homens e o bom
historiador deve ser como um “ogro, que fareja carne humana e sabe que ali está a
sua caça” (Bloch, 2002, p. 54).
A obra de Bloch (2002) enfatiza o papel da teoria, o rigor científico e a necessidade
da crítica documental. De acordo com o autor, a ciência histórica é responsável
por articular presente e passado, e também por compreender a experiência
humana ao longo do tempo. Bloch acredita que o historiador deve possuir senso
crítico, ter critérios adequados ao utilizar as fontes primárias (referentes aos
documentos produzidos em seu próprio contexto cultural) e secundárias
(baseadas na produção de documentos em períodos posteriores ao contexto no
qual ocorreu) e deve evitar a avaliação ou mesmo o julgamentodo que ocorreu
passado.
Marc Bloch (1886 – 1944) foi um importante historiador francês e um dos fundadores da Escola dos
Annales, um movimento historiográfico que começou em 1929. É considerado um dos maiores
historiadores do século XX por seus estudos sobre o feudalismo e por dar importância à relação entre
VOCÊ O CONHECE?
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as pessoas e os acontecimentos do passado, em vez de se prender à descrição de nomes de pessoas e
datas. Por ser judeu, Bloch se tornou militante da resistência francesa durante a Segunda Guerra
Mundial e acabou sendo detido, torturado e fuzilado pelos nazistas.
Na arqueologia, assim como o colecionismo foi substituído pelo foco nas pessoas,
e não nas coisas; na história, o colecionador de fatos deve ser substituído pelo
historiador que problematiza as fontes. O acúmulo de fatos não acrescenta nada à
pesquisa histórica. Sendo assim, para a história ser considerada uma ciência, ela
deve ser teórica, elaborando problemas e sugerindo hipóteses, e deve se apoiar
nas fontes primárias e secundárias de todos os tipos, que devem ser selecionadas
rigorosamente. Note que, desta forma, o historiador não será um pesquisador sem
ponto de vista, sem apoio teórico, utilizando fontes somente para ser fiel aos fatos. 
Figura 4 - Papiros e canetas de penas: objetos de ofício dos historiadores em períodos antigos. Fonte:
Anna Kucherova, Shutterstock, 2018.
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Bloch (2002) afirmava que a história só poderia ser uma ciência social se
explicasse o passado e não se limitasse a descrevê-lo. A explicação só seria
possível por meio de estudos comparativos, utilizando como exemplo fenômenos
universais, ocorridos em culturas separadas no tempo e no espaço ou por meio do
estudo de sociedades contemporâneas. Bloch (2002) também destacou a
importância do caráter interdisciplinar da história. Para o autor, como ocorre na
arqueologia, a história deve basear sua abordagem em métodos e conceitos
oriundos de outras ciências, como a geografia, a filosofia, a biologia, a química,
entre outras, fornecendo o maior rigor possível na interpretação das fontes
documentais.
As teorias utilizadas no estudo da História possibilitam a formulação de problemas
e hipóteses de pesquisa, sendo que cada uma delas possui uma maneira distinta
de estudar e compreender o passado. Todo historiador de alguma forma segue
alguma proposta teórica, o que é percebido a partir dos autores que esse
historiador utilizou e da maneira como conduz a sua pesquisa.
A obra “Teoria da História”, de autoria de José D’Assunção Barros (2014), é composta por cinco volumes
e aborda diferentes temas importantes para futuros historiadores. O primeiro livro é denominado
“Conceitos fundamentais da Teoria da História” e permite que o leitor se aprofunde ainda mais nos
temas abordados neste capítulo. Vale a leitura por ser uma obra extensa e que apresenta com detalhes
as principais discussões sobre a teoria da História.
Por fim, concluindo esse tópico, podemos dizer que ao estudar história ampliamos
o conhecimento que temos sobre o presente, e isso nos permite interpretar o que
acontece hoje, seja no cenário político, econômico, social ou cultural, a partir de
motivos que são históricos e não aleatórios. É importante destacar ainda que tudo
o que acontece ao nosso redor é resultado de eventos históricos, tornando o
historiador o principal responsável por explicar o mundo contemporâneo.
VOCÊ QUER LER?
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Assim, podemos dizer que as possibilidades de pesquisa histórica são infinitas, e
cada historiador pode formular problemas de pesquisa, buscando respostas aos
seus questionamentos, por meio de diversas fontes. Assim, se outros
historiadores, com problemas de pesquisa distintos, utilizassem a mesma fonte,
obteriam diferentes respostas. Somamos a isso ainda o fato de que existem
infindáveis fontes que podem ser escolhidas como objeto de análise.
No século XIX as pesquisas históricas utilizavam como fontes, principalmente, os
documentos oficiais de instituições e governos. Já no século XX os historiadores
começaram a defender a ideia de que todos os elementos que fazem parte da
história humana são objetos de análise. Sendo assim, evidências como pinturas,
fotografias, jornais, mapas, cartas, diários, literaturas, canções etc. passaram a ser
consideradas fontes legítimas de pesquisa.
 Figura 5 - Manuscrito do século XIX,
fonte de informações. Fonte: Garsya, Shutterstock, 2018.
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Em relação à arqueologia histórica, que também pesquisa acontecimentos
ocorridos em períodos onde já existia a escrita, encontramos uma diversidade de
artefatos que podem ser utilizados como fontes documentais, incluindo vidros,
metais, louças, e outros materiais industrializados, além da pesquisa em
construções, como igrejas, engenhos, senzalas, fortificações, casarões antigos etc.
Todas essas fontes são consideradas fontes de pesquisa histórica.
Atualmente, além das instituições responsáveis pela guarda de documentos
antigos, como museus, bibliotecas, arquivos históricos, entre outras, surgiram
órgãos públicos e privados e institutos de pesquisa que fornecem documentos
históricos digitalizados, e que podem ser acessados facilmente por meio de um
computador. Além disso, em função do aumento do número de fontes que podem
Figura 6 - Exemplo de mapa antigo utilizado como fonte histórica. Fonte: Triff, Shutterstock, 2018.
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ser utilizadas na pesquisa histórica, o historiador pode encontrar registros tanto
em um arquivo histórico, quanto nas lembranças de um indivíduo, no caso da
história oral.
Band of Brothers (EUA, 2001) é uma série de televisão que mostra a história de uma companhia militar
norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos aspectos de grande relevância da série é
o início de cada episódio, em que ex-combatentes narram vários acontecimentos ocorridos durante a
guerra, uma metodologia que acontece de forma semelhante em estudos de história oral.
É importante lembrarmos que as fontes históricas analisadas não são documentos
neutros, mas resultado de escolhas realizadas pelos responsáveis pelo seu
armazenamento, isto é, são um produto da sociedade que o produziu e o
armazenou. Consequentemente, o historiador deverá utilizar critérios rigorosos
para a análise dessas fontes, levando em conta, inclusive, a veracidade das
mesmas. No caso da história oral, por exemplo, torna-se necessário a comparação
das entrevistas realizadas pelo historiador com a análise de outros documentos
referentes ao mesmo período.
VOCÊ QUER VER?
1.4 O estudo da antiguidade
Neste tópico utilizaremos as informações apresentadas no tópico anterior para
estudar com mais de profundidade a relação entre as fontes históricas e o estudo
do mundo antigo. Também demonstraremos como a história antiga ganhou mais
importância ao longo do tempo. Você saberia dizer quando os historiadores
passaram a dar mais importância para o estudo da antiguidade clássica e oriental?
Será que desde o início da Idade Média já havia uma preocupação em preservar eestudar os monumentos da antiguidade? Vale a pena prosseguir! 
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1.4.1 O uso das fontes no estudo da história antiga 
A arqueologia possui uma importante relação com a história, pois ambas podem
ser consideradas ciências complementares, e juntas contribuem ainda mais para o
entendimento do contexto cultural das civilizações antigas. Pedro Funari (2003)
utiliza como exemplo o estudo arqueológico da cerâmica grega, que pode ser
melhor compreendido caso o arqueólogo pesquise também as fontes escritas.
Portanto, podemos dizer que os dados arqueológicos não devem ser considerados
auxiliares em relação aos documentos escritos, pois podem tanto confirmar
quanto refutar o que já se conhecia, e vice-versa.
Apesar disso, o mundo antigo tem sido estudado, principalmente, a partir das
fontes escritas, pois esta invenção criou a possibilidade de entendermos
acontecimentos históricos pela perspectiva de quem vivenciou o período
investigado. Trata-se de documentos produzidos no passado, e que servem como
forma de registro do que ocorreu na sociedade da época e, dessa forma, essas
fontes podem ser consideradas como uma das principais evidências históricas
existentes.
Os textos escritos sobre o mundo antigo começaram a ser mais explorados a partir
do século XII (GUARINELLO, 2003, p. 18). A partir deste período difundiu-se a ideia
de que existiu um mundo antigo, anterior ao período cristão, e que muito se
diferenciava do mundo contemporâneo. Portanto, vários documentos produzidos
na antiguidade, principalmente associados às civilizações greco-romanas,
passaram a ser novamente editados e lidos pelos intelectuais da época.
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As construções remanescentes do período antigo, e que até então não eram
motivo de pesquisas sistemáticas, passaram a serem consideradas importantes
evidências históricas. Portanto, intensificaram-se as elaborações de descrições e
desenhos da arquitetura do mundo antigo, os resgates de estátuas e pinturas, e o
início do colecionismo de objetos da antiguidade. O objetivo desse resgate
cultural era a rejeição de uma história mais recente e a construção de uma nova
identidade, voltada para o presente e o futuro.
VOCÊ SABIA?
O Coliseu, em Roma, também é conhecido pelo nome de Anfiteatro Flaviano. Após
a queda do império ocidental, o Coliseu foi utilizado como cemitério e até como
fortificação, além de ter sido, parcialmente, destruído por terremotos e também
cenário de diversos saques durante a Idade Média.
Figura 7 - Coliseu romano, um dos maiores símbolos do Império Romano. Fonte: WDG Photo,
Shutterstock, 2018.
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Entretanto, não havia ainda uma preocupação científica com as evidências,
considerando que muitos textos escritos sobre o mundo antigo, durante a Idade
Média, por exemplo, misturavam evidências do mundo antigo com histórias
bíblicas. A preocupação científica surgiu a partir dos séculos XVII e XVIII, e na
segunda metade do século XIX houve uma nova retomada dos estudos sobre
história antiga, associada ao surgimento de disciplinas como a antropologia, a
sociologia e a arqueologia.
CASO
Um arqueólogo realizava a escavação de um sítio arqueológico pré-
histórico como parte de sua pesquisa de mestrado no interior do estado de
Santa Catarina. Ao finalizar os trabalhos, após obter o carvão de uma
estrutura de fogueira para ser enviado ao laboratório, o arqueólogo estava
ansioso para descobrir em qual período esse sítio foi habitado. Sua
pesquisa era muito relevante, pois esta escavação iria levantar diversas
hipóteses sobre a chegada dos antepassados dos grupos indígenas atuais
no Sul do Brasil.
Após receber o resultado da análise do carbono 14, o arqueólogo notou
que o sítio foi habitado há aproximadamente 300 anos atrás, e se refere a
um momento histórico em que os europeus já estavam no Brasil. Mesmo
assim, sabendo que a arqueologia pré-histórica trabalha com um período
que antecede à escrita e, no caso do Brasil, se refere também ao período
anterior à chegada dos europeus no continente americano, podemos
considerar esse sítio como pré-histórico Atualmente, não existem
evidências de elementos materiais não-indígenas nos sítios arqueológicos
ocupados pelas populações pré-históricas.
O sítio pesquisado por esse arqueólogo não possui evidências de contato
com outras populações e, provavelmente, foi ocupado em um momento
em que não havia europeus ou descendentes vivendo nessa região. Como
a datação é bastante recente, considerando que o Sul do Brasil possui
sítios de até 10.000 anos atrás, possivelmente essa datação se refere aos
últimos assentamentos indígenas existentes no interior de Santa Catarina
antes do contato.
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A arqueologia clássica, que estuda as civilizações grega e romana no período
antigo, surgiu já no início do século XIX. Logo em seguida surgiram também as
arqueológicas egípcia, bíblica e mesopotâmica, que eram voltadas para a
compreensão das primeiras civilizações do mundo antigo. Estes estudos da
antiguidade oriental, a partir da arqueologia, fazem parte do que conhecemos
como arqueologia histórica. Já entre o final do século XIX e início do século XX, os
estudos sobre a antiguidade se intensificaram ainda mais, por meio das
descobertas arqueológicas ocorridas no Egito e no antigo território
mesopotâmico.
Síntese
Concluímos a primeira parte do estudo sobre as fontes documentais, históricas e
arqueológicas. Esses conhecimentos são fundamentais para que possamos pensar
na melhor abordagem a ser utilizada no estudo dos mais diversos períodos do
passado, a partir de uma grande variedade de fontes históricas, seja para
compreender a antiguidade do ser humano ou até para compreender o passado
mais recente.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
compreender os conceitos de arqueologia e história;
compreender a importância das pesquisas arqueológicas e históricas no
âmbito da pré-história e da história antiga, respectivamente;
verificar as principais fontes históricas utilizadas na pesquisa arqueológica e
nos estudos da documentação escrita.
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