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apostila de filosofia

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1 
Marketing Estratégico 
MARKETING ESTRATÉGICO 
 
GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
1 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
APRESENTAÇÃO 
 
Prezado (a) Acadêmico (a), 
 
Você está participando da disciplina de FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS 
HUMANOS na modalidade à distância, ofertada pelo Centro Universitário 
Dinâmica das Cataratas - UDC. Sabemos que o seu percurso de aprendizagem 
necessita ser acompanhado e orientado, para que você obtenha sucesso nos 
estudos e construa um conhecimento relevante à sua formação profissional. 
Preparamos este material didático com os conteúdos teóricos e as 
orientações de atividades planejadas pelo professor, possibilitando, assim, guiá-lo 
no autoestudo ao longo do semestre. Além disso, você conta com o ambiente 
virtual de aprendizagem como espaço de estudo e de participação ativa no curso. 
Nele você encontra as orientações para realizar atividades e avaliações online, 
além de recursos que vão enriquecer a proposta deste material didático, tais 
como links para sites da Internet, vídeos gravados pelo professor e outros por ele 
sugeridos, textos, animações, ilustrações, dentre outras mídias. 
Lembre-se, no entanto, de que você deve se organizar para criar sua própria 
autonomia de estudo. Isso inclui o planejamento do seu tempo de dedicação ao 
estudo individual e de participação colaborativa no ambiente virtual. Este material 
é o seu livro-texto e apoio importante no desenvolvimento de sua aprendizagem 
no curso. 
 
Bom estudo! 
Direção UDC Online 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 1 
UNIDADE I – O SURGIMENTO DA FILOSOFIA ........................................................ 3 
1.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 
1.1.1 O surgimento da filosofia, do mito ao pensamento filosófico, a filosofia e o 
processo do filosofar, o senso comum e o pensar filosófico, o conhecimento. ........... 3 
1.1.2 Para que filosofia? O que ela é? Como surgiu? ................................................. 5 
1.2 DO MITO AO PENSAMENTO FILOSÓFICO ........................................................ 6 
1.3 A FILOSOFIA E O PROCESSO DO FILOSOFAR ................................................ 9 
1.4 O SENSO COMUM E O PENSAR FILOSÓFICO ................................................ 11 
1.5 O CONHECIMENTO ........................................................................................... 15 
UNIDADE II – CONCEITOS E TEORIAS INFLUENTES NO PENSAMENTO 
FILOSÓFICO ............................................................................................................ 20 
2.1 SOBRE O MÉTODO METAFÍSICO .................................................................... 21 
2.2 O RACIONALISMO E O EMPIRISMO................................................................. 22 
2.3 O CRITICISMO KANTIANO E A DIALÉTICA ...................................................... 26 
2.4 A DIALÉTICA ...................................................................................................... 27 
2.5 A FILOSOFIA DOS IMPULSOS .......................................................................... 29 
2.6 O PENSAMENTO POLÍTICO .............................................................................. 32 
UNIDADE III – ÉTICA E CIDADANIA ....................................................................... 35 
3.1 O QUE É ÉTICA .................................................................................................. 35 
3.1.1 Afinal, o que é ética? ........................................................................................ 36 
3.2 CONCEPÇÕES ÉTICAS ..................................................................................... 40 
3.3 A ÉTICA DO ADMINISTRADOR E A RESPONSABILIDADE SOCIAL ............... 44 
3.4 A CIDADANIA ..................................................................................................... 47 
3.5 CIDADANIA: A JUSTIÇA, OS VALORES E AS LEIS .......................................... 50 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
3 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 UNIDADE I – O SURGIMENTO DA FILOSOFIA 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta obra estão representados diversos pensadores de diferentes épocas em um 
mesmo ambiente. Escola de Atenas, 2005 – reprodução feita por Alexandre Schuck 
de obra de Rafael Sanzio (1483 – 1520). 
 
 
1.1.1 O surgimento da filosofia, do mito ao pensamento filosófico, a filosofia e 
o processo do filosofar, o senso comum e o pensar filosófico, o conhecimento. 
 
Você sabia? 
É por causa da Academia do filósofo Platão que os estudantes de nível 
superior são chamados de acadêmicos. Na Academia de Platão também 
eram realizados exercícios físicos (ginástica) os quais preparavam para a 
atividade militar. É por isso que hoje em dia, os lugares em que se 
 
 
 
 
4 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
realizam a preparação física ou militar também são chamados de 
academias. 
 
Neste estudo você vai entrar no “mundo das ideias filosóficas”, tornando mais 
claro o processo do filosofar e obtendo uma maior intimidade com esta forma de 
conhecimento. 
Na Grécia, século VI a.C.: surge uma nova forma de pensar e interpretar o 
mundo, uma forma que valoriza a reflexão, baseada no discurso racional (logos), 
sem recorrer às explicações e narrativas fantásticas (mythos). A filosofia inicial surge 
como uma cosmologia, pois os filósofos buscam uma causa primordial para o 
mundo. Os primeiros filósofos estão interessados em entender a natureza (physis) 
sem recorrer às tradições mitológicas e religiosas. Adiante veremos como isto 
ocorre. 
Na Grécia, século V a.C.: surge a Academia de Platão, o primeiro protótipo 
do que seria uma Universidade de nossos dias. Qual a principal disciplina ensinada 
na Academia? Se pensar filosofia, acertou. 
 
A palavra filosofia é derivada do grego philosophia. Philo significa amor 
filial ou amizade. 
Sophia significa sabedoria. Deste modo, o filósofo seria um amigo ou 
amante da sabedoria. Porém, apesar do significado etimológico da 
palavra, a discussão sobre o que realmente é a filosofia não encontrou 
um consenso entre os filósofos, constituindo até hoje objeto de discussão. 
 
A Filosofia é a mais antiga das disciplinas acadêmicas. O ensino do 
conhecimento filosófico foi o primeiro passo para o surgimento do modelo 
acadêmico. Mesmo assim, apesar de tanto tempo e tradição, ela parece sempre 
requerer uma justificação e esclarecimento sobre sua presença no processo de 
aprendizado e currículo dos cursos superiores. 
 
 
 
 
 
 
 
5 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
1.1.2 Para que filosofia? O que ela é? Como surgiu? 
 
Quando iniciamos um debate ou reflexão com a pergunta “o que é?”, abre-se 
a possibilidade de adentrarmos no processo que permite pensarmos os 
fundamentos. Pensar filosoficamente é pensar os fundamentos. O que equivale a 
pensar as bases de sustentação, as primeiras causas e princípios de algo. Por 
exemplo: a pergunta “o que é o homem?” nos remete a pensar qual sua origem, seu 
princípio e o que o mantém enquanto sujeito no mundo. Este tipo de investigação 
também será desenvolvido pela metafísica, um ramo importante da filosofia. 
Diante da complexidade da natureza, - que ao mesmo tempo era capaz de 
maravilhar e assustarcom seus ciclos de mudanças, nascimento e morte -, os 
primeiros filósofos gregos deram diferentes respostas à pergunta pelo fundamento 
do mundo natural. 
Desde a Grécia antiga até a atualidade o que se busca através do 
pensamento filosófico é esclarecer questões como: Qual é o elemento fundamental 
que origina e move a natureza? Quais são os fundamentos da matemática? Qual é o 
fundamento do agir humano? Qual é o fundamento do conhecimento? Responder a 
questões como esta não é fácil, mas enquanto não avançarmos nelas, não podemos 
dizer que conhecemos o que é o homem e o mundo. 
O surgimento da filosofia confunde-se com o surgimento do modo ocidental 
de pensar. 
 
A palavra philosophía diz-nos que a filosofia é algo que pela primeira vez e 
antes de tudo marca a existência do mundo grego. Não só isto – a 
philosophía determina também a linha mestra de nossa história ocidental – 
europeia. (HEIDEGGER, Martin. Que é isto – a filosofia, p. 29, 1996). 
 
Como destaca o filósofo alemão Martin Heidegger, o modo ocidental de 
pensamento surge na Grécia antiga, onde, gradativamente, foi se desenvolvendo um 
processo reflexivo diferente de tudo que se conhece até então. Além da filosofia, 
também herdamos da Grécia antiga outros importantes componentes até hoje 
fundamentais para a Civilização Ocidental, dentre eles: palavras e conceitos de 
nosso vocabulário; os princípios do pensamento científico; o conceito de política; a 
primeira noção de democracia; as primeiras noções do Direito, assim como as 
reflexões sobre Ética. 
Os gregos pretendiam avanços que pudessem conferir maior liberdade à vida 
 
 
 
 
6 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
humana e à sociedade. Liberdade no sentido de não mais depender somente do que 
o destino ou a natureza nos reserva. O pensamento filosófico desenvolvido pelos 
gregos visava interpretar e exercer domínio sobre o mundo. Isto constituiu uma 
revolução, pois até então, qualquer interpretação dos fundamentos do mundo estava 
relacionada ou equivalia a uma explicação através dos mitos. 
 
Síntese 
 O pensamento filosófico surgiu na Grécia no século VI a. C; 
 A filosofia nascente caracterizou-se como um modo totalmente diferente de 
se pensar, pois buscava basear-se somente na capacidade racional do 
homem; 
 Pensar filosoficamente é pensar os fundamentos; 
 A filosofia está presente no desenvolvimento da Civilização Ocidental 
 Os gregos criaram as bases da filosofia e da ciência porque pretendiam 
alcançar maior conhecimento e liberdade por semelhanças e identidades. 
 
 
1.2 DO MITO AO PENSAMENTO FILOSÓFICO 
 
Mito, do grego mythos, significa narrativo ou lenda. As lendas mitológicas 
eram a forma mais usual de dar sentido para o mundo e as transformações que nele 
ocorriam. Quem narrava eram os poetas, considerados escolhidos pelos deuses, 
eles teriam o poder de revelar os acontecimentos passados e todas as fantásticas 
ações dos deuses. Os gregos confiavam nos mitos porque os consideravam 
provenientes da revelação divina. Um exemplo de mito é a lenda de Prometeu, a 
qual narra o surgimento do fogo e dos males sobre a terra. 
 
“Para os homens”, o fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque 
tanto passam a cozinhar os alimentos, a iluminar os caminhos na noite, a se aquecer no 
inverno quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra. 
Um titã Prometeu mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de 
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num 
rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens 
também. Qual foi o castigo dos homens? 
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa 
que conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada 
aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. 
Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes e guerras e, sobretudo, a morte. 
“Explica-se assim a origem dos males no mundo.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, 
p. 31, 1997). 
 
 
 
 
7 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
O surgimento da filosofia entre os gregos não eliminou a existência dos mitos, 
já que muitos mitos permanecem presentes até hoje, mas conferiu a possibilidade 
de uma via de explicação que busca uma fundamentação racional para a 
compreensão de mundo. 
Este novo modelo de fundamentação teórica foi essencial para o surgimento 
do conhecimento científico, pois lançou as bases teóricas para o desenvolvimento 
da ciência. Também podemos entender que este processo iniciado na Grécia antiga, 
que prima por conhecimentos alicerçados na racionalidade, tornou possível o 
desenvolvimento de milhares de teorias que deram subsídios para a ciência e os 
avanços tecnológicos que temos hoje. A filosofia surgiu não tanto como um novo 
conhecimento, mas principalmente como uma nova maneira de interpretar e explicar 
o mundo. 
 
 
 
 
Tales de Mileto: 
Conhecido como 
O “Pai da Filosofia”. 
 
 
 
 
Tales definiu a água como sendo o elemento primordial para o surgimento 
da vida. Hoje em dia, quando os astrônomos pesquisam outros planetas, 
buscam prioritariamente encontrar água, pois se esta for encontrada, há a 
possibilidade de haver, ou já ter havido, alguma forma de vida naquele 
planeta. 
 
Como já foi visto anteriormente, a filosofia é um processo que busca entender 
os fundamentos. As explicações fantásticas proporcionadas pelos mitos já não eram 
satisfatórias. Era preciso encontrar outra forma de interpretar o mundo. Nisso, os 
primeiros filósofos foram elaborando teorias que pudessem fornecer uma explicação 
natural para a origem e transformação do mundo. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Para Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo, o mundo e os seres 
vivos tem seu fundamento na água, pois observou que sem água nenhum ser vivo 
pode sobreviver. Tales viu na água o elemento primordial para a existência das 
coisas. 
Outras teorias sucederam esta: para Anaxímenes, o fundamento estava no ar; 
para Pitágoras, nos números; para Demócrito, no átomo (entendido enquanto 
multiplicidade de partículas indivisíveis que compõe todos os seres); para Heráclito, 
o princípio que rege a realidade estaria no movimento e na luta entre os opostos. 
Assim, sucessivamente, cada filósofo buscou estruturar uma argumentação 
capaz de provar racionalmente um fundamento único para o mundo. Estes primeiros 
filósofos também foram conhecidos como filósofos da natureza ou pré-socráticos. 
Marilena Chauí destaca algumas características presentes na filosofia por ocasião 
de seu surgimento na Grécia antiga: 
 
– tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e 
regras, é o critério de explicação de alguma coisa; 
Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado um 
problema, sua solução é submetida à análise, à crítica, à discussão e à demonstração, 
nunca sendo aceita como uma verdade, se não for provado racionalmente que é 
verdadeira; 
Exigência de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento, isto é, o 
filósofo é aquele que justifica suas ideias provando que segue regras universais do 
pensamento. [...] 
Recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que, para cada 
problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele; 
“Tendência à generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para 
muitas coisas diferentes porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos 
sentidos, o pensamento descobre semelhanças e identidades. (CHAUÍ, Marilena. 
Convite à filosofia. 1997, p. 32-33). 
 
Como podemos ver, desde o início,pensar filosoficamente equivale a pensar 
de modo racional, crítico e criterioso. Os pensadores sempre objetivaram uma 
argumentação que possa ser demonstrada por meio do logos (discurso racional), 
buscando eliminar opiniões infundadas ou explicações fantásticas (mitológicas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os filósofos Platão e Aristóteles 
 
 
Síntese 
 Os filósofos gregos também buscavam desenvolver a interpretação filosófica 
porque não se satisfaziam com as explicações mitológicas (através das narrativas e 
lendas); 
 Os primeiros filósofos queriam explicar o surgimento do mundo e o funcionamento 
da natureza; 
 Mais do que um conhecimento que se pode armazenar, a filosofia é um processo, 
uma forma de pensar; 
 Inicialmente a filosofia apresentava as seguintes características: à racionalidade, 
análise crítica, demonstração racional, justificação do pensamento por meio de sua 
universalidade, tendência à generalização por semelhanças e identidades. 
 
 
1.3 A FILOSOFIA E O PROCESSO DO FILOSOFAR 
 
O que geralmente chamamos de filosofia é o conjunto de milhares de teorias 
elaboradas pelos filósofos que, no decorrer da história da Civilização Ocidental, 
tentam interpretar e jogar luz sobre a realidade. Essas teorias geralmente surgiram a 
partir da elaboração de perguntas fundamentais. 
 
 
 
 
10 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Estas questões direcionam as reflexões dos filósofos. Perguntas tais como: O 
que é o mundo? O que é o homem? O que é a verdade? O que é o bem? 
Estimulados por questões fundamentais, o filósofo avança em suas reflexões, neste 
processo o pensador costuma confrontar suas posições com as tentativas de 
respostas que já foram elaboradas por outros filósofos. 
 É a partir do debate entre o pensamento presente e as reflexões do passado 
que surgem as teorias filosóficas. Estas teorias podem influenciar não só nosso 
modo de pensar, como também a maneira de agirmos e nos organizarmos 
socialmente. Por exemplo: os valores que deram origem a alguns direitos, como os 
direitos humanos, estiveram na pauta de debate de diversos filósofos desde a 
antiguidade até serem acolhidos por nosso modo de organização social e 
transformarem-se em direitos universalmente reconhecidos. 
O fato de que não se chega facilmente a respostas conclusivas não desanima 
o filósofo, pois se não há um ponto final, também não se pode dizer que não há 
avanços do pensamento. As ideias filosóficas tentam refletir sobre a realidade de 
modo a “jogar luz sobre o real”. O filósofo alemão Karl Jaspers comenta: 
 Quem se dedica à filosofia interessa-se por tudo. Mas não há 
homem que possa tudo conhecer. [...] 
 
Abertas para o real, seja o real o que for, tentam essas exposições [as exposições 
filosóficas dos pensadores] descobrir o caminho que leva do real ao fundo das coisas, 
buscam, a partir desse fundo, lançar luz sobre as realidades. (JASPERS, Karl. 
Introdução ao pensamento filosófico, 2003, p. 13). 
 
O mais importante no estudo de filosofia não é o acúmulo de conhecimento 
das teorias filosóficas, e sim, fazer com que o contato com estas teorias possa 
desencadear em nós um processo próprio de reflexão. Filosofar é reaprender a ver o 
mundo, ver o mundo com os “próprios olhos”, pois através de uma pequena auto 
avaliação, perceberemos que a leitura que costumamos fazer da realidade não é 
uma leitura nossa. 
Ao longo de nossa vida, sem perceber, acabamos assumindo posições e 
defendendo ideias exteriores, elaboradas com base no senso comum e que nem 
sempre fazem muito sentido. Essas ideias foram herdadas da cultura em que 
vivemos. Até agora a TV nos disse como as coisas são, também as revistas, a 
Internet, a escola e a religião, mas estamos certos destes conceitos recebidos 
culturalmente? 
 
 
 
 
11 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Há outras maneiras de se interpretar o mundo que não seja o que já 
recebemos pronto? Certamente que sim. É por isso que filosofar é reaprender a ver 
o mundo, é tentar ver o mundo através do crivo de nossa própria racionalidade, 
tentando questionar o que já foi dito e vendo as coisas de uma nova maneira, livre 
de velhos preconceitos. 
 
Síntese 
 Os filósofos tentam “jogar luz” sobre a realidade, ou seja, desvendar o que 
parece encoberto; 
 Perguntas e respostas sendo continuamente postas em debate levam adiante 
o desenvolvimento das teorias filosóficas; 
 As teorias filosóficas sempre estiveram presentes influenciando nosso modo 
de agir, pensar e se organizar socialmente; 
 Não há um ponto final para o pensamento; 
 Filosofar é reaprender a ver o mundo com os “próprios olhos”, sem 
preconceitos. 
 
 
1.4 O SENSO COMUM E O PENSAR FILOSÓFICO 
 
Ninguém está propenso a aceitar que seu modo de interpretar as coisas é 
comum, preconceituoso e irrefletido. É por isso que, se nos falam que nosso modo 
de pensar faz parte do senso comum, entendemos isso como algo pejorativo. 
 
Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos 
antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na 
coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite 
interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar 
e, portanto, agir. O senso comum, porém, não é refletido e se encontra misturado a 
crenças e preconceitos. (ARANHA, Mª. L. A. Filosofando, 2003, p. 60) 
 
Apesar de querermos nos distinguir do pensamento da maioria, sem 
perceber, quase toda nossa forma de pensar e nossos valores tem sua origem na 
cultura em que vivemos, a qual fornece as bases para o senso comum. É preciso 
empreender um processo reflexivo constante para não sermos dominados pelas 
formas de pensar praticadas pelo senso comum. 
 
 
 
 
12 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
É muito difícil pensar de forma original quando somos bombardeados 
diariamente por todo tipo de informação. E mesmo quando buscamos o 
conhecimento filosófico, muitas vezes acabamos por “comprar” ideias que não são 
nossas e sim dos filósofos. 
Para o filósofo alemão Immanuel Kant, “não há filosofia que se possa 
aprender; só se pode aprender a filosofar”. Podemos compreender a filosofia não 
como uma entidade ou um conjunto de conhecimentos com os quais ela geralmente 
se confunde, e sim como um processo, um modo de pensar a partir de argumentos 
racionais que buscam ir à raiz das questões sem recorrer a mitos ou preconceitos. 
Assim, o mais importante não é aprender as teorias filosóficas, mas aprender a 
pensar filosoficamente. 
O estudo de uma História das Ideias ganha maior sentido quando provoca em 
nós algumas reflexões. Assim, nossa visão de mundo pode ser elaborada e 
enriquecida pelo contato com as diferentes interpretações realizadas pelos filósofos 
no decorrer da História Ocidental. 
Muitos podem fazer o seguinte questionamento: por que continuamos 
estudando ideias de filósofos que viveram há tanto tempo e que pensaram o mundo 
em um contexto sociocultural bem diferente do nosso? E a resposta é: apesar de 
estarem distantes de nós no tempo e terem vivido em outro contexto cultural, os 
questionamentos destes filósofos e as teorias que elaboraram ainda fazem muito 
sentido para nós. Pois os problemas humanos costumam ter uma dimensão 
atemporal. 
Enquanto fizer algum sentido o que eles questionaram e disseram, 
provavelmente estes pensadores continuarão presentes com suas ideias sendo 
sempre analisadas e renovadas pelo debate. É bom lembrar que centenas de 
filósofos foram esquecidas ao longo da história, muito provavelmente porque suas 
ideias não tiveramtanta repercussão ou porque o que eles disseram não foi bem 
compreendido e aceito pela sociedade de seu tempo. 
Isto não significa que suas ideias não eram interessantes, muitas delas eram 
tão interessantes quanto às ideias ainda presentes no debate filosófico. Outras não 
tiveram muito vigor na sua argumentação e foram suplantadas. O que ocorre é que 
há um jogo cultural sempre em curso onde umas ideias e conceitos sobrevivem e 
outros são postos à margem ou esquecidos. 
Para entender um pouco melhor como pode se dar o caminho do filósofo em 
 
 
 
 
13 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
direção ao processo filosófico, nada melhor do que uma antiga alegoria, ou seja, 
uma imagem metafórica de uma ideia ou realidade. Esta alegoria, mais conhecida 
como mito da caverna, foi escrita por Platão no livro VII de A República, um dos mais 
importantes livros da filosofia grega. 
Nesta alegoria Platão busca demonstrar o movimento empreendido pelo 
filósofo em busca de um conhecimento superior da realidade. 
Platão nos convida a imaginar a seguinte situação: 
Imaginem homens que, desde o nascimento, estiverem acorrentados ao 
fundo de uma caverna. Estes homens não tinham mobilidade e um muro se erguia 
entre eles e a saída da caverna. Isto os impedia de acessarem outra realidade que 
não fosse aquela. Sua noção de mundo estava reduzida ao interior da caverna e a 
sombras que eram projetadas por cima do muro pela luz de uma fogueira. 
Pessoas passavam com objetos que projetavam silhuetas no interior da 
caverna. A voz das pessoas que projetavam as sombras produziam ecos que os 
homens da caverna imaginavam como sendo o som produzido pelas próprias 
sombras. Em determinado momento um destes homens é libertado, com dificuldade 
ele se movimenta e passa para além do reduto em que se encontrava. 
Acostuma-se aos poucos com a luz e passa a ficar assombrado com outra 
realidade que se descortina diante de seus olhos. Saindo da caverna se dará conta 
de que antes só havia conhecido as sombras dos objetos e não os próprios objetos. 
Também se dá conta que, iluminada pelo sol, há uma realidade mais ampla e 
perfeita que não conhecia. 
Após conhecer esta outra realidade superior, o homem volta à caverna. Agora 
sua dificuldade está em adaptar-se novamente à visão reduzida que só observa as 
sombras. Seus companheiros argumentam que ele foi prejudicado ao sair do reduto 
em que se encontrava, pois fala de coisas que eles não entendem e agora sente 
dificuldades de adequar-se à condição que antes lhe era natural. 
E quando este prisioneiro que se libertou da visão restrita que só conhecia as 
sombras, tentar ajudar seus companheiros a libertarem-se do pequeno mundo da 
caverna, estes poderão considerá-lo nocivo para o grupo e quererão até matá-lo. 
Isto porque consideram mais cômodo continuarem adaptados àquela condição de 
ignorância. 
Platão compara a situação dos homens presos na caverna à de nós humanos 
presos às coisas humanas e imperfeitas do mundo que é o que geralmente compõe 
 
 
 
 
14 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
o senso comum. 
Através desta alegoria Platão compara aquele que filosofa ao prisioneiro que 
foi liberto dos grilhões da caverna e foi posto em contato com um conhecimento 
mais amplo e verdadeiro. Aquele que alcança um conhecimento superior dificilmente 
se adéqua novamente a um modo restrito de pensamento, pois sua mente e 
capacidade reflexiva foram expandidas. 
Por isso, muitas vezes percebemos o filósofo como alguém que não 
compartilha do “mundo dos comuns”, alguém que pensa de modo muito diferente da 
maioria, ou que vive outra realidade que não a nossa. Mas, se dermos ouvidos aos 
argumentos desses pensadores, se atentamente acompanharmos seu raciocínio, 
verá que eles não dizem coisas que não podem sustentar. O filósofo elabora suas 
ideias de modo rigoroso, pois pretende que elas sejam consistentes e difíceis de 
serem refutadas. 
O que nos parece uma ideia estranha, é, na maioria das vezes, uma ideia que 
oferece certa complexidade e que por isso mesmo é frequentemente mal 
compreendida. Assim, podemos concluir que o processo do filosofar nos afasta do 
pensamento compartilhado pelo senso comum, pois passamos a ver a realidade de 
forma mais crítica e abrangente, e a perceber coisas que antes não víamos, fazendo 
relações que antes não fazíamos. 
Filosofar, seguramente, pode transformar o modo de ver e interpretar a 
realidade. E será que alguém que transforma seu modo de ver e interpretar também 
não acaba agindo de forma diferente? Acreditamos que sim. A respeito disto, o 
filósofo alemão Friedrich Nietzsche dizia que toda verdadeira filosofia acaba por ser, 
sobretudo, vivência. Isto significa que o que se pensa acaba refletindo no modo de 
viver, assim como as experiências de vida acabam transformando nosso 
pensamento. 
 
Síntese 
 A maioria dos pensamentos é derivada do “senso comum”, ou seja, do 
pensamento pouco crítico que herdamos da cultura em que vivemos; 
 Aprender a filosofar não é aprender a decorar ideias dos pensadores, mas 
pensar a partir e além dessas ideias, usando-as como ponto de partida para 
desenvolver uma interpretação própria; 
 Se estudarmos ideias de pensadores antigos é porque elas ainda fazem 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
algum sentido e ajudam nos debates atuais; 
 Mito da caverna: ao filosofar nos libertamos da visão estreita e dos 
preconceitos do senso comum para ver o mundo com maior amplitude; 
 Nietzsche: filosofia está ligada à vivência. 
 
 
1.5 O CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
Filósofos e seus discípulos. Detalhe 
da obra “Escola de Atenas” por 
Alexandre Schuck. 
 
 
 
O homem tem necessidade de conhecer. Sem conhecimento ele não tem 
como ordenar e transformar o seu mundo para prover as condições de que 
necessita para viver. Assim, o conhecimento pode prover as ferramentas que 
faltavam ao homem. Enquanto os animais possuem instintos apurados, garras ou 
presas, o homem possui a razão e o conhecimento. 
Se examinarmos mais a fundo, veremos que as instituições com grandes 
poderes tem sua base real no conhecimento. Grandes potências tanto da política 
como do mundo empresarial, necessitam de muito conhecimento para manter sua 
posição de domínio. 
A informação e o conhecimento são as maiores armas que o homem possui 
frente aos desafios da sobrevivência junto à natureza. 
Para não haver confusão temos de separar duas coisas diferentes que são 
chamadas de conhecimento: 1. O conhecimento pode ser entendido enquanto o ato 
de conhecer, ou seja, o ato pelo qual a consciência (nosso pensamento), conhece 
um objeto. Este objeto pode ser uma coisa material, mas também pode ser uma 
ideia ou um conceito abstrato; 2. O conhecimento pode ser entendido como o 
conjunto de saberes acumulados por uma cultura, ou seja, os saberes que são 
 
 
 
 
16 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
passados de geração para geração, através de livros, das escolas, etc. 
Na filosofia, é o ato de conhecer que tem sido mais investigado pelos 
filósofos, pois é através da compreensão de como se dá o conhecimento, e de que 
maneira podemos estar seguros sobre a veracidade daquele conhecimento, que o 
filósofo avança em suas teorias com maior segurança. 
Existem dois modos básicos de se conhecer: a intuição e o conhecimento 
discursivo. 
Intuição: podemos apreender a realidade através da intuição. Ela é um modo 
imediato de pensamento, ou seja, ao intuirmos não passamos por etapas como 
análises, ou realização de raciocínios e relações complexas para chegar a uma 
conclusão. A intuição é uma ideia que aparece repentinamente em nossa mente, é 
uma percepção imediata de algo. 
É claro queao intuir, nosso cérebro deve acessar de modo muito rápido e 
sem que percebamos, diferentes conteúdos nele armazenados de tal forma que 
pode, de forma muito rápida, nos dar a resposta que buscamos. São exemplos de 
intuição: ouvir um som e concluir que provém de um piano; a ideia repentina de uma 
nova hipótese a ser investigada por um cientista; as escolhas que tomamos de modo 
rápido e criativo sem a necessidade de uma análise minuciosa; um conceito sobre 
algo sem ter tempo de realizar um exame cuidadoso. 
Como a intuição é um mecanismo de auxílio presente em nosso processo 
cerebral para que este possa dar respostas rápidas quando delas precisamos muitas 
vezes ela se engana, pois não constitui uma forma criteriosa para se obtiver tais 
respostas. 
Conhecimento discursivo: a razão, para obter um conhecimento mais 
seguro da realidade, precisa superar o nível de conhecimento intuitivo. Para isso, ela 
opera organizando as percepções, conceitos e ideias que recebemos de imediato. 
Através desta articulação da razão, ocorre a faculdade de julgar, ou seja, de formar 
juízos ou conclusões. 
O conhecimento que se dá por meio de conceitos é conhecido como 
conhecimento discursivo. É um conhecimento que ocorre através de um 
encadeamento de ideias que proporcionam uma determinada conclusão. Como o 
próprio nome diz, o conhecimento discursivo é dependente do discurso, isto é, da 
linguagem. 
Você sabia que sem a linguagem simbólica (aquela que ocorre por palavras, 
 
 
 
 
17 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
símbolos e representações) o homem não conseguiria desenvolver a racionalidade? 
Isto mesmo, suas capacidades racionais dependem de um encadeamento de ideias 
e conceitos na mente. E o raciocínio funciona como um jogo de palavras no cérebro. 
Estas palavras representam coisas e estas representações são fundamentais para o 
pensamento racional. 
E mais: sem linguagem não há conhecimento que se possa elaborar ou 
transmitir. O conhecimento humano, e praticamente toda a sua cultura, é 
dependente da linguagem simbólica (palavras, símbolos matemáticos, notas 
musicais, etc.). 
É a linguagem que permite elaborar qualquer conhecimento e comunicar aos 
outro aquilo que foi conhecido. Por isso, muitos filósofos consideram a linguagem 
como a principal ferramenta de poder do homem sobre o mundo. Também usamos a 
linguagem para nos afastar do “mundo das coisas”. Os conceitos são abstrações 
que permitem construir um “mundo de ideias”, paralelo ao mundo das coisas físicas. 
Mas é também este mundo de ideias acaba por permitir ao homem voltar ao 
mundo das coisas e agir sobre elas transformando a realidade humana. Assim, o 
conhecimento discursivo pode ocorrer como abstrações (ideias que se separam das 
coisas) realizadas pela razão através da linguagem, mas que sempre volta ao 
mundo para nele poder viver e agir. 
A verdade: ninguém busca conhecimento que não acredita ser verdadeiro. 
Para fugir do engano, estabeleceram-se critérios de verdade. Em geral, quando algo 
é o que parece ser ou quando uma ideia sobre algo corresponde à sua realidade 
digo que aquela ideia é verdadeira. Sobre isto, Maria Lúcia A. Aranha em seu livro 
Filosofando comenta: 
 
Há uma longa tradição na história da filosofia segundo a qual o critério de 
verdade é a evidência. Nesse sentido, para os gregos, verdade é aletheia, 
que significa não oculto, portanto o que se desvela, o que é visto, o que é 
evidente. Algo verdadeiro seria o que corresponde à realidade, tal qual ela 
se mostra a nós (ARANHA, Mª L. A. Filosofando, 2003, p. 54). 
 
Para o filósofo francês René Descartes, a verdade corresponderia a uma ideia 
clara e distinta que se impõe à nossa consciência por si só, por sua clareza e 
objetividade. Já para o filósofo Friedrich Nietzsche, o critério de verdade não pode 
ser simplesmente intelectual e sim, é através da vida que obtemos este critério. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Costumamos a chamar de verdadeiro tudo aquilo que contribui para fortalecer a vida 
e falso tudo aquilo que a rebaixa e prejudica. 
Na filosofia, há uma longa polêmica a respeito da possibilidade ou não de se 
alcançar verdades válidas para todas as pessoas em todos os momentos. Diante 
desta dificuldade, podemos distinguir duas posturas perante o conhecimento: a 
postura cética e a dogmática. 
A postura cética é aquela que examina o mundo através do crivo da dúvida. O 
cético, nos casos mais radicais, conclui que o conhecimento da realidade é 
impossível, e, em geral, os céticos admitem apenas a possibilidade de um 
conhecimento relativo do mundo (relativismo). Já o dogmático, busca fundar seu 
conhecimento em princípios que julga serem irrefutáveis, acreditando na 
possibilidade de atingir a certeza sobre um determinado assunto. Já do ponto de 
vista religioso, o dogma corresponde a uma verdade fundamental e inquestionável. 
 
Síntese 
 O homem necessita do conhecimento para poder agir e ter algum poder sobre 
o mundo; 
 Para a filosofia é interessante à análise do processo do conhecimento, ou 
seja, de como o homem pode conhecer e certificar-se da veracidade do que 
conhece; 
 A intuição é uma forma imediata de conhecimento, é um conhecimento que 
não necessita de um raciocínio ou conceituação prévia; 
 Como o homem não pode limitar-se ao que simplesmente intui, necessita de 
um conhecimento elaborado através da razão que cria conceitos, este é. 
 Chamado de conhecimento discursivo; 
 O critério mais tradicional de verdade em filosofia é a evidência; também 
Descartes indicou um critério racionalista: a verdade como sendo uma ideia 
 clara e distinta; 
 Quanto à capacidade de conhecer do homem, temos duas posturas básicas: 
a cética, que duvida da possibilidade de verdades definitivas; e a dogmática, 
que. 
 Acredita que podemos alcançar verdades imutáveis. 
 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Glossário da Unidade I 
 
Civilização Ocidental: é o modelo cultural e social próprio do ocidente (Europa e 
países colonizados por europeus). Este modelo surgiu a partir da cultura da Grécia e 
da Roma antiga e teve seu ápice a partir da expansão da cultura europeia por boa 
parte do mundo. 
Cosmologia: investigação filosófica ou científica sobre o surgimento, estrutura e 
desenvolvimento do Universo, da matéria e dos organismos, e também das leis 
fundamentais que os regem. 
Cultura: de modo geral, cultura é tudo o que o homem produz e que pode ser 
transmitido de geração em geração. A linguagem, os valores, as artes, os modos de 
se fazer algo, os modos de se organizar e se relacionar socialmente, as crenças, 
tudo isso compõe o que se chama cultura. 
Metafísica: ramo da filosofia que investiga as primeiras causas ou a essência do 
mundo. 
Pré-socráticos: ou filósofos da natureza. Designa um grupo de filósofos que 
antecederam o filósofo Sócrates e que concentraram suas investigações sobre a 
origem da natureza e das leis que a ordena. 
Protótipo: primeiro modelo ou exemplar; original a partir do qual outras cópias são 
feitas. 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Pintura de William Turner que 
busca captar a essência da 
luz 
UNIDADE II – CONCEITOS E TEORIAS INFLUENTES NO 
PENSAMENTO FILOSÓFICO 
 
O termo pode assustar por parecer nome 
de algo complexo, mas Metafísica se refere a um 
conjunto de estudos diversos que, de modo geral, 
não oferecem tanta dificuldade para serem 
compreendidos. 
Desde os primeiros filósofos, como por 
exemplo, Parmênides e Platão, há um grande 
interesse em investigar os primeiros princípios e 
primeiras causas da realidade. Nisso também 
surgiram teorias que consideram a possibilidade 
de uma realidadesuperior ou mais essencial. 
Realidade esta que não pode ser percebida pelos 
sentidos (visão, tato etc.), mas que pode ser acessada racionalmente. O estudo das 
primeiras causas ou da realidade essencial e reguladora do mundo, e que não se 
mostra claramente através dos sentidos, é chamado de metafísica. 
 
“Qual é a essência daquilo que existe? Qual é o ser íntimo de todas as 
coisas?” 
Estas são perguntas essencialmente metafísicas. 
“A metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta ‘o 
que é? ’” Este ‘é’ possui dois sentidos: 
Significa ‘existe’ de modo que a pergunta se refere à existência da 
realidade e pode ser transcrita como: ‘o que existe?’; 
Significa ‘natureza própria de alguma coisa’, de modo que a pergunta se 
refere à essência da realidade, podendo ser transcrita como: ‘Qual é a 
essência daquilo que existe?’. (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, p. 
207, 1997). 
 
A metafísica constitui o campo de investigação que busca entender existência 
e essência em seus múltiplos aspectos, busca entender o íntimo do mundo e de 
todas as coisas existentes, questionando o porquê de serem como são. Quase todos 
 
 
 
 
21 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
os grandes filósofos tentaram, ao longo da história, desenvolver alguma filosofia que 
dessa conta de fundamentar teoricamente a própria existência do mundo e de tudo 
que nele ocorre. Entre os grandes metafísicos encontram-se: Platão, Aristóteles, 
René Descartes, Baruch Espinosa e Arthur Schopenhauer. Atualmente a 
metafísica é também chamada de ontologia. 
 
Ontologia: estudo do ser; investiga os diferentes modos como os entes 
(coisas) e seres existem; investiga a essência ou o sentido (significação) 
dos entes ou seres; investiga os modos como os entes e seres aparecem 
para nossa consciência. 
 
 
2.1 SOBRE O MÉTODO METAFÍSICO 
 
 a) A metafísica se baseia na experiência. Não podemos conhecer pela razão 
os seres imateriais a não ser na medida em que a nós se manifestem por seus 
efeitos. A metafísica deve, então, apoiar-se sempre nos dados dos sentidos, internos 
e externos, como também nas ciências da natureza, e esforçar-se por determinar, 
pelo raciocínio, qual é a natureza do ser universal e quais seus princípios e causas. 
b) A metafísica é uma ciência. A metafísica não é, pois, uma construção 
arbitrária, nem uma obra de arte, nem um objeto de crença irracional. A metafísica é 
uma ciência, e, em certo sentido, a mais rigorosa, uma vez que seu objeto, estando 
acima da matéria e não submetido à transformação, não incide nas causas de erro 
que provêm dos objetos em perpétua transformação. 
c) As condições técnicas e morais da metafísica. O que é verdadeiro, 
contudo, é que a metafísica, mais do que qualquer outra ciência, requer condições 
técnicas difíceis e condições morais particulares. Ela procede por abstração e 
afasta, como perigosa, a intervenção da imaginação. Ao mesmo tempo, exige uma 
especial firmeza lógica. De outra parte, trata dos grandes problemas da existência e 
da natureza de Deus, de nossa origem e de nosso fim. “A metafísica exige não 
apenas uma disciplina da inteligência, mas também uma disciplina do coração.” 
Na filosofia contemporânea muitos filósofos, principalmente a partir de da 
filosofia de Friedrich Nietzsche, têm criticado a metafísica por considerarem que ela 
separa mundo de ideia. Isto significaria separar aquilo que é conceitual, teórico e 
 
 
 
 
22 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
estático, da realidade sempre em movimento e se transformando. A metafísica não 
conseguiria dar conta de explicar o fluxo e o devir (transformação constante) que 
constituem o próprio mundo. 
 
Síntese 
 A metafísica constitui a busca dos primeiros princípios e causas do mundo e 
de tudo o que nele há; 
 A realidade que a metafísica objetiva alcançar é aquela que não pode ser 
captada pelos sentidos; 
 Porém, para alcançar esta realidade, a metafísica precisa partir do mundo 
material e sensível; 
 A metafísica também pode ser vista como uma ciência rigorosa das primeiras 
causas. 
 
 
2.2 O RACIONALISMO E O EMPIRISMO 
 
O racionalismo, juntamente com o empirismo, é uma tendência metodológica 
marcante no início da filosofia moderna. O racionalismo considera que a realidade, e 
o conhecimento mais seguro a respeito dela, só pode se estabelecer em 
fundamentos racionais. 
O pensamento moderno foi marcado pelas transformações ocorridas através 
do surgimento do mundo burguês, e pelo desenvolvimento da ciência, 
principalmente da física e da matemática. Este contexto que se construiu a partir do 
século XVII, mostrou-se bastante propício ao desenvolvimento do racionalismo. 
Durante a Idade Antiga, Idade Média e Renascimento, vários filósofos e 
cientistas cometeram equívocos afirmando ideias que não poderiam sustentar-se. 
 
A procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal indagação do 
pensamento moderno: a questão do método, que centraliza as atenções 
não apenas no conhecimento do ser (metafísica), mas, sobretudo no 
problema do conhecimento (teoria do conhecimento ou epistemologia). 
(ARANHA, M. L. A. Filosofando, 2003, p. 130) 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
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Teoria do conhecimento ou epistemologia: é o ramo da filosofia que 
estuda os processos de conhecimento, suas possibilidades e o papel da 
razão como agente mediador do conhecimento. 
Os filósofos não queriam cometer os mesmos enganos, era preciso encontrar 
um método seguro capaz de garantir a possibilidade de um conhecimento seguro. 
 
Racionalismo cartesiano: O primeiro modelo de racionalismo a ter 
repercussão na filosofia moderna é o fundamentado pelo filósofo francês René 
Descartes (1596-1650). Descartes defendia que não se deve acreditar em nada que 
não seja reconhecido como uma verdade clara e evidente segundo um exame da 
razão. Era necessário começar do zero para se chegar à elaboração de verdades 
que realmente fossem sustentáveis perante o pensamento. 
Para tanto, Descartes elaborou uma espécie de “passo a passo” através do 
qual fosse possível proceder com maior segurança na trajetória de conhecimento do 
mundo e das coisas. 
Seu método baseia-se nos seguintes princípios: 
O primeiro consistia em nunca aceitar como 
verdadeira nenhuma coisa que eu não conhecesse 
evidentemente como tal, isto é, em evitar, com todo 
o cuidado, a precipitação e prevenção, só incluindo 
nos meus juízos o que se apresentasse de modo 
tão claro e distinto ao meu espírito, que eu não 
tivesse ocasião alguma para dele duvidar. 
O segundo, em dividir cada uma das 
dificuldades que devesse examinar em tantas 
partes quanto possível e necessário para resolvê-
las. 
O terceiro, em conduzir por ordem os meus pensamentos, iniciando pelos 
objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para chegar, aos poucos, 
gradativamente, ao conhecimento dos mais compostos, e supondo também, 
naturalmente, uma ordem de precedência de uns em relação aos outros. 
E o quarto, em fazer, para cada caso, enumerações tão completas e revisões 
tão gerais, que eu tivesse a certeza de não ter omitido nada (DESCARTES, René. 
Discurso do método, 2002, p. 31-32). 
 
 
 
 
24 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
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Descartes elaborou um método que julgava ser necessário para o avanço da 
ciência e da filosofia. Ele observou que a racionalidade pode ser um eficaz 
instrumento, um guia para a prática científica, por esta razão, este método tem de 
ser predominantemente lógico e racional. 
Seguindo esta linha de raciocínio, seus estudos tiveram início colocando em 
dúvida sua própria existência. Mas ao duvidar de sua existência, ou de qualquer 
outra coisa, não poderia deixar de acreditarque quem duvidava era ele por meio de 
sua consciência. Descarte chegou à conclusão de que uma consciência clara de seu 
pensamento provava sua própria existência. Isso considerado um fato verdadeiro a 
partir do qual ele passou a provar a existência de outras coisas. 
Sua conclusão é expressa através das clássicas palavras Cogito ergo sum 
ou, “penso, logo existo”. O eu, enquanto sujeito pensante é, para Descartes, o ponto 
de partida para o conhecimento, pois é a primeira coisa da qual não se pode 
duvidar. A partir da certeza de que a primeira realidade é a realidade do 
pensamento, é possível deduzir outras verdades encaminhando-se pelo método 
racionalista e procedendo com um mesmo rigor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta gravura de Escher pode exemplificar como os sentidos, no caso aqui a visão, pode nos enganar. 
 
O empirismo: A palavra empirismo é derivada do termo grego empeiria que 
quer dizer “experiência”. Diferente do racionalismo, que acredita que o raciocínio 
pode chegar sozinho à determinação de certas verdades fundamentais, o empirismo 
enfatiza o papel da experiência como fonte primeira de todo o conhecimento. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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O empirismo é uma posição metodológica que se estrutura e ganha 
importância a partir da Filosofia Moderna. Os filósofos empiristas deste período são, 
em sua grande maioria, ingleses. Dentre os quais, podemos citar: 
Francis Bacon: filósofo inglês do século XVI e XVII que escreve a obra Novum 
Organum (Novo órgão), na qual denuncia os preconceitos e noções falsas 
que têm dificultado o trabalho científico e filosófico de busca da verdade. 
John Locke: filósofo inglês do século XVII que é conhecido também como um teórico 
do liberalismo, porém, no campo da epistemologia, buscou determinar qual a 
origem e alcance do conhecimento. Para ele, todas as ideias podem ser 
consideradas como originárias de um processo psicológico, através do qual 
vão sendo construídas na mente humana que, a princípio, não possui 
conteúdo algum, é como uma “tabula rasa” (folha em branco). Todo o 
processo do conhecer e do agir é construído gradualmente pela experiência. 
 David Hume: filósofo escocês do século XVIII, Hume dá continuidade ao empirismo 
de Bacon e Locke. Para ele, na observação só temos acesso aos fenômenos, 
portanto não podemos avaliar como seria o íntimo do mundo. Com isso, só 
podemos conhecer a relação de causa e efeito parcialmente. É o hábito 
proporcionado pela observação de casos semelhantes que possibilita ao 
homem afirmar o que a experiência pode confirmar. Assim, esperamos que a 
cada novo caso, o objeto observado se comporte tal como antes. Desta 
maneira, as ideias e conceitos mais gerais, não passariam de crenças. 
 
Síntese 
 O racionalismo considera que a realidade e o conhecimento mais seguro a 
respeito dela, só pode se estabelecer em fundamentos racionais; 
 O primeiro método racionalista da modernidade é o estabelecido pelo francês 
René Descartes; 
 Descartes elaborou um método racionalista que tem como ponto inicial a 
dúvida e o cogito: “penso, logo existo”; 
 O empirismo enfatiza o papel da experiência como fonte primeira de todo o 
conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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2.3 O CRITICISMO KANTIANO E A DIALÉTICA 
 
Kant é um dos principais filósofos da Idade 
Moderna. Seus pensamentos têm influenciado vários 
filósofos posteriores. Ele nasceu em Königsberg, 
Alemanha, onde passou toda sua vida. Sua filosofia tem 
um caráter racionalista e crítico, apesar de ter tido muita 
influência do empirismo cético de Hume. Kant realiza uma 
crítica do conhecimento racional e também da metafísica. 
Criticar é pôr em crise, vem do grego krisis, que significa 
distinguir, separar e decidir. 
Kant em sua obra principal chamada Crítica da Razão Pura, procurou colocar 
em questão a racionalidade e até onde ela é capaz de produzir juízos que levem a 
um conhecimento seguro. Kant realiza sua reflexão como se fosse à razão julgando 
a si mesma. Isso significa que em vez de procurar conhecer as coisas, é preciso 
examinar antes o próprio conhecimento e suas possibilidades. Ele separou os juízos 
(os conceitos que temos do mundo) em analíticos e sintéticos. 
Um juízo analítico apenas analisa o que está dito, sua conclusão é lógica. Por 
exemplo, na expressão “nenhum dos solteiros é casado”, no próprio conceito de 
solteiro, já está contido a exigência lógica de “não ser casado”. Portanto, nesta 
expressão, nada foi acrescentado ao conhecimento. 
Para o conhecimento, o mais importante são os juízos sintéticos, pois eles 
realizam sínteses, ou seja, eles unificam vários elementos. Ex.: o juízo “esta flor é 
vermelha”, acrescenta-se ao sujeito “a flor” um predicado “vermelha” que o sujeito 
não continha. Nesse exemplo, o juízo sintético depende da experiência sensível e é, 
portanto, a posteriori (depois da experiência). 
 
Mas haveria juízos lógicos e necessários como os analíticos, mas que 
fossem também sintéticos, trazendo assim novo conhecimento? 
Estes seriam os juízos sintéticos a priori (antes da experiência). Por 
exemplo, na expressão matemática “5 + 7 = 12”, o 5 + 7 estaria contido na 
expressão 12 ou vice-versa? Não. Por isso podemos dizer que foi 
acrescentado algo novo. Pois de 5 e 7 não podemos deduzir doze e nem 
de 12 podemos deduzir que resultou de 5 e 7. E este processo pode ser 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
feito antes da experiência. Por isso podemos dizer que a matemática é 
um meio de produzir “juízos sintéticos a priori”. 
 
Para Kant, o conhecimento começa com a experiência, mas nem por isso 
origina-se nela. Isso porque a experiência pressupõe o sujeito como condição de 
sua possibilidade. Assim, Kant compreende que o sujeito contém em si a faculdade 
do entendimento que torna qualquer experiência ou conhecimento possível. 
Nossos órgãos dos sentidos possibilitam a intuição dos objetos. Estas 
sensações são empíricas. Mas os situamos num espaço e tempo que são anteriores 
a qualquer experiência. Kant irá fazer a síntese entre racionalismo e empirismo, pois 
não temos o conhecimento do mundo somente como derivado da razão ou da 
experiência. Para Kant, só podemos alcançar um conhecimento preciso daquilo que 
pode ser experimentado ou situado num espaço ou tempo (os fenômenos), não 
poderíamos conhecer aquilo que está, além disso, ou seja, as essências, ou “Coisa-
em-si”. Deus, liberdade e eternidade também não podem ser conhecidos, pois estão 
além dos fenômenos. 
A filosofia moral de Kant afirma que a base para toda razão moral é a 
capacidade do homem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de Kant é 
a crença de que uma pessoa deve comportar-se de forma igual à que ela esperaria 
que outra pessoa se comportasse na mesma situação, tornando assim seu próprio 
comportamento uma lei universal. 
Exemplo: Ninguém deve estacionar em fila dupla, senão o trânsito vira um 
caos. Mas, numa emergência, alguém pode estacionar em fila dupla. Com isso, 
espera-se que alguém só o faça, se isto for extremamente urgente e indispensável. 
Assim, todos só fariam algo que esperassem que os outros fizessem também. 
 
 
2.4 A DIALÉTICA 
 
A dialética é um método filosófico interpretativo da realidade. Entre os gregos 
a dialética significava, de maneira geral, a arte da argumentação. Sócrates e Platão 
usavam o termo no sentido de designar o procedimento argumentativo, ou seja, o 
debate que visa à verdade tem um caráter essencialmente dialético. 
 
 
 
 
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Na contemporaneidade, o termo ganhou maior repercussão a partir de Georg 
W. F. Hegel (1770-1831). Hegel elaborou umafilosofia de caráter idealista que tem 
como método o que ele designou como “método dialético”. Para Hegel, “a dialética é 
capaz de traduzir à dinâmica e o princípio de inteligibilidade da realidade natural e 
histórica e também do pensamento”. 
 
Georg W. F. Hegel: é um dos maiores expoentes do idealismo alemão 
que usou o método dialético, modernizando-o, para explicar as 
transformações de todos os aspectos da realidade natural e humana. 
 
Para Hegel, a razão é histórica, ou seja, a razão participa e se aperfeiçoa com 
os processos de transformações históricas e sociais. 
 
A razão, diz Hegel, não é nem exclusivamente razão objetiva (a verdade está nos 
objetos) nem exclusivamente subjetiva (a verdade está no sujeito), mas ela é a unidade 
necessária do objetivo e do subjetivo. Ela é o conhecimento da harmonia entre as coisas 
e as ideias, entre o mundo exterior e a consciência, entre o objeto e o sujeito, entre a 
verdade objetiva e a verdade subjetiva. (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, p. 207, 
1997). 
 
O processo dialético de interação entre mundo e ideia acontece através de 
um esquema fundamentado em um tripé de tese, antítese e síntese. Tudo que existe 
e acontece no mundo tem um ponto de partida, tem algo que é posto e se afirma (a 
síntese). 
Esta primeira condição é negada em um segundo momento por uma posição 
que a ela se contrapõe (a antítese), da tensão entre o que estava estabelecido e o 
que se contrapõe a esta primeira posição, surge uma terceira, que não é nem a 
primeira nem a segunda, mas a conciliação das duas (a síntese). Esta síntese agora 
pode ser novamente posta no lugar da tese, dando início a um novo “giro da roda 
dialética”. 
 
Síntese 
 Kant realiza uma crítica do conhecimento racional e também da metafísica; 
 Criticar é pôr em crise, vem do grego krisis, que significa distinguir, separar e 
decidir; 
 Para o conhecimento, o mais importante são os juízos sintéticos, pois eles 
realizam sínteses, ou seja, eles unificam vários elementos; 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Arthur Schopenhauer 
 A dialética é um método interpretativo da realidade que ganha força na 
modernidade a partir do modelo elaborado por Hegel; 
 O processo dialético de interação entre mundo e ideia acontece através de 
um esquema fundamentado em um tripé de tese, antítese e síntese. 
 
 
2.5 A FILOSOFIA DOS IMPULSOS 
 
Dá-se o nome de “filosofia dos impulsos” ao pensamento que questiona a 
supremacia da razão sobre a existência, e que foi elaborado por pensadores como 
Schopenhauer, Nietzsche e Freud. 
Estes pensadores do século XIX também são designados como 
“irracionalistas”, não por prescindirem do uso da razão como fundamental ao 
filósofo, mas porque consideram que a razão é secundária face ao caráter irracional 
presente em todas as faces da existência. Estes filósofos compreendem que há 
impulsos (vontade, vontade de potência, desejos) que condicionam e interferem 
decisivamente no processo volitivo, avaliativo e nas ações humanas. 
Isto significa que o pensar e o agir têm como predecessor, um impulso 
irracional. “Antes desejo, depois penso no que desejo”, já dizia o filósofo alemão 
Arthur Schopenhauer. 
 
Sigmund Freud: pensador austríaco do século XIX que, a 
partir do estudo do inconsciente e de suas experiências 
com o uso da hipnose, desenvolveu uma nova forma de 
abordagem e tratamento psíquico, a psicanálise. 
 
A concepção de homem na filosofia de Schopenhauer está 
inteiramente ligada a sua doutrina de vontade. O homem existe 
apenas na medida em que é um fenômeno da vontade, uma objetivação do que há 
de mais íntimo no mundo, isto é, da vontade. O mundo possui dois aspectos: o 
fenomênico e a Coisa-em-si. O aspecto fenomênico é aquele dos nossos sentidos, 
daquilo que vemos e tocamos e que podemos interpretar através de causa e efeito. 
O mundo enquanto fenômeno segue as regras do intelecto humano: é o mundo 
objeto para o sujeito que conhece. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Se o mundo enquanto fenômeno é o que aparece, o mundo enquanto 
essência será vontade. À vontade, essência do mundo, será atingida por meio de 
uma analogia com o ser humano. O homem, submetido como tudo o que vive ao 
império da vontade, é o lugar em que a vontade se objetiva e se revela. 
O homem descobre, em seu corpo, a imagem de uma vontade cega que 
compartilha com os outros seres vivos. O corpo humano é, em Schopenhauer, o 
lugar em que o homem faz a experiência de uma força que lhe é estranha, de uma 
força que o domina e à qual ele obedece maquinalmente. 
O mundo, enquanto não é fenômeno para um sujeito que conhece, é uma 
força cega e dinâmica. O mundo da vontade é um mundo sem razão. Schopenhauer 
aplica a vontade aos diversos reinos da vida – assistimos ao espetáculo ao mesmo 
tempo harmonioso e terrível – da vida das espécies. 
A escala das formas vivas revela o caminho percorrido pela vontade em 
direção a uma forma superior: a forma humana. O homem, dominado pela vontade e 
pensando agir em prol de si mesmo, busca garantir a sobrevivência, a perpetuação 
e o aumento de poder da espécie. É para a espécie que trabalha quando pensa 
trabalhar para si mesmo. 
A visão schopenhaueriana de mundo é bastante pessimista, pois ela admite 
que o homem não tenha uma finalidade preestabelecida para realizar no mundo 
(teleologia). 
 
Teleologia: do grego telos (finalidade) e logia (estudo racional), é o estudo 
filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade. Geralmente 
é entendido como sendo a presença de uma finalidade proposta para a 
existência em geral do universo, da vida e do próprio homem. A ausência 
de uma teleologia significa a ausência de uma finalidade. 
O que há determinado é apenas a “guerra sem fim” entre as diversas 
espécies, guerra que não se resolve e não leva a uma realização final (um telos). O 
indivíduo humano jamais se satisfaz, quer realizar-se e ao buscar o que deseja 
acaba se frustrando quando não consegue e ficando entediado quando consegue o 
que queria. 
Para livrar-se da situação de tédio, é necessário sair em busca de nova 
realização, submetendo-se novamente ao império da vontade. Para Schopenhauer, 
é somente dedicando-se a atividades contemplativas (arte) e exercendo a 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
compaixão (princípio ético maior) que o homem poderia amenizar o sofrimento 
imposto pela Vontade. Para livrar-se da “escravidão” imposta pelos desejos, é 
preciso constantemente negá-los. 
Já para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a negação dos desejos 
constitui um meio de “fuga”, pois desprezamos e desesperamos da vida quando não 
se é bastante forte para aceitar e amar a vida terrena tal como ela se apresenta para 
nós: como movimento e mudança proveniente de uma luta ininterrupta entre 
impulsos. Aceitar que a luta proporciona tanto alegrias como dissabores já é um 
sintoma de maior potência. 
A própria vida, segundo Nietzsche, pode ser mais bem interpretada sob a 
perspectiva do que ele chama de vontade de potência (vontade de superar-se, de ir 
além). Nietzsche afirma que esta luta, que leva uns a se sobreporem aos outros é o 
caráter mais próprio da vida: 
 
Aqui devemos pensar radicalmente até o fundo, e guardamo-nos de 
toda fraqueza sentimental: a vida mesma é essencialmente apropriação, 
ofensa, sujeição do que é estranho e mais fraco, opressão, dureza, 
imposição de formas próprias, incorporação e, no mínimo e mais 
comedido, exploração – mas por que empregar sempre essas palavras, 
que há muito estão marcadas de uma intenção difamadora? 
... Vida é precisamente vontade de potência. Em nenhum outro ponto, 
porém, a consciência geral dos europeus resiste mais ao ensinamento; 
emtoda parte sonha-se atualmente, inclusive sobre roupagem científica, 
com estados vindouros da sociedade em que deverá desaparecer o 
“caráter explorador”. 
– a meus ouvidos isto soa como se alguém prometesse inventar uma vida 
que se abstivesse de toda função orgânica. A “exploração” não é própria 
de uma sociedade corrompida, ou imperfeita e primitiva: faz parte da 
essência do que vive como função orgânica básica, é uma consequência 
da própria vontade de potência, que é precisamente vontade de vida. ... 
Seja-se honesto consigo mesmo até esse ponto!” 
(Além do Bem e do Mal § 259) 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Nietzsche tem a Civilização Ocidental como alvo preferido de suas críticas. 
Critica os valores morais, a religião, as ciências e as artes. Para Nietzsche as morais 
e as religiões são os principais meios para fazer do homem o que quiser. Dominada 
pelos ideais cristãos, a nossa cultura e sociedade foram levadas a desvalorizar a 
vida terrena em favor de uma vida no além. Nietzsche não acredita na existência 
desta outra vida, sendo assim, a vida terrena seria a ocasião que contém todas as 
possibilidades para as realizações humanas. 
 
Síntese 
 No século XIX, alguns filósofos questionam a supremacia da razão e 
conferem aos impulsos a responsabilidade por grande parte das ações 
humanas; 
 A razão é compreendida como elemento secundário e “a serviço” de tais 
impulsos; 
 Schopenhauer designa como vontade o impulso primordial que está no íntimo 
de toda existência; 
 Nietzsche dirá que a vida é guiada pelo que ele designa como “vontade de 
potência” (vontade de superar-se, ir além). 
 
 
2.6 O PENSAMENTO POLÍTICO 
 
A política é algo muito presente em nossas vidas, pois podemos dizer que 
toda decisão coletiva constitui uma decisão política, assim como todas as relações 
sociais que estabelecem mecanismos de poder de uns sobre os outros são relações 
políticas. Há política na família, nas relações de amizade, no trabalho e nas relações 
dos cidadãos com os poderes constituídos para o fim de governar. Em filosofia, a 
reflexão sobre as questões públicas e coletivas são objeto de estudo da Filosofia 
Política. 
Algumas das grandes questões tratadas pela Filosofia Política na 
modernidade e na contemporaneidade são: 
 A relação entre indivíduo e coletividade; 
 A liberdade e a igualdade; 
 A legitimidade do poder; 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
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 O melhor modelo de Estado; 
 O espaço público e o espaço privado. 
 
Legitimidade do Poder: Um poder legítimo ou verdadeiro deve possuir um 
reconhecimento público de parte significativa da população por ele 
governada. Além disso, considera-se legítimo o poder que se adapta às 
normas legais. 
 
Indivíduo e coletividade: Uma das marcas da modernidade é a crescente 
afirmação do espaço do indivíduo frente à coletividade. Há uma fissura difícil de ser 
reconstituída, pois se no passado durante milênios os indivíduos não eram 
considerados senão a partir de seu espaço e função na coletividade, o homem 
moderno busca cada vez mais independência perante a sociedade. 
Aristóteles, ao afirmar que “o homem é um animal político”, ressaltava a 
característica gregária do homem, sempre dependente e voltado para fazê-lo 
coletivo. A não ser que fosse um deus (poderoso a ponto de não precisar de 
ninguém) ou uma besta (tão irracional que não consegue conviver adequadamente 
com os demais), o homem em geral é um ser social que não pode ser considerado 
desvinculado da comunidade política da qual participa. Nesta perspectiva, ser 
cidadão significava ser membro de um corpo político e estar comprometido com ele 
tanto quanto se está comprometido consigo mesmo. 
 
Gregária: característica própria de quem vive em bandos ou em grupos. 
Instinto gregário, tendência que leva os homens ou os animais a se 
juntarem, perdendo, momentaneamente, suas características individuais. 
 
Na modernidade este paradigma do cidadão submetido ao compromisso com 
seus concidadãos sofre um grande abalo. O homem se vê como alguém que deve 
constantemente buscar sua independência e realizar-se como indivíduo. 
Mesmo como partícipe de uma coletividade, busca continuamente meios de 
afirmar-se como alguém que tem autonomia em sua atuação e modo de organizar 
sua vida. A grande maioria de seus compromissos e interesses são privados e não 
coletivos. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Filósofos iluministas como Hobbes, Locke e Rousseau perceberam a 
gravidade desta fissura e tentaram cada um à sua maneira, criar discursos que 
conferissem importância à vida política e ao ordenamento da coletividade. 
Estes filósofos são chamados de contratualistas, pois defendem a 
necessidade de um contrato (pacto) social que estabeleça não só um compromisso 
de um indivíduo para com o outro, mas também entre os cidadãos e um poder 
instituído legitimamente reconhecido. Isto constituiu uma forma de restaurar um 
compromisso com a coletividade que estava sendo progressivamente abalado. 
Muitos fatos demonstram que a política hoje, como interesse e compromisso 
com as questões públicas, está cada vez mais enfraquecida. E o desinteresse pela 
política demonstra uma crise de caráter ainda mais geral: o desinteresse pelo outro 
e pelas questões sociais que nos vinculam a este outro, demonstram que os 
vínculos são cada vez mais frágeis, e que estamos nos fechando em nós mesmos. 
Parece que estamos nos transformando em ilhas, e as ilhas são solitárias. 
 
Síntese 
 O ser humano é um ser político, não há como fazer parte da sociedade sem 
estar inserido, de alguma forma, numa participação política; 
 Na modernidade há uma crescente afirmação do espaço do indivíduo frente à 
coletividade; 
 Há uma fissura difícil de ser reconstituída entre indivíduo e a coletividade, já 
que o homem moderno busca cada vez mais independência perante a 
sociedade; 
 Mesmo como partícipes de uma coletividade, a grande maioria dos indivíduos 
mantém seus compromissos e interesses voltados para a esfera privada e 
não mais para esfera pública. 
Para saber mais sobre os conteúdos da UNIDADE 2: 
 
BRUM, José Thomas. O pessimismo e suas vontades: Schopenhauer e Nietzsche. 
Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998. 
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia – Romance da História da Filosofia. São 
Paulo: Cia. Das Letras, 1997. 
HELFERICH, Christoph. A História da Filosofia. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 
2006. 
MOSÉ, Viviane. O homem que sabe: do homo sapiens à crise da razão. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. 
OSBORNE, Richard. Filosofia para principiantes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
UNIDADE III – ÉTICA E CIDADANIA 
 
 
 
 
 “Fragilidade da vida”, por Alexandre Schuck 
 
 
3.1 O QUE É ÉTICA 
 
Levar vantagem em tudo; satisfação e realização pessoal a qualquer 
preço; buscar saber de nossos direitos e reivindicá-los sem em 
contrapartida cumprir com deveres; ser esperto para não ficar para trás; 
competitividade x responsabilidade social... Estes jargões e situações 
estão presentes em nosso dia a dia e nos levam a refletir sobre questões 
éticas. 
 
 Ouvimos muito: “esta pessoa ou aquela empresa não tem ética”, o 
que isto significa? 
 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
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3.1.1 Afinal, o que é ética? 
 
Geralmente quando se diz que “tal pessoa não tem ética” entendemos que de 
alguma forma a pessoa em questão não segue os valores e costumes comumente 
aceitos na prática social, ou seja, ela não respeita aquilo que nossa sociedade 
determinou como sendo correto.Mas o que de fato pode ocorrer é que esta pessoa não respeita os limites 
determinados socialmente por não acreditar na eficácia deles ou por não visualizar 
qualquer benefício em respeitá-los. Os valores existem, eles são socialmente 
construídos, e podem – mas nem sempre é o que efetivamente ocorre – direcionar 
nosso modo de agir e garantir que nossas ações sejam benéficas para o convívio 
social. 
Os valores, porém, não são os mesmos desde sempre, sua construção é 
contínua, eles são frequentemente modificados ou necessitam de constante 
reafirmação para não perderem sua função e sentido. Alguns valores simplesmente 
caem em desuso ou desaparecem. Em nosso tempo este processo se dá de forma 
muito rápida. Uma nova realidade desafia constantemente nossa capacidade de 
adaptação a novas situações e valores. 
Experimentamos um processo de transformação tão voraz que parece diluir 
todo e qualquer valor na lógica imediatista do mercado. Tudo se vende tudo se 
compra as coisas, e o próprio ser humano, viram simplesmente “mercadorias”. É 
justamente por vivermos numa sociedade que experimenta uma profunda crise de 
valores que as reflexões sobre ética se fazem urgentes. A sustentabilidade de uma 
sociedade depende do seu código de valores, ou seja, depende de suas relações 
éticas. 
A ética é precisamente a reflexão sobre os valores que fundamentam nossas 
ações, sobre o que posso ou não posso fazer, devo ou não devo fazer. Falar em 
ética é falar em escolhas e responsabilidade. Se há um destino já traçado, fica difícil 
falar em ética, pois se as coisas estão determinadas elas independem de nossas 
escolhas. Se não há espaço para exercermos alguma escolha sobre o curso dos 
acontecimentos e sobre o curso de nossas próprias vidas, então não temos 
responsabilidade nem culpa sobre aquilo que ocorre. 
A ética pressupõe uma capacidade humana de escolher, de determinar em 
alguma medida as ações que constroem nossa realidade. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
A ética é muitas vezes confundida com a moral. A moral é um conjunto de 
práticas, costumes e normas assumidos culturalmente por uma sociedade. São as 
normas sociais praticadas pelos indivíduos e grupos em uma sociedade. Estas 
normas nem sempre podem ser sustentadas eticamente, ou seja, elas são 
praticadas sem necessariamente oferecer uma fundamentação racional. Já a ética 
são os princípios, os conceitos que dão sustentação às escolhas morais. A ética diz 
respeito às reflexões sobre os costumes e práticas morais. 
Muitos filósofos tentaram estabelecer uma “receita” ética universal, o que 
significa estabelecer um conjunto de valores e condutas, ou mesmo um mecanismo 
que possa direcionar de modo claro e imperativo todo agir considerado moralmente 
correto, porém, isso nunca se mostrou viável na prática. As práticas mudam 
conforme a época e a conveniência e, neste processo, os padrões de valores são 
alterados. 
Não houve nenhuma concepção considerada como modelo ético que não 
tenha sido historicamente construída e que não tenha sido de alguma forma alterada 
com as mudanças culturais e sociais. Muitos desses valores foram estabelecidos de 
acordo com crenças e preceitos religiosos. Se lançarmos um olhar genealógico 
sobre a origem de nossos valores, veremos que grande parte deles surgiu ou foi 
alterada de acordo com as mudanças no âmbito religioso. 
Se examinarmos as bases de nossos princípios éticos, verificaremos que 
nossa prática moral se sustenta numa postura de parcialidade. Dispensamos um 
tratamento diferenciado aos que estimamos; respeitamos aqueles que temos por 
“iguais” ou “superiores”. Tudo que nos é mais próximo passa a ser merecedor de 
maior estima, merece um tratamento mais atento e cuidadoso. Esta capacidade 
empática é praticamente uma tendência natural, pois parece sempre mais fácil agir 
moralmente na relação com os indivíduos e grupos com os quais nos identificamos 
de alguma forma. 
Gostamos de acreditar em princípios, nos sentimos seguros com esta crença. 
Esperamos, principalmente, que os outros observem tais princípios. Usamos a 
máscara da moralidade porque ela passa confiança aos que se relacionam conosco. 
Estaremos condenados a uma imoralidade que tentamos continuamente disfarçar 
com nosso discurso ético? 
Talvez por trás de nossas ações mais veladas se esconda um fundo de 
imoralidade, talvez seja realmente o interesse que sustenta muitas de nossas 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
condutas morais. Isso é capaz de anular qualquer reflexão ou postura ética? Não é o 
caso, pois necessitamos, para a própria construção e manutenção das relações 
sociais, de parâmetros de ação que permitam estabelecer relações de confiança. Os 
valores prezados por indivíduos e grupos constituem o amálgama capaz de unir 
qualquer sociedade. 
Sem o estabelecimento de valores e limites, e sua consequente manutenção, 
não há sociedade que subsista. Portanto, mesmo que os valores sejam criados 
visando certas finalidades e interesses, são convenções necessárias que permitem 
o convívio social. 
O mais importante é manter o diálogo aberto, questionar os valores, tomar 
posição, estabelecer parâmetros para a ação, guiar-se pela baliza de limites que 
possam contribuir para o bem da vida em sociedade, e também para o bem da 
própria “comunidade da vida” (a natureza e seus ecossistemas) que tem sido tão 
afetada pela falta de cuidado com o planeta. Sobre a origem da ética e da postura 
moral, o filósofo inglês John Gray faz considerações bastante interessantes. Leia e 
reflita sobre o texto complementar abaixo: 
 
Pode ser que Sócrates não fosse o racionalista inquiridor que Platão o fez 
ser. Ele pode ter sido um sofista divertido que via a filosofia como um 
esporte, um jogo que ninguém leva a sério – e muito menos ele. No entanto, 
sob a influência de Sócrates, a ética deixou de ser a arte de viver bem num 
mundo perigoso – como tinha sido em Homero. Tornou-se a busca de um 
bem maior que nada pode destruir um valor excepcionalmente potente que 
derrota todos os outros e protege da tragédia os que vivem de acordo com 
ele. 
No mundo grego onde eram cantados os cantos de Homero, tornava-se 
como pressuposto que a vida de todo mundo era governada pelo destino e 
pelo acaso. Para Homero, a vida humana é uma sucessão de 
contingências: todas as coisas boas são vulneráveis à fortuna. Sócrates não 
podia aceitar essa visão trágica arcaica. Ele acreditava que a virtude e a 
felicidade eram uma e mesma coisa: nada pode causar dano a um homem 
realmente bom. Então ele reimaginou o bom para torná-lo indestrutível. 
Além dos bens da vida humana – saúde, beleza, prazer, amizade, a vida 
mesma –, havia um Bem que ultrapassava todos os outros. Em Platão, isso 
se tornou a ideia de Forma do Bem, a fusão mística de todos os valores 
num todo espiritual harmonioso – uma ideia mais tarde absorvida na 
concepção cristã de Deus. Mas veio de Sócrates a ideia de que a ética está 
preocupada com um tipo de valor além da contingência; que pode de algum 
modo, prevalecer sobre qualquer tipo de perda ou infortúnio. Foi ele quem 
inventou a “moralidade”. 
Pensamos a moralidade como um conjunto de leis ou regras a que todos 
têm de obedecer e como um tipo especial de valor que tem precedência 
sobre todos os outros. A moralidade consiste nesses preconceitos que 
herdamos parcialmente do cristianismo e parcialmente da filosofia grega 
clássica. No mundo de Homero, há havia moralidade. É certo que havia 
ideias de certo e errado. Mas não havia nenhuma ideia de um conjunto de 
regras que todos devem seguir, ou de um tipo especial, superpotente, de 
valor que superava todos os outros. A ética tratava de virtudes como 
 
 
 
 
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coragem e sabedoria;

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