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2 DISPOSITIVO Pelas razões expostas, com base no artigos 356 e 487, I, do Código de Processo Civil, confirmando a liminar concedida initio litis (f. 200), julgo parcialmente procedente o pedido para: a) declarar inexistente o débito cobrado pela parte demandada relativo à taxa de evolução de obra, no montante de R$ 5.395,74, b) condenar as rés a pagarem à autora: i) a título de lucros cessantes, importância equivalente a 1% ao mês sobre o valor do contrato, a partir de 30/06/2011 até a efetiva entrega do bem (26/03/2014), monetariamente corrigida pelo IGP-M/FGV desde cada dia primeiro dos respectivos meses e com juros moratórios de 1% ao mês desde a citação; ii) encargos contratuais decorrentes da inversão a cláusula penal em favor da autora, com aplicação, em face da parte ré, de multa de 2% e juros de 1% ao mês sobre o valor da parcela, o fim do prazo máximo para a entrega do imóvel (30/06/2011) até a efetiva ocorrência dessa (26/03/2014); iii) indenização por danos morais arbitrados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), que deverá ser corrigido monetariamente com base no IGP-M/FGV a partir da data da sentença e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso, qual seja o fim do prazo máximo para a entrega do imóvel (30/06/2011); iv) o valor das taxas de evolução de obra despendido pela autora, após o fim do prazo máximo para a entrega do imóvel (30/06/2011), monetariamente corrigido pelo IGP-M/FGV desde o desembolso de cada parcela e com juros de mora de 1% ao mês a contar da citação (CPC, art. 240 e CC/02, art. 405); v) o montante despendido pela demandante com as parcelas concernentes às taxas de condomínio (RS 940,34), monetariamente corrigido pelo IGPM/FGV desde cada pagamento e com juros de mora de 1% ao mês a partir da citação (CPC,art. 240 e CC/02, art. 405). Outrossim, considerando que nos autos da Medida Cautelar n. 25.323, em decisão monocrática, o colendo Superior Tribunal de Justiça determinou a suspensão dos processos nos quais se discuta a legalidade ou não da imputação dos honorários alusivos à corretagem ao consumidor, nos seguintes termos: "Ante o exposto, defiro o pedido do requerente para determinar a suspensão em todo país, inclusive em primeiro grau, de todas as ações em trâmite nas quais se discutam as questões de direito que foram objeto da afetação no REsp n.º 1551956/SP e que ainda não tenham recebido solução definitiva, obstando a prática de quaisquer atos processuais até o julgamento do recurso repetitivo". O ilustre relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, esclareceu quais seriam as indigitadas questões de direito, ao afirmar que: "Conforme relatado, o julgamento do recurso especial, ao qual vinculada a presente medida cautelar (REsp n.º 1.551.956/SP), foi afetado à Segunda Seção, nos termos do art. 543-C, do CPC, para uniformização do entendimento acerca da (i) prescrição da pretensão de restituição das parcelas pagas a título de comissão de corretagem e de assessoria imobiliária, sob o fundamento da abusividade da transferência desses encargos ao consumidor; e da (ii) validade da cláusula contratual que transfere ao 3 consumidor a obrigação de pagar comissão de corretagem e taxa de assessoria técnicoimobiliária (SATI)." Assim, com fulcro no art. 1.037, inciso II, e § 8º, do Novo Código de Processo Civil, determino a suspensão do trâmite da presente demanda no que toca ao pedido de restituição da taxa de corretagem até o julgamento definitivo do recurso repetitivo alhures citado. A distribuição da responsabilidade pelas verbas sucumbenciais será estabelecida na sentença que extinguir o processo, mediante consideração do conjunto das pretensões, à luz dos princípios da sucumbência e da causalidade. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Oportunamente, arquivem-se. Cidade/Data. Fulano de Tal Juiz de Direito Assinado Digitalmente RESENHA CRÍTICA DO TEXTO ACIMA Em análise ao conteúdo da parte dispositiva, há de se identificar que a natureza da decisão judicial trata-se de decisão interlocutória. Conforme o art. 356 do CPC, o juiz decidirá parcialmente o mérito quando parte do pedido mostrar-se incontroverso. É o que ocorreu no caso, tendo o juiz decidido definitivamente sobre parte do pedido e suspendido a análise quanto a matéria, objeto da Medida Cautelar nº 25.323 determinada pelo STJ. Corrobora-se a natureza jurídica de decisão interlocutória a previsão do art. 356, § 5º do CPC, que dispõe que o recurso cabível contra decisão que julga parcialmente o mérito é o agravo de instrumento. Portanto, como o referido recurso é cabível de decisões interlocutórias, sustenta-se ser essa a natureza jurídica da decisão enunciada. Reforça-se, ainda, o raciocínio, tendo em vista que na decisão supra referida ocorreu o julgamento parcial do mérito no qual o juiz decidiu em partes, mas não pôs fim à fase de conhecimento. Nesse sentido importante destacar as lúcidas observações de Marcos Vinicius Rios Gonçalves: Atualmente, na forma do art. 356 do CPC, o juiz poderá julgar parcialmente o mérito - por decisão interlocutória que desafia 4 agravo de instrumento - quando um ou mais pedidos formulados ou parcela deles mostrar-se incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento. As hipóteses dos arts. 355 e 356 são de verdadeiro julgamento antecipado. Na primeira, haverá sentença e, na segunda, decisão interlocutória de mérito, proferida em caráter exauriente e que, não havendo mais recurso pendente, tornar-se-ão definitivas". (Direito Processual Civil - Col. Esquematizado - Marcus Vinicius Rios Gonçalves - 2016, Pág. 356.) Em razão do exposto, resta demonstrado que a natureza de tal decisão, trata-se realmente de uma decisão interlocutória desafiando o recurso de agravo de instrumento. Em relação ao princípio da fungibilidade, ele somente é aplicável quando há dúvida fundada a respeito do recurso cabível e inexistir erro grosseiro ou má-fé. Nesse sentido, observa Daniel Amorim Assumpção Neves que: É considerado pelo Superior Tribunal de Justiça, erro grosseiro a interposição de recurso distinto daquele previsto em lei para a determinada decisão, ainda que ocorra equívoco do legislador ao conceitua-la.(Manual de Direito Processual Civil – pag. 1.945, 8º ed. 2016). Em termos de análise conclusiva, denota-se que há erro grosseiro, pois há previsão expressa do recurso cabível na hipótese de sentença parcial de mérito, é o agravo de instrumento, nos termos do §5º do art. 355 do CPC, não sendo possível portanto aplicar o princípio da fungibilidade. 5