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revista-luterana-2013-1 TEOLOGIA

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1
IGREJA LUTERANA
Revista Semestral de Teologia
IGREJA LUTERANA
2
Diretor
Leonerio Faller
Professores
Acir Raymann, Anselmo Ernesto Graff, Clóvis Jair Prunzel, Leonerio Faller, Gerson 
Luis Linden, Leopoldo Heimann, Paulo Proske Weirich, Paulo Wille Buss, Raul Blum, 
Vilson Scholz
Professores Eméritos
Donaldo Schüler, Paulo F. Flor 
Norberto Heine
SEMINÁRIO 
CONCÓRDIA
IGREJA LUTERANA
ISSN 0103-779X
Revista semestral de Teologia publicada em junho e novembro pela Faculdade de 
Teologia do Seminário Concórdia, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), 
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.
Conselho Editorial
Paulo P. Weirich (Editor), Gerson L. Linden e Acir Raymann
Assistência Administrativa
Ivete Terezinha Schwantes e Alisson Jonathan Henn
A Revista Igreja Luterana está indexada em Bibliografi a Bíblica Latino-Americana 
e Old Testament Abstracts.
Os originais dos artigos serão devolvidos quando acompanhados de envelope com 
endereço e selado.
Solicita-se permuta
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CORRESPONDÊNCIA
Revista Igreja Luterana
Seminário Concórdia
Caixa Postal 202
93001-970 – São Leopoldo/RS
Telefone: (0xx)51 3037 8000
e-mail: revista@seminarioconcordia.com.br
www.seminarioconcordia.com.br
3
SUMÁRIO
IGREJA LUTERANA
Volume 72 – Junho 2013 - Número 1 
ARTIGOS
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO 5
Rosemir Mauro Benati
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS 47
5
ARTIGO
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO 
ESCATOLÓGICO
Rosemir Mauro Benati1
INTRODUÇÃO
Durante os séculos que nos precederam, a Santa Ceia foi objeto de 
exaustivos estudos, de longos debates e de inúmeras interpretações. Isto 
demonstra sua importância na vida da Igreja Cristã, a qual, desde a pri-
meira celebração, quando foi instituída por Jesus, crê que nela o próprio 
Cristo se faz presente em, com e sob o pão e o vinho, não simbolicamente, 
mas real e verdadeiramente, e através dela se dá em favor de nós para 
o perdão dos nossos pecados. 
Graças ao nosso Deus, ainda hoje podemos celebrá-la conforme Cristo 
a instituiu. E, para que assim continue e para que a Igreja possa, por 
meio dela, ser edifi cada e consolada, faz-se necessária a constante pre-
LISTA DE ABREVIATURAS
BÍBLIA 
A abreviatura dos livros da Bíblia segue conforme se acha na 2.ed. Revis-
ta e Atualizada de João Ferreira de Almeida.
CONFISSÕES LUTERANAS
Ap - Apologia da Confi ssão de Augsburgo
CA - Confi ssão de Augsburgo
CM - Catecismo Maior
Cm - Catecismo Menor
DS - Declaração Sólida da Fórmula de Concórdia
Ep - Epítome da Fórmula de Concórdia
FC - Fórmula de Concórdia
EDIÇÕES DE LUTERO
OS - Obras Selecionadas
1 Rosemir Mauro Benati é bacharel em Teologia pelo Seminário Concórdia de São Leopoldo/
RS (2000); tem Bacharelado e Licenciatura em Teologia pela ULBRA (2001); Especialização 
(Pós-graduação “lato sensu”) em psicopedagogia clínica e escolar pela Faculdade de Edu-
cação de Joinville (2005); foi pastor da CEL Trindade, Vila Bom Jesus, Pelotas/RS, de 2001 
a 2010; pastor da CEL São Mateus, Sapiranga/RS, de 2011 em diante. Estudo produzido 
como trabalho de conclusão do curso de Teologia no Seminário Concórdia. 
IGREJA LUTERANA
6
ocupação em mantê-la conforme a ordem de Cristo e com o signifi cado 
que Ele quis lhe dar. Isto exige preparo de nossa parte, o que nos leva 
a estudá-la com toda a reverência e dedicação, sendo este o objetivo 
deste estudo. 
Dentre os muitos aspectos relacionados à Santa Ceia está o seu 
caráter escatológico. Para melhor compreensão do tema proposto – A 
Santa Ceia como um evento escatológico – o mesmo foi dividido em 
três partes: na primeira é dada a defi nição e a fundamentação do Reino 
de Deus e da escatologia bíblica, antecipada e futura; num segundo 
momento faz-se a abordagem da antecipação da vinda do Reino de 
Deus, com suas bênçãos, a cada celebração da Santa Ceia; por fi m, e 
não menos importante, trata-se da Santa Ceia como apontando para 
o fi m dos tempos, preparando-nos para a vida eterna e levando-nos a 
experimentar o banquete celestial. 
1 ESCATOLOGIA BÍBLICA E REINO DE DEUS
Este capítulo tem razão de ser devido à necessidade de se estabelecer 
a base para os capítulos posteriores. Visto ser a Santa Ceia um evento 
escatológico, requer-se uma defi nição dos termos “escatologia” e “reino 
de Deus” para um melhor entendimento do tema proposto, já que na 
Santa Ceia há aspectos de antecipação e de consumação do Reino de 
Deus, aspectos da escatologia inaugurada e futura. Não tenciono entrar 
em pormenores. Ater-me-ei a aspectos relevantes para o tema. 
1.1 Defi nição de escatologia
“A doutrina das Últimas Cousas (de novissimis) leva este nome por 
tratar do que vem ‘por último’, a saber, aquilo ‘com que termina o mundo 
presente’ (Schmid)”.2 Provém do vocábulo "e;scatoj, h, on - último”.3 O 
adjetivo eschatos signifi ca “temporalmente, os últimos eventos de uma 
série”.4 “Como substantivo, to eschaton signifi ca o ‘fi m’ em assuntos de 
espaço e de tempo”5 e;scatoj refere-se, portanto, ao “[...] time nearest 
the return of Christ from heaven and the consummation of the divine 
kingdom”.6
2 MUELLER, J. Theodore. Dogmática cristã. HASSE, Martinho L. (Trad.). Porto Alegre: 
Concórdia, 1960. v. 2. p.293. 
3 GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento grego - Por-
tuguês. ZABATIERO, Júlio P. T. (Trad.). São Paulo: Vida Nova, 1993. p.86.
4 LINK, H.-G. e;scatoj. In: BROWN, Colin; COENEM, Lothar. Dicionário internacional de 
Teologia do Novo Testamento. CHOWN, Gordon (Trad.). 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 
2000. v.I.p.90. 
5 LINK, op. cit., p.90.
6 “[...] tempo mais próximo do retorno de Cristo e da consumação do reino divino.” THAYER, 
7
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
No AT, vemos que a fé do crente era completamente escatológica,7 
voltada para o futuro, estando este totalmente nas mãos de Deus.8 Al-
guns profetas usavam a expressão “lastday/latterdays”.9 “Era um período 
de tempo histórico renovado, o tempo fi nal ou do fi m [...] marcado pela 
atividade salvífi ca do Senhor”.10
Escatologia, ao menos até aqui, parece resumir-se a eventos futuros. 
Mas ela é mais do que isto, é também a “parte da Teologia que estuda 
o sentido último e defi nitivo já presente”.11 O que está de acordo com a 
compreensão cristã do fi m: 
Já a compreensão cristã do fi m é escatológica, dividida em duas 
fases: o primeiro advento de Jesus Cristo, que ocorreu há quase 
dois mil anos, culminando com sua parousia ou a segunda vinda 
em um futuro glorioso desconhecido.12 
Também Gourgues chama a atenção para estes dois aspectos:
A esperança de uma vida futura se encontra, primeiro, implícita 
no anúncio do reino de Deus, tema central da pregação de Jesus. 
É claro, com efeito, que esse reino, embora já se ache inaugu-
rado através da missão, da pregação e da atividade de Jesus, 
possui também dimensão escatológica, e que o acolhimento a 
esse reino supõe repercussões que se estendem para além da 
vida presente.13 
No NT há a mesma compreensão, havendo a distinção entre o tempo 
caracterizado pela vinda de Jesus e o passado, e o contraste do futuro 
fi nal de Deus com o presente.14
Joseph H. Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament. Massachussetts: 
Hendrickson Publishers, 1996. p.253. 
7 OS TEMPOS DO FIM: Um Estudo sobre a Escatologia e Milenismo – Relatório da Comissão 
de Teologia e Relações Eclesiais da Lutheran Church-Missouri Synod. Gerson L. Linden 
(Trad.). São Leopoldo, 1995. p.11.
8 GOWAN, Donald. Eschatology in the Old Testament. Philadelphia: Fortress Press, 1986. 
p.122.
9 “últimos dias” (Is 2.2; Mq 4.1) VOELZ, James W. What Does This Mean? Principles of 
Biblical Interpretation in the Post-Modern World. St. Louis: Concordia Publishing 
House, 1995. p.247.
10 LINK, op. cit., p.91.
11 LIBÂNIO, João B.; BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia cristã – o novo céu e a nova 
terra. Petrópolis: Vozes, 1985. Tomo X. p.295. 
12 SHEDD, Russel. A escatologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1983. p.7.
13 GOURGUES, M.A vida futura segundo o Novo Testamento. FERREIRA, I. F. L. (Trad.). 
São Paulo: Paulinas, 1986. p.9.
14 LINK, op. cit., p.92.
IGREJA LUTERANA
8
Podemos afi rmar, com base no exposto acima, que o termo e;scatoj 
“não serve meramente para signifi car o novo tempo que começou com a 
vinda de Jesus. Refere-se, também, à ação fi nal, consumadora de Deus, 
que ainda há de vir”.15 Escatologia, portanto, divide-se em duas partes: 
inaugurada e futura.
 
1.1.1 Escatologia inaugurada
Defi nimos a expressão escatologia inaugurada como abrangendo 
tudo “o que as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos ensinam sobre 
a posse e gozo presentes do crente das bênçãos que serão plenamente 
experimentadas quando Cristo retornar”.16
Nos tempos do AT os crentes aguardavam “um Redentor futuro”, 
aguardavam o “reino de Deus escatológico”, tinham a promessa da 
“nova aliança”, ansiavam pela “restauração de Israel”, bem como pelo 
“derramamento do Espírito”, esperavam o “dia do Senhor” e “os novos 
Céus e a nova Terra”.17 Tudo isto se cumpriu com o primeiro advento 
de Cristo: 
Segundo o Novo Testamento, o fi m (eschaton) foi inaugurado com 
a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Messias. 
Os ‘últimos dias’ (Hb 1:2) já começaram. Paulo afi rma: ‘vindo, 
porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu fi lho’ (Gl 4:4), 
apontando para o início de uma nova época.18 
Cristo é o cumprimento das promessas feitas aos crentes do AT. Ele 
é o antítipo do tipo:
Um tipo é uma pessoa, uma instituição ou um evento que prefi gura 
e prenuncia uma realidade nova e maior (o antítipo). O antítipo, 
tanto histórica como teologicamente, corresponde, elucida, cumpre 
e completa escatologicamente o tipo. O antítipo não é mera repeti-
ção do tipo, mas é sempre maior do que sua antecipação. E, visto 
que as Escrituras são cristológicas, os tipos do Antigo Testamento 
(que são assim mostrados pela Escritura) estão relacionados, 
centrados e cumpridos em Cristo e no Seu povo, a Igreja.19 
Isto signifi ca que o reino de Deus já veio na pessoa e obra de Cristo:
Jesus and His apostles were of the conviction that the end had 
already defi nitively come. Dodd took as his starting point the 
15 Ibid., p.93.
16 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.11.
17 Ibid., p.11,12.
18 SHEDD, op. cit., p.7.
19 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.7,8.
9
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
readily-documented fact that the earthly Jesus regarded the 
kingdom of God as a reality already actually present in His own 
person and work.20 
O Messias prometido reina sobre nós e nos dá desde já as bênçãos 
escatológicas prometidas por Deus (Hb 6.5; 1Pe 2.2,3; Rm 8.37-39; 6.1-
11).21 Isto Ele faz através do Evangelho e dos Sacramentos:
Através do Batismo, o cristão já ressuscitou para a vida e está, 
assim, assegurado da ressurreição corpórea fi nal (Rm 6.5,11,13; 
Cl 2.12; 3.1-4). O habitar do Espírito Santo, que foi dado no Batis-
mo, é o penhor que assegura a ressurreição futura do cristão (Rm 
8.11,23; 2 Co 1.22; 5.5; Ef 1.13,14). Da mesma forma, o corpo 
e o sangue de Cristo na Ceia do Senhor são uma antecipação das 
bênçãos escatológicas futuras (Mt 26.29; 1 Co 11.26). 22 
1.1.2 Escatologia futura
Por escatologia futura entendemos o estudo dos “eventos que ainda es-
tão no futuro, tais como a ressurreição, julgamento e os novos céus e nova 
terra”.23 Este assunto normalmente é discutido sob os seguintes títulos: 
1) A Morte Temporal; 2) As Condições da Alma entre a Morte e a 
Ressurreição (status medius); 3) O Segundo Advento de Cristo; 4) 
A Ressurreição dos Mortos; 5) O Juízo Final; 6) O Fim do Mundo; 
7) A Condenação Eterna e 8) A Salvação Eterna.24 
Sabemos que Cristo voltará para julgar os vivos e os mortos. Este 
retorno de Cristo e o fi m do mundo são confessados nos Credos.25 Pelas 
Escrituras, “A Parusia do Senhor é o fi m da história humana”.26 No fi m do 
mundo, quando Cristo vier “[...] será o último dia (João 6.40) da presente 
ordem de coisas, depois da qual haverá novo céu e nova terra (2 Pedro 
3.10-13)”.27
20 “Jesus e seus apóstolos eram da convicção que o fim já tinha vindo definitivamente. Dodd 
tomou como seu ponto de partida o fato legivelmente documentado de que o Jesus terreno 
considerou o reino de Deus como uma realidade já presente em sua própria pessoa e obra.” 
STEPHENSON, J. Confessional Lutheran Dogmatics. Fort Waine: The Luther Academy, 
1993. v. XIII, Eschatology. p.21.
21 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.12.
22 Ibid., p.18.
23 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.11.
24 MUELLER, op. cit., p.293.
25 PLUEGER, Aaron Luther. Things to Come for Planet Earth – What the Bible Says About 
the Last Times. St. Louis: Concordia Publishing House, 1977. p.51.
26 LIBÂNIO, op. cit., p.217.
27 KOEHLER, E. W. Sumário da doutrina cristã. SCHÜLER, Arnaldo (Trad.). Porto Alegre: 
Concórdia, 1969. p.280.
IGREJA LUTERANA
10
Para os cristãos, este último dia será de imensa alegria, pois
O fato de o Verbum incarnatum (logos énsarkos), ou seja, o 
Homem-Deus, ser o Senhor onipotente, que no dia derradeiro dará 
a bem-aventurança ou a condenação (At 17.31: “Por meio de um 
varão”), é de grande conforto para todos os crentes (Jo 11.23-27; 
Apocalipse 1.5, 6), ao passo que para todos os incrédulos é causa 
de indizível terror (Jo 19.37; Apocalipse 1.7; 6.16, 17).28 
Com este ensino, revelado nas Escrituras,
Deus quer que todos venham a crer no Evangelho, levar uma 
vida santa em serviço a Cristo e ansiosamente esperar o último 
dia, com paciência (Rm 13.12-14; Tt 2.11-13; 1Pe 1.13-15; 2 Pe 
3.11,12; 1 Jo 3.2,3; 1 Tm 6.14; Mt 25.14-30).29 
E, de fato, diante deste conforto o crente “‘aguarda’ pacientemente 
a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e regozija-se na gloriosa redenção 
que este dia da salvação lhe promete (Mt 24:44-46; Lc 21:31)”.30 Neste 
dia, “Deus abençoará a Igreja com descanso eterno, um descanso que já 
é nosso através da fé em Cristo (Hb 3.1; 4.1,8-10)”.31
Enquanto este dia não chega, 
os cristãos vivem na proverbial tensão entre o já e o ainda não. 
[...] Por um lado, o fi m chegou em Cristo. O crente recebe agora 
as bênçãos escatológicas prometidas através do Evangelho e dos 
Sacramentos. Por outro lado, a consumação ainda é uma realidade 
futura. O cristão ainda não entrou na glória do céu.32 
Sendo assim, “a presente vida é vivida à luz da vida por vir, e isso dá 
sentido e direção à nossa peregrinação terrena”.33
1.2 Defi nição de Reino de Deus
No NT basilei,a ocorre 144 vezes com referência ao Reino de Deus, 
sendo 111 delas nos sinóticos.34 Na LXX35 ocorre em torno de 250 vezes,36 
o que mostra a importância deste termo para o presente estudo.
28 MUELLER, op. cit., p.307.
29 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.16.
30 MUELLER, op. cit., p.296.
31 OS TEMPOS DO FIM, op. cit., p.11.
32 Ibid., p.12.
33 KOEHLER, op. cit., p.299.
34 ZABATIERO, Júlio Paulo T. Rei, Reino. In: BROWN, op. cit., v.II., p.2035.
35 Tradução grega do AT.
36 STOLL, William A. Rei, Reino. In: BROWN, op. cit., v.II. p.2026.
11
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
Porém, antes de analisarmos o signifi cado e o referente desta ex-
pressão, é importante notar que na Bíblia há duas expressões diferentes: 
basilei,a tw/n ouvranw/n e basilei,a tou/ qeou/ para referir-se ao que Libâ-
nio diz ser “o núcleo central e fundamental da escatologia cristã: o Reino 
de Deus.”37 Por que esta distinção? Estariam os autores das Escrituras 
fazendo referência a conceitos diferentes? Na verdade, ambos “are used 
interchangeably and with the same audience – and this by inspiration of 
the Holy Spirit”.38 Ambos são “synonymous, describing one and the same 
eternal kingdom”.39
basilei,a tw/n ouvranw/n é um semitismo e 
refl ete o termo preponderantemente usado pelo judeu Mateus 
o relutante temor dos judeus de pronunciar o nome de Deus. 
Mateus usa, portanto, basileia tou ouranon, simplesmente como 
uma perífrase e sinônimo para basileia tou theou, que ele também 
emprega ocasionalmente.40 
Visto que pode ser usado tanto um quanto outro, usarei,a partir daqui, 
apenas o termo basilei,a tou/ qeou (Reino de Deus), cujo signifi cado mais 
simples é o “domínio ou governo real de Deus, seu direito de mando e o 
seu atual governar”.41 Este domínio ou reinado de Deus data do princípio 
da história de Israel, quando Abrão obedeceu a Deus e mudou-se para 
Canaã.42
Porém, com o passar dos tempos, sob os reis exigidos pelo povo, Israel 
deixou de cumprir suas funções como povo especial,43 tornando-se deso-
bediente e idólatra, diante do que Deus o repreendeu levando-o ao exílio. 
Deus, no entanto, não os havia abandonado, mas enviou-lhes profetas que 
lhes deram a esperança de que toda esta situação seria corrigida.44 Esta es-
perança escatológica estava relacionada com a “manifestação dessa basileia 
theou com o aparecimento do Messias que deveria vir”45 e salvar Israel dos 
seus inimigos. E isto era aguardado ainda nos tempos do AT.46
37 LIBÂNIO, op. cit., p.287. 
38 “são usados alternadamente e com a mesma audiência – e isso por inspiração do Espírito 
Santo.” PLUEGER, op. cit., p.12.
39 “sinônimos, descrevendo um e o mesmo reino eterno.” COX, William E. The Millennium. 
Nutley, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,1964. Apud PLUEGER, op. 
cit., p.12.
40 ROTTMANN, Hans. “Igreja” e “Reino de Deus” no Novo Testamento. Porto Alegre: 
Casa Publicadora Concórdia, 1966. p.26.
41 Ibid., p.27.
42 STOLL, op. cit., v.II.p.2027.
43 VOELZ, op. cit., p.246.
44 VOELZ , op. cit., p.246.
45 ROTTMANN, op. cit., p.27.
46 VOELZ, op. cit., p.247.
IGREJA LUTERANA
12
Na plenitude do tempo preparado por Deus, o Messias de fato veio 
para dentro da história na pessoa de Jesus como personifi cação do Reino 
de Deus.47 O Reino se fez “presente na pessoa e obra de Jesus”,48 que 
cumpriu tudo o que havia sido prometido pelos profetas,49 não em defi -
nitivo, mas em princípio. 
Reino de Deus, portanto, é, em resumo, “o Reino de um Deus voltado 
para os homens, com face de amor, como graça, como dom. É proximidade 
salvífi ca de Deus”.50 É “o próprio poder de Deus atuando sob a forma de 
juízo e, sobretudo, de salvação, em nossa história”.51 É, ainda,
a realeza redentora de Deus, dinamicamente ativa para estabe-
lecer Seu domínio entre os homens, e que esse Reino, que irá 
aparecer como um ato apocalíptico no fi nal desta era, já veio 
à história humana na pessoa e missão de Jesus, para vencer o 
mal, libertar os homens do seu poder, e trazer-lhes as bênçãos 
do reinado de Deus. O Reino de Deus envolve dois grandes mo-
mentos: cumprimento dentro da história, e consumação no fi m 
da história.52 
O evangelista Mateus compreendeu bem isto e viu que o anúncio de 
Jesus da proximidade do Reino 
não se restringia à proclamação de uma vinda futura iminente 
desse Reino, mas, sim, que o Reino já estava vindo – embora 
não consumada e completamente – a era futura já fora iniciada, 
a presença do Rei já se fazia sentir.53 
Marcos também entendeu que “o tempo está cumprido – um perfeito 
de estado – o tempo do cumprimento das profecias messiânicas já chegou, 
o futuro invadiu o presente e, por isso, o Reino ‘está próximo’”.54 Também 
outros autores do NT concordam que o Reino é “presente e futuro; teo-
cêntrico (cristocêntrico) e transcendente, dinâmico, salvífi co”.55
Com sua vinda, Jesus passou a ser o “representante visível da au-
toridade real de Deus sobre a terra”.56 Autoridade que lhe foi dada por 
47 LIBÂNIO, op. cit., p.119-124.
48 ZABATIERO, op. cit., p.2038.
49 VOELZ, op. cit., p.249.
50 LIBÂNIO, p.109.
51 Ibid., p.103.
52 ZABATIERO, op. cit., p.2042.
53 ZABATIERO, op. cit., p.2046.
54 Ibid., p.2046.
55 Ibid., p.2054.
56 ROTTMANN, op. cit., p.28.
13
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
ocasião da conclusão de sua obra redentora e que foi confi rmada com sua 
ascensão aos céus à direita de Deus Pai. “A ascensão foi, por assim dizer, 
o ato pelo qual o, ao mesmo tempo divino e humano, Redentor e Senhor 
da Igreja tomou posse visível de seu trono da basileia”.57
De posse de seu governo, Jesus reina presente em nosso meio através 
de sua Igreja, da qual fazemos parte, e na qual “a basiléia theou se realiza, 
concretiza e torna-se perceptível aqui na terra”.58 Este Reino, com todas 
as suas bênçãos, nós o recebemos pela fé,59 sendo esta a única maneira 
de estarmos no Reino. E “estar ‘no Reino’ signifi ca receber a salvação 
messiânica e desfrutar suas bênçãos mesmo enquanto vivendo na era má 
de mortalidade e pecado”.60
2 A SANTA CEIA COMO ANTECIPAÇÃO DA VINDA DO REINO DE DEUS
Como foi frisado no capítulo anterior, na obra de Cristo o Reino de Deus 
já veio. Já estamos nos “tempos do fi m”. Neste capítulo tenciono mostrar 
que o Reino de Deus vem também a cada celebração da Santa Ceia, con-
cretizando, assim, a obra de Cristo em nossa vida para proveito presente, 
tornando-a, desta forma, objetiva, pois todas as vezes que comemos este 
pão e bebemos o cálice, anunciamos a morte do Senhor, lembrando a obra 
de Cristo na cruz e recebendo os benefícios da mesma. 
Primeiramente apresento o testemunho das Sagradas Escrituras a 
respeito desta antecipação, em seguida trago o relato das Confi ssões Lu-
teranas, para, então, relacionar os resultados obtidos na vida cristã, isto 
na seção Aplicações Teológicas. 
2.1 Bíblia
O texto escolhido, 1Co 11.25,26, faz parte de um relato paulino da 
instituição, contendo, também, uma interpretação (v. 26) inspirada pelo 
Espírito Santo, interpretação esta que nos permite chegar a algumas 
considerações a respeito do tema proposto. 
2.1.1 1Co 11.25,26
Texto grego: “25 ẁsau,twj kai. to. poth,rion meta. to. deipnh/sai le,gwn( 
Tou/to to. poth,rion h` kainh. diaqh,kh evsti.n evn tw/| evmw/| ai[mati\ tou/to 
poiei/te( o`sa,kij eva.n pi,nhte( eivj th.n evmh.n avna,mnhsinÅ 26 o`sa,kij ga.r 
eva.n evsqi,hte to.n a;rton tou/ton kai. to. poth,rion pi,nhte( to.n qa,naton 
tou/ kuri,ou katagge,llete a;crij ou- e;lqh|Ŕ61
57 Ibid., p.30.
58 Ibid., p.47.
59 Ibid., p.30.
60 ZABATIERO, op. cit., p.2050.
61 NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. 26.ed. Stuttgart: Deutsche Bibelstiftung, 
1979. p.460.
IGREJA LUTERANA
14
Tradução: 25 Semelhantemente também [tomou] o cálice, depois de 
cear, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, 
todas as vezes que o beberdes, em memória minha. 26 Porque todas as 
vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do 
Senhor, até que ele venha.
2.1.1.1 Aspectos isagógicos
No tempo da escrita de 1Co, a cidade de Corinto era a “mais impor-
tante da Grécia”.62 Destruída por L. Mummius Achaicus em 146 A.C.,63 
foi reerguida um século mais tarde por ordem de Júlio César.64 Sua 
situação geográfi ca era privilegiada, tendo dois portos, de modo que 
veio a ser o principal empório entre a Ásia e Roma.65 “A população era 
constituída de gregos nativos, colonos romanos e de judeus”.66
No entanto, “a cidade, famosa pela sua riqueza e cultura, era 
conhecida também pela corrupção moral dos seus habitantes e pela 
libertinagem que dominava os costumes da sociedade”.67 “Era sede 
de uma aviltante modalidade de culto a Vênus, bem como de outros 
cultos licenciosos originários do Egito e da Ásia”.68 “Templo, santuários 
e altares pontilhavam a cidade. Mil prostitutas sagradas se punham à 
disposição de qualquer um no templo da deusa grega Afrodite”.69 Era, 
em resumo,
um lugar muito cosmopolita. Era uma cidade importante. Era 
intelectualmente viva. Era materialmente próspera. Era moral-
mente corrupta. Os seus habitantes eram pronunciadamente 
propensos a satisfazer os seus desejos, fossem de que espécie 
fossem.70 
Entretanto, não se tem certeza de que o caráter da antiga Corinto 
estivesse também associado com a nova. O que se pode dizer é que uma 
reputação tão infame custa “a desaparecer e, na condição de cidade 
62 ERDMAN, Charles R. Primeira epístola de Paulo aos Coríntios. M., D. A. (Trad.). São 
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1956. p.7.
63 MORRIS, Leon. I Coríntios – introdução e comentário. OLIVETTI, Odayr (Trad.).São 
Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. p.11.
64 Ibid., p.7.
65 Ibid., p.8.
66 DAVIDSON, F. O novo comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, [19--]. p.1187.
67 BÍBLIA de estudos Almeida- RA. 2.ed. Barueri: SBB,1999. p.239 do NT.
68 ERDMAN, op. cit., p.8.
69 GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 4.ed. BENTES, João Marques (Trad.). 
São Paulo: Vida Nova, 1991. p.309.
70 MORRIS, op. cit., p.12.
15
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
portuária importante, é improvável que Corinto tenha criado fama de 
probidade moral (veja 1 Co 6.12 e ss.)”.71
Nesta cidade, com todos os seus problemas, Paulo foi pregar o Evange-
lho, sendo o pioneiro na evangelização da cidade.72 A situação geográfi ca 
parece ter infl uenciado, pois dali o Evangelho poderia facilmente espalhar-
se para as regiões vizinhas.73
Durante sua 2ª Viagem Missionária, tendo saído de Atenas, chegou a 
Corinto, onde encontrou Áqüila e Priscila, judeus fabricantes de tendas, 
com os quais passou a morar e a trabalhar, pois eram do mesmo ofício. 
Aos sábados Paulo anunciava o evangelho na sinagoga (At 18.1-4). 
Contudo, devido à oposição de seus adversários judeus, abandonou 
a sinagoga e fundou uma assembleia cristã na casa de Tito Justo, a qual 
fi cava perto da sinagoga.74 Através de sua pregação muitos creram e foram 
batizados,75 formando a Igreja à qual a epístola de 1Co foi endereçada. 
Esta igreja era composta de uns poucos judeus e muitos gentios,76 sendo 
a maioria de classes mais humildes.77
Depois de 18 meses naquela cidade (At 18.11), Paulo viajou para 
Jerusalém e Antioquia, deixando “uma igreja forte e fl orescente, prati-
camente sob a proteção de Roma e capacidade a prosseguir na evange-
lização de toda a província da Acaia”.78 Mas nem tudo se deu conforme 
o esperado: 
os antecedentes pagãos da maioria daqueles irmãos continuavam 
pesando na conduta de alguns, e a corrupção geral, característica 
da cidade, era infl uente também na congregação, de modo que, 
inclusive no seu seio, se davam casos de imoralidade que exigiam 
ser imediatamente corrigidos.79 
Paulo, em sua 3ª Viagem Missionária, quando estava em Éfeso por 
volta de 55 A.D., tomou conhecimento destes casos por intermédio de uma 
carta da igreja (1Co 7.1), possivelmente levada pelas mãos de Estéfanas, 
Fortunato e Acaico (1Co 16.17), e também por gente da casa de Cloe (1Co 
1.11). Paulo, então, escreveu à igreja em Corinto a segunda carta, a qual 
71 CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. 
REDONDO, Márcio Loureiro (Trad.). São Paulo: Vida Nova, 1999. p.292.
72 DAVIDSON, op. cit., p.1187.
73 MORRIS, op. cit., p.13.
74 ERDMAN, op. cit., p.9.
75 MORRIS, op. cit., p.14.
76 DAVIDSON, op. cit., p.1189.
77 ERDMAN, op. cit., p.9.
78 Ibid., p.10.
79 BÍBLIA, op. cit., p.239 do NT.
IGREJA LUTERANA
16
conhecemos como 1Coríntios. Nela Paulo aborda as questões problemáticas 
da igreja, as quais são tratadas por ele na seguinte ordem:
Paulo trata primeiro de uma questão eclesiástica, ou sejam 
divisões na igreja. Seguem-se três questões morais: o caso de 
disciplina, litígios perante os tribunais, e a impureza na vida social. 
Vêm após duas questões dependentes das circunstância, isto é, 
o casamento e o uso de carnes oferecidas aos ídolos. Adiante 
considera três questões litúrgicas: a maneira de a mulher se 
portar durante o culto, a administração da Ceia do Senhor, e o 
exercício ordeiro dos dons espirituais. Por fi m, uma questão de 
ordem doutrinária: a ressurreição.80 
A questão que nos interessa para o presente estudo é a referente à 
administração da Ceia do Senhor (1Co 11.17-34), que, segundo informa-
ções passadas a Paulo (v. 18), estava sendo desvirtuada principalmente 
pela falta de comunhão entre os irmãos, havendo, inclusive, divisões 
entre eles (v. 18).
Pelo que se sabe, a Ceia do Senhor, nos tempos apostólicos, era 
precedida pela “festa do amor”,81 a qual reunia os fi éis de modo fraterno 
revelando o amor mútuo dos cristãos. Todos participavam, desde os mais 
favorecidos até os que nada possuíam.82 “Mas, ao invés de repartirem 
os alimentos com todos, cada qual conservava para si a parte que tinha 
levado”,83 comendo-a sem esperar os que chegariam mais tarde (v. 33), – 
talvez por questão de horário de trabalho84 – transformando, desta forma, 
a refeição comum em uma ceia particular, inclusive com excessos, como a 
embriaguez. Enquanto isso, aqueles que nada tinham trazido permaneciam 
com fome (v. 21). O que se pensava era que a refeição comum 
valesse por si mesma, desligada de qualquer contexto de amor 
recíproco, e que criasse e exprimisse uma relação somente 
vertical com o Cristo ressuscitado. O sacramento, celebrado 
materialmente com todos juntos, tornou-se um ato individual 
dos fi éis, não da Igreja.85 
Segundo Paulo (v. 20), o que eles comiam não era a Ceia do Senhor – 
a qual é convívio com Cristo e com os irmãos – mas uma ceia particular, 
pois excluindo os pobres do convívio mútuo, exclui-se a convivência com 
80 ERDMAN, op. cit., p.11.
81 DAVIDSON, op. cit., p.1208.
82 BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo (I). ALMEIDA, José Maria de (Trad.). São 
Paulo: Edições Loyola, 1989. p.310.
83 DAVIDSON, op. cit., p.1208.
84 BARBAGLIO, op. cit., p.309.
85 Ibid., p.310.
17
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
Cristo, anulando, assim, o relacionamento de comunhão e participação 
com o Senhor – que são próprias da Santa Ceia –, visto que se anula o 
relacionamento de comunhão e solidariedade com os irmãos mais neces-
sitados – que são próprias da ceia comum.86
Os coríntios, agindo da forma acima descrita, estavam menosprezan-
do a igreja de Deus e humilhando os que nada tinham (v. 22), mesmo 
porque
a igreja é uma realidade criada por Deus e por sua graça, perten-
ce totalmente a ele, mas exprime essencialmente fraternidade, 
participação. Por isso, a afronta feita aos pobres equivale a um 
desprezo pela Igreja de Deus.87 
O modo encontrado por Paulo para sanar esta irregularidade é lembrar-
lhes a instituição da Santa Ceia. Este fato servia “para dar ênfase ao amor 
de Cristo pelos discípulos, amor que se esquece de si em benefício dos 
outros”.88 Amor que deveria fazer parte da vida dos cristãos coríntios. 
Alguns aspectos deste relato serão abordados na seção seguinte.
2.1.1.2 Aspectos textuais
Tou/to to. poth,rion h` kainh. diaqh,kh evsti.n evn tw/| evmw/| ai[mati
A palavra “cálice”, neste texto, “é uma forma gramatical ou, para ser-
mos mais exatos, uma fi gura de sintaxe, chamada metonímia, onde o con-
tinente é tomado pelo conteúdo”.89 O que signifi ca dizer que to. poth,rion 
refere-se ao vinho contido no cálice, o qual “is not merely ‘this wine’ but 
‘this wine consecrated by the Lord to be the bearer of his sacrifi cial blood’”,90 
pelo qual estabeleceu uma nova aliança entre Deus e seu povo.
Esta “Nova Aliança” dá a ideia de uma “antiga aliança”.91 Aquela fi rmada 
no monte Sinai,92 – registrada em Êx 24 – e que, conforme a profecia de Jr 
31.31ss., “seria substituída por uma nova baseada no perdão de pecados, 
e com a lei de Deus escrita no coração das pessoas”.93
86 BARBAGLIO, op. cit., p. 312.
87 Ibid., p. 312.
88 ERDMAN, op. cit., p.100.
89 FELDMANN, C. L.; HOLDORF, C. J. O significado das palavras da instituição da Santa Ceia, 
conforme 1 Co 11.23-26. Igreja Luterana. Porto Alegre, ano XXXII, 1971. p.51.
90 “... ‘Este cálice’ não é meramente ‘este vinho’ mas ‘este vinho consagrado pelo Senhor 
para ser portador do seu sangue sacrificial’.” LENSKI, R. C. H. The Interpretation of St. 
Paul’s First and Second Epistle to the Corinthians. Columbus: Wartburg Press, 1946. 
p.470.
91 FELDMANN, op. cit., p.51.
92 CHAMPLIN, Russell N. O Novo Testamento interpretado - versículo por versículo. 
Guaratinguetá: A Voz Bíblica, [19--]. v.IV. p.182.
93 MORRIS, op. cit., p.130.
IGREJA LUTERANA
18
O sangue da antiga aliança “typifi ed and promised the blood of Christ, 
God’s own Son, the seal of ‘the new testament’ by which we inherit all 
that thisblood has purchased and won for us”94 “Está em pauta a vida que 
Jesus Cristo nos deu, a sua expiação no sacrifício da cruz”.95 Jesus, com 
estas palavras, está nos dizendo “que o derramamento do Seu sangue é 
o meio de estabelecer a nova aliança”.96 Com Sua morte 
 
uma ‘nova aliança’ foi fi rmada, prefi gurada pela primeira, capaz 
de realizar aquilo que a primeira tão somente apontava como 
necessário, mas que não podia concretizar, a saber, a expiação 
pelo pecado, a redenção através do poder transmissor de vida 
que há no sacrifício de Cristo”.97 
tou/to poiei/te( o`sa,kij eva.n pi,nhte( eivj th.n evmh.n avna,mnhsin
poiei/te – imperativo presente ativo de poie,w – fazei. “The imperative is 
a durative present tense and denotes indefi nite repetition: ‘This do again 
and again’”.98 Por esta ordem inferimos que Cristo deseja “que a Santa 
Ceia seja celebrada sempre, bem assim como ele a instituiu, em memória 
dele, da sua morte, da sua obra, para a remissão de nossos pecados”.99 
Isto porque a Santa Ceia é um dos meios “que Jesus estabeleceu para Ele 
estar presente no coração e na mente da comunidade da igreja”.100
o`sa,kij eva.n pi,nhte parece ser 
una inserción paulina em las palabras del mandato, para hacer 
resaltar su proprio énfasis especial. Esto parece tanto más proba-
ble a la luz del v. 26, donde emplea el mismo lenguaje junto con 
un ‘así pues’ explicativo, com el fi n de reforzar la razón que había 
tenido, desde un inicio, para citar la tradición completa”.101 
avna,mnhsin – substantivo acusativo feminino singular de “avna,mnhsij( 
ewj( h` recordação Hb 10.3; lembrança, memória Lc 22.19; 1 Co 
94 “tipificava e prometia o sangue de Cristo, o próprio Filho de Deus; o selo da ‘nova aliança’ 
pelo qual nós herdamos tudo que esse sangue adquiriu e ganhou para nós.” LENSKI, op. 
cit., p.471.
95 CHAMPLIN, op. cit., p.182.
96 MORRIS, op. cit., p.130.
97 CHAMPLIN, op. cit., p.182.
98 “O imperativo é um presente duradouro e denota repetição indefinida: ‘Fazei isto de novo 
e de novo’.” LENSKI, op. cit., p.468.
99 FELDMANN, op. cit., p.52.
100 BARTELS, K. H. In: BROWN, op. cit., v.I, p.1184.
101 “uma inserção paulina nas palavras do mandamento, para fazer ressaltar sua própria ênfase 
especial. Isto parece tanto mais provável à luz do v. 26, onde emprega a mesma linguagem 
junto com um “assim pois” explicativo, com o fim de reforçar a razão que havia tido, desde 
o início, para citar a tradição completa.” FEE, Gordon. Primera epístola a los Corintios. 
VARGAS, Carlos Alonso (Trad.). Buenos Aires: Nueva Criación, 1994.p.629.
19
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
11.24s.”.102 “the phrase ‘in (or for) my remembrance’ is an echo of the 
Passover rite: ‘And this shall be unto you for a memorial’”.103 “Está em 
foco todas as vezes que a comemoração for levada a efeito, com o pro-
pósito de relembrar a pessoa de Cristo”.104 No entanto, o antecedente 
do AT para este termo, “zikkarôn impede que se entenda a Ceia do 
Senhor como mera lembrança psicológica. A comunidade cristã participa 
efi cazmente do evento salvífi co da morte de Jesus”.105 A Santa Ceia é 
também uma “recordatorio constante y repetido – como también una 
experiencia – de la efi cacia de esa muerte para nosotros”.106
Quando participamos da Santa Ceia, lembramos “the content of the 
entire sacramental act. And this remembrance is the oral reception of 
Christ’s body that was sacrifi ced for us on the cross”.107 Esta memória 
também inclui grato reconhecimento e confi ssão da ação redentora 
divina.108 Assim vivia a igreja primitiva, tendo a eucaristia como sendo 
“o relembrar diante de Deus do sacrifício único de Cristo em toda a 
sua plenitude realizada e efi caz, de tal modo que opera aqui e agora 
mediante os seus efeitos na alma dos redimidos”.109 Este memorial, 
portanto, não é uma simples lembrança.
òsa,kij ga.r eva.n evsqi,hte to.n a;rton tou/ton kai. to. poth,rion pi,nhte
Paulo dá sua própria explicação ou comentário sobre a Santa Ceia.110 
Ele liga esta explicação às palavras de Jesus “[...] ‘as often as you drink 
it,’ but mentions both elements: ‘as often as you eat this bread and drink 
this cup,’ and indicates that he refers to the celebration of the entire 
sacrament”.111
A conjunção “porque” é uma “palavra que olha de volta para o ele-
mento ‘memorial’ da Ceia do Senhor”,112 explicando-o: “Quando Jesus diz 
102 GINGRICH, op. cit., p.21.
103 “a frase ‘ em (ou para) memória minha’ é um eco do rito da Páscoa: ‘E isto vos será por 
memorial.’” LENSKI, op. cit., p.468.
104 CHAMPLIN, op. cit., p.182.
105 BARBAGLIO, op. cit., p. 314.
106 “[...] recordação constante e repetida – como também uma experiência – da eficácia dessa 
morte para nós.” FEE, op. cit., p.631.
107 “[...] o conteúdo de todo o ato sacramental. E essa memória é a recepção oral do corpo 
de Cristo que foi sacrificado por nós na cruz.” LENSKI, op. cit., p.468.
108 FRANZMANN, Martin H.; ROEHRS, Walter R. Concordia Self-Study Commentary. St. 
Louis: Concordia Publishing House, 1979. p.155.
109 DIX, Gregory. The Shape of the Liturgy. 1945. p.243. Apud.BARTELS, op. cit., p.1184.
110 BARBAGLIO, op. cit., p. 314.
111 “[...] ‘todas as vezes que o beberdes,’ mas menciona ambos elementos: ‘todas as vezes 
que comerdes este pão e beberdes este cálice,’ e indica que ele recorre à celebração do 
sacramento inteiro.” LENSKI, op. cit., p.473.
112 CHAMPLIN, op. cit., p.183.
IGREJA LUTERANA
20
‘em memória de mim’, Paulo explica essas palavras dizendo: ‘anunciais a 
morte do Senhor’”.113 
Para Paulo, todas as vezes em que celebramos a Santa Ceia, o fazemos 
em memória de Jesus. E “fazer a ‘memória’ de Jesus signifi ca anunciar 
a morte do Senhor”,114 signifi ca anunciar e receber os benefícios de sua 
morte, até que Ele venha.
to.n qa,naton tou/ kuri,ou katagge,llete a;crij ou- e;lqh
katagge,llete – presente indicativo ou presente imperativo ativo 2ª 
pessoa do plural de katagge,llw, que signifi ca 
‘anunciar’ (assim na ARA), ‘proclamar’. No Novo Testamento é 
empregado mormente com referência à pregação do Evangelho. 
Sempre denota uma atividade exercida para com os homens, 
e nunca uma atividade exercida para com Deus. Assim, aqui 
signifi ca que a solene observância do ofício da Santa Comunhão 
é uma vívida proclamação da morte do Senhor.115 
Se for presente do imperativo, há uma ligação com a ordem de Cristo 
(poiei/te v.25) de celebrarmos a Santa Ceia em sua memória, manifes-
tando, assim, seu desejo de que todas as vezes que comermos o pão e 
bebermos o cálice (v.26) também anunciemos sua morte e os benefícios 
da mesma (o “fazer” e o “anunciar” estão juntos). Se for presente do 
indicativo não há ligação direta com a ordem de Cristo, mas o anúncio 
também é feito (ao “fazermos” também “anunciamos”). A ARA traduz no 
modo indicativo: “anunciais”.
Os coríntios estavam sendo instruídos a participarem dignamente 
da Santa Ceia. Havia abusos que mereciam reprimendas. Paulo, então, 
advertiu-os, “dizendo que ao ‘comer o pão’ e ‘beber o cálice’ (refere-se 
ao sacramento todo), eles não estavam apenas celebrando um rito tra-
dicional ou um ágape, mas anunciando a morte do Senhor”.116 Só que 
eles, na verdade, estavam desvirtuando a Ceia do Senhor, porque “Each 
time we receive the Lord’s Supper we proclaim to both Christians and 
non-Christians that Christ gave his body and shed his blood to redeem all 
mankind”,117 sendo a correta administração, de acordo com as palavras de 
113 FELDMANN, op. cit., p.53.
114 BARBAGLIO, op. cit., p. 314.
115 MORRIS, op. cit., p.130.
116 FELDMANN, op. cit., p.52,53.
117 “Cada vez que nós recebemos a Ceia do Senhor nós proclamamos a cristãos e não-cristãos 
que Cristo deu seu corpo e derramou seu sangue para redimir todo gênero humano.” 
TOPPE, Carleton A. First Corinthians. St. Louis: Concordia Publishing House, 1992. 
p.108.
21
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
Jesus, e a participação na Ceia um testemunho vivo disso, visto que nela 
é o próprio Deus que está presente,118 se oferecendoa nós119 de maneira 
efi caz para enriquecer e unifi car a igreja.120 Comendo o pão e bebendo 
o cálice tornamo-nos participantes da morte de Jesus, pois os benefícios 
são para nós, tendo, portanto, valor salvífi co, expiatório.121
e;lqh| – aoristo subjuntivo ativo 3ª pessoa do singular de e;rcomai – que 
ele venha. Denota um simples ato futuro e uma vinda real,122 dando-nos 
“a medida do caráter escatológico da Santa Ceia”,123 – a qual está entre 
a morte de Jesus e a sua vinda fi nal124 – fazendo-nos olhar “prospectiva-
mente para o dia em que o Senhor voltará”.125 Com as palavras do v.26, 
Paulo “determinou a prática contínua da ordenança da Ceia do Senhor, até 
à restauração da presença visível do Senhor Jesus”,126 ou seja, até que 
Ele venha. Mais detalhes sobre a perspectiva futura da Santa Ceia serão 
dados no próximo capítulo. 
2.2 Confi ssões
Como já foi frisado no primeiro capítulo,127 as bênçãos escatológicas 
prometidas por Deus já são recebidas em nosso tempo, a cada parti-
cipação na Santa Ceia. Isto se dá porque “existe uma conexão entre o 
sacramento e a escatologia.128 Isto nos leva a fazer breves considerações 
a respeito dos sacramentos, que são atos sagrados ordenados por Deus 
e nos quais Ele, “por certos meios externos, ligados com sua palavra, 
oferece, dá e sela aos homens a graça merecida por Cristo”.129 Os sacra-
mentos foram instituídos “para serem sinais e testemunhos da vontade 
divina para conosco, com o fi m de que por eles se desperte e fortaleça 
nossa fé” (CA XIII, 1). Por isso são chamados, juntamente com a Palavra, 
118 BROWN, op. cit., v.I, p.1178.
119 CHAMPLIN, op. cit., p.183.
120 FRANZMANN, op. cit., p.155.
121 BARBAGLIO, op. cit., p. 314.
122 LENSKI, op. cit., p.474.
123 FELDMANN, op. cit., p.53.
124 BARBAGLIO, op. cit., p. 315.
125 MORRIS, op. cit., p.130.
126 CHAMPLIN, op. cit., p.183.
127 Nota 21
128 SASSE, Hermann. Isto é o meu corpo. 2.ed. REHFELDT, Mário L. (Trad.). Porto Alegre: 
Concórdia, 1993. p.137.
129 KOEHLER, op. cit., p.190.
IGREJA LUTERANA
22
de meios da graça,130 meios através dos quais a graça de Deus chega 
até nós. Da mesma forma como
a absolvição fi nal no Dia Derradeiro é antecipada na absolvição, 
e, assim como nossa morte e ressurreição são antecipadas no 
Batismo, do mesmo modo se recebe uma dádiva escatológica 
já agora na Ceia do Senhor.131 
Esta dádiva é o perdão dos pecados,132 com a vida e salvação.133 “Pois 
onde há remissão dos pecados, há também vida e salvação” (Cm VI, 6). 
Tudo isto nos foi conquistado por Cristo mediante seu sacrifício expiatório134 
– o único e sufi ciente – no qual Ele se entregou e morreu por nós. E, para 
assegurar e dar o perdão a cada pecador que se arrepende, Cristo
instituiu a santa ceia, em que ele dá, como selo de sua promes-
sa, o corpo e sangue com que ele nos obteve esses tesouros 
celestes. E o que crê nessas palavras da promessa, ‘tem o que 
elas dizem e expressam: remissão dos pecados’.135 
Por isso dizemos que a Santa Ceia é puro evangelho,136 pois “o corpo de 
Cristo, juntamente com todos os seus benefícios, é distribuído com o pão 
de modo não diverso do em que o é com a palavra do evangelho” (FC DS 
VII, 18), de modo que “todo o conteúdo do evangelho é o conteúdo deste 
sacramento”,137 o qual nos é oferecido como um remédio, “como medicina 
inteiramente salutar e consoladora, que te ajuda e te dá a vida, tanto na 
alma quanto no corpo. Porque onde está restaurada a alma, aí também 
está auxiliado o corpo” (CM IV, 68), antecipando, assim, a redenção futura 
do corpo e da alma138 e nos dando uma amostra do que nos está prepa-
rado nos céus. A Ceia, portanto, foi instituída “to nourish and sustain his 
people and assure them of his grace”.139Trata-se de um 
alimento para as almas, que nutre e fortalece o novo homem. Pois 
no batismo nascemos novamente; mas [...] ainda permanece, a 
130 Ibid., p.221.
131 SASSE, op. cit., p.289.
132 Ibid., p.85.
133 MUELLER, op. cit., p.215.
134 SASSE, op. cit., p.17.
135 KOEHLER, op. cit., p.217.
136 MUELLER, op. cit., p.187.
137 SASSE, op. cit., p.82.
138 LUTERO, M. Luther’s Works. St. Louis: Concordia, 1955. p.360-372. Apud. PRUNZEL, C. 
J. Estudos na Teologia de Lutero. São José dos Pinhais: Adesão Editora, 1996. p.44.
139 “para nutrir e sustentar seu povo e lhes assegurar de sua graça.” LCMS - CTCR. Admis-
sion to the Lord’s Supper: Basics of Biblical and Confessional Teaching. St. Louis, 
novembro 1999. p.52.
23
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
antiga natureza corrupta de carne e sangue no homem . Por esse 
motivo nos é dado para alimento e sustentação diários, para que 
a fé se revigore e fortaleça.140 
Lutero lembra que “nos são dadas neste sacramento a incomensurá-
vel graça e misericórdia de Deus” (OS 1, 431). Isto é possível porque o 
próprio Cristo está presente na Santa Ceia. Ele “não só diz que virá, ele 
está aí”141 com o mesmo corpo que Ele deu a seus discípulos na última 
ceia, o mesmo corpo com que fora crucifi cado e que ressuscitou.142 Por 
isso, todas as vezes que participamos da Santa Ceia, Cristo se entrega a 
nós,143 antecipando, assim, sua parusia, fazendo-nos, já agora, partici-
pantes da ceia do Cordeiro. 
Esta visão de antecipação – na Santa Ceia – do banquete messiânico 
é ensinada no Novo Testamento.144 Na Ceia a esperança do retorno de 
Jesus já se cumpre.145 Em cada celebração a petição “Vem, Senhor Jesus!” 
é levada a efeito, graças à sua presença real neste sacramento,146 sem a 
qual todas estas dádivas acima citadas seriam apenas símbolo, sem valor 
e sem signifi cado real para nossas vidas.
Lutero tratou a Santa Ceia como um dos assuntos centrais para a 
vida da Igreja,147 tornando-se um grande defensor da presença real do 
verdadeiro corpo e sangue de Cristo no Sacramento.148 Isso é comprovado 
pelos inúmeros escritos seus para refutar falsos ensinamentos a respeito. 
Nossas Confi ssões são claras ao dizer que “na ceia do Senhor estão verda-
deira e substancialmente o corpo e o sangue de Cristo, sendo oferecidos 
verdadeiramente com os elementos visíveis, pão e vinho. E falamos da 
presença do Cristo vivo” (Ap X, 4). Negando-se a presença real, tira-se da 
Ceia o que lhe dá razão de ser e nega-se as palavras de Cristo, as quais, 
segundo a doutrina luterana,
exprimem todas a mesma verdade sublime, a saber, que em, com 
e sob o pão e o vinho, como por verdadeiros vehicula et media 
collativa, o comungante recebe o verdadeiro corpo e sangue de 
Cristo para graciosa remissão dos seus pecados.149 
140 SASSE, op. cit., p.135.
141 LUTERO, M. D. Martin Luthers Werke: Kritische Gesamtausgabe. Weimar (WA), 1883. 
Apud. BAESKE, A. Comunhão Escatológica.16/07/1999. p.5.
142 SASSE, op. cit., p.283.
143 Ibid., p.176.
144 SASSE, Hermann. We Confess the Sacraments. St. Louis: Concordia Publishing House, 
1985. v. 2. p.92.
145 Ibid., p.92.
146 Id., Isto é o meu corpo, op. cit., p.297,298.
147 WARTH, Martim C. In: OS 1, 425.
148 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.76. Apud. PRUNZEL, op. cit., p.40.
149 MUELLER, op. cit., p.203.
IGREJA LUTERANA
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Nós, luteranos, tomamos as palavras da instituição em seu sentido 
simples e confi amos em que Cristo, que fez a promessa, também será 
capaz de cumpri-la,150 visto que elas são efi cazes e operam “onde quer que 
se observe sua instituição e se pronunciem suas palavras sobre o pão e o 
cálice e se distribuam o pão e o cálice abençoados” (FC DS VII, 75). 
Lutero estava ciente da importância destas palavras, razão porque as 
usava como base em se tratando da Santa Ceia.151 Ele tinha na Palavra de 
Deus sua única fonte de doutrina cristã.152 Para ele, “é a palavra de Cristo 
e nada além dessa palavra que é a causa da presença real do corpo e do 
sangue na Ceia do Senhor”.153 As palavras 
são o principal, pois sem as palavras o cálice e o pão nada seriam; 
por outra, sem pão e cálice o corpo e o sangue de Cristo não 
estariam presentes. Sem a nova aliança, o perdão dos pecados 
não estaria presente. Sem perdão dos pecados, a vida e a bem-aventurança não estariam presentes. (OS 4, 351) 
Por esta razão, não poderia ser sacramento nem haveria “presença do 
corpo e do sangue de Cristo ‘separadamente do uso instituído por Cristo’ 
ou ‘separadamente da ação instituída por ordem divina’”.154 Para Lutero,
a presença real signifi cava que a encarnação era mais que fato 
histórico do passado. Era uma realidade: aqui está Deus que se 
tornou homem, aqui está Cristo em sua divindade e humanidade. 
Aqui está o verdadeiro corpo e sangue do Cordeiro de Deus, dado 
por vós, presente convosco. Aqui o perdão dos pecados é uma 
realidade e, com ela, ‘vida e salvação’.155
Neste ponto precisamos tratar da doutrina da pessoa de Cristo, en-
tendendo ser imprescindível conhecê-la para a correta compreensão da 
presença real. Importante para o momento é que 
[...] Jesus Cristo é verdadeiro, essencial, natural, completo 
Deus e homem em uma pessoa, inseparado e indiviso ... a mão 
direita de Deus está em toda a parte, junto à qual Cristo, real 
e verdadeiramente colocado segundo a sua natureza humana, 
reina presente ... a palavra de Deus não é falsa e não mente ... 
Deus tem e conhece vários modos de estar em algum lugar (FC 
Ep VII, 11-14) 
150 Ibid., p.200.
151 WARTH, op. cit., p.426.
152 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.59-62. Apud. PRUNZEL, op. cit., p.39.
153 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.127.
154 Ibid., p.129.
155 Ibid., p.301.
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A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
“A natureza humana, a carne de Cristo, participa da onipresença da 
divindade de Cristo, e, desse modo, pode estar presente sem abandonar 
o céu, onde quer que Cristo deseja que ela se encontre”.156 Onde Cristo 
está 
conforme sua divindade, aí ele é uma pessoa naturalmente 
divina e está presente de maneira natural e pessoal, como o 
demonstra sua concepção no ventre de sua mãe. Pois para que 
fosse o Filho de Deus, tinha de estar natural e pessoalmente 
no útero de sua mãe e se tinha de tornar homem. Se ele está 
presente natural e pessoalmente onde está agora também deve 
aí estar como homem. Pois não há duas pessoas separadas, 
mas uma única pessoa. Onde esta pessoa está, aí está como 
uma pessoa indivisa. E quando podes dizer, aí está Deus, en-
tão igualmente deves poder dizer, Cristo, o homem também 
está aí.157 
É o que ocorre na Santa Ceia, o corpo e o sangue de Jesus Cristo, Deus 
e homem, estão presentes verdadeira e essencialmente e são verdadei-
ramente distribuídos e recebidos com o pão e o vinho (FC Ep VII, 6). A 
presença neste sacramento, no entanto, 
não é a presença de um evento ou ação ocorrida no passado 
[...] mas é antes a presença do corpo e do sangue de Cristo, de 
sua verdadeira humanidade e verdadeira divindade. É esta a 
presença real do Senhor crucifi cado e ressurgido o qual dá seu 
verdadeiro corpo e sangue para ser comido e bebido, que confe-
re à lembrança de sua morte uma realidade atual como a não 
encontramos em nenhum outro tipo de recordação de um evento 
histórico. Por isso ‘lembrança’ e ‘presença real’ pertencem juntas 
inseparavelmente.158 
Isso se dá de tal modo que a parusia visível de Jesus Cristo é antecipa-
da, de forma invisível, na Ceia do Senhor (WA 23,211.6ss; 26,442,32ss), 
fazendo da mesa da Ceia do Senhor uma mesa especial, onde o Senhor 
se dá, agora mesmo, real e corporalmente (26,442.32ss.), como em lugar 
nenhum (23,151.28ss.) – a não ser na sua parusia.159
Durante 19 séculos a igreja tem orado pelo retorno do Senhor, pelo 
qual tem esperado por tão longo tempo. Ela só permaneceu fi rme porque 
“Sunday after Sunday is the ‘Day of the Lord,’ the day of the anticipated 
156 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.29,30.
157 Ibid., p.113.
158 Ibid., p.284.
159 LUTERO, WA, Apud. BAESKE, op. cit., p.5.
IGREJA LUTERANA
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parousia, the day on which He comes to His congregation under the lowly 
forms of bread and wine and ‘incorporates’ Himself in it anew”.160
2.3 Aplicações teológicas 
Chegamos, agora, ao ponto culminante deste capítulo, no qual este 
aspecto de antecipação da vinda do Reino de Deus por ocasião da ce-
lebração da Santa Ceia será aplicado à vida cristã, levando-nos a glori-
fi car e a exaltar nosso Deus por ter nos dado este maravilhoso dom da 
salvação. 
Inicialmente, importa dizer que não há como negar que Cristo inau-
gurou seu advento fi nal, quando, então, julgará vivos e mortos. Em vá-
rias passagens da Escritura vemos que o Reino já se manifestou em sua 
pessoa. Em Mc 1.15: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está 
próximo”;161 em Mt 8.29: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?”; 
e em Mt 12.28: “certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”. Por 
estas passagens, e outras, comprova-se
que Deus estava já presente, soberanamente, em Seu ministério, 
particularmente na expulsão de demônios, indicando e demons-
trando que o Reino de Deus já chegara e conquistara o reino das 
trevas. Não eram meros ‘sinais’ do Reino que estavam presentes, 
mas o próprio Reino.162 
Este Reino não foi embora com Jesus, em sua ascensão. Ele continua 
se manifestando entre nós por intermédio da Palavra e dos Sacramentos.163 
E, na Santa Ceia, em especial, já experimentamos antecipadamente um 
pouco “as delícias daquilo que será o banquete escatológico fi nal”.164 Ela 
justamente foi instituída devido à vontade de Jesus de nos deixar um sinal 
visível da vinda do Reino.165 
Até mesmo as refeições tomadas pelos discípulos na companhia de 
Jesus eram “uma prefi guração, uma antecipação (mais exatamente, um 
dom antecipado) da refeição escatológica”,166 um “sinal escatológico de 
160 “[...] domingo após domingo é o ‘Dia do Senhor,’ o dia da parusia antecipada, o dia no 
qual Ele vem à Sua congregação sob as formas humildes de pão e vinho e se ‘junta’ a ela 
novamente.” SASSE, We Confess the Sacraments, op. cit., p.105.
161 Cf. nota 53.
162 ZABATIERO, op. cit., p.2047.
163 Cf. notas 21, 31 e 126.
164 ZIMMER, Rudi. A Centralidade da Eucaristia no Culto. Vox Concordiana. São Paulo, ano 
1, nº 2, p.2-8, 1985. p.7.
165 ALLMEN, Jean Jacques von. Estudo sobre a Ceia do Senhor. São Paulo: Livraria Duas 
Cidades, 1968. p.124.
166 JEREMIAS, Joachim. Isto é o meu corpo. LEMOS, Benôni (Trad.). São Paulo: Paulinas, 
1978. p.14.
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A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
que o reinado de Deus está próximo e até presente em seu modo de 
agir”.167 Agora que Jesus não está mais visivelmente entre nós para ce-
armos com Ele face a face, temos a sua Ceia, na qual Ele “presents His 
body and blood in Bread and Wine as the means of divine grace ‘for the 
forgiveness of sins’”.168
Já agora e aqui podemos estar junto dEle – ainda que não o veja-
mos – à mesa do Pai,169 por ocasião da Santa Ceia, que é “a pledge, a 
foretaste, an anticipation of that Best of God which is yet to be”,170 “é 
realização antecipada do reinado de Deus.”171 Sendo assim, a congregação 
que celebra este sacramento torna-se “o sinal visível da real presença 
do Reino de Deus, antecipação do festim messiânico”.172 Participando da 
Ceia do Senhor, somos incluídos no futuro que o Senhor nos abre, visto 
que a vida eterna já “está presente naquele que se une com o Senhor. 
O mundo futuro já agora irrompe no nosso mundo presente”.173 Esse 
era o entendimento da igreja primitiva, a qual considerava a eucaristia 
como sendo
a pronouncement of the death of Jesus which had occurred in 
the past, a new affi rmation of the present bond between Jesus 
and his church, and an anticipation of the coming eschatological 
banquet.174 
Por este motivo e em virtude da ordem de Jesus de celebrarem a Ceia 
em memória dele, ela passou a ser celebrada regularmente, havendo vín-
culo entre o dia do Senhor e o partir do pão.175 Para eles, a Ceia era a “base 
167 FEINER, Johannes, LOEHRER, Magnus. Mysterium salutis: compêndio de dogmática 
histórico-salvífica. BINDER, Edmundo (Trad.). Petrópolis: Vozes, 1976. v. IV, p.14.
168 “apresenta Seu corpo e sangue no pão e vinho como os meios da graça divina ‘para o 
perdão dos pecados’...” LCMS - CTCR.Theology and Practice of the Lord’s Supper. St. 
Louis, maio 1983. p.8.
169 JEREMIAS, op. cit., p.51.
170 “um penhor, um antegosto, uma antecipação daquele melhor de Deus que ainda está para 
acontecer.” BROMILEY, Geofrei W. Six Certainties About The Lord’s Supper. Christianity 
Today, St. Louis, p.953-956, 1971.p.956.
171 FEINER, op. cit., p.17.
172 ALLMEN, op. cit., p.63.
173 A CEIA do Senhor. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1978. p.21.
174 “... um pronunciamento da morte de Jesus que tinha acontecido no passado, uma nova 
afirmação do presente vínculo entre Jesus e sua igreja, e uma antecipação do banquete 
escatológico vindouro...” BECK, Norman A. The Last Supper As An Efficacious Symbolic Act. 
Journal of Biblical Literature, Philadelphia, n.89, p.192-198, 1970.p.198.
175 ALLMEN, Von. O culto cristão: teologia e prática. São Paulo: ASTE, 1968. p.175. Apud. 
ZIMMER, op. cit., p.2.
IGREJA LUTERANA
28
e o objetivo de cada reunião”,176 “o centro e coroamento do culto cristão”,177 
“o ponto culminante. O mais importante de todo o programa”.178
Tanto isso é verdade que suas celebrações litúrgicas vinham carregadas 
de esperança na vinda de Jesus para terminar a história. Eles “viviam na 
expectativa desse fi nal, da ressurreição dos mortos, da parusia do Senhor. 
“Maranatha” – vem, Senhor Jesus (Ap 22,20)”.179 “Maranata” (1Co 16.22) 
é uma palavra aramaica cujo signifi cado é “Vem, nosso Senhor”, podendo 
também ser “O Senhor veio”, caso lida “maran-atá”.180 Era uma frase dita 
pelos cristãos primitivos por ocasião da celebração da Ceia: 
’Vem, Senhor’ – rezavam os primeiros cristãos (Ap 22,20). Na 
oração de graças depois da ceia (eucarística) de uma comunida-
de do primeiro século lemos esse belíssimo pedido: ‘Lembra-te, 
Senhor, de tua igreja... Venha aquele que é santo! Aquele que 
não é (santo) faça penitência: Maranatá! Amém’.181 
Como resposta a esta oração, o Senhor de fato vinha, antecipando, 
a cada Ceia, sua parusia,182 levando-nos a também orar “Venha o teu 
reino”,183 o qual, na verdade, 
 
vem por si mesmo, sem as nossas petições, e contudo pedimos 
que venha a nós, isto é, que atue entre nós e junto a nós, de 
sorte que também sejamos parte daqueles entre os quais o seu 
nome é santifi cado e seu reino está em vigor. (CM III, 50) 
De fato este Reino está atuante em nosso meio e, pelo que pudemos 
perceber no que foi dito até aqui, no Sacramento da Santa Ceia ele mostra 
sua cara. É o Reino em ação, antecipação das dádivas que só teríamos no 
céu. Cabe-nos, então, considerar qual o nosso papel como igreja e como 
cristãos individuais diante de tudo isso.
Como Igreja de Jesus Cristo – comunhão dos santos – devemos zelar 
para que a Palavra e os sacramentos sejam oferecidos e administrados 
corretamente, de acordo com Seu mandato e em virtude de Sua vontade, 
a qual é que todos tenham oportunidade de salvação, a fi m de que todos 
cheguem ao pleno conhecimento da verdade, visto que Ele quer salvar 
176 CULLMANN, Oscar. Early Christian Worship, Studies in Biblical Theology. Londres: 
ACM Press LTD, 1962. nº 10. p.29. Apud. ZIMMER, op. cit., p.2.
177 ZIMMER, op. cit., p.4.
178 SALVADOR, José G. O Didaquê. São Paulo: Igreja Metodista, 1957. v.II. p.51.
179 LIBÂNIO, op. cit., p.204.
180 BÍBLIA, op. cit., notaq sobre 1Co 16.22, p.257 do NT.
181 DIDAQUÉ, Catecismo dos primeiros cristãos. Petrópolis: Ed. Vozes, 1978, p.33s. Apud 
Libânio, op. cit., p.214.
182 ALLMEN, op. cit., p.132.
183 Ibid., p.75.
29
a todos. Cumpre-nos, também, ensinar aos cristãos sobre o proveito da 
Santa Ceia, para que se sintam motivados a participarem cheios de alegria 
e com a certeza de estarem recebendo o melhor de Deus. 
Como cristãos, fi lhos de Deus e herdeiros das bem-aventuranças ce-
lestiais, somos convidados e até ordenados a celebrar sua Ceia, pois nela 
Cristo se faz presente, dando-nos agora as bênçãos do Reino: perdão, 
vida e salvação. Lutero insistia em irmos ao Sacramento 
a fi m de receber tal tesouro. Pois me ordena comer e beber, para 
que seja propriedade minha e me aproveite como seguro e penhor 
e sinal, sim, como exatamente o próprio bem estabelecido para 
mim contra o meu pecado, a morte e toda desgraça. Conseguin-
temente, é com razão que se chama alimento da alma, que nutre 
e fortalece o novo homem. Por isso o sacramento nos é dado 
para diária pastagem e alimentação, para que a fé se restaure e 
fortaleça. (CM IV, 22-24) 
Todas estas bênçãos prometidas deveriam ser sufi cientes para receber-
mos o Sacramento frequentemente. Mas se, ainda assim, não nos dermos 
por satisfeitos, e “mesmo que nenhum benefício estivesse relacionado com 
o sacramento, o próprio fato de nosso Senhor pedir que participemos com 
frequência deveria induzir-nos a que o fi zéssemos”.184 
Contudo, sabemos que há benefícios, que há proveito neste comer 
e beber, sendo isto possível porque a promessa de Cristo está ligada a 
estes atos,185 o que nos indicam as palavras: “Dado em favor de vós” e 
“derramado para remissão dos pecados.” Estas palavras, “juntamente com 
o comer e o beber físico, são a coisa mais importante no sacramento. E 
o que crê nessas palavras, tem o que elas dizem e expressam, a saber, 
‘remissão de pecados.’” (Cm VI, 8). 
Com estas palavras, Cristo nos mostra quão maravilhoso é este sa-
cramento, que nos é dado como herança, razão porque dele devemos 
participar sempre que possível, visto que foi instituído “especialmente para 
cristãos fracos na fé, contudo penitentes, para consolo e fortalecimento 
de sua débil fé” (FC Ep VII, 19). Ele também nos diz em Mateus 9.12 
que “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes”, ou seja, que os 
benefícios da Sua presença – também na Santa Ceia – são para os que 
“estão cansados e sobrecarregados com o pecado, o medo da morte e as 
tentações da carne e do diabo” (CM IV, 71), isto é, para nós, pecadores.
Agora, cientes da importância da Ceia como meio da graça – através 
da qual Deus nos oferece não só o perdão dos pecados, mas também “o 
fortalecimento da fé, do amor e da esperança que são bênçãos para a 
184 KOEHLER, op. cit., p.221.
185 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.188.
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
IGREJA LUTERANA
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nossa vida em comunhão com ele e com o próximo”186 – e confi antes de 
que através de sua obra de expiação, pela qual Ele se sacrifi cou pelos 
pecados de todos nós, Jesus nos deu justamente o que mais precisáva-
mos para a luta diária contra o diabo, o mundo e a nossa carne. Assim, 
podemos ir à mesa do Senhor confessando nossa fé,187 louvando e agra-
decendo pela salvação de pecado e morte (OS 4, 337) – salvação que 
recebemos e desfrutamos já aqui neste mundo e neste corpo mortal, em 
virtude e por ocasião da celebração da Santa Ceia.
Cristo, instituindo a Santa Ceia, quis que ela fosse observada pela 
igreja até o fi m dos tempos. Ele ordenou aos discípulos que fi zessem 
isso em memória dele, e estas palavras têm valor ainda hoje, de forma 
que também somos admoestados a fazê-lo muitas vezes, “até que Ele 
venha”.188
3 A SANTA CEIA APONTANDO PARA O e;scaton
Neste capítulo tem lugar a relação entre o agora e o futuro na ce-
lebração da Santa Ceia. Visto que já agora desfrutamos, em parte, das 
maravilhas que Deus nos tem preparado – como vimos no segundo ca-
pítulo – e que as desfrutaremos em toda a plenitude nos céus, podemos 
fazer esta ligação no sentido de a Santa Ceia estar apontando para o 
nosso destino fi nal, que é o banquete celestial no Reino de Deus consu-
mado e defi nitivo, do qual participaremos por ocasião da vinda gloriosa 
de Jesus Cristo, quando tomaremos posse defi nitiva da herança que nos 
está reservada. 
A exemplo do capítulo anterior, primeiramente é dado o testemunho 
bíblico através de um texto escolhido e que trata do assunto. Então, traz-se 
o que as Confi ssões nos revelam a respeito. Num último momento faz-se 
o fechamento do capítulo, ligando os resultados à vida cristã, aplicando-os 
à nossa atualidade e realidade como cristãos e como igreja.3.1 Bíblia
Por entendermos que trata do direcionamento para o Reino vindouro 
e por estar diretamente ligado à Santa Ceia, o texto escolhido foi Marcos 
14.25, que faz parte do contexto da instituição da Ceia do Senhor, sendo 
também a despedida de Jesus, que, logo em seguida, se entregaria à 
morte por nós.
186 LANGNER, Selvino. O valor do Sacramento do Altar. São Leopoldo, 1985. 53p. Monografia 
(Bacharelado em Teologia) – Faculdade de Teologia, Seminário Concórdia de São Leopoldo, 
1985. p.46.
187 KOEHLER, op. cit., p.217,218.
188 Ibid., p.203.
31
3.1.1 Mc 14.25
Texto grego: avmh.n le,gw ùmi/n o[ti ouvke,ti ouv mh. pi,w evk tou/ genh,matoj 
th/j avmpe,lou e[wj th/j h`me,raj evkei,nhj o[tan auvto. pi,nw kaino.n evn th/| 
basilei,a| tou/ qeou/.. 189
Tradução: Em verdade vos digo que nunca mais beberei do fruto da 
videira até àquele dia quando o beberei, novo, no Reino de Deus.
3.1.1.1 Aspectos isagógicos
Há discordância entre teólogos no que diz respeito à pergunta “qual 
foi escrito primeiro, Mateus ou Marcos?” Agostinho,190 Papias,191 Ireneu,192 
Clemente,193 Orígenes194 e quase toda a igreja primitiva195 dão primazia a 
Mateus. Outros eruditos atribuem a primazia a Marcos, principalmente por 
sua brevidade; pelo paralelismo verbal entre os evangelhos; pela ordem 
dos acontecimentos e pelo seu estilo e teologia mais primitivos.196
A idéia de que Marcos é o primeiro Evangelho vem despertando 
maior interesse desde o séc. XIX, justamente por ser tido, por alguns, 
como o documento mais antigo que possuímos sobre a vida e a obra 
de Jesus.197De qualquer forma, diante desta indefi nição não nos cabe 
impor um ou outro. 
O que se pode afi rmar é que Marcos é o Evangelho mais resumido,198 
talvez por ter sido a primeira obra deste gênero,199 bem como por ter 
sido escrita na língua grega popular, sendo difícil para o autor “escrever 
em uma língua que não tinha aprendido no regaço materno, e sim na 
convivência com os humildes”.200
O vocabulário, por conta disso, “não é dos mais ricos”,201 sendo, ao 
lado de Apocalipse, “a pior forma do grego de todo o N.T”.202 Contudo, 
189 NESTLE-ALAND, op. cit., p. 210.
190 CARSON, op. cit., p.34.
191 EUSÉBIO.Ecclesiastical History. CRUSE, Christian Frederick (Trad.). Grand Rapids: Baker, 
1991. livro III, p.127.
192 Ibid., livro V, p.187,188.
193 Ibid., livro VI, p.234.
194 Ibid., livro VI, p.245,246.
195 CARSON, op. cit., p.85,86.
196 Ibid., p.36-38.
197 BÍBLIA, op. cit., p.59 do NT.
198 AUNEAU, J.; BOVON, F.; CHARPENTIER, E., et. al. Evangelhos Sinóticos e Atos dos 
Apóstolos. DUPRAT, M. Cecília de M. (Trad.). São Paulo: Paulinas, 1986. p.76.
199 CHAMPLIN, op. cit., v. I, p.659.
200 BATTAGLIA, Oscar; URICCHIO, Francesco; LANCELLOTTI, Angelo. Comentário ao Evan-
gelho de São Marcos. ALVES, Ephraim Ferreira (Trad.). Petrópolis: Vozes, 1978. p.11.
201 AUNEAU, op. cit., p.75.
202 CHAMPLIN, op. cit., p.659.
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IGREJA LUTERANA
32
a personalidade do escritor “compensou sua limitação linguística”.203 Ele 
tem uma maneira toda peculiar de contar os fatos, esquematizando e 
dramatizando as narrativas, dando uma aparência viva aos relatos.204 Ele 
também emprega com frequência os verbos “estar” e “ir” no gerúndio,205 
o que faz da obra um evangelho de ação.206 
O autor é apontado como sendo João Marcos, o qual é mencionado 
várias vezes no Livro de Atos (12.12,25; 15.37-39), nas cartas do após-
tolo Paulo (Cl 4.10; 2Tm 4.11; Fm 24), e uma vez na Primeira Carta de 
Pedro (5.13). Ele era primo de Barnabé (Cl 4.10) e fi lho de Maria, a qual 
morava em Jerusalém, em uma casa que dispunha de um cenáculo onde 
se reuniam os apóstolos (At 1.13; 12.12). Mesmo não sendo apóstolo, 
sempre esteve em contato íntimo com os primeiros seguidores de Jesus,207 
permanecendo com Pedro por um ano e meio em Roma208 e acompanhando 
Barnabé e Paulo entre os anos 45 e 48 dC.209
Conforme a tradição, o livro foi escrito para leitores gentios, em 
Roma,210 o que se comprova por conter explicação de alguns costumes 
judaicos (7.2-4; 15.42), tradução de termos aramaicos (3.17; 5.41; 
7.11,34; 15.22; cf. 12.42 e 15.16), e interesse em temas como perse-
guição e martírio (8.34-38; 13.9-13).211 A data da escrita pode ser fi xada 
entre as décadas de 40 e 70,212 sendo que a maior parte dos estudiosos da 
atualidade a fi xam no período que vai do “ano 60 (chegada de Paulo em 
Roma) ao ano 67 (quando o evangelista não está mais na capital)”.213
Marcos escreveu o seu evangelho, guiado pelo Espírito Santo, para 
edifi cação, instrução, fortalecimento e consolo, visto que os cristãos es-
tavam sofrendo com perseguições e martírio e por haver a necessidade 
de um registro por escrito do ministério de Jesus na terra.214 O resultado 
é “uma narrativa mui simples das atividades de Jesus durante o Seu mi-
nistério público”.215
203 BATTAGLIA, op. cit., p.11.
204 AUNEAU, op. cit., p.79-81.
205 Ibid., op. cit., p.77.
206 FRANZMANN, op. cit., p.44.
207 PETERSON, H. Estudo sobre Marcos. WEY, Waldemar W. (Trad.). Rio: Casa Publicadora 
Batista, 1962. pp.14,15.
208 Ibid., p.16.
209 BATTAGLIA, op. cit., p.10.
210 FRANZMANN, op. cit., p.44.
211 SCHOLZ, Vilson. Material isagógico distribuído na disciplina “Isagoge do NT”.
212 CARSON, op. cit., p.108-112.
213 BATTAGLIA, op. cit., p.12.
214 PETERSON, op. cit., p.17-20.
215 Ibid., p.22.
33
Seu principal objetivo foi apresentar Jesus como o “Servo de Deus” (Is 
40.61). Por isso enfatiza os feitos de Jesus (18 milagres, apenas quatro 
parábolas).216 “Na sua brevidade, o escritor escolheu os fatos essenciais”,217 
chamando a atenção do leitor sobre a fi gura de Jesus,218 anunciando “a 
presença de Jesus no mundo como o sinal imediato da vinda do reino 
de Deus (1.14-15; 4.1-34)”, revelando que “Jesus de Nazaré, o Filho de 
Deus, é também o Filho do Homem. Participa dos sentimentos humanos 
e é sujeito ao sofrimento e à morte (8.31)”.219
Com esta fi nalidade, Marcos traz em seu Evangelho uma
revelação progressiva que Jesus faz de si mesmo: por um lado, 
a sua personalidade (cf. 1.7-8,10-11; 4.41; 8.27-29; 9.7), o 
seu poder frente à natureza, à dor e à morte (cf. 1.30-31,40-
42; 2.3-12; 4.37-39; 5.22-42; 6.45-51) e a sua luta contra as 
forças do mal (cf. 1.24-27; 3.11; 5.15,19; 9.25-27); por outro 
lado, a índole da sua missão, primeiro como mestre e profeta 
(cf. 1.37-39; 2.18-28; 3.13-19,23-29; 4.1-34; 9.2-10.45; 
13.3-37; 14.61-62) e defi nitivamente como Senhor e Salvador 
(16.15-18).220 
Um esboço do Evangelho poderia ser feito dividindo-o em cinco partes, 
fi cando assim representado: Introdução (1.1-20); o ministério na Gali-
léia (1.21-6.13); o ministério fora da Galiléia (6.14-10.52); o ministério 
fi nal em Jerusalém (11.1-14.42); a crucifi cação e a ressurreição (14.43-
16.20).221
A parte que nos interessa é a 4ª, especifi camente Marcos 14.17-25, 
que relata a Ceia de despedida realizada por Jesus com os seus discí-
pulos. Como a hora de sua morte estava se aproximando, Ele enviou 
Pedro e João (Lc 22.8) para que preparassem a ceia da Páscoa. Esta 
seria a última ceia pascal dos componentes daquele grupo. Dali em 
diante o rito de maior signifi cação para eles seria a Ceia que come-
moraria o novo pacto,222 fi rmado pela obra expiatória de Cristo. Neste 
contexto é que Jesus proferiu as palavras do v.25, objeto de estudo 
da próxima seção.
216 SCHOLZ, op. cit.
217 BATTAGLIA, op. cit., p.12.
218 Ibid., p.18.
219 BÍBLIA, op. cit., p.59.do NT.
220 Ibid., p.60. do NT.
221 PETERSON, op. cit., pp.20-22.
222 Ibid., p.136.
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
IGREJA LUTERANA
34
3.1.1.2 Aspectos textuais
Junto ao triste anúncio de sua morte, Jesus também deu outro mui 
glorioso, que chegaria o dia quando beberia o vinho, admirável e novo, 
dirigindo, assim, seu olhar sobre
o reino a devir, que anunciara em sua obra terrena e, pela pala-
vra e por sinais, tornara transparente como realidade presente 
e imperecível. Ele mesmo está repleto da certeza de que está 
prestes a vivenciar, comseus discípulos, a glória escatológica do 
reino de Deus.223 
Com isso, Jesus nos diz que, por ocasião da Santa Ceia, ao mesmo 
tempo em que o reino se manifesta a nós, também se dá uma “anticipation 
of the messianic banquet when the Passover fellowship with his followers 
will be renewed in the Kingdom of God”.224 Na certeza desta comunhão 
celeste e para a aguardarmos fi elmente, Jesus nos alenta com as palavras 
do v.25, prometendo-nos um reencontro com Ele já agora, mas também 
na eternidade, nas bodas do Cordeiro, que é lembrada e, em parte, ex-
perimentada a cada celebração. 
25a avmh.n le,gw u`mi/n o[ti ouvke,ti ou vmh. pi,w evk tou/ genh,matoj th/j 
avmpe,lou
avmh.n – “it came to be used as an adverb by which something is as-
serted or confi rmed: a. At the beginning of a discourse, surely, of a truth, 
truly”.225 É uma “expressão de uso frequente nos discursos de Jesus, a 
qual ressalta a importância da declaração em foco”.226
le,gw – presente indicativo ativo 1ª pessoa singular de le,gw: digo
ouvke,ti ou vmh – “nunca mais”227
pi ,w – aoristo subjuntivo ativo 1ª pessoa singular de pi ,nw: 
“beberei”.228
genh,matoj – substantivo genitivo neutro singular de ge,nhma: 
“fruto”.229
avmpe,lou – substantivo genitivo feminino singular de a;mpeloj: 
“videira”.230
223 SCHNACKENBURG, Rudolf. O Evangelho Segundo Marcos. BINDER, Frei Edmundo (Trad.). 
Petrópolis: Vozes, 1974. v. 2/2, p.253.
224 “antecipação do banquete messiânico quando a comunhão pascal com seus seguidores 
será renovada no Reino de Deus “. LANE, William L. The Gospel of Mark. Grand Rapids: 
Eerdmans, 1993. v.2, p.508.
225 “ela vem a ser usada como um advérbio pelo qual alguma coisa é declarada ou confirmada: a. 
No início de um discurso, certamente, em verdade, verdadeiramente” THAYER, op. cit., p.32.
226 CHAMPLIN, op. cit., p.781.
227 GINGRICH, op. cit., p.151.
228 Ibid., p.166.
229 Ibid., p.46.
230 Ibid., p.18.
35
Este trecho do versículo não acentua “que já não provará do fruto da 
vide, mas a sequência da frase, de que dele beberá de novo no reino de 
Deus”.231 O cálice que Ele recusou era o cálice
of consummation, asso ciated with the promise that God will take 
his people to be with him. This is the cup which Jesus will drink with 
his own in the messianic banquet which inaugurates the saving 
age to come. The cup of redemp tion (verse 24), strengthened by 
the vow of abstinence (verse 25), con stitutes the solemn pledge 
that [...] will be extended and the unfi nished meal completed in 
the consummation, when Messiah eats with redeemed sinners in 
the Kingdom of God (cf. Lk. 14:15; Rev. 3:20f.; 19:6-9).232 
Todas as promessas de Jesus estavam sendo confi rmadas com
a solemn oath that he would not share the festal cup until the 
meal was resumed and completed in the consummation. The 
sober reference “no more” indicates that this is Jesus’ fi nal 
meal and lends to the situation the character of a fare well. 
The purpose of his vow of abstinence was to declare that his 
deci sion to submit to the will of God in vicarious suffering was 
irrevocable.233 
A morte de Jesus era necessária para que o reinado e a salvação de 
Deus pudessem chegar a todos os homens, e pudesse um dia Deus instalar 
o reino consumado.234 Essa perspectiva escatológica “é parte fundamental 
da ação sagrada instituída por Jesus, e confere ao pensamento na morte 
iminente o seu signifi cado mais profundo: Sua morte se destina a instalar 
o reino de Deus que anunciou”.235
25b e[wj th/j h`me,raj evkei,nhj o[tan auvto. pi,nw kaino.n evn th/| basilei,a| 
tou/ qeou/Å
e[wj th/j h`me,raj evkei,nhj o[tan – até àquele dia: “O dia do seu retorno, 
ou seja, a ‘parousia’ ou segundo advento”.236 Esta referência aponta tam-
231 SCHNACKENBURG, op. cit., p.253.
232 “da consumação, associada com a promessa de que Deus levará seu povo para estar com 
ele. Este é o cálice que Jesus beberá com os seus no banquete messiânico que inaugura 
a era da salvação por vir. O cálice da redenção (v. 24), que é fortalecido pelo voto de 
abstinência (v. 25), constitui a promessa solene que ... será estendida e a ceia inacabada 
será completada na consumação, quando o Messias come com pecadores redimidos no 
Reino de Deus (cf. Lc 14.15; Ap 3.20s; 19.6-9)”. LANE, op. cit., p.508,509.
233 “um juramento solene de que ele não compartilharia o cálice festivo até que a refeição fosse 
retomada e completada na consumação. A discreta referência “não mais” indica que esta 
é a refeição final de Jesus e empresta à situação o caráter de uma despedida. O propósito 
do seu voto de abstinência era declarar que sua decisão de submeter-se à vontade de Deus 
em sofrimento vicário era irrevogável “. Ibid., p.508.
234 SCHNACKENBURG, op. cit., p.253.
235 Ibid., p.252.
236 CHAMPLIN, op. cit., p.781.
A SANTA CEIA COMO UM EVENTO ESCATOLÓGICO
IGREJA LUTERANA
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bém para o triunfo do Filho do Homem, que, naquele dia, estará conosco, 
visto ter redimido defi nitivamente o mundo.237
kaino.n- kaino,j – adjetivo acusativo neutro singular: novo, no sentido 
de comparação com o velho;238 novo tipo;239 de natureza diferente.240 Não 
signifi ca que Jesus irá beber outro vinho, mas “chama a atenção para a 
modalidade nova e diferente do reino a devir. Aquele reino consumado de 
Deus pertence a outra ordem que a atual terreno-histórica”.241
evn th/| basilei,a| tou/ qeou/ – no reino de Deus. Maiores detalhes, ler a 
seção 1.2. Aqui ele refere-se ao “reino escatológico de Deus, como alhures 
(Mt 8,11) é simbolizado pela metáfora do banquete”.242
Com as palavras do v.25, Jesus estava dizendo aos presentes que 
renovaria e continuaria a comunhão de mesa no Reino consumado, que 
seria instaurado e teria a forma de um banquete alegre com a presença 
de Jesus,243 como o relatado por João em Ap 19.7, as bodas do Cordeiro. 
Enquanto este banquete não chega, podemos ao menos desfrutá-lo em 
parte na Ceia, que, nesse sentido, nos orienta “para o futuro do Senhor 
e o traz para perto de nós. Ela é uma alegre antecipação da ceia festiva 
celestial, quando a redenção estará perfeitamente consumada”.244
3.2 Confi ssões 
Pelo testemunho das Escrituras pudemos constatar que Jesus clara-
mente posicionou o signifi cado da Santa Ceia “for His return in glory. Thus 
the communicant confesses or ‘proclaims’ confi dent faith in the Lord’s 
promised return when he partakes of the Lord’s Supper”.245
Vimos também, no capítulo dois, que a santa comunhão, instituída por 
Jesus, deveria, por ordenação Sua, continuar sendo celebrada até o fi m dos 
tempos, pois sua obra redentora “permanece realidade sempre presente 
até o fi m do mundo e, de maneira particular, para aqueles que participam 
do verdadeiro corpo e sangue de Cristo em memória dele”.246
237 LANE, op. cit., p.508.
238 LENSKI, R. C. H. La Interpretación de El Evangelio Segun San Marcos. México: Pub-
licaciones El Escudo, 1962. Tomo II, p. 545.
239 ALEXANDER, J. A. Commentary on the Gospel of Mark. Grand Rapids: Zondervan Pub-
lishing House, [19--?]. p.382.
240 BATTAGLIA, op. cit., p.133.
241 SCHNACKENBURG, op. cit., p.253.
242 BATTAGLIA, op. cit., p.133.
243 BAESKE, op. cit., p.3.
244 A CEIA do Senhor, op. cit., p.21.
245 “para o Seu retorno em glória. Assim o comungante confessa ou ‘proclama’ fé confiante 
no prometido retorno do Senhor quando ele participa da Ceia do Senhor.” LCMS - CTCR. 
Theology and Practice of The Lord’s Supper. op. cit., p.8.
246 SASSE, Isto é o meu corpo, op. cit., p.284.
37
Para completar o ciclo passado-presente-futuro, encontrado na Santa 
Ceia, as Confi ssões acrescentam o seguinte:
Assim como o Sacramento do Altar se volta para o passado, para 
a Última Ceia, também se dirige para o futuro, para a ceia mes-
siânica no céu, a festa nupcial do futuro, quando Cristo, como o 
noivo e a igreja como a noiva serão unidos na ‘ceia das bodas 
do Cordeiro’.247 
Este foi o entendimento dos apóstolos e da igreja primitiva, que, de 
acordo com as palavras da instituição (11.17-34), celebraram a santa co-
munhão248 em memória

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