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Apostila de Filosofia ensino Médio

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Prévia do material em texto

Professor João Carlos Pharaoh 
 
 
 
APOSTILA DE FILOSOFIA 
1º ANO 
 
CONTEÚDO: 
I. APRENDENDO FILOSOFIA 
II. AS RELIGIÕES E O SAGRADO 
III. CIÊNCIA E PROGRESSO 
 
 
 
1 
 
I. APRENDENDO FILOSOFIA 
 
Provavelmente muitos de vocês nunca estudaram filosofia ou leram o livro de algum filósofo. Desse modo, 
ao ficarem sabendo que estudariam filosofia no ensino médio devem ter se perguntado: O que é filosofia? O 
que nós vamos estudar em filosofia? Alguns podem estar curiosos e outros preocupados. 
 
Antes de respondermos essas perguntas é importante fazermos algumas uma observações: para estudar 
filosofia é preciso uma dedicação a leitura, pois na nossa disciplina nosso principal material de trabalho 
serão os TEXTOS. Utilizaremos tanto os textos clássicos escritos pelos filósofos como textos de revistas e 
jornais que nos auxiliem a estudar determinados problemas filosóficos. 
 
Para começarmos a entender o que é a filosofia e o que os filósofos estudam vamos observar o afresco do 
pintor renascentista Rafael: 
 
 
 
 
 
Essa pintura de Rafael tem o nome de Filosofia. 
Vemos primeiramente no afresco uma mulher que 
representa a filosofia segurando dois livros. Na 
mão esquerda ela tem um livro sobre “Moral” já 
na mão direita um livro sobre a “Natureza”. Esses 
dois livros segurados pela mulher da pintura nos 
ajudam a compreender “o quê” a filosofia estuda. 
A filosofia surgiu primeiramente como uma 
investigação da Natureza, ou seja, tudo aquilo que 
não é produzido pelo ser humano, tal como o 
movimento dos astros, a cheia dos rios, a mudança das 
2 
 
estações. Posteriormente a filosofia passou a se interessar pelo estudo do próprio ser humano e pelas coisas 
que só existem porque foram produzidas pelos seres humanos. O livro sobre “Moral” que a mulher da 
pintura segura representa o conhecimento dessas “coisas” que são produzidas pelo homem. Se pensarmos, 
por exemplo, nas noções de bem e mal, veremos que elas só existem onde existe o ser humano, elas não se 
encontram na natureza entre os animais ditos irracionais, os vegetais ou os minerais. É importante levarmos 
em consideração que a moral não é a única coisa produzida pelos seres humanos que a filosofia estuda. Os 
filósofos também se dedicam ao estudo das ciências e das tecnologias, da política, da arte, das religiões. 
Tudo isso foi produzido pela humanidade, de modo que ao conhecermos essas coisas conhecemos melhor o 
próprio ser humano. Sócrates, o mais famoso filósofo da Grécia Antiga, ao se consultar no oráculo da cidade 
de Delfos ouviu o seguinte: “Conhece-te a ti mesmo!” Sócrates não foi para casa e ficou sozinho tentando 
conhecer quem era ele, muito pelo contrário, o filósofo passou a perambular pelas ruas de Atenas debatendo 
com as pessoas sobre política, ciência, arte, religião e moral. O que Sócrates nos ensina é que investigar 
aquilo que foi produzido pela humanidade é a melhor forma dos seres humanos conhecerem o que eles são. 
 
Já sabemos então o que os filósofos estudam: 1) a natureza, ou seja, as coisas que não foram produzidas 
pelos seres humanos; 2) o ser humano e tudo que é produzido por ele, isto é, a moral, a política, as religiões, 
as leis, a arte, a ciência, a tecnologia. Vemos que os filósofos estudam muitas coisas e muitas coisas que eles 
estudam também são estudadas por outros profissionais como o biólogo, o físico, o químico, o sociólogo, o 
economista, o psicólogo ou o historiador. Mas o que o filósofo faz de diferente? O que distingue a filosofia 
de outras formas de conhecimento? Para entendermos isso voltemos a observar a pintura de Rafael. 
 
Na pintura de Rafael ao lado da mulher que simboliza a filosofia há dois querubins. Eles carregam duas 
placas com a inscrição em latim Causarum Cognitio, que significa “Conheça através da causas”. Rafael 
pretende com essa imagem fazer uma alusão ao filósofo grego Aristóteles. Foi Aristóteles que afirmou que a 
filosofia é o conhecimento das causas primeiras. Sendo assim, a filosofia aborda aqueles temas que 
descrevemos acima buscando compreender suas causas. A filosofia aborda esses temas fazendo as seguintes 
perguntas: "Por quê?", "Como?", "Para quê?" e "De que é feito?". Isso é que distingue a filosofia de outras 
formas de conhecimento, uma busca incessante das causas primeiras. 
 
Calma, calma, calma! Talvez essa história de causas primeiras ainda não esteja clara para vocês. Vamos 
entender isso melhor já, já. 
 
1. O CONHECIMENTO DAS CAUSAS PRIMEIRAS 
 
Segundo Aristóteles a filosofia é o conhecimento das causas primeiras. Mas o quê esse filósofo grego queria 
dizer com isso? Quais são essas causas primeiras? Antes de começarmos a entender isso é importante 
sabermos que Aristóteles enumera quatro causas diferentes: causa material, causa formal, causa eficiente e 
causa final. As histórias em quadrinhos abaixo vão nos ajudar a compreender quais são essas causas que a 
filosofia busca conhecer. Vejamos o primeiro quadrinho: 
 
 
3 
 
Acima temos o quadrinho da Mafalda desenhado pelo cartunista argentino Quino. No quadrinho temos a 
personagem Mafalda com seu amigo Miguelito. Nesse quadrinho temos um bom exemplo disso que 
Aristóteles chama de causa material. Para Aristóteles a causa material diz respeito às menores partes ou os 
materiais de que algo é feito. O filósofo que busca conhecer a causa material de algo faz a seguinte pergunta: 
de quê é feito isto? No quadrinho o personagem Miguelito, graças a sua imaginação infantil, supõe que o 
mar é feito de sopa, ou seja, ele acredita que a causa material do oceano é a sopa, a sopa é o material de que 
é feito o mar. Mafalda por não gostar muito de sopa não se sente muito bem com a especulação de seu 
amiguinho. 
 
O próximo quadrinho da Mafalda vai nos ajudar a entender o que Aristóteles chama de causa formal. 
 
 
 
No quadrinho acima Mafalda olhando o dicionário descobre a definição, o conceito de democracia que é: 
um governo em o poder político é exercido pelo povo. Aristóteles chama de causa formal uma definição, 
um conceito que serve de modelo para alguma coisa. Por exemplo, um carpinteiro ao construir uma cadeira 
terá em mente o conceito de cadeira, isto é, a ideia de uma peça mobiliária utilizada para se sentar com 
quatro pernas e um encosto para as costas. Essa noção é a causa formal e ela servirá de modelo para o 
carpinteiro. Podemos pensar outro exemplo a partir do quadrinho da Mafalda. A ideia de “um governo em 
que o povo exerce o poder” é o modelo, a causa formal de um país que queira ser democrático. Mafalda 
parece não achar possível que esse tipo de modelo possa ser realizado, tanto é que ela passa o dia inteiro 
rindo depois de conhecer o conceito de democracia. Ao investigar a causa formal os filósofos perguntam: 
como é? o quê define isto? 
 
O conceito de causa eficiente será explicado com a ajuda do próximo quadrinho: 
 
 
 
Nesse quadrinho vemos Mafalda, seu amigo Filipe e seu irmão Guile. O irmão de Mafalda pergunta se o 
calor é culpa do governo. Guile acha que foi o governo que deu início, que provocou o aparecimento do 
calor. O garotinho pergunta isso provavelmente porque ele sempre escutou os adultos falando que uma coisa 
ruim é sempre culpa do governo. O que Aristóteles chama de causa eficiente é aquilo que dá início, aquilo 
4 
 
que faz algo surgir. O personagem Guile acha que o governo é causa eficiente do calor, já que ele acha que 
foi o governo que começou o calor. Ao investigar a causa eficiente os filósofos perguntam: o que fez 
começar algo? o quê deu início a uma ação? Vejamos outro exemplo. O filósofo francês Jean-Jaques 
Rousseau buscou compreender como surge a desigualdade entre os homens. Por que uns tem poder e outros 
não? Por que uns são ricos e outros pobres? Por que uns mandam e outros obedecem? Para Rousseau a 
desigualdade surge com o aparecimento da propriedade privada. Para ele antes os homens tinham tudo emcomum, todas as coisas pertenciam a todos. A partir do momento que algum homem cerca a terra e fala isso 
é meu e não seu, surge a propriedade privada, e com isso a desigualdade. Ou seja, podemos dizer que para 
Rousseau a propriedade privada é a causa eficiente da desigualdade entre os homens, pois é ela que faz 
surgir a desigualdade. 
 
Por último temos agora a causa final. Vejamos o último quadrinho da Mafalda. 
 
 
 
Neste quadrinho a personagem Mafalda se surpreende com os operários furando, martelando e batendo em 
uma rua. Com sua inocência infantil Mafalda quer saber qual o objetivo dos operários, qual é a finalidade 
dessas atividades praticadas por ele. Por isso ela pergunta se os operários estão querendo que a rua confesse 
algo. No entendimento da garotinha os operários parecem estar torturando a rua. Aristóteles chama de causa 
final aquilo que é o objetivo aquilo que é a finalidade de alguma coisa ou alguma ação. Para Mafalda a 
causa final dos operários é fazer com que a rua confesse algo. Quando os filósofos investigam a causa final 
eles perguntam: Para quê é isso? Para quê se faz isso? Assim, um filósofo que estuda a política pode querer 
investigar “para quê os homens criam leis?” 
 
Se as quatro causas que os filósofos buscam explicar ainda não estão claras para vocês, vejam os quadrinhos 
abaixo em que Aristóteles as explicam junto com seu aluno Alexandre Magno, que posteriormente se tornou 
Alexandre “o grande”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
ATIVIDADES 
 
1. Construa uma tabela explicando as quatro causas que a filosofia estuda. Na tabela deve conter o 
nome das causas, a definição de cada uma delas, um exemplo de cada e a pergunta feita quando se 
busca compreendê-las. 
 
2. Encontrando as quatro causas nos textos: Leia os textos abaixo buscando identificar uma das 
quatro causas descritas por Aristóteles. Depois de ler você deve indicar: qual é o tipo da causa 
(material, formal, eficiente e final)? o quê é a causa? A causa é causa de quê? Vejam os dois exemplos 
abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A) “A alma é corpórea, composta de partículas sutis, difusa por toda a estrutura corporal [...]”. (Antologia de 
textos. Epicuro) 
 
B) “[...] a união entre o homem e a mulher tem por fim não somente a procriação, mas a perpetuação da 
espécie [...]”. (Segundo tratado sobre o governo civil. John Locke) 
 
C) “O governo do estado moderno não é se não um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe 
burguesa”. (Manifesto do partido comunista. Karl Marx) 
D) “O único objetivo do Estado é proteger os indivíduos uns dos outros e todos juntos de inimigos 
externos”. (A arte de insultar. Arthur Schopenhauer) 
 
E) “A verdadeira e legítima meta das ciências é a de dotar a vida humana de novos inventos e recursos”. 
(Novum Organum. Francis Bacon) 
 
F) “Disfunções do cérebro explicam atitudes violentas” (Notícia. Site Terra) 
 
EXEMPLOS: 
“[...] a origem de todas as sociedades, grandes e duradouras, não é a boa vontade mútua que os homens 
têm entre si, mas sim o medo mútuo que nutriam uns pelos outros”. (Do Cidadão. Thomas Hobbes) 
 
Tipo de causa: causa eficiente 
O que é a causa? O medo mútuo entre os homens 
A causa é causa de quê? Todas as sociedades grandes e duradouras 
 
Esse texto trata da causa eficiente. Ele mostra que a causa eficiente de todas as grandes sociedades é o 
medo mútuo entre os homens, ou seja, o que faz surgir as grandes sociedades é o medo mútuo entre os 
homens. 
 
“A Cidade é uma sociedade estabelecida, com casas e famílias, para viver bem, isto é, para se levar uma 
vida perfeita e que se baste a si mesma”. (Política. Aristóteles) 
 
Tipo de causa: causa final 
O que é a causa? Viver bem, levar uma vida perfeita 
A causa é causa de quê? A Cidade 
 
Esse texto trata da causa final. Ele mostra que o bem viver é a causa final da Cidade, ou seja, a 
finalidade da Cidade é proporcionar um bem viver para as pessoas. 
 
 
6 
 
3. Os quadrinhos abaixo são da tira “Calvin e Hobbes” (traduzido como Calvin e Haroldo) do 
cartunista Bill Watterson. Calvin, o garotinho dos quadrinhos, é uma criança bem curiosa, ele está o 
tempo todo fazendo perguntas que envolvem as quatro causas descritas por Aristóteles. Procure 
identificar nas histórias abaixo quais causas Calvin investiga, justifique suas respostas. 
 
A) 
 B) 
 
2. A EXPLICAÇÃO MITOLÓGICA DO MUNDO 
 
A filosofia surge por volta do século VII a.C na Grécia Antiga. Havia outra forma de explicação do mundo 
antes do surgimento da filosofia, a explicação por meio da mitologia. A mitologia é o conjunto de mitos de 
um determinado povo. Mas afinal, o quê é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma 
coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do 
bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do 
poder, etc.). 
 
O Mito (Mythos) é narrado pelo poeta-rapsodo, que escolhido pelos deuses transmitia o testemunho 
incontestável sobre a origem de todas as coisas, oriundas da relação sexual entre os deuses, gerando assim, 
tudo que existe e que existiu. Os mitos também narram o duelo entre as forças divinas que interferiam 
diretamente na vida dos homens, em suas guerras e no seu dia-a-dia, bem como explicava a origem dos 
castigos e dos males do mundo. Ou seja, a narrativa mítica é uma genealogia da origem das coisas a partir de 
lutas e alianças entre as forças que regem o universo. Por exemplo, o poeta Homero, na Ilíada, obra que 
narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a 
vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. 
A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos 
7 
 
lados - ou os troianos ou os gregos - vencer uma batalha. A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre 
as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu 
a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do 
general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
- O texto abaixo do filósofo Mircea Eliade trata dos mitos. Leia, interprete e responda as questões. 
 
O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do 
Tempo, desde o início. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens 
do mito não são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. Por esta razão seus feitos constituem 
mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhe fossem revelados. O mito é pois a história do que se 
passou em tempos idos, a narração daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. 
“Dizer” um mito é proclamar o que se passou desde o princípio. Uma vez “dito”, quer dizer, revelado, o 
mito torna-se verdade apodítica1: funda a verdade absoluta. “É assim porque foi dito que é assim”, declaram 
os esquimós netsilik a fim de justificar a validade de sua história sagrada e suas tradições religiosas. O mito 
proclama a aparição de uma nova “situação” cósmica ou de um acontecimento primordial. 
 
[...] Cada mito mostra como uma realidade veio à existência, seja ela a realidade total, o Cosmos, ou apenas 
um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, uma instituição humana. Narrando como vieram à existência 
as coisas, o homens explica as e responde indiretamente a uma outra questão: por que elas vieramà 
existência? O “por que” insere se sempre no “como”. E isto pela simples razão de que, ao se contar Como 
uma coisa nasceu, revela se a irrupção do sagrado no mundo, causa última de toda existência real. 
 
[...] A função mais importante do mito é, pois, “fixar” os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as 
atividades humanas significativas: alimentação, sexualidade, trabalho, educação etc. Comportando se como 
ser humano plenamente responsável, o homem imita os gestos exemplares dos deuses, repete as ações deles, 
quer se trate de uma simples função fisiológica, como a alimentação, quer de uma atividade social, 
econômica, cultural, militar etc. 
 
[...] Na Nova Guiné, numerosos mitos falam de longas viagens pelo mar, fornecendo assim “modelos aos 
navegadores atuais”, bem como modelos para todas as outras atividades, “quer se trate de amor, de guerra, 
de pesca, de produção de chuva, ou do que for... A narração fornece precedentes para os diferentes 
momentos da construção de um barco, para os tabus sexuais que ela implica etc.” Um capitão, quando sai 
para o mar, personifica o herói mítico2 Aori. “Veste os trajes que Aori usava, segundo o mito; tem como ele 
o rosto enegrecido e, nos cabelos, um love semelhante àquele que Aori retirou da cabeça de Iviri. Dança 
sobre a plataforma e abre os braços como Aori abria suas asas”. 
 
[...] A repetição fiel dos modelos divinos tem um resultado duplo: (1) por um lado, ao imitar os deuses, o 
homem mantém-se no sagrado e, conseqüentemente, na realidade; (2) por outro lado, graças à reatualização 
ininterrupta dos gestos divinos exemplares, o mundo é santificado. O comportamento religioso dos homens 
contribui para manter a santidade do mundo (Mircea Eliade. O sagrado e o profano). 
 
1 Apodítica: indiscutível; que não pode ser contestado. 
2 Mítico: relativo ao mito. 
 
1. O que é o mito? O que é narrado no mito? 
2. De acordo com o texto, qual a função mais importante do mito? 
3. O mito precisa ser comprovado cientificamente para ser aceito? Justifique sua resposta. 
 
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ESTUDO DIRIGIDO 
 
-Leia o texto abaixo do filósofo Mircea Eliade. Em seguida responda as questões. 
 
MITOS SOBRE A ORIGEM DA MORTE 
 
[...] Para as culturas tradicionais, a existência da morte como fato existencial é atribuído a um acidente 
infeliz que ocorreu nos primórdios da humanidade. Os ancestrais míticos1 desconheciam a morte, tudo foi 
conseqüência de um acaso ocorrido ainda nos tempos primordiais. Quando é dado ao homem o 
conhecimento desse primeiro fato, ele compreende a razão de sua própria morte. Quaisquer que sejam as 
variações dos detalhes dessa primeira morte, o próprio mito basta para explicar o fato em si. 
 
Como é bem sabido, poucos mitos explicam a existência da morte como conseqüência de uma transgressão2 
pelo homem de um mandamento divino. São um pouco mais comuns os mitos que atribuem a mortalidade a 
um ato cruel e arbitrário de um ser demoníaco. Essa é a explicação encontrada, por exemplo, entre as tribos 
australianas e em mitologias de povos da Ásia, Sibéria e América do Norte. De acordo com essas mitologias, 
a morte foi introduzida no mundo por um adversário do Criador. As sociedades arcaicas, ao contrário, 
explicam a morte como um acidente absurdo e/ou conseqüência de uma opção tola feita pelos ancestrais 
míticos. O leitor pode lembrar-se das numerosas histórias do tipo dos "Dois Mensageiros" ou "O Recado que 
Não Chegou", comuns principalmente na África. Segundo essas histórias, Deus enviou o camaleão aos 
ancestrais, com o recado de que eles seriam imortais, e enviou o lagarto, com a mensagem de que morreriam. 
Porém, o camaleão parou para descansar no meio do caminho e o lagarto chegou primeiro. Assim que ele 
entregaou sua mensagem, a morte entrou no mundo. 
 
[...] Na realidade, a passagem do ser para o não-ser é tão desalentadoramente3 incompreensível que se aceita 
melhor uma explicação ridícula porque é ridiculamente absurda. É óbvio que tais mitos pressupõem uma 
concepção teológica do Verbo: Deus simplesmente não poderia mudar seu veredicto uma vez que a emissão 
de suas palavras determinava a realidade. 
 
De maneira igualmente dramática, são os mitos que relacionam o aparecimento da morte a uma ação 
estúpida dos antepassados míticos. Por exemplo, um mito melanésio4 conta que, à medida que envelheciam, 
os primeiros homens perdiam sua pele como cobras, voltando à sua juventude. Porém, uma vez, uma mulher 
velha, quando chegou em casa rejuvenescida, não foi reconhecida pelo próprio filho. Para acalmá-lo, a 
mulher vestiu novamente a pele velha e, a partir de então, os homens tornaram-se mortais. Como último 
exemplo, deixem-me contar-lhes o belo mito indonésio5 da Pedra e da Banana. No começo, o céu estava 
muito mais próximo da terra e o Criador costumava fazer descer suas dádivas aos homens através de uma 
corda. Um dia, ele desceu uma pedra, e os ancestrais a rejeitaram, gritando: "O que temos a ver com essa 
pedra? Dê-nos outra coisa." Deus concordou; algum tempo depois, ele enviou-lhes uma banana, que foi 
alegremente aceita. Então, os ancestrais ouviram uma voz que lhes dizia: "Uma vez que escolhestes a 
banana, vossa vida será como a dela. Quando a bananeira dá cachos, a árvore-mãe morre; assim, vós 
morrereis e vossos filhos tomarão vosso lugar. Se tivésseis escolhido a pedra, vossa vida seria imutável e 
imortal como a dela". 
 
 
1 Mítico: relativo ao mito. 
2 Transgressão: infração; violação. 
3 Desalentadoramente: relativo a desalentador (desalentador: que faz perder o ânimo). 
4 Melanésio: relativo a Melanésia (Nova Guiné e arquipélagos ocidentais, inclusive as ilhas Fidji) 
5 Indonésio: relativo a Indonésia. 
 
1. Expliquem quais são os dois tipos mais comuns de mitos que elucidam a origem da morte. 
2. Para as sociedades tradicionais os homens sempre foram mortais? Justifique. 
 
9 
 
3. OS PRIMEIROS FILÓSOFOS 
 
A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as 
explicações que a tradição lhes dera (através dos mitos), começaram a fazer perguntas e buscar respostas 
para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos naturais, os acontecimentos 
humanos e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana. Em suma, a Filosofia 
surgiu quando alguns pensadores gregos se deram conta de que a verdade do mundo e dos homens não era 
algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao 
contrário, podia ser conhecida por todos por meio das operações mentais de raciocínio, que são as mesmas 
em todos os seres humanos. 
 
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-
socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto 
(640-548 a. C.) até Sócrates (469-399 a.C.). Os primeiros filósofos buscam o princípio absoluto (primeiro e 
último) de tudo o que existe. O princípio é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o 
fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a 
origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, 
perene e permanentemente. No vasto mundo Grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada 
na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico 
comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a 
denominação de filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes. 
 
Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia,o 
princípio substancial existente em todos os seres materiais. Os pré-socráticos ocuparam-se em explicar o 
universo e examinavam a procedência e o retorno das coisas. Os primeiros filósofos gregos tentaram 
responder à pergunta: Como é possível que todas as coisas mudem e desapareçam e a Natureza? Para tanto, 
procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um 
princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser. Esse princípio 
absoluto que os primeiros filósofos buscavam seria a chave de explicação da existência, morte e mudança 
nos seres. As atividades a seguir mostram como Tales pensava esse princípio. 
 
 
 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
- Os textos abaixo tratam das principais idéias de Tales. Depois de lê-los respondam as questões. 
A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são 
de natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos, e de que primeiro são gerados e em 
que por fim se dissolvem, [...] tal é, para eles, o elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que 
nada se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre… Pois deve haver uma natureza 
qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se engendram, mas continuando ela mesma. Quanto ao 
número e à natureza destes princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser 
água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água), levando sem 
dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é o úmido, e que o próprio quente dele 
procede e dele vive [...]. Por tal observar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as 
coisas terem a natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas (…). 
(ARISTÓTELES. Metafísica, I, 3.983 b6) . 
1. O que investigavam os primeiros filósofos? 
2. O que Tales considerava o princípio de todas as coisas? 
3. Como Tales chegou às suas conclusões? 
 
10 
 
 
4. SÓCRATES: “CONHECE-TE A TI MESMO”! 
O filósofo ateniense Sócrates (470 a.C.-399 a.C.) é considerado um divisor de águas na filosofia. Antes os 
filósofos estavam mais preocupados em explicar o funcionamento da natureza. Diferentemente dos antigos 
filósofos, Sócrates cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. 
 
Dizem que Sócrates era um homem feio, mas, quando falava, era dono de estranho fascínio. Procurado pelos 
jovens, passava horas discutindo na praça pública. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia 
perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. Colocava o interlocutor em tal situação que não 
havia saída senão reconhecer a própria ignorância. Com isso Sócrates conseguiu rancorosos inimigos. Mas 
também alguns discípulos. O interessante e que na segunda parte do seu método, que se seguia à destruição 
da ilusão do conhecimento, nem sempre se chegava de fato a uma conclusão efetiva. Sabemos disso não 
pelo próprio Sócrates, que nunca escreveu, mas por seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte. 
A filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de 
todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro 
lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque faz sem 
imagem e fabulação1; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida2, está 
contido o pensamento: “Tudo é um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade 
com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da 
natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego. Se tivesse dito: “Da água 
provém a terra”, teríamos apenas uma hipótese científica, falsa, mas dificilmente refutável. Mas ele foi além 
do científico. Ao expor essa representação de unidade através da hipótese da água, Tales não superou o 
estágio inferior das noções físicas da época, mas, no máximo, saltou por sobre ele. As poucas e 
desordenadas observações da natureza empírica que Tales havia feito sobre a presença e as transformações 
da água ou, mais exatamente, do úmido, seriam o que menos permitiria ou mesmo aconselharia tão 
monstruosa generalização; o que o impeliu a esta foi um postulado metafísico, uma crença que tem sua 
origem em uma intuição mística e que encontramos em todos os filósofos, ao lado dos esforços sempre 
renovados para exprimi-la melhor _ a proposição: “Tudo é um”. (FRIEDRICH NIETZSCHE. A Filosofia 
na Época Trágica dos Gregos. §3, Ed). 
1 Fabulação: ato de contar histórias fantasiosas. 
2 Estado de crisálida: estado de preparação. 
 
1. O que distingue a explicação de Tales de Mileto das explicações religiosas oferecidas por meio dos 
mitos? 
2. O texto mostra que as observações que Tales fez da natureza foram os únicos motivos que o 
levaram as suas conclusões? Justifique. 
 
11 
 
 
Sócrates se indispôs com os poderosos do seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e 
corromper a mocidade. Por isso foi condenado e morto. Costumava conversar com todos, fossem velhos ou 
moços, nobres ou escravos, preocupado com o método do conhecimento. Sócrates parte do pressuposto "só 
sei que nada sei", que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, ponto de partida 
para a procura do saber. 
 
Por isso seu método começa pela parte considerada "destrutiva", chamada ironia (em grego, “perguntar 
fingindo ignorância"). Nas discussões afirma inicialmente nada saber, diante do oponente que se diz 
conhecedor de determinado assunto. Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até o outro reconhecer a 
ignorância. Parte então para a segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, "parto"). Dá esse nome em 
homenagem a sua mãe, que era parteira, acrescentando que, se ela fazia parto de corpos, ele "dava à luz" 
ideias novas. 
 
Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição do 
conceito. Esse processo aparece bem ilustrado nos diálogos relatados por Platão, e é bom lembrar que, no 
final, nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões 
não chegam a conclusões definitivas. As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, daí 
perguntar em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Diante de diversas 
manifestações de coragem, quer saber o que é a "coragem em si", o universal que a representa. Ora, 
enquanto a filosofia ainda é nascente, precisa inventar palavras novas, ou usar as antigas dando-lhes sentido 
diferente. Por isso Sócrates utiliza o termo logos, que na linguagem comum significava "palavra", 
"conversa", e que no sentido filosófico passa a significar "a razão que se dá de algo", ou mais propriamente, 
conceito. Quando Sócrates pede o logos, quando pede que indiquem qual é o logos da justiça, o quê é a 
justiça, o que pede é o conceito da justiça, a definição da justiça. 
 
 
4. O MITO DA CAVERNA 
 
Sócrates começou a fazer suas perguntas buscando conhecer o conceito de justiça, de bem, de belo. 
Perguntava ele: o quê faz uma ação ser justa? Um político ao aumentar o seu salário de 17 mil reais para 24 
mil, dirá que o aumento foi justo. Mas o quê é a justiça para ele dizer que sua ação é justa? Alguém poderá 
dizer: a justiça não é nada, não existe justiça. No entanto, se admitirmos que não existe justiça, jamais 
poderemos reclamar que alguém agiu de maneira injusta conosco. 
 
Esse exemplo acima mostra uma coisa que Sócrates começou a reparar entre seus conterrâneos gregos. A 
maioria das pessoas tem opiniões sobre vários temas, mas não tem conhecimento sobre eles.Falam da 
justiça, mas não sabem dizer o quê é a justiça, falam da bondade, mas não sabem dizer o quê é a bondade. 
Vejamos outro exemplo. Joana conseguiu um emprego público por meio de um parente seu que se tornou 
político, então ela afirma: “Ele é uma boa pessoa!”. Quatro anos depois o parente de Joana perde a eleição, 
outro político entra no lugar. Joana é demitida e o novo político coloca um parente dele no lugar dela. Então, 
Joana afirma: “Esse cara é um mau-caráter, corrupto e safado!”. Duas ações parecidas são julgadas de 
maneiras diferentes, uma é vista como exemplo de bondade, outra como uma ação reprovável. Isto mostra 
que no exemplo acima a personagem Joana não tem muita noção do conceito de bondade, isto é, ela não 
tem muita noção do que define uma ação boa. 
 
Para Sócrates há uma distinção entre opinião e conceito. A opinião é algo que a pessoa tem mais nunca 
parou para pensar por que ela pensa daquele jeito. A opinião varia o tempo todo de acordo com as 
circunstâncias, além de variar de pessoa para pessoa. Já o conceito é algo justificado, fundamentado. O 
conceito é resultado do pensamento, da reflexão, chegamos ao conceito não por acaso, mas por meio de uma 
investigação rigorosa. 
 
Mas como são formadas em nós as opiniões? Como acabamos acreditando em ideias que nunca sequer 
paramos para pensar por que as possuímos? Sócrates busca explicar isso no famoso Mito da caverna. Essa 
12 
 
história se encontra no livro de Platão chamado A república. Na história o personagem Sócrates conta a 
seguinte história: “Imagina uma caverna onde estão acorrentados os homens desde a infância, de tal forma 
que, não podendo se voltar para a entrada, apenas enxergam o fundo da caverna. Aí são projetadas as 
sombras das coisas que passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses homens conseguisse se 
soltar das correntes para contemplar à luz do dia os verdadeiros objetos, quando regressasse, relatando o que 
viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco, não acreditando em suas palavras”. 
 
Nessa história as sombras representam as 
opiniões equivocadas que adquirimos da 
realidade, isto porque a sombra é sempre algo 
inconstante que muda o tempo todo de acordo 
com a variação dos reflexos, de modo que 
podemos ser levados a enganos por causa 
delas, tal como na caricatura ao lado. Deste 
modo, o fato de nossos sentidos nos enganarem 
faz com que estejamos sempre sujeitos a tomar 
o verdadeiro pelo falso, a aceitar as sombras 
como a verdadeira realidade. Na Antiguidade e 
na Idade Média, por exemplo, as pessoas 
acreditavam que a Terra ficava sempre parada, 
e o sol girava em torno dela. Esta opinião era 
fundamentada muito mais em uma percepção 
dos nossos sentidos do que em estudos 
astronômicos. Expliquemos. Todos os dias nós 
vemos o sol nascer de um lado e desaparecer 
do outro lado. Parece que estamos parados e o 
sol girando em torno de nós. Sem contar que não conseguimos perceber o movimento de translação da 
Terra, isto é, não conseguimos perceber que ela está se movimentando, girando em torno do sol. 
 
Vemos então que, para Sócrates muitas das opiniões falsas surgem porque nossos sentidos nos enganam. No 
entanto, há outra forma como adquirimos opiniões em vez de conceitos é quando nos deixamos influenciar 
somente pelo senso-comum. O senso-comum é o conjunto de ideias e concepções ensinadas pela tradição e 
que a maioria das pessoas aceitam sem fazer a pergunta: por que tenho que aceitar isso? Até pouco tempo 
atrás, julgava-se que mulher decente não saía de casa para trabalhar, ficava em casa cuidando da casa e das 
crianças para o marido. As primeiras mulheres que questionaram essa opinião eram vistas com maus olhos. 
No Mito da caverna vemos que quando o prisioneiro libertado conta que o mundo está do lado de fora, 
sendo as sombras meras ilusões, ele também é visto com maus olhos. O prisioneiro liberto questiona o 
senso-comum dos outros prisioneiros. Outro exemplo de como o senso-comum forma opiniões equivocada 
em nós, e não conceitos, basta pensarmos no caso do racismo. Uma pessoa criada em um ambiente racista, 
no meio de uma família racista, cresce acreditando que brancos são superiores aos negros. Embora na 
família dessa pessoa se aceite de maneira inquestionável a superioridade dos brancos, não existe nenhum 
estudo que comprove tal superioridade, sendo que a única diferença entre negros e brancos está no fato de os 
primeiros terem um pouco mais de melanina na pele. O senso-comum pode ser reproduzido pela família, 
pela televisão, pelas escolas, pelo cinema, pela música, etc. Sócrates acreditava que aceitar as opiniões do 
senso-comum é se eximir da atividade de pensar, deixando então que outro pense por você. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ATIVIDADES 
 
 
1. Leia e interprete a letra da música e o quadrinho abaixo para depois responder as questões. 
 
Televisão 
Titãs 
 
A televisão me deixou burro, muito burro demais 
Agora todas coisas que eu penso me parecem iguais 
O sorvete me deixou gripado pelo resto da vida 
E agora toda noite quando deito é boa noite, querida. 
Ô cride, fala pra mãe 
Que eu nunca li num livro que um espirro fosse um vírus sem cura 
Vê se me entende pelo menos uma vez, criatura! 
Ô cride, fala pra mãe! 
A mãe diz pra eu fazer alguma coisa mas eu não faço nada 
A luz do sol me incomoda, então deixo a cortina fechada 
É que a televisão me deixou burro, muito burro demais 
E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais. 
Ô cride, fala pra mãe 
Que tudo que a antena captar meu coração captura 
Vê se me entende pelo menos uma vez, criatura! 
Ô cride, fala pra mãe! 
 
TITÃS. Televisão, 1985. 
 
 
a. Tanto a música quanto o quadrinho, tratam do mesmo tema? Explique. 
b. É possível dizer que tanto o quadrinho quanto a música mostram que a televisão nos ensina a 
buscar conhecer aquilo que Sócrates chama de “conceito”? Sim ou não? Justifique. 
c. Indique passagens da música e do quadrinho que mostram a televisão como uma forma de 
reproduzir ideias e concepções do senso-comum. 
 
 
 
 
 
http://www.consciencia.org/materialanderson2.shtml
http://www.consciencia.org/materialanderson2.shtml
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II. AS RELIGIÕES E O SAGRADO 
 
A missa no domingo, a pregação do pastor, os batuques do candomblé, a peregrinação a Meca, o sacrifício 
de animais ou as orações no muro das lamentações. Todos esses eventos são considerados manifestações 
religiosas, todos eles estão ligados a alguma religião. Mais afinal o que é uma religião? Como que atividades 
tão diferentes podem ser reunidas sob um único nome, isto é, religião. O que tem em comum o islamismo, o 
cristianismo, o judaísmo e o candomblé para serem chamados de religião? Alguns poderão dizer: é religião 
porque acredita em Deus! Errado! Existem as religiões politeístas que acreditam em diversos deuses. Ou 
seja, acreditar em Deus não é critério para definir se algo é uma religião ou não. O filósofo e historiador 
romeno Mircea Eliade buscou entender o que é uma religião. Ele investigou quais características em 
comum tem atvidades tão diferentes. 
 
A palavra religião vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, 
unir, vincular). A religião é um vínculo, re-liga o homem ao sagrado. Toda religião tem essa função, 
estabelecer um vínculo entre os homens e algo sagrado. Mas o é o sagrado? Sagrado é, pois, a qualidade 
excepcional – boa ou má, benéfica ou maléfica, protetora ou ameaçadora – que um ser possui e que o separa 
e distingue de todos os outros. O sagrado pode suscitar devoção e amor, repulsa e ódio. Esses sentimentos 
suscitam um outro: o respeito feito de temor. Nasce, aqui, o sentimento religioso e a experiência da religião. 
 
A manifestação de algo sagrado é chamado porMircea Eliade de hierofania. A manifestação do sagrado 
pode se dar por meio de uma pedra, uma árvore, uma montanha, uma pessoa. Na religião cristã, por 
exemplo, a manifestação do sagrado se dá por meio da encarnação de Deus em Jesus Cristo. Em todos esses 
fenômenos existe a compreensão de que algo que pertence a “uma ordem diferente” ou “a um outro mundo” 
se manifesta no nosso mundo profano. O profano é justamente aquilo que não é sagrado. 
 
1. O espaço sagrado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na imagem ao lado vemos a foto da mesquita de 
Meca, este é um lugar considerado sagrado pelos 
Mulçumanos. Embaixo da foto da mesquita vemos 
a foto de um templo hindu. Logo abaixo vemos um 
barracão de candomblé. O que a mesquita, o 
templo e o barracão têm em comum? Todos eles 
são lugares considerados sagrados para as suas 
respectivas religiões. 
 
Toda religião é constituída por espaços sagrados, 
ou seja, lugares privilegiados onde o homem 
religioso pode entrar em contato com o sagrado. O 
espaço sagrado pode ser uma igreja, uma mesquita 
 
15 
 
 
uma sinagoga, um barracão de candomblé. No entanto, os espaços sagrados não são somente construções 
humanas. Existem montanhas, florestas, campos que podem ser considerados espaços sagrados. 
 
 
 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
-O texto abaixo é do livro “O sagrado e o profano” do filósofo e historiador Mircea Eliade. Leia 
atenciosamente o texto para em seguida responder as questões. 
 
......................................................................................................................................................................... 
Para o homem religioso, o espaço não ê homogêneo1: o espaço apresenta roturas2, quebras; há porções de 
espaço qualitativamente diferentes das outras. “Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as 
sandálias de teus pés, porque o lugar onde te encontras é uma terra santa.” (Êxodo, 3: 5) Há, portanto, um 
espaço sagrado, e por conseqüência “forte”, significativo, e há outros espaços não sagrados, e por 
conseqüência sem estrutura nem consistência, em suma, amorfos3. 
 
[...] A fim de pôr em evidência a não homogeneidade do espaço, tal qual ela é vivida pelo homem 
religioso, pode-se fazer apelo a qualquer religião. Escolhamos um exemplo ao alcance de todos: uma 
igreja, numa cidade moderna. Para um crente, essa igreja faz parte de um espaço diferente da rua onde ela 
se encontra. [...] Assim acontece em numerosas religiões: o templo constitui, por assim dizer, uma 
“abertura” para o alto e assegura a comunicação com o mundo dos deuses. 
 
[...] Todo espaço sagrado implica uma hierofania4, uma irrupção do sagrado que tem como resultado 
destacar um território do meio cósmico que o envolve e o torna qualitativamente diferente. Quando, em 
Haran, Jacó viu em sonhos a escada que tocava os céus e pela qual os anjos subiam e desciam, e ouviu o 
Senhor, que dizia, no cimo: “Eu sou o Eterno, o Deus de Abraão!”, acordou tomado de temor e gritou: 
“Quão terrível é este lugar! Em verdade é aqui a casa de Deus: é aqui a Porta dos Céus!” Agarrou a pedra 
de que fizera cabeceira, erigiu a em monumento e verteu azeite sobre ela. A este lugar chamou Betel, que 
quer dizer “Casa de Deus” (Gênesis, 28: 1219). 
 
[...] Quando não se manifesta sinal algum nas imediações, o homem provoca o, pratica, por exemplo, uma 
espécie de evocação com a ajuda de animais: são eles que mostram que lugar é suscetível de acolher o 
santuário ou a aldeia. Trata-se, em resumo, de uma evocação das formas ou figuras sagradas, tendo como 
objetivo imediato a orientação na homogeneidade do espaço. Pede se um sinal para pôr fim à tensão 
provocada pela relatividade e à ansiedade alimentada pela desorientação, em suma, para encontrar um 
ponto de apoio absoluto. Um exemplo: persegue se um animal feroz e, no lugar onde o matam, eleva se o 
santuário; ou então põe se em liberdade um animal doméstico – um touro, por exemplo –, procuram-no 
alguns dias depois e sacrificam no ali mesmo onde o encontraram. Em seguida levanta se o altar e ao 
redor dele constrói se a aldeia (Mircea Eliade. “O sagrado e o profano”). 
 
1Homogêneo: aquilo que não possui partes ou elementos diferntes. 
2Rotura: ruptura; rachadura. 
3Amorfo: aquilo que não tem forma; desorganizado 
4Hierofania: manifestação ou aparição de algo sagrado. 
 
 
1. Explique como o homem religioso compreende o espaço. 
2. Qual é a função do espaço sagrado? 
3. O texto mostra dois modos diferentes de se escolher um espaço que será considerado sagrado. 
Explique cada um deles. 
 
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2. Os ritos 
 
Porque a religião liga humanos e divindade, porque organiza o espaço e o tempo, os seres humanos precisam 
garantir que a ligação e a organização se mantenham e sejam sempre propícias. Para isso são criados os 
ritos. Vemos então que o rito é outra característica comum a todas as religiões. 
 
O rito é uma cerimônia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas 
determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre os humanos 
e a divindade. Para agradecer dons e benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a 
bondade dos deuses ou para exorcizar sua cólera, caso os humanos tenham transgredido as leis sagradas, as 
cerimônias ritualísticas são de grande variedade. No entanto, uma vez fixada os procedimentos de um ritual, 
sua eficácia dependerá da repetição minuciosa e perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, 
porque nela os próprios deuses orientaram gestos e palavras dos humanos. Um rito religioso é repetitivo em 
dois sentidos principais: a cerimônia deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada (por 
exemplo, no cristianismo, a eucaristia ou a comunhão, que repete a Santa Ceia); e, em segundo lugar, atos, 
gestos, palavras, objetos devem ser sempre os mesmos, porque foram, na primeira vez, consagrados pelo 
próprio deus. O rito é a rememoração perene do que aconteceu numa primeira vez e que volta a acontecer, 
graças ao ritual que abole a distância entre o passado e o presente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
-O texto abaixo do filósofo e historiador Mircea Eliade trata dos “ritos”. Leia atenciosamente o texto 
para em seguida responder as questões. 
............................................................................................................................................................................. 
Cada ritual tem um modelo divino, um arquétipo; este fato é suficientemente conhecido por nós, para que 
possamos nos restringir ao uso de alguns exemplos apenas. "Temos de fazer o que os deuses fizeram no 
princípio" (Satapatha Brahmana, VII, 2, 1, 4). "Assim fizeram os deuses; assim fazem os homens" 
(Taittiriya Brahmana, I, 5, 9, 4). Este provérbio indiano sintetiza a teoria que fundamenta os rituais em 
todos os países. Podemos encontrar esta teoria entre os chamados povos primitivos, do mesmo modo como 
a encontramos nas culturas mais desenvolvidas. Os aborígines1 da região sudeste da Austrália, por exemplo, 
praticam a circuncisão2 com uma faca de pedra, porque foi assim que seus ancestrais lhes ensinaram a fazer; 
os negros amazulu fazem o mesmo, porque Unkulunkulu (herói civilizador) decretou em tempos idos: "Que 
os homens sejam circuncisos, para que não sejam meninos". [...]É inútil a multiplicação dos exemplos; 
todos os atos religiosos são considerados como tendo sido fundados pelos deuses, pelos heróis civilizadores, 
ou por ancestrais míticos. [...] O sábado judeu-cristão também é uma “imitação de Deus”. O descansosabatino3 reproduz o gesto primordial do Senhor, pois foi no sétimo dia da Criação que Deus "...descansou 
depois de toda a sua obra de Criação" (Genesis 2,2). A mensagem do Salvador é, antes de mais nada, um 
exemplo que exige imitação. Depois de lavar os pés de seus discípulos, Jesus lhes disse: "Dei-vos o 
exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais" (João 13,15). 
 
[...] Os rituais do casamento também contam com um modelo divino, e o matrimônio humano reproduz a 
hierogamia4 [...] Na Grécia, os rituais do casamento imitavam o exemplo de Zeus, unindo-se em segredo 
com Hera (Pausânias, II, 36, 2). [...] Todo o simbolismo paleo-oriental5 do casamento pode ser explicado 
por meio de modelos celestiais. Os sumérios6 celebravam a união dos elementos no dia de Ano Novo; 
através de todo o Oriente primitivo, o mesmo dia adquiriu sua fama não só por causa do mito da 
hierogamia, mas também pelos rituais de união do rei com a deusa. É no dia de Ano Novo que Ishtar deita-
se com Tammuz, e o rei reproduz essa hierogamia mítica, consumando uma união ritual com a deusa (isto é, 
com a escrava do templo, que a representa na Terra) numa câmara secreta do templo, onde fica a cama 
nupcial da deusa. A união divina garante a fecundidade7 terrena; quando Ninlil deita-se com Enlil, a chuva 
começa a cair. A mesma fecundidade é garantida por meio da união cerimonial do rei, a dos casais na Terra, 
e assim por diante. O mundo é regenerado8 toda vez que a hierogamia é imitada, isto é, sempre que se 
consuma a união matrimonial (Mircea Eliade. “Mito do eterno retorno). 
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3. Os objetos simbólicos 
 
A religião não sacraliza apenas o espaço e o tempo, mas também seres e objetos do mundo, que se tornam 
símbolos de algum fato religioso. Os seres e objetos simbólicos são retirados de seu lugar costumeiro, 
assumindo um sentido novo para toda a comunidade – protetor, perseguidor, benfeitor, ameaçador. É assim, 
por exemplo, que certos animais se tornam sagrados, como a vaca na Índia, o cordeiro perfeito consagrado 
para o sacrifício da páscoa judaica. É assim, por exemplo, que certos objetos se tornam sagrados, como o 
pão e o vinho consagrados pelo padre cristão, durante o ritual da missa. Também objetos se tornam símbolos 
sagrados intocáveis, como os pergaminhos judaicos contendo os textos sagrados antigos, certas pedras 
usadas pelos chefes religiosos africanos, etc. 
 
A religião tende a ampliar o campo simbólico. Ela o faz, vinculando seres e qualidades à personalidade de 
um deus. Assim, por exemplo, em muitas religiões, como as africanas, cada divindade é protetora de um 
astro, uma cor, um animal, uma pedra e um metal preciosos, um objeto santo. 
 
A figuração do sagrado se faz por símbolos: assim, por exemplo, o emblema da deusa Fortuna era uma roda, 
uma vela enfunada e uma cornucópia; o da deusa Atena, o capacete e a espada; o de Hermes, a serpente e as 
botas aladas; o de Oxossi, as sete flechas espalhadas pelo corpo; o de Iemanjá, o vestido branco, as águas do 
mar e os cabelos ao vento; o de Jesus, a cruz, a coroa de espinhos, o corpo glorioso em ascensão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1Aborígenes: nativo; indígena. 
2Circuncisão: retirada cirúrgica do prepúcio, praticada por razões higiênicas e/ou religiosas. 
3Sabatino: relativo ao sábado. 
4 Hierogamia: casamento das divindades. 
5Paleo-oriental: do velho Oriente. 
6Sumérios: relativo ou pertencente à Suméria, antigo país da Mesopotâmia (Ásia) , ou o que é seu natural ou habitante 
7Fecundidade: fertilidade. 
8Regenerado: renovado; restaurado. 
 
1. O que os rituais religiosos tomam como modelo? 
2. Nos rituais de casamento qual acontecimento os homens pretendem imitar? 
3. Que resultados espera-se atingir por meio dos rituais de casamento? 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
-O texto abaixo do filósofo e historiador Mircea Eliade foi retirado do livro “O sagrado e o profano”. Leia 
atenciosamente o texto para em seguida responder as questões. 
 
............................................................................................................................................................................. 
Antes de falarmos da Terra, precisamos apresentar as valorizações religiosas das Águas, e isso por duas 
razões: (1) as Águas existiam antes da Terra (conforme se exprime o Gênesis, “as trevas cobriam a superfície 
do abismo, e o Espírito de Deus planava sobre as águas”); (2) analisando os valores religiosos das Águas, 
percebe-se melhor a estrutura e a função do símbolo. Ora, o simbolismo desempenha um papel considerável 
na vida religiosa da humanidade [...]. 
 
[...] O simbolismo das Águas implica tanto a morte como o renascimento. O contato com a água comporta 
sempre uma regeneração1: por um lado, porque a dissolução é seguida de um “novo nascimento”[...]. Ao 
dilúvio ou à submersão periódica dos continentes (mitos do tipo “Atlântica”) corresponde, ao nível humano, a 
“segunda morte” do homem [...]. A imersão nas Águas equivale não a uma extinção definitiva, e sim a uma 
reintegração passageira no indistinto, seguida de uma criação, de uma nova vida ou de um “homem novo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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[...] Em qualquer conjunto religioso em que as encontremos, as águas conservam invariavelmente sua 
função: desintegram, abolem as formas, “lavam os pecados”, purificam e, ao mesmo tempo, regeneram. 
[...]O “homem velho” morre por imersão na água e dá nascimento a um novo ser regenerado. Este 
simbolismo é admiravelmente expresso por João Crisóstomo (Homil. in Joh., XXV, 2), que, falando da 
multivalência2 simbólica do batismo, escreve: “Ele representa a morte e a sepultura, a vida e a ressurreição... 
Quando mergulhamos a cabeça na água como num sepulcro, o homem velho fica imerso, enterrado 
inteiramente; quando saímos da água, aparece imediatamente o homem novo” (Mircea Eliade. “O sagrado e 
o profano”). 
 
 
1Regeneração: renovação; restauração. 
2Multivalência: qualidade de multivalente. (multivalente: que possui várias utilidades, vários significados. 
 
1. A água é um símbolo que aparece em diversas religiões com. Quais funções são atribuídas a ela? 
2. Explique o simbolismo do batismo na religião cristã. 
 
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III. CIÊNCIA E PROGRESSO 
 
Com os estudos do último capítulo vocês puderam entrar em contato com diversas religiões. O catolicismo, 
uma das religiões que entramos em contato durante as aulas possuía um imenso poder durante um longo 
período da história. Como vocês já ouviram alguma vez nas aulas de história, nesse período a Igreja Católica 
possuía um grande controle sobre a política, as ciências, as artes e a filosofia. 
 
O rigor do controle da Igreja se faz sentir nos julgamentos feitos pelo Santo Ofício (Inquisição), órgão que 
examinava o caráter herético ou não dos livros escritos. Conforme o caso, as obras eram colocadas no Índex, 
uma lista dos livros proibidos. Se a leitura fosse permitida, a obra recebia a chancela Nihil obstat (nada 
obsta), podendo ser divulgada. Quando consideravam o caso muito grave, o próprio autor era julgado. Foi 
trágico o desfecho do processo contrao filósofo Giordano Bruno (séc. XVI), acusado de panteísmo e 
queimado vivo por ter defendido com exaltação poética a doutrina da infinitude do universo e por concebê-
lo não como um sistema rígido de seres, articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um 
conjunto que se transforma continuamente. 
 
Outro importante pensador que sofreu com o poder da Igreja Católica foi Galileu Galilei (1564-1642). A 
vida de Galileu foi marcada pela perseguição política e religiosa, por defender que a compreensão 
geocêntrica do universo estava equivocada. A compreensão geocêntrica do 
universo, ou geocentrismo, defendia que a Terra era o centro do universo. Essa 
compreensão predominou durante toda a Antiguidade e a Idade Média. O 
geocentrismo é de certa forma confirmado pelo senso comum: no cotidiano temos 
a sensação de que a Terra é imóvel e que o Sol gira à sua volta. O próprio texto 
bíblico sugere essa idéia. Em uma passagem das Escrituras, Deus fez parar o Sol 
para que o povo eleito continuasse a luta enquanto ainda houvesse luz, o que 
sugere o Sol em movimento e a Terra fixa. 
 
Ao criticar o geocentrismo, Galileu defende o heliocentrismo. Esta teoria diz que Sol está no centro do 
nosso sistema planetário e tudo se move ao seu redor. Tal compreensão do universo foi proposta 
primeiramente com Nicolau Copérnico (1473 -1543). Mas só começou a ganhar repercussão com Galileu. 
Isto porque Galileu passou a fazer uso de instrumentos que mostravam que essa ideia de Copérnico era 
verdadeira. O principal instrumento que possibilitou a Copérnico fazer descobertas astronômicas foi o 
telescópio. O telescópio, invenção talvez dos holandeses, proporcionou a Galileu outras descobertas 
valiosas: para além das estrelas fixas, haveria ainda infindáveis mundos; a superfície da Lua era rugosa e 
irregular; o Sol tinha manchas, e Júpiter tinha quatro luas! 
 
O forte impacto dessas novidades desencadeou inúmeras polêmicas até que, pressionado pelas autoridades 
eclesiásticas, Galileu se viu obrigado a renegar publicamente suas teorias. Além disso, o pensador foi 
condenado à prisão domiciliar. 
 
Quando Galileu expôs suas idéias estava em pleno começo o processo de dessacralização (ou 
secularização) que surge com a época da história chamada de Idade Moderna ou Modernidade. A 
secularização é o processo de retirar aquilo que estava sob o domínio da religião é passar para o regime 
leigo. Com a secularização a Igreja Católica vai progressivamente perdendo o controle que ela tinha sobre a 
política, as artes, as ciências e a filosofia. Apesar de a religião ter perdido o controle sobre a política, as 
artes, as ciências e a filosofia, os conflitos permanecem até hoje. Basta lembrarmos de temas como: 
20 
 
manipulação de células tronco, clonagem, casamento entre pessoas do mesmo sexo, legalização do aborto, 
dentre outros. 
 
1. FRANCIS BACON: A CIÊNCIA PRECISA DE UM MÉTODO! 
 
Um dos filósofos de maior destaque da época moderna é o inglês Francis Bacon (1561-1626). Antes de 
começarmos a falar quem é ele e o que de interessante este filósofo tem a nos dizer, precisamos estar atentos 
para não confundir... 
 
 
 ... ESTE BACON COM ESTE BACON 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nascido na Inglaterra, aos doze anos Bacon já entrava na Universidade de Cambridge. Durante sua vida, 
Bacon se dedicou ao estudo da filosofia, das ciências naturais, além de direito, diplomacia e literatura. 
Cientista dedicado, Bacon acabou morrendo. Ao rechear um frango com neve para verificar se o 
congelamento impedia a decomposição, resfriou-se e acabou morrendo. Isto mesmo! Por ironia do destino o 
frango matou o Bacon. 
 
Para Bacon a ciência havia feito progressos insignificantes nos últimos séculos, até porque toda tentativa de 
progresso esbarrava no controle da Igreja. Grandes invenções como a imprensa, o canhão e a bússola 
mudaram imensamente a vida do homem na ciência, na guerra e no comércio. No entanto, tais invenções 
foram resultado de descobertas feitas por acaso, não foram resultado de um trabalho sistemático e 
organizado das ciências. O filósofo inglês julga que a ciência, por si só, não é suficiente: deve haver uma 
força e uma disciplina fora das ciências para coordená-las e dirigi-las para um objetivo. O que a ciência 
precisa é de filosofia – a análise do método científico e a coordenação dos propósitos e resultados 
científicos; sem isso, qualquer ciência será superficial. 
 
Vemos então que para Bacon o progresso da ciência depende da filosofia. Somente a filosofia pode oferecer 
a ciência um método que a permite avançar em busca de novos conhecimentos, além disso, somente a 
filosofia pode indicar os propósitos da ciência, ou seja, quais são os objetivos que as ciências devem 
alcançar. 
 
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Vemos então que Francis Bacon diz que a filosofia deve oferecer um método as ciências. O que significa ter 
um método? Imaginemos a seguinte situação, você vai a um bairro desconhecido procurar a casa de um 
amigo. Seu amigo não soube explicar direito onde ele mora eles só te informou o nome da rua e o número da 
casa. Você anda durante horas, vai até o final do bairro, volta, depois de duas horas, sem querer vocês sai na 
rua da casa do seu amigo e pode chegar ao local almejado. Agora imagine você indo ao mesmo bairro com 
um mapa. Em vez de andar pelo bairro todo você já sabe as ruas certas que deve entrar para chegar à rua da 
casa do seu amigo. Em dez minutos você então chega ao local. Podemos dizer que no primeiro caso você 
agia sem um método você entrava nas ruas que “achava” que devia entrar. No segundo caso você tem um 
método, pois o mapa oferece um conjunto de regras que você deve seguir, lhe permitindo realizar a mesma 
atividade sem se cansar e em um tempo menor. Na primeira situação você chegou à casa do seu amigo por 
acaso. A ciência não pode ficar esperando que as descobertas surjam por acaso. Ela precisa possuir um 
conjunto de regras que lhe ensinem como agir na busca dos conhecimentos. A ciência precisa de um plano 
de ação, esse plano de ação é o que Bacon chama de método. O filósofo inglês julga que seu método é útil 
para o progresso de todas as áreas do conhecimento: física, química, história, política, psicologia, etc. 
 
Antes de vermos em que consiste esse método de Bacon, 
voltemos à outra contribuição que a filosofia deve dar a 
ciência: a definição de propósitos para atividade científica. É 
preciso que o cientista tenha em vista o que ele pretende 
alcançar com sua atividade. Ao definir um propósito claro para 
se alcançar com sua atividade ele evita perder tempo com 
esforços inúteis. No desenho animado Futurama temos um 
exemplo claro do que Bacon considera uma atividade científica 
sem propósitos. O personagem professor Hubert está o tempo 
todo construído invenções muito engraçadas que não servem 
para nada. Em um dos episódios filho dele pergunta: E aí pai 
construindo mais uma invenção inútil? O professor Hubert 
mostra então sua última invenção, uma máquina que permite as 
pessoas falarem com a voz igual à dele. Quando questionado 
sobre a utilidade do invento ele responde: Assim todos poderão 
falar com uma poderosa e amedrontadora voz igual a minha! 
 
Bacon afirma o seguinte em seu livro Novum Organum: 
 
“A verdadeira e legítima meta das ciências é a de dotar a vida humana de novos inventos e recursos. Mas a 
turba, que forma a grande maioria, nada percebe, busca o próprio lucro e a glória acadêmica”. 
 
Para Bacon as ciências ao proporcionarem aos homens novos inventos e recursos contribuem para que a vida 
humana se torne melhor, mais confortável e segura. A ciência aumenta o poderhumano sobre a natureza. É 
de Bacon a frase: “Ciência e poder do homem coincidem”. Ou seja, na medida em que a ciência progride o 
poder humano aumenta. Bacon afirmava em sua época: “Hoje, apenas presumimos dominar a natureza, mas, 
de fato, estamos submetidos à sua necessidade”. Para Bacon era necessário então que a ciência aumentasse o 
poder humano permitindo a ele comandar a natureza. 
 
 
O professor Hubert é um bom exemplo de como 
pode faltar um objetivo a atividade 
científica. 
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Vemos assim que o principal propósito, a principal meta da 
ciência é contribuir com inventos e descobertas que tornam a 
vida melhor e que permitem ao ser humano aumentar o seu 
poder e comandar a natureza. O aumento desse poder 
permitiria ao homem modificar até o que era natural em seu 
proveito. Bacon afirma o seguinte: “Engendrar e introduzir 
nova natureza ou novas naturezas em um corpo dado, tal é a 
obra e o objeto do poder humano”. A foto ao lado 
exemplifica bem essa frase Bacon. Esse rato com uma orelha 
nas costas chocou o mundo quando foi apresentado por 
cientistas da Universidade de Massachusetts, Estados 
Unidos. A orelha foi feita a partir de células da cartilagem 
humana e depois foi implantada nas costas do animal. O 
organismo do rato foi construído pela engenharia genética com os anticorpos alterados para não ter defesa 
imunológica e receber o novo órgão sem nenhuma rejeição. Os cientistas queriam verificar se era possível 
realizar transplantes de órgãos criados em laboratórios. Como todos já sabem, não pertence à natureza dos 
ratos nasceram com uma orelha nas costas, mas a exemplo do que nos diz Bacon o homem consegue por 
meio da ciência “introduzir nova natureza ou novas naturezas em um corpo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO DIRIGIDO 
 
- O texto abaixo foi retirado do livro Novum Organum do filósofo Francis Bacon. Leia, interprete e 
depois responda as questões. 
 
Vale também recordar a força, a virtude e as conseqüências das coisas descobertas, o que em nada é tão 
manifesto quanto naquelas três descobertas que eram desconhecidas dos antigos e cujas origens, embora 
recentes, são obscuras e inglórias. Referimo-nos à imprensa1, à pólvora e à agulha de marear2. 
Efetivamente essas três descobertas mudaram o aspecto e o estado das coisas em todo o mundo: a 
primeira nas letras, a segunda na arte militar e a terceira na navegação. Daí se seguiram inúmeras 
mudanças e essas foram de tal ordem que não consta que nenhum império, nenhuma seita, nenhum astro 
tenham tido maior poder e exercido maior influência sobre os assuntos humanos que esses três inventos 
mecânicos. 
 
A esta altura, não seria impróprio distinguirem-se três gêneros3 ou graus de ambição dos homens. O 
primeiro é o dos que aspiram ampliar seu próprio poder em sua pátria, gênero vulgar e aviltado4; o 
segundo é o dos que ambicionam estender o poder e o domínio de sua pátria para todo o gênero humano, 
gênero sem dúvida mais digno, mas não menos cúpido5. Mas se alguém se dispõe a instaurar e estender o 
poder e o domínio do gênero humano sobre o universo, a sua ambição (se assim pode ser chamada) seria, 
sem dúvida, a mais sábia e a mais nobre de todas. Pois bem, o império do homem sobre as coisas se apóia 
unicamente nas artes e nas ciências. A natureza não se domina, senão obedecendo-lhe. 
 
[...] Se se objetar com o argumento de que as ciências e as artes se podem degradar6, facilitando a 
maldade, a luxúria7 e paixões semelhantes, que ninguém se perturbe com isso, pois o mesmo pode ser 
dito de todos os bens do mundo, da coragem, da força, da própria luz e de tudo o mais. Que o gênero 
humano recupere os seus direitos sobre a natureza, direitos que lhe competem por dotação divina. 
Restitua-se8 ao homem esse poder e seja o seu exercício guiado por uma razão reta e pela verdadeira 
religião. 
 
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APRENDENDO COM OS DESENHOS ANIMADOS 
 
- Depois de assistir o episódio dos Simpsons “Homer, o fazendeiro”, leia o texto abaixo. Este texto foi 
retirado do livro “Os Simpsons e a ciência” de Paul Halpern. Com base no episódio e na leitura do 
texto responda as questões propostas. 
......................................................................................................................................................................... 
 
Você diz tomate, eu digo tomaco 
 
Alguns conceitos necessitam de tempo para amadurecer, até que floresçam com resultados deliciosos. 
Outras noções simplesmente apodrecem nos galhos. É difícil dizer onde se encaixa a ideia de combinar 
tomates com tabaco – é um provocante desafio ao campo da botânica1 ou apenas uma bobagem gritante? 
Tomates frescos são alimentos extremamente nutritivos, plenos de vitamina C e antioxidante. Alguns 
estudos mostram que eles podem diminuir o risco de certos tipos de câncer. O tabaco, ao contrário, é cheio 
de substâncias carcinogênicas2 conhecidas. Ler as advertências nas embalagens de cigarro é suficiente para 
provocar traumas. Com relação à saúde, as duas plantas não poderiam ser mais distintas. Contudo, no 
episódio “Homer, o Fazendeiro”, Homer consegue encontrar um terreno comum entre as duas espécies. É 
um caso curioso de solo fértil transformado em cinzas, poeira transformado em cinzas, poeira transformada 
em rapé3, quando os Simpson se mudam para a velha fazenda de Vovô e tentam estabelecer-se como 
agricultores. De início, Homer não demonstra ter uma boa mão – nada que ele semeia brota –, até que 
decide utilizar a substância [...] o plutônio4 despachado para ele por Lenny. Logo a fazenda é agraciada com 
uma produção vigorosa do que parecem ser tomates. Bem, talvez vigorosa não seja a palavra adequada, já 
que ao ser fatiado o tomate revela um interior marrom, amargo e provoca dependência por causa de 
perigosas doses de nicotina. 
 
Percebendo que a dependência gerada pela planta tem um certo potencial comercial, Homer nomeia a planta 
de “tomaco” e instala um quiosque na beira da estrada. [...] Todo mundo que passa pelo quiosque quer 
provar uma amostra, até mesmo Ralph Wiggum, o estudante limítrofe5, que afirma que “o sabor é de comida 
da vovó”. Assim que os clientes provam uma amostra, a nicotina entra em cena, e eles pedem mais e mais. 
Logo a companhia de tabaco Laramie (uma empresa fictícia mencionada em vários episódios) interessa-se 
em promover a venda de produtos de Homer, principalmente porque é permitido por lei vender tomacos às 
crianças mas não tabaco. A companhia tenta negociar um contrato de 150 milhões de dólares, mas Homer 
exige absurdos 150 bilhões de dólares. A Laramie recua e depois tenta sem sucesso roubar uma das plantas. 
No final, toda a lavoura de tomaco é devorada pelos animais dafazenda, viciados em nicotina, deixando 
Homer sem nada para comprovar seus esforços na área agrícola. 
 
 
 
[...] Pelo pecado o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as perdas podem ser 
reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida; a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as 
artes e com as ciências (Francis Bacon. Novum Organum). 
 
1Imprensa: máquina destinada a imprimir. 
2Agulha de marear: bússola. 
3Gêneros:tipo;espécie. 
4Aviltado: desprezível. 
5Cúpido: ambicioso. 
6Degradar: estragar. 
7Luxúria: comportamento descontrolado com relação aos prazeres do sexo. 
8Restitua-se: do verbo restituir (restituir: devolver). 
 
1. De acordo com o texto, o que foi capaz de exercer maior influência na vida humana do que 
qualquer império, seita ou astro? 
2. Para Francis Bacon, qual é o tipo de ambição mais nobre? 
3. O que o homem perdeu pelo pecado? Como ele pode recuperar isso que ele perdeu? 
4. Que direitos o texto diz que o homem possui? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. A CRÍTICA DOS ÍDOLOS 
 
Com falamos anteriormente, para Bacon a filosofia deve fornecer um método para as ciências. Tal método 
contribuirá para o progresso das ciências. A primeira parte do método de Bacon consiste numa crítica dos 
ídolos. A palavra ídolo vem do grego eidolon e significa “imagem”. Bacon chama de ídolos as opiniões 
falsas e preconceitos que dificultam o conhecimento da realidade e o desenvolvimento das ciências. A 
filosofia deve indicar as ciências quais são os ídolos, ou seja, quais são as noções falsas que dificultam ao 
intelecto humano conhecer a realidade. Segundo Bacon, existem quatro tipos de ídolos, ou seja, quatro tipos 
de opiniões falsas que impedem o conhecimento científico: ídolos da caverna, ídolos do fórum, ídolos do 
teatro, ídolos da tribo. 
 
 
 
 
 
[...] A modificação genética de safras tornou-se, nos últimos anos, um tema controverso, ao migrar das 
fazendas para o laboratório. Os fazendeiros utilizaram técnicas de polinização7 cruzada durante mais de um 
século para desenvolver plantas com mais resistência a pragas ou com propriedades mais favoráveis – por 
exemplo, transferindo genes de centeio para cromossomos do trigo. Com a introdução de métodos da genética 
molecular, a modificação ficou muito mais precisa e, portanto, diminuiu o temor da criação de novas 
variações danosas. [...] A enxertia, técnica que Baur usou para produzir o tomaco, é outro método tradicional 
da horticultura para misturar propriedades de plantas, que antecede muito a genética molecular. Envolve 
cortar e unir a parte inferior de uma planta, incluindo suas raízes, com o caule, flores, folhas ou frutos de uma 
outra. Depois que os cortes são feitos, as duas plantas são cuidadosamente unidas de maneira que permita a 
livre passagem de água e nutrientes. Elas são, então, mantidas no lugar até que o crescimento ocorra e se 
transformem em uma única planta. [...] A experiência de Baur gerou fruto – um só, de início. Quando o fruto 
foi testado, ele não tinha nenhuma nicotina que pudesse ser detectada. Sua folhas também foram testadas e 
revelaram conter nicotina. Então, a planta de tomaco preencheu os requisitos de um verdadeiro híbrido por 
enxertia; tinha algumas características das duas espécies. Baur não pôs o produto à venda, portanto não espere 
encontrar adesivos de ketchup com sabor de nicotina na farmácia mais próxima. 
 
 
1 Botânica: campo da biologia que tem por objeto o reino vegetal 
2 Carcinogênicas:que provoca o desenvolvimento do câncer. 
3 Rapé: pó resultante de folhas de tabaco torradas e moídas 
4 Plutônio: elemento químico usado em armas nucleares. 
5 Limítrofe: que tem limites; limitado. 
6 Híbridos: fruto originado do cruzamento de espécies diferentes. 
7 Polinização: transporte do grão de pólen. 
 
1. Assistindo o desenho e lendo o texto, é possível dizer que Homer tinha um método ao produzir o 
“tomaco”? Justifique sua resposta. 
2. Quanto ao cientista Rob Baur, que na vida real produziu um cruzamento entre tomate e tabaco, ele 
possuía um método? Justifique sua resposta. 
3. É possível dizer que o experimento de Homer realiza aquilo que Bacon chama de “introduzir nova 
natureza ou novas naturezas em um corpo”? Explique. 
4. No texto anterior do filósofo Francis Bacon, ele distingue três tipos de ambição dos homens. Com 
base no episódio dos Simpsons e no texto lido, qual é o tipo de ambição que Homer tem? 
5. Diante dos fatos que acontecem no final do episódio, é possível afirmar que Homer conseguiu 
adquirir um domínio sobre a natureza? Justifique. 
 
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I. Ídolos da caverna (a caverna de que fala Bacon uma alusão ao mito da caverna de Platão) 
 
Muitas vezes as pessoas têm uma compreensão equivocada do mundo graças a uma percepção que os seus 
órgãos dos sentidos oferecem ou então graças à teimosia que muitas vezes adquirimos por meio da forma 
como somos educados. Bacon fala que esse tipo de ídolo se forma quando as pessoas vêm o mundo como se 
cada um vivesse em uma caverna particular, se negando a levar em consideração as opiniões alheias. No dia-
a-dia chamamos esse tipo de pessoa de cabeça dura. Por exemplo, existem pessoas que não querem aprender 
nada de novo, pois julgam que tudo o que elas já apreenderam está certo, de modo que ninguém é capaz de 
provar que elas podem estar erradas. Muitas vezes a percepção errada que eu tenho do mundo, mas me 
recuso a querer revê-la é apoiada por uma limitação dos meus órgãos dos sentidos. Vejamos o quadrinho 
abaixo: 
No quadrinho vemos o personagem Níquel Náusea e seu amigo Baratão com medo de uma caixa de cereal 
matinal, isto porque, eles julgam que o desenho do tigre na caixa seja um gato de verdade que os ameaça. 
Esse quadrinho é uma caricatura da ideia de que nossos órgãos dos sentidos nos enganam o tempo todo. 
Alguém que chegasse até os dois personagens poderiam tentar provar para eles que o gato não era de 
verdade. Se os dois antes de qualquer explicação julgassem que ninguém poderia provar isso a eles, é 
possível falar que ambos formaram em seu intelecto uma opinião falsa que Bacon chama de “ídolo da 
caverna”. Esse tipo de opinião falsa constitui um obstáculo para uma compreensão correta do mundo, e, por 
conseguinte, um obstáculo ao progresso das ciências. 
 
II. Ídolos do fórum (o fórum era o lugar das discussões e dos debates públicos na Roma antiga) 
 
No nosso cotidiano podem ocorrer diversas falhas na comunicação que nos levam a compreender as coisas 
de maneira equivocada. Vejam o quadrinho do Hagar: 
As opiniões que se formam em nós por causa de falhas no uso da linguagem são chamadas por Bacon de 
“ídolos do fórum”. Uma palavra pode ser usada em sentidos diferentes pelos interlocutores de um diálogo; 
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isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas quando, na realidade, ocorre o contrário. 
Vejamos, por exemplo, o caso da palavra cultura, ela possui uma variedade de sentidos. Ao escutar a frase 
“ele tem uma vasta cultura”, alguém pode pensar “nossa esse indivíduo deve ter estudado bastante, lido 
muitos livros e conhece várias línguas”. No entanto, as pessoas falavam de uma “cultura de tomates”, ou 
seja, eles falavam da grande plantação de tomates que determinado indivíduo possuía. Graças à variedade de 
sentidos da palavra cultura a pessoa que escutou a frase formou uma opinião falsa, um “ídolo do fórum”.

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