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Comtabilidade Comercial e Financeira/Tema 3 Financiamento das Atividades Comerciais.pdf DESCRIÇÃO Conceituação das diferentes formas financiamento das atividades comerciais e seus tratamentos contábeis. PROPÓSITO Compreender o conceito e a importância das diferentes formas de financiamento das atividades comerciais para a captação recursos de modo otimizado pela empresa, tal como os efeitos contábeis de tais decisões. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos recursos computacionais, como acesso a planilhas eletrônicas (Excel) e calculadora, visando efetuar o cálculo das questões. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir o conceito de financiamento de atividades MÓDULO 2 Descrever as operações básicas financeiras relativas ao financiamento das atividades MÓDULO 3 Calcular adequadamente os financiamentos das atividades de uma empresa comercial INTRODUÇÃO Para compreendermos como uma empresa se financia, é necessário que entendamos as diferentes formas possíveis para que isso ocorra. Além disso, é necessário que uma empresa também saiba como as suas decisões de financiamento afetam as suas demonstrações contábeis. Neste tema, aprenderemos sobre como as empresas se financiam, a diferença entre o financiamento de e o financiamento via dívida, bem como os tratamentos contábeis para diferentes formas de atividades financeiras que ocorrem na empresa. MÓDULO 1 Definir o conceito de financiamento de atividades Fonte: Number1411/Shutterstock CONCEITOS FUNDAMENTAIS Qualquer atividade empresarial necessita de financiamento para o seu funcionamento. A necessidade, portanto, de obtenção de recursos é de fundamental importância para que uma empresa consiga fazer a sua operação de forma eficiente e lucrativa. No entanto, há diversas formas de se obter o necessário para financiar um negócio. Quais são elas? FINANCIAMENTO VIA DÍVIDA E VIA CAPITAL IMAGINE QUE VOCÊ QUEIRA CONSTRUIR UM IMÓVEL EM UM TERRENO QUE VOCÊ JÁ POSSUA A FIM DE ALUGÁ-LO. SÃO NECESSÁRIOS R$100.000,00 PARA A CONSTRUÇÃO DESSE IMÓVEL, MAS VOCÊ SÓ POSSUI R$20.000,00. QUAIS SÃO SUAS OPÇÕES? RESPOSTA RESPOSTA A primeira seria você poupar e guardar os R$80.000,00 necessários. Na segunda opção, você convidaria outra pessoa a aportar os R$80.000,00 e dividiria a receita de aluguel com essa pessoa. Finalmente, na terceira opção, você obtém um empréstimo bancário dos javascript:void(0) R$80.000,00 e pagaria de volta, ao banco, o valor do principal mais um valor a título de juros. Note que a primeira opção demanda um tempo muito grande para ser implementada e, portanto, não será incluída como possibilidade durante os nossos estudos. A segunda opção é interessante, pois você não estaria assumindo a obrigação de arcar com os valores de um empréstimo. A outra pessoa assumiria, junto com você, os riscos da operação, mas ela teria direito à parte da receita de aluguel na perpetuidade. Na terceira opção, a dívida será quitada um dia e, desse ponto em diante, toda a receita do aluguel será sua. No entanto, mesmo que o imóvel não esteja alugado, você terá de arcar com as parcelas do financiamento. Na realidade empresarial, a segunda forma é o financiamento via capital, ou seja, com a inclusão de novos sócios na empresa. Esses sócios compartilharão o risco com você, em troca de receberem uma porcentagem dos lucros da empresa na perpetuidade. Outra opção é o financiamento via dívida. Nesse caso, a estrutura societária permanece intacta, e a empresa assume uma dívida cuja obrigação de pagar é dela, independentemente do seu resultado. O tratamento contábil também é diferente nesses dois tipos de financiamento. A dívida ficará contabilizada no passivo da empresa e, a depender do vencimento dela, será contabilizada tanto como circulante como não circulante. O passivo circulante é aquele que a empresa deverá pagar até os próximos 12 meses, e o não circulante é o que vence após isso. Já o valor do capital é contabilizado no Patrimônio Líquido da instituição. Essa diferenciação é importante, uma vez que, como veremos na próxima seção, alguns tipos de contratos possuem cláusulas de covenant, que levam em conta o endividamento da empresa (ou seja, o passivo). CÁLCULO DOS VALORES PRESENTES E DECISÃO DA EMPRESA Para uma empresa saber o quanto valeria a pena financiar via dívida ou via capital, é necessário que cálculos sejam feitos, a fim de que os valores sejam comparados. Todos esses cálculos serão estimados com base no Valor Presente do custo de uma dívida versus o valor presente do custo de um sócio. Para a estimação do valor presente da dívida, o valor a ser estimado é: VPD= P1 ( 1 +R ) + P2 ( 1 +R ) 2 + P3 ( 1 +R ) 3 + . . . + PN ( 1 +R )N Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que VPD é o valor presente da dívida, Pn é a n-ésima parcela da dívida e r é a taxa interna de retorno que a firma utiliza para valorar os seus investimentos. Para a estimação do valor presente do capital, é utilizada a seguinte fórmula: VPC= D R -C Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que VPC é o valor presente do capital, D é o valor do dividendo a ser pago no primeiro ano para o(s) novo(s) sócio(s), r é a taxa interna de retorno e c é a taxa de crescimento esperada dos dividendos nos próximos anos, com c < r. EXEMPLO João tem uma startup no ramo de tecnologia e necessita de R$100.000,00 para aumentar as suas operações. Ele pode pegar um empréstimo de R$100.000,00 no banco, que cobrará 10 parcelas anuais e sucessivas de R$22.000,00. No entanto, José se ofereceu para aportar R$100.000,00 em troca de 10% na participação da empresa. Levando em conta que a TIR da empresa é de 15% a.a., os lucros do ano atual foram de R$80.000,00 (assuma que todos os lucros são distribuídos como dividendos) e que há uma expectativa de crescimento de 10% a.a. da empresa, qual forma de financiamento é melhor para João escolher? Vamos calcular o VPD, conforme indicado a seguir: VPD= 22 . 000 ( 1 , 15 ) + 22 . 000 ( 1 , 15 ) 2 + 22 . 000 ( 1 , 15 ) 3 + . . . + 22 . 000 ( 1 , 15 ) 10 VPD= 19 . 130 , 43 + 16 . 635 , 16 + 14 . 465 , 36 + ⋯ + 5 . 438 , 06 VPD= 110 . 412 , 90 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Agora, vamos calcular o VPC: VPC= 8 . 000 0 , 15 - 0 , 10 = 8 . 000 0 , 05 = 160 . 000 , 00 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Parece que o financiamento por dívida está melhor do que o financiamento por capital. Será, então, que João deve escolher o financiamento por dívida? Não necessariamente. Ele somente deve escolher o financiamento por dívida se sua empresa tiver certeza de que poderá arcar com as parcelas do financiamento. Lembre-se: o financiamento via dívida não reparte os riscos! DECISÃO DAS STARTUPS E PEQUENAS EMPRESAS Pelo fato de o financiamento via dívida não repartir os riscos, muitas startups e pequenas empresas se financiam, normalmente, via inclusão de novos sócios, e não via dívida. Há tantas incertezas no negócio que tais empresas não podem assumir a obrigação de arcar com as parcelas dessa dívida. Entretanto, como já mencionado, muitas empresas e startups escolhem se financiar por dívida, especialmente quando elas trabalham na parte financeira. EXEMPLO A Affirm se financiou por meio de dívida para prover crédito para consumidores adquirem produtos. Já a Opendoor fez isso para financiar os imóveis dos quais eles fazem a intermediação de vendas. Por fim, a SoFi tomou dívida para emprestar a estudantes no pagamento de suas faculdades. Nesse caso, as firmas ganham no spread — elas tomam empréstimos a taxas menores do que emprestam para seus clientes. Além dessas empresas, várias outras startups, como a Avant e a Tala, cresceram seus negócios utilizando dívida. CLÁUSULAS DE COVENANT Para finalizar este módulo, no qual falamos da decisão da empresa de se financiar por dívida ou por capital, veremos uma parte muito importante: as cláusulas de covenant. Essas cláusulas servem para proteger os credores de possíveis situações de insolvência da empresa. Ou seja, essas cláusulas ajudam a reduzir o risco do contrato, já que diminuem o risco de default (“calote”) pela empresa. Adicionalmente, essas cláusulas de covenant também podem ser benéficas para as empresas que estão tomando empréstimos. Elas podem possibilitar que empresas que não conseguiriam acessar linhas de crédito, por serem julgadas muito arriscadas, tenham acesso a essas linhas. Além disso, empresas que já conseguem acessar essas linhas podem obter condições de empréstimos mais favoráveis, como maiores valores de empréstimo ou menores taxas de juros. A cláusula de covenant, normalmente, contém um ou mais triggers relacionados a índices contábeis e financeiros, como endividamento da empresa, rating da empresa, margem de lucro, entre outros. Além disso, tais cláusulas podem estar relacionadas a fatos específicos, como proibição de aumento de capital, vinculação do empréstimo para fins específicos e necessidade de prestação de contas. EXEMPLO Uma empresa consegue R$1.000.000,00 em empréstimos e paga todo mês R$10.000,00 de abatimento da dívida mais os juros contratuais. O contrato de empréstimo possuía uma cláusula de covenant na qual era estipulado um nível máximo de endividamento da empresa. No entanto, após 18 meses, a empresa estoura esse limite contratual. Portanto, essa empresa deverá quitar o valor do empréstimo antecipadamente, já que ela violou a cláusula de covenant. O valor que ela deverá pagar devido à violação da cláusula de covenant será, então, de: 1 . 000 . 000 - 18 × 10 . 000 = 1 . 000 . 000 - 180 . 000 =R$ Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto, ao assumir uma dívida de longo prazo com cláusulas de covenant, a administração da empresa deve estar atenta à capacidade da mesma em cumprir essas cláusulas no longo prazo, tendo em vista que o não cumprimento enseja em uma necessidade grande de caixa para fazer o pagamento antecipado da dívida. Desse modo, conforme já mencionado, não é necessário apenas que sejam feitos os cálculos de VPC e VPD, mas também deve-se olhar para: A capacidade de pagamento da dívida pela empresa; O tipo de negócio dessa empresa (empresas financeiras podem, normalmente, assumir mais dívidas, pois elas ganham no spread entre a taxa de juros pagas e as cobradas de seus clientes); e As possíveis cláusulas de covenant, as quais a empresa pode (ou não) ter como cumprir. Consequentemente, a decisão de se financiar via dívida ou via capital é bastante complexa e afetará a vida da empresa por um grande período. FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ACERCA DO FINANCIAMENTO DE ATIVIDADES OPERACIONAIS DE EMPRESAS, PODEMOS AFIRMAR, EXCETO: A) O financiamento de uma empresa pode se dar por meio de dívida ou capital. B) O financiamento via dívida tem um momento de vencimento a partir do qual nenhum pagamento é mais devido. C) Uma das vantagens do financiamento via dívida é a divisão dos riscos do negócio. D) O financiamento via capital acarreta uma mudança da estrutura societária da empresa. E) Ambos os financiamentos, via dívida ou capital, servem para dar à empresa acesso a mais recursos para suas operações. 2. UMA EMPRESA PODE ACESSAR UM FINANCIAMENTO VIA DÍVIDA, COM UM BANCO, DE R$200.000,00, COM 10 PAGAMENTOS ANUAIS E SUCESSIVOS DE R$30.000,00. ENTRETANTO, ELA TAMBÉM PODERÁ ADMITIR UM NOVO SÓCIO QUE APORTARÁ R$200.000,00 EM TROCA DE 1,5% DE PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA NA EMPRESA. SABENDO QUE A EMPRESA PODE ARCAR COM OS VALORES DOS EMPRÉSTIMOS E QUE SEU LUCRO ANUAL É DE R$500.000,00, COM UMA EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO DE 4% A.A., E SUA TAXA INTERNA DE RETORNO É DE 9% A.A., QUAL FORMA DE FINANCIAMENTO É A MAIS ATRATIVA? A) O financiamento via dívida é mais atrativo, pois tem valor presente de R$200.000,00. B) O financiamento via capital é mais atrativo, pois tem valor presente de R$180.000,00. C) Ambos possuem a mesma atratividade. D) O financiamento via capital é mais atrativo, pois tem um valor presente de R$42.529,73 abaixo do financiamento via dívida. E) O financiamento via dívida é mais atrativo, pois tem um valor presente de R$42.529,73 abaixo do financiamento via capital. GABARITO 1. Acerca do financiamento de atividades operacionais de empresas, podemos afirmar, exceto: A alternativa "C " está correta. O financiamento de uma empresa pode ocorrer tanto por meio de dívida como de capital, e ambos têm como objetivo fornecer mais recursos para a empresa crescer. O financiamento via capital ocorre com a entrada de um ou mais sócios, ou pelo aumento no aporte de capital de um ou mais sócios que já se encontravam no corpo societário da empresa, acarretando uma mudança da estrutura societária dessa empresa. Entretanto, o financiamento via dívida NÃO incorpora os riscos do negócio, de modo que os pagamentos devidos não têm qualquer relação com o desempenho da empresa. 2. Uma empresa pode acessar um financiamento via dívida, com um banco, de R$200.000,00, com 10 pagamentos anuais e sucessivos de R$30.000,00. Entretanto, ela também poderá admitir um novo sócio que aportará R$200.000,00 em troca de 1,5% de participação acionária na empresa. Sabendo que a empresa pode arcar com os valores dos empréstimos e que seu lucro anual é de R$500.000,00, com uma expectativa de crescimento de 4% a.a., e sua taxa interna de retorno é de 9% a.a., qual forma de financiamento é a mais atrativa? A alternativa "D " está correta. O valor presente da dívida é de R$192.529,73, e o valor presente do capital é de R$ 150.000,00. A diferença entre os dois é portanto de R$192.529,73 - R$150.000,00 = R$42.529,73. Como o valor presente da dívida é superior ao valor presente de capital, o financiamento via capital é mais atrativo, pois representa um custo menor para a empresa. MÓDULO 2 Descrever as operações básicas financeiras relativas ao financiamento das atividades Fonte: TimeShops/Shutterstock OPERAÇÕES DE JUROS E DESCONTOS JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS Conforme vimos no módulo anterior, as operações financeiras sempre dependem de taxas de juros a fim de trazer os valores do presente a um valor futuro, ou valores do futuro a um valor presente. Há duas formas de fazer esse cálculo: utilizando juros simples ou juros compostos. A seguir, veremos cada uma dessas formas: JUROS SIMPLES No caso dos juros simples, os juros apenas incidem sobre o principal. Assim sendo, o valor futuro é dado por meio da multiplicação: VF=VP×N×(1+R) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que VF é o valor futuro, VP é o valor presente, n é o número de períodos de distância entre o presente e o futuro, e r é a taxa de juros. Com a fórmula apresentada, podemos calcular o valor presente, a partir do valor futuro, da seguinte maneira: VP=VFN1+R Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal JUROS COMPOSTOS No caso dos juros compostos, os juros incidem sobre o principal e também sobre os juros anteriores, por isso, tal sistema é conhecido como “juros sobre juros”. Portanto, o valor futuro é dado a partir da exponenciação: VF=VP1+RN Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Assim como fizemos no caso dos juros simples, podemos fazer o cálculo do valor presente, a partir dos valores apresentados, da seguinte maneira: VP=VF1+RN Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Tendo em vista que as operações financeiras utilizam-se, normalmente, dos juros compostos, estudaremos, deste ponto em diante, apenas operações que envolvam juros compostos. EXEMPLO Uma empresa pega um empréstimo no valor de R$120.000,00. O valor dos juros é de 10% a.a. Qual o valor da dívida passados 1, 2 e 3 anos após ela ser contratada, sendo que nenhum pagamento foi feito ainda? Os cálculos dão-se conforme vemos a seguir: Ano 1: 120000 × (1,1)1 120000 × 1,1 = 132.000 Ano 2: 120000 × (1,1)²=120000 × 1,21 = 145.200 Ano 3: 120000 × (1,1)³=120000 × 1,331 = 159.720 Nesse exemplo, fica claro o efeito do “juros sobre juros”. No ano 1, o valor dos juros foi de 132.000-120.000=R$ 12.000. No entanto, no ano 2, o valor foi ainda maior, sendo igual a 145.200- 132.000=R$ 13.200. No ano 3, o valor dos juros foi maior ainda, chegando a 159.720-145.200=R$ 14.520. Por isso, ao se financiar por meio de dívida, uma empresa necessita levar em consideração o tempo de pagamento, já que ele influencia, direta e exponencialmente, o custo da dívida. Agora, vamos supor que, continuando no caso do exemplo apresentado, a empresa pague R$24.000,00 por ano para quitar a dívida, mais os juros anuais. Quanto tempo demoraria para quitar a dívida? Esse tempo seria calculado da seguinte maneira: 12000024000=5 Portanto, demoraria 5 anos para a empresa quitar a sua dívida. Existe, entretanto, outra pergunta importante: quanto essa empresa pagaria de juros? Para tal cálculo, precisamos de uma tabela como esta a seguir: Ano Saldo inicial Juros Pagamento Saldo final 1 120000 12000 36000 96000 2 96000 9600 33600 72000 3 72000 7200 31200 48000 4 48000 4800 28800 24000 5 24000 2400 26400 0 Ano Saldo inicial Juros Pagamento Saldo final Total: 36000 156000 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal A coluna de saldo inicial traz o saldo do início do período. O valor dos juros é o valor do saldo inicial vezes 10% (o valor dos juros no período). O valor do pagamento é o valor dos juros mais o abatimento de R$24.000,00 por ano, e o saldo final é igual ao valor do saldo inicial menos o abatimento anual de R$24.000,00. Ao somar as colunas de juros, chega-se ao valor dos juros totais de R$36.000,00. Uma maneira adicional seria somar todos os pagamentos e diminuir o valor do empréstimo. Portanto, o valor é de R$156.000 - R$120.000 = R$36.000. DICA Note que, no primeiro caso, no qual a empresa toma R$120.000,00 de empréstimo e paga o valor apenas em um pagamento único no final de 3 anos, ela pagará um total de R$159.720,00, ou seja, um total de R$39.720,00 de juros. No segundo caso, ela pagou apenas R$36.000,00 de juros, sendo que teve 5 anos para pagar (2 anos a mais do que no primeiro caso). Isso demonstra que não só o tempo de pagamento é importante, mas também o abatimento da dívida, pois isso reduz o efeito dos “juros sobre juros”. TAXAS DE JUROS CONTÍNUAS Até agora, vimos os casos em que os juros são capitalizados em períodos discretos, ou seja, todo ano, todo mês, ou todo dia. Agora, iremos analisar a taxa de juros capitalizada de forma contínua. Em alguns tipos de problemas de finanças (e também em certos tipos de contratos), os juros são capitalizados continuamente. Na maioria dos casos, temos capitalizações anuais (a.a.), mensais (a.m.) e diária (a.d.). Porém, a capitalização contínua é calculada instantaneamente. Em casos assim, usamos a fórmula com o exponencial: VF=VP × EIT Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que e é o número de Euler que equivale a 2,718281828... (número irracional). Vejamos a diferença entre um investimento de R$1.000,00 nessas taxas por dois anos: 10% a.a., capitalizados anualmente; 10% a.a., capitalizados mensalmente; 10% a.a., capitalizados continuamente. Para calcular o segundo caso, temos de fazer uma transformação da taxa a.a. para taxa a.m., e isso pode ser feito por meio da fórmula de juros compostos: 1,1=1+R12=>R=1,112-1=0,007974=0,7974% Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Na primeira, o valor final será de 1.000 × 1,12= R$1.210,00. Na segunda, temos que 1.000 × 1,00797424 = R$1.210,00 também, e na terceira, temos que 1000 × e0.2 = R$1.221,40. Note que a capitalização contínua dará valores ligeiramente superiores aos das capitalizações em regimes de tempos discretos. A capitalização em intervalo contínuo também possui a vantagem de a taxa de juros estar na exponenciação, e não na base, o que torna cálculos mais complexos bem mais fáceis de serem construídos. Entretanto, neste conteúdo, todos os cálculos de juros se darão em regimes discretos, o que é mais comum no dia a dia. OPERAÇÕES DE DESCONTO Muitas vezes, quando empresas se financiam por dívida — seja por meio de emissão de debêntures ou de empréstimos —, é vantajoso para ela pagar (ou quitar) antecipadamente um título. Para isso, é necessária a utilização de uma taxa de desconto, que pode ser aplicada “por dentro” ou “por fora”. Em ambos os casos, o valor do desconto será a diferença entre o valor futuro e o valor presente. No caso do desconto “por dentro”, o cálculo se dará da seguinte maneira: DD=VF1+IN-11+IN Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Já no cálculo do desconto “por fora”, a fórmula é a seguinte: DF=VF1-1-DN Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal CÁLCULO DE DESCONTO Uma empresa se financiou emitindo títulos de debêntures no valor futuro de 10 milhões de reais. A taxa de juros é igual à taxa de desconto, que é de 8% a.a., e os títulos vencem daqui a 2 anos. A empresa deseja fazer uma proposta para quitação antecipada das debêntures. Qual é o valor do desconto se ele for calculado “por fora”? E se fosse calculado “por dentro”? A partir da fórmula do desconto “por fora”, podemos realizar o seguinte cálculo: DF=101-1-0,082=101-0.922=101-0,8464=1,536 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, o valor do desconto “por fora” seria de R$1.536.000,00. Já o cálculo do desconto “por dentro” se daria da seguinte maneira: DD=VF1+IN-11+IN=101,082- 11,082=100,16641,1664=1,6641,1664=1,423 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O desconto “por dentro” ficaria em cerca de R$1.426.611,80. Como seria o cálculo se o valor futuro não fosse conhecido? O caso a seguir descreve essa situação. CÁLCULO DE DESCONTO COM VALOR FUTURO DESCONHECIDO Uma empresa emitiu debêntures para se financiar no valor de 1 milhão de reais. Ela pagará o principal mais juros em 5 anos. Após 4 anos, ela quer quitar antecipadamente. Qual o valor do cálculo do desconto tanto “por dentro” como “por fora”? Primeiramente, temos de calcular o valor futuro através da fórmula de juros compostos, conforme mostrado a seguir: VF=1.000.000 × 1,055=1.000.000 × 1,27628156 = R$1.276.281,56 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O cálculo do desconto “por dentro” fica: DD=VF1+IN-11+IN=1.276.281,561,05- 11,05=63.814,081,05=R$60.775,31 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Já o desconto “por fora” é igual a: DF=VF1-1-DN=1.276.281,561-0,95=R$63.814,08 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No primeiro caso, o valor a pagar é de R$1.276.281,56 - R$60.775,31 = R$1.215.506,25; já no segundo caso, é de R$ 1.276.281,56 - R$ 63.814,08 = R$ 1.212.467,48. Note que, calculando o valor de R$ 1.000.000×1,054, chegamos ao mesmo valor do desconto “por dentro”, ou seja, o valor de R$ 1.215.506,25. Portanto, o valor do desconto “por dentro” dará sempre igual ao desconto se usarmos a fórmula dos juros compostos. A fórmula do desconto “por fora” é uma aproximação mais “fácil” de se calcular, mas sempre tenderá a dar um valor presente menor. Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock ENCARGOS FINANCEIROS Muitas das vezes em que empresas se financiam por meio de empréstimos contraídos com instituições financeiras, há a incidência de encargos financeiros. Tais encargos, se forem pagos separadamente antes da obtenção do empréstimo, são encarados como despesa no resultado. Porém, se forem pagos depois ou incorporados ao empréstimo, eles integram o custo do empréstimo e, portanto, são contabilizados como pagamentos do empréstimo, alterando a taxa de juros nominal. A taxa de juros nominal é a que conta no contrato e remunera o valor emprestado pela instituição financeira. Já a taxa de juros efetiva é o quanto o tomador do empréstimo está pagando efetivamente para recebe-lo. Portanto, como estamos sempre analisando os eventos contábeis por meio da ótica do tomador do empréstimo (isto é, a firma que está se financiando por dívida), sempre nos atentaremos à taxa de juros efetiva. Por exemplo, imagine que uma empresa contrate um empréstimo de R$100.000,00 e que efetue o pagamento em 12 meses com valor mensal de R$8.811,84, conforme a tabela a seguir: Valor devido Juros Valor pago Valor final Valor devido Juros Valor pago Valor final 0 100000,00 2% 8811,84 93188,16 1 93188,16 2% 8811,84 86240,07 2 86240,07 2% 8811,84 79153,03 3 79153,03 2% 8811,84 71924,25 4 71924,25 2% 8811,84 64550,89 5 64550,89 2% 8811,84 57030,06 6 57030,06 2% 8811,84 49358,82 7 49358,82 2% 8811,84 41534,15 8 41534,15 2% 8811,84 33552,99 9 33552,99 2% 8811,84 25412,21 10 25412,21 2% 8811,84 17108,61 11 17108,61 2% 8811,84 8638,94 12 8638,94 2% 8811,84 0,00 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Agora, imagine que há encargos no empréstimo no valor de R$2.400,00, que será parcelado em 12 vezes de R$200,00 e embutidos nas parcelas do empréstimo. Nesse caso, a nova prestação mensal é de R$9.011,84, e a nova taxa de juros (que pode ser encontrada via Excel ou utilizando uma calculadora financeira) é de, aproximadamente, 2,3423% ao mês, conforme mostra a tabela a seguir: Valor Devido Juros Valor Pago Valor Final 0 100000,00 2,34% 9011,84 93330,43 1 93330,43 2,34% 9011,84 86504,64 2 86504,64 2,34% 9011,84 79518,97 3 79518,97 2,34% 9011,84 72369,67 4 72369,67 2,34% 9011,84 65052,93 5 65052,93 2,34% 9011,84 57564,80 6 57564,80 2,34% 9011,84 49901,28 7 49901,28 2,34% 9011,84 42058,26 8 42058,26 2,34% 9011,84 34031,53 9 34031,53 2,34% 9011,84 25816,80 10 25816,80 2,34% 9011,84 17409,66 11 17409,66 2,34% 9011,84 8805,59 12 8805,59 2,34% 9011,84 0,00 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal A taxa de 2,00% é chamada de taxa nominal, e a taxa de 2,3423% é chamada de taxa efetiva. O lançamento contábil ocorrerá, portanto, da seguinte maneira (para o lançamento dos juros do primeiro mês): D – Despesa financeira = R$2.286,26 [100.000 x 0.022986] C – Empréstimos = R$2.286,26 Quando do pagamento, o lançamento ocorrerá normalmente: D – Empréstimos = R$9.845,08 C – Bancos = R$9.845,08 Em seguida, o lançamento do valor dos juros ocorrerá igualmente ao feito anteriormente, só que sobre o saldo devedor de R$94.785,86, e não sobre os R$100.000,00: D – Despesa financeira = R$2.178,75 [94.785,86 x 0.022986] C – Empréstimos = R$2.178,75 Fonte: TippaPatt/Shutterstock AJUSTE A VALOR PRESENTE Muitas vezes, são necessários ajustes a valor presente de diversos tipos de financiamento. A forma mais comum disso acontecer é, como vimos na seção anterior, no caso de lançamento de juros. A capitalização dos juros sempre traz o valor da dívida ao valor presente da mesma. No entanto, há outros casos em que podem ser necessários lançamentos adicionais. O ajuste a valor presente é regulado pelo CPC 12 (NBC-TG 12), que o define da seguinte maneira: O AJUSTE A VALOR PRESENTE TEM COMO OBJETIVO EFETUAR O AJUSTE PARA DEMONSTRAR O VALOR PRESENTE DE UM FLUXO DE CAIXA FUTURO. ESSE FLUXO DE CAIXA PODE ESTAR REPRESENTADO POR INGRESSOS OU SAÍDAS DE RECURSOS (OU MONTANTE EQUIVALENTE; POR EXEMPLO, CRÉDITOS QUE DIMINUAM A SAÍDA DE CAIXA FUTURO SERIAM EQUIVALENTES A INGRESSOS DE RECURSOS). PARA DETERMINAR O VALOR PRESENTE DE UM FLUXO DE CAIXA, TRÊS INFORMAÇÕES SÃO REQUERIDAS: VALOR DO FLUXO FUTURO (CONSIDERANDO TODOS OS TERMOS E AS CONDIÇÕES CONTRATADOS), DATA DO REFERIDO FLUXO FINANCEIRO E TAXA DE DESCONTO APLICÁVEL À TRANSAÇÃO. O CPC 12, por ser mais generalista, traz diversos exemplos de situações contábeis e financeiras em que o ajuste é necessário. Porém, neste módulo, nos ateremos apenas aos casos que envolvam financiamentos de empresas por meio de dívida, que é o escopo deste conteúdo. Um desses casos é quando há uma renegociação das taxas de juros, o que enseja um lançamento para se alterar o valor presente. Vejamos o exemplo a seguir: EXEMPLO Uma empresa contraiu empréstimo a pagar em 10 anos no valor de R$150.000,00, de um banco, em janeiro de 2015, com uma taxa de juros de 18% a.a (a taxa de juros SELIC, em 2015, estava em 14,25% a.a.). Entretanto, tendo em vista que, em agosto de 2020, a taxa de juros SELIC caiu para 2%, a empresa repactuou a taxa de juros para 9% a.a. retroativa a janeiro de 2020. Qual é o valor do lançamento para fazer o ajuste da dívida ao seu correto valor presente em agosto de 2020? A dívida foi de R$150.000,00, com uma taxa de juros 18%a.a., então, em agosto de 2020, o valor da dívida estava contabilizado como: 150.000 ×1,185,67=R$383.408,94 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que o valor de 1,18 foi elevado a 5,67, pois se passaram 5 anos e 8 meses (ou 5 mais oito doze avos). Como a dívida foi repactuada, o valor presente correto é de: 150.000 ×1,185×1,090,67=R$363.560,80 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Portanto, o valor do ajuste a valor presente será de R$19.848,15, a ser lançado da seguinte forma: D – Empréstimo (ajuste a valor presente) = R$19.848,15 C – Receita financeira = R$19.848,15 COMO O CUSTO DA DÍVIDA INFLUENCIA A QUESTÃO DE QUAL TIPO DE FINANCIAMENTO A EMPRESA PODE ADOTAR? VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA EMPRESA TOMA UM EMPRÉSTIMO NO VALOR DE R$200.000,00. A TAXA DE JUROS NOMINAL É DE 0,98% AO MÊS. PORÉM, A EMPRESA TEVE CUSTOS DE R$15.000,00 NO EMPRÉSTIMO, EM QUE ELEVARAM A TAXA DE JUROS EFETIVA PARA 1,03% A.M. (TAIS CUSTOS SERÃO PAGOS DE FORMA DILUÍDA NAS PARCELAS). QUAL É O VALOR DA DESPESA FINANCEIRA NO PRIMEIRO MÊS? A) R$1.960,00 B) R$2.060,00 C) R$15.000,00 D) R$16.960,00 E) R$17.060,00 2. UMA EMPRESA CONTRAIU UM EMPRÉSTIMO DE R$500.000,00, PAGÁVEIS AO FIM DE 12 MESES, COM JUROS DE 1% A.M. QUAL É O VALOR DO SALDO DO PASSIVO AO FIM DE 5 MESES? A) R$500.000,00 B) R$505.000,00 C) R$525.000,00 D) R$525.505,03 E) R$563.412,52 GABARITO 1. Uma empresa toma um empréstimo no valor de R$200.000,00. A taxa de juros nominal é de 0,98% ao mês. Porém, a empresa teve custos de R$15.000,00 no empréstimo, em que elevaram a taxa de juros efetiva para 1,03% a.m. (tais custos serão pagos de forma diluída nas parcelas). Qual é o valor da despesa financeira no primeiro mês? A alternativa "B " está correta. O valor que virá como despesa financeira na DRE do primeiro mês será com a taxa de juros efetiva de 1,03% x R$200.000,00 = R$2.060,00. O valor da taxa de juros nominal, conforme já discutido anteriormente no conteúdo, não deve integrar o cálculo da despesa financeira. 2. Uma empresa contraiu um empréstimo de R$500.000,00, pagáveis ao fim de 12 meses, com juros de 1% a.m. Qual é o valor do saldo do passivo ao fim de 5 meses? A alternativa "D " está correta. Tendo em vista que não houve pagamentos, o valor do passivo é de R$500.000 × 1,015 = R$252.505,03. Caso houvesse pagamentos, deveria ser construída uma tabela, conforme vimos no conteúdo, com os valores dos pagamentos diminuindo o valor devido. MÓDULO 3 Calcular adequadamente os financiamentos das atividades de uma empresa comercial Fonte: Monster Ztudio/Shutterstock CONTABILIZAÇÃO DE OPERAÇÕES FINANCEIRAS COM JUROS PREFIXADOS E PÓS-FIXADOS Na contabilidade, segue-se o regime de competência, ou seja, os fatos contábeis só são contabilizados conforme ocorrem. O CPC 00 traz a definição e a importância do regime de competência da seguinte maneira: O REGIME DE COMPETÊNCIA REFLETE OS EFEITOS DE TRANSAÇÕES E OUTROS EVENTOS E CIRCUNSTÂNCIAS SOBRE REIVINDICAÇÕES E RECURSOS ECONÔMICOS DA ENTIDADE QUE REPORTA NOS PERÍODOS EM QUE ESSES EFEITOS OCORREM, MESMO QUE OS PAGAMENTOS E RECEBIMENTOS À VISTA RESULTANTES OCORRAM EM PERÍODO DIFERENTE. ISSO É IMPORTANTE PORQUE INFORMAÇÕES SOBRE OS RECURSOS ECONÔMICOS E REIVINDICAÇÕES DA ENTIDADE QUE REPORTA E MUDANÇAS EM SEUS RECURSOS ECONÔMICOS E REIVINDICAÇÕES DURANTE O PERÍODO FORNECEM UMA BASE MELHOR PARA A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PASSADO E FUTURO DA ENTIDADE DO QUE INFORMAÇÕES EXCLUSIVAMENTE SOBRE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS À VISTA DURANTE ESSE PERÍODO. Portanto, os juros só são contabilizados após o período que foi transcorrido. Por quê? EXEMPLO Vamos supor que sua empresa tenha contraído um empréstimo de R$100.000,00, com juros de 1% a.m. para serem pagos, na totalidade, após 12 meses. O que acontecerá se a empresa quitar o empréstimo na data de pagamento? Nesse caso, ela pagará R$100.000 × (1,01)12 = R$112.682,50. Ou seja, os juros totalizarão R$12.682,50. Mas o que ocorrerá se ela pagar antecipadamente no primeiro mês? Nesse caso, ela pagará R$100.000 × (1,01)1 = R$101.000,00. Note que, agora, o valor dos juros é de apenas R$1.000,00. Ou seja, o valor dos juros muda com o decorrer do tempo e a contabilidade deve refletir isso. Caso fossem contabilizados os R$112.682,50 na contabilidade, se a empresa pagasse antecipadamente a dívida já no primeiro mês, o passivo ficaria maior em R$11.682,50 (pois a empresa pagou R$101.000,00, mas o valor da dívida na contabilidade estava em R$112.682,50). Isso geraria um erro contábil que teria de ser corrigido. Dessa forma, é sempre importante contabilizar os juros mês a mês, a fim de evitar erros contábeis. Além disso, um aspecto muito importante é referente à diferença entre amortização e juros. No caso apresentado anteriormente, após 12 meses, a empresa pagará R$112.682,50 sendo R$100.000,00 de amortização e R$12.682,50 de juros. A amortização é a devolução do valor emprestado, e os juros são o pagamento pelo tempo do dinheiro. É importante diferenciar, pois os R$100.000,00 não são uma despesa da empresa, já que ela apenas estaria devolvendo o valor que tinha tomado emprestado e estava contabilizado em seu ativo. Porém, os R$12.682,50 representam uma despesa que a empresa incorreu para obter o empréstimo. A amortização é contabilizada por meio de uma contraprestação no passivo (diminui a dívida da empresa) no caixa, enquanto os juros são contabilizados como despesa. Veja o exemplo, a seguir, das contabilizações do exemplo anterior. RECEBIMENTO DO EMPRÉSTIMO C – Passivo = R$100.000,00 D – Caixa = R$100.000,00 Contabilizações dos juros (mês a mês) APÓS O FIM DO PRIMEIRO MÊS C – Passivo = (valor dos juros do mês) D – Despesa = (valor dos juros no mês) Esses valores das despesas de juros vão acumulando, mês a mês, na conta de passivo, até que a mesma chegue ao valor de R$112.682,50 no décimo segundo mês, e o empréstimo é quitado, conforme lançamento a seguir: APÓS O PAGAMENTO D – Passivo = R$112.682,50 C – Caixa = R$112.682,50 No caso apresentado, os juros são prefixados, ou seja, os valores dos juros mensais são conhecidos já no início de contrato. No caso dos pós-fixados, os mesmos são conhecidos com o javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) passar do tempo. Um exemplo do caso de juros pós-fixados seria um empréstimo tendo como juros o IPCA + 0,50% a.m. Nesse caso, sempre há um componente prefixado e um pós-fixado. Portanto, em casos assim, a contabilização é um pouco diferente. A mecânica contábil é a mesma, no entanto, como os juros são definidos mês a mês de forma dinâmica, a taxa tem que ser calculada sempre ao lançamento, em vez de se lançar uma taxa fixa. Por exemplo, se o IPCA foi 0,25%, em fevereiro de 2020, a taxa do mês para a contabilização da despesa com juros seria de 0,75% do saldo do passivo (0,25%+0,50%). Porém, em março de 2020, como o IPCA foi de 0,07%, a taxa para a contabilização da despesa com juros seria apenas de 0,57% (0,07%+0,50%). No entanto, pode haver casos em que ambas as taxas estejam descritas em taxas anuais (a.a.), mas precisamos atualizar o valor mês a mês (a.m.) para fins contábeis. Como fazer essa transformação? Vejamos um exemplo: EXEMPLO Uma empresa emite um título que paga 5,0% + IPCA a.a., mas o IPCA foi de 0,2% no primeiro mês. Qual é o valor contábil dos juros, no primeiro mês, a fim de se ajustar o passivo? Primeiramente, temos de transformar a taxa prefixada, que está em a.a., em a.m. Isso pode ser feito utilizando a fórmula de juros compostos, conforme veremos a seguir: 1,05=1+I12=>I=1,0512-1=>I=0,00407=0,407% Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Desse modo, um título que rende 5,0% + IPCA a.a. é como um título que rende 0,407% + IPCA a.m. A partir dessa transformação, podemos calcular o valor para o mês, que será de 0,407 + 0,200 = 0,607%. Assim, o valor para atualizar o título nesse mês seria de 0,607%. Fonte: Setthawuth/Shutterstock PERDAS ESTIMADAS EM CRÉDITOS DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSAS À diferença dos casos que vimos até aqui, este item se refere à parte que detém o direito de receber o crédito. Muitas empresas, para manter as suas margens de lucro e aumentar a sua clientela, vendem seus produtos a prazo para continuar a financiar as suas atividades. Entretanto, para todas as vendas, há a probabilidade de os clientes não efetuarem os pagamentos, com o famoso “calote”. Tal “calote” faz parte da operação da empresa, de modo que ela deve reconhecer sempre uma provisão para isso. Tal normativa estava no CPC 38 até o ano de 2018 e foi substituída para pelos CPCs 47 e 48. O CPC 00, que traz todo o arcabouço teórico da Contabilidade, diz o seguinte sobre a representação fidedigna das informações contábeis em relatórios financeiros: RELATÓRIOS FINANCEIROS REPRESENTAM FENÔMENOS ECONÔMICOS EM PALAVRAS E NÚMEROS. PARA SEREM ÚTEIS, INFORMAÇÕES FINANCEIRAS NÃO DEVEM APENAS REPRESENTAR FENÔMENOS RELEVANTES, MAS TAMBÉM REPRESENTAR DE FORMA FIDEDIGNA A ESSÊNCIA DOS FENÔMENOS QUE PRETENDEM REPRESENTAR. [...] PARA SER REPRESENTAÇÃO PERFEITAMENTE FIDEDIGNA, A REPRESENTAÇÃO TEM TRÊS CARACTERÍSTICAS. ELA É COMPLETA, NEUTRA E ISENTA DE ERROS. OBVIAMENTE, A PERFEIÇÃO NUNCA OU RARAMENTE É ATINGIDA. O OBJETIVO É MAXIMIZAR ESSAS QUALIDADES TANTO QUANTO POSSÍVEL. A REPRESENTAÇÃO COMPLETA INCLUI TODAS AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE O USUÁRIO COMPREENDA OS FENÔMENOS QUE ESTÃO SENDO REPRESENTADOS, INCLUSIVE TODAS AS DESCRIÇÕES E EXPLICAÇÕES NECESSÁRIAS. Ou seja, a contabilidade tem de representar, fidedignamente, todas as transações e a realidade econômico-financeira da empresa. É irreal esperar que todos os seus clientes façam os pagamentos em dia e sem probabilidade de “calote”. Ademais, a normativa contábil estabelece que “[a] representação completa inclui todas as informações necessárias para que o usuário compreenda os fenômenos que estão sendo representados”. Em outras palavras, os usuários das informações contábeis e financeiras que a empresa disponibiliza precisam saber da estimativa que a empresa faz de possíveis “calotes” que receberá no futuro. Assim sendo, a empresa deve demonstrar essa possibilidade em seus demonstrativos contábeis. A empresa, de acordo com tais normativas, deve estimar, nas suas operações financeiras de venda a prazo, o percentual dos créditos que possui liquidação duvidosa, isto é, que possui o risco de “calote”. Normalmente, isso é feito por meio de previsões estatísticas que levam em conta tanto os valores passados que não foram pagos quanto aspectos macroeconômicos, tais como taxa de juros, inflação, PIB etc. A contabilização é feita por meio de uma conta redutora no ativo. Vejamos um exemplo a seguir: LANÇAMENTO DA PERDA REVERSÃO DA PERDA LANÇAMENTO DA PERDA Uma empresa estimou que R$10.000,00 dos seus créditos de venda a prazo não seriam recebidos. Nesse caso, o lançamento contábil correto é o seguinte: C – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 10.000 D – Despesa com PCLD = 10.000 Com o tempo, a empresa verifica que R$2.000,00 de uma dívida de um cliente não serão pagos (não vale a pena cobrar judicialmente a dívida, e o cliente está com a dívida há anos). O lançamento dessa perda, portanto, não irá influenciar o resultado da empresa, pois não será contabilizada uma despesa, apenas será incorporada a PCLD na conta de clientes: C – Clientes = 2.000 D – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 2.000 Há também o caso contrário: a reversão da perda. Isso acontece quando todos os créditos são quitados ou a empresa revisa a sua estimativa de PCLD para baixo. Vejamos o exemplo a seguir: REVERSÃO DA PERDA Retomando o exemplo anterior, vamos supor que a empresa revisasse sua estimativa de PCLD de 10 mil para 8 mil. O lançamento de reversão seria feito da seguinte maneira: C – Reversão de PCLD = 2.000 D – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 2.000 Nesse caso, a reversão é contabilizada como uma receita da empresa. CONTABILIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE PDD E DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS DAS ATIVIDADES COMERCIAIS DE UMA EMPRESA OPERAÇÕES COM INSTRUMENTOS FINANCEIROS Primeiramente, temos de definir o que é um instrumento financeiro. O instrumento financeiro pode ser definido como um contrato que dá origem a um ativo ou passivo financeiro, ou a um instrumento patrimonial. Portanto, os casos anteriores que já analisamos se enquadram em instrumentos financeiros. Agora, vamos analisar a contabilização de operações com instrumentos financeiros de forma mais geral. Os ativos financeiros deverão ser contabilizados da seguinte maneira: PELO CUSTO AMORTIZADO Se a empresa mantiver o ativo com o propósito de receber os juros contratuais sobre o principal investido; PELO VALOR JUSTO ATRAVÉS DE OUTROS RESULTADOS ABRANGENTES (ORA) Se a empresa mantiver o ativo tanto para negociação quanto para recebimento de juros; PELO VALOR JUSTO ATRAVÉS DE RESULTADO Se a empresa não se enquadrar em nenhum dos dois casos anteriores. Vejamos a aplicação dessas regras nos exemplos a seguir: A empresa XYZ compra 10 títulos de dívida que pagam 10% a.a. de juros mais 10.000 de amortização do principal anualmente. O objetivo da empresa é receber os juros contratuais, e não negociar o título. A partir dessas informações, podemos calcular a tabela a seguir: Ano Saldo inicial Juros Amortização Recebimento Saldo final 1 100000 2000 10000 12000 90000 2 90000 1800 10000 11800 80000 3 80000 1600 10000 11600 70000 4 70000 1400 10000 11400 60000 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Ano Saldo inicial Juros Amortização Recebimento Saldo final 5 60000 1200 10000 11200 50000 6 50000 1000 10000 11000 40000 7 40000 800 10000 10800 30000 8 30000 600 10000 10600 20000 9 20000 400 10000 10400 10000 10 10000 200 10000 10200 0 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Podemos, nesse caso, realizar a contabilização do primeiro ano para a entidade que comprou essa dívida da seguinte maneira: D – Ativo financeiro = R$1.000.000,00 C – Caixa = R$1.000.000,00 D – Caixa = R$120.000,00 C – Ativo financeiro = R$100.000,00 C – Receita com juros = R$20.000,00 O segundo lançamento será repetido todos os 10 anos até o saldo da conta ser zerado. No entanto, caso a empresa o mantivesse também para a venda, ela deveria contabilizar o instrumento por meio do Valor Justo em ORA. Ou seja, vamos supor que a taxa de juros básica caia e o instrumento esteja cotado em R$98.000,00 ao fim do ano 1. Nesse caso, os R$8.000,00 de “ganho” versus o valor contratual de R$90.000,00 deverão ser contabilizados em outros resultados abrangentes, como veremos a seguir: D – Ativo financeiro = R$80.000,00 C – Outros resultados abrangentes = R$80.000,00 EXEMPLO Vamos supor que a empresa invista o valor de R$100.000,00 em um Fundo Multimercado e, após 1 mês, o saldo seja de R$102.500.00. Tendo em vista que esse tipo de investimento não se enquadra em nenhum dos dois primeiros itens, o valor é lançado como valor justo por meio do Resultado, conforme o exemplo a seguir: D – Investimentos em Fundo Multimercado = R$100.000,00 C – Caixa = R$100.000,00 D – Investimentos em Fundo Multimercado = R$2.000,00 C – Receita financeira = R$2.000,00 VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA EMPRESA DECIDE INVESTIR R$50.000,00 DO SEU CAIXA EM UM TÍTULO QUE PAGA IPCA +2,0% A.A. A EMPRESA DESEJA MANTER O TÍTULO ATÉ O VENCIMENTO E NÃO NEGOCIÁ-LO. O TÍTULO NÃO POSSUI CUPONS (O VALOR SERÁ PAGO APENAS NO VENCIMENTO). APÓS 1 ANO, O VALOR DO IPCA FOI DE 2,25%. COMO DEVERÁ SER FEITO O LANÇAMENTO DOS JUROS? A) Não deve ser feito lançamento dos juros, apenas a marcação a valor justo. B) Deve ser feito no valor de R$2.125,00 na conta do ativo contra a conta de Outros Resultados Abrangentes. C) Deve ser feito no valor de R$2.125,00 na conta do ativo contra a conta de Receita Financeira no Resultado. D) Deve ser feito no valor de R$4.250,00 na conta do ativo contra a conta de Receita Financeira no Resultado. E) Deve ser feito no valor de R$ 4.250 na conta do ativo contra a conta de Outros Resultados Abrangentes. 2. UMA EMPRESA TOMOU UM EMPRÉSTIMO DE R$100.000,00 COM JUROS DE 10% A.A. E PAGAMENTOS ANUAIS. NO PRIMEIRO ANO, PAGOU R$60.000,00, E NO SEGUNDO ANO, PAGOU R$55.000,00. QUAL É O VALOR DA AMORTIZAÇÃO ANUAL? A) R$50.000,00 B) R$55.000,00 C) R$60.000,00 D) R$80.000,00 E) R$100.000,00 GABARITO 1. Uma empresa decide investir R$50.000,00 do seu caixa em um título que paga IPCA +2,0% a.a. A empresa deseja manter o título até o vencimento e não negociá-lo. O título não possui cupons (o valor será pago apenas no vencimento). Após 1 ano, o valor do IPCA foi de 2,25%. Como deverá ser feito o lançamento dos juros? A alternativa "C " está correta. Tendo em vista que o ativo é mantido para recebimento dos juros, o método utilizado deverá ser o do custo amortizado. Portanto, deverá ser lançado o valor de R$50.000 × (2,0% + 2,25%) = R$2.125,00 na conta de resultado (Receitas Financeiras). 2. Uma empresa tomou um empréstimo de R$100.000,00 com juros de 10% a.a. e pagamentos anuais. No primeiro ano, pagou R$60.000,00, e no segundo ano, pagou R$55.000,00. Qual é o valor da amortização anual? A alternativa "A " está correta. Ao fim do primeiro ano, a empresa teve um valor de juros de 10% × R$100.000,00 = R$10.000,00. Como o pagamento foi de R$60.000,00 e os juros são de R$10.000,00, o valor da amortização foi de R$50.000,00. Para o ano 2, o valor é de 10% × R$50.000,00 = R$5.000,00, com a parcela sendo de R$55.000,00, com os R$50.000,00 de amortização. Portanto, a amortização, em ambos os anos, foi do mesmo valor de R$50.000,00, e a resposta correta é a alternativa A. Note que, embora a amortização total tenha sido de R$100.000,00, a pergunta se refere à amortização anual e, por isso, a alternativa E está incorreta. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, você aprendeu sobre as principais formas de financiamento das empresas e suas diferentes formas de contabilização. Foi abordada a decisão entre emitir ações e se financiar por dívida, bem como o tratamento contábil de empréstimos, vendas a prazo e outras operações financeiras. Além disso, abordamos tipos de instrumentos pré e pós-fixados, a diferença entre a taxa de juros real e nominal, bem como os tipos de desconto “por dentro” e “por fora”. Os conhecimentos adquiridos ajudarão você a contabilizar corretamente diferentes tipos de situações financeiras e entender os impactos das decisões financeiras nos demonstrativos financeiros. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS GALDI, F. C.; BARRETO, E.; FLORES, E. Contabilidade de instrumentos financeiros – IFRS 9 – CPC 48. Rio de Janeiro: Atlas, 2018. GELBCKE, E. R; SANTOS, A.; IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E. Manual de Contabilidade Societária. Rio de Janeiro: Atlas, 2018. PUCCINI, A. Matemática Financeira objetiva e aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2006. ROSS, S.; WESTERFIELD, R.; JAFFE, J.; LAMB, R. Administração Financeira. 10. ed. [s.l.]: McGraw-Hill, 2015. SZUSTER, N.; CARDOSO, R. L.; SZUSTER, F. R. Contabilidade geral: introdução à Contabilidade Societária. 4. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2013. EXPLORE+ Indicamos, como leitura complementar, o livro Contabilidade de Instrumentos Financeiros – IFRS 9 – CPC 48, de Galdi, Barreto e Flores. O livro aborda, com mais detalhes, a contabilização de diversos tipos de instrumentos financeiros. Além disso, aborda a mudança do CPC 38 para o 48, que ocorreu recentemente e ainda gera muitas dúvidas entre contadores. CONTEUDISTA Rodrigo de Oliveira Leite CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); Comtabilidade Comercial e Financeira/Tema 2 Aspectos tributários na atividade comercial.pdf DESCRIÇÃO Definição das diferentes formas de tributação das atividades comerciais e seus impactos contábeis. PROPÓSITO Compreender o conceito e a importância das diferentes formas de tributação das atividades comerciais para o cálculo correto margem de lucro da empresa e decisões acerca de seu funcionamento. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos recursos computacionais, com acesso a planilhas eletrônicas (Excel) e calculadora, visando efetuar o cálculo das questões. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir o conceito de tributo e base de cálculo MÓDULO 2 Descrever os tributos federais MÓDULO 3 Descrever os tributos estaduais, municipais e Simples Nacional MÓDULO 4 Aplicar a contabilização correta dos tributos INTRODUÇÃO A tributação de uma empresa afeta as suas demonstrações contábeis e o seu resultado financeiro. É fundamental para a tomada de decisão que a empresa conheça as suas formas de tributação. Para compreender como uma empresa é tributada, você precisará conhecer os diferentes tipos de tributos, tanto federais como estaduais e municipais, bem como os tratamentos contábeis para esses tributos e os possíveis créditos por eles gerados. Os principais tributos que serão estudados neste conteúdo são: o Imposto de Renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (competência federal), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (competência estadual) e o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (competência municipal). MÓDULO 1 Definir o conceito de tributo e base de cálculo CONCEITO DE TRIBUTO Tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas precisam pagar tributos, taxas, impostos e contribuições. Fonte: Shutterstock.com O conceito de tributo está regulado no artigo terceiro da Lei 5.172/1996 (Código Tributário Nacional), que o define como “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua de ato ilícito, instituída em lei cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Ou seja, o tributo é caracterizado como “toda prestação pecuniária compulsória” que o poder público estabelece. Como já mencionado no parágrafo anterior, existem três modalidades tributárias principais desde a promulgação da Constituição de 1988: os impostos, as taxas e as contribuições. IMPOSTO O imposto é o mais comum dos três e é caracterizado por um percentual cobrado pelo Estado sobre a renda, o patrimônio, bens de consumo ou serviços. Esse imposto pode ser direto, quando cobrado diretamente do contribuinte (como o Imposto de Renda ou o Imposto de Transmissão de Bens Imobiliários, por exemplo), ou indireto, quando é embutido no valor do bem ou do serviço que está sendo comprado ou consumido (o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por exemplo). TAXAS Já as taxas são diferentes dos impostos, pois é necessário que estejam vinculadas à prestação de um serviço público específico, como é o caso da taxa de emissão de um passaporte ou a taxa de coleta de lixo. Em muitos casos, nenhuma taxa é devida pelo contribuinte se ele não utiliza o serviço público específico em questão. Por exemplo, se um contribuinte não possui um veículo, então, não precisa pagar a taxa de licenciamento anual, ou se um contribuinte não possui um passaporte, não precisou pagar a taxa de emissão de um passaporte. CONTRIBUIÇÕES As contribuições, por sua vez, são utilizadas de forma não sistemática pelo governo. Por exemplo, embora a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido tenha a palavra “contribuição” em seu nome, muitos autores a definem como imposto, pois as contribuições, assim como as taxas, normalmente são relativas a um serviço específico do governo (contribuições de melhoria) ou a um propósito específico (como a contribuição do PIS/Pasep). Antes de você conhecer os entes tributários brasileiros, vamos falar sobre dois conceitos muito importantes para a correta apuração de impostos. O primeiro conceito é a base de cálculo. A maioria dos impostos e contribuições são calculados como percentual sobre um valor, que é a base de cálculo. Por exemplo, a base de cálculo do Imposto de Renda simplificado é 80% da renda auferida pela pessoa física. Ou seja, os 100% da renda menos um desconto de 20%. Portanto, a base de cálculo leva em consideração possíveis deduções na sua composição. Cada imposto possui uma base de cálculo diferente e, portanto, possuem apurações diferentes. O segundo é o fato gerador, ele que faz nascer a obrigação tributária. Por exemplo, aferir renda é o fato gerador do Imposto de Renda. Uma operação de câmbio é um dos fatos geradores do Imposto sobre Operações Financeiras, e assim em diante. Prestar atenção ao fato gerador é importante por dois motivos: primeiro ele gera (como diz o próprio nome) a obrigação de se pagar o tributo. Em segundo lugar, normalmente as legislações tributárias dão um prazo para a realização do pagamento do tributo, e este, normalmente, é contado a partir do fato gerador. Por exemplo, o vencimento para o pagamento de um imposto pode ser de 20 dias corridos após o último dia do mês em que ocorreu o fato gerador. Então, se o fato gerador ocorreu em 12 de março, o pagamento do tributo deverá ser recolhido até 20 de abril. Fonte: Shutterstock.com ENTES TRIBUTÁRIOS No Brasil, os entes tributários são os que possuem a competência para cobrar impostos, taxas e contribuições. Essas competências são estabelecidas de modo que certos impostos, taxas e contribuições sejam exclusivos de certos entes. EXEMPLO Nos EUA existe a figura do Imposto de Renda Federal, assim como no Brasil, mas também há os Impostos de Renda Estaduais e, em alguns locais, o Imposto de Renda Municipal. No Brasil, isso seria ilegal, pois a competência para a cobrança de Imposto de Renda é apenas do ente federativo, ou seja, da União (governo federal), e, portanto, estados e municípios não poderiam instituir algum tipo de imposto cuja base de cálculo seja a renda. Os entes tributários, conforme já foi dito, possuem competências próprias de tributação, descritas na Seção III da Constituição para a União; na Seção IV para os estados e Distrito Federal; e na Seção V para os municípios. De todos os tributos, as contribuições de melhoria, taxas e contribuições para o seu regime próprio de previdência são de competência de todos os três entes. TRIBUTO ‒ CONCEITO E ESPÉCIES COMPETÊNCIAS DOS ENTES TRIBUTÁRIOS Os impostos da competência da União são, juntamente com seus fatos geradores: Imposto de Importação (II), que tem como fato gerador a entrada de produtos do exterior em território nacional; Imposto de Exportação (IE), que tem como fato gerador a saída de produtos nacionais do território nacional; Imposto de Renda (IR), que tem como fato gerador a aferição de renda por pessoa física (IRPF) ou a existência de lucro na Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que tem como fato gerador a produção de bens industrializados; Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que tem como fato gerador operações financeiras específicas; Imposto Territorial Rural (ITR), que tem como fato gerador a propriedade de imóvel fora do perímetro urbano; Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), que, embora tenha previsão legal, ainda não foi regulamentado; Contribuições (como CSLL, PIS/PASEP, COFINS, CIDE, etc.), cada uma com seus fatos geradores específicos. Os impostos da competência dos estados e Distrito Federal são: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que tem como fato gerador a circulação (ou seja, a venda) de produtos em geral dentro do território nacional, da importação de produtos do exterior e de serviços específicos; Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que tem como fato gerador a transmissão de bens por falecimento ou por doação; Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), que tem como fato gerador a propriedade de veículos automotores. Os impostos da competência dos municípios são: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que tem como fato gerador a propriedade de imóvel dentro do perímetro urbano; Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que tem como fato gerador a compra e venda de bens imóveis. Imposto sobre Serviços (ISS), que tem como fato gerador a prestação de serviços que não estão enquadrados no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); CRÍTICAS AO MODELO DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS BRASILEIRO Uma grande crítica que é feita a esse modelo de repartição de competências é o fato de que a repartição dessas competências foi realizada em 1988, quando o cenário econômico era muito diferente do atual. O setor de serviços cresceu muito no século XXI e a competência dessa tributação é de exclusividade dos municípios, gerando grande aumento de arrecadação, concentrado nos grandes municípios das regiões Sul e Sudeste, enquanto o setor de serviço de pequenos municípios e de municípios do interior acabaram não sendo beneficiados. Além disso, o Código Tributário Brasileiro é muito complexo, com regulamentações contraditórias entre os entes e intraentes. Um exemplo é cada município possuir sua própria legislação sobre como tributar serviços, ou cada estado possuir legislação sobre como tributar o ICMS. Nos últimos anos, vêm crescendo a pressão para uma reforma tributária que simplifique a tributação, a legislação e os recursos gastos para fazer a aferição dos impostos. Tal ganho também poderia resultar numa simplificação da fiscalização pelos entes públicos. Embora muitas propostas tenham sido ventiladas, até o momento não existe nenhuma que unificasse o apoio no Congresso Nacional. Consequentemente, este tema focará apenas em analisar os atuais tributos sem entrar em detalhes sobre possíveis modificações. Para finalizar esta seção, é preciso entender que, na operação de uma empresa, muitos impostos podem ser devidos ao mesmo tempo. Por exemplo, uma empresa ao vender um produto, paga o ICMS, porém, caso possua lucro, também paga o IRPJ e a CSLL, além do PIS/Confins e outros impostos, como IPVA e IPTU. Portanto, a empresa deve estar sempre atenta ao pagamento desses impostos, a fim de não se envolver em problemas com o fisco. Esse trabalho para as empresas de pequeno porte e as microempresas foi facilitado com a implementação do Simples Nacional, que permite haver o recolhimento de diferentes tipos de impostos em uma única guia. Você vai se aprofundar nos conhecimentos do Simples Nacional no Módulo 3. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE AS AFIRMAÇÕES ABAIXO, ASSINALE A AFIRMAÇÃO INCORRETA: A) Os tributos são definidos como toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua de ato ilícito, instituída em lei cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. B) No Brasil, existem três tipos de tributos: os impostos, as taxas e as contribuições. C) O ICMS é um tipo de tributo que se enquadra como contribuição. D) As taxas são diferentes dos impostos porque são vinculadas à prestação de serviço de um ente público. E) Os impostos são normalmente calculados a partir de uma porcentagem aplicada sobre uma base de cálculo. 2. SOBRE O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS), PODEMOS DIZER QUE: A) O Imposto sobre Serviços tem como fato gerador a circulação de mercadorias. B) O Imposto sobre Serviços é um tributo de competência do ente federal. C) O Imposto sobre Serviços é um tributo de competência do ente estadual. D) O Imposto sobre Serviços é um tributo de competência do ente municipal. E) Embora tenha o nome de “Imposto” o “Imposto sobre Serviços”, mais conhecido como ISS, se caracteriza como uma taxa do ente municipal. GABARITO 1. Sobre as afirmações abaixo, assinale a afirmação incorreta: A alternativa "C " está correta. De acordo com o artigo terceiro da Lei 5.172/1996, os tributos são definidos como toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua de ato ilícito, instituída em lei cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. No Brasil, existem três tipos de tributos: os impostos, as taxas e as contribuições. O ICMS é um imposto de competência do ente estadual e, portanto, não se enquadra como contribuição. As taxas são diferentes dos impostos porque são vinculadas a uma prestação de serviço de um ente público. Os impostos são normalmente calculados a partir de uma porcentagem aplicada sobre uma base de cálculo. 2. Sobre o Imposto sobre Serviços (ISS), podemos dizer que: A alternativa "D " está correta. O Imposto sobre Serviços, como diz o próprio nome, é um imposto e não uma taxa, pois não está vinculado à prestação de um serviço pelo ente público municipal. Ele é de competência do ente municipal e seu fato gerador não é a circulação de mercadorias (esse é o fato gerador do ICMS) e sim a prestação de serviços. MÓDULO 2 Descrever os tributos federais TRIBUTOS DE COMPETÊNCIA FEDERAL – TIPOS E CARACTERÍSTICAS IMPOSTOS MAIS COMUNS: IR, CSLL E PIS/COFINS IMPOSTO DE RENDA O Imposto de Renda, devido tanto pelas pessoas jurídicas, quanto pelas físicas, é um dos impostos mais conhecidos. O IRPF é devido por todas as pessoas físicas que aferiram renda tributável além do limite de isenção. Por via de regra, toda renda é tributável a não ser renda de natureza indenizatória ou outros tipos de renda tais como bolsas de estudo, poupança, dividendos etc. Caso a pessoa seja empregada e tenha um contracheque, o imposto já é calculado automaticamente e o valor deduzido do seu pagamento, caso contrário deverá emitir uma Guia do Carnê-Leão para o seu pagamento. No início de cada ano é feita a Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (DIRPF) e, portanto, os valores da renda daquela pessoa de todo ano anterior (o ano-calendários) são juntados, incluindo as deduções legais. Assim é feita a base de cálculo do imposto para se verificar se a pessoa recolheu imposto a maior ou a menor. Caso a pessoa tenha recolhido imposto, a maior é feita a devolução do imposto de renda, caso o imposto tenha sido recolhido, a menor a pessoa deverá realizar o pagamento da diferença entre eles. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA No caso de pessoas jurídicas, o Imposto de Renda é normalmente chamado de IRPJ (Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas). Existem três principais formas de se apurar o IRPJ: Simples, Lucro Presumido e Lucro Real. Primeiramente, vamos falar do Lucro Presumido. Nesse caso, é aplicado uma alíquota para compor a base de cálculo diretamente sobre o valor da receita da empresa. Em regra geral, o setor de serviços tem uma alíquota de base de cálculo de 32%, enquanto os outros setores têm uma alíquota de 8%. EXEMPLO No caso de uma empresa que faturou R$5.000.000,00 em um ano, ela pagaria IRPJ apenas sobre uma base de cálculo de R$1.600.000,00, se fosse do setor de serviços, ou em cima de R$400.000,00 se fosse de outros setores, como comércio. Já no Lucro Real, a empresa teria que calcular o seu lucro líquido real (de acordo as regras estabelecidas pela Receita Federal) e pagar o imposto sobre esse valor. Uma vantagem tributária para o cálculo via Lucro Real ocorre para empresas que possuem margem de lucro menor do que o arbitrado pelo Lucro Presumido. SAIBA MAIS Outra vantagem da tributação via Lucro Real é a possibilidade de compensar prejuízos. Por exemplo, se uma empresa teve prejuízo de R$1.000.000,00 no ano 1 e lucro de R$800.000,00 no ano 2, ela não vai pagar IRPJ no ano 1 (pois não teve lucro, teve prejuízo) e nem no ano 2 (pois ela teve um prejuízo acumulado de R$200.000,00 nos dois anos). Tanto no Lucro Real quanto no Lucro Presumido a alíquota do IRPJ é de 15% sobre a base de cálculo, com adicional de 10% sobre a parcela do lucro que exceda R$20.000,00 no mês. Tendo em vista que o valor de R$20.000,00 é bem pequeno para empresas de grande e médio porte, é comum dizer que a alíquota IRPJ para fins práticos é de 25%. VAMOS CALCULAR ENTÃO: UMA EMPRESA DO SETOR DE SERVIÇOS TEVE RECEITA BRUTA DE R$8.000.000,00 E LUCRO DE R$3.500.000,00. QUANTO ELA PAGARIA DE IR E DE CSLL SE ELES FOSSEM APURADOS VIA LUCRO PRESUMIDO? E VIA LUCRO REAL? QUAL SERIA O MAIS VANTAJOSO? RESPOSTA Nesse caso, você deve calcular assim: Lucro Presumido: 32% x R$8.000.000,00 = R$2.560.000,00 => R$2.560.000,00 x 34% = R$870.400,00 devidos de IRPJ mais CSLL. Lucro real: R$3.500.000,00 x 34% = R$1.190.000,00 devidos de IRPJ mais CSLL. Nota-se, portanto, que para fins de IRPJ é mais favorável que a empresa se enquadre no Lucro Presumido. Nem todas as empresas, porém, podem optar pelo lucro presumido, apenas empresas com receita menor do que R$78.000.000, não financeiras (como bancos, corretoras, seguradoras etc.), não podem receber lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior e não podem usufruir de benefícios fiscais. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO A Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) é muitas vezes agrupada junto com o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ), tendo em vista que ambos possuem como javascript:void(0) base de cálculo o lucro da empresa. Assim como o IRPJ, a CSLL tem três formas de apuração: Simples, Lucro Presumido e Lucro Real. A regulamentação é a mesma do IRPJ, e a alíquota é de 9%. Por isso, é comum dizer que o imposto sobre o lucro das empresas é de 34% (9% da CSLL e 25% do IRPJ). Portanto, utilizando o mesmo exemplo da seção anterior: UMA EMPRESA DO SETOR DE SERVIÇOS TEVE RECEITA BRUTA DE R$8.000.000,00 E LUCRO DE R$3.500.000,00. QUANTO ELA PAGARIA DE IR E DE CSLL SE FOSSE APURADO VIA LUCRO PRESUMIDO? E PELO LUCRO REAL? QUAL SERIA O MAIS VANTAJOSO? RESPOSTA Nesse caso, você deve calcular assim: Lucro Presumido: 32% x R$8.000.000,00 = R$2.560.000,00 => R$2.560.000,00 x 34% = R$870.400,00 devidos de IRPJ mais CSLL. Lucro real: R$3.500.000,00 x 25% = R$1.190.000,00 devidos de IRPJ mais CSLL. Nota-se, portanto, que mesmo considerando-se a CSLL é mais favorável a empresa se enquadrar no Lucro Presumido, o mesmo caso de quando se considerou apenas o IR. PIS/COFINS As contribuições PIS e Cofins, embora tenham objetivos diferentes (um é para o pagamento do PIS, e a outra para a Seguridade Social) são normalmente tratadas juntas, pois possuem os javascript:void(0) mesmos fatos geradores e as mesmas bases de cálculo. O PIS/COFINS possui duas formas de apuração: cumulativo e não cumulativo. As empresas enquadradas no regime de Lucro Presumido ou no Simples Nacional fazem a apuração por meio do regime cumulativo e as enquadradas no Lucro Real fazem via regime não cumulativo. A diferença se dá nas alíquotas e na forma de se chegar à base de cálculo. No regime cumulativo, o cálculo é bem simples: aplica-se a alíquota de 3,65% (3% a título de Cofins e 0,65% a título de PIS) sobre a receita bruta da empresa, que seria a base de cálculo nesse regime cumulativo. Já no regime não cumulativo, o valor é de 9,25% (7,6% a título de Cofins e 1,65% a título de PIS), mas exclui-se do valor final do imposto os créditos obtidos nas compras de produtos ou serviços. Portanto, se uma empresa possui faturamento (receita) de R$1.000.000,00 e fez compras de produtos e serviços que somaram R$300.000,00, gerando créditos de PIS/Cofins, o cálculo seria feito da seguinte maneira: Regime cumulativo: 3,65% x R$1.000.000,00 = R$36.500,00 Regime não cumulativo: 9,25% x R$1.000.000,00 – 9,25% x R$300.000,00 = 9,25% x R$700.000,00 = R$64.720,00. Fonte: Shutterstock.com OUTROS IMPOSTOS FEDERAIS: II, IE, IPI E ITR IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO O Imposto de Importação é de competência exclusiva da União, e o fato gerador é a entrada de mercadoria estrangeira em solo brasileiro. Como o Brasil faz parte do Mercosul, essa tarifa é determinada por meio de um documento chamado Tarifa Externa Comum (TEC), que pode ser consultado no site da Receita Federal. A base de cálculo desse imposto é o valor aduaneiro da mercadoria. Um passo importante para a empresa que importa produtos de origem estrangeira é que ela deve habilitar-se para operar no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), procedimento regido pela Instrução Normativa RFB n. 1.603/2015. IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO Assim como o imposto de importação, o de exportação é de competência exclusiva da União, e o fato gerador é a saída de entrada de mercadoria nacional de solo brasileiro. A base de cálculo do imposto é definida no artigo 2º do Decreto-lei n. 1.578, de 1977: ART. 2º A BASE DE CÁLCULO DO IMPOSTO É O PREÇO NORMAL QUE O PRODUTO, OU SEU SIMILAR, ALCANÇARIA, AO TEMPO DA EXPORTAÇÃO, EM UMA VENDA EM CONDIÇÕES DE LIVRE CONCORRÊNCIA NO MERCADO INTERNACIONAL, OBSERVADAS AS NORMAS EXPEDIDAS PELO PODER EXECUTIVO, MEDIANTE ATO DA CAMEX ‒ CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR. (REDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.158-35, DE 2001) § 1º ‒ O PREÇO À VISTA DO PRODUTO, FOB OU POSTO NA FRONTEIRA, É INDICATIVO DO PREÇO NORMAL. De acordo com a Receita Federal, a determinação do valor em reais da base de cálculo do imposto, deve ser utilizada a taxa de câmbio disponível no Sisbacen, transação PTAX800, opção 5, relativa ao dia útil imediatamente anterior ao da ocorrência do fato gerador do imposto. SISBACEN O Sisbacen (Sistema de Informação do Banco Central) é o sistema eletrônico utilizado pelo Banco Central do Brasil com a finalidade de catalogar e centralizar todas as informações financeiras nacionais. Por via de regra, a alíquota do Imposto de Exportação é de 30%, mas o governo federal pode decidir aumentá-la ou reduzi-la de acordo com sua política externa e/ou cambial. Ressalta-se, porém, que a alíquota do Imposto de Exportação nunca poderá ser superior a 150%. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incide nas seguintes etapas da produção: transformação, beneficiamento, montagem, acondicionamento (ou recondicionamento), ou renovação (ou recondicionamento). Não são consideradas atividades industriais, para fins de IPI: O preparo de produtos alimentares em restaurantes, bares, cozinhas para alimento aos funcionários etc.; javascript:void(0) O preparo de refrigerantes em restaurantes, bares e estabelecimentos similares; Artesanato; Confecção de vestuário na residência do preparador ou em oficina; Manipulação farmacêutica, mediante receita médica; Moagem de café torrado, realizada por comerciante varejista; Construção civil; Montagem de óculos, mediante receita médica; Cestas de Natal e semelhantes; O conserto, a restauração e o recondicionamento de produtos usados; O reparo de produtos com defeito de fabricação; A restauração de sacos usados; Mistura de tintas para o consumidor final. Além disso, são imunes do IPI: Os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão; Produtos industrializados destinados à exportação; Ouro enquanto ativo financeiro; Energia elétrica. O fato gerador do IPI é a saída do produto de estabelecimento industrial ou a chegada ao Brasil de produtos de procedência estrangeira, com a base de cálculo sendo o total da operação e a alíquota sendo definida para o produto conforme consta na Tabela de Incidência do IPI (TIPI). Pesquise sempre a última versão da Tabela TIPI na Internet, que, constantemente, é atualizada. Indústrias e fábricas localizadas na Zona Franca de Manaus possuem redução ou isenção do IPI em certos produtos, sendo necessária a consulta à legislação correspondente. O IPI também pode ser encarado como um imposto utilizado como regulador pelo governo federal, que pode aumentar o IPI de produtos aos quais queira desestimular a compra, ou reduzir o tributo a fim de incentivar o consumo. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL O fato gerador do Imposto Territorial Rural (ITR) é definido como o domínio útil ou a posse do imóvel, localizado fora do perímetro urbano do município. A alíquota vai depender do tamanho e da utilização da propriedade. À diferença do IPTU, no qual o valor das propriedades é arbitrado pelo município, o ITR é de responsabilidade do proprietário, que deve lançar os valores das terras de sua propriedade. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA EMPRESA DO LUCRO PRESUMIDO DO SETOR DE COMÉRCIO TEVE UMA RECEITA ANUAL DE R$2.500.000,00. CONSIDERANDO UMA ALÍQUOTA DO IRPJ DE 25%, QUANTO ESSA EMPRESA PAGOU DE IRPJ/CSLL NESSE ANO? A) R$62.500,00 B) R$68.000,00 javascript:void(0) C) R$200.000,00 D) R$625.000,00 E) R$850.000,00 2. UMA EMPRESA DO LUCRO PRESUMIDO DO SETOR DE COMÉRCIO TEVE UMA RECEITA ANUAL DE R$2.500.000,00. QUANTO ESSA EMPRESA COMERCIAL PAGOU DE CONTRIBUIÇÕES PIS/COFINS NESSE ANO? A) R$16.250,00 B) R$75.000,00 C) R$85.000,00 D) R$91.250,00 E) R$231.250,00 GABARITO 1. Uma empresa do Lucro Presumido do setor de comércio teve uma receita anual de R$2.500.000,00. Considerando uma alíquota do IRPJ de 25%, quanto essa empresa pagou de IRPJ/CSLL nesse ano? A alternativa "B " está correta. A alíquota para calcular a base de cálculo a fim de encontrar o valor devido tanto de IRPJ quanto de CSLL para empresas comerciais é de 8%. Ou seja, a base de cálculo do IRPJ seria de 8% aplicado sobre o valor da receita, o que daria o valor de 8% x R$2.500.000,00 = R$200.000,00. Como o exercício pede para aplicar o valor de 25% no IRPJ, a carga tributária total seria de 25% + 9% = 34%. Portanto o valor devido é de 34% x R$200.000,00 = R$68.000,00. 2. Uma empresa do Lucro Presumido do setor de comércio teve uma receita anual de R$2.500.000,00. Quanto essa empresa comercial pagou de contribuições PIS/Cofins nesse ano? A alternativa "D " está correta. Como a empresa está enquadrada no Lucro Presumido, a PIS/COFINS é cumulativa, de modo que a alíquota do PIS é de 0,65% e a da Cofins é de 3%, com a base de cálculo sendo a receita da empresa, que é R$2.500.000,00. Portanto, o valor devido de PIS/Cofins é de 3,65% x R$2.500.000,00 = R$91.250,00. MÓDULO 3 Descrever os tributos estaduais, municipais e Simples Nacional IMPOSTOS ESTADUAIS: ICMS, IPVA E ITCMD IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços, mais conhecido como ICMS, é um imposto de competência estadual que incide sobre a circulação de mercadorias e sobre serviços específicos. O ICMS está previsto na Constituição e regulamentado na Lei Kandir (LC 87/1996, alteradas posteriormente pelas Leis Complementares 92/1997, 99/1999 e 102/2000). O fato gerador do ICMS é a comercialização de bens no interior do país ou na importação desses bens para o território nacional. Conforme já mencionado no primeiro módulo, esse imposto é indireto, pois o valor do imposto vem embutido no valor do produto. Até o ano de 2019, o valor do ICMS era repartido entre o estado do comprador e o estado do vendedor, passando então a ser recolhido apenas no estado do comprador do produto. Portanto, se um consumidor do estado de Pernambuco comprar um produto do estado de São Paulo, o ICMS será recolhido em Pernambuco. Por causa disso, e também do fato que cada estado possuir a sua regulamentação legal, esse é o imposto mais complexo de cálculo. Com as vendas via Internet ficou cada vez mais comum a prática de vender para diferentes estados, o que faz com que uma empresa tenha que, em caso extremo, recolher o ICMS em todos as 27 unidades da federação, cada uma com suas regras e alíquotas específicas. ATENÇÃO Essas alíquotas interestaduais variam entre 7% e 12%, mas as estaduais variam entre 17% e 20% (no caso do Rio de Janeiro, estado com o maior ICMS do Brasil). Essa diferença entre as alíquotas, chamado de Difal (diferencial de alíquotas) é recolhida no estado de destino, a fim de manter a igualdade tributária. Além da comercialização de bens e mercadorias, também pagam ICMS o fornecimento de energia elétrica, transportes intermunicipais, serviços de telecomunicação e serviços prestados no exterior. Normalmente, os tributos são calculados “por fora”, mas o ICMS é calculado “por dentro”, ou seja, considera-se o valor do imposto na sua base de cálculo. Vejamos um exemplo a seguir: EXEMPLO Suponhamos que há uma empresa comercial, em um estado com alíquota do ICMS de 18%, que realizou uma venda com as seguintes características: Valor de compra dos produtos vendidos na Nota Fiscal = R$2.000,00 Valor do IPI = R$300,00 Valor da margem da empresa = R$500,00 Total da Nota Fiscal = R$2.800,00 Tendo em vista que a alíquota do imposto é de 18%, devemos dividir o valor da Nota Fiscal por 0,82 (100% - 18%) antes de aplicar a alíquota: R$2.800,00/0,82 = R$3.414,63 R$3.414,63 x 18% = R$614,63 Portanto, o valor do ICMS a pagar seria de R$614,63. Note que a diferença entre R$3.414,63 e o valor de R$2.800,00 é justamente o valor de R$614,63, e por isso esse tipo de cálculo é chamado de “por fora”. Note ainda que, nesse caso, a alíquota real foi de 21,95%, que é a razão entre o imposto de R$614,63 e o valor original da Nota Fiscal. Caso o imposto fosse “por dentro”, o valor do ICMS seria de R$2.800,00 x 18% = R$504,00, e o valor da Nota Fiscal seria de R$2.800,00 + R$504,00 = R$3.304,00 em vez de R$3.414,63. O ICMS também funciona por meio do sistema de créditos, no qual a empresa poderá descontar o ICMS pago anteriormente para evitar o chamado “efeito cascata”. No exemplo anterior, a empresa comprou R$2.000,00 de produtos, gerando um crédito de 18% do ICMS que já foi pago anteriormente, de modo que a empresa deverá pagar o valor de: R$614,63 – (R$2.000,00 x 18%) = R$614,63 – R$360,00 = R$254,63. Por fim, devemos falar da Substituição Tributária (ST). Esse é o regime pelo qual a responsabilidade pelo ICMS devido em relação às operações ou prestações de serviços é atribuída do contribuinte substituído ao contribuinte substituto.
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