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Módulo Introdução à Filosofia

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Manual de Tronco Comum 
Introdução à Filosofia 
 
Código A0010 
 
Universidade Católica de Moçambique (UCM) 
Centro de Ensino à Distância (CED) 
 
 
 
Direitos de autor (copyright) 
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de 
Ensino à Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou 
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer 
meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de 
entidade editora (Universidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O 
não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. 
 
 
 
Elaborado Por: António Luís Rosa – Licenciado em Ensino de Filosofia pela Universidade 
Pedagógica – Moçambique, Delegação da Beira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Católica de Moçambique (UCM) 
Centro de Ensino à Distância (CED) 
Rua Correia de Brito No 613 – Ponta-Gêa 
Beira – Sofala 
 
Telefone: 23 32 64 05 
Cell: 82 50 18 440 
Moçambique 
 
Fax: 23 32 64 06 
E-mail: ced@ucm.ac.mz 
Website: www.ucm.ac.mz 
 
 
Agradecimentos 
 
A Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Centro de Ensino à Distância (CED) e o autor 
do presente manual, António Luís Rosa, agradecem a colaboração de todos que directa ou 
indirectamente participaram na elaboração deste manual. À todos sinceros agradecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Introdução à Filosofia i 
 
Índice 
Visão geral 7 
Benvido à Introdução à Filosofia ................................................................................... 7 
Objectivos do curso ....................................................................................................... 7 
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 7 
Como está estruturado este módulo................................................................................ 8 
Ícones de actividade ...................................................................................................... 8 
Acerca dos ícones ........................................................................................ 9 
Habilidades de estudo .................................................................................................... 9 
Precisa de apoio? ......................................................................................................... 10 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................ 10 
Avaliação .................................................................................................................... 11 
Unidade N0 01-A0010 12 
Tema: Introdução à Filosofia ....................................................................................... 12 
Introdução .......................................................................................................... 12 
Sumário ....................................................................................................................... 12 
Exercícios.................................................................................................................... 17 
Unidade N0 02-A0010 18 
Tema: Atitude filosófica .............................................................................................. 18 
Introdução .......................................................................................................... 18 
Sumário ....................................................................................................................... 18 
Exercícios.................................................................................................................... 31 
Unidade N0 03-A0010 32 
Tema: Breve contextualização histórica da Filosofia .................................................... 32 
Introdução .......................................................................................................... 32 
ii Índice 
 
Sumário ....................................................................................................................... 32 
Exercícios........................................................................................................................ 
Unidade N0 04-A0010 36 
Tema: A Pessoa Humana ............................................................................................. 36 
Introdução .......................................................................................................... 36 
Sumário ....................................................................................................................... 36 
Exercícios.................................................................................................................... 39 
Unidade N0 05-A0010 40 
Tema: A Consciência Moral ........................................................................................ 40 
Introdução .......................................................................................................... 40 
Sumário ....................................................................................................................... 40 
Exercícios.................................................................................................................... 43 
Unidade N0 06-A0010 44 
Tema: Aspectos da Ética Individual. ............................................................................ 44 
Introdução .......................................................................................................... 44 
Sumário ....................................................................................................................... 44 
Exercícios.................................................................................................................... 48 
Unidade N0 07-A0010 49 
Tema: A acção humana. .............................................................................................. 49 
Introdução .......................................................................................................... 49 
Sumário ....................................................................................................................... 49 
Exercícios.................................................................................................................... 51 
Unidade N0 08-A0010 52 
Tema: Introdução aos Valores ..................................................................................... 52 
Introdução .......................................................................................................... 52 
 Introdução à Filosofia iii 
 
Sumário ....................................................................................................................... 52 
Exercícios.................................................................................................................... 57 
Unidade N0 09-A0010 58 
Tema: Aspectos da Bioética......................................................................................... 58 
Introdução .......................................................................................................... 58 
Sumário ....................................................................................................................... 58 
Exercícios.................................................................................................................... 61 
Unidade N0 10-A0010 62 
Tema: Teoria do Conhecimento. .................................................................................. 62 
Introdução .......................................................................................................... 62 
Sumário ....................................................................................................................... 62 
Exercícios....................................................................................................................71 
Unidade N0 11-A0010 72 
Tema: Possibilidades do Conhecimento. ...................................................................... 72 
Introdução .......................................................................................................... 72 
Sumário ....................................................................................................................... 72 
Exercícios.................................................................................................................... 75 
Unidade N0 12-A0010 76 
Tema: Origem do Conhecimento. ................................................................................ 76 
Introdução .......................................................................................................... 76 
Sumário ....................................................................................................................... 76 
Exercícios.................................................................................................................... 81 
Unidade N0 13-A0010 82 
Tema: Natureza do Conhecimento ............................................................................... 82 
Introdução .......................................................................................................... 82 
iv Índice 
 
Sumário ....................................................................................................................... 82 
Exercícios.................................................................................................................... 84 
Unidade N0 14-A0010 85 
Tema: Níveis de Conhecimento ................................................................................... 85 
Introdução .......................................................................................................... 85 
Sumário ....................................................................................................................... 85 
Exercícios.................................................................................................................... 95 
Unidade N0 15-A0010 96 
Tema: Introdução à Lógica. ......................................................................................... 96 
Introdução .......................................................................................................... 96 
Sumário ....................................................................................................................... 96 
Exercícios.................................................................................................................... 99 
Unidade N0 16-A0010 100 
Tema: As dimensões do discurso humano. ................................................................. 100 
Introdução ........................................................................................................ 100 
Sumário ..................................................................................................................... 100 
Exercícios.................................................................................................................. 104 
Unidade N0 17-A0010 105 
Tema: Os princípios da razão .................................................................................... 105 
Introdução ........................................................................................................ 105 
Sumário ..................................................................................................................... 105 
Exercícios.................................................................................................................. 111 
Unidade N0 18-A0010 112 
Tema: A convivência políticas entre os Homens. ....................................................... 112 
Introdução ........................................................................................................ 112 
 Introdução à Filosofia v 
 
Sumário ..................................................................................................................... 112 
Exercícios.................................................................................................................. 120 
 
Unidade N0 19-A0010 121 
Tema: Os Direitos Humanos ...................................................................................... 121 
Introdução ........................................................................................................ 121 
Sumário ..................................................................................................................... 121 
Exercícios.................................................................................................................. 125 
Unidade N0 20-A0010 126 
Tema: A Filosofia Política na História ....................................................................... 126 
Introdução ........................................................................................................ 126 
Sumário ..................................................................................................................... 126 
Exercícios.................................................................................................................. 136 
Unidade N0 21-A0010 139 
Tema: Ciência ........................................................................................................... 139 
Introdução ........................................................................................................ 139 
Sumário ..................................................................................................................... 139 
Exercícios.................................................................................................................. 141 
Unidade N0 22-A0010 142 
Tema: A Estética ....................................................................................................... 142 
Introdução ........................................................................................................ 142 
Sumário ..................................................................................................................... 142 
Exercícios.................................................................................................................. 143 
Unidade N0 23-A0010 144 
Tema: A expressão artística ....................................................................................... 144 
Introdução ........................................................................................................ 144 
vi Índice 
 
Sumário ..................................................................................................................... 144 
Exercícios.................................................................................................................. 147 
Unidade N0 24-A0010 148 
Tema: A experiência Religiosa .................................................................................. 148 
Introdução ........................................................................................................ 148 
Sumário ..................................................................................................................... 148 
Exercícios.................................................................................................................. 150 
 
 
 Introdução à Filosofia 7 
 
Visão geral 
Benvindo à Introdução à Filosofia 
O mundo que nos rodeia é caracterizado pela multiplicidade de 
saberes, os quais fazem com que o Homem se questione sobre qual é 
a verdadeira sabedoria. Nesse contexto, o que importa não são as 
respostas, mas as perguntas levantadas pelo próprio Homem. Esta é 
a principal característica do filósofo: levantar perguntas constantes, 
profundas e radicais para buscar a verdade das coisas e do ser 
humano. Com a filosofia se é capaz de buscar o sentido davida, 
segundo Sócrates “uma vida sem filosofia não vale a pena ser 
vivida”. 
 
Objectivos do curso 
Quando terminar o estudo da Introdução à Filosofia, o estudante 
deve ser capaz de: 
 
 Identificar o sentido e o significado da Filosofia, através da reflexão 
sobre a relação que ela tem para com outras ciências, com a existência 
humana e toda a realidade, particularmente tudo o que se refere ao mundo 
actual. 
Quem deveria estudar este 
módulo 
Este módulo foi concebido para todos aqueles que frequentam os 
cursos à distância, oferecidos pela Universidade Católica de 
Moçambique (UCM), através do seu Centro de Ensino à 
Distância (CED). 
 8 Unidade 
 
Como está estruturado este 
módulo 
Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED 
encontram-se estruturados da seguinte maneira: 
Páginas introdutórias 
 Um índice completo. 
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os 
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. 
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de 
começar o seu estudo. 
Conteúdo do curso / módulo 
O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma 
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade 
incluindo actividades de aprendizagem, um resumo da unidade 
e uma ou mais actividades para auto-avaliação. 
Outros recursos 
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos 
uma lista de recursos adicionais para você explorar. Estes 
recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. 
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação 
Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de 
cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais 
para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as 
completar. Estes elementos encontram-se no final do módulo. 
Comentários e sugestões 
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer 
comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os 
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar 
este curso / módulo. 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas 
margens das folhas. Estes icones servem para identificar 
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar 
 Introdução à Filosofia 9 
 
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, 
uma mudança de actividade, etc. 
Acerca dos ícones 
Os icones usados neste manual são símbolos africanos, 
conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo 
Ashante de África Ocidental, datam do século XVII e ainda se 
usam hoje em dia. 
Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, 
cada um com uma descrição do seu significado e da forma como 
nós interpretámos esse significado para representar as várias 
actividades ao longo deste módulo. 
 
Habilidades de estudo 
Caro estudante, procure olhar para você em três dimensões 
nomeadamente: o lado social, profissional e estudante, daí ser 
importante planificar muito bem o seu tempo. 
Procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de estudo por dia e 
use ao máximo o tempo disponível nos finais de semana. 
Lembre-se que é necessário elaborar um plano de estudo 
individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar, como 
estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros). 
Evite o estudo baseado em memorização, pois é cansativo e não 
produz bons resultados, use métodos mais activos, procure 
desenvolver suas competências mediante a resolução de 
problemas específicos, estudos de caso, reflexão, etc. 
O manual contém muita informação, algumas chaves, outras 
complementares, daí ser importante saber filtrar e apresentar a 
informação mais relevante. Use estas informações para a 
resolução dos exercícios, problemas e desenvolvimento de 
actividades. A tomada de notas desempenha um papel muito 
importante. 
Um aspecto importante a ter em conta é a elaboração de um 
plano de desenvolvimento pessoal (PDP), onde você reflecte 
sobre os seus pontos fracos e fortes e perspectivas o seu 
desenvolvimento. 
Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o 
responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a ti planificar, 
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso. 
 10 Unidade 
 
Precisa de apoio? 
Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra 
situação, o material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida 
(falta de clareza, alguns erros de natureza frásica, prováveis erros 
ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, 
contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a 
situação e se estiver próximo do tutor, contacte-o pessoalmente. 
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai 
o estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o 
tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. 
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação, em caso 
de problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser 
contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso 
e se o problema for da natureza geral, contacte a direcção do 
CED, pelo número 825018440. 
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas 
normais de expediente. 
As sessões presenciais são um momento em que você caro 
estudante, tem a oportunidade de interagir com todo o staff do 
CED, neste período pode apresentar dúvidas, tratar questões 
administrativas, entre outras. 
O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, 
busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-me 
mutuamnte, reflictam sobre estratégias de superação, mas 
produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva 
suas competências. 
Juntos na Educação à Distância, vencendo a distância. 
 
Tarefas (avaliação e auto-
avaliação) 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades 
e auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas 
é importante que sejam realizadas.As tarefas devem ser entregues 
antes do período presencial. 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não 
cumprimento dos prazos de entrega , implica a não classificação 
do estudante. 
 Introdução à Filosofia 11 
 
As trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem 
ser dirigidos ao tutor/docentes. 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, 
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, 
respeitando os direitos do autor. 
O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 
(oito) palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A 
honestidade, humildade cintífica e o respeito pelos direitos 
autorais devem marcar a realização dos trabalhos. 
 
Avaliação 
Vocé será avaliado durante o estudo independente (80% do 
curso) e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é 
regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação. 
Os trabalhos de campo por si desenvolvidos , durante o estudo 
individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de 
frequência da cadeira. 
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e 
concorrem para os 75% do cálculo da média de frequência da 
cadeira. 
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões 
presenciais, eles representam 60% , o que adicionado aos 40% da 
média de frequência, determinam a nota final com a qual o 
estudante conclui a cadeira. 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de: (a) admissão ao 
exame, (b) nota de exame e, (c) conclusão do módulo. 
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 
(dois) testes escritos e 1 (um) exame escrito. 
Não estão previstas quaisquer avaliação oral. 
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão 
utilizadas como ferramentas de avaliação formativa. 
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em 
consideração: a apresentação; a coerência textual; o grau de 
cientificidade; a forma deconclusão dos assuntos, as 
recomendações, a indicação das referências utilizadas, o respeito 
pelos direitos do autor, entre outros. 
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. 
Consulte-os. 
Alguns feedbacks imediatos estão apresentados no manual. 
 12 Unidade 
 
Unidade N0 01-A0010 
Tema: Introdução à Filosofia 
Introdução 
A Filosofia é uma disciplina que está presente em todos os 
tempos e lugares. Desde a antiguidade foi considerada a mãe de 
todas as ciências, pois ela busca a verdade na sua totalidade. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer a origem do termo Filosofia; 
 Conhecer o conceito, método, objectivo e objecto de estudo da 
Filosofia; 
 Conhecer as Funções da Filosofia. 
 
 
Sumário 
O termo “filosofia” é composto de dois termos gregos: phílos, 
que significa amigo de, amante de, afeiçoado a, que gosta de, que 
tem gosto em, que se compraz em, que busca com afã, que 
anseia, etc., e sophía, que significa sabedoria, saber, ciência, 
conhecimento, etc. Assim pois, etimologicamente, o termo 
filosofia significa: amor à sabedoria, gosto pelo saber. 
Filósofo é aquele que ama o saber, tem gosto pela sabedoria, 
conhecimento e busca incansavelmente os conhecimentos de 
forma radical, profunda e total. 
Origem do termo “filosofia” 
O termo filosofia nasceu no “círculo socrático”, quer dizer, no 
círculo de Sócrates e dos discípulos dele, ou talvez antes ainda 
no “círculo pitagórico”, quer dizer, no círculo de Pitágoras e dos 
seus discípulos. 
Eram chamados de “filósofos” os homens que buscavam a 
“sabedoria suprema”, quer dizer, “a sabedoria última e radical 
 Introdução à Filosofia 13 
 
da vida e das coisas”, ou seja, o saber que busca a dimensão 
última e radical da vida e das coisas. 
O que é filosofia? 
Segundo a tradição, o criador do termo filosofia foi Pitágoras, o 
que, embora não sendo historicamente seguro, no entanto é 
verossimível. O termo certamente foi cunhado por um espírito 
religioso, que pressupunha só ser possível aos deuses uma sofia 
(sabedoria) ou seja, uma posse certa e total do verdadeiro, uma 
contínua aproximação ao verdadeiro, um amor ao saber nunca 
saciado totalmente, de onde, justamente, o nome, filosofia, ou 
seja, “amor pela sabedoria”. 
O Homem é naturalmente filósofo, isto é, “amigo da sabedoria”. 
Ávido de saber, não se contenta em viver o momento presente e 
aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência 
imediata, como acontece com os animais. Em seu olhar 
interrogativo quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o 
porquê da própria vida. 
No decorrer da história da filosofia, foi assumindo várias 
definições, de acordo com o filósofo e o tempo em que se 
encontrasse. Assim, Aristóteles (384-322 a.C) define filosofia 
como sendo a disciplina que estuda “as causas últimas de todas 
as coisas”; Cícero (106-46 a.C) define a filosofia como sendo “o 
estudo das causas humanas e divinas das coisas”; Descartes 
(1596-1650) afirma que filosofia “ensina a bem raciocinar”; 
Hegel (1770-1831) concebe a filosofia como “saber absoluto”. 
Whitehead (1861-1947) julga que a tarefa da filosofia é “fornecer 
uma explicação orgânica do universo”. 
Dentre as várias definições acima apresentadas, podemos 
concluir que a filosofia não estuda uma única realidade, mas 
várias. Assim, podemos levantar a seguinte pergunta: qual é o 
objecto de estudo da filosofia? No entender dos filósofos, a 
filosofia estuda tudo, ou seja, a filosofia pretende explicar a 
totalidade das coisas, toda a realidade, sem exclusão de partes 
ou momentos delas. Assim, a filosofia distingue-se das ciências 
particulares, que assim se chamam exactamente porque se 
limitam a explicar partes ou sectores da realidade, grupos de 
coisas ou de fenômenos. E a pergunta levantada pelos primeiros 
filósofos foi: “Qual é o príncípio de todas as coisas?” Esta 
pergunta já mostra a perfeita consciência desse ponto. 
No que se refere ao método, a filosofia recorre ao método 
racional. Mas os métodos racionais são múltiplos, e os mais 
importantes são indução e a dedução. A filosofia utiliza ambos: a 
indução para ascender dos factos aos princípios primeiros e a 
dedução para descer de novo dos primeiros princípios e iluminar 
posteriormente os factos, para compreendê-los melhor. O que 
vale em filosofia é a razão, a motivação lógica, o logos. 
Por último, o objectivo ou fim da filosofia está no puro desejo de 
conhecer e contemplar a verdade. Ela tem como objectivo único 
o conhecimento; tem em vista simplesmente pesquisar a verdade 
em si mesma, prescindindo de eventuais utilizações práticas. A 
 14 Unidade 
 
filosofia tem um objectivo puramente teórico, ou seja, 
contemplativo. 
Funções da Filosofia 
A principal função para a Filosofia não seriam os conhecimentos 
(que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias 
(que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral e 
ético. A Filosofia seria a arte de bem-viver. Estudando as paixões 
e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a 
capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos 
e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na 
companhia dos outros seres humanos e na virtude, que é o 
princípio de bem-viver. 
A Filosofia permite ao Homem ter mais de uma dimensão, além 
da que é dada pelo agir imediato, no qual o Homem “prático” se 
encontra mergulhado. É a Filosofia que dá o distanciamento para 
avaliação dos fundamentos dos actos humanos e dos fins a que 
eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e a 
reconstrói na sua unidade; retoma a acção pulverizada no tempo e 
procura compreendê-la. 
Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, 
ou seja, a capacidade que só o Homem tem de superar a situação 
dada e não escolhida. Pela transcendência o ser humano surge 
como ser de projecto, capaz de liberdade e de construir o seu 
destino. 
A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas 
feitas e impede a estagnação. Por isso, o filosofar sempre se 
confronta com o poder, e sua investigação não fica alheia à ética 
e à política. A filosofia é crítica da ideologia, enquanto forma 
ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios. 
Karl Jaspers diz-nos que a Filosofia ensina, pelo menos, a não 
nos deixarmos iludir. Não permite que se descarte facto algum e 
nenhuma possibilidade. Ensina a enfrentar de frente a catástrofe 
possível. Em meio à serenidade do mundo, ela faz surgir a 
inquietude, mas proíbe a atitude tola de considerar inevitável a 
catástrofe. Com efeito, só ela tem o poder de alterar nossa forma 
de pensamento. 
Finalmente, a filosofia exige coragem. Filosofar não é um 
exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a 
coragem de enfrentar as formas estagnadas de poder que tentam 
manter o status quo, é aceitar o desafio da mudança. Lembremo-
nos que Sócrates foi aquele que enfrentou o dasafio máximo da 
morte. 
 Introdução à Filosofia 15 
 
Exercícios 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Qual é a origem e o conceito etimológico da palavra “Filosofia”. 
Resposta: A palavra “Filosofia” é de origem grega e divide-se em 
duas partes, que são: filos, que significa amigo, amor, gosto, 
afeicção e, sofia que significa sabedoria, conhecimento, ciência. 
Desse modo, Filosofia, significa: amor à sabedoria; gosto pelo saber 
ou pelo conhecimento, e, Filósofo é aquele que ama o saber, ou seja, 
busca incansavelmente os conhecimentos. 
2- Apresente o método, objecto e objectivos de estudo da Filosofia. 
Resposta: A Filosofia recorre ao método puramente racional; o seu 
objecto de estudo é toda a realidade e tem como objectivo o desejo 
de conhecer e contemplar a verdade. 
 
 
 
 
 16 Unidade 
 
Unidade N0 02-A0010 
Tema: Atitude filosófica 
Introdução 
Umas das atitudes do ser humano diante da realidade que o 
rodeia consiste na admiração.Pela admiração, o homem formula 
perguntas para encontrar a solução de suas inquietações. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer as atitudes filosóficas; 
 Conhecer as disciplinas auxiliares da Filosofia; 
 Diferenciar a Filosofia das outras ciências. 
 
Sumário 
Entre os antigos gregos predominava inicialmente a consciência 
mítica, cuja maior expressão se encontra nos poemas de Homero 
e Hesíodo. Quando se dá a passagem da consciência mítica para a 
racional, aparecem os primeiros sábios, um deles chamado 
Pitágoras (séc. VI a.C.), que também era matemático e usou pela 
primeira vez a palavra filosofia. 
O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isso não 
significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem que ela 
constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com 
determinado conteúdo, ou seja, um conjunto de conhecimentos 
estabelecidos de uma vez por todas. 
Para Platão (427-347 a.C), a primeira atitude do filósofo é 
admirar-se. A admiração é a condição de onde deriva a 
capacidade de problematizar, o que marca a Filosofia não como 
posse da verdade, mas como sua busca. 
Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, “não há filosofia 
que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar”. Isto 
significa que a filosofia é, sobretudo, uma atitude, um pensar 
permanente. É um conhecimento instituinte, no sentido de que 
questiona o saber instituído. 
 Introdução à Filosofia 17 
 
A atitude filosófica possui algumas características que são as 
mesmas, independentemente do conteúdo investigado, que são: 
- Perguntar o que a coisa, ou o valor, a idéia, é. A Filosofia 
pergunta qual é a realidade ou a natureza e qual é o significado de 
alguma coisa, não importa qual; 
- Perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A filosofia 
pergunta qual é a estrutura e quais são as relações que constituem 
uma coisa, uma idéia ou um valor; 
- Perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. 
A filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de 
uma idéia, de um valor. 
A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas perguntas ao mundo 
que nos rodeia e as relações que mantemos com ele. Aos poucos, 
porém, descobre que essas questões se referem, afinal, a nossa 
capacidade de conhecer e de pensar. 
Por isso as perguntas de Filosofia se dirigem ao próprio 
pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? 
A Filosofia torna-se então, o pensamento interrogando-se a si 
mesmo. Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si 
mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão. 
Disciplinas auxiliares da Filosofia 
Dentre as várias disciplinas auxiliares da Filosofia, passamos a 
enumerar as seguintes: Psicologia experimental, Lógica, Ética, 
Estética, Teoria do Conhecimento, Metafísica, Antropologia 
filosófica, Filosofia Politica, filosofia do Direito, filosofia da 
religião, ... 
Filosofia e outras Ciências 
No seu começo a ciência estava ligada à Filosofia, sendo o 
filósofo, o sábio que reflectia sobre todos os sectores da 
indagação humana. Nesse sentido os filósofos como Tales, 
Pitágoras, eram também geómetras, e Aristóteles escreveu sobre 
física e astronomia. 
Ora, apesar da separação entre a Filosofia e a ciência, aquela não 
deixou de ser uma ciência, porque se preocupa a investigar as 
causas primeiras e finais de toda a realidade. A filosofia 
distingue-se de outras ciências pelas seguintes razões: 
Pela profundidade da investigação: enquanto a ciência procura 
as causas próximas imediatas da s coisas, a Filosofia procura as 
causas últimas e finais das coisas; 
Pela reflexão crítica: enquanto a ciência pressupõe reflexão e 
crítica, a Filosofia põe em questão tudo o que se apresenta ao 
espírito para examinar, discutir, avaliar e descobrir o seu 
significado, inclusive o da própria ciência; 
 18 Unidade 
 
Pelo grau de generalidade e síntese: a ciência limita-se à 
realidade dos factos e ocupa-se dos fenómenos, enquanto que a 
Filosofia procura dar unidade total ao saber e pretende penetrar 
na realidade global; 
Pela humanidade e valorização: a ciência ocupa-se em geral, da 
realidade estranha ao homem, enquanto que a Filosofia é 
essencialmente humana e axiológica, ou seja, ela dá valor à acção 
e a existência humana. 
Se a ciência tende cada vez mais a especialização, a Filosofia, no 
sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o 
homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à 
alienacão do poder parcelado. Por isso a filosofia tem uma função 
de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas 
formas do saber e do agir. 
A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda 
seu objecto: em todos os sectores de conhecimento e da acção, a 
filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos 
fundamentos desse conhecimento e desse agir. 
Portanto, a Filosofia não faz juízos da realidade, como a ciência, 
mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência vivida do 
homem trabalhando na linha de montagem, repetindo sempre o 
mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como 
é, mas como deveria ser. Julga o valor da acção, sai em busca do 
significado dela. Filosofar é dar sentido à experiência. 
 
 Introdução à Filosofia 19 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Qual é o motivo que levou Platão(427-347 a.C) a concluir 
que admiração era a primeira atitude do filósofo? 
Resposta: Porque a admiração é a condição de onde deriva a 
capacidade de problematizar, o que a faz a filosofia não como 
posse da verdade, mas como sua busca. 
2- Qual é a diferença existente entre a filosofia e outras 
ciências? 
Resposta: A ciência busca a especialização e a filosofia quer 
superar a fragmentação do real, para que o Homem seja 
resgatado na sua integridade; a filosofia tem uma função de 
interdisciplinaridade, estabelecendo o elo de ligação entre as 
diversas formas do saber e do agir; a filosofia se distingue 
ainda da ciência pelo modo de abordar o seu objecto. A 
filosofia está sempre presente em todos sectores de 
conhecimento e da acção como reflexão crítica a respeito dos 
fundamentos desse conhecimento e agir. 
 
 
 
 
 
 20 Unidade 
 
Unidade N0 03-A0010 
Tema: Breve contextualização 
histórica da Filosofia 
Introdução 
Os primeiros filósofos da humanidade foram os gregos. Isso 
significa que, embora tenhamos referências de grandes homens 
na China (Confúcio, Lao Tsé), na Índia (Buda), na Pérsia 
(Zaratustra), suas teorias ainda estão por demais vinculadas à 
religião para que se possa falar propriamente em reflexão 
filosófica. 
Neste tema veremos o processo pelo qual se tornou possível a 
passagem da consciência mítica para a consciência filosófica na 
civilização grega, constituída por diversas regiões politicamente 
autónomas. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Compreender a passagem da Filosofia da fase mítica para a fase 
racional. 
 As condições que levaram o surgimento da Filosofia. 
 As fases ou etapas da Filosofia Clássica. 
 
Sumário 
No período arcaíco surgiram os primeiros filósofos gregos, por 
volta de fins do século VII a. C. e durante o século VI a.C. 
alguns autores costumam chamar de “milagre grego” a passagem 
do pensamento mítico para o pensamento crítico racional e 
filosófico. 
O surgimento da racionalidade crítica foi o resultado de um 
processo lento, preparado pelo passado mítico, cuja 
características não desapareceram na nova abordagem filosófica 
do mundo, ou seja, o surgimento da filosofia na Grécia não é o 
resultado de um salto, um “milagre”, realizado por um povo 
privilegiado, mas a culminação de um processo que se fez através 
dos tempos e tem sua dívida com o passado mítico. 
 Introdução à Filosofia 21 
 
Algumas novidades surgidas no período arcaíco ajudaram a 
transformar a visão que o homem mítico tinha do mundo e de si 
mesmo. São elas:a invenção da escrita, o surgimento da moeda, 
a lei escrita, o nascimento da polis (cidade-estado), todas elas 
contribuiram para o surgimento da filosofia. 
Etapas da Filosofia Grega Clássica 
No decorrer dos séculos, a Filosofia teve um conjunto de 
preocupações, perguntas e interesses que lhe vieram de 
nascimento na Grécia. Para isso, devemos primeiro conhecer os 
principais períodos da Filosofia grega que definiram os campos 
de investigação filosófica na Antiguidade. A história da Grécia 
costuma ser dividida pelos historiadores em quatro fases ou 
épocas: 
a) a da Grécia Homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo 
poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisséia; 
 
b) a da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V a. 
C, quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Mégara, 
Samos, etc., e predomina a economia urbana, baseada no artesanato e no 
comércio; 
 
c) a da Grécia clássica, nos séculos V e IV a. C, quando a democracia 
se desenvolve, a vida intelectual e artística no apogeu e Atenas domina a 
Grécia com seu império comercial e militar; 
 
d) a helenística, a partir do final do século IV a. C., quando a Grécia 
passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois, 
para as mãos do Império Romano, terminando a história de existência 
independente. 
Os períodos da filosofia não correspondem exactamente a essas 
épocas, já que ela não existe na Grécia Homérica, e só aparece 
nos meados da Grécia arcaíca. O apogeu da Filosofia acontece 
durante o apogeu da cultura e da sociedade gregas; portanto, 
durante a Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da 
Filosofia grega, nos quais seu conteúdo muda e se enriquece são: 
Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII 
ao final do século V a. C., quando a Filosofia se ocupa 
fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das 
transformações na Natureza. 
Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo 
o século IV a. C., quando a Filosofia investiga as questões 
humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas ( em grego, 
antropos quer dizer homem; por isso o período recebeu o nome 
de antropológico). 
Período sistemático, do final do século IV ao final do século III . 
C., quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi 
pensado sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se 
sobretudo em mostrar que tudo pode ser objecto de conhecimento 
filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas 
 22 Unidade 
 
demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os 
critérios da verdade e da Ciência. 
Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a. 
C. até o século VI depois de Cristo. Nesse longo período, que já 
alcança Roma e o pensamento dos Padres da Igreja, a Filosofia se 
ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento 
humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos 
com Deus. 
 Introdução à Filosofia 23 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Como foi feita a passagem da concepção mítica para a 
racionalidade? 
Resposta: A passagem da concepção mítica para a racionalidade 
foi o resultado de um processo lento, cujas características não 
desapareceram na nova abordagem filosófica do mundo, ou seja, 
a passagem da concepção mítica para a racionalidade não é o 
resultado de um salto, um “milagre”, realizado por um povo 
privilegiado, mas a culminação de um processo que se fez através 
dos tempos e tem sua dívida com o passado mítico. 
2- Apresente as condições que teriam contribuído para o 
surgimento da Filosofia. 
Resposta: As condições que teriam contribído para o surgimento 
da Filosofia são: a invenção da escrita, o surgimento da moeda, a 
lei escrita e o nascimento da polis (cidade-estado). 
3- Quais são as fases ou etapas que caracterizaram a Filosofia 
grega? 
Resposta: As fases ou etapas que caracterizaram a Filosofia grega são 
as seguintes: 
 
Primeira etapa: Grécia Homérica - correspondente aos 400 anos 
narrados pelo poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e 
Odisséia; 
 
 
Segunda etapa: Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao 
século V a. C - quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, 
Tebas, Mégara, Samos, etc., e predomina a economia urbana, baseada no 
artesanato e no comércio; 
 
Terceira atapa: Grécia clássica, nos séculos V e IV a. C - quando a 
democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística no apogeu e 
Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar; 
 
Quarta: Helenística, a partir do final do século IV a. C. - quando a 
Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia e, 
depois, para as mãos do Império Romano, terminando a história de 
existência independente. 
 
 
 
 
 
 24 Unidade 
 
Unidade N0 04-A0010 
Tema: A Pessoa Humana 
Introdução 
Costuma-se dar um nome compreensível à singularidade do ser 
humano: diz-se que o Homem, ao contrário das outras coisas que 
o circundam, é uma pessoa. Muitos filósofos fizeram da pessoa o 
epicentro de suas reflexões, dando origem à uma visão filosófica 
que recebeu o nome de personalismo. O problema da pessoa é 
estudado pelos psicólogos, psicanalistas, educadores políticos e 
jurístas. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer os diferentes conceitos de Pessoa de acordo com vários 
filósofos. 
 Conhecer a relação da pessoa com Deus, consigo mesmo, com o 
mundo e com o trabalho. 
 
Sumário 
Os estudiosos estão de acordo em reconhecer que o conceito de 
pessoa é estranho à Filosofia grega. Com efeito, o conceito de 
pessoa, acentua a singularidade, a individualidade, o concreto, 
enquanto que a filosofia grega dá importância só ao universal, ao 
ideal e ao abstracto. O singular, o individuo, o concreto, para o 
pensamento grego tem valor provisório, como momentânea 
fenomenização da espécie universal, ou então como instante 
transitório do grande ciclo, que tudo compreende da história. 
Uma memorável definição da pessoa, a mais célebre de todas, 
muito completa e precisa do ponto de vista ontológico deixou-nos 
Severino Boécio e diz o seguinte: “Pessoa é uma substância 
individual de natureza racional”. 
Para S. Tomás de Aquino: “Pessoa significa o que de mais 
nobre há no universo, isto é, o subsistente de uma natureza 
racional”. 
 Introdução à Filosofia 25 
 
Para Kant, “os seres humanos são chamados pessoas porque a 
sua natureza os distingue já como fins em si…o homem e em 
geral cada ser racional, existe como fim em si e não como um 
meio de que esta ou aquela vontade pode servir-se ao seu bel-
prazer”. 
Paul Ricoeur concebe a pessoa como um projecto da 
humanidade, a qual por sua vez é assim definida: “a humanidade 
é o modo de ser sobre a qual deve regular-se cada aparição 
empírica do que nós chamamos de ser humano”. 
Para Scheler, “a pessoa é antes a unidade, imediatamente vivida 
pelo vivente espiritual e não uma coisa pensada atrás e fora do 
imediatamente vivido”. A pessoa é a unidade essencial concreta 
do ser de actos de essências diferentes, que em si mesma precede 
todas as diferenças de actos. 
Romano Guardini elaborou um conceito de pessoa em que são 
fundidos habilmente os elementos mais característicos da 
concepção clássica e da moderna: a substancialidade, 
individualidade, a incomunicabilidade e a autoconsciência. A sua 
definição diz: “A pessoa é a forma da individualidade enquanto 
é determinada pelo espírito”. 
Assim, a pessoa significa que eu, no meu ser, em definitivo não 
posso ser possuido por nenhuma outra instância, mas que me 
pertenço; pessoa significa, que eu não posso ser habitado por 
nenhum outro, mas que, em relação à mim, estou só comigo 
mesmo; não posso ser representado por nenhum outro, mas eu 
respondo por mim mesmo; não posso ser substituído por nenhum 
outro, mas sou único. 
A interioridade da vida, o saber, o querer, o agir, o criar do 
espírito,etc., tudo isso não é ainda pessoa; pessoa significa que 
tudo isso, o Homem está em si mesmo. 
O fundamento último da personalidade é dado à seu juízo, pela 
autonomia no ser por parte de uma realidade racional, ou seja, 
pela posse de um próprio acto de ser: graças à tal posse, a 
realidade humana torna-se completa em si mesma, e não pode 
mais ser comunicada e associada a outros. Quando um acto de 
ser, próprio e proporcionado a uma certa essência particular ou 
substância individual intelectiva, a faz existir por si e em si, por 
isso mesmo é incomunicada e incomunicável, é pessoa. 
A pessoa quer dizer antes de tudo, autonomia de ser, domínio de 
si mesmo, inviolabilidade, individualidade, incomunicabilidade, 
unidade. O homem é pessoa porque é dotado de um modo de ser 
que supera nitidamente o modo de ser das plantas e dos animais. 
A Pessoa em suas relações 
Soren Kierkegaard (1813 – 1855), é um dos filósofos que 
procurou analisar os problemas da relação existencial do homem 
com o mundo, consigo mesmo e com Deus. 
 26 Unidade 
 
A relação do homem com o mundo - outros seres humanos e na 
natureza - são dominadas pela angústia. A angústia é entendida 
como o sentimento profundo que temos ao perceber a 
instabilidade de viver num mundo de acontecimentos possíveis, 
sem garantia de que nossas expectativas sejam realizadas. “No 
possível, tudo é possível”, escreve Kierkegaard. Assim, vivemos 
num mundo onde tanto é possível a dor como o prazer, o bem 
como o mal, o amor como o ódio, o favorável como o 
desfavorável. 
A relação do homem consigo mesmo é marcada pela inquietação 
e pelo desespero. Isso acontece por duas razões: ou porque o 
homem nunca está plenamente satisfeito com as possibilidades 
que realizou, ou porque não conseguiu realizar o que pretendia, 
esgotando os limites do possível e fracassando diante de suas 
expectativas. 
A relação do homem com Deus seria talvez a única via para a 
superação da angústia e do desespero. Contudo, é marcado pelo 
paradoxo de ter de compreender pela fé o que é incompreensível 
pela razão. 
O trabalho 
O termo trabalho vem do latim tripalium, que significa um 
instrumento de tortura feito de três paus. 
O trabalho é toda actividade no qual o ser humano utiliza sua 
energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para 
atingir um determinado fim. 
Por intermédio do trabalho, o homem acrescenta um “mundo 
novo” ( a cultura) ao mundo natural já existente. 
O trabalho é, portanto, elemento essencial da relação dialéctica 
entre o homem e a natureza, entre o saber e o fazer, entre a teoria 
e a prática. 
Nesse sentido, o trabalho é uma actividade tipicamente humana, 
porque implica a existência de um projecto mental que determina 
a conduta a ser desenvolvida para se alcançar um objectivo 
almejado. Pelo trabalho, o homem é capaz de expandir suas 
energias, desenvolver sua criatividade e realizar suas 
potencialidades; pelo trabalho o ser humano é capaz de moldar a 
natureza e, ao mesmo tempo, transformar a si próprio. Ou seja, 
trabalhando podemos transformar o mundo e a nós mesmos. 
Em seu aspecto social, isto é, como esforço conjunto dos 
membros de uma comunidade, o trabalho teria como objectivos 
últimos a manutenção da vida e o desenvolvimento da sociedade. 
Assim dentro da visão positiva, o trabalho poderia promover a 
realização do indivíduo, a edificação da cultura e a solidariedade 
entre os homens. 
 Introdução à Filosofia 27 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Qual é o conceito de pessoa segundo Severino Boécio? 
Resposta: Segundo Severino Boécio, a “Pessoa é uma substância 
individual de natureza racional”. 
2- Qual é a relação da Pessoa com outros e com a natureza, 
consigo mesmo, com Deus e com o trabalho? 
Resposta: A relação da pessoa com os outros e com a natureza é 
dominada pela angústia; a relação consigo mesma é marcada pela 
inquietação e desespero; com Deus é marcada pela superação da 
angústia e desespero. Porém, esta relação é marcada pelo paradoxo 
de ter de compreender pela fé o que é incompreensível pela razão e, 
pelo trabalho, o homem é capaz de expandir suas energias, 
desenvolver sua criatividade e realizar suas potencialidades; pelo 
trabalho o ser humano é capaz de moldar a natureza e, ao mesmo 
tempo, transformar a si próprio. Ou seja, trabalhando podemos 
transformar o mundo e a nós mesmos. 
 
 
 
 28 Unidade 
 
Unidade N0 05-A0010 
Tema: A consciência moral 
Introdução 
O homem é o único animal consciente de suas acções. A 
consciência é o conhecimento que acompanha as nossas 
vivências; é um conhecimento (das coisas e de si) e um 
conhecimento desse conhecimento (reflexão). 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Explicar o conceito de consciência moral em diferentes perspectivas; 
 Conhecer os graus da consciência moral; 
 Diferenciar a ética da moral. 
Sumário 
A consciência pode ser definida na perspectiva psicológica, ético 
e moral, política e na da teoria de conhecimento. 
Na perspectiva psicológica, a consciência é um sentimento de 
nossa própria identidade: é o eu, um fluxo temporal de estados 
corporais e mentais, que retém o passado na memória, percebe o 
presente pela atenção e espera o futuro pela imaginação e pelo 
pensamento. O eu é o centro ou a unidade de todos esses estados 
psíquicos. A consciência psicológica é formada por nossas 
vivências. 
Na perspectiva ético e moral, a consciência é a espontaneidade 
livre e racional, para escolher, deliberar, e agir conforme à 
liberdade aos direitos alheios e deveres. É a pessoa dotada de 
vontade livre e de responsabilidade. É a capacidade para 
compreender e interpretar sua situação e condição (física, mental, 
social, cultural, histórica), viver na companhia dos outros 
segundo as normas e os valores morais definidos por sua 
sociedade, agir tendo em vista fins escolhidos por deliberação e 
decisão, realizar as virtudes e, quando necessário, contrapôr-se e 
opôr-se aos valores estabelecidos em nome de outros, 
considerados mais adequados à liberdade e à responsabilidade. 
 Introdução à Filosofia 29 
 
Na perspectiva política, a consciência é o cidadão, isto é, tanto o 
indivíduo situado no tecido das relações sociais, como portador 
de direitos e deveres, relacionando-se com a esfera pública de 
poder e das leis, quando o membro de uma classe social, definido 
por sua situação e posição nessa classe, é portador e defensor de 
interesses específicos de seu grupo ou de sua classe, 
relacionando-se com a esfera pública do poder e das leis. 
Na perspectiva da teoria de conhecimento, a consciência é uma 
actividade sensível e intelectual dotada de poder de análise, 
síntese e representação. É o sujeito, que se reconhece como 
diferente dos objectos, cria e descobre significações, institui 
sentidos, elabora conceitos, idéias, juízos e teorias. É dotado de 
capacidade de conhecer à si mesmo no acto de conhecimento, ou 
seja, é capaz de reflexão. É saber de si e saber sobre o mundo, 
manifestando-se como sujeito que percebe, imagina, memoriza, 
fala e pensa. 
A consciência moral (pessoa) e a consciência política (o cidadão) 
formam-se pelas relações entre as vivências do eu e os valores e 
as instituições de sua sociedade ou de sociedade ou de sua 
cultura. São as maneiras pelas quais nos relacionamos com os 
outros por meio de comportamentos e práticas determinadas 
pelos códigos morais (que definem deveres, obrigações, 
virtudes), e políticos (que definem direitos, deveres e instituições 
colectivas públicas), a partir do modo como uma cultura e uma 
sociedade definem o bem e o mal, o justo e o injusto, o legítimo 
e o ilegítimo, o legal e o ilegal, o privado e o público. O eu é uma 
vivência e uma experiência que se realiza por comportamentos; a 
pessoa e o cidadão são consciência como agente (moral e 
político), como práxis. 
Em sua essência, a consciência é um vazio, um nada, um silêncio 
que nos possibilita sentire escutar, reflectir e querer. Nela 
ouvimos a voz do nosso ser. Na vida familiar, a consciência é 
considerada apenas uma vivência. 
Platão definiu a consciência como o “diálogo da alma consigo 
mesma”. A alma interroga a si mesma sobre que relação e 
compromisso tem ela com essa outra realidade, que se dá a 
conhecer no íntimo diálogo consigo mesma. 
 
Graus da consciência 
Distinguem-se três graus da consciência: 
1. Consciência passiva: aquela na qual temos uma vaga e 
uma confusa percepção de nós mesmos e do que se passa à nossa 
volta, como no devaneio, no momento que precede o sono ou o 
despertar, na anestesia, e sobretudo, quando somos muito criança 
ou muito idosos. 
 
2. Consciência vivida, mas não reflexiva: é nossa 
consciência afectiva, que tem a peculiaridade de ser egocêntrica, 
isto é, de perceber os outros e as coisas apenas a partir de nossos 
sentimentos com relação à elas, como por exemplo, a criança que 
 30 Unidade 
 
bate numa mesa ao tropeçar nela, julgando que a “mesa faz de 
propósito para machucá-lo”. Nesse grau de consciência não 
conseguimos superar o eu e o outro, o eu e as coisas. É típico por 
exemplo, das pessoas apaixonadas, para as quais o mundo existe 
a partir de seus sentimentos de amor, ódio, cólera, alegria, 
tristeza, etc. 
 
 
3. Consciência activa e reflexiva: aquela que reconhece a 
diferença entre interior e o exterior, entre si e os outros, entre si e 
as coisas. Esse grau de consciência é o que permite a existência da 
consciência em suas quatro modalidades, que são: o eu, a pessoa, 
o cidadão e o sujeito. 
 
 
Ética e moral 
A palavra ética vem do grego, ethos, que significa costume. É a 
ciência que tem por objecto o fim da vida humana e os meios 
para alcançá-los. Historicamente, a palavra ética foi aplicada à 
moral sob todas as suas formas, quer como ciência do 
comportamento efectivo dos homens, quer como arte de guiar o 
comportamento. Propriamente a ética deveria ocupar-se do bem 
como valor primário e ser assumido pela liberdade como guia das 
próprias escolhas. 
A palavra moral vem do latim, mores, que significa hábitos. 
Ética e moral, possuem com efeito, acepções muito próximas 
uma da outra; se o termo ética é de origem grega, e a moral, de 
origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos, à ideia de 
costumes, de hábitos, de modos de agir determinados pelo uso. 
Portanto, a grande distinção entre ética e moral está no facto de 
que a primeira é mais teórica, pretende-se mais voltada à uma 
reflexão sobre os fundamentos que esta última. A ética se esforça 
por desconstruir as regras de conduta que forma a moral, os 
juízos do bem e do mal que se reúnem no seio desta última. 
A ética desígna uma “metamoral”, uma doutrina que se situa 
além da moral, uma teoria raciocinada sobre o bem e o mal, os 
valores e os juízos morais. 
Em suma, a ética desconstrói as regras de conduta, desfaz suas 
estruturas e desmonta sua edificação, para se esforçar em descer 
até os fundamentos ocultos da obrigação. Diversamente da moral, 
ela se pretende pois desconstrutora e fundadora, enunciadora dos 
prícipios ou de fundamentos últimos. 
 
 
 Introdução à Filosofia 31 
 
Exercícios 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- O que é a consciência na perspectiva Platónica? 
Resposta: Para Platão, a consciência é o diálogo da alma consigo 
mesma. A alma interroga a si mesma sobre que relação e 
compromisso ela tem com a outra realidade, que se dá a 
conhecer no íntimo diálogo consigo mesma. 
2- Indique os graus da consciência moral. 
Resposta: Os graus da consciência moral são: consciência 
passiva, consciência vivida, mas não reflectida e a consciência 
activa e reflexiva. 
 
 32 Unidade 
 
Unidade N0 06-A0010 
Tema: Aspectos da ética 
individual 
Introdução 
A pessoa humana em sua acção exige-se que seja responsável e 
livre de todas as suas escolhas e opções. Ao ser acusado e julgado 
pelo que assume de forma livre e responsável, exige-se que seja 
feita a justiça e sejam tomadas as sansões. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer e diferenciar os elementos da ética individual; 
 Conhecer os princípios da Justiça em John Rawls. 
 
Sumário 
A palavra liberdade, etimologicamente significa: isenção de 
qualquer coação ou negação de determinação para uma coisa. 
Pode-se entender como a faculdade de fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa. Ela tem sido entendida como a possibilidade de 
autodeterminação e de escolha, acto voluntário, espontaneidade, 
indeterminação, ausência de interferências, libertação de 
impedimentos, realização de necessidades, direcção prática para 
uma meta , ideal de maturidade, autonomia sapiencial ética, razão 
de ser da própria moralidade. 
A liberdade pode ser definida em dois sentidos imediatos: no 
nosso cotidiano e na linguagem filosófica. 
No nosso cotidiano, invocamos constantemente a palavra 
liberdade para reivindicar liberdade de opinião, de reunião, de 
livre circulação, considerando-se nesse sentido comum, a 
liberdade como ausência de constrangimentos externos; 
 Introdução à Filosofia 33 
 
Na linguagem filosófica, referimo-nos à liberdade em termos 
absolutos e, neste sentido, à um poder de agir independentemente 
de quaisquer obstâculos ou determinismos. Ora, as escolhas do 
ser humano exercem-se num campo onde há tendências e 
limitações de vária ordem (biológica, psicológica e sociológica), 
e apesar disso são livres porque conseguem superar 
racionalmente esses obstâculos que acabam por se transformar 
em força impulsionadora. 
 
Responsabilidade 
A palavra responsabilidade, deriva etimologicamente do latim 
respondere, que significa responder pelos próprios actos e ter a 
obrigação de prestar contas pelos actos praticados perante a nossa 
consciência e perante outras pessoas e a sociedade. 
A pessoa é moralmente responsável quando age livremente, isto 
é, na ausência de qualquer forma de constrangimento; quando se 
está plenamente consciente das intenções e das consequências de 
nossa acção, e quando, estando consciente da intenção, da acção 
e do seu efeito, se quer a sua realização. 
A responsabilidade pode assumir diferentes formas, que são: 
Responsabilidade civil: refere-se ao compromisso de ter de 
responder perante a autoridade social e a lei jurídica pelas 
consequências e implicações de nossos actos em relação à 
terceiros; 
Responsabilidade moral: refere-se à obrigação de responder 
perante nós mesmos, perante a nossa consciência, pela intenção 
dos nossos actos. 
O dever 
O dever pode ser entendido como um imperativo, isto é, como 
uma ordem a que o indivíduo se terá de submeter e que assume 
duas dimensões, que são as seguintes: 
Dimensão subjectiva: que traduz o sentimento de respeito devido 
à lei imposta pela consciência moral; 
Dimensão objectiva: que traduz uma obrigação de submissão e 
acatamento dessa lei. 
A Justiça 
As palavras hebraicas bíblicas que significam justiça (tzedek, 
tzedaká, mishpat) possuem muitas tonalidades de sentido (justiça, 
rectidão, bom comportamento, lealdade, integridade, etc). A 
palavra tzedaká veio a significar também bondade e, daí, 
caridade, sendo não raro discutível, por isso, a acepção em que os 
vários contextos bíblicos aplicam tais termos. 
Por justiça tem-se geralmente entendido a vontade firme e 
constante de reconhecer e atribuir o que é devido aos outros. 
Trata-se de uma virtude cardeal, a par da prudência, da fortaleza 
 34 Unidade 
 
e da temperança. E trata-se também de um ideal, situado no plano 
axiológico dos padrões que iluminam o espírito dos homens e 
dão sentido à vida na tradição clássica, a justiça acaba por 
confundir-se com o direito. Assim, a palavra grega “dikaion” 
tanto exprime a idéia de direito como a de justo, ou a de justiça. 
A justiça é comumente dividida em retributiva e distributiva. 
Justiça distributiva: aquela parte da justiça que se preocupa com 
a justa distribuição de benefícios e sofrimentosdentro de uma 
sociedade. Na medicina (“quem recebe o que por quê”) que 
afectam toda a sociedade, bem como as questões de 
racionamento, que afectam paciêntes em particular ou grupos de 
pacientes em particular. 
Justiça retributiva: parte da teoria da justiça que considera a 
punição sob as bases do mero merecimento em vez de sob as 
bases de detenção ou reabilitação, baseada na ideia da 
compensação por um dano; baseada na ideia de “olho por olho, 
dente por dente”. 
John Rawls em sua obra Teoria da Justiça (1971), apresenta dois 
princípios de justiça: 
O primeiro princípio exige a igualdade das distribuições dos 
direitos e dos deveres básicos. Cada pessoa, diz-nos Rawls, tem 
um direito igual ao conjunto mais extenso de liberdades 
fundamentais, iguais para todos. 
O segundo princípio põe que as desigualdades sócio-econômicas 
são justas se produzem, em compensação, vantagens para cada 
um, se beneficiam os indivíduos menos favorecidos. Não há 
nenhuma injustiça em um pequeno número obter vantagens 
superiores à média, sob a condição de que seja melhorada a 
situação dos desfavorecidos. 
Uma sociedade justa, de acordo com a nossa concepção, seria 
aquela onde as pessoas pudessem melhorar suas posições por 
meio de trabalho ( com oportunidades de trabalho disponíveis 
para todos), mas elas não aproveitariam posições superiores 
simplesmente porque nasceram com sorte. 
 Introdução à Filosofia 35 
 
Exercícios 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Destaque os elementos da ética social. 
Resposta: Liberdade, responsabilidade, mérito, sansão, dever, 
justiça. 
2- Quando é que se diz uma pessoa agiu moralmente 
responsável? 
Resposta: Diz-se que uma pessoa agiu moralmente responsável 
quando age livremente, isto é, na ausência de qualquer forma de 
constrangimento; quando se está plenamente consciente das 
intenções e das consequências de nossa acção, e quando, estando 
consciente da intenção, da acção e do seu efeito, se quer a sua 
realização. 
3- Apresente os princípios de justiça em John Rawls. 
Resposta: Os princípios de justiça em John Rawls são: O primeiro 
princípio que exige a igualdade das distribuições dos direitos e 
dos deveres básicos e, o segundo princípio indica que as 
desigualdades sócio-econômicas são justas se produzem, em 
compensação, vantagens para cada um, se beneficiam os 
indivíduos menos favorecidos. 
 
 
 36 Unidade 
 
Unidade N0 07-A0010 
Tema: Acção Humana 
Introdução 
No contexto de uma Filosofia da Acção, o que se pretende é 
analisar a praxis humana, isto é, o modo como o ser humano 
actua enquanto tal, o que faz a diferença e a especificidade do seu 
comportamento. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer e diferenciar as palavras fazer e agir; 
 Conhecer e explicar os condicionantes da acção humana. 
Sumário 
Aristóteles, na ética e na Política, distinguia entre o fazer ou 
produzir (poiein) e o agir (praxein). Segundo ele: 
No fazer, a acção tem como finalidade dominar e organizar uma 
matéria exterior – produção técnica ou actividade centrada no 
objecto; 
No agir, a acção não tem como principal finalidade transformar 
uma matéria exterior, mas transformar o próprio agente, pois agir 
remete uma actividade centrada no sujeito ou no agente da acção. 
Apesar da diferença, o termo fazer continua ainda hoje a ser 
usado no domínio da actividade moral como sinónimo de agir, 
sendo por isso, que na linguagem cotidiana, se diz 
indiferentemente “fez bem” ou “agiu bem”. 
Contudo, para designar a actividade técnica, usamos o termo 
fazer e não dizemos que alguém “agiu uma casa ou um quadro 
ou um objecto de barro”. Nesse âmbito mantemo-nos à tradição 
aristotélica. 
 Introdução à Filosofia 37 
 
Agir é, pois, o termo usado para traduzir um determinado tipo de 
comportamento (intencional, consciente) e remete para uma rede 
de conceitos que aparecem interligados: agente, intenção e 
motivo. 
A acção reflecte um projecto, isto é, uma intenção do agente; 
supõe uma vontade, um querer e uma possibilidade de optar, isto 
é, de poder fazer ou poder não fazer algo; implica uma 
explicação ou justificação – um motivo ou razão de … 
Condicionantes da acção humana 
Contrariamente aos animais, sujeitos a um determinismo que os 
faz comportar-se de acordo com uma pré-programação biológica, 
o Homem é um ser com possibilidades de escolher e de decidir o 
que fazer de si mesmo e aberto em relação ao futuro. 
Na verdade, as suas características biológicas, as condições 
físicas de seu ambiente, as representações sociais, influênciam e 
condicionam a sua acção. O Homem toma-as como um conjunto 
de possibilidades e de alternativas que lhe são dadas para que, a 
partir delas, construa o seu ser e dê um sentido à própria vida. O 
ser humano possui um corpo, uma natureza biológica, que lhe dá 
um certo número de capacidades. 
As nossas características biológicas condicionam, naturalmente, a 
nossa acção, e é óbvio que os nossos hábitos e modos de agir 
dependem de aptidões que possuimos e que procuramos 
desenvolver e rentabilizar. 
As necessidades básicas ou primárias, tais como a necessidade 
de alimento, de água, de oxigênio e de repouso, determinam o 
próprio ritmo de nossas acções. 
Por outro lado, habitamos um determinado ambiente, um mundo 
de coisas e objectos materiais, recursos indispensáveis à nossa 
sobrevivência e a uma existência com qualidade. Os recursos e as 
matérias primas existentes numa determinada região, o clima e 
as outras condições ambientais, condicionam até hoje, o tipo de 
actividade produtiva, os costumes, as crença, os valores sociais, 
religiosos, estéticos, etc. 
O Homem, porém, vive inserido num meio sócio-cultural, que 
também condiciona o seu modo de agir e diversifica as formas de 
satisfação das suas necessidades básicas. Logo no acto de nascer, 
na maneira como se faz o parto, nos rituais que acompanham o 
nascimento, nas roupas com que se veste o bebé, começa a 
modelação sócio – cultural do ser humano. 
A cultura, que aprendemos a respeitar, permitindo-nos moldar a 
nossa natureza biológica e tornarmo-nos verdadeiramente 
homens é, pois, um factor indispensável à nossa construção como 
seres humanos – um factor de humanização. 
Assim, o Homem é capaz de crescer de forma humana, isto é, 
aprender a viver como vive o nosso grupo social; aprender a sua 
 38 Unidade 
 
linguagem e adoptar os seus costumes e formas padronizadas de 
comportamento social. 
O agente criador 
O ser humano, é o ser activo e criador, nasce inacabado e produz-
se a si próprio mercê da sua própria acção, a partir das 
características biológicas que recebe dos seus progenitores e da 
influência da cultura. 
O ser humano é, portanto, um agente criador: ao nível do fazer e 
através do trabalho, fabrica e produz artefactos e transforma a 
natureza. 
Ao nível do agir, nas suas acções intencionais: apropria-se e 
assume valores e normas socialmente estabelecidas; recria 
valores, através dos quais dá sentido à sua existência; constrói a 
sua própria natureza a partir de um conjunto de factores 
(biológicos e sócio-culturais), constituíndo-se como um ser que 
se inventa a si mesmo num processo criador sempre inacabado. 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quem é o agente criador da cultura? 
Resposta: O agente criador da cultura é o ser humano em seus 
níveis do fazer e agir. 
2- Quais são as diferenças entre o fazer e o agir? 
Resposta: No fazer, a acção tem como finalidade dominar e 
organizar uma matéria exterior, como por exemplo uma produção 
técnica ou actividade centrada no objecto, enquanto que no agir, 
a acção tem como principal finalidade transformar o próprio 
agente, pois agir remete uma actividade centrada no sujeito ou no 
agente da acção. Por outro lado, o termo fazer é usado no 
domínio da actividade moral como sinónimo de agir, sendo por 
isso, que na linguagem cotidiana, se diz indiferentemente “fez 
bem” ou “agiu bem”.3- Mencione os condicionantes da acção humana. 
Resposta: Os condicionantes da acção humana são as 
características biológicas, as condições físicas de seu ambiente e 
as representações sociais. 
 
 
 
 
 Introdução à Filosofia 39 
 
 
 
 
 
 40 Unidade 
 
Unidade N0 08-A0010 
Tema: Valores. 
Introdução 
Na Sociedade em que nos encontramos somos impelidos a buscar 
o que é bom e o que não é bom. Diante disso, mesmo no nosso 
contexto cultural, buscamos o que é aceite e o que não é aceite 
pela colectividade humana. Aquilo que é aceite é chamado de 
valor e, o que não é aceite é um anti-valor. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Explicar e caracterizar os valores; 
 Identificar a hierarquia dos valores. 
Sumário 
A nossa relação conosco, com a realidade e com os outros é 
mediada pela linguagem (no caso, conceptual), e a linguagem se 
serve de instrumentos lógicos para comunicar a nossa apreensão 
da realidade (ao formular juízos de facto); além de juízos de 
facto também fazemos juízos de preferência em que não nos 
limitamos a descrever a realidade, mas utilizamos valores com 
que predicamos essa mesma realidade (ao formular juízos de 
valor). 
Os juízos de facto se referem à ordem de ser e do real indicando 
os seus atributos, pois se referem a acontecimentos; 
Juízos de valor são apreciações subjectivas, implicam uma 
avaliação ou uma escolha, expressam a relação da consciência 
individual ou social com o que a realidade deve ser, e apontam 
para um horizonte de ordem ideal. 
A preocupação com os valores é tão antiga como a humanidade, 
mas só no século XIX, surge uma disciplina específica, a teoria 
dos valores ou axiologia (do grego axios, “valor”). A axiologia 
 Introdução à Filosofia 41 
 
não se preocupa com os seres, mas das relações que se 
estabelecem entre os seres e o sujeito que os aprecia. 
O conceito valor pode ter várias acepções. Com efeito: 
Um significado afectivo: ao significar o carácter das coisas que 
nos merecem estima; pode ter um significado moral ao ser 
atribuido por alguém a uma atitude: é o caso da coragem em 
frente ao perigo, da solidariedade ( o valor das acções da 
solidariedade social), da beleza de um gesto, do altruísmo e do 
egoísmo; e um significado técnico: por exemplo o valor de uma 
mercadoria ou o valor de uma incógnita. 
Os valores podem ter uma vertente subjectiva ou objectiva: 
Subjectiva: quando designam um padrão de comportamento a 
que alguém dá importância ou relevo (por exemplo, a 
honestidade, a parcimónia no uso dos prazeres, a preocupação 
com questões espirituais); 
Objectiva: quando designam padrões de comportamentos 
reconhecidos e adoptados por um grupo ou comunidade mais ou 
menos vasta (a moda de um abraço, uma determinada estação, a 
indumentária tradicional de uma região ou os valores de uma 
mercadoria). 
Características dos valores 
 
- A polaridade: visão positiva e negativa, ou seja, ausência de 
neutralidade perante os acontecimentos; 
- A hierarquização: organização dos valores em termos de mais 
importantes e menos importantes, o que permite depois, na acção, 
o estabelecimento de prioridades sem o que nenhum projecto é 
realizável; 
- A historicidade; 
 - A relactividade; 
 - A objectividade e subjectividade. 
 
 Hierarquia dos valores 
A hierarquia dos valores foi proposta pela primeira vez por Max 
Scheler, que forneceu cinco critérios para determinar a altura dos 
valores. A hierarquia dos valores proposta por Scheler é, no seu 
entender, objectiva, universal e eterna porque é constituida a 
priori pela sensibilidade. É constituida por quatro grupos 
fundamentais de valores: 
- Valores do agradável e do desagradável, correspondentes à 
função do gozo e do sofrimento; 
- Valores vitais (como saúde, a doença, etc.); 
- Valores espirituais, isto é, estéticos e cognitivos; 
- Valores religiosos. 
São critérios os cinco seguintes: 
 42 Unidade 
 
1º Os valores são tanto mais altos quanto maior for a duração, 
qualquer que seja aliás a duração do seu suporte real. Max 
Scheler, por exemplo, na peugada de Santo Agostinho, distingue 
entre tempo e duração. O amor, por exemplo, é sempre sentido 
como eterno. Amar por uma noite não é amar, mas fazer amor. E 
dizer: “amar-te-ei eternamente” seria um pleonasmo. 
2º Os valores são tanto mais altos quanto menos divisíveis forem. 
Diz-se bens materiais exactamente porque são divisíveis. E se no 
fundo da escala dos bens materiais colocarmos os bens 
económicos este serão os mais divisíveis que todos. Os bens 
espirituais são indivisíveis. Conclusão, os valores espirituais são 
mais altos, são superiores aos valores materiais. 
3º O valor que serve de fundamento a outros é mais alto que os 
valores que se fundam nele. Segundo Max Scheler, o valor do 
“útil” funda-se na valor do “agradável”. O agradável, por seu 
turno, funda-se sobre um valor vital, como a saúde, etc. 
Nas suas grandes linhas, os valores religiosos servem de 
fundamento aos valores espirituais, estes aos valores vitais e estes 
aos valores do agradável e do desagradável. 
4º Os valores são tanto mais altos quanto maior é a satisfação 
que a sua realização produz em nós. Max Scheler quando fala 
em “satisfação” está a pensar em satisfação duradoira. Um prazer 
duradoiro (os do espirito) é sempre um valor mais alto que um 
prazer transitório (porque sensível, ligado ao corpo). 
5º Um valor é tanto mais alto quanto menos relativo for. Por 
exemplo, os valores morais são mais altos que os valores vitais e 
estes mais altos que o simples agradável ou desagradável. 
Para Johannes Hessen, na sua obra Filosofia dos valores, nos 
seria de guia até aqui, qualquer escala de valores a construir 
deverá obedecer a três princípios gerais: 
1º Os valores espirituais prevalecem sobre os sensíveis; 
2º Na classe dos valores espirituais é fora de dúvida que o 
primado pertence aos valores éticos; 
3º Os mais altos de todos os valores são os valores do “sagrado” 
ou os valores religiosos porquanto todos os outros se fundam 
neles. 
 Introdução à Filosofia 43 
 
Exercícios 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Explique qual o significado afectivo e moral do termo valor. 
Resposta: Significado afectivo é o carácter das coisas que nos 
merecem estima; e o significado moral trata-se de uma atitude 
diante de uma situação: é o caso da coragem em frente ao perigo, 
da solidariedade ( o valor das acções da solidariedade social), da 
beleza de um gesto, do altruísmo e do egoísmo; e um significado 
técnico: por exemplo o valor de uma mercadoria ou o valor de 
uma incógnita. 
 
2- Quais são as caracteristicas dos valores? 
 
Resposta: Os valores são caracterisados pela sua polaridade, 
hierarquização, historicidade, relactividade, objectividade e 
subjectividade. 
3- Qual é a proposta da hierarquia dos valores apresentada por 
Max Scheler? 
Resposta: A hierarquia dos valores proposta por Scheler é, no seu 
entender, objectiva, universal e eterna porque é constituida a 
priori pela sensibilidade e, é constituida por quatro grupos 
fundamentais de valores que são: valores do agradável e do 
desagradável, correspondentes à função do gozo e do sofrimento; 
valores vitais (como saúde, a doença, etc.); valores espirituais, 
isto é, estéticos e cognitivos e, valores religiosos. 
 
 
 
 
 
 
 
 44 Unidade 
 
Unidade N0 09-A0010 
 
Tema: Aspectos da Bioética 
Introdução 
A palavra “bioética” nasceu na América e se transformou 
profundamente, passando para o vocabulário corrente. Inventada 
nos Estados Unidos por R. Potter, a bioética designa, neste 
último, um projecto de utilização das ciências biológicas 
destinadas a melhorar a qualidade de vida. Na nossa linguagem, a 
palavra “bioética” se inscreve desde o início dos anos oitenta, em 
virtude dos progressos da biologia. Originalmente, a bioética se 
insere num plano com perspectiva pragmática e técnica, bem 
mais que um sistema reflectidode valores: ela se liga, primeiro, a 
um optimismo científico. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 Explicar o conceito de Bioética. 
 Identificar os problemas tratados pela bioética. 
 
Sumário 
Bioética, vem da palavra ética e de bios (vida, em grego). Pode 
designar, então, ou uma reflexão sobre os valores subordinada a 
bios, a vida, ou então uma metamoral que se interessa pelos 
desafios e as repercussões da Biologia e Medicina. Eis pois 
algumas definições: 
A bioética é a ciência normativa do comportamento humano 
aceitável no campo da vida e da morte (Pierre Deschamps – 
jurísta); 
A bioética é o estudo interdisciplinar do conjunto das condições 
que uma gestão responsável da vida humana (ou da pessoa 
humana) exige, no quadro dos progressos rápidos e complexos 
do saber e das tecnologias bio-médicas (David Roy); 
 Introdução à Filosofia 45 
 
A bioética designa a investigação do conjunto das exigências do 
respeito e da promoção da vida humana e da pessoa, no sector 
bio-médico (Guy Durand). 
Essas diferentes definições, revelam que há uma dúpla óptica da 
bioética: de um lado, científica e preocupada com a eficácia; de 
outro, centrada no debate ético, a responsabilidade e os valores. 
A bioética é, pois a expressão da responsabilidade em face da 
humanidade futura e distante que está confiada à nossa guarda, e 
a busca das formas de respeito devidas à pessoas , busca que se 
efectua particularmente considerando o sector biológico e suas 
aplicações. 
 Eutanásia 
Eutanásia (do grego- eu "bom", tanasia "morte") é a prática pela 
qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira 
controlada e assistida por um especialista. 
A eutanásia representa actualmente uma complicada questão de 
bioética e biodireito, pois enquanto o Estado tem como princípio 
a protecção da vida dos seus cidadãos, existem aqueles que, 
devido ao seu estado precário de saúde, desejam dar um fim ao 
seu sofrimento antecipando a morte. 
Independentemente da forma de Eutanásia praticada, seja ela 
legalizada ou não (tanto em Portugal como no Brasil esta prática 
é considerada como ilegal), é considerada como um assunto 
controverso, existindo sempre prós e contras – teorias 
eventualmente mutáveis com o tempo e a evolução da sociedade, 
tendo sempre em conta o valor de uma vida humana. Sendo 
eutanásia um conceito muito vasto, distinguem-se aqui os vários 
tipos e valores intrinsecamente associados: eutanásia, distanásia, 
ortotanásia, a própria morte e a dignidade humana. 
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a eutanásia pode 
ser dividida em dois grupos: a "eutanásia activa" e a "eutanásia 
passiva". Embora existam duas “classificações” possíveis, a 
eutanásia em si consiste no acto de facultar a morte sem 
sofrimento a um indivíduo cujo estado de doença é crónico e, 
portanto, incurável, normalmente associado a um imenso 
sofrimento físico e psíquico. A eutanásia activa conta com o 
traçado de acções que têm por objectivo pôr término à vida, na 
medida em que é planeada e negociada entre o doente e o 
profissional que vai levar e a termo o acto. 
A eutanásia passiva por sua vez, não provoca deliberadamente a 
morte, no entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a 
interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, 
farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer. São 
cessadas todas e quaisquer acções que tenham por fim prolongar 
a vida. Não há por isso um acto que provoque a morte (tal como 
na eutanásia activa), mas também não há nenhum que a impeça 
(como na distanásia). 
 46 Unidade 
 
É relevante distinguir eutanásia de "suicídio assistido", na medida 
em que na primeira é uma terceira pessoa que executa, e no 
segundo é o próprio doente que provoca a sua morte, ainda que 
para isso disponha da ajuda de terceiros. 
Etimologicamente, distanásia é o oposto de eutanásia. A 
distanásia defende que devem ser utilizadas todas as 
possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda 
que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento se torne 
demasiadamente penoso. 
Aborto 
O aborto consiste na expulsão ou extracção de um feto pesando 
menos de mil gramas, ou com uma idade gestacional inferior a 
vinte e oito semanas completas. 
Nos países mais desenvolvidos, em que os fetos pesando 
quinhentos a mil gramas muitas vezes sobrevivem, utiliza-se a 
definição recomendada pela Organização Mundial da Saúde: “a 
extracção ou expulsão de um feto pesando menos de quinhentas 
gramas ( o que equivale aproximadamente a 22 semanas 
completas de gestação. Os tipos e graus de aborto foram já 
classificados de muitas maneiras. 
A partir das definições e os tipos de aborto acima apresentados, 
podemos concluír que há varias formas de fazer o aborto, seja de 
forma legal ou de forma ilegal. Porém, não deixa de ser aborto. 
Especialistas da bioética e diferentes camadas da sociedade 
questionam se é lícito fazer ou não o aborto, já que se trata de 
matar uma vida em formação, particularmente o aborto 
provocado. É correcto fazer o aborto? Existe países como a 
Holanda, que a lei aprovou a permissão do aborto. Mas o Brasil e 
outros países consideram o aborto como um crime. Qual desses 
países está agindo moralmente em relação ao aborto? É ou não é 
permitido fazer o aborto? São questões a ser reflectidas, 
debatidas sobre o certo e o errado, tendo em conta que a expulsão 
do fecto corresponde a morte de uma vida do ser humano em 
formação. A prática do aborto e a eutanásia é proibida em 
qualquer sociedade. 
 
 Introdução à Filosofia 47 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Que significa Bioética? 
Resposta: Bioética, vem da palavra ética e de bios (vida, em 
grego). Pode designar, então, ou uma reflexão sobre os valores 
subordinados a bios, a vida, ou então uma metamoral que se 
interessa pelos desafios e as repercussões da Biologia e Medicina. 
2- Quais são os problemas abordados pela bioética? 
Resposta: São problemas referentes a vida tais como: eutanásia, 
aborto, meio ambiente, entre outros. 
 48 Unidade 
 
Unidade N0 10-A0010 
Tema: Teoria de Conhecimento 
Introdução 
Conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se 
estabelece entre o sujeito que conhece e o objecto a ser 
conhecido. A apropriação intelectual do objecto supõe que haja 
regularidade nos acontecimentos do mundo; caso contrário, a 
consciência cognoscente nunca poderia superar o caos. 
O conhecimento pode designar o acto de conhecer, enquanto 
relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o 
mundo conhecido. Mas o conhecimento se refere também ao 
produto, ao resultado do conteúdo desse acto, ou seja, o saber 
adquirido e acumulado pelo homem. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Definir o conceito de Teoria do Conhecimento. 
 Conhecer a gênese histórica da Teoria de Conhecimento na 
Antiguidade, bem como seus representantes. 
 
Sumário 
A Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica que 
investiga quais são os problemas decorrentes da relação entre 
sujeito e objecto do conhecimento, bem como as condições do 
conhecimento verdadeiro. 
Teoria do conhecimento na Antiguidade 
A passagem do mundo tribal à polis na Grécia, determina a 
maneira de pensar, que antes era predominantemente mítica e 
depois, com o aparecimento das cidades, faz surgir a 
racionalidade crítica típica do pensar filosófico. 
O advento da polis grega é concomitante a outras transformações 
também marcantes, como o aparecimento da escrita, da moeda e 
dos legisladores. Essas transformações culminam com a figura do 
 Introdução à Filosofia 49 
 
cidadão e do filósofo, em um mundo marcado pelo desígnio 
divino. 
Começa então a grande aventura filosófica dos gregos, cuja 
influência se faz sentir até nossos dias. 
 
Filosofia pré-socrática 
A Filosofia pré-socrática se caracteriza pela preocupação com a 
natureza do mundo exterior. O nascimentoda filosofia na Grécia 
é marcado pela passagem da cosmogonia para a cosmologia. A 
cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica 
como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses, 
identificados às forças da natureza. Na cosmogonia, as 
explicações rompem com a religiosidade: a arché (princípio) não 
se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa 
princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a 
diversidade das escolas filosóficas, dando origem a 
fundamentações conceituais (e portanto abstractas) muito 
diferentes entre si. 
Dentre os pré-socráticos que nos interessam na teoria do 
conhecimento, destacamos os seguintes: Heráclito de Éfeso e 
Parmênides de Éleia. Porém, não deixamos de mencionar os 
demais filósofos pré-socráticos e seus pensamentos. 
Tales de Mileto (Séc. VI-V a.C.) é um dos sete sábios da Grécia. 
Conhecedor da cultura oriental por cantactos directos efectuados 
em numerosas viagens, interessa-se por vários campos de 
actividade, desde a engenharia e a matemática até à política e 
finanças. Foi astrónomo e, como tal, previu a ocorrência de um 
eclipse total do sol, que veio a acontecer em 585 a.C. 
Tales diz que o princípio de tudo é a água, pelo que sustentava 
ainda que a terra está sobre a água; considerava talvez como 
prova, o facto de verificar que o alimento de todas as coisas é 
húmido e de que, mesmo o que é quente, se gera e vive no 
húmido; ora, aquilo de que tudo provém é o princípio de tudo. 
Como vemos, não se trata de encontrar uma explicação mítica 
para o origem do universo; mas antes se nota a preocupação de 
descobrir a substância primordial subjacente à natureza na sua 
totalidade. 
Anaximandro de Mileto (611-546 a.C): vê no infinito ou 
indeterminado a arché, isto é, o princípio de tudo. O infinito, 
susceptível de produzir constantemente seres novos, é anterior à 
própria água. É dele que tudo vem e para onde tudo regressa. 
Arché para ele é o apeiron, que podemos traduzir como sendo o 
indeterminadamente infinito ou infinitamente indeterminado, 
pois com isso quer-se significar tanto a indeterminação lógica 
como infinito espacial e temporal, eterno e omnipresente. 
 50 Unidade 
 
Anaxímenes de Mileto: considera o ar como elemento 
primordial. Para ele, o ar é tão necessário como a água, sendo, 
contudo, de natureza mais subtil. 
O ar origina todas as coisas mediante processos de condensação, 
dilatação e outros. Assim, por exemplo, da rarefação crescente do 
ar resultariam as estrelas; da solidificação do ar nasceriam os 
corpos de natureza cristalina. 
É com Anaxímenes que se encerra a Escola Jônica, o que não 
impede o pensamento grego de continuar a sua marcha. 
Heráclito de Éfeso: Tudo muda 
Heráclito (544-484 a.C.), nasceu em Éfeso, na Jônia, actualmente 
Turquia. Tal como os seus contemporâneos pré-socráticos, busca 
compreender a multiplicidade do real. Mas, ao contrário deles, 
não rejeita as contradições e quer apreender a realidade na sua 
mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam sem cessar, e o 
que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi 
a pouco e do que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes 
no mesmo rio”, pois na segunda vez não somos os mesmos, e 
também o rio mudou. 
Portanto, não há ser estático, e o dinamismo pode bem ser 
representado pela metáfora do fogo, forma visível da 
instabilidade, símbolo de eterna agitação do devir, “o fogo eterno 
e vivo, que ora se acende e ora se apaga”. 
Para Heráclito o ser é o múltiplo. Não no sentido apenas de que 
existe a multiplicidade das coisas, mas de que o ser é múltiplo 
por estar constituído de oposições internas. O que mantém o 
fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, 
mas a luta dos contrários, pois, “a guerra é pai de todos, rei de 
todos”. E é da luta que nasce a harmonia , como sínteses dos 
contrários. 
O que faz de Heráclito um pensador original é o facto de não ter 
uma visão estática do mundo. Considera, portanto, que há um 
dinamismo inerente às coisas, o que explica que tudo esteja em 
constante mudança. É, por isso, considerado o pai da filosofia do 
devir. 
Parmênides de Eléia: o ser é imutável 
Parmênides (540-470 a.C), viveu em Eléia, cidade do sul da 
Magna Grécia (actual Itália) e é o principal expoente da escola 
eleática. Elaborou uma importante teoria filosófica na medida em 
que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. 
Ocupou-se longamente a criticar a filosofia heraclitana: ao “tudo 
muda”de Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser. 
Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma 
coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. À contradição opõe o 
princípio segundo o qual “o ser é” e o “não-ser não é”. Mais tarde 
os lógicos chamarão a isto princípio de identidade, base de toda 
construção metafísica posterior. 
 Introdução à Filosofia 51 
 
Parmênides conclui que, o ser é único, imutável, infinito e 
imóvel. Não há, entretanto, como negar a existência do 
movimento no mundo que percebemos, onde as coisas nascem e 
morrem, mudam de lugar e se expõem em infinita multiplicidade. 
Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, 
e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o 
mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio 
que hoje chamamos de identidade e de não-contradição. 
Uma das consequências dessa teoria é a identidade entre o ser e o 
pensar. Ou seja, as coisas que existem fora de mim são idênticas 
ao meu pensamento, e o que eu não conseguir pensar não pode 
ser na realidade. 
Os sofistas 
O século de Péricles (V a. C.) constitui o período áureo da cultura 
grega, quando a vida democrática de Atenas convida a 
participação dos cidadãos na vida política e se desenvolve uma 
intensa vida cultural e artistica. Os pensadores do período 
clássico, embora ainda discutam questões refrentes à natureza, 
desenvolvem o enfoque antropológico, abrangendo a moral e 
apolítica. 
Os sofistas vivem nessa época e alguns deles são interlocutores 
de Sócrates. Os mais famosos sofistas foram: Protágoras de 
Abdera (485-411 a.C); Górgias de Leontinos (485-380 a.C); 
Hípias de Élis, e ainda, Trasímaco, Pródico, Hipódamos, entre 
outros. Tal como ocorreu com os pré-socráticos, dos sofistas só 
nos restam fragmentos de suas obras, alem das referências feitas 
pelos filósofos anteriores. 
A palavra sofista, etimologicamente, vem de sophos, que 
significa sábios, ou melhor “professor da sabedoria”. 
Posteriormente adquiriu um sentido pejorativo de “homem que 
emprega sofismas”, ou seja, alguém que usa de raciocínio 
capcioso, de má-fé, com intenção de enganar. Sóphisma significa 
“sutileza de sofisma”. 
Os sofistas sempre foram mal interpretados devido às críticas que 
sobre eles fizeram Sócrates e Platão. A imagem de certa forma 
caricatural da sofística tem sido reelaborada no sentido de 
procurar recuperar a verdadeira importância do seu pensamento. 
São muitos os motivos que levaram à visão deturpada dos 
sofistas que a tradição nos oferece. Em primeiro lugar, há enorme 
diversidade teórica entre os pensadores reunidos sob a 
designação de sofistas. Talvez, o que passa a identificá-los é o 
facto de serem considerados sábios e pedagogos. Vindos de todas 
as partes do mundo grego, desenvolvem um ensino itinerante 
pelos locais em que passam, mas não se fixam em lugar algum. 
Deve-se a isso o gosto pela crítica, o exercício do pensar 
resultante da circulação de ideias diferentes. 
Para o escândalo de seus contemporâneos, costumavam cobrar 
pelas aulas e por esse motivo Sócrates os acusava de prostituição. 
 52 Unidade 
 
Os sofistas, faziam das aulas seu ofício, já que não eram 
suficientemente ricos para filosofarem sem compromissos. 
Os sofistas exerceram influência muito forte, vinculando-se à 
tradição educativa dos poetas Homero e Hesíodo. Deram 
importante contribuição para a sistematização do ensino. 
Formaram um currículo de estudos: gramática(da qual foram os 
iniciadores), retórica e dialéctica; por influência dos pitagóricos, 
desenvolveram a aritmética, a geometria, a astronomia e a 
música. 
Se foram acusados pelos seus detractores de pronunciarem 
discursos vazios, essa fama se deve à excessiva atenção dada por 
alguns deles ao aspecto formal da exposição e da defesa das 
ideias, pois se achavam preocupados com a persuação, 
instrumento por excelência do cidadão na cidade democrática. Os 
melhores deles, buscam aperfeiçoar os instrumentos da razão, ou 
seja, a coerência e o rigor da argumentação, porque não basta 
dizer o que se considera verdadeiro, é preciso demostrá-lo pelo 
raciocínio. Pode-se dizer que aí se encontra o embrião da lógica, 
mais tarde desenvolvida por Aristóteles. 
Quando Protágoras, um dos mais importantes sofistas, diz que “o 
homem é a medida de todas coisas coisas”, esse fragmento deve 
ser entendido não como expressão do relativismo do 
conhecimento, mas enquanto exaltação da capacidade de 
construir a verdade: o logos não mais é divino, mas decorre do 
exercício técnico da razão humana. 
Sócrates 
Sócrates (470-399 a. C) nada deixou escrito, e teve suas idéias 
divulgadas por dois de seus principais discípulos, Xonofonte e 
Platão. Evidentemente, devido ao brilho deles, é de se supor que 
nem sempre fossem realmente fiéis ao pensamento do mestre. 
Nos diálogos que Platão escreveu, Sócrates figura sempre como o 
principal interlocutor. 
Mesmo tendo sido concluído muitas vezes entre os sofistas, 
Sócrates recusava tal classificação, e opunha-se a eles de forma 
crítica. Sócrates se indispôs com os poderosos de seu tempo, 
sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper a 
mocidade. Por isso foi condenado e morto. 
Costumava conversar com todos, fossem velhos ou jovens, 
nobres e escravos, preocupado com o método do conhecimento. 
Sócrates parte do pressuposto “só sei que nada sei”, que consiste 
justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, 
ponto de partida para a procura do saber. 
Por isso seu método começa pela parte considerada “destrutiva”, 
chamada ironia (em grego, “perguntar”). Nas discussões afirma 
inicialmente nada saber, diante do oponente que se diz 
conhecedor de determinado assunto. Com hábeis perguntas, 
desmonta as certezas até o outro reconhecer a ignorância. Parte 
então para a segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, 
“parto”). Dá esse nome em homenagem a sua mãe, que era 
 Introdução à Filosofia 53 
 
parteira, acrescentando que, se ela fazia parto de corpos, ele 
“dava a luz” ideias novas. 
Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituido para 
reconstruí-lo na procura da definição do conceito. Esse processo 
aparece bem ilustrado nos diálogos relatados por Platão, e é bom 
lembrar que nem sempre Sócrates tem resposta: ele também se 
põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a 
conclusões definitivas. 
As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, daí 
perguntar em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a 
justiça e assim por diante. Diante de diversas manifestações de 
coragem, quer saber o que é a “coragem em si”, o universo que a 
representa. Ora, enquanto a filosofia ainda é nascente, precisa 
inventar palavras novas, ou usar as antigas dando-lhes sentido 
diferente. Por isso Sócrates utiliza o termo logos, que na 
linguagem comum, significava “palavra”, “conversa”, e que no 
sentido filosófico passa a significar “a razão que se dá de algo”, 
ou mais propriamente, conceito. 
Quando Sócrates pede o logos, quando pede que indiquem qual é 
logos da justiça, que é a justiça, o que pede é o conceito da 
justiça, a definição de justiça. 
Platão 
Platão (428-347 a. C), viveu em Atenas, onde fundou uma escola 
denominada Academia. 
Para sintetizar as suas ideias, recorremos ao livro VII de A 
República, onde seu pensamento é ilustrado pelo famoso “mito 
de caverna”. Platão imagina uma caverna onde estão 
acorrentados os homens desde a infância, de tal forma que, não 
podendo se voltar para a entrada, apenas enxergam o fundo da 
caverna. Aí são projectadas as sombras das coisas que passam às 
suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses homens se soltar 
das correntes para contemplar a luz do dia os verdadeiros 
objectos, quando regressasse, relatando o que viu aos seus 
antigos companheiros, esses o tomariam por louco, não 
acreditando em suas palavras. 
A análise do mito pode ser feita pelo menos sob dois pontos de 
vista: o epistemológico (relativo ao conhecimento) e o político 
(relativo ao poder). 
Segundo a dimensão epistemológica, o mito de caverna é uma 
alegoria a respeito das duas principais formas de conhecimento: 
na teoria das ideias, Platão distingue o mundo sensível, dos 
fenômenos, e o mundo inteligível, das idéias. 
O mundo sensível, acessível aos sentidos, é o mundo da 
multiplicidade, do movimento, e é ilusório, pura sombra do 
verdadeiro mundo. Assim, mesmo se percebemos inúmeras 
abelhas dos mais variados tipos, a ideia de abelha deve ser una, 
imutável, a verdadeira realidade. Com isto, Platão se aproxima do 
instrumento teórico de Parmênides e, aliando-os aos 
ensinamentos de Sócrates, elabora uma teoria original. 
 54 Unidade 
 
Do seu mestre aproveita a noção nova de logos, e continuando o 
processo de compreensão do real, cria a palavra ideia (eidos), 
para referir-se a intuição intelectual, distinta da intuição sensível. 
Acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das ideias gerais, 
das essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e 
pela depuração dos enganos dos sentidos. 
Sendo as ideias a única verdade, o mundo dos fenômenos só 
existe na medida em que participa do mundo das ideias, do qual é 
apenas sombra ou cópia. Por exemplo, um cavalo só é cavalo, 
enquanto participa da ideia de “cavalo em si”. Trata-se da teoria 
de participação, mais tarde duramente criticada por Aristóteles. 
Para Platão há uma dialéctica que fará a alma elevar-se das coisas 
múltiplas e mutáveis às ideias unas e imutáveis. As ideias gerais 
são hierarquizadas, e no topo delas está a ideia do Bem, a mais 
alta em perfeição e a mais geral de todas: os seres e as coisas não 
existem se não enquanto participam do Bem. E o Bem supremo é 
também a Suprema Beleza. É o Deus de Platão. 
Se lembrarmos o que foi dito a respeito dos pré-socráticos, 
podemos verificar que Platão tenta superar a oposição instalada 
pelo pensamento de Heráclito, que afirmava a mutabilidade 
essencial do ser, e a posição de Parmênides, para o qual o ser é 
imóvel. Platão resolve o problema: o mundo das ideias se refere 
ao ser permanente, e o mundo dos fenômenos ao devir 
heraclitano. 
Platão supõe que os homens já teriam vivido como puro espírito 
quando contemplaram o mundo das ideias. Mas tudo esquecem 
quando se degradam ao se tornarem prisioneiros do corpo, que é 
considerado o “túmulo da alma”. Pela teoria da reminiscência, 
Platão explica como os sentidos se constituem apenas na ocasião 
para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Em outras 
palavra, conhecer é lembrar. No diálogo Menon, Platão descreve 
como um escravo, ao examinar figuras sensíveis que lhe são 
oferecidas, é induzido a “lembrar-se”das ideias e descobre uma 
verdade geomêtrica. 
Voltando ao mito de caverna: o filósofo (aquele que se libertou 
das correntes), ao contemplar a verdadeira realidade e ter 
passado da opinião (doxa) à ciência (epísteme), deve retornar ao 
meio dos homens para orientá-los. 
Eis assim a segunda dimensão do mito, a política, surgida da 
pergunta: como influenciar os homens que não vêem? Cabe ao 
sábio ensinar a governar. Trata-se da necessidade da acção 
política, da transformação dos homens e da sociedade, desde que 
essa acção seja dirigida pelo modelo ideal contemplado. 
Aristóteles 
Aristóteles (384-322 a.C) nasceu em Estagira, na Calcídica 
(região dependente da Macedônia). Seu pa era médico de Filipe, 
rei da Macedônia. Mais tarde, Alexandre, filhode Filipe, foi 
discípulo de Aristóteles, até o momento em que precisou assumir 
precocentemente o poder e continuar a expansão do império. 
 Introdução à Filosofia 55 
 
Frequentou a Academia de Platão e a fidelidade ao mestre foi 
entremeada por críticas que mais tarde justificaria dizendo: “Sou 
amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”. Em 340 a.C. 
fundou em Atenas o Liceu, assim chamado por ser vizinho do 
templo de Apolo Lício. 
Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa 
em definir a ciência como conhecimento verdadeiro, 
conhecimento pelas causas, capaz de superar os enganos da 
opinião e de compreender a natureza do devir. Mas ao analisar a 
oposição entre o mundo sensível e o mundo inteligível segundo a 
tradição de Heráclito, Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as 
soluções apresentadas e critica o “mundo” separado das ideias 
platônicas. 
A teoria de Aristóteles se baseia em três distinções fundamentais: 
substância-essencia-acidente: acto-potência; forma-matéria, por 
sua vez desembocam na teoria das quatro causas. 
Aristóteles “traz as ideias do céu à terra”: rejeita o mundo das 
ideias de Platão, fundindo o mundo sensível e o inteligível no 
conceito da substância, enquanto “aquilo em si mesmo”, ou 
enquanto suporte dos atributos. 
Ora, quando dizemos algo de uma substância, podemos nos 
referir a atributos de essência propriamente dita, e chamamos de 
acidente o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar 
de ser o que é. Então, a substância individual “este homem” tem 
como características essenciais os atributos pelos quais este 
homem é homem (Aristóteles diria que a essência do homem e a 
racionalidade) e outros, acidentais (como ser gordo, velho ou 
belo), atributos esses que não mudam o ser do homem em si. 
O problema da transformação dos seres ainda não se resolve com 
os conceitos de essência e acidente, e por isso Aristóteles recorre 
às noções de forma e matéria. Matéria é o princípio 
indeterminado de que o mundo físico é composto, é “aquilo de 
que é feito algo”, o que não coincide exactamente com o que nós 
entendemos por matéria, na física, por se caracterizar pela 
indeterminação. Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja 
o que é”. 
Todo o ser é constituido de matéria e forma, princípios 
indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio inteligível, a 
essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual 
todos são o que são, a matéria é pura passividade, contendo a 
forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria é o 
mármore; a forma é a ideia que o escultor realiza na estátua. 
É através da noção de matéria e forma se explica só devir. Todo o 
ser tende a tornar actual a forma que tem em si como potência. 
Assim, a semente, quando enterrada, tende a se desenvolver e se 
transformar no carvalho que era em potência. 
O conceito de potência não pode ser confundido com força, mas 
sim com ausência da perfeição em um ser capaz de vir a possuí-
la. Pois uma potência é a capacidade de tornar-se alguma coisa, e 
 56 Unidade 
 
para tal, é preciso que sofra a acção de outro ser já em acto. A 
semente que contém o carvalho em potência foi gerada por um 
carvalho em acto. 
O movimento é pois, a passagem da potência para o acto. O 
movimento é “o acto de um ser em potência enquanto tal”, é a 
potência se actualizando. Tais considerações levam à distinção 
dos diversos tipos de movimentos ou teoria das quatro causas: as 
mudanças derivam da causa material, da causa formal, da causa 
eficiênte e da causa final. 
Mesmo ainda considerando o postulado parmenídeo de que o ser 
é idêntico ao pensar, Aristóteles pode superar Parmênides e 
Platão ao usar os conceitos acima expostos, pelos quais se 
compreende a imutabilidade e a mutabilidade, o acidental e o 
essencial, o individual e o universo. Se conhecer é lidar com os 
conceitos universais, é também aplicar esses conceitos a cada 
coisa individual. Com isso, nem é preciso justificar a imobilidade 
do ser, nem criar o mundo das essencias imutáveis. 
Deus, Acto Puro 
Toda a estrutura teórica da filosofia de Aristóteles desemboca na 
teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao 
reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou 
seja, Deus. Isso porque, se as coisas são contingentes, já que tem 
em si mesmas a razão de sua existência, é preciso concluir que 
são produzidas por causas a elas exteriores. Assim, todo o ser 
contingente foi produzido por outro ser, que também é 
contingente e assim por diante. Para não ir ao infinito na 
sequência de causas, é preciso admitir uma primeira causa, por 
sua vez incausada, um ser necessário (e não contingente). Esse 
primeiro motor (imóvel, por não ser movido por nenhum outro) é 
também um puro acto (sem nenhuma potência). Chamamos Deus 
ao Primeiro Motor Imóvel, Acto Puro, Ser Necessário, Causa 
Primeira de todo existente. 
Metafísica 
A filosofia grega, desde o momento em que se destaca do 
pensamento mítico, elabora conceitos para instrumentalizar a 
razão no esforço de compreensão do real. Entre as diversas e 
diferentes contribuições do pensamento grego, destaca-se o 
caminho percorrido por Parmênides, Platão e Aristóteles na busca 
dos conceitos que explicassem o ser em geral e que hoje 
reconhecemos como sendo o assunto tratado pela parte da 
filosofia denominada metafísica. 
O termo metafísica surgiu no século I a.C., quando Andrônico de 
Rodes, ao classificar as obras de Aristóteles, colocou a Filosofia 
Primeira depois das obras de física: Meta Física, ou seja, “depois 
da física”. 
De qualquer forma, nada impediu que esse “depois”, puramente 
espacial, fosse considerado “além”, no sentido de tratar de 
assuntos que transcendem a física, que estão além dela porque 
ultrapassam as questões postas a partir do conhecimento do 
mundo sensível. Portanto, no sentido pelo qual o conhecemos 
 Introdução à Filosofia 57 
 
hoje, o termo só começou a ser aplicado a partir do século V da 
nossa era. 
A filosofia primeira não é primeira na ordem do conhecer, já que 
partimos do conhecimento sensível, mas a que busca as causas 
mais universais (e portanto as mais distantes dos sentidos) e que 
são as mais fundamentais na ordem real. Trata-se da parte nuclear 
da filosofia, onde se estuda “o ser enquanto ser”, isto é, o ser 
independentemente de suas determinações particulares. 
É a metafísica que fornece a todas as outras ciências o 
fundamento comum, o objecto ao qual todas se referem e os 
princípios dos quais dependem. Ou seja, todas as ciências se 
referem continuamente ao ser e a diversos conceitos ligados 
directamente a ele, tais como identidade, oposição, diferença, 
género, espécie, parte, perfeição, necessidade, possibilidade, 
realidade, etc. Mas nenhuma ciência examina tais conceitos. É 
nesse sentido que consideramos que o objecto da metafísica 
consiste em examinar o ser e suas propriedades. 
 
Exercício 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1 – O que é Teoria do Conhecimento? 
Resposta: Teoria do conhecimento é uma disciplina filosófica que 
investiga os problemas decorrentes da relação entre sujeito e 
objecto do conhecimento, bem como as condições do 
conhecimento verdadeiro. 
 
 
 58 Unidade 
 
Unidade N0 11-A0010 
 
Tema: Possibilidade de 
Conhecimento 
Introdução 
Uma das discussões em torno do problema do conhecimento diz 
respeito à possibilidade ou não de o espírito humano atingir a 
certeza. Distinguiremos inicialmente duas tendências principais: 
o cepticismo e o dogmatismo. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer a possibilidades do conhecimento; 
 Conhecer e analisar as teorias do cepticismo e dogmatismo. 
Sumário 
Cepticismo 
A palavra cepticismo vem do grego, sképtikós, que significa: 
olhar à distância, examinar, observar, que considera O céptico 
tanto observa e tanto considera que conclui, nos casos mais 
radicais, pela impossibilidade do conhecimento, e nas tendênciasmoderadas, pela suspensão provisória de qualquer juízo. 
Cepticismo é a doutrina que afirma que não se pode obter 
nenhuma certeza a respeito da verdade, o que implica numa 
condição intelectual de dúvida permanente e na admissão da 
incapacidade de compreensão de fenômenos metafísicos, 
religiosos ou mesmo da realidade. O termo originou-se a partir do 
nome comumente dado a uma corrente filosofia originada na 
Grécia Antiga. 
 Introdução à Filosofia 59 
 
O Cepticismo filosófico originou-se a partir da filosofia grega e o 
seu fundador é Pirro de Élis (360-275 a.C.), que viajou até a Índia 
e lá estudou, e propôs a adopção do cepticismo "prático" . 
Subsequentemente, na "Nova Academia", Arcesilau (315-241 
a.C.) e Carnéades (213-129 a.C.) desenvolveram mais 
perspectivas teóricas, que refutavam concepções absolutas de 
verdade e mentira. Carnêades criticou as visões dos dogmatistas, 
especialmente os defensores do estoicismo, alegando que a 
certeza absoluta do conhecimento é impossível. Sexto Empírico 
(200 d.C.), a maior autoridade do cepticismo grego, desenvolveu 
ainda mais a corrente, incorporando aspectos do empirismo em 
sua base para afirmar o conhecimento, ou seja, o cepticismo 
filosófico é procurar saber, não se contentando com a ignorância 
fornecida actualmente pelos meios públicos, por meio da dúvida. 
Opõem-se ao dogmatismo, em que é possível conhecer a verdade. 
Portanto, há gradações no cepticismo. Os cépticos moderados 
admitem uma forma relativa do conhecimento (relativismo), 
reconhecendo os limites para a apreensão da verdade. Para outros 
moderados, mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não 
se deve abandonar a busca. Mas para o cepticismo radical, como 
o pirronismo, se a certeza é impossível, é melhor renunciar ao 
conhecimento, o que traz, como consequência prática, a 
indiferença absoluta em relação a tudo. 
O cepticismo radical se contradiz ao se afirmar, pois concluir que 
“toda a certeza é impossível e a verdade é inacessível” não deixa 
de ser uma certeza, e tem valor de verdade. 
O cepticismo costuma ser dividido em duas correntes: 
- Cepticismo filosófico - uma postura filosófica em que 
pessoas escolhem examinar de forma crítica se o 
conhecimento e percepção que possuem são realmente 
verdadeiros, e se alguém pode ou não dizer se possui o 
conhecimento absolutamente verdadeiro; 
- Cepticismo científico - uma postura científica e prática, em 
que alguém questiona a veracidade de uma alegação, e 
procura prová-la ou desaprová-la usando o método 
científico. 
 As formas do cepticismo 
Cepticismo absoluto, também conhecido de radical ou 
sistemático: é aquele que afirma que é impossível todo e qualquer 
tipo de conhecimento. Rigorosamente, é a única espécie de 
cepticismo possível, porque perante o problema da possibilidade 
da relação sujeito-objecto, ou se afirma ou se nega esta 
possibilidade. O cepticismo absoluto ou pirrónico nega-a. Foi 
defendido na antiguidade, por Pirron de Elis, que para evitar cair 
em contradição, recomenda que nada se afirme nem negue, isto é, 
recomenda a suspensão do juízo. 
Cepticismo moderado, entende que o sujeito atinge o objecto, 
porém, de modo não total, mas limitado. Rigorosamente, não é 
 60 Unidade 
 
cepticismo, porque afirma a possibilidade da relação, mas uma 
forma mitigada do cepticismo. Apresenta duas modalidades: o 
probabilismo e o relativismo. 
O probabilismo entende que é possível um conhecimento 
provável, mas não um conhecimento certo; que podemos 
formular uma opinião, mas não garantir uma certeza. Os seus 
principais defensores foram na antiguidade: Arcesilau e 
Carneades. 
O relativismo sustenta que as nossas verdades são relativas que e 
não absolutas. Esta posição pode resultar do sujeito ou do 
objecto. 
Crítica do cepticismo 
O cepticismo conclui, pela impossibilidade de qualquer 
conhecimento (cepticismo absoluto) ou dum conhecimento de 
validade universal (cepticismo moderado). 
Mas, o cepticismo não tem justificação: porque, os sentidos não 
erram: os sentidos são simples instrumentos de captação de 
estímulos, instrumentos limitados, que a técnica humana vai 
ampliando, e nunca capacidade interpretáveis. Porque, se a razão 
erra, e na verdade, erra, porque só ela interpreta, é susceptível de 
corrigir o erro. 
Por conseguinte, não há motivo para uma descrença total no valor 
dos sentidos e da razão. Por outro lado, é evidente que, quer o 
cepticismo absoluto quer o cepticismo moderado, se contradizem, 
porque ambos têm a certeza da verdade absoluta das suas 
posições. 
 Dogmatismo 
A palavra dogmatismo vem do grego dogmatikós, significa, “que 
se funda em princípios”, ou “relativo a uma doutrina”. 
Dogmatismo é doutrina segundo a qual o homem pode atingir a 
certeza. 
Filosoficamente é uma atitude que consiste em admitir que a 
razão humana tem a possibilidade de conhecer a realidade. 
Do ponto de vista religioso, chamamos dogma a uma verdade 
fundamental e indiscutível da doutrina. Na religião cristã, por 
exemplo, há o dogma da Santissima Trindade, segundo a qual as 
três pessoas (Pai, Filho e Espirito Santo) não são três deuses, mas 
apenas um. Deus é uno e trino. Não importa se a razão consegue 
entender, já que é um principio aceito pela fé e o seu fundamento 
é a revelação divina. 
Quando transpomos a ideia de dogma para o campo não-
religioso, ela passa a designar as verdades inquestionáveis. Só 
que, nesse caso, não se estando no domínio da fé religiosa, o 
dogmatismo torna-se prejudicial, já que o homem, de posse de 
uma verdade, fixa-se nela e abdica de continuar a busca. 
O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o homem 
dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de 
 Introdução à Filosofia 61 
 
uma vez por todas. Nietzsche dizia que “as convicções são 
prisões”. Refractário ao diálogo, o homem dogmático teme o 
novo e não raro se torna intransigente e prepotente. Quando 
resolve agir, o fanatismo é inevitável, e com ele, a justificação da 
violência. 
Também chamamos dogmáticos, os seguidores de “escolas” e 
tendências quando se recusam a discutir suas verdades, 
permanecendo refractários às mudanças. 
Quando o dogmatismo atinge a politica, assume um caracter 
ideológico que nega o pluralismo e abre caminho para a 
imposição da doutrina oficial do Estado e do partido único, com 
todas as infelizes decorrências, como sensura e repressão. Em 
nome do dogma da raça ariana, Hítler cometeu genocídios dos 
judeus e ciganos nos campos concentração. 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Quais são as correntes filosóficas que falam da possibilidade 
do espírito humano alcançar ou não o conhecimento? 
Resposta: As Correntes filosóficas que falam da possibilidade do 
espirito humano alcansar ou não o conhecimento são o 
cepticismo e o dogmatismo. 
2- Qual é a diferença entre o Cepticismo e o Dogmatismo? 
Resposta: Cepticismo é a doutrina que afirma que não se pode 
obter nenhuma certeza a respeito da verdade, o que implica numa 
condição intelectual de dúvida permanente e na admissão da 
incapacidade de compreensão de fenômenos metafísicos, 
religiosos ou mesmo da realidade. O termo originou-se a partir do 
nome comumente dado a uma corrente filosofia originada na 
Grécia Antiga, enquanto que Dogmatismo é doutrina segundo a 
qual o homem pode atingir a certeza; filosoficamente é uma 
atitude que consiste em admitir que a razão humana tem a 
possibilidade de conhecer a realidade. 
 
 
 
 
 62 Unidade 
 
Unidade N0 12-A0010 
Tema: Origem do conhecimento 
Introdução 
Desde a antiguidade a Filosofia buscou perceber sobre qual era a 
origem do conhecimento. Alguns defenderam que o homem 
nasce com os conhecimentos, e outros ainda afirmaram que o 
conhecimento adquir-se pela experiência. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer a origem do conhecimento; 
 Identificar as correntes e os representantes da origem do 
conhecimento; 
 Diferenciar oempirismo do racionalismo. 
Sumário 
Empirismo 
A palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa 
“experiência”. O empirismo, sustenta que todo o conhecimento 
é, de raiz; particular e contingente, a posteriori, visto que procede 
inteiramente da experiência, isto é, o fundamento e a fonte de 
todo e qualquer conhecimento é experiência sensível, responsável 
pela existência das ideias na razão e controlando o trabalho da 
própria razão, pois o valor e o sentido da actividade racional 
dependem do que é determinado pela experiência sensível. 
Para os empiristas, o modelo do conhecimento verdadeiro é dado 
pelas ciências naturais ou ciências experimentais, como a física e 
a química. Os principais representantes do empirismo são: 
Francis Bacon, John Locke e David Hume. 
Francis Bacon 
Francis Bacon (1561-1626), seguindo a tradição empirista inglesa 
que remonta a Roger Bacon (séc. XIII), realça o significado 
histórico da ciência e do papel que ela poderia desempenhar na 
vida da humanidade. Seu lema “saber é poder” mostra como ele 
 Introdução à Filosofia 63 
 
procura, bem no espírito da nova ciência, um saber instrumental, 
que possibilita a dominação da natureza. 
Na sua obra Novum Organon (Novo órgão, no sentido de 
instrumento de pensamento), Bacon faz uma crítica da lógica 
aristotélica, opondo ao ideal dedutivista a eficácia da indução 
como método da descoberta. 
Inicia pela denúncia dos preconceitos e noções falsas que 
dificultam a apreensão da realidade, aos quais chama de ídolos. 
Os ídolos da tribo: estão fundados na própria natureza humana, 
na própria tribo ou espécie humana. Todas as percepções, tanto 
dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza 
humana e não com o universo. Isso significa que muitos dos 
nossos enganos derivam da tendência ao antropomorfismo. 
Os ídolos da caverna: são os dos homens enquanto indivíduos. 
Pois cada um, além das aberrações próprias da natureza em geral, 
tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da 
natureza; seja devido à natureza própria singular de cada um; seja 
devido à educação ou conversação com os outros. 
Os ídolos do foro: são os provenientes, de certa forma, das 
relações estabelecidas entre os homens devido ao comércio. 
“Com efeito, os homens se associam graças ao discurso, e as 
palavras são cunhadas pelo vulgo. E as palavras, impostas de 
maneira imprópria e inepta, bloqueiam espontaneamente o 
intelecto. E os homens são assim arrastados a inúmeras e inúteis 
controvérsias e fantasias”. 
Os ídolos do teatro: são os “ídolos que imigraram para o espírito 
dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também 
pelas regras viciosas da demonstração. Ademais, não pensamos 
apenas nos sistemas filosóficos, na sua universalidade, mas nos 
numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em 
vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência”. 
Francis Bacon desenvolve um estudo da indução a partir do 
carácter estéril do silogismo e insiste na necessidade da 
experiência e da investigação segundo métodos precisos. 
John Locke 
John Locke (1632 – 1704) tornou-se conhecido pela contribuição 
como teórico do liberalismo. Sua reflexão a respeito da teoria do 
conhecimento parte da leitura da obra de Descartes e consiste em 
saber “qual é a essência , qual é a origem, qual é o alcance do 
conhecimento humano”. Na sua obra Ensaio sobre o 
entendimento humano, Locke deixa o caminho “lógico” 
percorrido por Descartes e escolhe o “psicológico”. 
Escolhendo o caminho psicológico, distingue duas ideias 
possíveis para as nossas ideias: a sensação e a reflexão. 
A sensação é o resultado da modificação feita na mente através 
dos sentidos, e a reflexão é a percepção que a alma tem daquilo 
que nela ocorre. Portanto, a reflexão se reduz apenas a 
 64 Unidade 
 
experiência interna do resultado da experiência externa produzida 
pela sensação. 
David Hume 
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, leva mais adiante o 
empirísmo de Francis Bacon e Locke. Partindo do princípio de 
que só os fenômenos são observáveis e de que o mecanismo 
íntimo do real não é passível da experiência, afirma que as 
relações são exteriores aos seus termos, ou seja, se não são 
observáveis, não podem pertencer aos objectos. 
As relações são simples modo que o homem tem de passar de um 
objecto a outro, de um termo a outro, de uma ideia particular a 
outra. São apenas passagens externas que nos permitem associar 
os termos a partir dos princípios de causalidade, semelhança e 
contiguidade. 
Assim, Hume nega a validade universal do princípio de 
causalidade e da noção de necessidade a ele associada. Para 
Hume, o que observamos é a sucessão dos factos ou a sequência 
de eventos, e não o nexo causal entre esses mesmos factos ou 
eventos. O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que 
pode ser alcançado pela experiência é o hábito criado através da 
observação dos casos semelhantes. A partir deles, imaginamos 
que o facto actual se comportará de forma análoga. 
A única base para as ideias ditas gerais, é a crença, que, do ponto 
de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima do 
conceito. 
O racionalismo 
Doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa 
inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como 
a origem do Universo. Privilegia a razão em detrimento da 
experiência do mundo sensível como via de acesso ao 
conhecimento. Considera a dedução como o método superior de 
investigação filosófica. René Descartes (1596-1650), Spinoza 
(1632-1677) e Leibniz (1646-1716) introduzem o racionalismo 
na filosofia moderna. Friedrich Hegel (1770-1831), por sua vez, 
identifica o racional ao real, supondo a total inteligibilidade deste 
último. O racionalismo é baseado nos princípios da busca da 
certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a 
priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são 
elaborados somente pela razão. 
Na passagem do século XVIII para o XIX, Immanuel Kant 
(1724-1804) revê essa tendência de associar o pensamento à 
análise pura e simples e inaugura o neo-racionalismo. A nova 
doutrina aceita as formas a priori da razão, afirmando, entretanto, 
que elas necessariamente devem ser conjugadas aos dados da 
experiência para que possa haver conhecimento. O racionalismo 
dos séculos XVII e XVIII influencia a religião e a ética até hoje. 
Está presente nas várias seitas do protestantismo, que dispensam 
a autoridade e a revelação religiosa em favor dos postulados 
lógicos e racionais sobre a existência de Deus. Influencia, 
 Introdução à Filosofia 65 
 
também, a conduta moral que atribui à razão e aos princípios 
inatos de bondade, entre outros, a capacidade humana de se bem 
conduzir. 
O racionalismo cartesiano 
René Descartes (1596-1650), cujo nome latino era Cartesius (daí 
seu pensamento ser conhecido como “cartesiano”), é considerado 
o “pai da filosofia moderna”. Dentre suas obras, o Discurso do 
método e Meditações metafísicas expressa a tendência de 
preocupação com o problema do conhecimento. O ponto de 
partida é a busca de uma verdade primeira que não possa ser 
posta em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método. Começa 
duvidando de tudo, das afirmações do senso comum, dos 
argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das 
informações da consciência, das verdades deduzidas pelo 
raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade de seu 
próprio corpo. 
O cogito 
Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante de seu 
próprio ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo: 
“Cogito, ergo sum”, “Penso, logo existo”. Eis, aí o fundamento, o 
ponto de partida para a construção de todo o seu pensamento. 
Mas este “eu” cartesiano é puro pensamento, pois, no caminho da 
dúvida, a realidade do corpo (res extensa, coisa externa, 
material), foi colocada em questão. 
A partir dessa intuição primeira (a existência do ser que pensa), 
que é indubitável,Descartes distingue os diversos tipos de idéias, 
percebendo que algumas são duvidosas e confusas e outras são 
claras e distintas. 
As idéias claras e distintas são idéias gerais que não derivam do 
particular, mas já se encontram no espírito, como instrumentos de 
fundamentação para a apreensão de outras verdades. São as 
idéias inatas, que não estão sujeitas a erro pois vêm da razão, 
independentemente das idéias que “vêm de fora”, formadas pela 
acção dos sentidos, e das outras que nós formamos pela 
imaginação. São inatas, não no sentido de o homem já nascer 
com elas, mas como resultantes exclusivas da capacidade de 
pensar. São idéias verdadeiras. Nessa classe estão a idéia de 
substância infinita de Deus e a idéia de substância finita, com 
seus dois grandes grupos: a res cogitans e a res extensa. 
Embora o conceito de idéias claras e distintas resolva alguns 
problemas com relação à verdade de parte do nosso 
conhecimento, não dá nenhuma garantia de que o objecto 
pensado corresponda a uma realidade fora do pensamento. Como 
sair do próprio pensamento e recuperar o mundo. 
Deus 
Para isso, lança mão, entre outras provas, da famosa prova 
ontológica da existência de Deus. O pensamento deste objecto – 
Deus – é a idéia de um ser perfeito; se um ser é perfeito, deve ter 
 66 Unidade 
 
a perfeição da existência, se não lhe faltaria algo para ser 
perfeito. 
O mundo 
Se Deus existe e é infinitamente perfeito, não me engana. A 
existência de Deus é garantia de que os objectos pensados por 
idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem 
realidade. E dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo 
existe. O que caracteriza a natureza do mundo é a matéria e o 
movimento (res extensa), em oposição à natureza espiritual do 
pensamento (res cogitans). 
Podemos perceber, nesse relato, uma tendência forte e absoluta 
de valorização da razão, do entendimento e do intelecto. 
O intelectualismo 
O intelectualismo, do latim intus legere = ler dentro, é uma 
criação de Aristóteles (séc. IV a.C.), mais tarde desenvolvida por 
Santo Tomás de Aquino. Aristóteles estava sob influência de 
duas correntes opostas, a empirista dos pré-socráticos e a 
racionalista de Platão, de que era discípulo. O intelectualismo é 
superação destes contrários. 
Aristóteles concorda com Platão, que só há ciência em geral, do 
universal e do necessário, que o verdadeiro conhecimento é 
constituído por idéias. Porém, porque é mais amigo da verdade 
que do mestre, recusa a teoria da reminiscência. No seu entender, 
as idéias não estão fora e por cima deste mundo. Estão nas coisas, 
no fundo das coisas, encobertas pelo véu dos caracteres 
existenciais, particulares e contingentes, de cada coisa concreta. 
 Constituem a síntese dos caracteres comuns, essenciais, das 
coisas. Importa, pois, afastar o véu das aparências mutáveis para 
se apreender, então, a verdadeira realidade, a idéia ou essência. 
E, como? 
Os sentidos põem-nos em contacto com as existências, as coisas 
concretas, dão-nos delas imagens sensíveis, percepções. 
Seguidamente, a razão debruça-se sobre essas percepções e extrai 
delas as essências. Utiliza, para isso, duas faculdades: o intelecto 
activo ou agente e o intelecto passivo ou possível. 
O intelecto activo ou agente é uma luz potente que atravessa o 
véu das características singulares e põe a descoberto, no fundo da 
coisa, a essência mesma. Realiza assim a leitura do 
conhecimento, que, imediatamente é recebido, tanto quanto 
possível, pelo intelecto passivo ou possível. 
Construtivismo 
No construtivismo, Piaget afirma o seguinte: “só se conhece e 
aprende aquilo que se faz”. Portanto, o conhecimento resulta não 
da assimilação de percepções, mas da interiorização das acções 
do sujeito sobre os objetos. 
Esta teoria opõe-se ao empirismo e, em certo sentido aproxima-se 
do apriorismo Kantiano, do qual dá versão psicológica e 
 Introdução à Filosofia 67 
 
experimental, pondo em evidência o carácter evolutivo e 
processual da estruturação dos conceitos com base nos quais 
opera o nosso conhecimento. 
O construtivismo defende a tese de que qualquer conhecimento, é 
produto de uma construção progressiva a partir das formas 
evolutivas da embriogénese biológica. Quanto mais avançamos 
no conhecimento do desenvolvimento lingüístico da criança, 
mais tomamos consciência da actividade intensa que ela 
desenvolve na descoberta das regras e das funções da sua própria 
capacidade lingüística. 
Relativismo 
O relativismo entende que não existem verdades absolutas, mas 
apenas verdades relativas, que têm uma validade limitada a um 
certo tempo, a uma situação determinada. É o oposto do 
absolutismo, que defende a existência de verdades absolutas. 
Exercícios 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Quais são as principais correntes que falam da origem do 
conhecimento? 
Resposta: As principais correntes que falam da origem do 
conhecimento são o racionalismo e o empirismo. 
2- Qual é a diferença entre racionalismo e empirismo? 
Resposta: O racionalismo defende que o conhecimento vem da 
razão, enquanto que o empirismo, defende a experiência como a 
principal fonte do conhecimento. 
 
 
 
 68 Unidade 
 
Unidade N0 13-A0010 
Tema: Natureza do conhecimento 
Introdução 
Assim como no capitulo anterior falamos da origem do 
conhecimento, nesse capitulo abordaremos sobre a natureza do 
conhecimento. Alguns pensadores indicam que o conhecimento é 
real e outros ainda, que o conhecimento e ideal. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer a natureza do conhecimento; 
 Identificar as correntes e os representantes que falam da natureza do 
conhecimento. 
Sumário 
Realismo 
Realismo é a posição filosófica que afirma a existência objectiva 
ou em si da realidade externa como uma realidade racional em si 
e por si mesma e, portanto, que afirma a existência da razão 
objetiva. 
O realismo se manifestou naturalmente e de modo sistemático na 
filosofia antiga e medieval. A partir do século XII, com o advento 
da filosofia moderna e do idealismo, o realismo não tem deixado 
de se manifestar em escolas e pensadores dos mais diversos. 
Assim destacam-se os seguintes representantes: Russel e Samuel 
Alexander, que representam o neo-realismo inglês; Jasper e 
Sartre, que são os filósofos existencialistas; Lukacs e Kosik são 
pensadores marxistas, como, aliás, Sartre também. 
Formas do realismo 
Realismo ingênuo: espontaneamente convictos de que o sujeito 
apreende, imediatamente, e na sua corporeidade, o objeto, os 
primeiros pensadores não se dão conta de que o conhecimento de 
 Introdução à Filosofia 69 
 
modo mediato, através duma percepção. E, porque não 
distinguem o conteúdo da percepção do objecto percepcionado, 
são, espontaneamente, levados a considerar objectivas, isto é, 
como existindo nas coisas, todas as qualidades daquele conteúdo. 
Quer dizer, o objecto é tal qual o sujeito o percepciona: é um 
realismo ingênuo. 
Realismo natural: o posterior aparecimento do espírito crítico 
põe a descoberta isso mesmo que o realismo ingênuo ignora: que 
o conhecimento não se faz por contacto direto, mas mediante 
uma percepção. Distingue-se, pois, entre conteúdo da consciência 
e objeta percebido. Porém, continua naturalmente a acreditar-se 
que todas as propriedades desse conteúdo exprime as do objeto. É 
um realismo natural: o vermelho existe na crista do galo, o 
agradável na aroma da flor, a doçura no açúcar, etc. Esta 
concepção foi defendida por Aristóteles e vigorou até a idade 
moderna. É característica da física medieval, uma física 
qualitativa. 
Realismo crítico: a partir do século XVI, com a conversão da 
física a ciência quantitativa, o realismo natural cede ao realismo 
crítico, para quem só são objetivas, só existem realmente nas 
coisas, as propriedades atingidas por mais do que um sentido, a 
saber, a extensão e o movimento. Todas as outras – cores, sons, 
sabores, odores – experimentadospor um só sentido, não existem 
nos objetos, são meras reações subjetivas da nossa sensibilidade. 
Pois que nas coisas só existem a extensão e o movimento, então, 
a matéria ou o mundo reduz-se a figuras e a números, isto é, a 
matemática. A física moderna é uma físico-matemática. As 
propriedades objetivas, percebidas por mais do que um sentido, 
chamará, mais tarde Locke, qualidades primárias, e as restantes, 
de natureza subjetiva, as qualidades secundárias.. 
Em conclusão e fundamentalmente, o realismo reduz-se em duas 
formas: natural e crítico. 
Idealismo 
Tendência filosófica que reduz toda a existência ao pensamento. 
Opõe-se ao realismo, que afirma a existência dos objetos 
independentemente do pensamento. No idealismo absoluto, o ser 
é reduzido à consciência. Ao longo da história da filosofia, ele 
aparece sob formas menos radicais não nega categoricamente a 
existência dos objetos no mundo, mas reduz o problema à 
questão do conhecimento. O idealismo toma como ponto de 
partida para a reflexão o sujeito, não o mundo exterior. 
O idealismo metódico de Descartes é uma doutrina racionalista 
que, colocando em dúvida todo o conhecimento estabelecido, 
parte da certeza do pensar para deduzir, por meio da idéia da 
existência de Deus, a existência do mundo material. O idealismo 
dogmático surge com George Berkeley (1685-1753), que 
considera a realidade do mundo exterior justificada somente pela 
sua existência anterior na mente divina ou na mente humana. 
Para ele, "ser é ser percebido". 
Immanuel Kant formula o idealismo transcendental, no qual o 
objeto é algo que só existe em uma relação de conhecimento. Ele 
 70 Unidade 
 
distingue, portanto, o conhecimento que temos dos objetos, 
sempre submetidos a modos especificamente humanos de 
conhecer, como as idéias de espaço e tempo, dos objetos em si, 
que jamais serão conhecidos. Na literatura, o romantismo adota 
boa parte dessas idéias. 
Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Friedrich Von Schelling 
(1775-1854) desenvolvem esse conceito e se tornam expoentes 
do idealismo alemão pós-kantiano. Eles conferem às idéias de 
Kant um sentido mais subjetivo e menos crítico: desconsideram a 
noção da coisa-em-si e toma o real como produto da consciência 
humana. Friedrich Hegel (1770-1831) emprega o termo 
idealismo absoluto para caracterizar sua metafísica. Ao 
considerar a realidade como um processo, ele discute o 
desenvolvimento da idéia pura (tese), que cria um objeto oposto a 
si - a natureza (antítese) -, e a superação dessa contradição no 
espírito (síntese). Esse movimento se dá na história até que o 
espírito se torne espírito absoluto, ou seja, supere todas as 
contradições, por meio da dialética, e veja o mundo como uma 
criação sua. 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Quais são as correntesfilosóficas que defendem a natureza 
do conhecimento? 
Resposta: As correntes filosóficas que defendem a natureza do 
conhecimento são o realismo e o idealismo. 
2- Destaque as diferenças existentes entre o realismo e o 
idealismo. 
Resposta: Realismo é a posição filosófica que afirma a existência 
objectiva da realidade externa como uma realidade racional em si 
e por si mesma, ou seja, afirma a existência da razão objetiva, 
enquanto que idealismo é tendência filosófica que reduz toda a 
existência ao pensamento. No idealismo absoluto, o ser é 
reduzido à consciência. 
 
 
 
 Introdução à Filosofia 71 
 
Unidade N0 14-A0010 
Tema: Níveis de conhecimento 
Introdução 
Como acabamos de nos referir acima, o conhecimento é a 
relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objecto 
conhecido. O sujeito que conhece se apropria, de certo modo, do 
objecto conhecido. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer os níveis do conhecimento; 
 Analisar a importância, limites e perigos do conhecimento cientifico; 
 Descrever as perspectivas da análise do conhecimento; 
 Conhecer os elementos que interagem no conhecimento. 
 
Sumário 
Através do conhecimento, reconstruímos, em nós, a realidade (o 
Ser), através de imagens (conhecimento sensível) e de idéias 
(conhecimento intelectual). 
a) Senso comum ou popular: é o conhecimento do povo, que nasce da 
experiência do dia-a-dia: por isso, é chamado também de “empírico”, ou 
“vulgar”, quer dizer, do povo (criança, lavrador iletrado, dados 
encontrados na TV, nos jornais etc.). É ametódico e assistemático, mas é 
a base do saber. 
 
b) Científico: durante a Antigüidade e a Idade Média desenvolveu-se um 
saber racional, distinto do mito e do saber comum: e era chamado de 
filosofia. 
Mas, a partir de Galileu (1564-1642), nasce a ciência moderna 
pois é determinado o objeto e o método desta ciência. A ciência 
tem como objeto a descoberta das leis que presidem os 
fenômenos sensíveis; e, como método, serve-se da observação 
sistemática e, quando possível, da experimentação. Dessa 
maneira, a ciência se separa da filosofia. 
 72 Unidade 
 
As ciências são particulares, pois privilegiam setores distintos da 
realidade sensível (física, química, biologia...). Serve-se de 
instrumentos (balança, termômetro, microscópio, computador...) 
e utilizam a matemática (ex. na estatística). Mesmo aspirando à 
objetividade, as ciências não são infalíveis: para o filósofo Karl 
Popper (1902-1994), todo conhecimento científico é hipotético e 
se desenvolve a partir de erros anteriores. 
A ciência gerou a tecnologia que mudou o habitat humano, 
particularmente no século XX. De fato, permite a previsibilidade 
dos fenômenos: o que possibilita um maior poder para a 
transformação da natureza. 
c) Filosófico: Enquanto as ciências estudam uma parte da realidade 
sensível, a filosofia questiona todas as coisas, procurando saber sua 
essência (o que é?), sua origem (de onde vem?), seu destino (para onde 
vai?), seu sentido (por quê?). 
Do ponto de vista etimológico, “filosofia” significa “amor à 
sabedoria”. Pode ser definida como “aquela disciplina que 
procura descobrir o sentido último (origem, essência, destino) de 
todas as coisas, servindo-se da razão (método racional)”. Por 
isso, a filosofia tem como objeto analisar tudo. 
A título de exemplo, enquanto o biólogo (cientista) questiona os 
dados sensíveis do ser humano (como a célula, o tipo de 
sangue...), o filósofo questiona o homem como um todo e se 
pergunta: Quem é o homem? De onde ele vem? Para onde ele 
vai? Quais são seus elementos constitutivos fundamentais? 
Os principais problemas da filosofia são: cosmológico (do 
mundo); gnosiológico (do conhecimento); epistemológico 
(questiona a ciência); antropológico (do homem); metafísico ou 
ontológico (do ser e de sua origem); ético (do bem e do mal); 
político (da sociedade); estético (da arte); pedagógico (da 
educação); lingüístico (filosofia da linguagem); jurídico (filosofia 
do direito). 
Na filosofia, além de estudar as reflexões dos pensadores do passado, 
colocam-se as novas questões que surgem na atualidade, por exemplo, 
o sentido da técnica, os aspectos éticos da globalização ou da 
engenharia genética. 
d) teológico: A verdade pode ser encontrada tanto pelo caminho da 
investigação (nas ciências e na filosofia), como pelo caminho da 
revelação e do encontro com o Transcendente (típico da experiência 
religiosa). O homem responde à “Revelação de Deus” através da “Fé”. 
A Teologia procura integrar os conhecimentos da Razão com os dados 
da Fé. Seu método é, pois, caracterizado por esta integração; enquanto 
que seu objeto de investigação é constituído pelos dados da fé. 
 Introdução à Filosofia 73 
 
No exemplo específico do cristianismo, pertencem à razão os 
seguintes dados: a existência histórica de Moisés, dos profetas, de 
Jesus de Nazaré, dos apóstolos; a historicidade dos evangelhos; o 
estudo dos gêneros literários ou das línguas da Bíblia, etc. 
E pertencem à fé as afirmações do credo cristão: Jesus Filho de 
Deus e Salvador, o perdão dos pecados, a ressurreiçãofinal, etc. 
Fé e razão são as duas asas através das quais o espírito humano 
“voa” rumo à verdade. Por isso, a fé e a razão podem se 
enriquecer reciprocamente. 
A ciência sem a religião é claudicante; e a religião sem a ciência 
é cega, diz Albert Einstein. O filósofo francês Jacques Maritain 
(1882-1973), na sua obra “Os graus do saber”, fala de cinco graus 
de conhecimento: 1. O saber da ciência; 2. o saber da 
matemática (a abstração do número); 3. o saber filosófico; 4. o 
saber teológico (síntese entre fé e razão); 5. o saber místico (a 
experiência direta de Deus em si mesmo e na sua relação com o 
homem, típica da oração contemplativa). 
Para ele, no que diz respeito à relação fé-razão, os princípios do 
saber provêm da razão; e a fé oferece o sentido da verdade, a 
necessidade de procurá-la. A fé confere à razão seja o sentido do 
seu limite (pois a razão não explica tudo), seja um corpo de 
verdades transcendentais, quer dizer, comuns a toda a 
humanidade, que dão sentido ao saber: por exemplo, o 
cristianismo ensinou a fé no progresso civil da humanidade; a 
dignidade da pessoa humana; a dignidade do povo; a igualdade 
entre os homens; o caráter relativo de toda autoridade; a 
coincidência entre política e moral; a liberdade; a fraternidade. 
Importância e perigos do conhecimento científico 
O nascimento do “método científico” é, ao mesmo tempo, o 
início de um processo que, juntamente com outros factores 
(políticos, sociais, culturais), foi definido como “época 
moderna”, ou “modernidade”. 
Nesse processo começa a emergir um novo tipo de humanidade, 
consciente da própria autonomia e de sua própria força racional. 
No momento em que Descartes cunha o famoso axioma “Penso, 
logo existo”, a razão começa a celebrar o seu triunfo. 
Tal autonomia do ser humano recebe novo impulso a partir do 
século XVIII, com a civilização industrial ou o desenvolvimento 
técnico-científico. A civilização tecnológica trouxe consigo uma 
crescente urbanização, com o conseqüente anonimato citadino, 
uma mobilidade constante, a valorização da educação, das 
mudanças e do progresso, e uma acentuada disparidade entre 
países ricos e países pobres. Tanto os países capitalistas como os 
socialistas tiveram o mesmo ideal: resolver os problemas da 
humanidade pelo ter mais e pelo não ser mais. 
A civilização tecnológica é essencialmente urbana: e no século 
XX, esse fenômeno se generalizou no mundo inteiro. Então, viu-
 74 Unidade 
 
se que o mundo está a se tornado “cidade”, mas as cidades de 
hoje têm seus grandes contrastes de vida e de morte, de esperança 
e de desespero. 
A civilização tecnológica separa o homem da natureza e obriga a 
viver em um ambiente totalmente artificial, e não inadequado, 
tirânico e psicologicamente aterrador. 
A educação hoje não é mais responsabilidade apenas da família, 
pois se tornou condição essencial no processo de 
desenvolvimento técnico-científico. Eis a razão pela qual as 
sociedades tecnopolitanas investem uma grande percentagem do 
seu orçamento na educação, o que consequentemente, estimula as 
pesquisas científicas. A racionalidade, o espírito crítico e a 
evolução do próprio pensamento filosófico requerem uma 
margem muito grande de liberdade de pensamento e de 
expressão. 
O homem tecnopolitano se caracteriza por uma crença quase cega 
com referência ao poder das ciências e da técnica. Como estas 
são dinâmicas e não estáticas, o homem de hoje valoriza, e às 
vezes de maneira ingênua e irracional, as mudanças e o 
progresso. Para ele, as ciências e a técnica são as únicas vias de 
acesso à solução de todo e qualquer problema. Essa crença na 
ciência esta vinculada a “fé” num progresso sem limites. 
Portanto, o que vale é o pregresso, não importante que ele seja 
racional, trazendo assim benefícios a todos, ou se irracional, 
destruído e ameaçador. Quanto maior forem as descobertas 
científicas, maior é mudança de ritmo na vida dos homens: 
mudanças de mentalidade e a maneira de ser, do conceber a 
realidade e de se relacionar com a mesma. Estes sucessos 
científicos levaram fizeram com que os filósofos ganhassem 
maior confiança nas ciências físico-matemáticas, deprecionando 
todo o tipo de saber que não é empírico. 
August Comte (1798-1857), inspirado pela realidade do século 
XVII, fez um estudo geral da evolução da história e formulou a 
lei dos três estádios, segundo a qual a humanidade, assim como o 
psiquismo humano, atravessa três estádios, a saber: teológico, 
metafísico e positivo. 
O estádio teológico, corresponde à infância, o metafísico à 
juventude e o positivo à sua maturidade. No estádio positivo não 
se admite a justificação nem teológica, nem filosófica da 
realidade, mas apenas a científica. O científico está ligado ao 
empírico, ao prático. 
O critério científico deita por terra todo o discurso relativo à 
religião e aos sentimentos que são constitutivos do homem. A 
Ciência, mostra-se como aquela que vem emancipar o homem do 
obscurantismo, da tradição, da cultura, etc., tornando-o mais 
racional, procurando, cada vez mais o seu bem-estar. É, portanto, 
progressista. 
A ciência proporcionou um avanço tecnológico, que nem sempre 
se mostrou favorável ao homem. A crença no progresso vacilou 
 Introdução à Filosofia 75 
 
com II Guerra Mundial. Os efeitos do industrialismo tornam-se 
assustadoramente evidentes da degradação do meio ambiente, no 
esgotamento dos recursos naturais não renováveis e na 
desorientação da camada do ozono. 
A tecno-ciência é ao mesmo tempo construtora e destruidora. 
Enquanto se produz cimento para melhorar a habitação dos 
homens, destrói-se consequentemente a camada do ozono, 
através dos gazes que a indústria expele no acto de fabrico do 
cimento, tão necessária para a sobrevivência humana. Como não 
é difícil perceber, o homem auto-destrói-se-à medida que procura 
emancipar-se. Este ponto fez com que Francis Fukuyama 
negasse a própria idéia de progresso. 
Outro ponto em que o avanço da ciência tecnológica mingua 
refere-se à substituição de mão de obra humana pelas máquinas. 
O trabalho realizado pelas máquinas tende a ser mais perfeito do 
que o feito pelas mãos humanas. As conseqüências disto são 
desastrosas. Por exemplo: um computador leva ao desemprego 
milhares e milhares de homens, desgraçando assim muitas 
famílias. 
Limites do conhecimento científico 
As limitações da ciência em responder aos problemas concretos 
do homem fez com que a confiança autrora dada à ciência 
passasse a ser questionada. A classificação tripartida da história 
humana, proposta pelo positivismo errou por ter hipertrofiado o 
método das ciências experimentais, desvalorizando todo o tipo 
de saber diferente do proposto pelo seu método. 
Dilthey, o maior representante da nova corrente filosófica oposto 
ao positivismo, observa que o método positivo das ciências 
experimentais satisfaz apenas às exigências do estudo dos 
fenômenos naturais, sendo absolutamente inadequado para o 
estudo e a compreensão dos fenômenos culturais ou espirituais. 
Existe, portanto, dois grupos de ciências: o das ciências da 
natureza e o das ciências do espírito, cada um deles dotado de 
método próprio e, por isso, também de objecto próprio. 
Perspectivas de análise do conhecimento 
Perspectiva fenomenológica – conhecimento como um 
fenômeno 
A fenomenologia é um método de análise ou uma atitude face ao 
real, que consiste em descrever aquilo que se manifesta ou 
aparece numa experiência. A palavra “fenômeno”, nesta 
perspectiva, significa, “o que se manifesta ou revela, o que se 
mostra”. 
O fenômeno constituiu-se pois, como descrição dos elementos 
presentes numa situação, numa vivência, procurando observar e 
descrever aquilo que se passa, com o objectivo de captar a 
estrutura geral do que acontece. 
 76 Unidade 
 
A fenomenologia procura centrar-se na captação directa daquilo 
que nos é imediatamente dado no mundo da consciência. Propõe-
se orientar a investigação para a matéria concreta dasnossas 
vivências, para observação daquilo que nos é dado ou que se nos 
revelam por si mesmo, na intuição dos dados presentes à 
consciência. Antes de tentar qualquer tipo de interpretação, 
pretende deixar falar os dados da nossa experiência imediata, 
fazer a descrição do que é dado à consciência do sujeito. 
A fenomenologia realça, pois, a intuição e a receptividade da 
nossa apreensão directa dos fenômenos; analisa o modo como os 
factos se apresentam à consciência. 
Na descrição dos conteúdos da consciência, ou das coisas tal 
como elas surgem perante a consciência, a fenomenologia 
procura descobrir as estruturas e as características fundamentais 
dos vários domínios da experiência. 
Nicolai Hartmann (1882-1950), filósofo alemão mostrou a 
análise fenomenológica segundo os seguintes passos: 
- No conhecimento existe alguém que conhece, algo a conhecer e 
um encontro entre estes dois elementos – uma interacção e uma 
correlação; 
- No conhecimento, o sujeito como que sai de si, está fora de si e 
regressa a si com as determinações do objecto; 
- A função do objecto no conhecimento é deixar-se apreender, a 
função do sujeito é apreender o objecto; 
- O conhecimento é uma apreensão que o sujeito faz das 
determinações do objecto; 
- O conhecimento é, portanto, uma relação de representação, isto 
é, o sujeito é um ser capaz de ter “presente” o objecto, mesmo 
quando este está ausente; na verdade, o sujeito é dotado de uma 
faculdade de representar o objecto na sua essência, faculdade 
essa a que chamamos “consciência”; na consciência, o sujeito 
representa, através de uma imagem, ou, através de um conceito, 
um conjunto de objectos. 
 Perspectiva filogética – história evolucionista 
A perspectiva filogenética trata da evolução das espécies; os 
estudos antropológicos e paleontológicos dão-nos conta de uma 
progressiva transformação do sistema nervoso, desde os 
primeiros animais invertebrados até ao homem. A natureza 
selecciona e aprova a adaptação biogenética. Por exemplo: um 
lago ou um mar que seca só deixa a possibilidade de 
sobrevivência aos peixes que possam respirar o ar atmosférico. 
Deste modo, a libertação das mãos e a posição erecta levou o 
Homo sapiens ao desenvolvimento bio-psico-social, em que as 
actividades sensório-motores passaram, através da experiência, às 
actividades perceptivo motoras, tornando possível uma 
 Introdução à Filosofia 77 
 
interiorização das imagens que, por sua vez, constituíram o 
suporte da linguagem e da reflexão. 
Perspectiva ontogenética – formação das estruturas 
cognitivas 
No nascimento e no desenvolvimento cognitivo, há uma relação 
entre o individuo e o meio, relação esta, que é determinada por 
um processo de adaptação do indivíduo ao meio. 
Para Jean Piaget, neste processo de adaptação identificam-se duas 
actividades inter-relacionadas: assimilação e acomodação, que 
por sua vez resulta no equilíbrio. 
Deste modo, pela actividade, acção e movimento, a criança vai 
assimilando ou incorporando o mundo exterior e, acomodando-se 
ou integrando-se nesse mundo, estabelecendo os estádios de 
equilíbrio cada vez mais estáveis. 
Elementos do conhecimento: sujeito e objecto 
“Conhecer é representar cuidadosamente o que é exterior à 
mente” (Richard Rorty). A representação, por sua vez, é o 
processo pelo qual a mente torna presente diante de si a imagem, 
a idéia ou o conceito de algum objecto. 
Portanto, para haja o conhecimento, sempre será necessária a 
relação entre dois elementos básicos: um sujeito conhecedor ( 
nossa consciência, nossa mente) e um objecto conhecido ( a 
realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos). Só haverá 
conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objecto, isto é, 
consegui-lo representar mentalmente. 
Dependendo da corrente filosófica, será dada, no processo de 
conhecimento, maior ou menor importância ao sujeito (é o caso 
do idealismo) ou ao objecto (é o caso do realismo ou 
materialismo). 
Para o realismo, as percepções que temos dos objectos 
correspondem de facto às características presentes nesses 
objectos, na realidade, e, para o idealismo, o sujeito é que 
predomina em relação ao objecto, isto é, o objecto se mostra 
como realmente é ao sujeito que o percebe, determinando o 
conhecimento que se estabelece. 
Classificação das ciências segundo Augusto Comte 
Augusto Comte considera a existência de seis ciências 
fundamentais: a matemática, a astronomia, a física, a química, a 
biologia e a física social - a hierarquia que se estabelece 
naturalmente entre elas, baseia-se em critérios históricos, lógicos 
e pedagógicos. 
A hierarquia das ciências fundamentais indica a ordem histórica 
necessária pela qual foram nascendo, o espírito humano tendo 
passado ao objecto mais complicado só depois de dominar os 
mais simples e nessa perspectiva o recente intento de fundar a 
 78 Unidade 
 
física social como ciência positiva, supunha obviamente os 
progressos alcançados nas demais ciências. 
A filosofia não é equiparada às ciências fundamentais que são 
objecto da referida classificação hierárquica. Cada uma destas 
ciências é particularizada por uma classe própria de problemas e 
por um método específico de abordagem dos mesmos, muito 
embora respeitando os princípios gerais do método positivo, 
condição necessária ao estatuto do saber científico. 
 
Exercícios 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quais são os elementos do conhecimento? 
Resposta: Os elementos do conhecimento são o sujeito que conhece 
e o objecto que se faz conhecer. 
2- Identifique os níveis do conhecimento. 
Resposta: Os níveis do conhecimento são conhecimento do senso 
comum ou pupolar, conhecimento científico, conhecimento 
filosófico e conhecimento teológico. 
3- Apresente alguns limites e perigos do conhecimento científico. 
Resposta: O conhecimento científico separa o homem da natureza, 
obrigando-o a viver em um ambiente artificial e não inadequado, 
tirânico e psicologicamente aterrador, aumento do anonimato 
citadino, bem como a disparidade entre países ricos e pobres. 
 Introdução à Filosofia 79 
 
Unidade N0 15-A0010 
Tema: Introdução à Lógica. 
Introdução 
A lógica é uma disciplina propedêutica, é o vestíbulo da filosofia, 
ou seja, o instrumento que vai permitir o caminhar rigoroso do 
filósofo ou do cientista. A lógica é o ramo da filosofia que se 
preocupa com as regras de bem pensar, ou do pensar carrecto, 
sendo, portanto, um instrumento do pensar. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer a origem e o fundador da lógica; 
 Conhecer a relação entre linguagem e comunicação; 
 Conhecer a importância da linguagem no Homem; 
 Conhecer a relação entre linguagem, pensamento e discurso. 
Sumário 
Etimologicamente lógica vem do grego logos, que significa 
“palavra”, “expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, 
“razão”. 
A lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que 
chegamos através da apresentação das evidências que a 
sustentam. O seu fundador é Aristóteles, com a sua obra chamada 
organon. Ele divide a lógica em formal e material. 
Lógica formal (ou menor): que estabelece a forma correcta das 
operações do pensamento. Se as regras forem aplicadas 
adequadamente, o raciocínio é considerado válido ou correto. 
Lógica material (ou maior): é parte da lógica que trata da 
aplicação das operações do pensamento segundo a matéria ou 
natureza dos objectos a conhecer. Enquanto a lógica formal se 
preocupa com a estrutura do pensamento, a lógica material 
investiga a adequação do raciocínio à realidade. É também 
chamada metodologia, e como tal procura o método próprio de 
cada ciência. 
 80 Unidade 
 
A lógica estuda as condições do pensamento válido, isto é, do 
pensamento que procura alcançar a verdade. 
A linguagem como fundamento da condição humana 
A linguagem é um sistema simbólico. O homem é o único animal 
capaz de criar símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao 
objecto querepresentam e, por isso mesmo, convencionais, ou 
seja, dependentes de aceitação social. 
No momento em que nascemos entramos imediatamente em 
comunicação com os outros e com a realidade que nos circunda. 
Uma das expressões primárias dessa necessidade comunicativa é 
o primeiro choro à saída do ventre da mãe, traduzido na única 
linguagem naquele momento. 
A linguagem humana, na sua forma comum que é a palavra, 
ocupa um lugar de relevo entre os instrumentos culturais 
humanos. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento 
acumulado por uma pessoa ou sociedade. Podemos passar adiante 
esta construção da razão que se chama cultura. 
A linguagem, é assim, um dos principais instrumentos na 
formação do mundo cultural, pois é ela que nos permite 
transcender a nossa experiência. No momento em que damos 
nome a qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o 
diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a 
nossa consciência. Com esse simples acto de nomear, 
distanciamo-nos da inteligência concreta animal, limitada ao aqui 
e agora, e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo 
dos objectos que existem no mundo natural e das entidades 
abstractas que só têm existência no nosso pensamento (por 
exemplo: ações, estados ou qualidades como tristeza, beleza, 
liberdade). 
Pela linguagem, o homem deixa de reagir somente ao presente, 
ao imediato; passa a pensar o passado e o futuro e, com isso, a 
construir o seu projecto de vida. Certas necessidades do âmbito 
biológico, como comer, dormir e respirar, se manifestam 
naturalmente, pois como sabemos, a linguagem se insere no 
âmbito cultural, tem de ser aprendida sob a forma da língua 
própria da comunidade onde nascemos, crescemos, 
manifestando-se nos actos de fala próprios dessa comunidade. A 
linguagem é, portanto, o fundamento da nossa humanidade, ela 
tem um estatuto antropológico, uma vez que é ela que assegura a 
constituição do ser humano no seu processo antropológico e 
cultural. 
Linguagem e comunicação 
A linguagem é um sistema de signos artificiais e convencionais 
destinados à comunicação. Ela comporta uma estrutura 
essencialmente intencional. Com efeito a linguagem quer 
significar intenções, idéias, sentimentos, coisas, etc. Pode-se 
dizer com justa razão que a linguagem é o instrumento ideal da 
intencionalidade essencial do homem. A linguagem usa-se 
 Introdução à Filosofia 81 
 
frequentemente em oposição a língua para distinguir a função de 
se exprimir, em geral com a palavra, dos vários sistemas 
lingüísticos fixos em uma sociedade (as línguas), e comunicação 
é qualquer situação de interacção entre os seres humanos, 
evocando imediatamente a simples conversação, o diálogo, a 
discussão, o debate, os enunciados discursivos nas diversas 
situações diárias. 
A linguagem humana compreende tanto a linguagem verbal e não 
verbal. A linguagem verbal se distingue em linguagem oral, ou 
vocal, isto é, a fala, e linguagem escrita. 
No nosso tempo, a comunicação aparece como fenômeno 
complexo, uma vez que o termo designa objectos e situações 
diversas. Quando falamos em comunicação pensamos nos meios 
técnicos: rádio, televisão, telefone, fax, internet, etc.; falamos de 
comunicação pensando nos dispositivos que a permitem 
(informação, formação, publicidade, etc.). 
Vários modelos explicativos da comunicação humana têm sido 
propostos. Na sua forma mais simples podemos dizer que a 
comunicação é o resultado de três elementos fundamentais: uma 
fonte (o ser humano, um animal ou uma máquina) que emite uma 
mensagem (uma frase, um gesto, um filme, etc.) em direcção a 
um alvo (um interlocutor, um espectador, ou outro). 
Alguns modelos de comunicação conhecem uma enorme 
divulgação. É, por exemplo, o caso dos modelos de C. Shannon 
(engenheiro de telecomunicação) e de W. Weaver (filósofo da 
comunicação), datados de 1949, e o de H. Lasswell (especialista 
em ciências políticas), datado de 1948. 
 
Linguagem, pensamento e discurso 
Pensamento é a consciência ou a inteligência saindo de si para ir 
colhendo, reunindo, recolhendo os dados fornecidos pela 
experiência, pela percepção, pela imaginação, pela memória, pela 
linguagem, e voltando a si, para considerá-los atentamente, 
colocá-los diante de si, observá-los intelectualmente, pesá-los, 
avaliá-los, retirando deles conclusões, formulando idéias, 
conceitos, juízos, raciocínios, valores. 
O pensamento exprime nossa existência como seres racionais e 
capazes de conhecimento abstracto e intelectual, e sobretudo 
manifesta sua capacidade para dar a si mesmo leis, regras e 
princípios para alcançar a verdade de alguma coisa. 
O pensamento pode ser concreto e abstracto. É concreto, quando 
se forma a partir da percepção, ou seja, da representação de 
objectos reais, e é imediato, sensível e intuitivo; enquanto que o 
pensamento abstracto é aquele que estabelece relações (não – 
perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e abstract 
as, é mediato (precisa das mediações da linguagem) e racional. 
O termo “discurso” é usado em filosofia para significar uma 
operação intelectual que se processa por uma série de operações 
 82 Unidade 
 
elementares e sucessivas, encadeando-se numa seqüência 
ordenada de enunciados em que cada um retira o seu valor dos 
antecedentes, procurando chegar a determinadas conclusões. 
Há uma estreita ligação com a lógica, considerada a ciência 
reflexiva do discurso. Por isso, os gregos usam o termo logos 
que foi traduzido por discurso, razão, e ainda linguagem. 
A maioria dos lingüistas parece concordar que o discurso é em 
primeiro lugar, um acontecimento de linguagem, uma atualizarão 
da língua na palavra, materializada no acto de fala, e num acto de 
comunicação lingüística. Pensadores como Dubois (1973) 
defende que o termo “discurso” designa todo o enunciado 
superior à frase, considerado do ponto de vista das regras de 
encadeamento das seqüências de frases. 
Na perspectiva filosófica, diz-se que há discurso quando há um 
conjunto de enunciados articulados entre si de uma forma 
coerente e lógica. Esta dimensão lógico-linguística do discurso é 
por isso fundamental. 
 Introdução à Filosofia 83 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- Que é a lógica e quem é o seu fundador? 
Resposta: Lógica é a ciência que ensina o homem a raciocinar 
correctamente. O Seu fundador é Aristóteles com a sua famosa 
obra organon. Nela, divide a lógica em duas partes: lógica formal 
e lógica material. 
2- Qual é a relação existente pensamento, discurso e linguagem? 
Pensamento é a consciência ou a inteligência saindo de si para ir 
colhendo, reunindo, recolhendo os dados fornecidos pela 
experiência, pela percepção, pela imaginação, pela memória, pela 
linguagem, e voltando a si, para considerá-los atentamente, 
colocá-los diante de si, observá-los intelectualmente, pesá-los, 
avaliá-los, retirando deles conclusões, formulando idéias, 
conceitos, juízos, raciocínios, valores. 
Discurso é uma operação intelectual que se processa por uma 
série de operações elementares e sucessivas, encadeando-se numa 
seqüência ordenada de enunciados em que cada um retira o seu 
valor dos antecedentes, procurando chegar a determinadas 
conclusões. 
A linguagem é um sistema de signos artificiais e convencionais 
destinados à comunicação. Ela comporta uma estrutura 
essencialmente intencional. Com efeito a linguagem quer 
significar intenções, idéias, sentimentos, coisas, etc. Pode-se 
dizer com justa razão que a linguagem é o instrumento ideal da 
intencionalidade essencial do homem. 
 
 
 
 84 Unidade 
 
Unidade N0 16-A0010 
Tema: As dimensões do discurso 
humano 
Introdução 
O discurso humano é pluridimensional, isto é, é constituído por 
diversas dimensões. Dentre elas destacamos as seguintes: 
dimensão sintáctica, semântica e pragmática. 
Existem outras dimensões, cuja importância parece-nos 
facilmente compreensível, assim como será fácil estabelecer 
entre elas as respectivas relaçõese implicações. Dentre elas, 
destacamos as seguintes: lingüística, textual, lógico-racional, 
expressiva ou subjectiva, intersubjectiva ou comunicacional, 
argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária, 
institucional e ética. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer as dimensões do discurso humano; 
 Caracterizar cada uma das dimensões do discurso humano; 
 Destacar os novos domínios da lógica e suas implicações sociais. 
Sumário 
Dimensão é todo plano, grau ou direcção no qual se possa 
efectuar uma investigação ou realizar uma acção. 
Dimensão sintáctica 
A palavra sintáctica vem do grego, syntaxis, que significa 
coordenação. Tradicionalmente, define-se sintaxe, como a parte 
da gramática que trata das regras combinatórias entre os diversos 
elementos da frase, ou seja, trata da relação intralingüística dos 
signos entre si (Apel, Karl-Otto; sprach-pragmatik und 
Philosophie; Frankfurt; 1975) ou das relações internas que os 
signos mantêm entre sí ( Meyer, Michel; Lógica, Linguagem e 
Argumentação; Teorema; Lisboa; 1992). 
 Introdução à Filosofia 85 
 
Por outro lado, pode-se definir a sintaxe como o “conjunto dos 
meios que nos permitem organizar os enunciados, afectar a cada 
palavra uma função e marcar as relações que se estabelecem 
entre as palavras. A ordem das palavras é um dos traços 
característicos de qualquer sintaxe”. (Yagello, Marina; Alice no 
País da Linguagem; Estampa; Lisboa; 1990). 
Assim, por razões de carácter sintático: uma série de letras ao 
acaso não é uma palavra; uma série de palavras postas ao acaso 
não é uma frase; uma série de frases dispostas ao acaso não é um 
texto nem um discurso. 
Dimensão semântica 
A palavra semântica, do grego, semantikê (tékhne), que significa 
literalmente, “arte da significação”, ou arte (ciência) do 
significado. 
Semântica é a ciência que se dedica ao estudo das significações 
(Michel Bréal). 
Semântica trata da relação dos signos com o seu significado, e 
logo com o mundo (Michel Meyer). 
Portanto, a semântica trata das relações dos signos (as palavras 
ou frases) com os seus significados (significações) e destes com 
as realidades a que dizem respeito (referência). 
No que diz respeito ao domínio da semântica lingüística podemos 
considerar: 
Semântica lexical: aquela que se dedica ao estudo da significação 
das palavras entre si (as relações de sinonímia, de antinomia, os 
campos lexicais, a evolução das palavras); 
Semântica da frase: estuda o modo como as palavras se 
combinam para que a frase tenha sentido (uma palavra pode ter 
vários significados ou sentidos, que só descodificaremos se 
considerarmos o contexto); 
Semântica do discurso (frase ou enunciados): é que constitui e dá 
coerência a um texto. ( Perante um texto que não tenha um 
sentido unitário, que não respeita as regras de articulação, 
dificilmente alguém conseguirá captar o seu global. 
Dimensão pragmática 
A palavra pragmática, vem do grego pragmatiké (de pragma, 
acção), a sua raiz. 
Entre os percursores da pragmática, encontramos, o filósofo e 
literário alemão Von Humboldt (1767 – 1835), que afirmou que a 
essência da linguagem era a ação. Michel Meyer define-a como 
disciplina que se prende com os signos na sua relação com os 
utilizadores. 
C. Morris, é considerado fundador da disciplina, pois exigiu a 
pragmática como complemento da sintaxe e da semântica. Na 
 86 Unidade 
 
comunicação, segundo ele, há um signo, um significado e um 
intérprete, desenrolando-se entre eles uma tríplice relação. 
A pragmática é o estudo do uso das proposições, mas também, 
pode definir-se como o estudo da linguagem, procurando ter em 
conta a adaptação das expressões simbólicas aos contextos 
referencial, situacional, de acção e interpessoal. A atitude 
pragmática diz respeito à procura de sentido nos sistemas de 
signos, tratando-os na sua relação com os utilizadores, 
considerando sempre o contexto, os costumes e as regras sociais. 
Uma análise pragmática de um texto, escrito ou falado, procura 
ver de que modo o texto está estruturado e quais as suas funções 
específicas. 
Qualquer texto, oral ou escrito, representa fundamentalmente a 
realização de um acto que não é apenas locutório, mas representa 
igualmente um acto ilucotório e um acto per locutório. Se 
considerarmos o que dissemos anteriormente, concluiremos que, 
do ponto de vista pragmático, interessa sobretudo considerar os 
aspectos ilocutórios e per locutórios. 
Quando um sujeito falante diz algo, podemos distinguir 
facilmente: o que diz (acto locutório); do que faz, dizendo (acto 
ilocutório); e dos factos resultantes da acção de dizer (acto 
perlocutório). 
Estas três dimensões do discurso (sintática, semântica e 
pragmática) não podem ser isoladas; são indissociáveis, pois a 
sintaxe preocupa-se com a forma gramatical da linguagem; a 
semântica coloca o problema do significado das palavras e frases 
que constituem os nossos enunciados discursivos e, obviamente, 
remete para a relação que a linguagem estabelece com o mundo, 
com os objetos, colocando assim o problema de referência. A 
pragmática preocupa-se com o uso que fazemos da linguagem 
num dado contexto. 
Os novos domínios da Lógica e suas implicações sobre o 
homem e a sociedade 
Informática 
A palavra informática foi criada por Philippe Dreyfus, em 1962. 
Contudo, foi introduzido oficialmente na Academia Francesa de 
Ciências em 1966. 
Informática é a ciência do tratamento racional, nomeadamente 
por máquinas automáticas, da informação considerada como 
suporte dos conhecimentos e das comunicações nos domínios 
técnico, econômico e social. 
Apesar de o termo ter surgido nesta altura, os estudiosos da 
informática, dizem que ela começou a ser um domínio autônomo 
por volta dos anos 50. são entre outros, marcos importantes da 
constituição dessa autonomia os seguintes: o congresso de Paris 
de 1951; o primeiro computador baseado na tecnologia dos 
transistores (Bell-1955) e a linguagem de alto nível ( Basic-1954; 
Fortran-1957; Cobol-1960). 
 Introdução à Filosofia 87 
 
Entre 1945 e meados dos anos 60 surge a primeira informática. 
Dá-se o aparecimento dos primeiros computadores propriamente 
ditos. O ENIAC é o primeiro exemplar. É o período da definição 
dos princípios básicos, da definição do corpo teórico e técnico. 
Nos anos 60 até finais dos anos 70, surge à segunda informática, 
desenvolvem-se os computadores baseados na técnica dos 
transistores e os computadores pessoais. Nos anos 80, surge a 
terceira informática, com o aperfeiçoamento dos computadores 
pessoais das redes, da microinformática. É o que poderíamos 
chamar banalização dos computadores pessoais e transformação 
da sociedade da informática numa cultura de comunicação, frutos 
que colhemos atualmente. 
Cibernética 
A palavra cibernética, vem do grego kibernétes. O termo foi 
usado por Platão para designar a “arte de pitotar navios”. É nesta 
raiz grega que se filia a palavra latina gubernare, que origina o 
termo governo. Assim como o piloto dirige o navio, da mesma 
forma o governo é o timoneiro que dirige o Estado. 
A teoria da cibernética remonta a 1948 e o seu fundador é o 
matemático norte-americano Norbert Wiener (1895-1964). 
Cibernética é a ciência da comunicação e do controlo de homens 
e máquinas. É no seio deste movimento de idéias que vimos 
surgir o primeiro computador da nossa era e será igualmente 
fruto do seu trabalho que se desenvolve a posterior robotização. 
Inteligência artificial 
A inteligência artificial é um domínio relativamente recente. 
Encontramos as suas raízes no grande desenvolvimento dos 
computadores dos anos 50. Porque estas máquinas ofereciam 
enorme possibilidade de armazenamento e processamento de 
informações a altas velocidades, os investigadores apostaram em 
construir sistemas que em tudo se assemelhassem às 
potencialidades da inteligência humana. Podemos dizer que a 
inteligência artificial encontrasua fonte de inspiração na 
inteligência natural própria dos seres humanos. 
Relação entre inteligência natural e inteligência artificial 
Afirmar que os seres humanos são inteligentes, é pensar nas suas 
habilidades para adquirirem, compreenderem e aplicarem certos 
conhecimentos, bem como capacidades para exercitarem o seu 
pensamento e raciocínio. 
A inteligência engloba todo o conhecimento consciente e 
inconsciente, que fomos adquirindo ao longo da nossa vida, fruto 
do estudo, ou em resultado das multifacetadas experiências que 
realizamos, das muitas situações mais ou menos problemáticas 
que fomos ou vamos enfrentando. 
 88 Unidade 
 
Exercícios 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quais são as dimensões do discurso humano? 
 Resposta: Sintáctica, semântica, pragmática, lingüística, textual, lógico-
racional, expressiva ou subjetiva, intersubjetiva ou comunicacional, 
argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária, institucional e 
ética. 
 
2- Quais são os novos domínios da lógica? 
 
Resposta: Os novos domínios da lógica são a informáticae a 
cibernética. 
 
 
 
 Introdução à Filosofia 89 
 
Unidade N0 17-A0010 
 
Tema: Os princípios da razão. 
Introdução 
A palavra princípio, do latim principium, significa ponto de 
partida e fundamento de um processo qualquer. Os dois 
significados, “ponto de partida” e “fundamento” ou “causa”, 
estão estreitamente ligados na noção deste termo, que foi 
introduzido em filosofia por Anaximandro. 
Já a palavra razão, do latim ratio e do grego lógos, significam 
pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com 
clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, 
a razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se 
correcta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. 
A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se 
torna compreensível. 
A razão obedece os seguintes princípios: Identidade, Não-
contradição, Terceiro Excluído e Razão Suficiente. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conhecer os princípios da razão. 
 Relacionar o conceito e compreensão do conceito. 
 Classificar os conceitos e os termos. 
Sumário 
Princípio de identidade: 
Cujo enunciado pode aparecer: “A é A” ou “o que é, é”. Este 
princípio afirma que uma coisa, seja ela qual, só pode ser 
conhecida e pensada se for percebida e conservada com sua 
identidade. 
O princípio de identidade é a condição para que definamos as 
coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições. 
 90 Unidade 
 
Princípio de Não – Contradição: 
Cujo enunciado é: “A é A e não é possível que, ao mesmo tempo e 
na mesma relação seja não-A”. 
Assim, é indispensável que a árvore que está diante de mim seja e 
não seja, ao mesmo tempo, uma mangueira. 
O princípio de não-contradição afirma que uma coisa ou uma 
idéia da qual uma coisa é afirmada e negada ao mesmo tempo e 
na mesma relação são coisas e idéias que se negam a si mesmas e 
que por isso se autodestroem, desaparecem, deixam de existir. 
Eis porque o princípio enuncia que isso é impossível, ou seja, 
afirma que as coisas e as idéias contraditórias são impensáveis e 
impossíveis. 
Princípio do Terceiro excluído: 
Cujo enunciado é: “A é ou X ou é Y e não há a terceira 
possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não 
é Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou faremos a paz”. 
Este princípio define a decisão de um dilema – “ou isto ou 
aquilo” – no qual as duas alternativas são possíveis e cuja solução 
exige que apenas uma delas seja verdadeira. 
Princípio de Razão Suficiente: 
A firma que tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma 
razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que tal 
razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. 
Pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, 
necessariamente se dará B”. E também: “Dado B, 
necessariamente houve A”. 
Lógica do Conceito/Termo 
Conceito ou idéia: é a representação intelectual da essência de 
um objecto, representa o que de permanente, imutável e comum 
em todos os objectos de uma espécie. É chamado de conceito 
porque a sua formação realiza-se no espírito: uma espécie de 
concepção, pela união da inteligência com o objeto, cujo fruto é o 
conceito ou idéia. É fácil concluir que uma idéia não é falsa nem 
verdadeira, porque nela nada se afirma e nada se nega. 
Os conceitos podem ser possíveis (animal racional) e impossíveis 
(círculo quadrado), conforme são formados de elementos 
logicamente compatíveis ou incompatíveis entre si. 
Enquanto o conceito é a representação intelectual de um objeto, o 
termo é o que dá existência objectiva ao conceito; o termo é a 
expressão externa (verbal) de um conceito ou nada. Não se deve 
confundir termo e palavra, porque o termo pode ter várias 
palavras e até proposições gramaticais ou ser constituído por 
simples gestos. 
Exemplo: Aristóteles é o filósofo da antiguidade que mais 
contribuiu para o desenvolvimento da Filosofia. 
 Introdução à Filosofia 91 
 
O termo é como que a idéia exteriorizada e concretizada, visto 
que, concebido um conceito, só lhe damos existência depois de 
encontrarmos o termo que a pode exprimir. 
Relação entre a extensão e a compreensão do conceito 
Chama-se compreensão (conotação ou intenção) de uma idéia: ao 
conjunto de propriedades que lhe podem ser atribuídas. 
Por exemplo: a idéia de “triângulo” contém uma extensão, 
figura, três linhas, três ângulos, etc. 
Chama-se extensão (denotação ou domínio da aplicação) de uma 
idéia: ao conjunto de seres a que essa idéia é atribuível. 
Por exemplo: o conceito de “Homem” convém a portugueses, 
franceses, brancos, amarelos, negros, António, Rute, etc. 
A extensão e a compreensão variam em sentido inverso: quanto 
mais complexa é uma idéia tanto mais limitada será a sua esfera 
de aplicação. É possível e necessário os conceitos e, portanto, os 
seres que eles representam, numa hierarquia fundada na sua 
extensão. O conceito de maior extensão chama-se gênero, em 
relação à extensão menos, e esta denomina-se espécie em relação 
àquela. 
Diz-se gênero próximo ou supremo, consoante o grau de sua 
generalidade. O gênero próximo é o conceito de generalidade 
imediatamente superior ao conceito que é a espécie; o gênero 
superior representa as grandes classes de seres ou grandes 
divisões de ser. Aos conceitos que constituem os gêneros 
supremos, os lógicos chamam categorias. 
A diferença específica é a característica que se junta ao gênero 
próximo para constituir a espécie, aumentado-lhe a compreensão 
(racional que se junta ao gênero animal para constituir a espécie 
homem). O gênero próximo e a diferença específica são os 
carácteres essenciais de qualquer ser. 
Classificação dos conceitos e dos termos 
Quanto à compreensão podem ser: 
Simples: aquelas que são divisíveis. Exemplo: homem, animal, 
planta. 
Concretas: que são aplicáveis a sujeitos ou objetos. Exemplo: 
gato, cão, planta. 
Abstractas: que são aplicáveis a qualidades, acções ou estados. 
Exemplo: beleza, alegria, amizade. 
 Quanto à extensão podem ser: 
Universais: os que são aplicáveis a todos os elementos de uma 
classe. Exemplo: homem, círculo, mesa. 
Particulares: os que são aplicáveis apenas a uma parte de classe. 
Exemplo: aqueles homens, alguns livros, estes cadernos. 
 92 Unidade 
 
Singulares: os que são aplicáveis apenas a um indivíduo. 
Exemplo: Paulo, Almiro, este carro. 
Quanto à relação mútua, são: 
Contraditórios: quando há oposição e exclusão mútua. Exemplo: 
ser/não ser, escuro/não escuro 
Contrários: quando há oposição sem exclusão. Exemplo: 
branco/preto, alto/baixo 
Relativos: quando um não é sem o outro (implicação mútua). 
Exemplo: pai/filho, direita/esquerda. 
Os termos são expressões verbais dos conceitos e classificam-se 
de acordo com os seguintes critérios: 
Quanto ao modo de significação: 
Unívocos: os que se atribuem de modo idêntico a objectosdiversos. Exemplo: homem (aplicado a brancos, negros, João, 
americanos, etc.). 
Equívocos: os que se aplicam a sujeitos diversos em sentido 
totalmente distinto. Exemplo: manga (fruto), manga (de camisa). 
Análogos: os que são aplicáveis a realidades diversas num 
sentido que não é totalmente idêntico nem totalmente distinto. 
Exemplo: saudável (aplicado ao corpo), saudável (dito dos 
alimentos). 
 Quanto à perfeição com que representam o objeto: 
Adequados: quando representam com perfeição o objeto. 
 Exemplo: ave (aplicado a um morcego) 
Claros - quando são suficientes para fazer reconhecer o objeto. 
Obscuros – quando insuficientes para fazer reconhecer o objeto. 
Distintos – quando permitem distinguir bem um objeto de 
outros. 
Confusos – quando não permitem distinguir suficientemente um 
objecto de outros. 
Quanto à maneira como a exteriorização do conceito é feita: 
 - Oral; 
 - Escrita; 
 - Gesticular (mímica). 
A definição essencial ou característica atinge os caráter essencial 
da coisa; é aquela que se faz pelo gênero próximo, espécie e 
diferença específica. 
 Introdução à Filosofia 93 
 
Exemplo 1: O homem (espécie) é animal (gênero próximo) 
racional (diferença específica). 
A definição descritiva é aquela que enumera as características 
exteriores mais salientes de uma coisa que a individualiza e 
permitem distinguí-la de todas as outras. 
Exemplo 2: O homem é um mamífero, bípede, de posição ereta, 
etc. 
A definição: tipos e regras 
Definir quer dizer demarcar limites, isto é, indicar de entre as 
propriedades de uma coisa, as que bastam para dizer o que à 
coisa é, e a distingue do que não é; definir é dizer o que um 
conceito é, e distinguí-la do que não é. 
Espécies de definições: 
 - a definição nominal: é aquela que resulta da análise 
etimológica da palavra, ou seja, que exprime o sentido de uma 
palavra. Exemplo: filosofia é o amor da sabedoria. 
 - a definição real: é aquela que exprime a natureza do próprio 
objeta que a palavra representa. Exemplo: paixões são tendências 
exacerbadas. 
A única definição verdadeira e usada por todas as ciências é a 
definição essencial. Na impossibilidade de usar a definição 
essencial, a ciência recorre à pura definição descritiva. 
As definições reais podem subdividir-se em três: 
Explicativas: se o objecto definido existe independentemente do 
objeto. Exemplo: Os aracnídeos são antropóides octópodes. 
As definições explicativas podem ser: 
a) Essenciais: quando nos dão o conhecimento do objecto pela 
indicação dos seus elementos intrínsecos ou estruturais. 
Exemplo: O homem é um animal racional 
b) Acidentais: quando permitem a indicação de caráteres 
extrínsecos que, no conjunto, lhes são exclusivas. Exemplo: 
emoção, “reação global, intensa e breve do organismo a uma 
situação inesperada, acompanhada de estado afectivo de 
tonalidade penosa ou agradável” (Larousse). 
Construtivas: Se o objecto inseparável de conceito é criado pelo 
próprio acto da definição. Estas definições são específicas de 
matemática. Exemplo: quilógono é o polígono de mil lados. 
As construtivas podem ser: 
a) Essenciais: se dizem o que o objecto é. Exemplo: Losango é 
um paralelogramo com os lados todos iguais. 
b) Genéticas: se indicam o modo de produção do objeto. 
Exemplo: O bronze é uma liga de diversos metais. 
 94 Unidade 
 
Pragmáticas: Se a definição deriva do uso que do termo pode ser 
feito em conformidade com determinada situação. Neste sentido, 
ela supõe em cada caso um contexto – “sempre que as condições 
são assim, o termo T será usado assim e assim”. 
As regras que deve obedecer uma definição são: 
1º A definição deve ser mais clara do que o termo a definir, isto 
é, deve ser breve e feita em termos precisos e distintos e não pode 
ser dada pela negativa. 
2º A definição deve convir a todo o definido e só ao definido. 
Quer dizer, não deve ser muito restrita ( o homem é um animal 
racional de cor branca ou negra ou amarela), nem muito 
extensiva ( o homem é um animal). 
3º A definição deve ser recíproca. Isto é, sendo o definido o 
primeiro membro de uma igualdade e a definição o segundo, 
devem poder trocar de lugar. Exemplo: o homem é um animal 
racional ou o animal racional é o homem. 
Divisão e classificação 
Divisão 
Divisão é a análise das idéias sob o ponto de vista de sua 
extensão; dividir um conceito significa indicar a quantos seres ou 
objectos diferentes ele se aplica; divisão é a decomposição de um 
todo nas suas partes. 
A divisão pode ser dicotômica ou politómica. Mas a divisão 
perfeita é a dicotômica, que consiste em passar de um gênero a 
duas espécies, das quais uma tenha um atributo que não existe na 
outra. 
Classificação 
Classificar é reunir ordenadamente em grupos vários seres ou 
objectos que uma idéia abrange, de harmonia com as suas 
semelhanças e diferenças, atendendo ao mesmo tempo, à 
compreensão e à extensão do conceito. 
Princípios da classificação: 
1º Não deve deixar resíduos, isto é, deve ser exaustiva, não 
ficando nada que não seja classificado; 
2º Deve haver mais semelhanças entre dois seres reunidos numa 
mesma classe do que entre dois seres colocados em classes 
diferentes; 
3º Deve ser irredutível, isto é, uma classe não deve incluir a 
outra. 
A classificação pode ser natural ou artificial. 
 - Classificação natural: baseia-se em características essenciais, 
exigindo o estudo completo de todos os caracteres e propriedades 
do objeto; 
 Introdução à Filosofia 95 
 
 - Classificação artificial: tem um carácter arbitrário ou 
convencional e funda-se em algumas características ou 
propriedades do objeto, que sejam mais fáceis de conhecer. 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quantos e quais são os princípios da razão? 
Resposta: São quatro princípios da razão: Identidade, Não-
contradição, Terceiro Excluído e Razão Suficiente. 
2- Que diferenças existem entre conceito e termo? 
Resposta: A diferença entre conceito e termo é: o conceito é a 
representação intelectual de um objeto, enquanto que o termo é o 
que dá existência objectiva ao conceito; o termo é a expressão 
externa (verbal) de um conceito ou nada. Não se deve confundir 
termo e palavra, porque o termo pode ter várias palavras e até 
proposições gramaticais ou ser constituído por simples gestos. 
 
 
 
 
 
 
 96 Unidade 
 
Unidade N0 18-A0010 
 
Tema: A convivência política entre 
os Homens. 
Introdução 
Desde antiguidade o homem foi caracterizado pela capacidade de 
administrar o local em que se encontra: casa, aldeia, cidade, 
instituições e a nação. 
“O homem é por natureza um ser politico”. Aristóteles 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Explicar o conceito de Politica; 
 A relação entre politica e filosofia; 
 Clarificar o conceito de Estado; 
 Identificar os elementos do Estado; 
 Identificar as diferentes teorias sobre a origem do Estado; 
 Conhecer os simbolos de unidade nacional. 
 
Sumário 
A palavra política (do grego “politiké”, arte de governar a 
“polis”, a cidade) tanto pode ser entendida como o modo de 
partilha e organização do poder (regime político), como a arte de 
governar, isto é, os princípios directivos da acção de um governo, 
quer no que diz respeito à sua administração interna, quer no 
tocante às relações com os outros Estados. 
Na antiguidade grega, a “política” traduzia-se por República, 
para significar organização, regime político, a constituição de 
uma cidade soberana, de uma comunidade ou Estado com 
individualidades e autonomia própria. 
 Introdução à Filosofia 97 
 
Pode-se definir a política como sendo o conjunto das acções 
levadas a afeito por um grupo de indivíduos, grupos e 
governantes com vista a resolver os problemas com que se depara 
uma colectividade humana. Estas são orientadas por imperativos 
como: o bem comum, a ordem pública, a justiça, a harmonia e o 
equilíbrio social. 
A política oscila entre duas interpretaçõesdiametralmente 
opostas, embora com um objecto comum: o poder. 
Para os que querem conquistar o poder, a política é 
essencialmente uma luta, um combate, o poder que permite aos 
individuos e aos grupos que detêm assegurar o seu domínio sobre 
a sociedade, e dele tirar proveito. Nesse caso, a política serve 
para manter os privilégios de uma minoria sobre a maioria. 
Para os outros, a política é o esforço para fazer reinar a ordem e a 
justiça, assegurando o poder, o interesse geral e o bem comum 
contra a pressão das reivindicações particulares. Aqui, a política é 
concebida como meio de realizar a integração de todos os 
individuos na comunidade e criar a Cidade justa de que falava 
Aristóteles. 
A luta política, quer consentida (nas chamadas “sociedades 
abertas” ou democráticas), quer clandestinas (nas “sociedades 
fechadas”ou totalitárias), é sempre expressão de interesses de 
classes, de modos de produção, das relações de trabalho e, de um 
modo mais geral, de uma tradição histórica. 
O problema político é relativo à origem do estado e à sua função, 
à sua organização, à sua melhor forma, à sua função e o seu fim 
específico, à sua natureza da acção política e as suas relações 
com a acção moral, à relação entre estado e individuos, entre 
Estado e Igreja e Estado e partidos. 
A filosofia política é ramo da filosofia que visa a fundamentação 
de idéias de organização dos homens que vivem em sociedade. 
Em suma, é a actividade racional e crítica, à razão política. 
A Filosofia política é alento vivificador e a força de dinamismo 
para a actividade política de uma sociedade. Ela não deve ser 
usada como justificação posterior de elucubrações prévias e, nem 
como depósito para aplicar na sociedade; ela é referência 
primária em cujo contraste se ilumina de forma nova a realidade 
social de uma nação. 
A filosofia política não é uma solução cómoda e gratuita de 
problemas da Humanidade; ela não invalida a autonomia da 
actividade dos políticos e a sua capacidade de liderança; não 
apresenta um sistema político de conteúdos concretos; a sua 
mensagem pertence ao nível da intencionalidade; são orientações 
globais, isto é, pertence ao universo da cosmovidência. 
 
 
 98 Unidade 
 
Relação entre Filosofia e Política 
A relação que se encontra entre a Filosofia e a política está no 
facto de que, a filosofia procura deter-se e abarcar nas condições 
de emergência da coisa pública no homem como animal político 
e na tipologia dos regimes. A filosofia examina o nascimento das 
instituições políticas e a sua maturidade; Ernesto Chambisse 
acrescenta ainda que, a Filosofia vem iluminar os conceitos 
inerentes à Política, tais como: justiça, bem comum, estado, 
tolerância, bem como a própria definição de política; questiona o 
grau de liberdade consentâneo com a coesão social e o equilíbrio 
na divisão do poder. É a filosofia que deve denunciar a 
absolutização da política e a redução à sua natureza precária; 
deve criticar a política e todas as formas de dominação do 
homem pelo homem. 
Política, como dissemos acima, é actividade inerente à 
organização das instituições, os factos que dizem respeito à 
actividade política; tem a ver com os processos e estratégias 
eleitorias, mecanismos para se alcançar o poder, composição de 
partidos políticos, sindicatos, flutuação da opinião pública, as 
acções dos governantes e a reação dos governados. 
A atitude crítica da filosofia perturba em alguns casos a ordem 
política, ou seja, os filósofos chama para si o patrono da 
racionalidade. Por isso, Platão em sua obra A República, não é 
alheio a idëia de que a racionalidade política consiste no rei 
tornar-se filósofo ou vice-versa. E Lévy, acrescenta que o 
“filósofo fala e por isso mesmo perturba a ordem do mundo, 
incluindo o próprio mundo da política”. E ainda “quem quiser 
saber para onde nos encaminhamos deverá prestar atenção, não 
aos políticos, mas aos filósofos: aquilo que os filósofos anunciam 
hoje será a crença do amanhã”. 
A Ética Política 
A política tem como finalidade a vida justa e feliz, ou seja, a vida 
propriamente humana digna de seres livres, que portanto é 
inseparável da ética. 
Para os gregos, era inconcebível a ética fora da comunidade 
política, a pólis como koinonia ou comunidade dos iguais, pois 
nela a natureza ou essência humana encontrava sua realização 
mais alta. 
Quando se fala em ética, Aristóteles distingue entre teoria e 
prática, e nesta, entre fabricação e acção, isto é, diferencia entre 
poiesis de práxis. Ele reserva à práxis um lugar mais alto do que 
a fabricação, definindo-a como a acção voluntária de um agente 
racional em vista de um fim considerado bom. A práxis por 
excelência é a política. 
Platão identifica a justiça no indivíduo e a justiça na pólis. Já 
Aristóteles, subordina o bem do indivíduo ao Bem Supremo da 
pólis. Esse vínculo interno entre política e ética significava que as 
qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais 
 Introdução à Filosofia 99 
 
dos cidadão e vice-versa, isto é, das qualidades da cidade 
dependiam as virtudes dos cidadãos. Somente na cidade boa e 
justa podem se encontrar bons e justos; e somente homens bons e 
justos são capazes de instituir uma cidade boa e justa. 
Estado 
Estado é o modo como o poder está organizado num território e 
entre uma população. Sahid Maluf, em sua obra Teoria Geral do 
Estado, define o estado como sendo uma organização destinada a 
manter, pela aplicação do Direito, as condições universais de 
ordem social. E o Direito é o conjunto das condições existenciais 
da sociedade, que ao estado cumpre assegurar. O direito pode ser 
natural e positivo. 
Direito natural é o que emana da própria natureza, 
independentemente da vontade do homem (Cícero). É invariável 
no espaço e no tempo, insusceptível de variação pelas opiniões 
individuais ou pela vontade do Estado (Aristóteles). Ele reflecte a 
natureza como foi criada. É anterior e superior ao estado, 
portanto, conceituado como de origem divina. 
Direito positivo é o conjunto orgânico das condições de vida e 
desenvolvimento do individuo e da sociedade, dependente da 
vontade humana e das garantias dadas pela força coerciva do 
estado (Pedro Lessa). O direito positivo divide-se em público e 
privado. O direito público é o que regula as coisas do Estado; o 
direito privado é o que diz respeito aos interesses particulares. 
O Estado tem uma constituição e uma divisão de poderes: poder 
legislativo, poder executivo e poder judicial, conforme a norma 
nas sociedades democráticas. 
Há uma relação entre Estado e Direito, cuja opinião divide-se em 
três grandes grupos doutrinários: 
Teoria Monística: também chamada de estatismo jurídico, 
defende que o Estado e o Direito confundem-se em uma só 
realidade. Para os monistas só existe o direito estatal, pois não 
admitem eles a idéia de qualquer regra jurídica fora do Estado. O 
Estado é a fonte única do Direito, porque quem dá vida ao Direito 
é o Estado através da “força caótica” de que só ele dispõe. Regra 
jurídica sem coação, é uma contradição em si, diz Ihering. Logo, 
como só existe o Direito emanado do Estado, ambos se 
confundem em uma só realidade. 
Os seus defensores foram Hegel, Hobbes e Jean Bodin. Mas 
tarde, Rudolf Von Ihering e John Austin desenvolveram esta 
teoria, alcançado a sua máxima expressão na escola Técnico-
jurídica liderada por Jellinek e a Escola de Viena de Hans 
Kelsen. 
Teoria Dualística ou pluralista: sustenta que o Estado e o 
Direito são duas realidades distintas, independentes e 
inconfundíveis. 
 100 Unidade 
 
Os dualistas dizem que o Estado não é a única fonte do Direito e 
nem este se confunde. O que provém do Estado é apenas uma 
categoria especial do direito: o direito positivo. Existem também 
princípios do direito natural, as normas de direito costumeiro e as 
regras que se afirmam na consciência colectiva, que adquirem 
positivamente e que, nos casos omissos, o Estado deve acolher 
para lhes darjurisdicidade. Além do direito não escrito, existem o 
direito canônico que independe da força coativa do poder civil, e 
o direito das associações menores que o estado reconhece e 
ampara. 
Esta corrente defende que o Direito é criação social, não estatal. 
O direito é um facto social, em contínua transformação. A função 
do Estado é de positivar o Direito, isto é, traduzir as normas 
escritas e os princípios que se afirmam na consciência social. 
O direito traduz, no seu desenvolvimento, as mutações que se 
operam na vida de cada povo, por influência das causas éticas, 
pesquisas, biológicas, científicas e econômicas, etc. Os seus 
defensores são Gierke e Gurvich, e mais tarde foi desenvolvida 
por Léon Duguit. 
Teoria do Paralelismo: o Estado e o Direito são realidades 
distintas, porém necessariamente interdependentes. Esta teoria 
procura solucionar a antítese monismo-pluralismo, adoptando 
assim a concepção racional da graduação da positividade jurídica, 
defendida por Gorgio Del Vecchio. 
A teoria do paralelismo completa a teoria pluralista, e ambas se 
contrapõem com vantagem à teoria monísitca. O estado e direito 
são duas realidades distintas, que se completam na 
interdependência. 
Elementos do Estado 
Alguns autores destacam que os elementos constituintes do 
Estado são três: população, território e governo. Alguns autores 
pretenderam a inclusão da soberania como o quarto elemento. 
Passemos a apresentar alguns dos elementos: 
Governo 
É conjunto das funções pelas quais, no estado é assegurado a 
ordem jurídica. Esse elemento apresenta-se de várias 
modalidades, quanto à sua origem, natureza e composição, do 
qual resultam as diversas formas de governo. 
Pela sua origem, o governo pode ser de direito ou de facto; pela 
sua natureza das suas relações com os governados, pode ser legal 
ou despótico; quanto à extensão de poder, classifica-se como 
constitucional ou absolutista. 
Governo de direito é aquele que foi constituído em conformidade 
com a lei fundamental do Estado, senso, por isso, considerado 
como legítimo perante a consciência jurídica da nação. 
 Introdução à Filosofia 101 
 
Governo de facto é aquele implantado ou mantido por via de 
fraude ou violência. 
Governo legal é aquele que, seja qual for sua origem, se 
desenvolve em restrita conformidade com as normas vigentes de 
direito positivo. Subordina-se aos preceitos jurídicos, como 
condição de harmonia e equilíbrio sociais. 
Governo despótico é aquele que se conduz pelo arbítrio dos 
detentores eventuais do poder, oscilando ao sabor dos interesses e 
caprichos pessoais. 
Governo Constitucional é aquele que se forma e se desenvolve 
sob a égide de uma constituição, instituindo a divisão do poder 
em três órgãos distintos e assegurando, a todos os cidadãos a 
garantia dos direitos fundamentais, expressamente declarados. 
Governo absolutista é o que concentra todos os poderes num só 
órgão. O regime absolutista tem suas raízes nas monarquias de 
direito divino e se explicam pela máxima do cesarismo romano 
que dava a vontade do príncipe como fonte da lei. 
Constituição 
O termo constituição deriva do prefixo cum e do verbo stituire, 
stituto, compor, organizar, constituir. No seu sentido comum, 
indica o conjunto dos caracteres morfológicos, físicos ou 
psicológicos de cada individuo ou a formação material de cada 
coisa. Na Ciência do Estado, essa palavra tem dupka acepção: no 
sentido lato, é o conjunto dos elementos estruturais do estado, sua 
composição geográfica, política, social, económica, jurídica e 
administrativa; e no sentido restrito, constituição é a lei 
fundamental do Estado, ou seja, o corpo de leis que rege o estado, 
limitando o poder de governo e determinando a sua realização 
(Sahid Maluf). 
A palavra constituição implica um documento, sobre uma folha 
de papel, estabelecendo todas as instituições e princípios de 
governo de um país. 
O sistema constitucional remonta desde os tempos mais antigos 
da história da humanidade, destacando-se as leis de Creta, 
elaboradas por Minos, e as leis de Licurgo e Sólon. O regime 
jurídico de Atenas, repousava na existência de uma ordem 
constitucional, criada pela vontade popular, mediante leis. 
A constituição, lei fundamental do estado, provém de um poder 
soberano (a nação ou povo, nas democracias) que não podendo 
elaborá-la directamente, face à complexidade do estado moderno, 
o faz através de representantes eleitos e reunidos em Assembléia 
Constituínte. A nação tem o direito de organizar-se 
politicamente, como fonte de poder político. Esse poder que ela 
exerce em determinados momentos chama-se poder constituinte. 
 102 Unidade 
 
Poder constituinte é uma função da soberania nacional. É o poder 
de constituir e reconstituir ou reformular a ordem jurídica estatal. 
É um poder ilimitado, em regra. 
Soberania 
Soberania é uma autoridade superior que não pode ser limitada 
por nenhum poder. Etimologicamente o termo soberania provém 
de soperanus, supremitas, ou super omnia, que significa “poder 
absoluto e perpétuo de uma repúblia”. 
Denominava-se poder de soberania, entre os romanos, suprema 
potestas. Era o poder supremo do Estado na ordem política e 
administrativa. Posteriormente passaram a denominar poder de 
imperium, com amplitude internacional. 
Historicamente, no Estado grego antigo, na obra de Aristóteles 
falava-se em autarquia, significando um poder moral e 
econômico, de auto-suficiência do Estado. Já entre os romanos, o 
poder de imperium era um poder político transcendente que 
reflectia na majestade imperial incontrastável. Nas monarquias 
medievais era o poder de suserania de fundamento carismático e 
intocável. No absolutismo monárquico, que teve o seu clímax em 
Luíz XIV, a soberania passou a ser o poder pessoal exclusivo dos 
monarcas, sob a crença generalizada da origem divina do poder 
de Estado, e finalmente no Estado moderno, a partir das 
Revolução Francesa, firmou-se o conceito de poder político e 
jurídico, emanado da vontade geral da nação. 
Há várias definições de soberania, segundo vários autores, como 
por exemplo: 
Soberania é uma espécie de fenômeno genérico do poder (Miguel 
Reale). Pra Pinto Ferreira, soberania é a capacidade de impor a 
vontade própria, em última instância, para a realização do direito 
justo. E, para Clóvis Bevilácqua, soberania é autoridade superior, 
que sintetiza, politicamente, e segundo os preceitos de direito, a 
energia coativa do agregado nacional. 
A soberania é limitada pelos princípios de direito natural, e pelo 
direito grupal, isto é, pelos direitos dos grupos particulares que 
compõem o Estado (grupos biológicos, pedagógicos, 
econômicos, políticos, espirituais, etc.. 
O Estado existe para servir o povo e não o povo para servir o 
Estado. O governo há-de ser um governo de leis, não a expressão 
de soberania nacional, simplesmente. 
A soberania é limitada pelos princípios de Direito Natural, 
porque o Estado é apenas instrumento de coordenação de direito, 
e porque o Direito Positivo de que o Estado emana só encontra 
legitimidade quando se conforma com as leis eternas e imutáveis 
da natureza. Santo Tomás de Aquino, afirma que uma lei 
humana não é verdadeiramente lei senão enquanto deriva da lei 
natural; se em certo ponto se afasta da lei natural, não é mais lei e 
sim uma violação da lei natural. 
 Introdução à Filosofia 103 
 
O Direito grupal limita a soberania, porque sendo o fim do estado 
a segurança do bem comum, compete-lhe coordenar a actividade 
e respeitar a natureza de cada um dos grupos menores que, 
integram a sociedade civil. A família, escola, a corporação 
econômica ou sindicato profissional, o município ou a comuna e 
a igreja, são grupos intermediários entre o indivíduo e Estado, 
alguns anteriores ao Estado, como é a família, todos eles com sua 
finalidade própria e um direito natural à existência e aos meios 
necessários para a realização dos seus fins. 
No plano internacional, a soberania encontra limitaçõespelos 
imperativos da coexistência de estados soberanos, não podendo 
invadir a esfera de acção das outras soberanias. 
Símbolos nacionais 
a) O emblema da República de Moçambique foi estabelecido 
após a independência do país de Portugal. Devido às ligações do 
movimento de independência em 1970 com o comunismo 
internacional do período da Guerra Fria, o brasão é baseado nos 
elementos gráficos do antigo brasão de armas da União Soviética. 
O brasão de armas de Moçambique tem como elementos 
centrais um livro aberto sobre o qual se cruzam uma arma e uma 
enxada, estando o conjunto disposto sobre o mapa de 
Moçambique como se estivesse a ser olhado a partir do Oceano 
Índico. Por baixo do mapa está representado o mar e por cima o 
sol nascente, de cor avermelhada sobre um campo dourado 
delimitado por uma roda dentada. À direita e à esquerda deste 
conjunto encontram-se, respectivamente, uma planta de milho, 
com uma maçaroca e uma planta de cana de açúcar e, entre elas, 
no topo uma estrela vermelha fimbriada de ouro. Por baixo 
encontra-se uma faixa vermelha com os dizeres “República de 
Moçambique”. 
O significado destes símbolos, segundo a constituição da 
República de Moçambique, é o seguinte: 
- O livro simboliza a educação; 
- A arma simboliza a luta de resistência ao colonialismo, a 
Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da 
soberania; 
- A enxada simboliza o campesinato; 
- O sol nascente simboliza a nova vida em construção; 
- A roda dentada simboliza a indústria e o operariado; 
- As plantas simbolizam a riqueza agrícola; e 
- A estrela representa a solidariedade entre os povos. 
b) A Bandeira de Moçambique é composta por três faixas 
horizontais com as cores verde, preta e amarela, de cima para 
baixo, separadas por estreitas faixas brancas; sobreposto às 
 104 Unidade 
 
faixas, junto à tralha, encontra-se um triângulo isósceles de cor 
vermelha, dentro do qual há uma estrela de cinco pontas dourada, 
sobre a qual se cruzam uma arma e uma enxada. 
O significado das cores, segundo a constituição da República de 
Moçambique, é o seguinte: 
- Vermelha: a luta de resistência ao colonialismo, a Luta 
Armada de Libertação Nacional e a defesa da soberania; 
- Preta: o Continente Africano; 
- Verde: a riqueza do solo; 
- Amarela-dourada: a riqueza do subsolo; e 
- Branca: a paz. 
A estrela representa a solidariedade entre os povos, a arma AK-
47 simboliza de novo a luta armada e a defesa do país, o livro faz 
lembrar a educação por um país melhor e a enxada, a agricultura. 
É a única bandeira no mundo a incluir a ilustração de um fusil 
moderno. 
 c) Pátria Amada é o hino nacional de Moçambique. 
 Introdução à Filosofia 105 
 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- O que é politica? 
Resposta: Politica e a arte de gerir o destino de uma cidade ou 
polis. 
2- Qual é a relação entre Filosofia e Politica? 
Resposta: A relação entre a Filosofia e a política está no facto de 
que, a filosofia procura deter-se e abarcar nas condições de 
emergência da coisa pública no homem como animal político e 
na tipologia dos regimes. A filosofia examina o nascimento das 
instituições políticas e a sua maturidade; a Filosofia vem iluminar 
os conceitos inerentes à Política, tais como: justiça, bem comum, 
estado, tolerância, bem como a própria definição de política; 
questiona o grau de liberdade consentâneo com a coesão social e 
o equilíbrio na divisão do poder. É a filosofia que deve denunciar 
a absolutização da política e a redução à sua natureza precária; 
deve criticar a política e todas as formas de dominação do 
homem pelo homem. 
3- O que é Estado segundo Sahid Maluf? 
Resposta: Para Sahid Maluf, Estado é a organização destinada a 
manter, pela aplicação do Direito, as condições universais da 
ordem social. 
4- Quais são os elementos do Estado? 
Resposta: Os elementos do Estado são população, território, 
governo e soberania. 
 
 
 106 Unidade 
 
Unidade N0 19-A0010 
Tema: Os Direitos Humanos. 
Introdução 
A questão dos Direitos Humanos surgiu como resposta à 
necessidade de protecção do indivíduo face à acção do Estado e 
do seu poder discricionário, isto é, foi um meio de garantir a sua 
segurança face aos frequentes abusos de poder por parte do 
Estado. 
A preocupação e o combate pelos Direitos Humanos reflectem 
uma visão mais positiva das funções do Estado concebido, agora, 
como uma instância de poder que deve assegurar as condições e 
os recursos necessários para que cada um se realize 
simultaneamente como indivíduo e como membro de uma 
comunidade. É nesse sentido que falamos, quando reivindicamos 
do Estado o direito à educação ou à assistência médica. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer a história e os objectivos dos Direitos Humanos; 
 Conhecer a lista de documentos emanados da ONU sobre a consciência 
dos Direitos; 
 Classificar os Direitos Humanos. 
Sumário 
A Declaração Universal dos direitos do Homem data a 10 de 
Dezembro de 1948. Só então, o ser humano viu reconhecidos os 
seus direitos inalienáveis e seu reconhecimento universal pelas 
nações unidas representadas na ONU. 
Os Direitos do Homem representam a aspiração humana à liberdade 
e o seu nascimento está associado à concepção individualista da 
sociedade e à consequente necessidade de limitar o poder do estado, 
fazendo-o servir os interesses do indivíduo, por isso, são de certo 
modo identificados com a ideia de civilização e com os ideais 
democráticos. 
 Introdução à Filosofia 107 
 
A questão dos direitos Humanos começou a ganhar relevância na 
reflexão dos filósofos iluministas do século XVIII, Montesquieu 
(1689-1755), Voltaire (1691-1778) e Rousseau (1712-1778) e, a 
partir de então, teve um desenvolvimento crescente e começou a ser 
tida em consideração na elaboração dos programas dos governos e a 
traduzir-se em declarações de direitos fundamentais comuns a todos 
os homens. 
Embora haja declarações célebre como a Magna Carta de 1215, a 
petição dos Direitos de 1628 ou a Bill of Rights de 1689, em 
Inglaterra, que tinham um conteúdo e objectivos políticos, pois eram 
exigências dos cidadãos aos reis e ao estado no sentido de 
respeitarem os direitoas de seus súbditos, a “Declaração dos Direitos 
de Virgínia”, a “Declaração da Independência dos Estados Unidos 
da América”, ambas de 1776, e a “Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão” de 18 de Agosto de 1789, (Revolução 
Francesa), é que constituem as fontes de enunciação dos valores 
individuais, naturais e inalienáveis, inerentes a qualquer cidadão 
que, ainda hoje, estão longe de estar garantidos em todos os Estados 
do mundo. 
Foram, pois as revoluções americana e francesa que consagraram os 
princípios de dignidade humana, de igualdade perante a lei, de 
liberdade de pensamento e de governo democrático, que são hoje, 
considerados os princípios básicos da ética política e social do nosso 
tempo. 
Após a II Guerra Mundial, em que a humanidade suportou 
sofrimentos e crueldades gratuitas e constatou a violação sistemática 
dos mais elementares direitos da pessoa humana, a Assembleia 
Geral da Organização das Nações Unidas promulgou, em Dezembro 
de 1948, a “Declaração Universal dos Direitos Do Homem”, que 
constitui, ainda hoje, o conjunto dos princípios básicos que devem 
ser respeitados nas relações internacionais; é por isso, o documento 
fundamental de referência no estabelecimento da paz entre os povos 
e do consenso generalizados das nações. 
A consciência dos Direitos, conduziu a uma lista de documentos 
emanados da ONU, que se ocupam e consagram internacionalmente 
os direitos de minorias ou de grupos mais desfavorecidos. Assim, 
foram sendo proclamadas, entre outras: 
- A Convenção Européia dos Direitos do Homem: 1950; 
- A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher: 1952; 
- Convenção para a Prevenção e Repressão do Genocídio: 1958; 
- A Declaração dos direitos da Criança:1959; 
- Declaração sobre a concessão da Independência aos Países e Povos 
Colonizados: 1960; 
- Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Descriminação Racial: 1963. 
 108 Unidade 
 
Na generalidade de todos os países, os textos constitucionais 
estabelecem de forma geral, as protecções mínimas que permitem ao 
indivíduo viver uma vida digna. Assim, são estabelecidos: 
- O direito à satisfação das necessidades vitais, tais como a 
alimentação, habitação, assistência na doença e educação; 
- O direito de usufruir de liberdades políticas e civis, como a 
liberdade de pensamento, religião e associação; 
- O respeito pela integridade da pessoa individual; 
- A igualdade de todos perante a lei; etc. 
Classificação dos Direitos Humanos 
As Declarações dos direitos Humanos estão divididos em duas 
partes: 
 
a. Direitos políticos ou direitos de cidadania: referem-se à definição da 
qualidade de cidadão nacional e suas prerrogativas, aquisição e perda de 
nacionalidade, formação do corpo eleitoral, capacidade eleitoral activa e 
passiva, acesso aos cargos públicos, etc. Estes direitos, variam no espaço e 
no tempo, segundo a ordem política e jurídica de cada Estado. 
 
b. Direitos fundamentais propriamente ditos: referem-se aos atributos 
naturais da pessoa humana, invariáveis no espaço e no tempo, segundo a 
ordem natural estabelecida pelo Criador do mundo e, partindo-se do 
princípio de que todos os homens nascem livres e iguais em direitos. 
Entendem-se à todos os homens, sem distinção de nacionalidade, raça, 
sexo, ideologia, crenças, condições econômicas ou quaisquer outras 
discriminações. São os direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança 
individual, à propriedade, etc. 
Além dos direitos fundamentais definidos nas declarações clássicas, 
novos direitos de personalidade vêm se configurando nos horizontes 
sociais conturbados pela crescente hipertrofia do poder estatal, 
assumindo configurações mais nítidas no mundo jurídico actual, os 
seguintes: a) direito à própria imagem; b) direito à intimidade 
pessoal; e c) direito à informação. 
O primeiro tende a desvencilhar o homem de seu condicionamento 
pelos estereótipos dos chamados mass-media. O direito à intimidade 
pessoal dirige-se à preservação da vida íntima do indivíduo, 
ameaçada pelo emprego de despositivos modernos de visão, audição 
e outros meios de controle à distância. O direito à informação se 
contrapõe, em nome da soberania nacional da sociedade de consumo 
e aos exageros dos chamados “motivos de segurança nacional”. 
 Introdução à Filosofia 109 
 
 Exercícios 
 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1- O que são Direitos humanos? 
Resposta: Direitos Humanos são o conjunto de prerrogativas que 
devem ser reconhecidas ao indivíduo e tidas como essenciais para 
lhe garantir uma vida digna; pode-se definir também como um 
conjunto de regras que devem ser respeitadas pelos estados e por 
todos os cidadãos para proteger os indivíduos das arbitrariedades 
e dos abusos de poder. 
2- Como se classificam os Direitos Humanos? 
Resposta: Os Direitos Humanos classificam-se em direitos 
políticos ou de cidadania e direitos fundamentais. 
 
 
 110 Unidade 
 
Unidade N0 20-A0010 
Tema: A Filosofia Política na 
História 
Introdução 
Na unidade anterior afirmamos que o homem é por natureza um 
animal politico, segundo a concepção de Aristóteles. Desde a 
antiguidade a politica se fez sentir entre os homens até na 
actualidade. Durante esse tempo ela foi adquirindo diferentes 
concepções no tempo e no espaço. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer a história politica; 
 Caracterizar a história da Filosofia Politica na época Antiga, 
Medieval, Moderna e Contemporânea. 
 
Sumário 
Filosofia Política na Antiguidade 
Platão (428-347 a.C) 
Platão sentia-se atraído pela actividade política e, por isso 
desenvolveu uma filosofia política muito profunda e original que 
chegou até aos nossos dias. Ele sustentava que a política deve-se 
inspirar na filosofia, por ser ela a via segura de acesso aos valores 
de justiça e de bem. 
A origem do estado em Platão é convencional, ou seja, como o 
homem não é capaz de satisfazer à todas as necessidades para a 
sua sobrevivência, precisa do outro para se abster. Por isso, 
ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diferentes profissões. Daí 
a necessidade de cada um associar-se aos outros, cada um com 
tarefas sociais específicas. 
Platão distingue três classes sociais: 
 Introdução à Filosofia 111 
 
- A classe dos trabalhadores: predomina nesta classe a virtude da 
temperança, o domínio e a disciplina dos prazeres e desejos, 
capacidade de se submeter a classes imediatamente superiores. 
- A Classe dos guardas: predomina nesta classe o domínio da 
força da lama, composta por homens que à semelhança dos cães 
de raça, dotados de mansidão e ferocidade, têm como virtude a 
força e a coragem. Deve impedir que a classe baixa produza mais 
riquezas e garantir que esta tenha uma vida mínima e decente. 
- A classe dos Governantes: os integrantes desta classe devem ter 
amor pela pátria em relação a todas as restantes classes; devem 
conhecer e contemplar o bem. Predomina a alma racional e a sua 
virtude é a sabedoria. 
As ideias políticas de Platão encontram-se em sua famosa obra 
intitulada A República. Segundo ele, o governante deve se tornar 
filósofo ou vice-versa. O bom governo é aquele que tem como 
finalidade o bem do homem na sua plenitude. 
Aristóteles (384-322 a.C) 
Aristóteles é mais “amigo da verdade que do mestre”. Foi 
discípulo de Platão, mas em muitos pontos contesta as doutrinas 
de seu mestre. Sobre a origem do Estado, é contrário a ideia de 
Platão segundo a qual a origem do Estado é convencional. 
Em Aristóteles, o Estado é natural e o homem é, por natureza um 
animal político, pois é caracterizado pela sua integração numa 
pólis (cidade), que resulta de uma civilização da espécie humana, 
tais como: família, tribo, aldeia e cidade. 
A cidade é a constituição e esta, cria o Estado, de maneiras que, a 
mudança da constituição implica a mudança do tipo de Estado. A 
constituição é a estruturas que dá ordem à cidade, estabelece o 
funcionamento de todos os cargos, sobretudo os de soberania. 
Há três espécies de constituição: 
- Monarquia: governo de um só homem; 
- Aristocracia: governo de uma classe restrita; 
- Democracia: governo de muitos homens. 
A democracia, para Aristóteles é uma demagogia, pois o 
principal erro está no facto de considerar que, como todos são 
iguais na liberdade, todos podem e devem ser iguais em tudo o 
resto. 
As melhores formas de governo são a monarquia e a aristocracia. 
Mas como os homens são o que São, considera a democracia, a 
melhor forma de governo pois é regida pelo segmento médio. 
O estado tem como objectivo o bem da alma, por isso tem como 
finalidade a moral. E o seu ideal supremo é a autodeterminação, 
ou seja, viver em paz e fazer coisas belas. Assim poderosos 
concluir que a finalidade do Estado é produzir homens com 
finalidade aristocrática e com amor aos estudos e às artes. De 
 112 Unidade 
 
qualquer modo, a sociedade e o estado existem para garantir a 
felicidade e a virtude dos cidadãos. 
Aristóteles defende que a felicidade da cidade é consequência de 
boas acções – acções positivas e, nenhuma boa acção, pode 
realizar-se sem virtude e bom senso: o valor, a justiça e o bom 
senso de uma cidade têm a mesma potência e forma que sua 
presença em cada cidadão privado. A forma suprema de estar na 
cidade é a participação na gestão do bem comum e na gestão da 
justiça. 
Filosofia política na idade média 
Santo Agostinho (354-430) 
Nasceu em Tagaste, na Numídia. Converteu-se ao cristianismo 
após uma juventude conturbada que culminou com a sua 
conversão em Milão. Foi professor de retórica e nunca exerceu a 
vida política. Foi bispo de Hipona e dedicou a sua vida em defesa 
da religião, contra os hereges.A sua doutrina política encontra-se em sua famosa obra intitulada 
Cidade de Deus (413-427), que absorve o direito do Estado pelo 
da Igreja. 
Santo Agostinho fez uma apresentação do modelo em duas 
cidades: a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. Para os 
pensadores medievais, a esfera política se integrava num 
horizonte muito vasto e profundo do que no pensamento grego. 
Aqui transcende-se o hábito natural, isto é, a compreensão da 
política como uma necessidade tendente aos bens materiais e aos 
valores do homem para o bem do corpo e da alma. 
A política edificada sobre os fundamentos da razão e a política 
baseada no corpo místico de Cristo, fez com que todos os homens 
se congregassem numa comunidade de comunhão, de intenções, 
de amor total aplicado para fazer dos homens um só corpo e fazer 
com os mesmos homens sejam uma só família criados à imagem 
e semelhança de Deus. 
A Cidade de Deus 
É a cidade fundada no amor de Deus, prefigurando a Cidade 
Celeste. Nesta cidade, apela-se à uma vocação sobrenatural e 
traduz-se na introdução de valores cristãos na sociedade, que 
implicam um bom uso da liberdade. Os cidadão vivem em 
conformidade com os mandamentos da lei de Deus, e por essa via 
se alcança o amor perfeito, a paz profunda, a justiça plena, a 
liberdade e a realização pessoal. 
O cidadão da cidade divina é um peregrino que marcha para a 
salvação eterna; é um conhecedor da história, desde o seu 
princípio, que é a criação, e o fim, que é a ressurreição. 
A Cidade Terrena 
É uma cidade pagã que se fundamenta no amor à si próprio e no 
desprezo de Deus. Não se propõe um ideal de civilização que tem 
como fim assegurar a felicidade do homem; é o reino de satanás, 
 Introdução à Filosofia 113 
 
caracterizado por pessoas que vivem num estado de conflitos, 
injustiças e guerras. Resume-se no amor à si mesmo, levado ao 
desprezo de Deus; procura a glória dos Homens; o cidadão da 
cidade terrena julga-se dominador e está condenado à eterna 
danação. 
Nesta cidade, o que importa é a realização dos valores terrenos, 
tais como: a boa saúde, a força física, a liberdade, ter uma 
família, ter vizinhos e amigos, pertencer à um Estado, buscar 
honras, recompensas, os bens económicos e tem um discurso 
filosófico racional. Estas duas cidades estão em constantes 
conflitos com o objectivo de controlar o mundo. 
Santo Agostinho defende a necessidade da existência da 
autoridade política do Estado, de forma que se possa manter a 
paz, a justiça e a segurança social. 
Para Santo Agostinho, o poder vem de Deus e, portanto, o 
homem não tem autoridade sobre o homem por direito de 
natureza. A autoridade dos chefes funda-se na delegação do 
poder divino. Assim, Deus não o delega nem ao regime, nem a 
pessoa do chefe, mas confia nas pessoas secundárias quanto à 
questão de pormenores. A história dos Impérios e dos regimes 
particulares obedece a plano da providência divina. 
Em Santo Agostinho não há a coincidência entre o Império e a 
Igreja. Ele retoma a diferença que existe entre a lei natural e a lei 
positiva. A lei natural está no coração de cada homem, é a lei 
divina; e a lei cristã é a promulgação exterior da lei interna da 
alma. O direito positivo deveria ser o desenvolvimento da lei 
natural. 
A filosofia política tem a ver com a melhor forma de organização 
social, ou seja, a análise das comunidades, das suas estruturas, do 
Estado, do sistema do direito e das bases e princípios da sua 
existência como comunidade. A Filosofia política analisa as 
comunidades e as instituições, ocupa-se da fundamentação das 
orientações do Estado e da Sociedade, buscando novos modelos 
da ordem social. 
Santo Tomás de Aquino 
A filosofia de Santo Tomás de Aquino (1225-1274) tem como 
fonte de inspiração o aristotelismo. Por isso, Tomas de Aquino 
defende que o Homem é por natureza um ser social político e 
pode viver e resolver todos os problemas em coordenação com os 
outros membros da sociedade. 
Ele deu um sentido pleno de justiça, ética política e económica, 
tentado por Aristóteles, onde a temperança é recomendada aos 
trabalhadores; a força compete aos defensores da cidade e a 
prudência é apanágio dos chefes filósofos. 
A origem do Estado está na própria natureza do Homem, 
definindo o homem como animal político social porque está 
ordenado a viver em sociedade, e é através desta vivência social 
que o homem necessita de um princípio de governo. A 
necessidade do Estado não procede do pecado original que 
 114 Unidade 
 
existiria mesmo que o legado original não existisse. Os Homens 
vivem mutuamente relacionados. 
Uma sociedade de indivíduos com relações mútuas sem uma 
autoridade que zele pelo bem comum, não pode subsistir por 
muito tempo. Daí que, toda a direcção da natureza procede de 
uma unidade e que a monarquia seria o regime ideal conforme o 
estado de natureza. 
Mas para evitar que a monarquia caía na tirania, Tomás de 
Aquino aconselha para uma Constituição monárquico-moderado. 
Para Tomás de Aquino, governar é o mesmo que conduzir uma 
coisa ao fim devido, de maneira conveniênte; e o fim do Estado 
consiste em conduzir os Cidadãos para uma vida feliz e virtuosa, 
assegurando a paz, a justiça, a felicidade, que é a função de quem 
governa e, os princípios são os primeiros a estar sujeitos à 
prática e a salvaguardar os direitos da paz e segurança. 
Filosofia Política na Idade Moderna 
A Idade Moderna começa com o fim da Idade Média. Esta 
mudança reflecte-se em todos os sectores dos saberes humanos, 
como: a política, a religião, a filosofia, ciência, a arte, a moral e a 
toda a cultura em geral. Na Idade Média a vida do espírito é 
orientada para o mundo sobrenatural. A existência humana é a 
preparação para outra vida, na qual se realiza o destino de cada 
um, e ela se realiza pela virtude sobrenatural da graça de Deus. A 
Igreja é a depositária da verdade revelada e a indispensável 
intermediária entre a terra e o céu. Ela tem o poder de atar e 
desatar; a ela compete formar as almas e ordenar toda a esfera da 
actividade humana, individual e social. 
O mundo moderno tem o seu início no século XV e não há um 
facto histórico concreto que assinala a modernidade. Mas os 
historiadores apresentam várias hipóteses, entre eles a queda do 
Império Romano do Oriente em 1453; outros indicam a chegada 
de Cristôvão Colombo às Américas em 1492; outros apontam 
para o movimento da Reforma Protestante como acontecimento 
que, pelo seu impacto e significado, marca a passagem da Idade 
Média para a Idade Moderna, quando Martinho Lutero fixou as 
95 teses na porta da paróquia de Wittenberg na Alemanha, 
exigindo umas reforma na Igreja Católica, em 1517. 
A modernidade caracteriza-se pelo oposto: não mais 
teocentrismo, nem autoritarismo eclesiástico, mas autonomia do 
mundo da cultura em relação a todo o fim transcendente; livre 
explicação da actividade que a constitui; supremacia da razão na 
procura da verdade; consciência do valor absoluto da pessoa 
humana e afirmação do seu poder soberano no mundo. A vida e a 
natureza são valorizadas por si mesmas. O homem sente que a 
sua missão e o seu destino é a posse sempre mais plena deste 
mundo. 
 
 
 Introdução à Filosofia 115 
 
Nicolau Maquiavel (1469-1527) 
“Os fins justificam os meios.” Maquiavel 
Nasceu Florença (Itália) e pertencia à uma família da burguesia. 
Desempenhou diversos cargos políticos e diplomáticos. Dentre as 
suas obras, destacam-se: O Príncipe (1513) e Discursos sobre a 
Primeira Década de Tito Lívio (1519). 
Na sua primeira obra, apresenta as experiências das coisas 
modernas e das lições aprendidas no passado. Ele parte duma 
visão pessimista da natureza humana e propõe um Estado 
fundado na força. Os governantes devem partir do pressuposto de 
que todos os homens réus, e deste a empregarem todos os meios 
para alcançar o fim de conservar a própria vida e do Estado. O 
governante deve impor-se mais pela força do que pelo amor. Mas 
o Principe, deve aparentar queestá agir com a melhor das 
intenções, o que significa que o principe deve ser “uma espécie 
de lobo vestido de carneiro”. 
Maquiavel é considerado o fundador da Ciência Política 
moderna, na medida e que substitui a especulação, a observação 
directa e indirecta feita através de leituras. 
Fez uma classificação original e inovadora dos regimes políticos: 
a República e a Monarquia. 
A República: caracteriza-se por uma vontade colectiva que seria 
uma república aristocrática ou uma república popular 
democrática, consoante a vontade de todos ou muitos. A melhor 
forma de governo depende das circunstâncias e, ele prefere uma 
república porque ele defende a liberdade; há uma manutenção da 
paz no território, expansão, descobertas e conquistas de novos 
territórios em que um exército numeroso implica a existência de 
base popular de apoio alargado. 
A monarquia: seria governada pela vontade de um só indivíduo; 
o monarca deve ter uma actuação apreciada em função do êxito 
político alcançado e não de acordo com os critérios éticos. 
É um defensor realista em que a razão do Estado deve obedecer 
regras próprias de acções diferentes das que foram aplicada para 
serem seguidas por vários indivíduos; sustenta que qualquer 
actividade levada à cabo para manter o poder deve ser justificada 
e, não obstante, neste caso, a apreciação que possa ser feita pela 
moral: “os fins justificam os meios”. Em política, deve se fazer o 
bem quando possível, mas também o mal, quando necessário. 
Thomas Hobbes (1588-1679) 
É um filósofo inglês, defensor do empirismo e da política. Ele se 
diferencia de outros pensadores ingleses pela sua concepção 
metafísica de cunho, claramente materialista e por sua visão ética 
essencialmente hedonística. Dentre as suas obras, apresentamos 
as seguintes: De corpore, que trata da física e da metafísica; De 
homine, que trata sobre a gnosiologia e a psicologia; Leviathan, 
que compreende a polítca e a ética. Essas obras, que forma um 
 116 Unidade 
 
todo, são conhecidas também pelo título geral de Elementos de 
filosofia. 
O seu pensamento político teve forte influência do ambiente em 
que ele viveu. Participou da vida polítca de seu país, e, mesmo 
quando se encontrava no exílio, continuou a seguir os 
acontecimentos que elevaram à queda da monarquia (decapitação 
de Carlos I, em 1649) e a instauração de Cromwell. E foi 
justamente no início desta ditadura que Hobbes escreveu a sua 
obra Leviathan (1651), que é uma vigorosa apologia do 
absolutismo do Estado. 
Hobbes distingue dois estados da humanidade: estado natural e o 
politico-social. 
No estado natural: o homem goza de liberdade total, tendo todos 
os direitos e nenhum dever. Mas, sendo a sua natureza egoísta, 
cada um busca satisfazer os seus instintos, sem nenhuma 
consideração pelos outros; segue-se daí uma luta de todos contra 
todos, na qual cada homem se comporta em relação aos outros 
como um lobo (o homem é o lobo do homem). 
Nesta situação é impossivel a existência da felicidade, porque 
todos vivem pelo temor de serem atacados uns pelos outros. Para 
que se possa viver com tranquilidade é necessário transigir 
quanto à liberdade e pôr-lhe limites ditados pela razão. 
Obedientes a este conselho, os homens fazem um pacto, um 
contracto social, com base no qual renunciam os seus direitos, 
colocando-os nas mãos de um só homem, o soberano. Assim, 
nasce o Estado. 
O soberano não tem nenhum dever para com os súbditos, uma 
vez que estes renunciaram para sempre à sua liberdade de 
homens isolados para usufruírem os benefícios da sociedade no 
Estado. Por isso, o soberano não é obrigado a prestar contas de 
seus actos a ninguém. E os súbditos não podem exigir de volta 
seus direitos porque a renúncia, uma feita, vale para sempre. 
Disso se segue que a revolução nunca é lícita. 
Estado político – social: caracteriza-se pela existência de um 
contrato social que está na origem de um poder político forte, 
com objectivo de estabelecer um ambiente de paz. Este contrato 
resulta da renúncia definitiva que cada homem faz a favor do 
Estado, de parte de seus direitos. Dentro deste estado, é preciso 
que os indivíduos sejam iguais no momento de contrato. Sem isso 
haverá sempre imposição de forças. 
A moral não é natural; o homem natural não tem dever, não tem 
senso de justiça, como também não tem solicitude; a moral nasce 
com a lei civil e, a lei civil deve se conformar com a lei da 
natureza. 
A monarquia é a melhor forma de governo, o governo de um só 
homem dotado de plenos poderes e que não deriva da graça de 
Deus, mas sim, de um contrato social feito pelo povo. 
 Introdução à Filosofia 117 
 
Assim, Hobbes é um grande defensor do absolutismo, e que sem 
dificuldade, entende o Estado, como o organismo que está acima 
dos cidadãos. 
John Locke (1632-1704) 
É o segundo grande expoente da filosofia inglesa no século XVII. 
À semelhança de Hobbes, Locke se interessa pelos problemas 
gnoseológicos e políticos. 
Locke nasceu em Wrington, na Inglaterra, aos 19 de Agosto de 
1632 e faleceu aos 28 de outubro de 1704. Estudou na 
Universidade de Oxford, tendo-se em ciências experimentais, 
especialmente a medicina, na qual se destacou. 
As suas obras são as seguintes: Dois tratados sobre o Governo, 
Ensaio sobre o intelecto humano, Cartas sobre a tolerância 
religiosa. Participou por algum tempo na vida política e, depois 
se retirou para Oates, onde veio a falecer. 
Em relação à politica, Locke expõe a sua doutrina nos Dois 
tratados sobre o governo. Como Hobbes, ele distingue dois 
estados: o estado de natureza e estado social. 
O Estado de natureza não é um estado no qual cada um tenha 
direitos ilimitados sobre tudo. O Estado de natureza, diz Locke, 
tem uma lei da natureza que obriga a todos; e a razão, que é esta 
lei, ensina a humanidade quando esta a consulta, que, sendo todos 
iguais e independentes, ninguém deve causar danos a outrem em 
sua vida, em sua saúde, liberdade e em sua propriedade. 
O direito do homem é limitado à própria pessoa e, por isso, é 
direito à vida, à liberdade e à propriedade, esta última enquanto 
produto de seu trabalho. Este direito implica inegavelmenteo 
direito de punir o ofensor; não implica o uso de uma força 
absoluta e arbitrária, mas só aquela reacção que a razão e a 
consci6encia indicam como proporcional à transgressão. 
O primeiro impulso para a criação de uma sociedade civil é dado 
pela incerteza e pela instabilidade das formas pelas quais o 
direito punitivo é exercido no estado de natureza. 
Uma sociedade civil e um Estado nascem quando os Homens 
decidem de comum acordo confiar à sua comunidade o poder de 
estabelecer leis que regulem a punição das ofensas e o uso da 
força contra as transgressões destas leis. 
O contrato social cria a autoridade, isto é, confia a alguns o 
encargo de velar pelos direitos de todos. O contrato é uma 
delegação de sua defesa à autoridade. O cidadão conserva sempre 
os seus direitos naturais (à vida, à liberdade, à propriedade 
privada, à família, etc.). O contrato social implica somente a 
renúncia à defesa privada dos direitos e ao uso de alguns deles 
quando o bem comum o exige ( a renúncia, por exemplo, ao 
direito à vida quando a pátria está em perigo). 
A autoridade é legítima quando usa os seus poderes para o bem 
dos cidadãos; é tirânica quando os usa em benefício próprio, 
 118 Unidade 
 
contra a autoridade dos cidadãos. No segundo caso, os cidadãos 
têm o direito de se rebelarem contra o poder tirânico. 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) 
Natural de Genebra, na Suíça, deixou sua terra natal aos 16 anos 
de idade. Levou uma vida conturbada, andando por diversos 
lugares, ora por espirito de aventura, ora devido a perseguições 
religiosas. Dentre suas obras, destacam-se: Discurso sobre a 
origem da desigualdade entre os homens, Do contrato Social, 
ambos sobre política, e Emílio ou da Educação (1762). 
Tal como Locke, Rousseau criticou o absolutismo e elaborou os 
fundamentosda doutrina liberal. No entanto, o seu pensamento 
pedagógico não se separa de sua concepção política, que é mais 
democrática do que a teoria de Locke. Para Rousseau, o 
indivíduo em estado de natureza é bom, mas se corrompe na 
sociedade, que destrói sua liberdade. Ele defende que “o homem 
nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros”. Considera então 
a possibilidade de um contrato social verdadeiro e legítimo, que 
reúne o povo numa só vontade, resultante do consentimento de 
todas as pessoas. 
A concepção política de Rousseau foi menos elitista que a de 
Locke, por conta da diferente noção de soberania. 
Segundo Rousseau, o cidadão não escolhe representantes a quem 
delegar o poder, como defendiam Locke e a tradição liberal, 
porque para ele só o povo é soberania. Ou seja, o pacto que 
institui o governo não submete o povo a ele, isto é, os 
depositários de poder não são senhores do povo, mas seus 
oficiais, e apenas executam as leis que emanam do povo. Nesse 
sentido, Rousseau critica o regime representativo e defende a 
democracia directa, pois toda a lei não ratificada pelo povo é 
nula. 
Portanto, o soberano é o povo incorporado, o corpo colectivo que 
exprime, na lei, a vontade geral. Segundo a teoria de Rousseau, a 
vontade geral não se confunde coma vontade da maioria, como o 
senso comum deveria pensar, porque as decisões não resultam da 
somatória das vontades individuais, mas expressam o interesse 
comum, isto é, o interesse de todos, como participantes da 
comunidade. 
O cidadão, activo e soberano, capaz de autonomia e liberdade, é 
ao mesmo tempo súbdito, porque se submete à lei que ele próprio 
ajudou a erigir. Liberdade e obediência são pólos que devem se 
completar na vida da pessoa em sociedade. Pólos que devem se 
completar na vida da pessoa em sociedade. 
Montesquieu (1689-1755) 
Nasceu perto de Bordéus, na França. Era filho de família nobre, e 
o seu nome era Charles – Louis de Secondant, barão da La Bréde 
e posteriormente barão de Montesquieu. Teve formação 
iluminista com os padres oratorianos, de modo que cedo se 
mostrou um crítico severo e irónico da monarquia absolutista 
 Introdução à Filosofia 119 
 
decadente, bem como do clero. Dentre as suas obras destacaram-
se: Cartas persas e o Espírito das leis. 
Sua obra mais importante é o Espirito das Leis, onde discute a 
respeito das instituições e das leis, e busca compreender a 
diversidade das legislações existentes em diferentes épocas e 
lugares. 
ao procurar descobrir as relações que as leis têm com a natureza e 
o princípio de cada governo, Montesquieu desenvolve uma teoria 
do governo que alimenta as ideias fecundas do 
constitucionalismo, pelo qual se busca se distribuir a autoridade 
por meios legais, de modo a evitar o arbítrio e a violência. 
Tais ideias se encaminham para a melhor definição da separação 
dos poderes: legislativo, executivo e judiciário. Cada um desses 
poderes deve-se manter autônomo e constituído por pessoas 
diferentes. Reflectindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu 
conclui que “só o poder freia o poder”. Por isso propõe a 
separação de poderes. Ele não defende uma separação tão rígida, 
pois o que ele pretendia de facto era realçar a relação de forças e 
a necessidade de equilíbrio e harmonia entre os três poderes. 
Critica toda a forma de despotismo, mas prefere a monarquia 
moderada e não aprecia a idéia de o povo assumir o poder. 
Em ralação a liberdade, Montesquieu diz-nos que “é verdade que 
nas democracias o povo parece fazer o que; mas a liberdade 
política não consiste nisso. Num Estado em que a leis, a liberdade 
não pode consistir senão em poder fazer o que se deve querer e 
em não ser constrangido a fazer o que não se deve desejar”. 
A Filosofia Política Contemporânea 
 John Rawls (1921-2002) 
Nasceu em Baltimore a 21 de Fevereiro de 1921, e veio a falecer 
em 24 de Novembro de 2002. Foi professor de Filosofia Política 
na Universidade de Harvard, autor de Uma Teoria da Justiça 
(1971), Liberalismo Político (1993), e O Direito dos Povos 
(1999). 
A Justiça para Rawls é equidade no momento inicial do pacto, 
partindo-se da suposição que todos são iguais, e que por isso 
podem determinar a forma de actuar a defesa dos seus direitos, 
fixar os direitos, categorizar os bens que interessam ao grupo 
social. 
Num segundo momento a Justiça é vista como um bem, partindo 
da idéia primária de que ninguém teria conceitos de bem, 
conceito agora fixado contractualmente como também os seus 
princípios aptos a produzir vantagens para todos – o que somente 
seria justo, ou para alguns quando se destinar a melhorar os 
menos privilegiados – como redistribuição. Justiça e igualdade, à 
moda liberal, andam juntos no conceito proposto pela teoria de 
Rawls, representando efetivamente, sem assumir, uma postura de 
defesa do neoliberalismo. 
John Rawls apresenta dois princípois da justiça: 
 120 Unidade 
 
Primeiro princípio: exige a igualdade das atribuições dos direitos 
e dos deveres básicos. Cada pessoa, tem o direito igual ao 
cunjunto mais extenso de liberdades fundamentais, iguais para 
todos. 
O segundo princípio: põe que as desigualdades sócioeconômicas 
são justas se produzem, em compensação, vantagens para cada 
um, se beneficiam os indivíduos menos favorecidos. Não há 
nenhuma injustiça em um pequeno número obter vantagens 
superiores à média, sob a condição de que seja melhorada a 
situação dos desfavorecidos. 
Assim, o modelo de John Rawls da justiça se enraiza na ideia de 
um procedimento de escolha equitativa, estranha à 
predominância de tal ou tal interesse particular, procedimento 
onde se enraiza a escolha de princípios justos. 
Propriedade, considerada como um bem primário, é um direito de 
liberdade e de igualdade. A liberdade é um princípio inegociável, 
que identifica, no principio de diferença, um mecanismo para 
concretizar e satisfazer Direito de propriedade. Neste contexto, 
busca-se uma alternativa política para conflitos de direitos de 
políticas, de valores e de deveres constitucionais, principalmente 
decorrentes das demandas da liberdade e igualdades relacionadas 
ao direito de propriedade. 
Para uma justiça com equidade, é necessário que haja um pacto 
com uso ao recurso do véu da ignorância, em que as partes 
desconheçam habilidades, capacidades e benefícios. A ideia deste 
pacto, é desvincular os cidadãos de interesses pessoais, 
ideologias, habilidades, etc. É necessário um pacto que leve em 
conta o recurso do véu da ignorância na posição original para 
atingir o máximo a igualdade. O véu da ignorância se dá por um 
critério de racionalidade. Com isso, escolhem-se os princípios da 
justiça (o primeiro princípio da liberdade e o segundo da 
diferença, sendo que o segundo subdivide-se em dois: igualdade 
equitativa de oportunidades e os menos favorecidos sendo 
beneficiados ao máximo na ocorrência de desigualdades 
socioeconómicas). 
A propriedade é analisada como direito de liberdade ou direito de 
igualdade, sendo que, pelo direito de liberdade, é tida como 
essncial à persoalidade, ao auto-respeito e à auto-estima do 
cidadão. 
No segundo princípio, objectiva-se a concretização de direitos 
essenciais à promoção da cidadania. Demonstra-se que a 
Constituição preceitua o direito de propriedade, a função social, a 
liberdade e a igualdade, entre outros valores políticos e sociais. 
Karl Popper (1902-1994) 
Nasceu em Viena de Austria. Fez os seus estudos em 
Matemáticas, Fïsica, Filosofia, Psicologia e História da música. 
Foi professor do ensino secundário. Conviveu com o Círculo de 
Viena, embora não tenha sido convidado para nela colaborar. 
 Introdução à Filosofia 121 
 
Dentre as suas obras destacamos as seguintes: Lógica da 
Descoberta Científica (1934); A Sociedade Aberta e os seus 
inimigos (1943); Pobreza do Historicismo (1944); Conjenturas e 
Refutações. O crescimento do conhecimento científico (1963); 
Conhecimento Científico. Um enfoque Evolucionário (1973); 
SociedadeAberta. Universo Aberto (1982); Para um Mundo 
Melhor (1989), etc. 
Foi vítima do nazismo que se fez sentir sobre a Alemanha e a 
Áustria. Popper, procurou reflectir sobre a génese e a 
fundamentação ideológica dos regimes totalitários. Platão, Hegel 
e Marx foram por ele apresentados como os principais teóricos 
destes regimes, assim de uma visão da história que os justificava, 
o Historicismo. As suas idéias podem ser resumidas nos 
seguintes tópicos: 
 - A história da humanidade não tem um sentido concreto que 
antecipadamente possa ser conhecido, o único sentido que possui 
é aquele que os homens lhe dão; o progresso da humanidade é 
possível, e não carece de um critério último de verdade; a razão 
humana é essencialmente falível, o dogmatismo não tem pois 
qualquer fundamento. A única atitude justificável para atingir a 
verdade é através do diálogo, o confronto de idéias por meios não 
violentos. 
Na ciência significa aceitar o risco de formular hipóteses que 
venham depois a ser refutadas pela experiência. Na política 
significa que cada um deve aceitar o risco de ver as suas 
propostas serem recusadas por outros no confronto de idéias ou 
projectos. 
Formas de Sistemas Políticos: Monocráticas e Pluricráticas 
A monocracia opõe-se a divisão de poderes. São monócráticos os 
governos que só têm poder em si próprios e tendem a confundir o 
poder com a propriedade. Na monocracia haveria um centro 
único de força política, independentemente do processo de 
designação ou de recrutamento da autoridade governamental, 
situação que formas pré-estaduais, onde existe confusão entre a 
Propriedade e o exercício de Poder e que se distinguiria com a 
autocracia, o regime em que os governos só têm o poder de si 
próprios. 
Já na divisão de poderes, eis que em lugar de confundir com uma 
vontade única, o Poder do Estado só se imporá por efeito de um 
acordo entre as vontades de vários órgãos, de tal maneira que a 
eficácia de cada uma delas se sobordinará ao consentimento de 
todas as outras. Este sistema político denomina-se pluricrático. 
 
 122 Unidade 
 
 Exercícios 
 
Auto-avaliação 
 
1- Qual é a origem do Estado em Platão e Aristóteles? 
Resposta: Para Platão, o Estado é convencional, ou seja, como o 
Homem não pode sobreviver por si mesmo, precisa associar aos 
outros para satisfazer as diferentes necessidades, enquanto que 
para Aristóteles, o Estado é natural e, o Homem é por natureza 
um animal político, pois é caracterizado pela sua integração numa 
cidade, que resulta de uma civilização de espécie humana: 
família, tribo, aldeia e cidade. 
2- Qual é a fonte do poder na perspectiva Agostiniana? 
Resposta: Na perspectiva agostiniana, o poder vem de Deus e, 
portanto, o homem não tem autoridade sobre o homem por direito 
de natureza. A autoridade do chefe funda-se na delegação do 
poder divino. 
3- Por que Maquiavel é considerado o fundador da Ciência 
Política? 
Resposta: Por que foi ele que substituiu a especulação, a 
observação directa e indirecta feita através de leituras. 
 Introdução à Filosofia 123 
 
Unidade N0 21-A0010 
Tema: Ciência. 
Introdução 
O homem é um ser condenado a viver a sua existência no mundo. 
Pode ser existencial, tem que interpretar a si e ao mundo em que 
vive, atribuindo-lhe significados. Cria intelectualmente 
representações significativas da realidade. A essas representações 
chamamos conhecimento. 
O conhecimento, dependendo da forma pela qual se chega a essa 
representação significativa, pode ser, em linhas gerais, 
classificado em diversos tipos: mítico, ordinário, artístico, 
filosófico, religioso e cientifico. 
As duas formas que estão mais presentes e que mais interferem 
nas decisões da vida diária do homem são o conhecimento do 
senso comum e o cientifico. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Identificar as formas de conhecimentos; 
 Caracterizar os tipos de conhecimentos. 
Sumário 
Conhecimento do senso comum 
A forma mais usual que o homem utiliza para interpretar a si 
mesmo, o seu mundo e o universo como um todo, produzindo 
interpretações significativas, isto é, conhecimento, é a do senso 
comum, também chamado de conhecimento ordinário, comum ou 
empírico (KOCHE, 1997: 32) 
Chamamos de conhecimento espontâneo ou senso comum o 
saber resultante das experiências levadas a efeito pelo homem ao 
enfrentar os problemas da existência. Nesse processo ele não se 
encontra solitário, pois tem o concurso dos contemporâneos com 
quem troca informações. Além disso, cada geração recebe das 
 124 Unidade 
 
anteriores a herança fecunda que não só é assimilada como 
também transformada. 
O conhecimento do senso comum é ametódico e assistemático, e 
nasce diante da tentativa do homem de resolver os problemas da 
vida diária. O homem do campo sabe plantar e colher segundo 
normas que aprendeu com seus pais, usando técnicas herdadas de 
seu grupo social e que se transformam lentamente em função dos 
acontecimentos casuais com os quais se depara. 
Ė um tipo de conhecimento empírico, porque se baseia na 
experiência cotidiana e comum das pessoas, distinguindo-se por 
isso da experiência cientifica, que exige um planeamento 
rigoroso. É também um conhecimento ingénuo: ingenuidade aqui 
deve-se entender como atitude não-critica, típica do saber que 
não se coloca como problema e não se questiona enquanto saber. 
Muitas vezes o conhecimento do senso comum é preso das 
aparências em comparação com a ciência, o senso comum é 
fragmentário, pois não estabelece conexões onde estas poderiam 
ser verificadas. 
É um conhecimento particular, restrito a pequena amostra da 
realidade, a partir da qual são feitas generalizações muitas vezes 
apressadas e imprecisas. O homem comum selecciona os dados 
observados sem nenhum critério de rigor, de forma ametódica e 
fortuita. Em outras palavras, conclui para todos os objectos o que 
vale para um ou para um grupo de objectos. 
É frequentemente um conhecimento subjectivo, o que ocorre, por 
exemplo, quando avaliamos a temperatura do ambiente com a 
nossa pele, já que só o termómetro dá objectividade a essa 
avaliação. Ainda mais o senso comum depende de juízos pessoais 
a respeito das coisas, com envolvimento das emoções e dos 
valores de quem observa. 
O conhecimento cientifico 
O conhecimento cientifico é uma conquista recente da 
humanidade: surgiu no século XVII com a revolução galileana. 
Isso não significa que antes dessa data não houvesse o saber 
rigoroso, pois desde o século VI a.C., na Grécia Antiga, os 
homens aspiravam um conhecimento que se distinguisse do mito 
e do saber comum. Tais sábios ocupavam-se com a filosofia e a 
ciência. 
No século V a. C., Sócrates buscava a definição dos conceitos, 
por meio da qual pretendia atingir a essência das coisas. Platão 
mostrava o caminho que a educação do sábio devia percorrer 
para ir da opinião a ciência. 
No pensamento grego, a ciência e a filosofia encontravam-se 
vinculadas e só vieram a se separar na Idade Moderna, buscando 
cada uma delas seu próprio caminho, ou seja, seu método. 
“A ciência moderna nasce ao determinar um objecto especifico 
de investigação e ao criar um método pelo qual se fará o controle 
desse conhecimento. A utilização dos métodos rigorosos permite 
 Introdução à Filosofia 125 
 
que a ciência atinja um tipo de conhecimento sistemático, preciso 
e objectivo, segundo o qual são descobertas relações universais e 
necessárias entre os fenómenos, o que permite prever 
acontecimentos e também agir sobre a natureza de forma mais 
segura” (ARANHA, 1993: 128-129). 
Assim , cada ciência se torna então uma ciência particular, no 
sentido de ter um campo delimitado de pesquisa e um método 
próprio. As ciências são particulares na medida na medida em 
que cada um privilegia sectores distintos da realidade: a física 
trata do movimento dos corpos; a química, da sua transformação; 
a biologia, do ser vivo, etc. 
Por outro lado, as ciências são tambémgerais, no sentido de que 
as conclusões não valem apenas para os casos observados, e sim 
para todos os que a ele se assemelham. 
O conhecimento cientifico é caracterizado pela objectividade: as 
conclusões podem ser observadas por qualquer membro 
competente da comunidade cientifica, pois a racionalidade desse 
conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se 
impessoal na medida do possível. 
Para ser objectivo e preciso, o conhecimento cientifico dispõe de 
uma linguagem rigorosa cujos conceitos são definidos de modo a 
evitar a ambiguidade. A linguagem se torna cada vez mais 
precisa, na medida em que utiliza a matemática para transformar 
qualidades em quantidades. 
 Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quais são as formas de conhecimento mais usados pelo 
homem? 
Resposta: As duas formas de conhecimento mais usados pelo 
homem são o conhecimento do senso comum e o conhecimento 
científico. 
2- Apresente as caracteristicas dos conhecimentos do senso 
comum e científico. 
Resposta: O conhecimento do senso comum é ametódico, 
assistemático, empirico porque se baseia na experiência cotidiana 
e comum das pessoas, ingênuo, particular e subjectivo; ao passo 
que o conhecimento científico é objectivo, universal, preciso e 
dispõe de uma linguagem rigorosa. 
 126 Unidade 
 
Unidade N0 22-A0010 
Tema: A Estética. 
Introdução 
“A Estética desígna simultaneamente: a capacidade humana de 
captação do que nos rodeia através dos órgãos dos sentidos; o 
sentimento de agrado ou de desagrado que acompanha as nossas 
percepções” (ALVES, 1997: 131). 
A atitude estética consiste em perceber o objecto como objecto 
estético, ou seja, como objecto de que se gosta ou não se gosta. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Definir o conceito de Estética. 
 Destacar as modalidades da experiência estética. 
Sumário 
A palavra estética vem do grego aisthesis, com o significado de 
“faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, 
“percepção totalizante”. 
A ligação da estética com a arte é ainda mais estreita se se 
considera que o objecto artístico é aquele que se oferece ao 
sentimento e a percepção. Por isso, enquanto disciplina filosófica, 
a estética está voltada para as teorias da criação e percepção 
artísticas. 
Modalidades da experiência estética 
Segundo J. Neves Vicente, a experiência estética pode desdobrar-
se em três dimensões distintas, que são: 
Experiência estética da natureza: experiência estética do ser 
humano quando, na admiração da natureza, e sujeito de 
determinados sentimentos ou vivências, tais como o prazer, o 
deleite, a maravilha, o espanto que o conduzem a contemplação. 
 Introdução à Filosofia 127 
 
Experiência estética da criação artística: experiência do artista 
da fase da criação; uma experiência tantas vezes marcada pela 
reflexão, pelo silencio, pelo isolamento. 
Experiência estética da obra da arte: experiência do espectador 
na contemplação da obra da arte, também designada por 
experiência estética da recepção. 
Exercício 
 
 
Auto-avaliação 
 
1- Quais são as modalidades da experiência estética? 
Resposta: As modalidades da experiência estética são: 
experiência estética de natureza; experiência estética da criação 
artística e experiência estética da obra da arte. 
 128 Unidade 
 
Unidade N0 23-A0010 
Tema: A expressão artística. 
Introdução 
“A arte ou técnica era uma actividade que obedecia regras para a 
produção de uma obra. Em sentido amplo, arte significa 
habilidade ou agilidade para inventar meios para vencer uma 
dificuldade ou um obstáculo postos pela natureza. Em sentido 
restrito, significa a aprendizagem e a prática de um oficio que 
possui regras, procedimentos e instrumentos próprios. Ars ou 
tekhne era um saber pratico”(CHAUI, 2003: 275). 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Conceituar a arte. 
 Conhecer as atitudes perante uma obra de arte. 
 Diferenciar o belo do feio. 
 
Sumário 
A palavra arte vem do latim ars e corresponde ao termo grego 
tékhne, “técnica”, que significa “toda actividade humana 
submetida a regras em vista da fabricação de alguma coisa”. No 
latim, artesão, artífice ou artista se diz artifex, “o que faz com 
arte”, e também opficis, “o que exerce um ofício”, e o resultado 
de sua acção se diz opus (no singular) e opera (no plural), isto é, 
obra. 
Que representação social se tem dos artistas? Que se diz dos 
artistas? Como se interpreta a sua actividade? 
Segundo J. Neves Vicente, aos artistas atribui-se-lhes 
originalidade, mas também fantasia. O mundo dos artistas e da 
arte apresenta-se como um mundo fechado, uma torre de marfim 
onde eles se refugiam. 
 Introdução à Filosofia 129 
 
Atribui-se-lhes sensibilidade e imaginação, mas atribui-se-lhes 
em particular a falsificação do mundo e da vida. A critica mais 
comum que e feita aos artistas e precisamente a de oferecerem 
um mundo irreal, um mundo de ficções. Como se arte e a vida se 
encontrassem em oposição irredutível. 
Mas não teria sentido opor a arte e a vida, a não ser que se 
entenda, erradamente, que a arte e imitação, ainda por cima 
imperfeita, se não mesmo enganadora. 
O poder da criação artística e não só a posse e o domínio de um 
outro olhar sobre os seres e as coisas, mas também sobretudo o 
domínio de um poder de criação incomparável ao poder de 
produção ou da fabricação de objectos úteis. 
Atitude perante a obra de arte 
Perante a obra de arte, o ser humano pode situar-se numa das 
seguintes tres posições: 
Como criador: o ser humano, por meio da realizaçao da obra, 
opera, como se disse, a transfiguraçao do real; inventa um mundo 
distinto do que é dado na percepção. 
Como espectador: o ser humano colabora na recriação da obra e 
também na transfiguração da realidade. 
Como critico: o ser humano procura, entre outras coisas, 
interpretar o significado antropológico da criação artistica e 
determinar os critérios da beleza, etc. Esta e a atitude do esteta, 
do historiador da arte, do sociólogo, do antropólogo, do 
psicólogo e do filósofo. 
 
O belo e o feio: a questão do gosto 
Desde Platão ao classicismo, os filósofos tentaram fundamentar a 
objectividade da arte e da beleza. Para Platão, a beleza é a única 
ideia que resplandece no mundo. Se, por um lado ele reconhece o 
carácter sensivel do belo, por outro, continua a afirmar a sua 
essência ideal, objectiva. Somos assim obrigados a admitir a 
existência do belo em si, independente das obras individuais que, 
na medida do possivel, devem se aproximar desse ideal universal. 
No classicismo, as artes seguem regras e procedimentos 
específicos a partir desse belo ideal, fundando a estética 
normativa. É o objecto que passa a ter qualidades que o tornam 
mais ou menos agradável e independente do sujeito que as 
percebe. 
Os filósofos empiristas como David Hume, relativizam a beleza 
ao gosto de cada um. Aquilo que depende do gosto e da opinião 
pessoal não pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: 
“gosto não se discute”. O belo, portanto não está mais no 
objecto, mas nas condições de percepção do sujeito.Para Kant, “o 
belo é aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa 
justifica-lo intelectualmente”(ARANHA, 1993:342). Para ele, o 
 130 Unidade 
 
objecto de belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no 
sujeito. O principio do sujeito estético é o sentimento do sujeito e 
não o conceito de sujeito. Belo, portanto, é umas qualidade que 
atribuimos aos objectos para exprimir um certo estado da nossa 
subjectividade. Sendo assim, não há uma ideia de belo nem pode 
haver regras para produzi-lo. 
Hegel, introduz o conceito de história. A beleza muda de face e 
de aspecto através dos tempos. Essa mudança (devir), que se 
reflecte na arte, depende mais da cultura e da visão do mundo 
vigentes do que de uma exigência interna do belo. 
Actualmente, considera-se o belo como uma qualidade decertos 
objectos singulares que nos são dados a percepção. Beleza é uma 
imanência total de um sentido ao sensivel. O objecto é belo 
porque realiza o seu destino, é autêntico, e verdadeiramente 
segundo o seu modo de ser, isto é, um objecto singular, sensivel, 
que carrega um significado que só pode ser percebido na 
experiência estética. Não existe mais a ideia de um único valor 
estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objecto 
singular estabelece seu próprio tipo de beleza. 
O problema do feio: “está implicito nas colocações que são feitas 
sobre o belo. Por principio, o feio não pode ser objecto de arte. 
Há dois modos de representar o feio: a representação do assunto 
“feio” e a forma de representação feia. 
No primeiro caso, embora o assunto “feio” tenha sido banido do 
território artistico durante séculos, no século XIX ele vem a ser 
reabilitado. No momento em que arte rompe com a ideia de ser 
“cópia do real” para ser considerada criação autônoma que tem 
por função revelar as possibilidades do real, ela passa a ser 
avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e com a 
sua capacidade de falar ao sentimento”(ARANHA, 1993: 342). 
O problema do belo e do feio é deslocado do assunto para o 
modo de representação. E só haverá obras feias na medida em 
que forem malfeitas, isto é, que não corresponderem plenamente 
a sua proposta. Em outras palavras, sempre que houver uma obra 
feia, não haverá uma obra de arte. 
A questão do gosto tem a ver com a capacidade de julgamento 
sem preconceitos. Gostar alguma coisa é, pois ter essa capacidade 
de avaliar e julgar tal coisa ou objecto sem preconceitos. Gosto é, 
finalmente, comunicação com a obra para além de todo o saber e 
de toda a técnica. 
 Introdução à Filosofia 131 
 
Exercício 
 
Auto-avaliação 
 
1 – O que se entende de Belo na actualidade? 
Resposta: Na actualidade considera-se o belo como uma 
qualidade de certos objectos singulares que nos são dados a 
percepção. Beleza é uma imanência total de um sentido ao 
sensivel. O objecto é belo porque realiza o seu destino, é 
autêntico, e verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, 
um objecto singular, sensivel, que carrega um significado que só 
pode ser percebido na experiência estética. Não existe mais a 
ideia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas 
as obras. Cada objecto singular estabelece seu próprio tipo de 
beleza. 
 
 132 Unidade 
 
Unidade N0 24-A0010 
Tema: A experiência religiosa. 
Introdução 
O sentimento religioso corresponde a um sentir profundo da 
natureza humana que pretende estabelecer os laços com um plano 
da realidade que chamado sagrado; o sentimento religioso não 
passa de uma ilusão que se dissipará com a emancipação da 
razão, possível atravês da ciência e da reflexão filosófica. 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 Definir o conceito de religião. 
 Destacar os modos de encarar a religião. 
 Diferenciar o sagrado do profano. 
 Descrever as diferentes concepções sobre a experiência religiosa. 
 
Sumário 
 
A palavra religião deriva do latim: de relegere, significa 
respeitar, prestar culto; de religare, que significa, voltar a 
juntar, unir. Neste último sentido, significa pois, que a religião é 
um laço de união entre os homens e o sagrado. 
Religião, segundo Cicero (106-43 a.C), é o respeito que o 
indivíduo sente, no mais profundo de si, perante qualquer ser que 
disso seja digno, em particular o divino ou o sagrado. Este 
respeito manifesta-se no cuidado que se coloca a quando da 
participação nos ritos e outros gestos tradicionais da sociedade. 
Para Lucrêcio, poeta romano, seguidor da filosofia materialista 
de Epicuro (99-55 a. C.), a religião é um sistema de ameaças e 
promessas que cultiva e desenvolve o medo instintivo do ser 
humano, contra o qual o individuo, se for corajoso, se revoltara 
 Introdução à Filosofia 133 
 
e sobre o qual triunfará graças ao conhecimento cientifico e a 
sabedoria filosofica. 
Modos de encarar a religião 
Segundo Albert Einstein, citado por J. Neves Vicente, existem 
três modos de encarar a religião: 
- A religião – temor: aquela que surgiu para compensar a 
fragilidade humana; 
- A religião-moral: existe para compensar os mecanismos de 
controle social; 
- A religiosidade – côsmica: expressa o sentimento de maravilha 
perante a natureza. 
 
A experiência religiosa 
Diante do sagrado, o homem religioso é possuído pelo 
sentimento de pavor, de medo, porque apresenta-se como algo de 
tremendo. Mas, ao mesmo tempo, o homem religioso é invadido 
pelo sentimento de atracção porque o mesmo sagrado se lhe 
apresenta também como fascinante e protector. 
Se, para alguns, a experiência religiosa teve a sua origem nos 
sentimentos de pavor e medo, para outros, ela teve a sua origem 
na experiência da dependência, de estar nas mãos de, de estar 
sujeita a forças indomáveis e em particular ante as forças da 
natureza que o ser humano não controla e que não raras vezes 
lhes são adversas. 
Para outros, a experiência religiosa confunde-se com a 
experiência da finitude, de limitação, de impotência, donde o 
sentimento de submetimento da fragilidade humana a um poder 
superior, presente ainda que oculto na própria natureza ou acima 
dela. 
Para outros, a experiência religiosa nasce sobretudo da 
necessidade ou vontade de sentido: sentido para ordem côsmica, 
para o mal, para a morte e sobretudo para a existência. O mundo 
apresenta-se como irracional e inóspito, incompatível com o 
Homem, se não tem em si ou por trâs de si uma realidade 
absoluta que lhe de consistência e assegure a sua inteligibilidade. 
Para outros ainda, a experiência religiosa nasce da experiência de 
se estar ligado, de ser-com, da abertura aos outros, ao universo, 
ao infinito, ao transcendente. 
Para outros ainda, a experiência religiosa nasce da necessidade 
que o Homem tem de viver num mundo onde lhe seja dado 
discernir o bom do mau, o junto do injusto. 
 
 
 134 Unidade 
 
O sagrado e o profano 
O sagrado é a experiência da presença de uma potência ou de 
uma força sobrenatural que habita algum ser: planta, animal, 
humano, coisas, ventos, águas, fogo. Essa potência é tanto um 
poder que pertence definitivamente a um determinado ser quanto 
algo que ele pode possuir e perder, não ter e adquirir. O sagrado é 
experiência simbólica da diferença entre os seres, da 
superioridade de alguns sobre os outros, do poderio de alguns 
sobre os outros: superioridade e poder sentidos como espantosos, 
misteriosos, desejados e temidos (CHAUI, 2003: 252-253). 
O sagrado pode definir-se pela negativa – opõe-se ao profano – 
ou pela positiva – como uma força ( a que os antropólogos e 
sociólogos chamam manã) que não dimana do mundo dito natural 
ou biofísico, mas do que se considera, em sentido lato, o mundo 
do sobrenatural. 
A experiência do sagrado é uma experiência do tremendo, pois o 
sagrado é sempre ambivalente, simultaneamente atrai e assusta, 
uma vez que a sua natureza reveste quer o carácter de divino 
(benéfico para o ser humano), quer de demoníaco (o maléfico 
para o ser humano), sendo a esse tremendo, a esse poder que 
aterroriza o mistério tremendo. 
O sagrado é uma hierofania, uma manifestação do que não é 
natural nem social, mas antes sobrenatural que transcende o 
nosso plano de experiência comum, pois é o completamente 
outro, que pode causar em quem a vive quer um sentimento de 
quietude e paz propícia ao recolhimento, quer um sentimento de 
profunda perturbação emocional, que se pode traduzir em actos 
convulsivos e violentos. 
Exercícios 
 
 
Auto-avaliação 
 
 
1 – Quais os modos de encarar a religião? 
Resposta: Os modos de encarar a religião são: 
a) A religião – temor: aquela que surgiu para compensar a 
fragilidade humana; 
b) A religião-moral: existe para compensar os mecanismos de 
controle social; 
c) A religiosidade – cósmica: expressa o sentimento de 
maravilhaperante à natureza. 
 
 
 Introdução à Filosofia 135 
 
EXERCÍCIOS PARA RESOLVER 
 
Em cinco (05) páginas no mínimo, faça uma redacção dos 
seguintes sub-temas do tema – “Introdução à Filosofia”: 
1. Trabalho1 para primeira sessão presencial – Código: T-F.E-01 
 
 A Questão de método, objecto e objectivos da Filosofia. 
a) Diferença entre Filosofia e outras ciências; 
b) Funções e atitudes da Filosofia; 
c) Etapas da História da Filosofia 
2. Trabalho2 para segunda sessão presencial – Código: T-F.E-02 
 
 A Questão da Pessoa Humana: 
 
a) Destacar a relação da Pessoa Humana com: 
b) O mundo, consigo mesmo, com Deus e o trabalho. 
c) Falar da consciência moral em diferentes perspectivas. 
d) Relação entre liberdade e responsabilidade; 
e) Relação entre acção humana e os valores; 
f) Teoria do Conhecimento: Origem, natureza e possibilidades do 
Conhecimento. 
 
3. Trabalho3 para terceira sessão presencial – Código: T-F.E-03 
 
a) A Questão sobre a lógica: 
 
b) Relação entre linguagem, comunicação, pensamento e discurso; 
c) Comentar sobre as dimensões do discurso humano; 
d) Fazer referência dos novos domínios da lógicas e desenvolver 
apenas um. 
e) Princípios da razão. 
 Sobre a politica: 
a) Relação entre Filosofia e Politica; 
b) Destacar os pensamentos políticos nas suas diferentes épocas 
históricas e seus principais representantes. 
c) Os poderes e elementos do Estado; 
d) Importância e história dos Direitos Humanos; 
e) Formas de Sistemas políticos; 
 Sobre a Estética: 
a) Relacionar a estética da arte; 
 136 Unidade 
 
b) Relação entre arte e religião; 
c) Experiência religiosa e os modos de encarar a religião. 
 
 
 
 
 
 
 
 Introdução à Filosofia 137 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
 
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Martins Fontes, S. Paulo, 2003 
2. ALVES, Fátima, et al. A Chave do Saber – 
Introdução à Filosofia 10º Ano, Porto editora, Porto, 
1998 
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4. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda et al. 
Filosofando. Introdução à Filosofia; 2ª edição, S. 
Paulo, 1993 
5. CHAMBISSE, Ernesto et al. A Emergência do 
Filosofar. Filosofia 11ª/12ª Classe, 1ª edição; S. 
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6. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia, 13ª edição, S. 
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8. JASPERS, Karl. Introdução ao Pensamento 
Filosófico, editora Cultrix, S. Paulo, s/d 
9. LOPES, João. Introdução à Filosofia 2, Didáctica 
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10. MARTÏNEZ, Soares. Filosofia do Direito, 3ª edição, 
Editora Almedina, Coimbra, 2003 
11. MONDIN, B. O Homem, que é ele? Elementos da 
Antropologia Filosófica; 7ª edição, edições Paulinas, 
S.Paulo, 1980 
 138 Unidade 
 
12. MONDIN, B. Introdução à Filosofia; Problemas, 
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13. POVEY, George et al. Conduta Obstétrica; Imprensa 
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14. RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica; Para 
alunos dos cursos de graduação e pós-graduação; 3ª 
edição; Edições Loyola; S. Paulo, 2002 
15. RACHELS, James. Os Elementos da Filosofia da 
Moral; 4ª edição; Editora Monete; S. Paulo, 2006 
16. REALLE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da 
Filosofia, Vol I; editora Paulus, S.Paulo, 1990 
17. RUSS, Jaqueline. Pensamento Ético 
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18. SERRALHEIRO, Deolinda. O Acto Educativo 
Religioso e Moral; Educar na fé hoje; Secretariado 
Nacional de Educação Cristã; Lisboa, 1995 
19. VICENTE, J. Neves. Razão e Diálogo, Introdução à 
Filosofia 10º Ano, Porto editora, Porto, 1998.

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