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História da América Colonial

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Autor: Prof. Ricardo Felipe di Carlo
Colaboradores: Prof. Francisco Alves da Silva
 Prof. Vinícius Albuquerque
História da América Colonial
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Professor conteudista: Ricardo Felipe di Carlo
Formado pela Universidade de São Paulo, USP, em 2007, é bacharel e licenciado em História. Defendeu sua 
dissertação de mestrado em 2011, no programa de História Econômica, também da USP. Na verdade, o mestrado foi 
a continuidade da pesquisa feita como iniciação científica, Exportar e abastecer: população e comércio em Santos, 
1775–1836, quando trabalhou com a economia colonial e seu quadro de crise. 
Durante um ano da iniciação científica foi bolsista Fapesp. Depois, já no mestrado, foi bolsista da mesma 
instituição por mais dois anos. Após esse período, no início de 2011, foi contratado como professor do Colégio e Curso 
Pré‑Vestibular Objetivo. Também preparou aulas digitais e orientou os alunos para as Olimpíadas de História. Em 2013, 
surgiu o convite para escrever para a Universidade Paulista, UNIP, o que tem sido uma grande honra e prazer para 
sua atividade profissional, já que propicia a oportunidade de dialogar com aqueles que são amantes da história e já 
perceberam, de algum modo, a satisfação enorme que ensinar propicia.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D545h Di Carlo, Ricardo Felipe.
História da América Colonial. / Ricardo Felipe Di Carlo. – São 
Paulo: Editora Sol, 2015.
160 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2‑074/15, ISSN 1517‑9230.
1. História. 2. América Colonial. 3. Expansão marítima. I. Título.
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Giovanna Oliveira
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Sumário
História da América Colonial
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 OS POVOS DA AMÉRICA ............................................................................................................................... 11
1.1 O quadro de diversidade e as fontes da América .................................................................... 11
1.2 A cultura olmeca e os maias ............................................................................................................ 14
1.3 Os astecas ................................................................................................................................................ 17
1.4 Os incas..................................................................................................................................................... 20
1.5 Os índios do Brasil ................................................................................................................................ 23
1.6 Os índios da América do Norte ....................................................................................................... 26
2 A EXPANSÃO MARÍTIMO‑COMERCIAL DA EUROPA .......................................................................... 28
2.1 As transformações econômicas ...................................................................................................... 28
2.2 As transformações políticas ............................................................................................................. 32
2.3 As transformações culturais ............................................................................................................ 34
2.4 As transformações sociais ................................................................................................................. 35
2.5 As transformações religiosas ........................................................................................................... 36
3 AS GRANDES NAVEGAÇÕES ....................................................................................................................... 37
3.1 Ciclo Oriental – pioneirismo português ...................................................................................... 37
3.2 Ciclo Ocidental – navegações espanholas ................................................................................. 42
3.3 Os Tratados de Rivalidade ................................................................................................................. 44
3.4 Navegações inglesas, francesas e holandesas .......................................................................... 45
4 A ALTERIDADE: O CONTATO COM O OUTRO ......................................................................................... 50
4.1 Barbárie ou bom selvagem? ............................................................................................................. 50
4.2 A conquista ............................................................................................................................................. 52
Unidade II
5 A ORGANIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO ...................................................................................................... 68
5.1 A estrutura do Antigo Regime e as bases do Mercantilismo Colonial ........................... 68
5.2 A colonização espanhola ................................................................................................................... 76
5.3 Traços comparativos da colonização portuguesa .................................................................. 90
5.4 A colonização holandesa ................................................................................................................... 93
5.5 A colonização francesa ...................................................................................................................... 97
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5.6 A colonização inglesa ......................................................................................................................... 99
5.7 A colonização do Caribe – o auge da exploração do Antigo 
Sistema Colonial .........................................................................................................................................106
6 O ILUMINISMO, O REFORMISMO ILUSTRADO E A CRISE DO ANTIGO REGIME ....................112
7 IMPÉRIO COLONIAL ESPANHOL ENTRE A DECADÊNCIA E O 
REFLORESCIMENTO – AS REFORMAS BORBÓNICAS .........................................................................1168 A GESTAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA .........................................................................................................124
8.1 A gestação da Independência – insatisfações e revoltas .................................................124
8.2 A gestação da Independência – os modelos ..........................................................................131
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APRESENTAÇÃO
A grande proposta ao se desenvolver um material para o curso de História da América é ser capaz de 
problematizar o processo de formação da construção desse continente, desde seus povos originários, a 
chegada do europeu e o encontro de culturas tão diferentes, até o processo e as relações de colonização. 
Assim, conheceremos as raízes pelas quais se estabeleceram os Estados nacionais, com suas contradições, 
lutas e construções.
Essas relações são bastante significativas, variadas e amplas, mas podem ser descortinadas a ponto 
de nos fazer dar impulso para estudos que, cada vez mais, possam produzir conhecimento em nosso país 
e propiciar o saber aos alunos que nos aguardam.
Um professor bem preparado é elemento‑chave para instigar a curiosidade pela História. Portanto, 
fortalecer a preparação se torna condição indispensável para uma formação sólida que a Universidade 
Paulista – UNIP procura trazer a todos os seus alunos. Nesse sentido, estaremos satisfeito se este material 
e as aulas forem capazes de gerar uma forte perspectiva de desenvolvimento e fomentar o desejo de 
uma formação contínua e incessante de que todo professor necessita.
A maneira de abordar esse conteúdo será percorrer as possibilidades diversas de fontes a fim de 
promover uma perspectiva histórica que leve em consideração todo e qualquer tipo de vestígio do 
passado. Logo, não basta apenas fazer a leitura do conteúdo, ou de um texto clássico, ou mesmo 
de alguma nova abordagem, é preciso, ao mesmo tempo, produzir história, pelo seu olhar, pelo seu 
criticar e pelo seu pensar. Fomentar o espírito crítico com os diversos enfoques em torno de uma base 
historiográfica consistente se torna nossa grande maneira de promover a análise da História da América, 
bem como ser capaz de destacar e comparar os diferentes processos históricos desenvolvidos nas mais 
variadas áreas desse continente tão vasto. 
Ainda que no caso do Brasil tenhamos uma matéria específica, alguns pontos serão destacados para 
complementar a análise comparativa e fomentar a discussão. 
As relações estabelecidas desde os primórdios da América, como o contato com o europeu e a 
organização da colonização, geraram raízes que precisam ser claramente apresentadas para a 
compreensão de sua crise e, consequentemente, do processo de independência e formação dos Estados 
nacionais no Novo Mundo. Ao mesmo tempo, essa análise poderá estimular a discussão dos limites e 
contradições relacionados a essa história e propiciar a crítica do presente, já que muitas questões, por 
mais de séculos, permanecem escancaradas nos noticiários.
Nesse sentido, não deixe de ler e criticar tudo que lhe é exposto. Analise o texto e as interpretações, 
mas, ao mesmo tempo, veja as questões levantadas nos mapas, critique as imagens selecionadas. Nada 
está aqui por acaso. Perceba as relações, as construções, as elaborações culturais que adquirem diversos 
significados. Estabeleça as bases de desenvolvimento dos diversos momentos. O historiador é, antes de 
tudo, um cientista que utiliza a razão e o método para produzir conhecimento e você faz parte disso. 
Mãos à obra!
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INTRODUÇÃO
Compreender a História da América Colonial não é apenas inserir a “descoberta” europeia e, a 
partir daí, suas relações. Muito pelo contrário, precisamos promover uma História da América por 
si mesma, sozinha; compreender como se estabeleciam as relações entre os mais diversos povos 
existentes, quais eram as características de cada um e o seu desenvolvimento cultural, social, 
econômico e político.
Contudo, inegavelmente, a chegada dos brancos europeus, possibilitada por uma série de novas 
configurações da Europa na Baixa Idade Média, modificou todas as bases existentes. Assim, a História 
europeia é inserida para se compreenderem as relações estabelecidas no Novo Mundo. Ou seja, a partir 
da análise do que era a América, é possível analisar como se estabeleceu o contato com o outro. Essa 
alteridade de diferentes significados e significações rapidamente se transformou em um amplo ataque 
para a conquista das grandes e mais ricas civilizações pré‑colombianas. Os interesses mercantilistas 
europeus produziram um ataque maciço. Seu resultado foi logo visto: uma verdadeira tragédia. Milhões 
de indígenas, em passo acelerado, foram dizimados.
As armas, as crenças, as novas doenças introduzidas, e, sobretudo, o uso das rivalidades internas 
(rapidamente compreendidas pelos europeus) geraram a destruição do mundo dos nativos. Uma riqueza 
metalista enorme foi conduzida para a Europa – daí os espanhóis terem se concentrado nas áreas dos 
impérios asteca e inca.
A partir de então, a configuração europeia da Época Moderna estabeleceu o Antigo Regime que 
promoveria a montagem do Antigo Sistema Colonial. As relações foram baseadas na necessidade de 
garantir a posse do território contra as disputas com outros países europeus e, sobretudo, propiciar o 
acúmulo primitivo de capital para a metrópole.
Esse sistema nortearia todas as relações no Novo Mundo, inclusive daqueles que não traziam 
atrativos para a promoção desse esquema econômico. Ao mesmo tempo, fomentava relações sociais 
completamente novas e utilizava a mão de obra com o máximo de exploração possível. O auge dessa 
perspectiva foi, justamente, a ressignificação que o trabalho compulsório indígena assumiu com a 
chegada dos europeus e também a maior migração forçada da história: o tráfico de escravos africanos.
Percebe‑se, assim, de início, que quando o mundo finalmente se aproximou, ou seja, quando 
diversos povos passaram a ter contato entre si, as relações não foram nada amistosas ou pacíficas. 
Configuraram‑se relações de extrema exploração e enorme desolação.
Ao mesmo tempo, a implantação desse sistema dava impulso para a garantia da força do poder real 
na Europa, o absolutismo. Essa questão norteou a colonização como uma política de Estado, dirigida 
pelo núcleo central e caracterizada pela subordinação e submissão.
No entanto, não foram todas as regiões que viram o sistema colonial da mesma maneira. Em áreas da 
América do Norte, não houve atrativos significativos para os ingleses. O relativo descaso metropolitano 
propiciou condições diferentes de colonização, que estava muito mais voltada para um desenvolvimento 
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interno. Não é à toa que dali brotaria a primeira experiência de liberdade e o modelo para a propagação 
do fim da subordinação.
Claro que nem toda a conquista e dominação foram aceitas. Diversos povos lutaram em diferentes 
períodos. Alguns nunca foram colocados sob o julgo europeu, mas há de se dizer que também, no seio 
do próprio sistema, diversas revoltas surgiram. Algumas tomaram proporções enormes: no século XVIII 
germinava a perspectiva de que os anseios locais eram diferentes dos valores impostos.
Isso ficou ainda mais evidente na Crise do Antigo Sistema Colonial. Quando a Europa passou a viver 
a transição para o capitalismo industrial, com todo o sistema do Antigo Regime colocado em xeque, as 
relações nas colônias foram cada vez mais alteradas.
Foi nesse momento que tivemos a gestação do processo de independência. As relações estabelecidas 
nas revoltas se difundiram. Ao mesmo tempo, o arrocho colonial foi agravado. Por fim, brotaram os 
primeiros sonhos de modelos como os dos Estados Unidos e do Haiti.Uma nova perspectiva concreta 
era vista: por um lado, o que as elites desejavam ter, por outro, o medo de que a proporção não fosse 
demasiadamente grande. Ou seja, no projeto dos Estados Nacionais na América, alterar as relações 
políticas, mas manter as bases sociais e econômicas, era questão difícil. E é isso o que procuraremos 
descortinar e entender ao longo dos nossos estudos.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL
Unidade I
1 OS POVOS DA AMÉRICA
A História da América não se inicia, em absoluto, com a chegada do europeu nesse continente. 
Muito pelo contrário, uma diversidade de povos e culturas bastante avançadas já era vista por aqui. O 
território, de amplitude gigantesca, criava condições naturais capazes de gerar técnicas e organizações 
das mais variadas, ainda que, em alguns casos, vários desses grupos tivessem contatos uns com os 
outros e adotassem características comuns. Houve também aqueles que acabaram por dominar outros 
povos e constituíram verdadeiros impérios de magnitude bastante significativa.
Julgamos ser de pouca valia promover uma análise dos povos ameríndios pelo viés apenas comparativo 
com o desenvolvimento europeu. Procurar classificá‑los pelos moldes do olhar eurocêntrico é perder, 
em certa perspectiva, a heterogeneidade existente na América. Claro que a composição de termos, 
na medida do possível, pode ser utilizada para deixar clara a análise. Contudo, o historiador necessita 
estabelecer suas bases a partir de uma visão comprometida com a crítica e com a valorização da alteridade, 
independentemente se esta é tão distinta de sua realidade ou dos valores que, invariavelmente, carrega 
consigo a partir de sua formação e de seu mundo.
1.1 O quadro de diversidade e as fontes da América
As condições geográficas de um território de mais de 42 milhões de km² atuaram como questões 
básicas propiciadoras da variedade de técnicas e organizações produzidas por inúmeros povos 
organizados em tribos, por laços familiares, ou mesmo impérios baseados na força militar, que talvez 
totalizassem 50 milhões de habitantes.
Alguns povos habilmente foram capazes de desenvolver a agricultura, a pecuária, além de contar 
com a metalurgia e atividades artesanais para a tecelagem e cerâmica. Mais do que isso, alcançaram 
técnicas de astronomia e de arquitetura e urbanismo que foram absolutamente assustadoras para o 
branco europeu.
Nesse sentido, torna‑se necessário compreender as dificuldades de se estudar certos grupos pela 
ausência de fontes. Ao mesmo tempo, a chegada do europeu produziu a destruição de boa parte daquilo 
que seria muitíssimo aproveitável. Certa documentação foi destruída por estar relacionada a sacerdotes 
ou assuntos religiosos. Ao mesmo tempo, outros povos não possuíam a escrita como forma de registro. 
Os cronistas europeus se chocavam com a alteridade e nem sempre estavam preocupados em retratar 
aquilo que viam. Alguns desses relatos eram utilizados para fomentar o espírito de aventureiros para 
as próximas expedições. Outros mesclavam suas narrativas com a presença de “anjos ou demônios”. Na 
prática, havia uma clara exaltação dos valores europeus e desprezo pelos povos da América. Ainda que 
tenhamos outras fontes escritas por missionários ou mestiços, que são capazes de remeter a maiores 
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Unidade I
informações dos dois lados – como os relatos de Garcialaso de la Vega em Comentários reales de los 
Incas (1609), ou o de Felipe Guamán Poma de Ayala, Nueva crónica y buen gobierno (em torno de 1615), 
em alguns aspectos uma única visão sobressai: procuram exaltar o império inca e seu desenvolvimento 
quase como um paraíso terrestre antes da chegada do europeu.
 Enfim, todo esse quadro acaba por trazer à tona dificuldades para a compreensão maior desse 
universo tão grande de povos. Contudo, nas últimas décadas, com o auxílio da arqueologia e de outros 
estudos, como a antropologia e a sociologia, a pesquisa sobre a América Pré‑Colombiana tem crescido, 
gerando a expectativa de bons frutos a serem colhidos.
Estados Unidos
Venezuela
Ch
ile
Gypson Cave 
Lago Monave 
13 000 anos
Pachamachay 
25 000 anos
Monteverde 
12 000 anos
São Raimundo 
Nonato (PI) 
39 000 anos
Lagoa 
Santa (MG)
15 000 anos
Taquixquiac 
Puebla 
22 000 anos
El Jobo 
12 000 anos
México
Brasil
Figura 1 – Os mais importantes sítios arqueológicos da América
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HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL
Esquimó do 
Alasca
Esquimó 
Caribu
Esquimó do 
Labrador
Atabasco
Algonquiano
Huroniano
MoicanoSioux
SiouxChinook
Apache Muscogi
Comanche Seminole
Astecas
Região dos 
Pueblos
Taianos
Maias
Aruaque
Caraíba
Caraíba
Bororo
T u p i
Tupi
Incas
Jê
Aimará
Tupi
Incas Charrua
Araucano
Patagões
Chibcha
Kara
Jivaro
Quichua
Aruaque
Iroquês(Pele Vermelha)
Esquimó
Figura 2 – Os diversos povos do continente americano
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Unidade I
1.2 A cultura olmeca e os maias
Apesar da existência de diversos povos na América Central, conhecida como Mesoamérica, o 
desenvolvimento dos olmecas foi bastante significativo na costa sul do Golfo do México.
Para conhecer a grandeza dessa civilização, as pesquisas arqueológicas geram ótimos resultados.
Escavações feitas em centros olmecas, como, por exemplo, Tres Zapotes, La 
Venta, San Lorenzo e outros, revelaram grandes transformações culturais. 
La Venta, o maior dos centros, foi erguido numa pequena ilha, a poucos 
metros acima do nível do mar, numa área pantanosa junto ao rio Tonalá, 16 
quilômetros antes de sua foz no golfo do México. Embora só se encontrasse 
pedra disponível a 64 quilômetros do local, foi desenterrada na região uma 
série de colossais esculturas de pedra (alguma delas com três metros de 
altura) e outros monumentos (LEÓN‑PORTILLA, 2012, p. 27‑28).
Esse avanço urbano foi capaz, inclusive, de criar uma grande e famosa cidade: Teotihuacán, “cidade dos deuses”, 
que era um grande centro cultural, religioso, repleto dos mais diversos tipos de construções que imaginamos 
para uma área urbana. De alguma maneira, talvez por meio do comércio ou por esforços de comunicação (por 
questões religiosas ou migração), suas técnicas e características ganharam participantes em outras regiões. É 
bastante provável que a cidade tenha se tornado um importante centro, talvez de controle político.
Seu poder político era definido a partir dos sacerdotes, que promoveram também avanços na 
capacidade de produção agrícola e de artesanato.
Figura 3 – Queimador feito em barro, característico 
desse contexto. Perceba a sofisticação do artesanato
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HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL
Nesse contexto, a mais importante técnica de produção agrícola foi desenvolvida na região: as 
chinampas. A ideia era produzir verdadeiras hortas flutuantes no lago Texcoco. Para tal empreitada, 
foram construídas jangadas de junco com a terra fértil colocada dentro delas, que flutuavam presas nas 
extremidades.
Não há certeza acerca das razões que levaram à decadência de Teotihuacán durante o 
século VI a.C. As hipóteses oscilam entre um fim abrupto, causado por forças da natureza, por 
doenças, ou ainda um processo ocasionado por diversas disputas e batalhas pelas terras férteis 
da região.
O legado dos olmecas, contudo, deixou marcas muito importantes, além das já comentadas: eles 
geraram uma forma de escrita e numeração, conhecimentos dos astros (a ponto de produzir um 
calendário), entre outros.
Por sua vez, os maias se estabeleceram em considerável esplendor. Eram provenientes, 
provavelmente, de áreas mais setentrionaise se estabeleceram na Península de Yucatán, além 
de parte da América Central. Sua organização política principal eram as cidades‑Estado. O 
controle era hereditário e teocrático. Havia, contudo, relações que poderiam ser dadas para a 
formação de uma espécie de “confederação”. A sociedade era rigidamente dividida a partir do 
nascimento. Os mais importantes eram os ligados ao governo, mesmo como funcionários, e os 
militares. Na base da estrutura social, ficavam os trabalhadores, que sustentavam as atividades 
do dia a dia.
 Lembrete
Cidades‑Estado eram caracterizadas por autonomia e soberania. 
Promoviam governos próprios e podiam, ou não, se unir em momentos 
específicos.
O cultivo da terra e a propriedade eram coletivos. Cada comunidade promovia suas atividades 
e garantia suas necessidades. A principal produção era de milho, ainda que, eventualmente, outros 
gêneros fossem produzidos.
Sua religião era politeísta e animista. Realizavam sacrifícios humanos como forma de agradar 
aos deuses em suas mais diversas áreas, sobretudo em momentos de grandes necessidades, 
como pragas e safras diminutas. Faziam pirâmides com enormes escadarias, onde promoviam os 
sacrifícios e também observações astronômicas. Um de seus maiores legados foi a invenção do zero, 
capaz de completar e precisar os cálculos matemáticos. Assim, sua engenharia e arquitetura eram 
impressionantes. Muitas de suas pirâmides continuam a ser achadas por arqueólogos, soterradas 
em diversas áreas da Mesoamérica.
Leona
Realce
Leona
Realce
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Unidade I
Figura 4 – A pirâmide de Uxmal
Quando os espanhóis chegaram à América, os maias já estavam em decadência, apesar de sua 
cultura ter gerado um amplo desenvolvimento na região e de significativos contatos com outros povos 
de diversas organizações específicas, até mesmo com os astecas. Até hoje o motivo não é muito claro. 
Alguns historiadores apontam problemas com a produção para a sobrevivência, mas a hipótese mais 
aceita é a perspectiva do aumento das guerras entre as diversas cidades‑Estado, capazes de promover 
enormes perdas e propagar a fome por um longo período. Ou seja, a questão das desavenças internas, 
pela ausência de um forte poder central, teria sido capaz de corroer as estruturas sociais e econômicas, 
desestabilizando tudo e fomentando a miséria.
Figura 5 – Templo do Jaguar, em meio à floresta tropical em Tikal
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Teotihuacán
Tenochtitlán
Uxmal
Chichén Itzá
Mayapán
Copán
Cuzco
Nazca
As três grandes civilizações pré‑colombianas.
Cultura asteca
Cultura maia
Cultura inca
Figura 6 
1.3 Os astecas
Os astecas também foram conhecidos como mexicas. Eles estavam localizados no noroeste do 
México, na região conhecida como Aztlán, e acreditavam ser o povo escolhido de Huitzilopochtli, o deus 
Sol da guerra. O mito de sua fundação remete à procura do local escolhido pelos deuses para sua grande 
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capital. Ele estaria marcado por uma águia, com uma serpente em seu bico, parada em um cacto. Em 
1325, essa cena teria sido vista e, então, foi fundada Tenochtitlán (Rocha de Cactos), atual cidade do 
México, às margens do lago Texcoco.
A organização social era baseada nos laços de parentescos que formavam a comunidade: calpulli 
(grande casa). Para poder sobreviver, todos deveriam pertencer a uma dessas comunidades e a soma 
delas formaria uma grande cidade. Era um local residencial e também econômico, já que seus membros 
tinham direito à terra e dividiam as atividades por idade e sexo. A plantação era para si e uma parte 
ficava para o Estado. Havia fiscais que controlavam os impostos.
Os principais grupos sociais eram os tlatoque (governantes) e os pipiltin (nobreza). Essas aproximações 
de nomes são, na prática, impróprias, já que transmitem um modelo diferente, mas, na medida do possível, 
serão expostas para facilitar a compreensão. Uma das características centrais desses grupos foi a criação 
de uma dimensão histórica que justificasse a dominação e os privilégios, como o de possuir isenção de 
impostos ou um grande abatimento. Eram os pipiltins que escolhiam os próximos governantes. Além 
de serem os únicos a ocupar cargos administrativos importantes, recebiam o benefício de terem várias 
esposas e objetos de distinção social, ou mesmo conseguir entretenimento.
Seus filhos eram conduzidos a importantes centros de estudos chamados de calmecac. Lá era garantida 
a preservação do saber da civilização. Aprendiam leitura e escrita, conhecimentos de astronomia e 
diversas formas de promoção dos cargos de administração pública que poderiam seguir. Eventualmente 
alguns (é muito provável que os mais destacados) eram selecionados para se tornarem sacerdotes.
 Já os pochtecas (comerciantes) eram os responsáveis por trocar produtos, geralmente excedentes 
dos calpulli, em longas distâncias, com isenção de impostos. Na prática, se organizavam em tipos 
de “corporação” e, apesar de não serem proprietários de nada, cresciam em importância e recebiam 
encomendas dos pipiltin. Também poderiam utilizar o cacau como moeda. Ao se deslocarem por tanto 
tempo, se tornavam uma espécie de “embaixadores”, capazes de trazer notícias das mais variadas regiões. 
Os tecuhtli (militares) eram responsáveis pelas ações de defesa e ataque, ainda que trabalhassem 
também na terra. Já os macehualtin (povo) eram os grandes responsáveis pelos trabalhos contínuos na 
comunidade.
Indícios apontam que a sociedade asteca poderia dividir certas funções no calpulli de acordo com as 
habilidades demonstradas e suas funções poderiam variar. Até mesmo as ações dos pochtecas não eram 
permanentes. Contudo, vale destacar que essa perspectiva não permite avaliá‑la como igualitária. Era uma 
sociedade de privilégios, mas talvez as diferenças não fossem tão grandes entre determinados grupos. 
O Estado poderia redistribuir produtos entre os calpulli de acordo com as necessidades. Os impostos 
eram cobrados em gêneros e, nesse sentido, obter os produtos requisitados pelo governo fortalecia o 
comércio. Para isso, feiras eram promovidas, o que facilitava as trocas para o pagamento do tributo 
compulsório. A importância dos pochtecas era crescente, já que em suas andanças acabavam por 
descobrir onde era possível encontrar cada tipo de produto e saber em quais regiões de trato mercantil 
procurar.
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A organização agrária era baseada em três modalidades. A propriedade comunal, o calpulli, garantia 
a subsistência e o pagamento de impostos. A propriedade controlada pelos pipiltin, apesar de não ter um 
caráter privado, garantiria o sustento desse grupo. Por fim, as áreas reservadas para as obras públicas e 
tempos geravam um espaço importante.
Figura 7 – Esse manuscrito espanhol procura demonstrar 
como se estabelecia a exploração na região do México
O trabalho para as obras públicas era requisitado de maneira provisória, apesar de compulsório – 
era o cuatequil. Já o trabalho rural era dividido em quatro segmentos. Os calpuleque e os teccaleque 
eram membros do calpulli. Os primeiros trabalhavam para garantir seu sustento e o pagamento de 
seus impostos. Os segundos, em geral, podiam trabalhar também nas terras dos pipiltin, deixando ali 
o que produziam. Os arrendatários não pertenciam a nenhuma comunidade e trabalhavam em terras 
alheias aos calpulli; essa atividade era incomum e se constituía em alguma anomalia que poderia ser 
temporária por razões obscuras. De qualquer forma, tinham que pagar tributo pelo uso dessas terras. Por 
fim, os mayequetrabalhavam em qualquer tipo de terra como escravos e acabavam por serem mantidos, 
quase sempre, nessa condição. Eram, talvez, provenientes das guerras.
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A força dos astecas foi crescendo na medida em que promoviam conquistas militares, o que permitia 
uma ampla extensão de domínio. O poder era dividido entre o imperador, comandante absoluto do 
exército, e a mulher‑serpente, um homem responsável pelas questões básicas de governo.
Figura 8 – A figura de Atlantes ficava no topo da pirâmide em Tula e tinha 4,6 metros
Suas artes envolviam a escrita pictórica (capaz de produzir desenhos) ou a hieroglífica (de símbolos). 
Mantiveram a herança cultural da região com a arquitetura e o urbanismo, promovendo a construção de 
pirâmides, palácios e transporte de água (como aquedutos enormes). Davam destaque principal para a 
arte plumária, vista como grande elemento de honra. Estavam em pleno esplendor quando os espanhóis 
chegaram à América. 
1.4 Os incas
Os incas se estabeleceram no Altiplano Andino e atingiram um amplo território. Eram, inicialmente, 
um povo nômade, mas logo passaram dessa situação à conquista, por ações militares, de povos vizinhos, 
até atingir um enorme desenvolvimento e uma população entre 3,5 e 7 milhões (talvez mais). O nome 
da civilização era dado pelo título do imperador: inca, filho do Sol; ele tinha como uma das atribuições 
mais importantes ser o mediador entre os deuses e os homens, ainda que, ao mesmo tempo, também 
fosse considerado um deus.
Sua produção era condicionada pelas difíceis condições naturais. Basicamente, eram três regiões 
distintas. O litoral estreito, de planície desértica e árida, não encontrava população inca, justamente 
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por tais condições, mas, em alguns pontos específicos, era irrigada por rios. Já a serra andina era onde 
se localizava o império. Mesmo com áreas de até 4.000 metros e noites bastante frias, a agricultura foi 
muito bem planejada. Os incas construíam terraços capazes de deixar a região plana e de não sofrer com 
o risco da erosão. Tinham uma enorme variedade de produtos que se adaptavam bem à altitude. Dentre 
eles, com especial destaque, a batata. O milho, proveniente da Mesoamérica, teve um processo de difícil 
adaptação e pôde ser utilizado apenas nas regiões mais baixas. 
Dessa maneira, a região do império apresentava troca vertical de produtos, de acordo com sua altitude 
e produção. O guano, fezes de aves, era utilizado como fertilizante. A pecuária também era bastante 
significativa. As lhamas eram os principais animais domesticados. Havia ainda os guanacos, alpacas e 
vicunhas. Por fim, nessa área, a arquitetura foi toda produzida em pedra. O esplendor absolutamente 
magnífico foi criado pela necessidade de técnicas capazes de concluir tais tarefas, já que a madeira era 
rara na região e, por isso, de custo muito maior.
Peru
Pato Bravo
Cobaia
América 
Central
América 
do Sul
Lhama Alpaca
Figura 9 – As áreas que, provavelmente, foram a origem dos principais animais domesticados na América
A terceira região era a bacia do Amazonas. Ali a água era abundante, o que fazia a região ser a mais 
fértil. Na prática, contudo, a população que se localizava ali era de pequenos grupos que mantinham 
contato com o império.
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De qualquer maneira, a terra foi a principal fonte de sobrevivência e todos tinham acesso a ela. 
As pessoas se estabeleciam a partir de comunidades residenciais denominadas ayllus, onde homens e 
mulheres trabalhavam em busca da subsistência. O líder de cada um dos ayllus era um kuraca, responsável 
pela administração, justiça e divisão do trabalho. Ele definia o pagamento do principal tributo: o trabalho 
compulsório ao Estado, denominado mita. Esse serviço era temporário, pessoal, desempenhado por 
homens adultos, para atividades de diversos tipos (minas, estradas, templos, cidades etc.). O Estado 
garantiria a manutenção econômica desse trabalhador com uma espécie de “salário”. Essa perspectiva 
gerava uma circulação constante de indígenas ao longo do império, conhecidos como mitayos. Todavia, 
ninguém poderia sair do seu ayllu sem autorização. Há de se ter em vista que a geografia vertical impedia 
a fácil locomoção, daí as estradas serem quase que o único meio de se transitar. Um dos benefícios de ser 
um kuraca era justamente não precisar pagar tributos, ou seja, não eram escolhidos para a mita.
Havia ainda as terras do Inca, que eram desenvolvidas para a tripartição da produção: para o Inca 
(que tinha os yanas, trabalhadores perpétuos), para os panacas (dirigentes diretamente ligados à família 
do Inca) e para o Estado (com a finalidade de redistribuição em caso de necessidade). Por fim, as terras 
do Sol eram as reservadas para finalidades religiosas, onde mulheres trabalhavam de forma exclusiva 
para os cultos religiosos.
A quantidade de terra aproveitável dependia muito de cada região. Contudo, havia um consenso de 
que cada ayllu não poderia ter menos do que o necessário para a sobrevivência. 
Outro tipo de trabalho significativo entre os incas era a atividade na estrutura têxtil. Dentro dos 
ayllus, geralmente, as mulheres, produziam roupas ou outros artigos com a lã proveniente da pecuária. 
Eventualmente, essa produção era cobrada em forma de tributo – o exército poderia necessitar de 
roupas e, então, o Estado fornecia os insumos e o ayllu a mão de obra.
O comércio, muito raro, era realizado por trocas entre as comunidades. Não havia escrita, apesar do 
uso do quipo – uma forma de utilização de registro baseada em cordões que variavam sua estrutura de 
acordo com o nó produzido e repetido.
O avanço de sua arquitetura e engenharia teve como obra mais admirável a construção de Machu 
Picchu. A cidade esplendorosa, em uma região de dificílimo acesso pela área montanhosa, distante 
mais de 80 quilômetros de Cuzco, só foi encontrada em 1911 pelo americano Hiram Bingham, apesar 
de, provavelmente, ser conhecida pela população local. De qualquer modo, é um fantástico sítio 
arqueológico praticamente intacto. As razões para a cidade ter sido desabitada são desconhecidas. 
Algumas das hipóteses levantadas são de que a cidade fosse reservada aos deuses, ou que fosse uma 
espécie de refúgio, mas que não chegou a ser utilizado com a chegada dos espanhóis.
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Figura 10 – As ruínas de Machu Picchu demonstram as características 
urbanísticas dos incas e também sua genialidade na engenharia
1.5 Os índios do Brasil
Os indígenas do Brasil desfrutavam de uma natureza exuberante e conseguiam obter seus alimentos, 
basicamente, por meio da caça e da coleta. A diversidade e heterogeneidade também eram características 
importantes. Ao mesmo tempo, não deixaram grandes monumentos e não tinham qualquer sistema de 
escrita ou numeração. Uma alternativa de fonte de informações são as obras produzidas pelos europeus, 
mas, como já comentamos, eles não tinham preocupação científica com os relatos e praticamente só 
tiveram contato com os indígenas do litoral. Faltam fontes, mas boa parte dos estudos, atualmente, 
avança por meio de descobertas arqueológicas ou pelo contato com a antropologia. Essas áreas estudam 
a forma de vida de algumas tribos que praticamente se mantiveram isoladas, pelo menos do contato 
com o sistema estabelecido a partir dos portugueses.
A classificação hoje mais aceita para os indígenas do Brasil é a divisão por grupo linguístico, ainda 
que não contemple as variáveis existentes. Os quatro principais grupos são os Tupis, Jês, Nuaruaques 
e Caraíbas. Valedestacar ainda que mesmo aquelas que menos se aproximam desses grupos são 
consideradas de seu grupo por certa semelhança. Contudo, há diversas tribos absolutamente isoladas e 
que impedem qualquer esforço de classificação.
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Tupi‑guarani
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Nuaruaque
Caraíba
Outras nações
Figura 11 – Os grupos indígenas do Brasil
As características razoavelmente comuns a todos esses grupos são a caça, pesca, coleta, agricultura 
rudimentar e a divisão de tarefas por sexo. Acredita‑se também que muitos estavam começando a 
desenvolver a cerâmica (apesar de outros já dominarem essa técnica).
Os Tupis, predominantes no litoral, constantemente migravam e eram caracterizados por uma 
economia baseada pela caça, pesca, e uma agricultura rudimentar que privilegiava a mandioca, o milho 
e a batata. Poderiam se organizar em confederação, no caso de guerra ou para uma aliança temporária. 
Eram politeístas, produziam grandes rituais funerários, praticavam rituais antropofágicos e a recepção 
lacrimosa. Investiam, com habilidade, na pintura do corpo, da cerâmica, além da arte plumária.
Os Jês eram bastante semelhantes às características dos Tupis. A diferença central era a preparação 
mais elaborada dos alimentos ao utilizarem o fogo para as carnes e a moenda para a produção de 
farinha. Por fim, utilizavam a pajelança como forma de ajudar os mortos e impedir qualquer avanço dos 
espíritos maus.
Os Nuaruaques eram o grupo mais extenso da América, pois estavam presentes desde a América do 
Norte, Mesoamérica e América do Sul até o Paraguai. Sua marca mais central era a produção de uma 
cerâmica de enorme qualidade.
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Por fim, os Caraíbas eram bastante semelhantes aos Tupis e provavelmente formaram o primeiro 
tronco a ter contato com os europeus na época da chegada de Colombo.
Figura 12 – Vaso de cerâmica típico indígena
Figura 13 – Estatueta antropomorfa de cerâmica encontrada em Santarém, PA
Figura 14 – Coroa da tribo Kaxinawa
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 Observação
A heterogeneidade e a adaptação promovida por cada grupo indígena, 
de acordo com suas necessidades e formas de relacionamento, apenas 
revelam maneiras diferentes de vida e não representam inferioridade. 
1.6 Os índios da América do Norte
Também na América do Norte o quadro da população indígena é bastante heterogêneo. Em 
boa medida, diversas comunidades coexistiam e desenvolviam formas de sobrevivência. Em geral, a 
propriedade e o regime de trabalho eram coletivos. Estar integrado ao grupo era condição básica para a 
sobrevivência. A divisão de trabalho era baseada na idade e sexo. Cabia aos homens, em geral, a busca 
de alimentos, a preparação agrícola e a domesticação de animais, além, quando necessário, da defesa na 
guerra. Já as mulheres podiam cuidar da produção do solo, cozinhar e desenvolver atividades artesanais, 
como a tecelagem ou a cerâmica.
A produção era, basicamente, de subsistência. Eventualmente, trocas de produtos poderiam ser feitas 
com outras tribos, em caso de necessidade de algum material específico. Nesse sentido, a característica 
geral dos índios dessa região, semelhante aos da Mesoamérica e da América Andina, era a sedentarização.
As comunidades eram o elo de desenvolvimento baseado nas relações familiares. Em geral, a crença 
em um passado totêmico unia esses grupos. Aos poucos, grupos familiares poderiam ser integrados 
à comunidade por laços de casamento. O líder poderia ser hereditário ou eletivo, mas não tinha 
condições muito distintas do grupo – ao que parece, seria capaz, sobretudo, de manter a estrutura e 
o funcionamento da comunidade. A visão religiosa animista e politeísta também era vista por lá. Em 
grande medida, acreditavam que as forças existentes contribuíam para que as ações de sobrevivência 
fossem bem‑sucedidas.
Figura 15 – Aldeias características dos índios da América do Norte
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Figura 16 – A presença do búfalo era 
bastante marcante na América do Norte
Dentre os diversos grupos existentes, um dos mais conhecidos, em virtude de suas características 
peculiares e da manutenção de sua sobrevivência até os dias atuais, é o dos esquimós. Eles habitavam 
as regiões com um frio muito rigoroso e se adaptaram a essa situação. Caçavam focas, baleias e outros 
animais do hábitat e, assim, obtinham alimento e também materiais para a confecção de roupas e 
instrumentos de caça. A domesticação de cães se tornou bastante importante para o uso de transporte 
e para complementar as atividades de caça.
Outro grupo de especial destaque, das tribos do deserto, são os pueblos, provenientes da 
cultura anasazi. Estavam inseridos no território entre os rios Colorado e Grande. Nessa perspectiva, 
aproveitando‑se da condição desses rios, promoveram um sistema de irrigação capaz de manter um 
significativo conjunto de habitantes, mesmo que em uma área desértica. Destacaram‑se ainda por uma 
arquitetura bastante complexa. A garantia de alimentos gerava também uma maior estratificação social 
e era o Conselho de Anciãos que tomava as principais decisões. Tinham grande conhecimento nas áreas 
de tecelagem e cerâmica.
Figura 17 – Fabulosas ruínas deixadas pelos Pueblos na região do Chaco, EUA
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Por fim, outros grupos importantes estavam relacionados à Grande Planície e à caça de búfalos. 
Outros ainda, como os iroqueses, próximos da região dos Apalaches, formavam diversas tribos que 
poderiam se unir em confederações no momento da guerra.
 Saiba mais
Um dos melhores filmes para se problematizar a análise de povos indígenas é:
APOCALYPTO. Direção: Mel Gibson. Estados Unidos: 2006. 139 minutos. 
2 A EXPANSÃO MARÍTIMO‑COMERCIAL DA EUROPA
Inserir a História da América no contexto europeu é tarefa fundamental para o historiador 
problematizar como se deu a formação dos elementos que estruturaram a dominação e que 
cristalizaram uma estrutura econômica voltada aos interesses de reis do “além‑mar”. Ao mesmo 
tempo, as relações de imposição cultural em torno do cristianismo sugerem forças que precisam 
ser problematizadas para a compreensão do impacto gigantesco da alteridade do olhar do outro. 
Algo inteiramente novo e de proporções inimagináveis se iniciava, algo irreversível e de expectativas 
inteiramente profundas. 
Os povos da América não foram capazes de resistir à investida violenta e destruidora do branco. 
Muitos simplesmente desapareceram nessa conquista. Outros foram subjugados. Outros ainda 
foram se amoldando aos novos padrões, hábitos e crenças, se miscigenando e criando realidades 
significativamente distintas, inclusive, diferentes até mesmo dos padrões europeus. Ou seja, houve 
a formação de algo inteiramente novo, ainda que com traços predominantes, em geral, do europeu 
conquistador.
2.1 As transformações econômicas
Durante a Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XV, a Europa viveu a crise do sistema 
feudal e, concomitantemente, o início do capitalismo, ainda que em uma fase bastante 
incipiente. As Cruzadas, ao reabrirem o comércio do Mediterrâneo para os cristãos, geraram 
grande reativação das trocas de produtos, das atividades monetárias e ainda das próprias 
condições para a vida urbana. Novas rotas e novos produtos alcançavam a Europa cristã, então 
em contato com árabes.
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O comércio Ocidente‑Oriente (do século IX ao 
XIII), monopólio de venezianos e genovesesOceano 
Atlântico
Baleares
Córsega
Sardenha
Rotas comerciais venezianas
Rotas comerciais genovesas
Túnis
Marselha
Gênova Veneza
Pisa
Amalfi
Crimeia
Constantinopla
Tessalônica
Corfu
Cefalônia
Zama
Eubeia Esmirra
Rodes
Creta Chipre
Antióquia
Alexandria
Tiro
S. João 
d’Acre
Jafa
Sicília
Europ
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Mar Mediterrâneo
Rio Drava
Rio Tejo
Rio Ebro
Rio Danúbio
Rio Nilo
Mar Negro
Figura 18 – O comércio do Mediterrâneo propiciou grande impulso das atividades mercantis 
para a Europa, com o monopólio das cidades italianas de Veneza e Gênova
Os produtos considerados “especiarias” ganharam mercado na Europa. Eram fundamentalmente 
temperos, como cravo, canela, pimenta, ervas e outros diversos, mas também englobavam tecidos, 
cerâmicas ou ervas aromáticas e terapêuticas. 
De todas as especiarias existentes no Oriente e cobiçadas pelos europeus, 
nenhuma era mais importante e mais valiosa do que a pimenta. Hoje 
considerada mero condimento, a pimenta, nos séculos XVI e XVII, era artigo 
de fundamental importância na economia europeia. Como não havia 
condições de se alimentar o gado durante o rigoroso inverno da Europa 
setentrional, a quase totalidade dos rebanhos era abatida por volta do mês 
de novembro. O sal era usado para preservar a carne por vários meses, mas 
a pimenta e, em menor escala, o cravo, eram considerados imprescindíveis 
para tornar o sabor das conservas menos repulsivo. Na Europa, o preço da 
pimenta era altíssimo e na Índia os hindus só aceitavam trocá‑la por ouro 
(BUENO, 1998, p. 26).
A rota central que se estabelece para as especiarias era proveniente do Mediterrâneo: as cidades 
italianas de Veneza e Gênova chegavam aos atravessadores do litoral asiático e traziam os cobiçados 
produtos para a Europa. No interior do continente asiático, havia grupos de mercadores pelo deserto 
que eram os intermediários entre os europeus e a região produtora propriamente.
Como nos explica Hilário Franco Júnior, Veneza e Gênova dominaram esse mercado por causa das 
Cruzadas:
As duas apoiaram a Primeira Cruzada em troca de privilégios comerciais 
nas regiões dominadas. Ali no Oriente Médio, obtinham os procurados 
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Unidade I
produtos de luxo orientais, que trocavam por mercadorias do Ocidente. 
Interessada em ampliar seus negócios, Veneza, graças a várias manobras 
políticas, conseguiu desviar a Quarta Cruzada para a conquista do 
Império Bizantino. Este temporariamente desapareceu (1204‑1261) 
e os venezianos se apossaram de territórios importantes. Neles 
conseguiam, além de produtos vindos do Extremo Oriente (especiarias, 
seda, perfumes), algumas matérias‑primas básicas para a indústria 
têxtil que se desenvolvia na Europa. Descontentes com o sucesso de 
sua rival, genoveses apoiaram os bizantinos contra Veneza e em troca 
consolidaram seu império colonial no mar Egeu e no mar Negro (FRANCO 
JÚNIOR, 1988, p. 53).
Na prática, a dinamização também se dava pelo trato mercantil em outras rotas, sobretudo 
no Norte europeu com o controle nórdico – são as rotas de comércio do Mar do Norte (Hansa 
Teutônica), mas também pela famosa rota da região de Champagne. Feiras e trocas, monetárias 
ou não, se propagavam, gerando um impulso comercial bastante consistente e até mesmo uma 
atividade bancária:
Não por acaso também, a atividade bancária nasceu na Itália. Era 
interesse de seus comerciantes enfrentar a diversidade de moedas, 
facilitando sua uniformização e, portanto, os negócios entre pessoas 
de diferentes regiões. Assim, alguns mercadores passaram a se dedicar 
ao câmbio (cambiare = trocar), ficando conhecidos por banqueiros, 
pois as diversas moedas a serem trocadas ficavam expostas em bancas, 
como outra mercadoria qualquer. Apenas num segundo momento, 
possivelmente no século XII em Gênova, os banqueiros ampliaram 
seu leque de atuação, aceitando depósitos reembolsáveis a qualquer 
momento, fazendo empréstimos, transferindo valores de clientes de 
uma cidade para outra. Para se atrair capitais, pagavam‑se juros sobre 
os depósitos. Para evitar aos clientes os inconvenientes de transporte 
de valores até importantes praças comerciais, desenvolveram‑se 
instrumentos de crédito, protótipos da letra de câmbio e da nota 
promissória (FRANCO JÚNIOR, 1988, p. 57). 
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Figura 19 – As variadas rotas de comércio reativadas e desenvolvidas durante a Baixa Idade Média
Contudo, já no século XIV, o sistema feudal europeu enfrentava significativos problemas. O 
crescimento demográfico visto durante a Baixa Idade Média não era uma situação possível, já que a 
produção era estática, autossuficiente e introvertida. Sendo assim, as Cruzadas eram uma alternativa 
para uma perspectiva de sobrevivência e expansão. No entanto, em certo aspecto, elas contribuíram para 
desarticular o sistema, na medida em que os senhores foram morrendo em terras longínquas e muitos 
dos servos criaram rebeliões – esse processo ficou evidente nesse século. As revoltas mais famosas foram 
as rebeliões camponesas na França, denominadas Jacqueries. A trilogia formada pela Guerra dos Cem 
Anos (1337‑1453), pela Peste Negra e pela fome generalizada acarretou uma queda da população e do 
sistema produtivo em proporções enormes.
A Guerra dos Cem Anos envolveu questões políticas e econômicas. O rei inglês Eduardo III entendia 
ser o herdeiro do trono francês por ser neto, por parte da mãe, do rei Felipe, o Belo, da França. No 
entanto, nesse país, pela lei sálica, era proibida a sucessão do trono para mulheres ou para descendentes 
provenientes de sua linhagem. Ao mesmo tempo, havia grande interesse, para ambos os países, na 
região de Flandres (na atual área dos Países Baixos) para a produção de tecidos. A guerra se tornou 
extremamente dispendiosa e demorada, com várias incursões ao longo de mais de cem anos.
A Peste Negra, por sua vez, revelava as péssimas condições higiênicas em que a população europeia 
vivia e, sobretudo, a total despreocupação com essa área. É bem razoável, desse modo, a praga 
que se estabeleceu, chegada do Oriente, e se disseminou rapidamente ao encontrar esse ambiente. 
Provavelmente, tratava‑se de uma peste bubônica que matou milhares e milhares que simplesmente 
desconheciam quais eram as causas da doença e quais as maneiras de se precaver.
Nesse sentido, há diversos testemunhos de pessoas morrendo às centenas e mais centenas, noite 
e dia, em um clima absolutamente desolador. Famílias enterrando filhos, pais e mães – por vezes, 
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desaparecendo em uma velocidade impressionante. E o pior: não havia a mínima ideia científica das 
razões que faziam a epidemia se propagar. Por isso, os contemporâneos entendiam que se tratava do 
fim do mundo, do momento em que Deus estava castigando a humanidade por seus pecados. Se já não 
bastassem as mortes, o trauma religioso também foi bastante marcante.
Figura 20 – A gravura ilustra a visão desoladora e aterrorizante da Peste
Por fim, mas não menos importante, a propagação da fome era comum por qualquer mudança 
climática e pelas dificuldades impostas pelos problemas provenientes das guerras, rebeliões e da peste, 
desarticulando o sistema produtivo agrícola ainda razoavelmente estático e introvertido.
É dessa maneira que a Expansão Marítima europeia, em seus aspectos econômicos, tem como grande 
viés a superação desse quadro crítico europeu, o que foi agravado pela queda de Constantinopla (1453), 
comprometendo o comércio existente no Mediterrâneo e gerando o declínio do vigor econômico das 
cidades italianas. Assim, boa parte dos experientesnavegadores dessa região ofereceram seus serviços 
para as coroas ibéricas.
A perspectiva era encontrar novas formas de se atingir o lucrativo comércio do Oriente, sobretudo 
sem atravessadores, além de angariar metais preciosos para continuar a monetarizar a economia e 
promover o desenvolvimento comercial.
2.2 As transformações políticas
No sistema feudal, a característica central é a descentralização política. Apesar de o rei manter um 
sentido de poder de direito, na prática, as necessidades que se impuseram pelas invasões bárbaras e pela 
crise do Império Romano, sobretudo após o reino dos francos, gerou‑se um sistema essencialmente de 
poder local.
No entanto, as novas perspectivas vistas com o reflorescimento do comércio geravam novas 
necessidades políticas para a burguesia mercantil. Promover o controle do rei em todo o território 
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favoreceria uma necessidade fundamental: a padronização de pesos, medidas e moedas. Durante o 
período medieval, a cada feudo uma unidade diferente, além de impostos variados, eram encontrados 
pelo burguês. Era necessário garantir o fim de cobranças variadas e dispêndios com transições de valores 
que poderiam gerar perdas entre um território e outro.
Nesse sentido, fortalecer a figura do rei, único capaz de promover a padronização de todo um amplo 
território, se tornava tarefa básica. A burguesia passava, então, a financiar o rei em sua empreitada. 
Pelos recursos provenientes de impostos, mecanismos de centralização passavam a ser colocados em 
prática: desde o uso da diplomacia, com alianças (tais como o casamento), até com, eventualmente, o 
uso da guerra. Assim, a nobreza, aos poucos, deixava de ser uma nobreza guerreira e se tornava cortesã, 
sustentada e mantida pela Coroa.
Não se deve deixar de perceber que também era fundamental para o desenvolvimento comercial o 
rei ser o único capaz de direcionar os recursos de uma ampla região para os dispêndios enormes que 
uma empreitada como as Grandes Navegações gerava. E não havia nenhuma certeza do retorno de 
tais valores. Assim, era necessário ser capaz de mobilizar valores que seriam investidos na vastidão do 
Atlântico e sem a cobrança de um retorno imediato.
Figura 21 – Os Estados Nacionais passaram a se desenvolver no início da época moderna. 
Tinham grandes relações com o desenvolvimento comercial e dinamizavam a vida. 
Na imagem, repare a representação de diversos grupos em torno do aglomerado urbano
Ainda que em processos variados, é nesse momento que a Europa passa a viver a transição para a 
formação das Monarquias Nacionais – desenvolvimento central para as Grandes Navegações. Coloca‑se, 
então, um fator central para o pioneirismo ibérico: foram justamente Portugal e Espanha os países 
capazes de angariar condições de controle do rei para todo o território e, assim, fomentar as expedições 
rumo a novas rotas para o lucrativo comércio das Índias.
No entanto, deve ter‑se claro quais são os limites desse desenvolvimento nacional. Como aponta 
José Mattoso ao pensar acerca da nacionalidade portuguesa:
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A delimitação política e econômica é um elemento objetivo que distingue de 
todas as outras a comunidade humana nela inserida. Para esta comunidade 
constituir uma Nação é ainda preciso que os seus membros adquiram a 
consciência de formar uma coletividade tal que daí resultem direitos e 
deveres iguais para todos, e cujos caracteres eles assumam como expressão 
da sua própria identidade. Esta consciência forma‑se por um processo 
lento, que não envolve simultaneamente todos os sujeitos. Começa por 
eclodir em minorias capazes de conceber intelectualmente em que consiste 
propriamente a Nação; depois essa ideia vai se propagando lentamente a 
outros grupos, até atingir a maioria dos habitantes do País. [...]
As guerras com Castela e a Revolução de 1383‑1385, ao trazerem 
as tropas estrangeiras a Portugal, evidenciam a diferença entre os 
Portugueses e os outros, isto é, aqueles que falavam outra língua, tinham 
outros costumes e se comportavam como inimigos. Cem anos depois, 
a expansão ultramarina coloca muitos portugueses em face de gente 
ainda mais estranha perante a qual eles se apresentam como irmanados 
pela vassalagem a um mesmo rei, sejam minhotos, alentejanos ou 
beirões. A sujeição à Espanha, no século seguinte, faz refletir sobre o 
que é ser português e o que é estar sujeito a uma administração não 
portuguesa, pela mesma época em que se pode ler nos Os lusíadas a 
epopeia mitificada de um povo capaz de chegar aos confins do mundo. E 
assim sucessivamente, até às exaltadas manifestações populares contra 
a Inglaterra por ocasião do Ultimatum de 1890, às comemorações 
nacionais dos vários centenários que fazem refletir nos feitos heroicos 
de outrora, às revoluções cuja vitória se atribui à participação popular, 
à propaganda ideológica nacionalista dos anos 30 a 60. Tudo isso vai 
consolidando e difundindo o conceito de Nação. É preciso não esquecer, 
porém, que só os cidadãos capazes de ler podiam conhecer Os lusíadas, e 
que só os que tinham feito o ensino primário podiam compreender o que 
era a história pátria e saber os direitos dos cidadãos. Ora a população 
analfabeta só em pleno século XX deixa de constituir mais da metade do 
povo português. É preciso, portanto, esperar até uma época bem recente 
para poder admitir uma efetiva difusão da consciência nacional em 
todas as camadas da população, e em todos os pontos do seu território 
(MATTOSO, 2000, p. 40).
2.3 As transformações culturais
Os contatos com o Oriente e os valores do Renascimento promoviam uma articulação de estudos 
extremamente importantes e significativos. A valorização do homem e do conhecimento racional era 
promovida com a chegada do saber clássico, que estava em posse dos árabes e bizantinos e que vieram à 
tona com as Cruzadas. Nesse sentido, novos estudos são estabelecidos, como a astronomia, a cartografia 
e a matemática:
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Por volta de 1330, com o uso da numeração árabe, começara em 
Portugal uma lenta revolução, chamada de aritmetização do real, que 
viria a ter importantes reflexos no desenvolvimento das mentalidades 
protomodernas. Tratando‑se de estruturas mentais marcadamente 
analíticas assumiram, desde o início, um protagonismo que não deixou 
pedra sobre pedra quanto ao que restava das heranças medievais; estes 
saberes passaram do estádio de pouco ou mais ou menos, a uma outra 
situação de saber, conhecida como sendo o da precisão, como lembrava 
Lucien Febvre (ALMEIDA, 2000, p. 110).
Assim, instrumentos com tecnologia bastante significativa eram produzidos: bússolas, 
astrolábios, caravelas, naus e velas latinas. Esse aparato tecnológico era fundamental para a 
aventura do além‑mar. Enfrentar a enormidade de mares nunca antes navegados, a mentalidade 
de monstros e temores das adversidades, só se tornaria plausível com o mínimo de capacidades 
possíveis para a navegação prolongada e sua localização básica. Logo, o conhecimento que se 
adquire é absolutamente indispensável.
Figura 22 – Representação típica do desenvolvimento dos estudos 
marítimos relacionados à instrumentalização e à astronomia
2.4 As transformações sociais
Apesar de a sociedade feudal ser bastante enrijecida com seus valores estamentais e de ordens, o 
desenvolvimento do comércio permite um novo estilo de vida, que é baseado no lucro e na usura: a vida 
urbana da burguesia mercantil. 
Esse grupo é promovido em torno das novas condições e necessidades que se estabelecem entre a 
crise feudal e o início da modernidade. A perspectiva dos novos hábitos, com as especiarias, criava uma 
demanda que deixava os negócioscom razoável espaço na Europa cristã. 
Nesse sentido, um avanço importante poderia ser dado também para aqueles com “espírito 
aventureiro” – acreditar na possibilidade de outra forma de se viver e auferir lucros seria possível para 
marginalizados e desesperançados pela estrutura feudal.
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Figura 23 – O quadro acima é a representação feita pelo pintor alemão Quentin Massys 
de um banqueiro e sua mulher. Repare que, além da preocupação com a moeda 
propriamente, há uma significativa perspectiva: a mulher o acompanha fazendo leitura
O avanço do comércio e as novas condições políticas abrem as cortinas das possibilidades inteiramente 
novas de empreendimentos visando ao lucro das especiarias para a burguesia ou mesmo para aqueles 
com atividades bancárias, além de contar com outros elementos menos favorecidos, mas esperançosos 
de encontrar uma nova forma de viver por meio das Grandes Navegações, o que não seria possível na 
estrutura feudal.
2.5 As transformações religiosas
Apesar de tradicionalmente as Cruzadas serem vistas como um movimento cristão apenas para 
a reconquista da Terra Santa (Jerusalém), elas fizeram parte de um desenvolvimento muito maior. A 
perspectiva da expansão era fundamental e tinha como grande objetivo o combate militar do infiel, quer 
fosse o muçulmano, quer fosse qualquer outro que estivesse distante dos ideais promovidos pela Igreja 
(como os albigeneses, na França).
Dessa maneira, o “espírito cruzadista” permeou as ações também da Reconquista na Península Ibérica 
de uma maneira muito importante para começar o processo de um conceito de nação, conforme vimos 
anteriormente. É nesse sentido que esse ideal permaneceu durante as Grandes Navegações, inclusive 
quando houve o contato com outras regiões, como os muçulmanos do Norte da África. Esse ideal 
procurou ainda justificar todo o esforço de colonização europeia na América: era um dever do europeu 
promover a catequese dos ameríndios.
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De qualquer maneira, também havia uma “mística” do imaginário medieval que fortalecia o espírito 
aventureiro misturado ao religioso. Como atesta Charles Boxer, a procura por um reino cristão chamado 
Preste João sempre estava presente nos relatos do período:
Era um potentado mítico, em sua origem vagamente imaginado pelos 
europeus como soberano de um poderoso reino “nas Índias” – termo elástico 
e ambíguo que muitas vezes englobava a Etiópia e a África Oriental, bem 
como o que se conhecia como Ásia. [...]
As versões mais extravagantes da lenda de Preste João, como, por exemplo, 
a afirmação de que comiam à sua mesa, feita de esmeraldas, mais de 30 
mil pessoas, entre as quais doze arcebispos que se sentavam à sua direita 
e vinte bispos, à esquerda, parecem não ter circulado tanto em Portugal 
como em outros países europeus. Porém em Portugal, como em outros 
lugares, acreditava‑se, com efeito, que esse misterioso rei‑sacerdote, 
quando definitivamente localizado, seria um aliado inestimável contra os 
muçulmanos, fossem eles turcos, egípcios, árabes ou mouros. Quanto aos 
portugueses, esperavam encontrar Preste João numa região africana, onde 
ele poderia ajudá‑los a lutar contra os mouros (BOXER, 2002, p. 35‑36). 
A luta religiosa justificava ambições econômicas e sociais em torno de um imaginário que carregava 
perspectivas medievais com outras de desenvolvimento tecnológico e valores renascentistas baseados 
na razão. Vale destacar que a grande obra de circulação e, quase única, acerca do mundo do Oriente, 
era a obra de Marco Polo. É no bojo dessa visão repleta de contradições e limites feitos por todo homem 
em qualquer que seja seu período histórico que é preciso compreender as características das ações das 
Grandes Navegações e a adoção de um sistema de colonização capaz de se estabelecer, com razoável 
manutenção, por três séculos.
3 AS GRANDES NAVEGAÇÕES
A partir das condições geradas pela crise do sistema feudal e pelas necessidades econômicas que se 
estabeleciam pelo início do capitalismo, ainda que sem ser o sistema predominante, mas na montagem 
da estrutura mercantilista, a figura do rei, capaz de unificar politicamente e direcionar os recursos de 
uma ampla gama de territórios, se junta aos interesses mercantis da burguesia em ascensão. Essa união 
financiou as viagens de longa distância em busca de novas rotas para as especiarias e novas fontes de 
metais preciosos. Ao mesmo tempo, os avanços culturais propiciaram os meios tecnológicos capazes de 
tais ousadias e desafios. Por fim, o espírito cruzadista justificou a ação, encabeçado pela continuidade 
da propagação do cristianismo católico e o combate ao infiel.
3.1 Ciclo Oriental – pioneirismo português
A primeira questão que se estabelece após entender as razões que motivaram os europeus é 
compreender como os portugueses acabaram por reunir todas as condições necessárias para se tornarem 
os pioneiros nas Grandes Navegações. 
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É fundamental, inicialmente, fazer menção a sua posição geográfica privilegiada. Estar diretamente 
ligado ao oceano facilitava a logística de toda a empreitada e, ao mesmo tempo, impedia problemas 
diretos com outros países para qualquer deslocamento no Atlântico, além de trazer uma tradição 
naval‑mercantil bastante importante, como atesta Vitorino Magalhães Godinho:
Logo que Portugal se tornou num reino independente, já os Portugueses 
aparecem nas feiras de Tessalónica, e ainda antes do final do século 
mercadores portugueses frequentam Marselha e Montpellier. Ao 
longo do século XIV, navios portugueses carregam trigo nos celeiros 
mediterrâneos – seis deles são sequestrados em Barcelona em 1333 
–, barcas de Lisboa, Setúbal e Aveiro transportam sardinha e outro 
pescado para o Levante hispânico, provavelmente em troca de dobras 
de ouro. Mas é talvez com Maghrebe que as relações comerciais são 
mais intensas, e o sistema monetário português alinha‑se pelo sistema 
monetário norte‑africano. [...]
Os principais vetores da presença portuguesa nas águas do Estreito até 
Tunes e Génova são, no entanto, o corso e a angariação de fretes (GODINHO, 
1990, p. 192).
Nessa perspectiva, torna‑se interessante perceber como vai se ampliando a força da burguesia 
empreendedora, capaz de gerar uma aliança com o monarca, existente precocemente desde a Revolução 
de Avis (1383‑85), que colocou no poder D. João I.
Ao mesmo tempo, os estudos náuticos ganham força. O contato comercial constante incrementa as 
técnicas utilizadas e fomenta o avanço, inclusive pela facilidade de contato com os árabes. É por isso 
que se tornou tarefa significativa os estudos para a tradução dessas importantes fontes de estudos das 
obras clássicas. 
A caravela é um dos exemplos mais significativos desse desenvolvimento. Era rápida, com boa 
capacidade de carga, o que, inclusive, foi incrementado em pouco tempo – e ainda era capaz de se 
manter em uma boa batalha. Fora ela, várias outras embarcações foram promovidas ao longo das 
atividades navais dos séculos XIV e XVI.
É preciso destacar que não foram os portugueses, ou seus rivais espanhóis, os grandes e únicos 
aventureiros rumo aos grandes oceanos. Contudo, a grande questão que se estabelece é que os ibéricos 
se tornaram os responsáveis por alterar completamente a história mundial com seus empreendimentos 
e com a organização de um sistema de exploração capaz de promover uma integração e contatos nunca 
antes vistos ou mantidos. É o que atesta Charles Boxer:
Os portugueses e os espanhóis tiveram precursores (mais ou menos 
isolados) na conquista dos oceanos Atlântico e Pacífico, mas os esforços 
desses aventureiros notáveis não alteraram o curso da história do mundo. 
Foramencontradas moedas cartaginesas do século IV a. C. nos Açores, 
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bem como moedas romanas de datas posteriores na Venezuela, em 
circunstâncias que sugerem a possibilidade de terem sido levadas por 
barcos arrastados por tempestades na era clássica; porém, se assim foi, 
não há nada que nos garanta que esses barcos um dia regressaram à 
Europa com as notícias. Os vikings viajaram da Noruega e da Islândia para 
a América do Norte algumas vezes na Baixa Idade Média, mas suas últimas 
colônias, abandonadas na Groelândia, sucumbiram aos rigores do clima e 
aos ataques dos esquimós antes do final do século XV. Algumas galerias 
italianas e catalãs, do Mediterrâneo, aventuraram‑se com ousadia em 
viagens de descobrimento no Atlântico, nos séculos XIII e XIV. Contudo, 
embora seja provável que tivessem avistado algumas das ilhas do Açores 
e da Madeira, e por certo redescoberto as Canárias (as ilhas Afortunadas 
dos geógrafos romanos), tais viagens não tiveram prosseguimento 
sistemático. Permaneceu apenas a vaga lembrança dos irmãos Vivaldi, 
genoveses que partiram em 1291 com a firme intenção de contornar o 
sul da África e alcançar a Índia por mar, mas desapareceram depois de 
passar o cabo Não, na costa marroquina. De igual modo, ainda que juncos 
chineses ou japoneses levados por tempestades ocasionais possam ter 
involuntariamente alcançado a América, e apesar de os “argonautas do 
Pacífico”, polinésios do Havaí, terem colonizado ilhas tão longínquas como 
a Nova Zelândia, tais feitos não alteraram o isolamento básico em que 
a América e a Austrália continuaram em relação aos outros continentes 
(BOXER, 2002, p. 31‑32).
O grande marco inicial do avanço português foi a tomada de Ceuta, em 1415. A cidade 
era um ponto fundamental para o controle do estreito de Gibraltar e para as relações entre 
o Mediterrâneo e o Atlântico. Muitas caravanas convergiam para esse local, o que promovia 
lucros constantes para essa primeira conquista. Apesar da vitória, da manutenção da presença 
portuguesa e da obtenção de informações do território a desbravar, as questões econômicas 
se tornaram infrutíferas nessa cidade, já que os árabes conseguiram realocar o comércio para 
outro polo. 
De qualquer maneira, a partir daí, os portugueses decidem‑se pela perspectiva da expansão a partir 
do chamado Périplo Africano, ou seja, o contorno do litoral desse continente, ainda que absolutamente 
desconhecessem a extensão da rota que pretendiam seguir.
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América 
do Norte
S. Salvador
Espanha
Calicute
Lisboa
América 
do Sul
AustráliaOceano Atlântico
Oceano Índico
Europa
Ásia
África
(1)
(4)
(5)
(3)
(2)
(6)
(9)
(7)
(8)
(10)
(1) Ceuta (1415)
(2) Arquipélago da Madeira (1419)
(3) Arquipélago dos Açores (1431)
(4) Cabo Bojador (1434)
(5) Cabo Branco (1445)
(6) Arquipélago de Cabo Verde (1445)
(7) Cabo da Boa Esperança (1488)
(8) Calicute (1498)
(9) Baía Cabrália (1500)
(10) Japão (1517)
Figura 24 – A extensão das Grandes Navegações portuguesas atingindo o Japão em 1517
A partir de Ceuta, os portugueses mantiveram navegação por cabotagem – através do litoral –, o que 
garantia segurança e um fácil avanço. Um importante marco desse avanço foi a chegada às chamadas 
Ilhas Atlânticas (Madeira e Açores), que propiciaram a primeira investida na tentativa de um sistema 
de colonização capaz de gerar lucro para a Coroa: ali foram implantadas capitanias hereditárias e a 
produção de cana de açúcar.
Outro marco significativo foi atravessar o Cabo Bojador (1434), repleto de histórias de medo e da 
mística medieval. Temos, então, justificadas as palavras famosas do poeta Fernando Pessoa, ao glorificar 
o passado português:
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fonte: Pessoa (1934).
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A partir daí, os portugueses marcam sua presença em diversas regiões, como o Golfo da Guiné (1452) 
e o sul da África (1482). Nesse momento, os portugueses já estavam atuando com certo comércio e, 
especialmente, com o tráfico negreiro. O contato já era bastante acentuado com diversos grupos do 
continente.
No entanto, uma grande dificuldade se estabelece: contornar o Cabo das Tormentas, último grande 
ponto do litoral atlântico. A navegação de cabotagem já não era possível pelos ventos e correntes de 
água contrários que se estabeleciam (hoje sabemos que essa situação na região é ocasionada pela 
corrente de Benguela, que passa por ali). Dessa maneira, a viagem de Bartolomeu Dias, em 1488, foi um 
marco extremamente importante – a decisão de ir para o interior do Atlântico e só depois retornar, na 
esperança de que as águas mar adentro fossem menos agitadas. Este foi o ponto em que os portugueses 
precisaram confiar absolutamente em seus instrumentos e técnicas de navegação.
Na verdade, Bartolomeu Dias acreditava no mesmo fenômeno que se via na parte Norte do Atlântico, 
na região portuguesa, como explica Luís Adão da Fonseca:
O que está aqui em causa é a hipótese de que, no Atlântico meridional, 
aconteça o mesmo que na costa portuguesa, onde o vento norte, que 
sopra com força ao longo da costa, enfraquece no interior do oceano. 
Ou seja, ao admitir que, em matéria de regime de ventos, o Atlântico 
sul funciona como o do norte, mas ao contrário, Bartolomeu Dias revela 
que perspectiva o oceano como um espaço unitário, de norte a sul, com 
um funcionamento de tipo mecânico. É a ruptura total com a visão 
tradicional. Ou seja, abre‑se a porta para a delimitação futura da rota do 
Índico (FONSECA, 2001, p. 16).
A partir daí, o contorno do litoral africano é muito mais rápido: bastam dez anos para a expedição de 
Vasco da Gama (1498) alcançar as Índias. Finalmente, os portugueses conseguem obter uma nova rota 
para os cobiçados produtos do Oriente. Há de se destacar, mais uma vez, que os dispêndios para cada 
uma dessas viagens eram gigantescos. A empreitada de Vasco da Gama demorou mais de dois anos para 
ir e retornar, mas seu pioneirismo gerou lucros enormes para a Coroa.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral partiu para as Índias com a ordem de garantir o empreendimento 
português no Oriente, procurando estabelecer o “Império Português”. Nessa viagem, temos o relato 
oficial da “descoberta” do Brasil. Ainda que a documentação seja pouco esclarecedora, há de se ter em 
vista que uma das justificativas que nos parece mais plausível a respeito da certeza da presença de terras 
no outro lado do Atlântico foi a travessia alcançar léguas além do Cabo Verde e a disputa diplomática 
portuguesa pelo Tratado Tordesilhas (1494), como veremos. Entendemos que garantir uma porção de 
terra nesse local seria bastante importante para a manutenção do controle da rota recém‑alcançada, 
mesmo que estejamos apenas defendendo uma hipótese.
Na prática, é apenas por volta de 1515, com D. Afonso de Albuquerque, que os portugueses 
conseguem várias vitórias militares nas Índias, capazes de assegurar a formação do Império Luso do 
Oriente, além do apoio obtido pela diplomacia e ação dos missionários.
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Unidade I
A seguir, os empreendimentos portugueses alcançam até mesmo o extremo Oriente. Marco 
significativo desse avanço foi o contato com os japoneses em 1517.
No entanto, ainda que os planos portugueses

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