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Autor: Prof. Ricardo Felipe di Carlo Colaboradores: Prof. Francisco Alves da Silva Prof. Vinícius Albuquerque História da América Colonial Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Professor conteudista: Ricardo Felipe di Carlo Formado pela Universidade de São Paulo, USP, em 2007, é bacharel e licenciado em História. Defendeu sua dissertação de mestrado em 2011, no programa de História Econômica, também da USP. Na verdade, o mestrado foi a continuidade da pesquisa feita como iniciação científica, Exportar e abastecer: população e comércio em Santos, 1775–1836, quando trabalhou com a economia colonial e seu quadro de crise. Durante um ano da iniciação científica foi bolsista Fapesp. Depois, já no mestrado, foi bolsista da mesma instituição por mais dois anos. Após esse período, no início de 2011, foi contratado como professor do Colégio e Curso Pré‑Vestibular Objetivo. Também preparou aulas digitais e orientou os alunos para as Olimpíadas de História. Em 2013, surgiu o convite para escrever para a Universidade Paulista, UNIP, o que tem sido uma grande honra e prazer para sua atividade profissional, já que propicia a oportunidade de dialogar com aqueles que são amantes da história e já perceberam, de algum modo, a satisfação enorme que ensinar propicia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D545h Di Carlo, Ricardo Felipe. História da América Colonial. / Ricardo Felipe Di Carlo. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 160 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2‑074/15, ISSN 1517‑9230. 1. História. 2. América Colonial. 3. Expansão marítima. I. Título. CDU 97 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Giovanna Oliveira Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Sumário História da América Colonial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 OS POVOS DA AMÉRICA ............................................................................................................................... 11 1.1 O quadro de diversidade e as fontes da América .................................................................... 11 1.2 A cultura olmeca e os maias ............................................................................................................ 14 1.3 Os astecas ................................................................................................................................................ 17 1.4 Os incas..................................................................................................................................................... 20 1.5 Os índios do Brasil ................................................................................................................................ 23 1.6 Os índios da América do Norte ....................................................................................................... 26 2 A EXPANSÃO MARÍTIMO‑COMERCIAL DA EUROPA .......................................................................... 28 2.1 As transformações econômicas ...................................................................................................... 28 2.2 As transformações políticas ............................................................................................................. 32 2.3 As transformações culturais ............................................................................................................ 34 2.4 As transformações sociais ................................................................................................................. 35 2.5 As transformações religiosas ........................................................................................................... 36 3 AS GRANDES NAVEGAÇÕES ....................................................................................................................... 37 3.1 Ciclo Oriental – pioneirismo português ...................................................................................... 37 3.2 Ciclo Ocidental – navegações espanholas ................................................................................. 42 3.3 Os Tratados de Rivalidade ................................................................................................................. 44 3.4 Navegações inglesas, francesas e holandesas .......................................................................... 45 4 A ALTERIDADE: O CONTATO COM O OUTRO ......................................................................................... 50 4.1 Barbárie ou bom selvagem? ............................................................................................................. 50 4.2 A conquista ............................................................................................................................................. 52 Unidade II 5 A ORGANIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO ...................................................................................................... 68 5.1 A estrutura do Antigo Regime e as bases do Mercantilismo Colonial ........................... 68 5.2 A colonização espanhola ................................................................................................................... 76 5.3 Traços comparativos da colonização portuguesa .................................................................. 90 5.4 A colonização holandesa ................................................................................................................... 93 5.5 A colonização francesa ...................................................................................................................... 97 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 5.6 A colonização inglesa ......................................................................................................................... 99 5.7 A colonização do Caribe – o auge da exploração do Antigo Sistema Colonial .........................................................................................................................................106 6 O ILUMINISMO, O REFORMISMO ILUSTRADO E A CRISE DO ANTIGO REGIME ....................112 7 IMPÉRIO COLONIAL ESPANHOL ENTRE A DECADÊNCIA E O REFLORESCIMENTO – AS REFORMAS BORBÓNICAS .........................................................................1168 A GESTAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA .........................................................................................................124 8.1 A gestação da Independência – insatisfações e revoltas .................................................124 8.2 A gestação da Independência – os modelos ..........................................................................131 7 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 APRESENTAÇÃO A grande proposta ao se desenvolver um material para o curso de História da América é ser capaz de problematizar o processo de formação da construção desse continente, desde seus povos originários, a chegada do europeu e o encontro de culturas tão diferentes, até o processo e as relações de colonização. Assim, conheceremos as raízes pelas quais se estabeleceram os Estados nacionais, com suas contradições, lutas e construções. Essas relações são bastante significativas, variadas e amplas, mas podem ser descortinadas a ponto de nos fazer dar impulso para estudos que, cada vez mais, possam produzir conhecimento em nosso país e propiciar o saber aos alunos que nos aguardam. Um professor bem preparado é elemento‑chave para instigar a curiosidade pela História. Portanto, fortalecer a preparação se torna condição indispensável para uma formação sólida que a Universidade Paulista – UNIP procura trazer a todos os seus alunos. Nesse sentido, estaremos satisfeito se este material e as aulas forem capazes de gerar uma forte perspectiva de desenvolvimento e fomentar o desejo de uma formação contínua e incessante de que todo professor necessita. A maneira de abordar esse conteúdo será percorrer as possibilidades diversas de fontes a fim de promover uma perspectiva histórica que leve em consideração todo e qualquer tipo de vestígio do passado. Logo, não basta apenas fazer a leitura do conteúdo, ou de um texto clássico, ou mesmo de alguma nova abordagem, é preciso, ao mesmo tempo, produzir história, pelo seu olhar, pelo seu criticar e pelo seu pensar. Fomentar o espírito crítico com os diversos enfoques em torno de uma base historiográfica consistente se torna nossa grande maneira de promover a análise da História da América, bem como ser capaz de destacar e comparar os diferentes processos históricos desenvolvidos nas mais variadas áreas desse continente tão vasto. Ainda que no caso do Brasil tenhamos uma matéria específica, alguns pontos serão destacados para complementar a análise comparativa e fomentar a discussão. As relações estabelecidas desde os primórdios da América, como o contato com o europeu e a organização da colonização, geraram raízes que precisam ser claramente apresentadas para a compreensão de sua crise e, consequentemente, do processo de independência e formação dos Estados nacionais no Novo Mundo. Ao mesmo tempo, essa análise poderá estimular a discussão dos limites e contradições relacionados a essa história e propiciar a crítica do presente, já que muitas questões, por mais de séculos, permanecem escancaradas nos noticiários. Nesse sentido, não deixe de ler e criticar tudo que lhe é exposto. Analise o texto e as interpretações, mas, ao mesmo tempo, veja as questões levantadas nos mapas, critique as imagens selecionadas. Nada está aqui por acaso. Perceba as relações, as construções, as elaborações culturais que adquirem diversos significados. Estabeleça as bases de desenvolvimento dos diversos momentos. O historiador é, antes de tudo, um cientista que utiliza a razão e o método para produzir conhecimento e você faz parte disso. Mãos à obra! 8 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 INTRODUÇÃO Compreender a História da América Colonial não é apenas inserir a “descoberta” europeia e, a partir daí, suas relações. Muito pelo contrário, precisamos promover uma História da América por si mesma, sozinha; compreender como se estabeleciam as relações entre os mais diversos povos existentes, quais eram as características de cada um e o seu desenvolvimento cultural, social, econômico e político. Contudo, inegavelmente, a chegada dos brancos europeus, possibilitada por uma série de novas configurações da Europa na Baixa Idade Média, modificou todas as bases existentes. Assim, a História europeia é inserida para se compreenderem as relações estabelecidas no Novo Mundo. Ou seja, a partir da análise do que era a América, é possível analisar como se estabeleceu o contato com o outro. Essa alteridade de diferentes significados e significações rapidamente se transformou em um amplo ataque para a conquista das grandes e mais ricas civilizações pré‑colombianas. Os interesses mercantilistas europeus produziram um ataque maciço. Seu resultado foi logo visto: uma verdadeira tragédia. Milhões de indígenas, em passo acelerado, foram dizimados. As armas, as crenças, as novas doenças introduzidas, e, sobretudo, o uso das rivalidades internas (rapidamente compreendidas pelos europeus) geraram a destruição do mundo dos nativos. Uma riqueza metalista enorme foi conduzida para a Europa – daí os espanhóis terem se concentrado nas áreas dos impérios asteca e inca. A partir de então, a configuração europeia da Época Moderna estabeleceu o Antigo Regime que promoveria a montagem do Antigo Sistema Colonial. As relações foram baseadas na necessidade de garantir a posse do território contra as disputas com outros países europeus e, sobretudo, propiciar o acúmulo primitivo de capital para a metrópole. Esse sistema nortearia todas as relações no Novo Mundo, inclusive daqueles que não traziam atrativos para a promoção desse esquema econômico. Ao mesmo tempo, fomentava relações sociais completamente novas e utilizava a mão de obra com o máximo de exploração possível. O auge dessa perspectiva foi, justamente, a ressignificação que o trabalho compulsório indígena assumiu com a chegada dos europeus e também a maior migração forçada da história: o tráfico de escravos africanos. Percebe‑se, assim, de início, que quando o mundo finalmente se aproximou, ou seja, quando diversos povos passaram a ter contato entre si, as relações não foram nada amistosas ou pacíficas. Configuraram‑se relações de extrema exploração e enorme desolação. Ao mesmo tempo, a implantação desse sistema dava impulso para a garantia da força do poder real na Europa, o absolutismo. Essa questão norteou a colonização como uma política de Estado, dirigida pelo núcleo central e caracterizada pela subordinação e submissão. No entanto, não foram todas as regiões que viram o sistema colonial da mesma maneira. Em áreas da América do Norte, não houve atrativos significativos para os ingleses. O relativo descaso metropolitano propiciou condições diferentes de colonização, que estava muito mais voltada para um desenvolvimento 9 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 interno. Não é à toa que dali brotaria a primeira experiência de liberdade e o modelo para a propagação do fim da subordinação. Claro que nem toda a conquista e dominação foram aceitas. Diversos povos lutaram em diferentes períodos. Alguns nunca foram colocados sob o julgo europeu, mas há de se dizer que também, no seio do próprio sistema, diversas revoltas surgiram. Algumas tomaram proporções enormes: no século XVIII germinava a perspectiva de que os anseios locais eram diferentes dos valores impostos. Isso ficou ainda mais evidente na Crise do Antigo Sistema Colonial. Quando a Europa passou a viver a transição para o capitalismo industrial, com todo o sistema do Antigo Regime colocado em xeque, as relações nas colônias foram cada vez mais alteradas. Foi nesse momento que tivemos a gestação do processo de independência. As relações estabelecidas nas revoltas se difundiram. Ao mesmo tempo, o arrocho colonial foi agravado. Por fim, brotaram os primeiros sonhos de modelos como os dos Estados Unidos e do Haiti.Uma nova perspectiva concreta era vista: por um lado, o que as elites desejavam ter, por outro, o medo de que a proporção não fosse demasiadamente grande. Ou seja, no projeto dos Estados Nacionais na América, alterar as relações políticas, mas manter as bases sociais e econômicas, era questão difícil. E é isso o que procuraremos descortinar e entender ao longo dos nossos estudos. 11 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Unidade I 1 OS POVOS DA AMÉRICA A História da América não se inicia, em absoluto, com a chegada do europeu nesse continente. Muito pelo contrário, uma diversidade de povos e culturas bastante avançadas já era vista por aqui. O território, de amplitude gigantesca, criava condições naturais capazes de gerar técnicas e organizações das mais variadas, ainda que, em alguns casos, vários desses grupos tivessem contatos uns com os outros e adotassem características comuns. Houve também aqueles que acabaram por dominar outros povos e constituíram verdadeiros impérios de magnitude bastante significativa. Julgamos ser de pouca valia promover uma análise dos povos ameríndios pelo viés apenas comparativo com o desenvolvimento europeu. Procurar classificá‑los pelos moldes do olhar eurocêntrico é perder, em certa perspectiva, a heterogeneidade existente na América. Claro que a composição de termos, na medida do possível, pode ser utilizada para deixar clara a análise. Contudo, o historiador necessita estabelecer suas bases a partir de uma visão comprometida com a crítica e com a valorização da alteridade, independentemente se esta é tão distinta de sua realidade ou dos valores que, invariavelmente, carrega consigo a partir de sua formação e de seu mundo. 1.1 O quadro de diversidade e as fontes da América As condições geográficas de um território de mais de 42 milhões de km² atuaram como questões básicas propiciadoras da variedade de técnicas e organizações produzidas por inúmeros povos organizados em tribos, por laços familiares, ou mesmo impérios baseados na força militar, que talvez totalizassem 50 milhões de habitantes. Alguns povos habilmente foram capazes de desenvolver a agricultura, a pecuária, além de contar com a metalurgia e atividades artesanais para a tecelagem e cerâmica. Mais do que isso, alcançaram técnicas de astronomia e de arquitetura e urbanismo que foram absolutamente assustadoras para o branco europeu. Nesse sentido, torna‑se necessário compreender as dificuldades de se estudar certos grupos pela ausência de fontes. Ao mesmo tempo, a chegada do europeu produziu a destruição de boa parte daquilo que seria muitíssimo aproveitável. Certa documentação foi destruída por estar relacionada a sacerdotes ou assuntos religiosos. Ao mesmo tempo, outros povos não possuíam a escrita como forma de registro. Os cronistas europeus se chocavam com a alteridade e nem sempre estavam preocupados em retratar aquilo que viam. Alguns desses relatos eram utilizados para fomentar o espírito de aventureiros para as próximas expedições. Outros mesclavam suas narrativas com a presença de “anjos ou demônios”. Na prática, havia uma clara exaltação dos valores europeus e desprezo pelos povos da América. Ainda que tenhamos outras fontes escritas por missionários ou mestiços, que são capazes de remeter a maiores 12 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I informações dos dois lados – como os relatos de Garcialaso de la Vega em Comentários reales de los Incas (1609), ou o de Felipe Guamán Poma de Ayala, Nueva crónica y buen gobierno (em torno de 1615), em alguns aspectos uma única visão sobressai: procuram exaltar o império inca e seu desenvolvimento quase como um paraíso terrestre antes da chegada do europeu. Enfim, todo esse quadro acaba por trazer à tona dificuldades para a compreensão maior desse universo tão grande de povos. Contudo, nas últimas décadas, com o auxílio da arqueologia e de outros estudos, como a antropologia e a sociologia, a pesquisa sobre a América Pré‑Colombiana tem crescido, gerando a expectativa de bons frutos a serem colhidos. Estados Unidos Venezuela Ch ile Gypson Cave Lago Monave 13 000 anos Pachamachay 25 000 anos Monteverde 12 000 anos São Raimundo Nonato (PI) 39 000 anos Lagoa Santa (MG) 15 000 anos Taquixquiac Puebla 22 000 anos El Jobo 12 000 anos México Brasil Figura 1 – Os mais importantes sítios arqueológicos da América 13 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Esquimó do Alasca Esquimó Caribu Esquimó do Labrador Atabasco Algonquiano Huroniano MoicanoSioux SiouxChinook Apache Muscogi Comanche Seminole Astecas Região dos Pueblos Taianos Maias Aruaque Caraíba Caraíba Bororo T u p i Tupi Incas Jê Aimará Tupi Incas Charrua Araucano Patagões Chibcha Kara Jivaro Quichua Aruaque Iroquês(Pele Vermelha) Esquimó Figura 2 – Os diversos povos do continente americano 14 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I 1.2 A cultura olmeca e os maias Apesar da existência de diversos povos na América Central, conhecida como Mesoamérica, o desenvolvimento dos olmecas foi bastante significativo na costa sul do Golfo do México. Para conhecer a grandeza dessa civilização, as pesquisas arqueológicas geram ótimos resultados. Escavações feitas em centros olmecas, como, por exemplo, Tres Zapotes, La Venta, San Lorenzo e outros, revelaram grandes transformações culturais. La Venta, o maior dos centros, foi erguido numa pequena ilha, a poucos metros acima do nível do mar, numa área pantanosa junto ao rio Tonalá, 16 quilômetros antes de sua foz no golfo do México. Embora só se encontrasse pedra disponível a 64 quilômetros do local, foi desenterrada na região uma série de colossais esculturas de pedra (alguma delas com três metros de altura) e outros monumentos (LEÓN‑PORTILLA, 2012, p. 27‑28). Esse avanço urbano foi capaz, inclusive, de criar uma grande e famosa cidade: Teotihuacán, “cidade dos deuses”, que era um grande centro cultural, religioso, repleto dos mais diversos tipos de construções que imaginamos para uma área urbana. De alguma maneira, talvez por meio do comércio ou por esforços de comunicação (por questões religiosas ou migração), suas técnicas e características ganharam participantes em outras regiões. É bastante provável que a cidade tenha se tornado um importante centro, talvez de controle político. Seu poder político era definido a partir dos sacerdotes, que promoveram também avanços na capacidade de produção agrícola e de artesanato. Figura 3 – Queimador feito em barro, característico desse contexto. Perceba a sofisticação do artesanato 15 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Nesse contexto, a mais importante técnica de produção agrícola foi desenvolvida na região: as chinampas. A ideia era produzir verdadeiras hortas flutuantes no lago Texcoco. Para tal empreitada, foram construídas jangadas de junco com a terra fértil colocada dentro delas, que flutuavam presas nas extremidades. Não há certeza acerca das razões que levaram à decadência de Teotihuacán durante o século VI a.C. As hipóteses oscilam entre um fim abrupto, causado por forças da natureza, por doenças, ou ainda um processo ocasionado por diversas disputas e batalhas pelas terras férteis da região. O legado dos olmecas, contudo, deixou marcas muito importantes, além das já comentadas: eles geraram uma forma de escrita e numeração, conhecimentos dos astros (a ponto de produzir um calendário), entre outros. Por sua vez, os maias se estabeleceram em considerável esplendor. Eram provenientes, provavelmente, de áreas mais setentrionaise se estabeleceram na Península de Yucatán, além de parte da América Central. Sua organização política principal eram as cidades‑Estado. O controle era hereditário e teocrático. Havia, contudo, relações que poderiam ser dadas para a formação de uma espécie de “confederação”. A sociedade era rigidamente dividida a partir do nascimento. Os mais importantes eram os ligados ao governo, mesmo como funcionários, e os militares. Na base da estrutura social, ficavam os trabalhadores, que sustentavam as atividades do dia a dia. Lembrete Cidades‑Estado eram caracterizadas por autonomia e soberania. Promoviam governos próprios e podiam, ou não, se unir em momentos específicos. O cultivo da terra e a propriedade eram coletivos. Cada comunidade promovia suas atividades e garantia suas necessidades. A principal produção era de milho, ainda que, eventualmente, outros gêneros fossem produzidos. Sua religião era politeísta e animista. Realizavam sacrifícios humanos como forma de agradar aos deuses em suas mais diversas áreas, sobretudo em momentos de grandes necessidades, como pragas e safras diminutas. Faziam pirâmides com enormes escadarias, onde promoviam os sacrifícios e também observações astronômicas. Um de seus maiores legados foi a invenção do zero, capaz de completar e precisar os cálculos matemáticos. Assim, sua engenharia e arquitetura eram impressionantes. Muitas de suas pirâmides continuam a ser achadas por arqueólogos, soterradas em diversas áreas da Mesoamérica. Leona Realce Leona Realce 16 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I Figura 4 – A pirâmide de Uxmal Quando os espanhóis chegaram à América, os maias já estavam em decadência, apesar de sua cultura ter gerado um amplo desenvolvimento na região e de significativos contatos com outros povos de diversas organizações específicas, até mesmo com os astecas. Até hoje o motivo não é muito claro. Alguns historiadores apontam problemas com a produção para a sobrevivência, mas a hipótese mais aceita é a perspectiva do aumento das guerras entre as diversas cidades‑Estado, capazes de promover enormes perdas e propagar a fome por um longo período. Ou seja, a questão das desavenças internas, pela ausência de um forte poder central, teria sido capaz de corroer as estruturas sociais e econômicas, desestabilizando tudo e fomentando a miséria. Figura 5 – Templo do Jaguar, em meio à floresta tropical em Tikal Leona Realce 17 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Oceano Atlâ ntic o Oceano Pac ífi c o Teotihuacán Tenochtitlán Uxmal Chichén Itzá Mayapán Copán Cuzco Nazca As três grandes civilizações pré‑colombianas. Cultura asteca Cultura maia Cultura inca Figura 6 1.3 Os astecas Os astecas também foram conhecidos como mexicas. Eles estavam localizados no noroeste do México, na região conhecida como Aztlán, e acreditavam ser o povo escolhido de Huitzilopochtli, o deus Sol da guerra. O mito de sua fundação remete à procura do local escolhido pelos deuses para sua grande 18 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I capital. Ele estaria marcado por uma águia, com uma serpente em seu bico, parada em um cacto. Em 1325, essa cena teria sido vista e, então, foi fundada Tenochtitlán (Rocha de Cactos), atual cidade do México, às margens do lago Texcoco. A organização social era baseada nos laços de parentescos que formavam a comunidade: calpulli (grande casa). Para poder sobreviver, todos deveriam pertencer a uma dessas comunidades e a soma delas formaria uma grande cidade. Era um local residencial e também econômico, já que seus membros tinham direito à terra e dividiam as atividades por idade e sexo. A plantação era para si e uma parte ficava para o Estado. Havia fiscais que controlavam os impostos. Os principais grupos sociais eram os tlatoque (governantes) e os pipiltin (nobreza). Essas aproximações de nomes são, na prática, impróprias, já que transmitem um modelo diferente, mas, na medida do possível, serão expostas para facilitar a compreensão. Uma das características centrais desses grupos foi a criação de uma dimensão histórica que justificasse a dominação e os privilégios, como o de possuir isenção de impostos ou um grande abatimento. Eram os pipiltins que escolhiam os próximos governantes. Além de serem os únicos a ocupar cargos administrativos importantes, recebiam o benefício de terem várias esposas e objetos de distinção social, ou mesmo conseguir entretenimento. Seus filhos eram conduzidos a importantes centros de estudos chamados de calmecac. Lá era garantida a preservação do saber da civilização. Aprendiam leitura e escrita, conhecimentos de astronomia e diversas formas de promoção dos cargos de administração pública que poderiam seguir. Eventualmente alguns (é muito provável que os mais destacados) eram selecionados para se tornarem sacerdotes. Já os pochtecas (comerciantes) eram os responsáveis por trocar produtos, geralmente excedentes dos calpulli, em longas distâncias, com isenção de impostos. Na prática, se organizavam em tipos de “corporação” e, apesar de não serem proprietários de nada, cresciam em importância e recebiam encomendas dos pipiltin. Também poderiam utilizar o cacau como moeda. Ao se deslocarem por tanto tempo, se tornavam uma espécie de “embaixadores”, capazes de trazer notícias das mais variadas regiões. Os tecuhtli (militares) eram responsáveis pelas ações de defesa e ataque, ainda que trabalhassem também na terra. Já os macehualtin (povo) eram os grandes responsáveis pelos trabalhos contínuos na comunidade. Indícios apontam que a sociedade asteca poderia dividir certas funções no calpulli de acordo com as habilidades demonstradas e suas funções poderiam variar. Até mesmo as ações dos pochtecas não eram permanentes. Contudo, vale destacar que essa perspectiva não permite avaliá‑la como igualitária. Era uma sociedade de privilégios, mas talvez as diferenças não fossem tão grandes entre determinados grupos. O Estado poderia redistribuir produtos entre os calpulli de acordo com as necessidades. Os impostos eram cobrados em gêneros e, nesse sentido, obter os produtos requisitados pelo governo fortalecia o comércio. Para isso, feiras eram promovidas, o que facilitava as trocas para o pagamento do tributo compulsório. A importância dos pochtecas era crescente, já que em suas andanças acabavam por descobrir onde era possível encontrar cada tipo de produto e saber em quais regiões de trato mercantil procurar. 19 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL A organização agrária era baseada em três modalidades. A propriedade comunal, o calpulli, garantia a subsistência e o pagamento de impostos. A propriedade controlada pelos pipiltin, apesar de não ter um caráter privado, garantiria o sustento desse grupo. Por fim, as áreas reservadas para as obras públicas e tempos geravam um espaço importante. Figura 7 – Esse manuscrito espanhol procura demonstrar como se estabelecia a exploração na região do México O trabalho para as obras públicas era requisitado de maneira provisória, apesar de compulsório – era o cuatequil. Já o trabalho rural era dividido em quatro segmentos. Os calpuleque e os teccaleque eram membros do calpulli. Os primeiros trabalhavam para garantir seu sustento e o pagamento de seus impostos. Os segundos, em geral, podiam trabalhar também nas terras dos pipiltin, deixando ali o que produziam. Os arrendatários não pertenciam a nenhuma comunidade e trabalhavam em terras alheias aos calpulli; essa atividade era incomum e se constituía em alguma anomalia que poderia ser temporária por razões obscuras. De qualquer forma, tinham que pagar tributo pelo uso dessas terras. Por fim, os mayequetrabalhavam em qualquer tipo de terra como escravos e acabavam por serem mantidos, quase sempre, nessa condição. Eram, talvez, provenientes das guerras. 20 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I A força dos astecas foi crescendo na medida em que promoviam conquistas militares, o que permitia uma ampla extensão de domínio. O poder era dividido entre o imperador, comandante absoluto do exército, e a mulher‑serpente, um homem responsável pelas questões básicas de governo. Figura 8 – A figura de Atlantes ficava no topo da pirâmide em Tula e tinha 4,6 metros Suas artes envolviam a escrita pictórica (capaz de produzir desenhos) ou a hieroglífica (de símbolos). Mantiveram a herança cultural da região com a arquitetura e o urbanismo, promovendo a construção de pirâmides, palácios e transporte de água (como aquedutos enormes). Davam destaque principal para a arte plumária, vista como grande elemento de honra. Estavam em pleno esplendor quando os espanhóis chegaram à América. 1.4 Os incas Os incas se estabeleceram no Altiplano Andino e atingiram um amplo território. Eram, inicialmente, um povo nômade, mas logo passaram dessa situação à conquista, por ações militares, de povos vizinhos, até atingir um enorme desenvolvimento e uma população entre 3,5 e 7 milhões (talvez mais). O nome da civilização era dado pelo título do imperador: inca, filho do Sol; ele tinha como uma das atribuições mais importantes ser o mediador entre os deuses e os homens, ainda que, ao mesmo tempo, também fosse considerado um deus. Sua produção era condicionada pelas difíceis condições naturais. Basicamente, eram três regiões distintas. O litoral estreito, de planície desértica e árida, não encontrava população inca, justamente Leona Realce 21 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL por tais condições, mas, em alguns pontos específicos, era irrigada por rios. Já a serra andina era onde se localizava o império. Mesmo com áreas de até 4.000 metros e noites bastante frias, a agricultura foi muito bem planejada. Os incas construíam terraços capazes de deixar a região plana e de não sofrer com o risco da erosão. Tinham uma enorme variedade de produtos que se adaptavam bem à altitude. Dentre eles, com especial destaque, a batata. O milho, proveniente da Mesoamérica, teve um processo de difícil adaptação e pôde ser utilizado apenas nas regiões mais baixas. Dessa maneira, a região do império apresentava troca vertical de produtos, de acordo com sua altitude e produção. O guano, fezes de aves, era utilizado como fertilizante. A pecuária também era bastante significativa. As lhamas eram os principais animais domesticados. Havia ainda os guanacos, alpacas e vicunhas. Por fim, nessa área, a arquitetura foi toda produzida em pedra. O esplendor absolutamente magnífico foi criado pela necessidade de técnicas capazes de concluir tais tarefas, já que a madeira era rara na região e, por isso, de custo muito maior. Peru Pato Bravo Cobaia América Central América do Sul Lhama Alpaca Figura 9 – As áreas que, provavelmente, foram a origem dos principais animais domesticados na América A terceira região era a bacia do Amazonas. Ali a água era abundante, o que fazia a região ser a mais fértil. Na prática, contudo, a população que se localizava ali era de pequenos grupos que mantinham contato com o império. 22 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I De qualquer maneira, a terra foi a principal fonte de sobrevivência e todos tinham acesso a ela. As pessoas se estabeleciam a partir de comunidades residenciais denominadas ayllus, onde homens e mulheres trabalhavam em busca da subsistência. O líder de cada um dos ayllus era um kuraca, responsável pela administração, justiça e divisão do trabalho. Ele definia o pagamento do principal tributo: o trabalho compulsório ao Estado, denominado mita. Esse serviço era temporário, pessoal, desempenhado por homens adultos, para atividades de diversos tipos (minas, estradas, templos, cidades etc.). O Estado garantiria a manutenção econômica desse trabalhador com uma espécie de “salário”. Essa perspectiva gerava uma circulação constante de indígenas ao longo do império, conhecidos como mitayos. Todavia, ninguém poderia sair do seu ayllu sem autorização. Há de se ter em vista que a geografia vertical impedia a fácil locomoção, daí as estradas serem quase que o único meio de se transitar. Um dos benefícios de ser um kuraca era justamente não precisar pagar tributos, ou seja, não eram escolhidos para a mita. Havia ainda as terras do Inca, que eram desenvolvidas para a tripartição da produção: para o Inca (que tinha os yanas, trabalhadores perpétuos), para os panacas (dirigentes diretamente ligados à família do Inca) e para o Estado (com a finalidade de redistribuição em caso de necessidade). Por fim, as terras do Sol eram as reservadas para finalidades religiosas, onde mulheres trabalhavam de forma exclusiva para os cultos religiosos. A quantidade de terra aproveitável dependia muito de cada região. Contudo, havia um consenso de que cada ayllu não poderia ter menos do que o necessário para a sobrevivência. Outro tipo de trabalho significativo entre os incas era a atividade na estrutura têxtil. Dentro dos ayllus, geralmente, as mulheres, produziam roupas ou outros artigos com a lã proveniente da pecuária. Eventualmente, essa produção era cobrada em forma de tributo – o exército poderia necessitar de roupas e, então, o Estado fornecia os insumos e o ayllu a mão de obra. O comércio, muito raro, era realizado por trocas entre as comunidades. Não havia escrita, apesar do uso do quipo – uma forma de utilização de registro baseada em cordões que variavam sua estrutura de acordo com o nó produzido e repetido. O avanço de sua arquitetura e engenharia teve como obra mais admirável a construção de Machu Picchu. A cidade esplendorosa, em uma região de dificílimo acesso pela área montanhosa, distante mais de 80 quilômetros de Cuzco, só foi encontrada em 1911 pelo americano Hiram Bingham, apesar de, provavelmente, ser conhecida pela população local. De qualquer modo, é um fantástico sítio arqueológico praticamente intacto. As razões para a cidade ter sido desabitada são desconhecidas. Algumas das hipóteses levantadas são de que a cidade fosse reservada aos deuses, ou que fosse uma espécie de refúgio, mas que não chegou a ser utilizado com a chegada dos espanhóis. 23 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Figura 10 – As ruínas de Machu Picchu demonstram as características urbanísticas dos incas e também sua genialidade na engenharia 1.5 Os índios do Brasil Os indígenas do Brasil desfrutavam de uma natureza exuberante e conseguiam obter seus alimentos, basicamente, por meio da caça e da coleta. A diversidade e heterogeneidade também eram características importantes. Ao mesmo tempo, não deixaram grandes monumentos e não tinham qualquer sistema de escrita ou numeração. Uma alternativa de fonte de informações são as obras produzidas pelos europeus, mas, como já comentamos, eles não tinham preocupação científica com os relatos e praticamente só tiveram contato com os indígenas do litoral. Faltam fontes, mas boa parte dos estudos, atualmente, avança por meio de descobertas arqueológicas ou pelo contato com a antropologia. Essas áreas estudam a forma de vida de algumas tribos que praticamente se mantiveram isoladas, pelo menos do contato com o sistema estabelecido a partir dos portugueses. A classificação hoje mais aceita para os indígenas do Brasil é a divisão por grupo linguístico, ainda que não contemple as variáveis existentes. Os quatro principais grupos são os Tupis, Jês, Nuaruaques e Caraíbas. Valedestacar ainda que mesmo aquelas que menos se aproximam desses grupos são consideradas de seu grupo por certa semelhança. Contudo, há diversas tribos absolutamente isoladas e que impedem qualquer esforço de classificação. 24 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I Rio Am azona s Li nh a do T ra ta do d e To rd es ilh as Ocean o Pacífic o Ocean o Atlânt ico Tupi‑guarani Jê ou Tapuia Nuaruaque Caraíba Outras nações Figura 11 – Os grupos indígenas do Brasil As características razoavelmente comuns a todos esses grupos são a caça, pesca, coleta, agricultura rudimentar e a divisão de tarefas por sexo. Acredita‑se também que muitos estavam começando a desenvolver a cerâmica (apesar de outros já dominarem essa técnica). Os Tupis, predominantes no litoral, constantemente migravam e eram caracterizados por uma economia baseada pela caça, pesca, e uma agricultura rudimentar que privilegiava a mandioca, o milho e a batata. Poderiam se organizar em confederação, no caso de guerra ou para uma aliança temporária. Eram politeístas, produziam grandes rituais funerários, praticavam rituais antropofágicos e a recepção lacrimosa. Investiam, com habilidade, na pintura do corpo, da cerâmica, além da arte plumária. Os Jês eram bastante semelhantes às características dos Tupis. A diferença central era a preparação mais elaborada dos alimentos ao utilizarem o fogo para as carnes e a moenda para a produção de farinha. Por fim, utilizavam a pajelança como forma de ajudar os mortos e impedir qualquer avanço dos espíritos maus. Os Nuaruaques eram o grupo mais extenso da América, pois estavam presentes desde a América do Norte, Mesoamérica e América do Sul até o Paraguai. Sua marca mais central era a produção de uma cerâmica de enorme qualidade. 25 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Por fim, os Caraíbas eram bastante semelhantes aos Tupis e provavelmente formaram o primeiro tronco a ter contato com os europeus na época da chegada de Colombo. Figura 12 – Vaso de cerâmica típico indígena Figura 13 – Estatueta antropomorfa de cerâmica encontrada em Santarém, PA Figura 14 – Coroa da tribo Kaxinawa 26 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I Observação A heterogeneidade e a adaptação promovida por cada grupo indígena, de acordo com suas necessidades e formas de relacionamento, apenas revelam maneiras diferentes de vida e não representam inferioridade. 1.6 Os índios da América do Norte Também na América do Norte o quadro da população indígena é bastante heterogêneo. Em boa medida, diversas comunidades coexistiam e desenvolviam formas de sobrevivência. Em geral, a propriedade e o regime de trabalho eram coletivos. Estar integrado ao grupo era condição básica para a sobrevivência. A divisão de trabalho era baseada na idade e sexo. Cabia aos homens, em geral, a busca de alimentos, a preparação agrícola e a domesticação de animais, além, quando necessário, da defesa na guerra. Já as mulheres podiam cuidar da produção do solo, cozinhar e desenvolver atividades artesanais, como a tecelagem ou a cerâmica. A produção era, basicamente, de subsistência. Eventualmente, trocas de produtos poderiam ser feitas com outras tribos, em caso de necessidade de algum material específico. Nesse sentido, a característica geral dos índios dessa região, semelhante aos da Mesoamérica e da América Andina, era a sedentarização. As comunidades eram o elo de desenvolvimento baseado nas relações familiares. Em geral, a crença em um passado totêmico unia esses grupos. Aos poucos, grupos familiares poderiam ser integrados à comunidade por laços de casamento. O líder poderia ser hereditário ou eletivo, mas não tinha condições muito distintas do grupo – ao que parece, seria capaz, sobretudo, de manter a estrutura e o funcionamento da comunidade. A visão religiosa animista e politeísta também era vista por lá. Em grande medida, acreditavam que as forças existentes contribuíam para que as ações de sobrevivência fossem bem‑sucedidas. Figura 15 – Aldeias características dos índios da América do Norte 27 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Figura 16 – A presença do búfalo era bastante marcante na América do Norte Dentre os diversos grupos existentes, um dos mais conhecidos, em virtude de suas características peculiares e da manutenção de sua sobrevivência até os dias atuais, é o dos esquimós. Eles habitavam as regiões com um frio muito rigoroso e se adaptaram a essa situação. Caçavam focas, baleias e outros animais do hábitat e, assim, obtinham alimento e também materiais para a confecção de roupas e instrumentos de caça. A domesticação de cães se tornou bastante importante para o uso de transporte e para complementar as atividades de caça. Outro grupo de especial destaque, das tribos do deserto, são os pueblos, provenientes da cultura anasazi. Estavam inseridos no território entre os rios Colorado e Grande. Nessa perspectiva, aproveitando‑se da condição desses rios, promoveram um sistema de irrigação capaz de manter um significativo conjunto de habitantes, mesmo que em uma área desértica. Destacaram‑se ainda por uma arquitetura bastante complexa. A garantia de alimentos gerava também uma maior estratificação social e era o Conselho de Anciãos que tomava as principais decisões. Tinham grande conhecimento nas áreas de tecelagem e cerâmica. Figura 17 – Fabulosas ruínas deixadas pelos Pueblos na região do Chaco, EUA 28 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I Por fim, outros grupos importantes estavam relacionados à Grande Planície e à caça de búfalos. Outros ainda, como os iroqueses, próximos da região dos Apalaches, formavam diversas tribos que poderiam se unir em confederações no momento da guerra. Saiba mais Um dos melhores filmes para se problematizar a análise de povos indígenas é: APOCALYPTO. Direção: Mel Gibson. Estados Unidos: 2006. 139 minutos. 2 A EXPANSÃO MARÍTIMO‑COMERCIAL DA EUROPA Inserir a História da América no contexto europeu é tarefa fundamental para o historiador problematizar como se deu a formação dos elementos que estruturaram a dominação e que cristalizaram uma estrutura econômica voltada aos interesses de reis do “além‑mar”. Ao mesmo tempo, as relações de imposição cultural em torno do cristianismo sugerem forças que precisam ser problematizadas para a compreensão do impacto gigantesco da alteridade do olhar do outro. Algo inteiramente novo e de proporções inimagináveis se iniciava, algo irreversível e de expectativas inteiramente profundas. Os povos da América não foram capazes de resistir à investida violenta e destruidora do branco. Muitos simplesmente desapareceram nessa conquista. Outros foram subjugados. Outros ainda foram se amoldando aos novos padrões, hábitos e crenças, se miscigenando e criando realidades significativamente distintas, inclusive, diferentes até mesmo dos padrões europeus. Ou seja, houve a formação de algo inteiramente novo, ainda que com traços predominantes, em geral, do europeu conquistador. 2.1 As transformações econômicas Durante a Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XV, a Europa viveu a crise do sistema feudal e, concomitantemente, o início do capitalismo, ainda que em uma fase bastante incipiente. As Cruzadas, ao reabrirem o comércio do Mediterrâneo para os cristãos, geraram grande reativação das trocas de produtos, das atividades monetárias e ainda das próprias condições para a vida urbana. Novas rotas e novos produtos alcançavam a Europa cristã, então em contato com árabes. 29 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M árci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL O comércio Ocidente‑Oriente (do século IX ao XIII), monopólio de venezianos e genovesesOceano Atlântico Baleares Córsega Sardenha Rotas comerciais venezianas Rotas comerciais genovesas Túnis Marselha Gênova Veneza Pisa Amalfi Crimeia Constantinopla Tessalônica Corfu Cefalônia Zama Eubeia Esmirra Rodes Creta Chipre Antióquia Alexandria Tiro S. João d’Acre Jafa Sicília Europ a Mar Mediterrâneo Rio Drava Rio Tejo Rio Ebro Rio Danúbio Rio Nilo Mar Negro Figura 18 – O comércio do Mediterrâneo propiciou grande impulso das atividades mercantis para a Europa, com o monopólio das cidades italianas de Veneza e Gênova Os produtos considerados “especiarias” ganharam mercado na Europa. Eram fundamentalmente temperos, como cravo, canela, pimenta, ervas e outros diversos, mas também englobavam tecidos, cerâmicas ou ervas aromáticas e terapêuticas. De todas as especiarias existentes no Oriente e cobiçadas pelos europeus, nenhuma era mais importante e mais valiosa do que a pimenta. Hoje considerada mero condimento, a pimenta, nos séculos XVI e XVII, era artigo de fundamental importância na economia europeia. Como não havia condições de se alimentar o gado durante o rigoroso inverno da Europa setentrional, a quase totalidade dos rebanhos era abatida por volta do mês de novembro. O sal era usado para preservar a carne por vários meses, mas a pimenta e, em menor escala, o cravo, eram considerados imprescindíveis para tornar o sabor das conservas menos repulsivo. Na Europa, o preço da pimenta era altíssimo e na Índia os hindus só aceitavam trocá‑la por ouro (BUENO, 1998, p. 26). A rota central que se estabelece para as especiarias era proveniente do Mediterrâneo: as cidades italianas de Veneza e Gênova chegavam aos atravessadores do litoral asiático e traziam os cobiçados produtos para a Europa. No interior do continente asiático, havia grupos de mercadores pelo deserto que eram os intermediários entre os europeus e a região produtora propriamente. Como nos explica Hilário Franco Júnior, Veneza e Gênova dominaram esse mercado por causa das Cruzadas: As duas apoiaram a Primeira Cruzada em troca de privilégios comerciais nas regiões dominadas. Ali no Oriente Médio, obtinham os procurados 30 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I produtos de luxo orientais, que trocavam por mercadorias do Ocidente. Interessada em ampliar seus negócios, Veneza, graças a várias manobras políticas, conseguiu desviar a Quarta Cruzada para a conquista do Império Bizantino. Este temporariamente desapareceu (1204‑1261) e os venezianos se apossaram de territórios importantes. Neles conseguiam, além de produtos vindos do Extremo Oriente (especiarias, seda, perfumes), algumas matérias‑primas básicas para a indústria têxtil que se desenvolvia na Europa. Descontentes com o sucesso de sua rival, genoveses apoiaram os bizantinos contra Veneza e em troca consolidaram seu império colonial no mar Egeu e no mar Negro (FRANCO JÚNIOR, 1988, p. 53). Na prática, a dinamização também se dava pelo trato mercantil em outras rotas, sobretudo no Norte europeu com o controle nórdico – são as rotas de comércio do Mar do Norte (Hansa Teutônica), mas também pela famosa rota da região de Champagne. Feiras e trocas, monetárias ou não, se propagavam, gerando um impulso comercial bastante consistente e até mesmo uma atividade bancária: Não por acaso também, a atividade bancária nasceu na Itália. Era interesse de seus comerciantes enfrentar a diversidade de moedas, facilitando sua uniformização e, portanto, os negócios entre pessoas de diferentes regiões. Assim, alguns mercadores passaram a se dedicar ao câmbio (cambiare = trocar), ficando conhecidos por banqueiros, pois as diversas moedas a serem trocadas ficavam expostas em bancas, como outra mercadoria qualquer. Apenas num segundo momento, possivelmente no século XII em Gênova, os banqueiros ampliaram seu leque de atuação, aceitando depósitos reembolsáveis a qualquer momento, fazendo empréstimos, transferindo valores de clientes de uma cidade para outra. Para se atrair capitais, pagavam‑se juros sobre os depósitos. Para evitar aos clientes os inconvenientes de transporte de valores até importantes praças comerciais, desenvolveram‑se instrumentos de crédito, protótipos da letra de câmbio e da nota promissória (FRANCO JÚNIOR, 1988, p. 57). 31 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Figura 19 – As variadas rotas de comércio reativadas e desenvolvidas durante a Baixa Idade Média Contudo, já no século XIV, o sistema feudal europeu enfrentava significativos problemas. O crescimento demográfico visto durante a Baixa Idade Média não era uma situação possível, já que a produção era estática, autossuficiente e introvertida. Sendo assim, as Cruzadas eram uma alternativa para uma perspectiva de sobrevivência e expansão. No entanto, em certo aspecto, elas contribuíram para desarticular o sistema, na medida em que os senhores foram morrendo em terras longínquas e muitos dos servos criaram rebeliões – esse processo ficou evidente nesse século. As revoltas mais famosas foram as rebeliões camponesas na França, denominadas Jacqueries. A trilogia formada pela Guerra dos Cem Anos (1337‑1453), pela Peste Negra e pela fome generalizada acarretou uma queda da população e do sistema produtivo em proporções enormes. A Guerra dos Cem Anos envolveu questões políticas e econômicas. O rei inglês Eduardo III entendia ser o herdeiro do trono francês por ser neto, por parte da mãe, do rei Felipe, o Belo, da França. No entanto, nesse país, pela lei sálica, era proibida a sucessão do trono para mulheres ou para descendentes provenientes de sua linhagem. Ao mesmo tempo, havia grande interesse, para ambos os países, na região de Flandres (na atual área dos Países Baixos) para a produção de tecidos. A guerra se tornou extremamente dispendiosa e demorada, com várias incursões ao longo de mais de cem anos. A Peste Negra, por sua vez, revelava as péssimas condições higiênicas em que a população europeia vivia e, sobretudo, a total despreocupação com essa área. É bem razoável, desse modo, a praga que se estabeleceu, chegada do Oriente, e se disseminou rapidamente ao encontrar esse ambiente. Provavelmente, tratava‑se de uma peste bubônica que matou milhares e milhares que simplesmente desconheciam quais eram as causas da doença e quais as maneiras de se precaver. Nesse sentido, há diversos testemunhos de pessoas morrendo às centenas e mais centenas, noite e dia, em um clima absolutamente desolador. Famílias enterrando filhos, pais e mães – por vezes, 32 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I desaparecendo em uma velocidade impressionante. E o pior: não havia a mínima ideia científica das razões que faziam a epidemia se propagar. Por isso, os contemporâneos entendiam que se tratava do fim do mundo, do momento em que Deus estava castigando a humanidade por seus pecados. Se já não bastassem as mortes, o trauma religioso também foi bastante marcante. Figura 20 – A gravura ilustra a visão desoladora e aterrorizante da Peste Por fim, mas não menos importante, a propagação da fome era comum por qualquer mudança climática e pelas dificuldades impostas pelos problemas provenientes das guerras, rebeliões e da peste, desarticulando o sistema produtivo agrícola ainda razoavelmente estático e introvertido. É dessa maneira que a Expansão Marítima europeia, em seus aspectos econômicos, tem como grande viés a superação desse quadro crítico europeu, o que foi agravado pela queda de Constantinopla (1453), comprometendo o comércio existente no Mediterrâneo e gerando o declínio do vigor econômico das cidades italianas. Assim, boa parte dos experientesnavegadores dessa região ofereceram seus serviços para as coroas ibéricas. A perspectiva era encontrar novas formas de se atingir o lucrativo comércio do Oriente, sobretudo sem atravessadores, além de angariar metais preciosos para continuar a monetarizar a economia e promover o desenvolvimento comercial. 2.2 As transformações políticas No sistema feudal, a característica central é a descentralização política. Apesar de o rei manter um sentido de poder de direito, na prática, as necessidades que se impuseram pelas invasões bárbaras e pela crise do Império Romano, sobretudo após o reino dos francos, gerou‑se um sistema essencialmente de poder local. No entanto, as novas perspectivas vistas com o reflorescimento do comércio geravam novas necessidades políticas para a burguesia mercantil. Promover o controle do rei em todo o território 33 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL favoreceria uma necessidade fundamental: a padronização de pesos, medidas e moedas. Durante o período medieval, a cada feudo uma unidade diferente, além de impostos variados, eram encontrados pelo burguês. Era necessário garantir o fim de cobranças variadas e dispêndios com transições de valores que poderiam gerar perdas entre um território e outro. Nesse sentido, fortalecer a figura do rei, único capaz de promover a padronização de todo um amplo território, se tornava tarefa básica. A burguesia passava, então, a financiar o rei em sua empreitada. Pelos recursos provenientes de impostos, mecanismos de centralização passavam a ser colocados em prática: desde o uso da diplomacia, com alianças (tais como o casamento), até com, eventualmente, o uso da guerra. Assim, a nobreza, aos poucos, deixava de ser uma nobreza guerreira e se tornava cortesã, sustentada e mantida pela Coroa. Não se deve deixar de perceber que também era fundamental para o desenvolvimento comercial o rei ser o único capaz de direcionar os recursos de uma ampla região para os dispêndios enormes que uma empreitada como as Grandes Navegações gerava. E não havia nenhuma certeza do retorno de tais valores. Assim, era necessário ser capaz de mobilizar valores que seriam investidos na vastidão do Atlântico e sem a cobrança de um retorno imediato. Figura 21 – Os Estados Nacionais passaram a se desenvolver no início da época moderna. Tinham grandes relações com o desenvolvimento comercial e dinamizavam a vida. Na imagem, repare a representação de diversos grupos em torno do aglomerado urbano Ainda que em processos variados, é nesse momento que a Europa passa a viver a transição para a formação das Monarquias Nacionais – desenvolvimento central para as Grandes Navegações. Coloca‑se, então, um fator central para o pioneirismo ibérico: foram justamente Portugal e Espanha os países capazes de angariar condições de controle do rei para todo o território e, assim, fomentar as expedições rumo a novas rotas para o lucrativo comércio das Índias. No entanto, deve ter‑se claro quais são os limites desse desenvolvimento nacional. Como aponta José Mattoso ao pensar acerca da nacionalidade portuguesa: 34 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I A delimitação política e econômica é um elemento objetivo que distingue de todas as outras a comunidade humana nela inserida. Para esta comunidade constituir uma Nação é ainda preciso que os seus membros adquiram a consciência de formar uma coletividade tal que daí resultem direitos e deveres iguais para todos, e cujos caracteres eles assumam como expressão da sua própria identidade. Esta consciência forma‑se por um processo lento, que não envolve simultaneamente todos os sujeitos. Começa por eclodir em minorias capazes de conceber intelectualmente em que consiste propriamente a Nação; depois essa ideia vai se propagando lentamente a outros grupos, até atingir a maioria dos habitantes do País. [...] As guerras com Castela e a Revolução de 1383‑1385, ao trazerem as tropas estrangeiras a Portugal, evidenciam a diferença entre os Portugueses e os outros, isto é, aqueles que falavam outra língua, tinham outros costumes e se comportavam como inimigos. Cem anos depois, a expansão ultramarina coloca muitos portugueses em face de gente ainda mais estranha perante a qual eles se apresentam como irmanados pela vassalagem a um mesmo rei, sejam minhotos, alentejanos ou beirões. A sujeição à Espanha, no século seguinte, faz refletir sobre o que é ser português e o que é estar sujeito a uma administração não portuguesa, pela mesma época em que se pode ler nos Os lusíadas a epopeia mitificada de um povo capaz de chegar aos confins do mundo. E assim sucessivamente, até às exaltadas manifestações populares contra a Inglaterra por ocasião do Ultimatum de 1890, às comemorações nacionais dos vários centenários que fazem refletir nos feitos heroicos de outrora, às revoluções cuja vitória se atribui à participação popular, à propaganda ideológica nacionalista dos anos 30 a 60. Tudo isso vai consolidando e difundindo o conceito de Nação. É preciso não esquecer, porém, que só os cidadãos capazes de ler podiam conhecer Os lusíadas, e que só os que tinham feito o ensino primário podiam compreender o que era a história pátria e saber os direitos dos cidadãos. Ora a população analfabeta só em pleno século XX deixa de constituir mais da metade do povo português. É preciso, portanto, esperar até uma época bem recente para poder admitir uma efetiva difusão da consciência nacional em todas as camadas da população, e em todos os pontos do seu território (MATTOSO, 2000, p. 40). 2.3 As transformações culturais Os contatos com o Oriente e os valores do Renascimento promoviam uma articulação de estudos extremamente importantes e significativos. A valorização do homem e do conhecimento racional era promovida com a chegada do saber clássico, que estava em posse dos árabes e bizantinos e que vieram à tona com as Cruzadas. Nesse sentido, novos estudos são estabelecidos, como a astronomia, a cartografia e a matemática: 35 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL Por volta de 1330, com o uso da numeração árabe, começara em Portugal uma lenta revolução, chamada de aritmetização do real, que viria a ter importantes reflexos no desenvolvimento das mentalidades protomodernas. Tratando‑se de estruturas mentais marcadamente analíticas assumiram, desde o início, um protagonismo que não deixou pedra sobre pedra quanto ao que restava das heranças medievais; estes saberes passaram do estádio de pouco ou mais ou menos, a uma outra situação de saber, conhecida como sendo o da precisão, como lembrava Lucien Febvre (ALMEIDA, 2000, p. 110). Assim, instrumentos com tecnologia bastante significativa eram produzidos: bússolas, astrolábios, caravelas, naus e velas latinas. Esse aparato tecnológico era fundamental para a aventura do além‑mar. Enfrentar a enormidade de mares nunca antes navegados, a mentalidade de monstros e temores das adversidades, só se tornaria plausível com o mínimo de capacidades possíveis para a navegação prolongada e sua localização básica. Logo, o conhecimento que se adquire é absolutamente indispensável. Figura 22 – Representação típica do desenvolvimento dos estudos marítimos relacionados à instrumentalização e à astronomia 2.4 As transformações sociais Apesar de a sociedade feudal ser bastante enrijecida com seus valores estamentais e de ordens, o desenvolvimento do comércio permite um novo estilo de vida, que é baseado no lucro e na usura: a vida urbana da burguesia mercantil. Esse grupo é promovido em torno das novas condições e necessidades que se estabelecem entre a crise feudal e o início da modernidade. A perspectiva dos novos hábitos, com as especiarias, criava uma demanda que deixava os negócioscom razoável espaço na Europa cristã. Nesse sentido, um avanço importante poderia ser dado também para aqueles com “espírito aventureiro” – acreditar na possibilidade de outra forma de se viver e auferir lucros seria possível para marginalizados e desesperançados pela estrutura feudal. 36 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I Figura 23 – O quadro acima é a representação feita pelo pintor alemão Quentin Massys de um banqueiro e sua mulher. Repare que, além da preocupação com a moeda propriamente, há uma significativa perspectiva: a mulher o acompanha fazendo leitura O avanço do comércio e as novas condições políticas abrem as cortinas das possibilidades inteiramente novas de empreendimentos visando ao lucro das especiarias para a burguesia ou mesmo para aqueles com atividades bancárias, além de contar com outros elementos menos favorecidos, mas esperançosos de encontrar uma nova forma de viver por meio das Grandes Navegações, o que não seria possível na estrutura feudal. 2.5 As transformações religiosas Apesar de tradicionalmente as Cruzadas serem vistas como um movimento cristão apenas para a reconquista da Terra Santa (Jerusalém), elas fizeram parte de um desenvolvimento muito maior. A perspectiva da expansão era fundamental e tinha como grande objetivo o combate militar do infiel, quer fosse o muçulmano, quer fosse qualquer outro que estivesse distante dos ideais promovidos pela Igreja (como os albigeneses, na França). Dessa maneira, o “espírito cruzadista” permeou as ações também da Reconquista na Península Ibérica de uma maneira muito importante para começar o processo de um conceito de nação, conforme vimos anteriormente. É nesse sentido que esse ideal permaneceu durante as Grandes Navegações, inclusive quando houve o contato com outras regiões, como os muçulmanos do Norte da África. Esse ideal procurou ainda justificar todo o esforço de colonização europeia na América: era um dever do europeu promover a catequese dos ameríndios. 37 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL De qualquer maneira, também havia uma “mística” do imaginário medieval que fortalecia o espírito aventureiro misturado ao religioso. Como atesta Charles Boxer, a procura por um reino cristão chamado Preste João sempre estava presente nos relatos do período: Era um potentado mítico, em sua origem vagamente imaginado pelos europeus como soberano de um poderoso reino “nas Índias” – termo elástico e ambíguo que muitas vezes englobava a Etiópia e a África Oriental, bem como o que se conhecia como Ásia. [...] As versões mais extravagantes da lenda de Preste João, como, por exemplo, a afirmação de que comiam à sua mesa, feita de esmeraldas, mais de 30 mil pessoas, entre as quais doze arcebispos que se sentavam à sua direita e vinte bispos, à esquerda, parecem não ter circulado tanto em Portugal como em outros países europeus. Porém em Portugal, como em outros lugares, acreditava‑se, com efeito, que esse misterioso rei‑sacerdote, quando definitivamente localizado, seria um aliado inestimável contra os muçulmanos, fossem eles turcos, egípcios, árabes ou mouros. Quanto aos portugueses, esperavam encontrar Preste João numa região africana, onde ele poderia ajudá‑los a lutar contra os mouros (BOXER, 2002, p. 35‑36). A luta religiosa justificava ambições econômicas e sociais em torno de um imaginário que carregava perspectivas medievais com outras de desenvolvimento tecnológico e valores renascentistas baseados na razão. Vale destacar que a grande obra de circulação e, quase única, acerca do mundo do Oriente, era a obra de Marco Polo. É no bojo dessa visão repleta de contradições e limites feitos por todo homem em qualquer que seja seu período histórico que é preciso compreender as características das ações das Grandes Navegações e a adoção de um sistema de colonização capaz de se estabelecer, com razoável manutenção, por três séculos. 3 AS GRANDES NAVEGAÇÕES A partir das condições geradas pela crise do sistema feudal e pelas necessidades econômicas que se estabeleciam pelo início do capitalismo, ainda que sem ser o sistema predominante, mas na montagem da estrutura mercantilista, a figura do rei, capaz de unificar politicamente e direcionar os recursos de uma ampla gama de territórios, se junta aos interesses mercantis da burguesia em ascensão. Essa união financiou as viagens de longa distância em busca de novas rotas para as especiarias e novas fontes de metais preciosos. Ao mesmo tempo, os avanços culturais propiciaram os meios tecnológicos capazes de tais ousadias e desafios. Por fim, o espírito cruzadista justificou a ação, encabeçado pela continuidade da propagação do cristianismo católico e o combate ao infiel. 3.1 Ciclo Oriental – pioneirismo português A primeira questão que se estabelece após entender as razões que motivaram os europeus é compreender como os portugueses acabaram por reunir todas as condições necessárias para se tornarem os pioneiros nas Grandes Navegações. 38 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I É fundamental, inicialmente, fazer menção a sua posição geográfica privilegiada. Estar diretamente ligado ao oceano facilitava a logística de toda a empreitada e, ao mesmo tempo, impedia problemas diretos com outros países para qualquer deslocamento no Atlântico, além de trazer uma tradição naval‑mercantil bastante importante, como atesta Vitorino Magalhães Godinho: Logo que Portugal se tornou num reino independente, já os Portugueses aparecem nas feiras de Tessalónica, e ainda antes do final do século mercadores portugueses frequentam Marselha e Montpellier. Ao longo do século XIV, navios portugueses carregam trigo nos celeiros mediterrâneos – seis deles são sequestrados em Barcelona em 1333 –, barcas de Lisboa, Setúbal e Aveiro transportam sardinha e outro pescado para o Levante hispânico, provavelmente em troca de dobras de ouro. Mas é talvez com Maghrebe que as relações comerciais são mais intensas, e o sistema monetário português alinha‑se pelo sistema monetário norte‑africano. [...] Os principais vetores da presença portuguesa nas águas do Estreito até Tunes e Génova são, no entanto, o corso e a angariação de fretes (GODINHO, 1990, p. 192). Nessa perspectiva, torna‑se interessante perceber como vai se ampliando a força da burguesia empreendedora, capaz de gerar uma aliança com o monarca, existente precocemente desde a Revolução de Avis (1383‑85), que colocou no poder D. João I. Ao mesmo tempo, os estudos náuticos ganham força. O contato comercial constante incrementa as técnicas utilizadas e fomenta o avanço, inclusive pela facilidade de contato com os árabes. É por isso que se tornou tarefa significativa os estudos para a tradução dessas importantes fontes de estudos das obras clássicas. A caravela é um dos exemplos mais significativos desse desenvolvimento. Era rápida, com boa capacidade de carga, o que, inclusive, foi incrementado em pouco tempo – e ainda era capaz de se manter em uma boa batalha. Fora ela, várias outras embarcações foram promovidas ao longo das atividades navais dos séculos XIV e XVI. É preciso destacar que não foram os portugueses, ou seus rivais espanhóis, os grandes e únicos aventureiros rumo aos grandes oceanos. Contudo, a grande questão que se estabelece é que os ibéricos se tornaram os responsáveis por alterar completamente a história mundial com seus empreendimentos e com a organização de um sistema de exploração capaz de promover uma integração e contatos nunca antes vistos ou mantidos. É o que atesta Charles Boxer: Os portugueses e os espanhóis tiveram precursores (mais ou menos isolados) na conquista dos oceanos Atlântico e Pacífico, mas os esforços desses aventureiros notáveis não alteraram o curso da história do mundo. Foramencontradas moedas cartaginesas do século IV a. C. nos Açores, 39 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL bem como moedas romanas de datas posteriores na Venezuela, em circunstâncias que sugerem a possibilidade de terem sido levadas por barcos arrastados por tempestades na era clássica; porém, se assim foi, não há nada que nos garanta que esses barcos um dia regressaram à Europa com as notícias. Os vikings viajaram da Noruega e da Islândia para a América do Norte algumas vezes na Baixa Idade Média, mas suas últimas colônias, abandonadas na Groelândia, sucumbiram aos rigores do clima e aos ataques dos esquimós antes do final do século XV. Algumas galerias italianas e catalãs, do Mediterrâneo, aventuraram‑se com ousadia em viagens de descobrimento no Atlântico, nos séculos XIII e XIV. Contudo, embora seja provável que tivessem avistado algumas das ilhas do Açores e da Madeira, e por certo redescoberto as Canárias (as ilhas Afortunadas dos geógrafos romanos), tais viagens não tiveram prosseguimento sistemático. Permaneceu apenas a vaga lembrança dos irmãos Vivaldi, genoveses que partiram em 1291 com a firme intenção de contornar o sul da África e alcançar a Índia por mar, mas desapareceram depois de passar o cabo Não, na costa marroquina. De igual modo, ainda que juncos chineses ou japoneses levados por tempestades ocasionais possam ter involuntariamente alcançado a América, e apesar de os “argonautas do Pacífico”, polinésios do Havaí, terem colonizado ilhas tão longínquas como a Nova Zelândia, tais feitos não alteraram o isolamento básico em que a América e a Austrália continuaram em relação aos outros continentes (BOXER, 2002, p. 31‑32). O grande marco inicial do avanço português foi a tomada de Ceuta, em 1415. A cidade era um ponto fundamental para o controle do estreito de Gibraltar e para as relações entre o Mediterrâneo e o Atlântico. Muitas caravanas convergiam para esse local, o que promovia lucros constantes para essa primeira conquista. Apesar da vitória, da manutenção da presença portuguesa e da obtenção de informações do território a desbravar, as questões econômicas se tornaram infrutíferas nessa cidade, já que os árabes conseguiram realocar o comércio para outro polo. De qualquer maneira, a partir daí, os portugueses decidem‑se pela perspectiva da expansão a partir do chamado Périplo Africano, ou seja, o contorno do litoral desse continente, ainda que absolutamente desconhecessem a extensão da rota que pretendiam seguir. 40 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I América do Norte S. Salvador Espanha Calicute Lisboa América do Sul AustráliaOceano Atlântico Oceano Índico Europa Ásia África (1) (4) (5) (3) (2) (6) (9) (7) (8) (10) (1) Ceuta (1415) (2) Arquipélago da Madeira (1419) (3) Arquipélago dos Açores (1431) (4) Cabo Bojador (1434) (5) Cabo Branco (1445) (6) Arquipélago de Cabo Verde (1445) (7) Cabo da Boa Esperança (1488) (8) Calicute (1498) (9) Baía Cabrália (1500) (10) Japão (1517) Figura 24 – A extensão das Grandes Navegações portuguesas atingindo o Japão em 1517 A partir de Ceuta, os portugueses mantiveram navegação por cabotagem – através do litoral –, o que garantia segurança e um fácil avanço. Um importante marco desse avanço foi a chegada às chamadas Ilhas Atlânticas (Madeira e Açores), que propiciaram a primeira investida na tentativa de um sistema de colonização capaz de gerar lucro para a Coroa: ali foram implantadas capitanias hereditárias e a produção de cana de açúcar. Outro marco significativo foi atravessar o Cabo Bojador (1434), repleto de histórias de medo e da mística medieval. Temos, então, justificadas as palavras famosas do poeta Fernando Pessoa, ao glorificar o passado português: Mar Português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fonte: Pessoa (1934). 41 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL A partir daí, os portugueses marcam sua presença em diversas regiões, como o Golfo da Guiné (1452) e o sul da África (1482). Nesse momento, os portugueses já estavam atuando com certo comércio e, especialmente, com o tráfico negreiro. O contato já era bastante acentuado com diversos grupos do continente. No entanto, uma grande dificuldade se estabelece: contornar o Cabo das Tormentas, último grande ponto do litoral atlântico. A navegação de cabotagem já não era possível pelos ventos e correntes de água contrários que se estabeleciam (hoje sabemos que essa situação na região é ocasionada pela corrente de Benguela, que passa por ali). Dessa maneira, a viagem de Bartolomeu Dias, em 1488, foi um marco extremamente importante – a decisão de ir para o interior do Atlântico e só depois retornar, na esperança de que as águas mar adentro fossem menos agitadas. Este foi o ponto em que os portugueses precisaram confiar absolutamente em seus instrumentos e técnicas de navegação. Na verdade, Bartolomeu Dias acreditava no mesmo fenômeno que se via na parte Norte do Atlântico, na região portuguesa, como explica Luís Adão da Fonseca: O que está aqui em causa é a hipótese de que, no Atlântico meridional, aconteça o mesmo que na costa portuguesa, onde o vento norte, que sopra com força ao longo da costa, enfraquece no interior do oceano. Ou seja, ao admitir que, em matéria de regime de ventos, o Atlântico sul funciona como o do norte, mas ao contrário, Bartolomeu Dias revela que perspectiva o oceano como um espaço unitário, de norte a sul, com um funcionamento de tipo mecânico. É a ruptura total com a visão tradicional. Ou seja, abre‑se a porta para a delimitação futura da rota do Índico (FONSECA, 2001, p. 16). A partir daí, o contorno do litoral africano é muito mais rápido: bastam dez anos para a expedição de Vasco da Gama (1498) alcançar as Índias. Finalmente, os portugueses conseguem obter uma nova rota para os cobiçados produtos do Oriente. Há de se destacar, mais uma vez, que os dispêndios para cada uma dessas viagens eram gigantescos. A empreitada de Vasco da Gama demorou mais de dois anos para ir e retornar, mas seu pioneirismo gerou lucros enormes para a Coroa. Em 1500, Pedro Álvares Cabral partiu para as Índias com a ordem de garantir o empreendimento português no Oriente, procurando estabelecer o “Império Português”. Nessa viagem, temos o relato oficial da “descoberta” do Brasil. Ainda que a documentação seja pouco esclarecedora, há de se ter em vista que uma das justificativas que nos parece mais plausível a respeito da certeza da presença de terras no outro lado do Atlântico foi a travessia alcançar léguas além do Cabo Verde e a disputa diplomática portuguesa pelo Tratado Tordesilhas (1494), como veremos. Entendemos que garantir uma porção de terra nesse local seria bastante importante para a manutenção do controle da rota recém‑alcançada, mesmo que estejamos apenas defendendo uma hipótese. Na prática, é apenas por volta de 1515, com D. Afonso de Albuquerque, que os portugueses conseguem várias vitórias militares nas Índias, capazes de assegurar a formação do Império Luso do Oriente, além do apoio obtido pela diplomacia e ação dos missionários. 42 Re vi sã o: C ar la e G io va nn a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /0 2/ 20 14 Unidade I A seguir, os empreendimentos portugueses alcançam até mesmo o extremo Oriente. Marco significativo desse avanço foi o contato com os japoneses em 1517. No entanto, ainda que os planos portugueses
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