Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 1/27 HISTÓRIA DA HOMINIZAÇÃO ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES CAPÍTULO 1 - COMO A HISTÓRIA E A ARQUEOLOGIA ESTUDAM O PASSADO? Fernando Silva de Almeida INICIAR 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 2/27 Introdução A hominização é o processo que transformou as primeiras espécies de hominídeos, os antepassados dos seres humanos que já possuíam andar bípede e postura ereta, no Homo sapiens sapiens. Estudar esse processo e a formação das primeiras civilizações são tarefas que dependem da aplicação de diferentes metodologias de pesquisa, que devem estar associadas a disciplinas que estudam o passado e o modo de vida das primeiras populações humanas, bem como o modo de vida nômade, o sedentarismo e a formação dos primeiros espaços urbanos. Você saberia dizer quais são as principais disciplinas responsáveis pelo estudo destes processos? E quais seriam as fontes disponíveis para o estudo desse passado tão remoto? Ou ainda, qual é a importância desse passado para a nossa sociedade, ou seja, qual é a relação entre a Arqueologia e a História e o presente? Neste capítulo vamos conhecer as fontes documentais e responder a estas questões, apresentando diferentes abordagens que podem ser utilizadas no estudo da Pré-História e da História Antiga. Sem o conhecimento sobre o papel dessas disciplinas, bem como sobre os seus objetivos, o estudo do passado se torna uma tarefa árdua e difícil, que pode conduzir o pesquisador ao campo das falsas interpretações, já que somente por meio do uso de fontes documentais confiáveis, obtidas na pesquisa histórica e arqueológica, é possível compreendermos o passado. Primeiramente, vamos estudar as principais características da arqueologia, a ciência responsável pelo estudo do modo de vida e do passado das populações humanas. O segundo tópico aborda a relação entre a arqueologia e o estudo da Pré-História. Depois, vamos identificar os objetivos da pesquisa histórica e, por fim, o quarto tópico procura estabelecer a relação entre os estudos históricos e o mundo antigo. 1.1 Arqueologia: ciência ou ferramenta? A arqueologia, geralmente, é considerada uma disciplina envolvida em mistérios. Muito do que conhecemos a seu respeito, atualmente, é resultado do que vemos na mídia. Mas qual é o potencial informativo destas pesquisas? Como podemos 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 3/27 separar as informações úteis, dos projetos científicos, das pesquisas realizadas por amadores que buscam somente o entretenimento? Neste tópico iremos analisar as diversas características referentes à pesquisa arqueológica, desde a compreensão e importância do conceito de arqueologia até a demonstração dos objetivos e dos passos necessários para a realização de uma pesquisa arqueológica sobre a Pré-História. Você sabe como os objetos podem nos trazer informações sobre o passado? O objetivo deste tópico é, justamente, responder a este e outros questionamentos, apresentando uma pequena explicação sobre a prática arqueológica. 1.1.1 Conceito de arqueologia De uma maneira geral, podemos dizer que a arqueologia é conhecida como o estudo das coisas antigas. Tal pensamento é comum, pois imaginamos arqueólogos procurando por artefatos arqueológicos em todo o mundo, tal como o personagem do cinema Indiana Jones. Afinal, esta é a imagem transmitida, principalmente por meio dos filmes e documentários de televisão. Assim, percebemos a arqueologia como uma ciência que envolve aventuras e descobertas extraordinárias. Mas, qual é o foco e o que, de fato, caracteriza a pesquisa arqueológica? De acordo com Funari (2003, p. 15), a arqueologia estuda diretamente “a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico”, ou, em outras palavras, a pesquisa arqueológica busca todo e qualquer vestígio material não só produzido, mas também utilizado pela sociedade, não importando qual é o período do tempo, desde o passado mais remoto até o presente. Para ampliarmos nosso conhecimento sobre a arqueologia precisamos desmistificar algumas interpretações ligadas a alguns documentários de canais de televisão, que passam a falsa imagem de construções históricas famosas, como as pirâmides do Egito ou as ruínas da cidade peruana de Machu Picchu, entre outras, como obras realizadas por seres de outros planetas, desconsiderando a capacidade de criação do ser humano. Outros filmes e programas de televisão são orientados, exclusivamente, para a descoberta de tesouros arqueológicos, nem sempre reais, onde há uma despreocupação com o contexto cultural destes objetos, além da construção da ideia de que fazer arqueologia é buscar bens preciosos almejando ganhos financeiros. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 4/27 Outro aspecto que devemos mencionar é a relação entre a arqueologia e a paleontologia. Talvez você já tenha percebido que muitas pessoas associam arqueologia à descoberta de fósseis de dinossauros, encontrados em diversos lugares do país. É importante destacar que este tipo de estudo é realizado por paleontólogos, que estudam os vestígios preservados de seres vivos, como os próprios dinossauros, que foram extintos há, aproximadamente, 65 milhões de anos. Mas, preste atenção, pois, conforme argumentou Funari (2003), ao citar que não importa qual é o período de tempo que pretendemos estudar, aos arqueólogos interessa o passado, em um período que pode alcançar até, aproximadamente, sete milhões de anos atrás, época em que, possivelmente, viveu o hominídeo mais antigo já conhecido até hoje, o Sahelanthropus tchadensis. Figura 1 - Pirâmides do Egito, um dos principais monumentos da Antiguidade. Fonte: Dudarev Mikhail, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 5/27 Um dos pioneiros da arqueologia, Mortimer Wheeler, já afirmava no início do século XX que a arqueologia “escava pessoas e não coisas” (FUNARI, 2003, p. 20). Podemos afirmar, portanto, que a cultura material, ou seja, a relação entre os vestígios materiais e a sociedade, é o foco da arqueologia. Mas, vale destacar, que o objetivo da disciplina é compreender a história e o modo de vida das pessoas, que produziram e utilizaram esses materiais, desde o passado mais remoto até a atualidade. Portanto, consideramos que o trabalho do arqueólogo não consiste somente na escavação e na coleta de objetos, mas na pesquisa e compreensão dos grupos humanos por trás de sua existência. Mortimer Wheeler (1890 – 1976) foi um dos primeiros arqueólogos a se preocupar com o estudo da sequência de diferentes camadas do solo na escavação e com a posição exata dos artefatos. Além de ter atuado em duas guerras mundiais, realizou importantes escavações em sítios no sul da Índia, incluindo a escavação do sítio arqueológico Arikamedu, a única cidade indiana que apresenta vestígios da antiga civilização romana. Até meados do século XX, um dos principais objetivos da arqueologia foi a coleção, a descrição e a classificação de objetos, havendo pouco interesse nas pessoas que os produziram (FUNARI, 2003). Existia uma finalidade puramente técnica, baseada na escavação, na coleta e na transferência dos materiais para os museus. Neste momento, a arqueologia estava mais próximado colecionismo, deixando para outras ciências, como a história e a antropologia, a responsabilidade de interpretar o passado e o modo de vida das populações humanas. VOCÊ O CONHECE? VOCÊ QUER VER? 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 6/27 O filme Indiana Jones e os caçadores da Arca Perdida (EUA, 1981), estrelado por Harrison Ford e produzido por George Lucas, mostra a saga do arqueólogo mais famoso do cinema contra as forças nazistas de Adolf Hitler. Apesar de apresentar somente o lado aventureiro e pouco científico da arqueologia, este é o mais famoso filme sobre o tema já produzido na história do cinema e foi o responsável pela escolha profissional de muitos arqueólogos contemporâneos. Ainda hoje existem pessoas que consideram a arqueologia uma atividade, essencialmente, técnica e uma disciplina auxiliar, que só deve ser aplicada na ausência da documentação escrita. Porém, cada vez mais arqueólogos a compreendem como uma ciência independente e interdisciplinar, que compartilha questões comuns a outras disciplinas. Desde meados do século XX, a arqueologia passou, então, a ser considerada, por esses profissionais, como uma disciplina que não se ocupa somente dos artefatos e do seu contexto, e foi reconhecida como as demais ciências sociais: como uma ciência que estuda os sistemas socioculturais, sua estrutura, funcionamento e seu comportamento ao longo do tempo (FUNARI, 2003). Como já dissemos, as pesquisas arqueológicas nos trazem informações relevantes sobre o passado, que até então desconhecíamos. Esse é o caso, por exemplo, das evidências que temos das primeiras populações que viveram no atual território brasileiro. Há pouco tempo acreditávamos que esses povos chegaram aqui por volta de 12 mil anos atrás. Contudo, novas pesquisas realizadas no Mato Grosso e no Piauí ampliaram esse período para mais de 20 mil anos, modificando completamente o conhecimento que possuíamos sobre o povoamento do nosso continente (BOËDA et al, 2014; VIALOU et al, 2015). Este é um dos exemplos capazes de demonstrar a importância da arqueologia na nossa sociedade contemporânea. Por meio das pesquisas arqueológicas sabemos, por exemplo, que na pré-história brasileira, antes da chegada dos europeus em nosso país, existiram duas populações com características biológicas distintas (NEVES et al, 2008), que grande parte da biodiversidade amazônica pode ter sido resultado do manejo ambiental realizado por populações indígenas (NEVES, 2000) e que o sítio arqueológico e o patrimônio histórico da humanidade Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi o principal porto de entrada de africanos no Brasil até a metade do século XIX (LIMA, 2013). 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 7/27 VOCÊ SABIA? O crânio humano encontrado no início dos anos 1970 em Minas Gerais, apelidado de Luzia, é o mais antigo já encontrado na América. Esse fóssil se refere a uma mulher e uma de suas principais características é a morfologia craniana, que demonstra traços semelhantes aos aborígenes australianos e não aos grupos indígenas contemporâneos (NEVES et al, 2008). Por trás dessas descobertas existem as teorias, que exercem forte influência nos arqueólogos e são os elementos que norteiam as pesquisas arqueológicas. No passado, elas já foram utilizadas, inclusive, para promover a supremacia racial e para tornar invisível a história de populações inteiras, como é o caso dos grupos indígenas da América do Sul (FUNARI, 2003). Dessa forma, devemos reconhecer a importância da fundamentação teórica nas pesquisas arqueológicas e entender que elas são realizadas a partir de diferentes abordagens, que acompanham o desenvolvimento da disciplina desde a sua criação. A seguir vamos conhecer algumas destas abordagens. Arqueologia histórico-cultural A arqueologia histórico-cultural é utilizada desde o final do século XIX. Neste tipo de pesquisa as sociedades são definidas a partir de distintos estágios, representando diferentes identidades étnicas e culturais, definidas a partir da cultura material, como idade da pedra lascada, da pedra polida, do bronze, do ferro, até chegar à indústria (FUNARI, 2003). Esse modelo histórico-cultural ainda é utilizado no Brasil, apesar de ter sido bastante criticado por modelos teóricos posteriores, principalmente por afirmar que a morfologia dos artefatos é um indicador de cultura, excluindo a ampla quantidade de fatores que podem determinar a forma desses materiais. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 8/27 Arqueologia processual Também conhecida como Nova Arqueologia, é utilizada desde a década de 1960 e busca encontrar regularidades no registro arqueológico e estabelecer leis gerais de comportamento humano. Trata-se de uma abordagem teórica mais próxima da antropologia. Conforme os arqueólogos adeptos desta teoria, todas as sociedades viviam com o intuito de minimizar os esforços, para adquirir recursos e maximizar os resultados, desenvolvendo estratégias cada vez mais eficazes (FUNARI, 2003). Essa vertente teórica surgiu como uma crítica à arqueologia histórico-cultural, sendo ainda bastante utilizada nas pesquisas brasileiras. As novas teorias que foram surgindo desde a década de 1980 também levantaram críticas à arqueologia histórico-cultural por definir culturas homogêneas a partir da cultura material, e também ao processualismo, por considerar somente o viés econômico das sociedades humanas, como se o único objetivo fosse adquirir recursos de subsistência. Essas novas interpretações deram mais ênfase ao caráter simbólico do registro material e possuem uma grande variedade de pontos de Figura 2 - Ponta de lança em metal: um dos estágios da arqueologia histórico-cultural. Fonte: I. Pilon, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_1… 9/27 vista teóricos e metodológicos. As abordagens referentes a essas correntes teóricas incluem discussões sobre gênero, a subjetividade das pesquisas arqueológicas, a relação entre os grupos humanos e as paisagens, entre outras. 1.1.2 Objetivo da pesquisa arqueológica A pesquisa arqueológica se orienta a partir de princípios teóricos que já devem estar claros na mente do arqueólogo, e não deve depender somente da observação direta dos materiais, mas sim de um conjunto de problemáticas inerentes às discussões já existentes na disciplina. Se a atividade arqueológica consistisse somente na escavação e na coleta de materiais, por exemplo, não haveria a necessidade de definirmos metodologias, e o trabalho poderia ser realizado de forma aleatória, ou seja, era só chegar no sítio e abrir um buraco no solo, sem a preocupação de registrar tudo o que acontece. Contudo, as pesquisas arqueológicas são orientadas a partir de metodologias de campo que, por sua vez, são definidas a partir de um conjunto teórico pertinente. A escavação é a principal e mais conhecida atividade relacionada à pesquisa arqueológica. Mas, antes de escavar, outros passos devem ser planejados pelo arqueólogo, sendo todos necessários para o bom andamento da pesquisa. A primeira etapa da pesquisa é feita no laboratório e consiste no planejamento. Neste momento, alguns dos questionamentos que devem ser feitos são: o que escavar? Por que escavar? Qual é o objetivo? Pois, sem uma problemática definida, o arqueólogo não tem motivos para iniciar uma escavação, sabendo que na maioria dos casos essa atividade é destrutiva, e em muitas situações o sítio que será impactado nãopoderá ser pesquisado novamente. A primeira etapa de campo realizada na pesquisa arqueológica é a prospecção, uma atividade que consiste na identificação dos sítios arqueológicos e se baseia na utilização de diferentes estratégias, intrusivas ou não, como, por exemplo, o caminhamento sistemático em áreas com potencial arqueológico (caminhada em linhas paralelas, realizada em equipes, por toda a área de pesquisa definida pelo arqueólogo), a conversa com moradores da região sobre a existência de sítios, e também a intervenção sistemática no subsolo. Esta atividade é executada por meio da abertura de poços-teste, com o auxílio de uma ferramenta denominada cavadeira articulada, e tem o objetivo de encontrar materiais arqueológicos enterrados, identificando as áreas com melhor potencial para a escavação. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 10/27 Outras estratégias incluem a abertura de pequenas sondagens de até um metro quadrado que, além de identificar vestígios arqueológicos enterrados, permite a interpretação da estratificação do terreno, isto é, das diferentes camadas de solo presentes no sítio. As estratégias de prospecção podem incluir também outros tipos de intervenção, como a utilização de fotografias aéreas, a utilização de técnicas como o radar de penetração no solo (GPR), um método eletromagnético utilizado para identificar as camadas abaixo da superfície e que permite a identificação de estruturas arqueológicas sem a necessidade de uma intervenção no subsolo. A escavação arqueológica é, de fato, a atividade que melhor representa o trabalho realizado pelos arqueólogos. Nesta etapa é muito comum a utilização de ferramentas de campo como pás, picaretas, colheres de pedreiro, pincéis, baldes, peneiras, cordas, papeis para anotações, trenas etc. É a atividade que demanda maior tempo e que produz grande parte dos resultados de uma pesquisa arqueológica, gerando a coleção que será estudada em laboratório. Para a realização de uma escavação é importante montar uma equipe composta por vários pesquisadores, onde cada um desempenhará atividades distintas, como escavar, peneirar, escrever, coletar materiais, desenhar etc. O objetivo da escavação é a reconstrução das atividades e das ações que foram realizadas no passado pelas antigas populações que habitaram o sítio arqueológico estudado. No momento em que um determinado local foi abandonado por esses grupos humanos, os vestígios materiais remanescentes passaram por uma série de processos naturais que transformaram esse local em um sítio arqueológico. Portanto, podemos dizer que os materiais arqueológicos são os dados que serão utilizados para a interpretação do que aconteceu nesse local no passado, e o arqueólogo responsável por essa interpretação deve ser fiel às evidências encontradas. Sendo assim, a partir de um contexto que pode ser considerado estático (o sítio arqueológico), o arqueólogo tem como objetivo principal compreender o contexto dinâmico, ou seja, as atividades desempenhadas no sítio em tempos pretéritos. 1.2 Arqueologia e Pré-História 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 11/27 Após abordarmos o conceito, a importância e os objetivos da arqueologia, vamos conhecer agora outras características desta disciplina. Quais são as fontes que o arqueólogo tem à disposição para compreender o período anterior à escrita? O que essas fontes podem nos dizer sobre as populações pré-históricas? Por que a arqueologia é uma das principais disciplinas capazes de estudar a Pré-História? Neste tópico vamos verificar algumas das possibilidades de estudos das fontes materiais, que costumam aparecer nos sítios arqueológicos pré-históricos. Estudaremos também as principais áreas de pesquisa, além da relação entre a ciência arqueológica e os estudos pré-históricos. 1.2.1 A Pré-História e as origens da humanidade Lembre-se que, no século XIX, o passado da humanidade ainda era visto sob uma ótica fortemente religiosa. Tais interpretações foram se modificando na medida em que as pesquisas arqueológicas, baseadas na teoria evolucionista, inspiradas em temas como “A origem das espécies”, de Charles Darwin (2002), deram um novo foco para o estudo do passado da humanidade. A partir deste momento, a arqueologia começou a dar mais ênfase à evolução da espécie humana e intensificaram-se as pesquisas sobre o passado mais remoto, por meio da busca de uma história mais antiga do que as registradas nos estudos bíblicos. Depois, a partir da metade do século XIX, intensificaram-se os estudos sobre esses períodos mais antigos, na medida em que artefatos arqueológicos, como os instrumentos em pedra lascada, foram cada vez mais associados à criação humana. Foi o estudo dessas ferramentas que deu origem aos termos paleolítico, ou Idade da Pedra Antiga, e neolítico, ou Idade da Pedra Recente (FUNARI; NOELLI, 2002). Assim, o termo arqueologia pré-histórica começou a ser utilizado, e se referia ao período anterior ao surgimento da escrita. Contudo, sabemos que essa invenção ocorreu em diferentes momentos e em diferentes regiões do nosso planeta (FUNARI, NOELLI, 2002). No Brasil, a arqueologia pré-histórica, por exemplo, se refere ao período anterior à chegada dos europeus na América. Sendo assim, reconhecemos, atualmente, que o marco inicial da Pré-História do nosso continente se refere ao processo de chegada das primeiras populações humanas, dando origem à história de longa duração dos milhares de povos que aqui existiram. Por outro lado, o termo Pré-História ainda é muito utilizado como uma forma de justificar a suposta inferioridade dos povos indígenas em relação aos europeus. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 12/27 As principais pesquisas sobre arqueologia pré-histórica, no Brasil, se referem ao povoamento do atual território brasileiro, às características dos esqueletos encontrados em sítios arqueológicos, às reflexões sobre a arte rupestre, às características das sociedades amazônicas e a importância do manejo ambiental nessas sociedades, à importância dos sambaquis do litoral brasileiro, além de uma grande quantidade de pesquisas sobre tecnologia lítica (pedra lascada e polida) e cerâmica em sítios pré-históricos (FUNARI, 2003). Perceba que a principal maneira de conhecer o passado pré-histórico consiste no estudo das fontes materiais que o arqueólogo tem à disposição. A cultura material, portanto, é a evidência utilizada pelo arqueólogo e, por meio das prospecções e também da escavação, é possível interpretar as características dos sítios arqueológicos, caracterizando o modo de vida das populações pré-históricas. Em relação à diversidade material presente nos sítios arqueológicos, na arqueologia pré-histórica existem especialistas que trabalham com diferentes artefatos, sendo os mais comuns os produzidos em pedra lascada. A pedra é o material mais duradouro que podemos encontrar no registro arqueológico, e há evidências de sua utilização desde, aproximadamente, 2,6 milhões de anos atrás (KOTTAK, 2013). Essa matéria-prima foi intensamente utilizada para a confecção de instrumentos, como machados e pontas de flecha, muito comuns nas caças e guerras, além de artefatos que serviam para cortar, raspar ou perfurar, e também instrumentos que possuíam finalidades simbólicas. Além disso, as populações pré-históricas utilizavam com frequência a argila para a produção de materiais cerâmicos. Estes artefatos surgiram em períodos mais recentes, se compararmos com a pedra lascada, há aproximadamente 10 mil anos, e estão associados, principalmente, aos processos de sedentarização das populações humanas. A cerâmica é encontrada,geralmente, em fragmentos, mas o seu estudo em laboratório permite, em alguns casos, a completa remontagem de recipientes, proporcionando também a visualização de suas morfologias, elementos decorativos e a interpretação de suas funcionalidades. Também são objetos de pesquisa as construções, como é o caso dos sambaquis, que consistem em estruturas de até 25 metros de altura, construídas por populações pré-históricas, constituídas, principalmente, por um amontoado de conchas, instrumentos líticos, ossos de mamífero e até esqueletos humanos, existentes em toda a costa do atual território brasileiro, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Podemos citar ainda os cerritos do Sul do Brasil, que 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 13/27 consistem em elevações no terreno, produzidas por ação humana, que podem alcançar até sete metros de altura, e, geralmente, estão presentes em áreas alagadiças. O livro “Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro”, escrito pela arqueóloga Madu Gaspar (1999), é uma ótima referência sobre o histórico das pesquisas arqueológicas referentes aos sambaquis do atual território brasileiro, desde as pesquisas pioneiras no final do século XIX até as pesquisas mais recentes. O livro apresenta também os últimos resultados das escavações ocorridas em Santa Catarina e Rio de Janeiro. As representações rupestres são conhecidas na Pré-História do Brasil e são evidências que podem trazer inúmeras informações sobre os povos da Pré- História. Estas representações, como pinturas e gravuras, mostram atividades do cotidiano, como a caça, e também apresentam representações simbólicas, como rituais e festas. Em conjunto com outras evidências materiais, as representações rupestres permitem melhor interpretação do passado das populações humanas pré-históricas. VOCÊ QUER LER? 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 14/27 Os hominídeos também utilizavam, além dos instrumentos em pedra, materiais produzidos em ossos, madeira e outros materiais perecíveis. Contudo, como estamos nos referindo a um passado de milhares de anos atrás, sabemos que os vestígios produzidos nestes materiais possuem baixos índices de preservação e só aparecem em condições excepcionais. Há também vestígios de pequenas dimensões encontrados nos sítios arqueológicos, como os carvões, que em muitos casos se referem a antigas estruturas de fogueira, produzidas pelas populações que habitaram este local. É importante destacar que a datação destes materiais por carbono 14 permite associar o contexto arqueológico ao período de ocupação desse sítio, isto é, cria a possibilidade de compreender em que período da história esses materiais foram produzidos. Existem inúmeros e variados exemplos de abordagens utilizadas na arqueologia pré-histórica. Por ser uma ciência interdisciplinar, a arqueologia conta com profissionais experientes em diversas áreas de conhecimento, incluindo pesquisadores que trabalham, por exemplo, na relação entre a arqueologia e as ciências da terra (geoarqueologia), com os restos de fauna encontrados nos sítios arqueológicos (zooarqueologia), com vestígios arqueológicos submersos (arqueologia subaquática), com o estudo dos restos de madeira carbonizados e Figura 3 - Animais em representação rupestre. Fonte: Andrey Burmakin, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 15/27 encontrados em sítios arqueológicos (antracologia), com o estudo de remanescentes ósseos humanos (bioarqueologia), entre várias outras áreas, com metodologias e objetivos distintos. Outro exemplo de pesquisa que está ganhando novos adeptos é o estudo de DNA de humanos, de animais e de plantas presentes nos sítios arqueológicos. Esses estudos são utilizados, por exemplo, para a análise genética de grupos indígenas do continente americano, e o resultado dessas pesquisas tem levantado diferentes hipóteses sobre a origem e as rotas de dispersão das primeiras populações que ocuparam o continente, estabelecendo relações com as populações indígenas contemporâneas (TELLES; DINIZ-FILHO, 2004). Outros profissionais fundamentais na arqueologia são os museólogos, responsáveis pelo estudo de gestão do patrimônio arqueológico. São eles que pesquisam as diferentes maneiras de preservar e apresentar este patrimônio ao público, buscando mais conscientização sobre sua importância e proteção. Podemos dizer que, hoje em dia, ainda é pequeno o número de arqueólogos atuando no Brasil. O território do nosso país é imenso e a variedade de abordagens que podem ser utilizadas em um sítio arqueológico, em conjunto com a grande quantidade de coleções disponíveis para estudo, existentes em museus e universidades espalhados pelo país, demonstram a necessidade de formação de mais profissionais nesta área. Nos cursos de História e Antropologia, a Pré-História e a arqueologia ainda são pouco estudadas. Nas escolas, a grade curricular aborda poucas questões referentes à Pré-história brasileira, o que demonstra também a necessidade da valorização da disciplina. 1.3 Teoria e filosofia da história Você sabia que a história e a arqueologia são ciências complementares e não excludentes? Elas se complementam por estarem inseridas no campo das ciências humanas e por possuírem o foco na compreensão do passado do ser humano. Por outro lado, elas se distanciam no que diz respeito às fontes e abordagens utilizadas. Observe: enquanto a cultura material é o objeto de estudo da arqueologia, os documentos escritos e não-escritos produzidos no passado são o objeto de estudo da história. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 16/27 Como sabemos, a história é a disciplina que está mais preocupada em compreender o passado da humanidade. Neste tópico abordaremos seu conceito, sua relevância no âmbito das ciências humanas, e a importância das fontes documentais para a interpretação do passado. Quais são as principais fontes históricas e qual é a importância da análise rigorosa destas fontes? E, qual é a relação da história com o presente? Estas e outras questões serão abordadas agora. Nosso objetivo é apresentar as principais problemáticas desta disciplina, bem como as possibilidades de uso das fontes documentais. Trata-se um tópico relevante para avaliarmos, posteriormente, as inúmeras possibilidades de utilização das fontes históricas no estudo do mundo antigo. Marc Bloch (2002, p. 55) define a história como a “ciência dos homens no tempo”. Para ele, esta disciplina não deve se prender somente ao passado e, ao mesmo tempo, não deve estudar fenômenos isolados. Podemos acrescentar ainda que a História estuda o passado a partir do presente, utilizando perspectivas e problemáticas atuais. Para o autor, a história quer capturar os homens e o bom historiador deve ser como um “ogro, que fareja carne humana e sabe que ali está a sua caça” (Bloch, 2002, p. 54). A obra de Bloch (2002) enfatiza o papel da teoria, o rigor científico e a necessidade da crítica documental. De acordo com o autor, a ciência histórica é responsável por articular presente e passado, e também por compreender a experiência humana ao longo do tempo. Bloch acredita que o historiador deve possuir senso crítico, ter critérios adequados ao utilizar as fontes primárias (referentes aos documentos produzidos em seu próprio contexto cultural) e secundárias (baseadas na produção de documentos em períodos posteriores ao contexto no qual ocorreu) e deve evitar a avaliação ou mesmo o julgamentodo que ocorreu passado. Marc Bloch (1886 – 1944) foi um importante historiador francês e um dos fundadores da Escola dos Annales, um movimento historiográfico que começou em 1929. É considerado um dos maiores historiadores do século XX por seus estudos sobre o feudalismo e por dar importância à relação entre VOCÊ O CONHECE? 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 17/27 as pessoas e os acontecimentos do passado, em vez de se prender à descrição de nomes de pessoas e datas. Por ser judeu, Bloch se tornou militante da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e acabou sendo detido, torturado e fuzilado pelos nazistas. Na arqueologia, assim como o colecionismo foi substituído pelo foco nas pessoas, e não nas coisas; na história, o colecionador de fatos deve ser substituído pelo historiador que problematiza as fontes. O acúmulo de fatos não acrescenta nada à pesquisa histórica. Sendo assim, para a história ser considerada uma ciência, ela deve ser teórica, elaborando problemas e sugerindo hipóteses, e deve se apoiar nas fontes primárias e secundárias de todos os tipos, que devem ser selecionadas rigorosamente. Note que, desta forma, o historiador não será um pesquisador sem ponto de vista, sem apoio teórico, utilizando fontes somente para ser fiel aos fatos. Figura 4 - Papiros e canetas de penas: objetos de ofício dos historiadores em períodos antigos. Fonte: Anna Kucherova, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 18/27 Bloch (2002) afirmava que a história só poderia ser uma ciência social se explicasse o passado e não se limitasse a descrevê-lo. A explicação só seria possível por meio de estudos comparativos, utilizando como exemplo fenômenos universais, ocorridos em culturas separadas no tempo e no espaço ou por meio do estudo de sociedades contemporâneas. Bloch (2002) também destacou a importância do caráter interdisciplinar da história. Para o autor, como ocorre na arqueologia, a história deve basear sua abordagem em métodos e conceitos oriundos de outras ciências, como a geografia, a filosofia, a biologia, a química, entre outras, fornecendo o maior rigor possível na interpretação das fontes documentais. As teorias utilizadas no estudo da História possibilitam a formulação de problemas e hipóteses de pesquisa, sendo que cada uma delas possui uma maneira distinta de estudar e compreender o passado. Todo historiador de alguma forma segue alguma proposta teórica, o que é percebido a partir dos autores que esse historiador utilizou e da maneira como conduz a sua pesquisa. A obra “Teoria da História”, de autoria de José D’Assunção Barros (2014), é composta por cinco volumes e aborda diferentes temas importantes para futuros historiadores. O primeiro livro é denominado “Conceitos fundamentais da Teoria da História” e permite que o leitor se aprofunde ainda mais nos temas abordados neste capítulo. Vale a leitura por ser uma obra extensa e que apresenta com detalhes as principais discussões sobre a teoria da História. Por fim, concluindo esse tópico, podemos dizer que ao estudar história ampliamos o conhecimento que temos sobre o presente, e isso nos permite interpretar o que acontece hoje, seja no cenário político, econômico, social ou cultural, a partir de motivos que são históricos e não aleatórios. É importante destacar ainda que tudo o que acontece ao nosso redor é resultado de eventos históricos, tornando o historiador o principal responsável por explicar o mundo contemporâneo. VOCÊ QUER LER? 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 19/27 Assim, podemos dizer que as possibilidades de pesquisa histórica são infinitas, e cada historiador pode formular problemas de pesquisa, buscando respostas aos seus questionamentos, por meio de diversas fontes. Assim, se outros historiadores, com problemas de pesquisa distintos, utilizassem a mesma fonte, obteriam diferentes respostas. Somamos a isso ainda o fato de que existem infindáveis fontes que podem ser escolhidas como objeto de análise. No século XIX as pesquisas históricas utilizavam como fontes, principalmente, os documentos oficiais de instituições e governos. Já no século XX os historiadores começaram a defender a ideia de que todos os elementos que fazem parte da história humana são objetos de análise. Sendo assim, evidências como pinturas, fotografias, jornais, mapas, cartas, diários, literaturas, canções etc. passaram a ser consideradas fontes legítimas de pesquisa. Figura 5 - Manuscrito do século XIX, fonte de informações. Fonte: Garsya, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 20/27 Em relação à arqueologia histórica, que também pesquisa acontecimentos ocorridos em períodos onde já existia a escrita, encontramos uma diversidade de artefatos que podem ser utilizados como fontes documentais, incluindo vidros, metais, louças, e outros materiais industrializados, além da pesquisa em construções, como igrejas, engenhos, senzalas, fortificações, casarões antigos etc. Todas essas fontes são consideradas fontes de pesquisa histórica. Atualmente, além das instituições responsáveis pela guarda de documentos antigos, como museus, bibliotecas, arquivos históricos, entre outras, surgiram órgãos públicos e privados e institutos de pesquisa que fornecem documentos históricos digitalizados, e que podem ser acessados facilmente por meio de um computador. Além disso, em função do aumento do número de fontes que podem Figura 6 - Exemplo de mapa antigo utilizado como fonte histórica. Fonte: Triff, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 21/27 ser utilizadas na pesquisa histórica, o historiador pode encontrar registros tanto em um arquivo histórico, quanto nas lembranças de um indivíduo, no caso da história oral. Band of Brothers (EUA, 2001) é uma série de televisão que mostra a história de uma companhia militar norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos aspectos de grande relevância da série é o início de cada episódio, em que ex-combatentes narram vários acontecimentos ocorridos durante a guerra, uma metodologia que acontece de forma semelhante em estudos de história oral. É importante lembrarmos que as fontes históricas analisadas não são documentos neutros, mas resultado de escolhas realizadas pelos responsáveis pelo seu armazenamento, isto é, são um produto da sociedade que o produziu e o armazenou. Consequentemente, o historiador deverá utilizar critérios rigorosos para a análise dessas fontes, levando em conta, inclusive, a veracidade das mesmas. No caso da história oral, por exemplo, torna-se necessário a comparação das entrevistas realizadas pelo historiador com a análise de outros documentos referentes ao mesmo período. VOCÊ QUER VER? 1.4 O estudo da antiguidade Neste tópico utilizaremos as informações apresentadas no tópico anterior para estudar com mais de profundidade a relação entre as fontes históricas e o estudo do mundo antigo. Também demonstraremos como a história antiga ganhou mais importância ao longo do tempo. Você saberia dizer quando os historiadores passaram a dar mais importância para o estudo da antiguidade clássica e oriental? Será que desde o início da Idade Média já havia uma preocupação em preservar eestudar os monumentos da antiguidade? Vale a pena prosseguir! 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 22/27 1.4.1 O uso das fontes no estudo da história antiga A arqueologia possui uma importante relação com a história, pois ambas podem ser consideradas ciências complementares, e juntas contribuem ainda mais para o entendimento do contexto cultural das civilizações antigas. Pedro Funari (2003) utiliza como exemplo o estudo arqueológico da cerâmica grega, que pode ser melhor compreendido caso o arqueólogo pesquise também as fontes escritas. Portanto, podemos dizer que os dados arqueológicos não devem ser considerados auxiliares em relação aos documentos escritos, pois podem tanto confirmar quanto refutar o que já se conhecia, e vice-versa. Apesar disso, o mundo antigo tem sido estudado, principalmente, a partir das fontes escritas, pois esta invenção criou a possibilidade de entendermos acontecimentos históricos pela perspectiva de quem vivenciou o período investigado. Trata-se de documentos produzidos no passado, e que servem como forma de registro do que ocorreu na sociedade da época e, dessa forma, essas fontes podem ser consideradas como uma das principais evidências históricas existentes. Os textos escritos sobre o mundo antigo começaram a ser mais explorados a partir do século XII (GUARINELLO, 2003, p. 18). A partir deste período difundiu-se a ideia de que existiu um mundo antigo, anterior ao período cristão, e que muito se diferenciava do mundo contemporâneo. Portanto, vários documentos produzidos na antiguidade, principalmente associados às civilizações greco-romanas, passaram a ser novamente editados e lidos pelos intelectuais da época. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 23/27 As construções remanescentes do período antigo, e que até então não eram motivo de pesquisas sistemáticas, passaram a serem consideradas importantes evidências históricas. Portanto, intensificaram-se as elaborações de descrições e desenhos da arquitetura do mundo antigo, os resgates de estátuas e pinturas, e o início do colecionismo de objetos da antiguidade. O objetivo desse resgate cultural era a rejeição de uma história mais recente e a construção de uma nova identidade, voltada para o presente e o futuro. VOCÊ SABIA? O Coliseu, em Roma, também é conhecido pelo nome de Anfiteatro Flaviano. Após a queda do império ocidental, o Coliseu foi utilizado como cemitério e até como fortificação, além de ter sido, parcialmente, destruído por terremotos e também cenário de diversos saques durante a Idade Média. Figura 7 - Coliseu romano, um dos maiores símbolos do Império Romano. Fonte: WDG Photo, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 24/27 Entretanto, não havia ainda uma preocupação científica com as evidências, considerando que muitos textos escritos sobre o mundo antigo, durante a Idade Média, por exemplo, misturavam evidências do mundo antigo com histórias bíblicas. A preocupação científica surgiu a partir dos séculos XVII e XVIII, e na segunda metade do século XIX houve uma nova retomada dos estudos sobre história antiga, associada ao surgimento de disciplinas como a antropologia, a sociologia e a arqueologia. CASO Um arqueólogo realizava a escavação de um sítio arqueológico pré- histórico como parte de sua pesquisa de mestrado no interior do estado de Santa Catarina. Ao finalizar os trabalhos, após obter o carvão de uma estrutura de fogueira para ser enviado ao laboratório, o arqueólogo estava ansioso para descobrir em qual período esse sítio foi habitado. Sua pesquisa era muito relevante, pois esta escavação iria levantar diversas hipóteses sobre a chegada dos antepassados dos grupos indígenas atuais no Sul do Brasil. Após receber o resultado da análise do carbono 14, o arqueólogo notou que o sítio foi habitado há aproximadamente 300 anos atrás, e se refere a um momento histórico em que os europeus já estavam no Brasil. Mesmo assim, sabendo que a arqueologia pré-histórica trabalha com um período que antecede à escrita e, no caso do Brasil, se refere também ao período anterior à chegada dos europeus no continente americano, podemos considerar esse sítio como pré-histórico Atualmente, não existem evidências de elementos materiais não-indígenas nos sítios arqueológicos ocupados pelas populações pré-históricas. O sítio pesquisado por esse arqueólogo não possui evidências de contato com outras populações e, provavelmente, foi ocupado em um momento em que não havia europeus ou descendentes vivendo nessa região. Como a datação é bastante recente, considerando que o Sul do Brasil possui sítios de até 10.000 anos atrás, possivelmente essa datação se refere aos últimos assentamentos indígenas existentes no interior de Santa Catarina antes do contato. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 25/27 A arqueologia clássica, que estuda as civilizações grega e romana no período antigo, surgiu já no início do século XIX. Logo em seguida surgiram também as arqueológicas egípcia, bíblica e mesopotâmica, que eram voltadas para a compreensão das primeiras civilizações do mundo antigo. Estes estudos da antiguidade oriental, a partir da arqueologia, fazem parte do que conhecemos como arqueologia histórica. Já entre o final do século XIX e início do século XX, os estudos sobre a antiguidade se intensificaram ainda mais, por meio das descobertas arqueológicas ocorridas no Egito e no antigo território mesopotâmico. Síntese Concluímos a primeira parte do estudo sobre as fontes documentais, históricas e arqueológicas. Esses conhecimentos são fundamentais para que possamos pensar na melhor abordagem a ser utilizada no estudo dos mais diversos períodos do passado, a partir de uma grande variedade de fontes históricas, seja para compreender a antiguidade do ser humano ou até para compreender o passado mais recente. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: compreender os conceitos de arqueologia e história; compreender a importância das pesquisas arqueológicas e históricas no âmbito da pré-história e da história antiga, respectivamente; verificar as principais fontes históricas utilizadas na pesquisa arqueológica e nos estudos da documentação escrita. Referências bibliográficas BAND OF Brothers. Produção de Steven Spielberg, Tom Hanks, Preston Smith, Erik Jendresen e Stephen Ambrose. New York: HBO, 2001, DVD (705 min). BARROS, J. A. Teoria da história: princípios e conceitos fundamentais. Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2014. 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 26/27 BLOCH, M. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. BOËDA, E.; CLEMENTE-CONTE, I.; FONTUGNE, M.; LAHAYE, C. A new late Pleistocene archaeological sequence in South America: the Vale da Pedra Furada (Piauí, Brazil). Antiquity, v. 88, n. 341, p. 927-941, 2014. DARWIN, C. A origem das espécies (1859). Belo Horizonte: Itatiaia Editora, 2002. FUNARI, P. P. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003. FUNARI, P. P; NOELLI, F. S. Pré-história do Brasil. São Paulo: Contexto, 2002. GASPAR, M. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. GUARINELLO, N. L. História antiga. São Paulo: Contexto, 2013. INDIANA JONES e os caçadores da arca perdida. Direção de Steven Spielberg. Produção de Frank Marshall, Howard Kazanjiane George Lucas. Los Angeles: Paramount Pictures, 1981, DVD (115 min). KOTTAK, C. P. Um espelho para a humanidade: uma introdução à antropologia cultural. Porto Alegre:AMGH Editora, 2013. LIMA, T. A. Arqueologia como ação sociopolítica: o caso do cais do Valongo, Rio de Janeiro, século XIX. Vestígios, v. 7, n. 1, 2013. NEVES, E. G. O velho e o novo na arqueologia amazônica. Revista Usp, n. 44, p. 86- 111, 2000. NEVES, W. A.; PILÓ, L. B. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. São Paulo: Globo Editora, 2008. TELLES, M. P. C.; DINIZ-FILHO, J. A. F. DNA antigo: obtenção e análise de dados genéticos a partir de material arqueológico. Revista Canindé Xingó, n. 4, 2004. Disponível em: <http://max.ufs.br/uploads/page_attach/path/1574/Canind__04.pdf (http://max.ufs.br/uploads/page_attach/path/1574/Canind__04.pdf)> Acesso em: 25/01/2018. VIALOU, Á. V.; VIALOU, D. Dos primeiros povoamentos às ocupações ceramistas em abrigos rupestres do Mato Grosso. Especiaria: Cadernos de Ciências Humanas, v. 11, n. 20, 21, 2015. http://max.ufs.br/uploads/page_attach/path/1574/Canind__04.pdf 17/05/2021 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://uniritter.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_669953_… 27/27
Compartilhar