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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-7638-731-2
CONTEXTOS BRASILEIROS
Adriano Carneiro Giglio
José Augusto de Souza Nogueira
CONTEXTOS BRASILEIROS
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3178-8
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Adriano Carneiro Giglio 
José Augusto de Souza Nogueira
Contextos Brasileiros
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
G39c
 
Giglio, Adriano Carneiro.
 Contextos brasileiros / Adriano Carneiro Giglio, José Augusto de Souza Nogueira. - 1. 
ed. rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 
 82 p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3178-8
 
 1. Capitalismo - Brasil 2. Brasil - Política econômica. I. Título. 
12-7333. CDD: 338.981
 CDU: 338.1(81)
10.10.12 22.10.12 039800 
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Sumário
A formação do Brasil: o atraso para a modernidade | 7
Transformações europeias | 7
Era Moderna | 8
Brasil: contradição histórica | 9
O passado em seu futuro | 10
Início para transformações | 12
A modernização do Brasil | 17
A lógica do capitalismo | 17
Estrutura social e ideologias políticas | 18
Economia e arte moderna | 19
A Revolução de 30 e a Era Vargas | 21
O modelo de desenvolvimento de JK | 22
O Brasil entre dois mundos | 27
A industrialização tardia | 27
Política econômica e expansão do capitalismo industrial | 28
Economia e política a partir da década de 1960 | 30
Novamente governo militar | 31
A década de 1980 e as transformações nacionais e internacionais | 36
Cidadania moderna e movimentos sociais | 43
A cidadania moderna | 43
A nova ordem mundial e seus desdobramentos nas sociedades em desenvolvimento | 47
O Brasil das urnas | 55
A modernização “Collorida” | 55
FHC: o sociólogo neoliberal | 58
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mais informações www.iesde.com.br
O Brasil e o contexto internacional | 65
Transformações do capitalismo | 65
Globalização | 67
Os principais blocos econômicos | 74
Referências | 79
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Apresentação
O objetivo deste livro é possibilitar o contato de estudantes e 
leitores não apenas a um conjunto de informações e conteúdos, mas 
também chegarem ao entendimento e interpretação da realidade 
através da compreensão dos problemas vividos nas sociedades atuais, 
em especial na brasileira. Partindo dos pressupostos de longa duração 
no tempo histórico, em que se observa a permanência de ideias, con-
ceitos e práticas ao longo dos séculos, a estrutura de longa duração 
escolhida foi o sistema capitalista.
O desenvolvimento do trabalho tem, na análise do modelo capitalista, 
o fator que possibilita a construção de uma interpretação da formação do 
mundo atual. Assim, os fatos e momentos históricos dos últimos trezentos 
anos ocorridos no mundo, tais como as revoluções burguesas, as revoluções 
industriais, as revoluções socialistas, as duas guerras mundiais, os regimes 
fascistas, as ditaduras militares na América Latina, a Guerra Fria, a nova ordem 
mundial, o neoliberalismo e a globalização cujos resultados de forma direta 
ou indireta concorreram para a formação política, econômica e social do 
mundo contemporâneo, estão diretamente ligados ao sistema capitalista, 
não de forma imposta ou subordinada, mas sendo ao mesmo tempo sujeito 
e objeto das transformações ocorridas na estrutura do modelo capitalista ao 
longo dos séculos.
Enfim, neste trabalho há um cabedal de conteúdos capazes de instigar 
o leitor a conhecer e entender a sociedade brasileira contemporânea. 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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A formação do Brasil: 
o atraso para a modernidade 
Adriano Carneiro Giglio*
A formação do Brasil e de sua sociedade está intrinsecamente ligada à história das sociedades eu-
ropeias. Podemos afirmar que a sociedade brasileira surge como uma consequência, como um produto, 
das transformações ocorridas no interior das sociedades europeias e que caracterizam o fim da Idade 
Média e o início da Era Moderna. Foi justamente nesse período que, em meio às navegações ultramari-
nas, um novo continente seria incluído no mapa-múndi dos povos europeus. E nele seria dado início à 
formação do Brasil.
Transformações europeias
O período histórico conhecido por Idade Média localiza-se entre a decadência e o fim do Império 
Romano (sécs. III a V) e a crise do modo de produção feudal e início das relações capitalistas de produ-
ção (sécs. XIII a XV). A Europa, continente sobre o qual tais marcos históricos mais repercutem, apresen-
tará, nesse período medieval, sociedades organizadas a partir de um modo de produção denominado 
feudal. O feudalismo europeu caracteriza-se: 
politicamente, por pequenos reinos, constituídos de feudos, com poderes autônomos, autori-::::
tários e hereditários, vinculados fortemente às estruturas da Igreja Católica; 
economicamente, por uma produção agrária predominantemente de subsistência, controlada ::::
pelos senhores feudais, proprietários dos meios de produção (terra, ferramentas, insumos), 
combinada a algum artesanato e pequeno comércio, sendo os habitantes do feudo a mão de 
* Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Especialista em Sociologia Urbana pela Universi-
dade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Gestão de Educação Profissionalizante pela Escola Brasileira de Administração Pública 
de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (MBA EBAPE / FGV-RJ). Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade 
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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8 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
obra, que se subordina com trabalho e impostos às relações servis de produção em troca de 
moradia e segurança; 
socialmente, por uma estrutura que permite pouca ou rara mobilidade social, cujos estamen-::::
tos1 podem ser divididos entre servos, camponeses livres, artesãos e pequenos comerciantes, 
baixo clero, exército, nobres e alto clero.
Da crise da sociedade de modelo feudal de produção surgem as novas relações produtivas que 
constituirão a sociedade capitalista. O feudalismo se desfez lentamente a partir do século XIII com a 
combinação de diferentes fatores, entre eles estão: 
a peste bubônica, que dizimou parte das populações dos feudos; ::::
a revisão dos arranjos políticos e da interferência do poder da IgrejaCatólica;::::
o enfraquecimento econômico dos senhores feudais em meio às elevadas despesas com guer-::::
ras e consequente baixa produtividade; e, principalmente;
o enriquecimento dos comerciantes, que buscam mais liberdade para estabelecer mercados, ::::
obter lucros, reduzir impostos e participar das esferas políticas do poder. 
Também irão marcar a transição entre a Idade Média e a Era Moderna as intensas atuações de 
artistas e intelectuais, que descortinam novas perspectivas estéticas, filosóficas e científicas provocan-
do a reflexão do homem sobre ele próprio, sua realidade, o mundo e sua natureza, Deus e a religião. O 
conjunto das obras produzidas nessa transição contribuiu para que historicamente tal período fosse 
denominado Renascimento, em contraposição às trevas em que se encontrava a sociedade humana 
ao longo da Idade Média diante do papel obscurecedor da Igreja Católica sobre as áreas de estudo e 
conhecimento.
Era Moderna
A Era Moderna está associada à organização da sociedade europeia em torno de uma nova ma-
neira de produzir, distribuir e consumir: o modo de produção capitalista. A sociedade moderna capita-
lista caracteriza-se: 
politicamente, por Estados com poder central organizado a partir de uma cadeia de órgãos e ::::
instituições – até o século XVIII predominantemente monárquicos, após, predominantemente 
republicanos – demonstrando a ascensão da participação política de diferentes setores da 
população e a redução da influência de religiões oficiais;
economicamente, por relações de produção capitalistas, que preveem a propriedade privada, ::::
o lucro a partir da reprodução do capital, a liberdade e a remuneração em salário, a intensifica-
ção da manufatura, do mercado e, a partir do século XIX, da indústria;
socialmente, por uma estrutura que permite, em tese, maior mobilidade social, cujas classes ::::
estão divididas entre capitalistas (proprietários dos meios de produção, burgueses) e trabalha-
dores assalariados (proprietários da própria força de trabalho, proletariados e camponeses); 
1 São denominados estamentos os grupos sociais pertencentes à estratificação em camadas da sociedade feudal, visto que essa estratificação 
caracteriza a pouca ou rara possibilidade de mobilidade social (ascendente ou descendente). Da mesma forma, na sociedade capitalista são 
denominadas classes as camadas da estratificação social correspondente, pois esta se caracteriza pela maior possibilidade de mobilidade dos 
seus integrantes. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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9|A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
a produção científica atuou decisivamente para as transformações tecnológicas que passa-::::
ram a incrementar constantemente as mercadorias, os mercados e as relações capitalistas 
de produção.
A sociedade capitalista que então se forma transita entre o antigo e o moderno, o atraso e o progresso, 
a superstição e a razão, o mito e a ciência, o rural e o urbano. O ambiente dessa sociedade é a cidade e a vida 
urbana; o campo se subordina a ela como provedor, pois o comércio está nas feiras e nas lojas de suas ruas, 
a administração e os órgãos de Estado também estão nos centros. O saneamento, os transportes e a comu-
nicação com o mundo estão na cidade. A civilidade, os modos e os hábitos da vida moderna têm no cenário 
urbano a sua origem. É lá que a indústria terá sua reciprocidade, necessitando de infraestrutura e mão de 
obra cada vez mais qualificada, estimulando e fornecendo novas possibilidades à vida citadina.
Brasil: contradição histórica
Nesse sentido, o Brasil será constituído em meio a um processo histórico no qual ficará evidente a 
sua contradição: enquanto os europeus passam por transformações modernizantes em suas estruturas 
sociais, a organização da sociedade brasileira se baseará em soluções econômicas e políticas atrasadas, 
que o aproximam da Antiguidade e da Idade Média. Os agentes desse processo são os mesmos, pois 
à medida que eles (europeus, seus reinos e alta burguesia) procuram, no processo de acumulação de 
capital, ter acesso a novas mercadorias e mercados, com o intuito de promover o desenvolvimento do 
capitalismo e da modernidade em seus países, fazem isso às custas da exploração de territórios do novo 
mundo, o continente americano. Mais precisamente a partir de decisões e estratégias que retomam 
relações de produção da Antiguidade, como a escravidão, e concentrando poder político e econômi-
co como na Idade Média, dificultando ou impedindo a participação política, a propriedade privada, o 
trabalho livre e assalariado. A colonização desses novos territórios, nesse contexto, apresenta-se como 
mais uma consequência do mercantilismo empreendido pelos europeus em diferentes direções e mer-
cados. No caso, os reinos ibéricos de Espanha e Portugal, mais afastados pelas vias terrestres dos merca-
dos do oriente, lançam ao mar suas ambições e, na condição de vanguarda política e científica da época, 
assumem a liderança das aventuras da Expansão Marítima. Ao invés das feitorias implantadas na costa 
africana, para o comércio de marfim e outras mercadorias, os portugueses elaboram uma colonização 
de exploração, como forma de superar as dificuldades do deslocamento marítimo e a resistência dos 
povos nativos. A América tropical era estimulante e interessante pela possibilidade de descoberta de 
mercadorias preciosas, exclusivas e exóticas, a exemplo do que apresentavam as Índias Orientais. Mas, 
ao mesmo tempo, pouco atrativa para um povoamento voluntário de imigrantes, seja pela condução da 
Coroa portuguesa, seja pelo ambiente inóspito, seja pela redução populacional portuguesa em decor-
rência das guerras para expulsão da dominação moura em seu território em séculos anteriores.
Da extração do pau-brasil, cuja propriedade é sua química vegetal para tingimento, aos ciclos 
de produção agrária e mineral (cana-de-açúcar, ouro, diamantes, algodão, tabaco, borracha), as marcas 
dessa colonização na formação da sociedade brasileira somente começaram a ser redefinidas três sécu-
los após o ano de 1500, quando da vinda da família real para o Brasil em 1808. Até aquele momento, não 
se registra um projeto para uma sociedade brasileira, mas sim as consequências do processo histórico 
europeu e de seu capitalismo originário.
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10 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
Há vários casos exemplares dessa determinação externa aos destinos da formação do Brasil e 
de como isso o deixava vulnerável aos eventos e desejos internacionais. Como exemplo há a cana- 
-de-açúcar, cuja especiaria fez do Brasil o seu maior produtor mundial e sobre a qual a economia es-
tava assentada até o surgimento da concorrência internacional das Antilhas, quando os engenhos 
revolveram-se com a crise de mercado em fins do século XVII; ou a exploração de ouro e diamantes, 
que provocou intenso deslocamento demográfico para a região das minas e se tornou a principal fonte 
financeira após a crise da cana-de-açúcar, até os sinais de diminuição e esgotamento das suas jazidas. 
Mas emblemático mesmo é o exemplo da produção de algodão, que possuía importância à economia 
colonial do açúcar, e depois do ouro, servindo para a confecção de sacos e roupa de escravos, assim 
como o tabaco e a aguardente que eram utilizados no escambo2 de escravos africanos. No entanto, 
com o salto de desenvolvimento do capitalismo europeu, em virtude do advento da produção indus-
trializada na segunda metade do século XVIII, o algodão passou a ser mercadoria fundamental para 
suprir a demanda multiplicada pelas novas tecnologias mecânicas (motores e energias) aplicadas aos 
teares. A Inglaterra, berço dessa Revolução Industrial, terá na produção brasileira a matéria-prima que 
seus teares transformarão não somente em tecidos e roupas que também serão vendidos para o Brasil, 
mas, principalmente, em desenvolvimentodo seu capitalismo e da modernidade de sua sociedade. 
No rastro daquele mundo moderno, até o tabaco passa a ser matéria-prima com maior importância 
econômica para a colônia, pois na Europa o hábito de fumar passa a constituir-se como elemento da 
moda no cenário da vida urbana.
Tecelão, de Vincent van Gogh.
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Lavoura de algodão.
O passado em seu futuro
Embora um país novo, todo o seu passado já havia consolidado a violência física e moral do geno-
cídio dos povos nativos, estimados em quase três milhões de habitantes divididos em inúmeras nações 
e línguas diferentes à época da chegada de Pedro Álvares Cabral, enquanto atualmente, neste início 
de século XXI, contabilizam menos de quatrocentos mil remanescentes divididos em 215 nações e 170 
línguas. Não menos violento foi o uso de mão de obra escrava, inicialmente nativa, mas principalmente 
africana. O modelo de ocupação do solo em latifúndios combinado à produção monocultora, elegendo 
um determinado produto para, em larga escala e com mão de obra escrava, reduzir custos para atender 
2 Denomina-se escambo a troca direta de bens, como forma de se comercializar na ausência de moeda.
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11|A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
ao mercado externo europeu, determinou a desigualdade econômica e social presente até os dias de 
hoje. A riqueza gerada se deslocava, majoritariamente, para a Coroa portuguesa, enquanto a parcela 
que ficava no Brasil se concentrava, assim como a terra e os meios de produção, nas mãos da elite local. 
Não se desenvolvia o mercado interno brasileiro, que permanecia incipiente, mas sim o europeu. Para 
o desenvolvimento de um mercado interno, além de produção de produtos diversificados, agrícolas e 
manufaturados, seria também necessária uma massa de trabalhadores assalariados para estimular o 
consumo interno e a circulação de mercadorias e moeda. Portanto, o oposto do que o Brasil possuía. Do 
contrário, essa sociedade estaria no mesmo curso histórico do capitalismo europeu. 
Esse é o cenário desenvolvido pelo pacto colonial, de acordo com as imposições da metrópole 
portuguesa à colônia brasileira. A atividade econômica deveria ser limitada à agricultura, sem a possi-
bilidade de desenvolvimento de atividades manufatureiras, menos ainda de maquinários elaborados 
como teares para linhas e tecidos finos, por exemplo. Somente com a vinda da família real e a corte 
para o Brasil, e novamente por motivos europeus – no caso as guerras napoleônicas – o pacto colonial 
será quebrado. Dom João VI, ao abrigar-se em terras brasileiras, determina a abertura dos portos bra-
sileiros às nações amigas, especificamente à Inglaterra, ativa parceira comercial dos portugueses. A 
manufatura começa a ser desenvolvida, inicia-se a articulação com outros centros comerciais e indus-
triais, diversas instituições e órgãos são criados como medida de aproximar o Brasil da modernização 
já avançada na Europa.
Exemplos desse sopro de modernidade que atravessou o Atlântico com a família real são:
a fundação do Banco do Brasil (1808);::::
a criação da Imprensa Régia e a autorização para o funcionamento de tipografias e para a pu-::::
blicação de jornais (1808);
a abertura de escolas, como as de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro;::::
instalação de fábrica de pólvora e de indústrias de ferro em Minas Gerais e em São Paulo;::::
a criação da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico (1811) e do Museu Real (1818);::::
a vinda da Missão Artística Francesa (1816) e a fundação da Academia de Belas-Artes.::::
Chegada da família real portuguesa.
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12 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
Início para transformações
Em que pese a Independência do Brasil, proclamada pelo descendente da Coroa portuguesa 
após o retorno da família real a Portugal e a transformação da colônia em Império, em 1822, haverá em 
meados daquele século meia centena de produtores de tecidos, além da fundação de bancos, segu-
radoras e companhias de transportes. No último quartel do mesmo século XIX, finalmente, registra-se 
um conjunto de eventos que serão considerados fatores fundamentais da transformação da sociedade 
brasileira: a abolição da escravidão e a introdução do trabalho livre assalariado, a Proclamação da Repú-
blica e a economia do café.
A esse respeito, Sérgio Buarque de Holanda (1991, p. 127), em seu livro Raízes do Brasil de 1936, 
faz a seguinte reflexão:
Se em capítulo anterior se tentou fixar a data de 1888 como o momento talvez mais decisivo de todo o nosso desenvol-
vimento nacional, é que a partir dessa data tinham cessado de funcionar alguns dos freios tradicionais contra o advento 
de um novo estado de coisas, que só então se faz inevitável. Apenas nesse sentido é que a Abolição representa, em 
realidade, o marco mais visível entre duas épocas. [...] 
E efetivamente daí por diante estava melhor preparado o terreno para um novo sistema, com seu centro de gravidade 
não já nos domínios rurais, mas nos centros urbanos. [...] Ainda testemunhamos presentemente, e por certo continua-
remos a testemunhar durante largo tempo, as ressonâncias últimas do lento cataclismo, cujo sentido parece ser o do 
aniquilamento das raízes ibéricas de nossa cultura para a inauguração de um estilo novo, que crismamos talvez iluso-
riamente de americano, porque seus traços se acentuam com maior rapidez em nosso hemisfério.
O americanismo, conceito citado por Sérgio Buarque de Holanda, revela já na primeira metade 
do século XX o compartilhamento do centro gravitacional do capitalismo moderno entre a Europa e os 
Estados Unidos que, desde o século XVIII, como ex-colônia da Inglaterra e com mais características do 
modelo de povoamento do que de exploração, avançaram em adotar o desenvolvimento em curso nas 
sociedades europeias, participando, por exemplo, quase ao mesmo tempo, da Revolução Industrial.
As transformações daí decorridas na vida da sociedade brasileira passavam pela mudança de 
suas instituições econômicas, políticas e sociais, ficando evidente na mentalidade de suas elites e 
no surgimento de novos personagens e grupos de poder. A economia do café está intrinsecamente 
associada a isso, a ponto de estabelecer antagonismos com a economia da cana-de-açúcar, que havia 
retomado certa importância econômica com as crises políticas e sociais nas Antilhas e em outros 
concorrentes seus em fins do século XVIII. O senhor de engenho, e o ambiente do engenho de açúcar 
estão identificados à aristocracia rural arcaica, escravista e monárquica, enquanto o fazendeiro do 
café e sua lavoura representam o abolicionismo, o trabalho assalariado, a República e a vida urbana, 
chegando a desdobrar-se, se não diretamente, por meio de seus descendentes e finanças, na nascente 
burguesia industrial.
É deliberadamente que se frisa aqui o declínio dos centros de produção agrária como o fator decisivo da hipertrofia 
urbana. As cidades, que outrora tinham sido como complementos do mundo rural, proclamaram finalmente sua vida 
própria e sua primazia. 
[...] o desaparecimento progressivo dessas formas tradicionais coincidiu, de modo geral, com a diminuição da impor-
tância da lavoura do açúcar, durante a primeira metade do século passado (XIX), e sua substituição pela do café.
[...] O resultado é que o domínio agrário deixa, aos poucos, de ser uma baronia, para se aproximar, em muitos dos seus 
aspectos, de um centro de exploração industrial. [...] O fazendeiro que se forma ao seu contato (café), torna-se, no fun-
do, um tipo citadino, mais do que rural, e um indivíduo para quem a propriedade agrícola constitui, em primeiro plano, 
meio de vida e só ocasionalmente local de residência ou recreio. (HOLANDA, p. 129-130)
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13|A formaçãodo Brasil: o atraso para a modernidade
O mercado interno passa a se desenvolver fortemente no rastro da abolição, da introdução do tra-
balho assalariado e da imigração estrangeira que vem suprir quantitativa e qualitativamente os setores 
de serviços e de produção agrícola, principalmente na lavoura de café, bem como o industrial, ainda em 
formação. Somente para fixarem-se em São Paulo, desembarcaram, na última década do século XIX, 609 
mil imigrantes, dos 1,5 milhão que vieram para o Brasil. Nesse sentido é que Celso Furtado (2000, p. 155) 
considera que o “fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no último quartel do século XIX 
foi, sem lugar à dúvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado”. A expansão do mercado 
interno baseia-se no trabalho assalariado da economia cafeeira, cujo mecanismo de suas unidades se liga 
intimamente às correntes do comércio exterior. Uma vez que não se trata mais de trabalho escravo, o valor 
total da produção deverá remunerar os fatores utilizados na produção, conforme explica o mesmo autor 
(2000, p. 156):
A fim de simplificar a análise, dividiremos essa renda em dois grupos gerais: renda dos assalariados e renda dos proprietários. 
O comportamento desses dois grupos, no que respeita a utilização da renda, é sabidamente muito distinto. Os assalariados 
transformam a totalidade, ou quase totalidade, de sua renda em gastos de consumo. A classe proprietária, cujo nível de con-
sumo é muito superior, retém parte de sua renda para aumentar seu capital, fonte dessa mesma renda.
Dessa forma, o século XX apresentará as transformações que não aconteceram nos últimos qua-
trocentos anos da formação do Brasil, cujo atraso proporcionou, no mesmo período, a modernização 
das sociedades europeias.
Texto complementar
O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial
(NOVAIS, 1984, p. 58-59)
A economia colonial, quando encarada no contexto da economia europeia de que faz parte, que 
é o seu centro dinâmico, aparece como altamente especializada. E isto mais uma vez se enquadra nos 
interesses do capitalismo comercial que geraram a colonização: concentrando os fatores na produ-
ção de alguns poucos produtos comerciáveis na Europa, as áreas coloniais se constituem ao mesmo 
tempo em outros tantos centros consumidores dos produtos europeus. Assim se estabelecem os dois 
lados da apropriação de lucros monopolistas […] Mas não só na alocação dos fatores produtivos, na 
elaboração de alguns produtos ao mercado consumidor europeu se revela a dependência da eco-
nomia colonial face ao seu centro dinâmico. O sistema colonial determinará também o modo de sua 
produção. A maneira de se produzirem os produtos coloniais fica, também, necessariamente, subor-
dinada ao sentido geral do sistema; isto é, a produção se devia organizar de modo a possibilitar aos 
empresários metropolitanos ampla margem de lucratividade. Ora, isto impunha a implantação, nas 
áreas coloniais, de regimes de trabalho necessariamente compulsórios, semisservis ou propriamente 
escravistas. De fato, a possibilidade de utilização do trabalho livre, na realidade mais produtivo e, pois, 
mais rentável em economia de mercado, ficava bloqueada na situação colonial pela abundância do 
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14 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
fator terra; seria impossível impedir que os trabalhadores assalariados optassem pela alternativa de se 
apropriarem de uma gleba, desenvolvendo atividades de subsistência. Disto resultaria, obviamente, 
não uma produção vinculada ao mercado do centro dinâmico metropolitano, mas simplesmente a 
transferência de parte da população europeia para áreas ultramarinas, e a constituição de núcleos 
autárquicos ou quase autárquicos de economia de subsistência, em absoluta contradição com as ne-
cessidades e estímulos da economia europeia em expansão. É em função dessas determinações que 
renasce na época moderna, no mundo colonial, a escravidão e toda uma gama de formas servis e 
semisservis de relações de trabalho, precisamente quando na Europa tende a se consolidar a evolução 
no sentido contrário, isto é, da difusão cada vez maior do regime assalariado.
Atividades
1. Apresente, de maneira comparada, as características entre os dois modos de produção vividos 
pelas sociedades europeias na transição da Idade Média para a Moderna.
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15|A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
2. Que conceito representa a ideia exposta no seguinte trecho, principalmente quanto ao rumo de 
que fala o autor?
 “O desaparecimento do velho engenho, engolido pela usina moderna, a queda de prestígio do 
antigo sistema agrário e a ascensão de um novo tipo de senhores de empresas concebidas à 
maneira de estabelecimentos industriais urbanos indicam bem claramente em que rumo se faz 
essa evolução.” (HOLANDA, 1991, p. 131)
3. Entre algumas características associadas à economia do café no Brasil, na virada do século XIX 
para o século XX, podemos considerar:
a) Trabalho assalariado.
b) Aristocracia arcaica.
c) Escravidão.
d) Monarquia.
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16 | A formação do Brasil: o atraso para a modernidade
Gabarito
1. Feudalismo: politicamente, por pequenos reinos, constituídos de feudos, com poderes autôno-
mos, autoritários e hereditários, vinculados fortemente às estruturas da Igreja Católica; econo-
micamente, por uma produção agrária predominantemente de subsistência, controlada pelos 
senhores feudais, proprietários dos meios de produção (terra, ferramentas, insumos), combinada 
a algum artesanato e pequeno comércio, sendo os habitantes do feudo a mão de obra, que se su-
bordina com trabalho e impostos às relações servis de produção em troca de moradia e seguran-
ça; socialmente, por uma estrutura que permite pouca ou rara mobilidade social, cujos estamen-
tos (grupos sociais) podem ser divididos entre: servos, camponeses livres, artesãos e pequenos 
comerciantes, baixo clero, exército, nobres e alto clero.
 Capitalismo: politicamente, por Estados com poder central organizado a partir de uma cadeia de 
órgãos e instituições – até o século XVIII predominantemente monárquicos, após, predominante-
mente republicanos – demonstrando a ascensão da participação política de diferentes setores da 
população e a redução da influência de religiões oficiais; economicamente, por relações de pro-
dução capitalistas, que preveem a propriedade privada, o lucro a partir da reprodução do capital, 
a liberdade e a remuneração em salário, a intensificação da manufatura, do mercado e, a partir do 
século XIX, da indústria; socialmente, por uma estrutura que permite, em tese, maior mobilidade 
social, cujas classes estão divididas entre capitalistas (proprietários dos meios de produção, bur-
gueses) e trabalhadores assalariados (proprietários da própria força de trabalho, proletariados e 
camponeses).
2. Americanismo.
3. A
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A modernização do Brasil
A lógica do capitalismo
Considerando o atraso ao qual ficou fadado o Brasil ao longo dos trezentos anos do período co-
lonial, somente ao fim do século XIX, somando alguns eventos desde a chegada da família real em 
1808, houve transformações mais significativas para a organização econômica, política e social como: 
abolição da escravidão, Proclamação da República e o desenvolvimento de um mercado interno à base 
de trabalho livre assalariado, da produção do café, da imigração estrangeira e de algumas indústrias 
têxteis e alimentícias. A modernização da sociedade brasileira ocorreu lenta, desigual e peculiarmente, 
própria ao processo que arrebatara outras ex-colônias de capitalismo tardio, periférico e dependente 
em relação ao centro do capitalismoindustrial que havia se internacionalizado.
Da mesma forma que a lógica do desenvolvimento do capitalismo comercial europeu determi-
nou a subordinação do modelo de exploração colonial, com vistas à acumulação de capital, a lógica do 
desenvolvimento do capitalismo industrial que a sucedeu também o fez. O mercantilismo praticado 
entre o século XV e o XVII, com as Expansões Marítimas, a intervenção dos Estados e os pactos coloniais, 
havia se tornado inadequado frente à possibilidade da reprodução do capital controlado no ambiente 
fabril, a partir da transformação das matérias-primas potencializadas pelas novas tecnologias e da re-
definição das relações produtivas entre o capital e o trabalho. Mais do que isso, com a ampliação dos 
mercados e o aumento da demanda por mais e novas mercadorias, a manutenção das práticas carac-
terizadas no mercantilismo seria um entrave ao desenvolvimento do capitalismo industrial conduzido 
pela Inglaterra, segundo os teóricos do liberalismo econômico.
O liberalismo econômico pregava a não intervenção do Estado na economia e a livre concorrên-
cia. A ideologia liberal que já acompanhava o capitalismo desde o século XVI, ao surgir na Inglaterra 
nas ideias de John Locke, havia se ampliado e aprofundado com outros pensadores do Reino Unido a 
partir dos escritos de Adam Smith, David Ricardo, James Stuart Mill e John Stuart Mill, entre os séculos 
XVIII e XIX. Desse prisma é que, com a Revolução Industrial iniciada na segunda metade do século XVIII, 
a Inglaterra passa a atuar fortemente contra os pactos coloniais, a favor da independência das colônias 
e da abolição da escravidão. Independentes e soberanos, os novos Estados, na condição de ex-colônias 
atrasadas economicamente, passariam a negociar diretamente a importação de produtos manufatura-
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18 | A modernização do Brasil
dos e industrializados, bem como a exportação de suas matérias-primas a baixo custo. Acabar com a 
escravidão seria, economicamente, ampliar o mercado consumidor ao incluir milhares de pessoas no 
mundo do trabalho remunerado.
Nesse contexto é que se compreende até mesmo o período do século XIX, em que se iniciam mu-
danças na formação da sociedade brasileira, como produto da história e dos interesses das sociedades 
capitalistas europeias. Por mais que sejam identificados movimentos políticos, grupos e personalidades 
marcantes na sociedade brasileira, que atuaram como insurgentes contra a Coroa portuguesa, a monar-
quia, e a favor do abolicionismo, deve-se creditar às forças externas o papel determinante que tiveram, 
por sinal, desde o período do descobrimento.
Estrutura social e ideologias políticas
O capitalismo industrial introduz, definitivamente, na sociedade moderna, uma estrutura de classes 
polarizadas, de um lado, pela figura da alta burguesia, elite econômica e política, que havia deslocado a 
nobreza à decadência, e onde pôde acabar com a monarquia; do outro, pelo operariado, formado pela 
migração de camponeses para as cidades, local onde ajudaram a própria burguesia nas revoltas contra 
Coroas absolutistas, e a favor de Estados politicamente republicanos e economicamente liberais. Porém, 
ainda no século XIX e prosseguindo no seguinte, as condições de trabalho nas fábricas, exploração da 
mão de obra operária, a despeito de idade ou sexo, concentração da riqueza produzida nas mãos da eli-
te burguesa e o contraste com a miséria do restante da população provocaram a organização da classe 
trabalhadora em sindicatos e partidos que passaram a representar os seus interesses e a lutar por direitos 
sociais e políticos.
No Brasil, também, a ressonância das transformações políticas e sociais provocadas no contexto 
do capitalismo industrial se manifestará. No entanto, expressando práticas, soluções e concretizando 
eventos particulares à estrutura que havia se formado na sociedade brasileira: aristocrática, rural, escra-
vista, monárquica, latifundiária, monocultora e agroexportadora.
Na virada do século XIX para o século XX, abolicionistas, republicanos, militares, oligarquias esta-
duais, industrialistas e até um tanto de trabalhadores das cidades deram, cada um pelos interesses que 
os moviam, o tom das discussões e embates que deixavam para trás aqueles personagens do passado 
que se tentavam superar: monarquistas, escravistas e ruralistas. Dada a abolição e iniciada a República, 
a elite política no poder terá o rosto dos militares, a primeira de outras vezes ao longo da República. A 
influência francesa é maior entre os militares positivistas, cujo ícone é Benjamin Constant e o símbolo, 
a própria bandeira nacional, que leva a inscrição “Ordem e Progresso”. Mas logo em seguida, passado o 
choque político, os civis assumirão a cena demonstrando os interesses das oligarquias estaduais, uma 
vez que, segundo Boris Fausto (1983, p. 117-118): 
A Proclamação da República correspondeu ao encontro de duas forças diversas – exército e fazendeiros de café – mo-
vidas por razões diferentes. O exército tinha motivos de ordem corporativa e ideológica para se opor à Monarquia. A 
Guerra do Paraguai favoreceu a identificação dos militares como grupo, e eles começaram a criticar a posição secundá-
ria que o Império conferia à instituição. [...] Ao mesmo tempo, um grupo minoritário, mas extremamente ativo liderado 
por Benjamin Constant, combinava tais críticas com uma perspectiva ideológica de maior alcance. Sob a influência do 
positivismo defendiam a implantação de um regime republicano e modernizador.
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19|A modernização do Brasil
[...] os fazendeiros paulistas, através do Partido Republicano Paulista, moviam-se por razões claramente econômicas. A 
República, sob forma federativa, significava o fim da centralização imperial, a autonomia dos estados e a possibilidade 
de impor ao país um sistema que favorecesse o núcleo agrário-exportador em expansão. 
Do governo provisório, após a Proclamação, à República da Espada, quando os destaques foram 
o enérgico “marechal de ferro” (presidente Floriano Peixoto), a missão de “salvação nacional” dos positi-
vistas e o progressivismo financeiro e industrializador de Rui Barbosa (ministro da Fazenda), ao gover-
no das oligarquias estaduais da República Velha, a sociedade brasileira forma-se modernamente presa 
ao seu passado mais próximo. A burguesia cafeeira está à frente de acordos políticos que pretendem 
perpetuar o poder das oligarquias locais, cujas raízes são rurais, mas atuando nas cidades, controlando 
poderes descentralizados, mas, ao mesmo tempo, comprometidos às linhas de poder municipal, esta-
dual e federal. O coronelismo e o voto de cabresto garantiam a eleição dos candidatos das localidades, 
que repassavam poder aos representantes estaduais e ambos dependiam de estar alinhados ao poder 
central para receber benefícios políticos e econômicos para suas regiões. A figura do coronel civil havia 
sido criada no período regencial do Império quando houve a criação da Guarda Nacional, dando esse 
título a proprietários de terra nos quintões do território nacional para representar a força militar nos lu-
gares onde esta estivesse ausente. O povo local dependia desses proprietários e o processo de votação 
aberta facilitava a criação dos chamados currais eleitorais. O intermédio do governo estadual no funcio-
namento dessa estrutura política fez com que este artifício político ficasse conhecido como política dos 
governadores. E a predominância das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais na alternância do poder 
central ficou conhecida como a política do café com leite.
Economia e arte moderna
Economicamente, o centro gravitacional brasileiro ainda era a agroexportação. O principal produ-
to era o café e, por um período até 1918, em segundo lugar ficou a borracha. A vulnerabilidade e depen-
dência ao mercado externo e as determinaçõesdo capital internacional eram evidentes. Ao redor desta 
economia agrária, desenvolvia-se a produção industrial de têxteis, alimentos e vestuário, que também 
eram estimulados pelas crises eventuais da cafeicultura e por circunstâncias externas, como a Primeira 
Guerra Mundial, quando ocorreu a escassez de determinados produtos até então importados. “De 1900 
a 1929, a taxa de crescimento industrial foi de 5,6% ao ano. O número de fábricas havia passado de 
pouco mais de duas mil na virada do século para dezoito mil e oitocentas em 1930, mobilizando cerca 
de 450 000 operários” (CARONE, 1970, p. 70-92).
O eixo desse desenvolvimento industrial é formado pela capital, Rio de Janeiro, e por São Paulo, 
da economia do café. Essa região do Sudeste já apresentava alguns fatores importantes para tal desen-
volvimento em comparação com outras partes do território, como portos, mão de obra, mercado, ener-
gia, transportes e infraestrutura urbana. No entanto, os limites da modernização viam que o capitalismo 
industrial estava presente na ausência de indústrias de base que produzissem matérias-primas, insumos 
e máquinas para atender aos demais setores industriais. Dependia-se da importação para contornar as 
necessidades internas, pois não havia capacidade de produção de máquinas e insumos internamente.
A crise da República Velha ocorre no rastro da crise do café e da Bolsa de Nova York em 1929, mas 
se relaciona antes ainda com o desgaste da política das oligarquias, as revoltas tenentistas e os movi-
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20 | A modernização do Brasil
mentos e as greves de trabalhadores urbanos, já associados às ideologias dos países capitalistas centrais 
importadas pelos imigrantes europeus, como o anarquismo.
Diante do desencontro do governo, da opinião pública e de setores da sociedade civil, os militares 
se lançam novamente como agentes possíveis da organização do Estado. Sem maiores consequências 
imediatas, a não ser o apoio que alguns de seus personagens dariam à Revolução de 30, o tenentismo 
foi, no conjunto de suas manifestações
um movimento político e ideologicamente difuso, de características predominantemente militares, onde as tendências 
reformistas autoritárias aparecem em embrião [...]. Na base da pequena vinculação com os meios civis, está um dos tra-
ços essenciais da ideologia tenentista: os tenentes se identificam como responsáveis pela salvação nacional, guardiães 
da pureza das instituições republicanas, em nome de um povo inerme. Trata-se de um movimento substitutivo e não 
organizativo do povo. (FAUSTO, 1981, p. 112-114)
No entanto, em meio às controvérsias econômicas e políticas que ligavam o passado e o presente 
na sociedade brasileira, talvez o traço mais moderno a ser registrado até ter início a década de 1930 
tenha sido a Semana de Arte Moderna de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, cujas manifestações 
artísticas em poesias, esculturas, pinturas e música escandalizaram o público paulistano ao romper com 
os padrões estéticos então vigentes.
A respeito do movimento modernista, os críticos e os estudiosos entram em sintonia num ponto: a Semana de 
Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo, representou um marco, verdadeiro ponto de inflexão no modo 
de ver o Brasil. Não só de ver como de escrever sobre o Brasil. Em geral, os artistas e intelectuais de 1922 queriam 
arejar o quadro mental da nossa “intelligentsia”, queriam pôr fim ao ranço beletrista, à postura verborrágica e 
à mania de falar difícil e não dizer nada. Enfim, queriam eliminar o mofo passadista da vida intelectual brasileira. 
Do ponto de vista artístico, o objetivo fundamental da Semana foi acertar os ponteiros da nossa literatura com a mo-
dernidade contemporânea.
Para isso, era necessário entrar em contacto com as técnicas literárias e visões 
de mundo do futurismo, do dadaísmo, do expressionismo e do surrealismo, 
que formavam, na mesma época, a vanguarda europeia. Desse ângulo, o mo-
dernismo é expressão da modernização operada no Brasil a partir da década 
de 1920, que começava a dar sinais de mudança (vide, no plano político, o 
movimento rebelde dos tenentes) de uma economia agroexportadora para 
uma economia industrial. [...]
O manifesto antropofágico tocou no cerne do capitalismo no terceiro mun-
do: a dependência. Ou pelo menos captou seus reflexos no plano da cultura. 
Denunciou o bacharelismo das camadas cultas, que permanecem alheadas 
da realidade do país, reproduzindo os simulacros dos países capitalistas he-
gemônicos. Ironizou a consciência enlatada de largos setores do pensamento 
brasileiro, que se comprazem, quando muito, em assimilar ideias, jamais criá-
-las. Se Oswald de Andrade teve a lucidez de ridicularizar com o mimetismo 
que tanto seduz o intelectual solene e bacharel, ele não caiu no equívoco de 
fechar as portas do país do ponto de vista cultural. Ao contrário, sua formu-
lação em torno da “deglutição antropofágica” exige o remanejamento das 
ideias mais avançadas do Ocidente em conformidade com a especificidade 
de nosso contorno social e político. (FOLHA DE S.PAULO, 1978)
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21|A modernização do Brasil
A Revolução de 30 e a Era Vargas
O desentendimento entre as elites oligárquicas de São Paulo e Minas rompe, em 1929, a política 
do café com leite para a eleição de 1930. No mesmo ano, a Grande Depressão causada pela quebra 
da Bolsa de Nova York faz o preço do café despencar. O presidente Washington Luís não socorre os 
cafeicultores. Getúlio Vargas, governador do Rio Grande do Sul e candidato à presidência pela Aliança 
Liberal, promete em seu programa de governo atender às reivindicações operárias, anistiar os tenentes 
e moralizar a vida pública, adotando o voto secreto. Embora apoiado pela classe trabalhadora e setores 
médios, perde para o governador de São Paulo, Júlio Prestes. 
Estimulado por seus correligionários e apoiado pelos tenentes, Vargas lidera o levante armado 
após o estopim criado pelo assassinato de seu candidato a vice-presidente, João Pessoa, governador da 
Paraíba, culminando com a deposição de Washington Luís.
Getúlio Vargas, a partir de 1930, iniciou um período da formação do Brasil e de sua sociedade 
cujas marcas são consideradas, no contexto de sua época, modernizantes e profundas. A Era Vargas, 
como ficou conhecida, caracterizou-se por uma significativa e sistemática transformação da organi-
zação econômica e social brasileira. Com aspectos políticos controvertidos, que combinavam com o 
passado dessa sociedade, mesclando autoritarismo, violência, concentração de poder, presença de mi-
litares, perseguição ideológica, personalismo, messianismo e patriarcado, a estratégia principal foi dotar 
o Estado de um papel intervencionista, como promotor das mudanças necessárias à modernização e 
do desenvolvimento industrial. Pelo conjunto de suas características, a Era Vargas deve ser classificada 
como de modernização conservadora. 
Da mesma forma que Getúlio Vargas, e no mesmo período da história contemporânea, outras 
figuras políticas de estadistas nacionalistas, autoritários, populistas e com inspiração fascista também 
representaram em seus países o papel de agentes canalizadores das forças externas e internas para o 
avanço do desenvolvimento dos seus Estados e sociedades, como foram os casos de Juan Domingo 
Perón na Argentina, General Franco na Espanha e Antonio de Oliveira Salazar, em Portugal.
Ao assumir o poder, Vargas suspendeu a Constituição em vigor, dissolveu o Congresso Nacional e 
nomeou interventores para o governo dos estados. Além dessas medidas, criou dois novos ministérios: 
o da Educação e Saúde e o do Trabalho, Indústria e Comércio. Definiu a política trabalhista incorporando 
e transformando em lei antigas reivindicações operárias, como férias e descanso remunerado, proibi-
ção do trabalho noturno para mulheres e menores dedezoito anos, jornada de oito horas de trabalho, 
aposentadoria e, mais tarde, salário mínimo. No entanto, pela Lei de Sindicalização, os sindicatos foram 
subordinados ao Ministério do Trabalho, limitando a autonomia das associações sindicais. Mas, ao abra-
çar as causas trabalhistas e apresentar a legislação social como uma dádiva, um ato de generosidade, 
pelo qual o governo outorgou os direitos trabalhistas ao povo brasileiro, Getúlio Vargas passou a ser 
chamado de “pai dos pobres”.
De presidente do governo provisório, e mantido como eleito após a Constituição de 1934, o gol-
pista de Estado, para permanecer no cargo com a implantação do Estado Novo e a outorga de nova 
Constituição em 1937, articulou o poder com diversos setores e reprimiu os inimigos. Apoiou-se nos 
aparelhos de propaganda do Estado e aproveitou o momento econômico internacional da Segunda 
Guerra Mundial.
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22 | A modernização do Brasil
O Estado interventor da economia impulsionará a industrialização, com forte nacionalismo e 
protecionismo. Irá se preocupar em dotar a infraestrutura industrial com setores produtivos de base, 
como a primeira usina siderúrgica brasileira em Volta Redonda (1941), a mineradora Vale do Rio Doce 
(1942) e a Fábrica Nacional de Motores (1943).
Após o fim do Estado Novo, com a deposição de Vargas em 1945 e a retomada da ordem política 
democrática, foi eleito Eurico Gaspar Dutra (1946-1950). Ao fim desse mandato, o sucessor eleito e con-
duzido de volta ao cargo nos “braços do povo” foi Getúlio Vargas. Mantendo a sua política nacionalista 
e de desenvolvimento da indústria de base, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
(BNDE), em 1951, e, no campo da energia, promoveu a campanha “O petróleo é nosso”, criando em 1953 
a Petrobras. Em 1954, em meio a uma crise política, Getúlio Vargas se suicida.
Entre os vários aspectos do legado de Getúlio Vargas, para aquilo que passou a ser considerado a 
sua Era, estão a criação de uma identidade nacional, a figura de um Estado assistencialista e a introdução 
mais contundente dos indivíduos da sociedade brasileira no contexto do capitalismo urbano-industrial, 
no qual o valor do trabalho é um bem a ser estimado e protegido a ponto de investir de identidade 
cidadã a pessoa quando, simplesmente, esta possui uma Carteira de Trabalho e Previdência Social que 
passa a ser portada como principal documento aonde quer que vá. 
O modelo de desenvolvimento de JK
Em seguida ao governo de transição que assumiu o poder após a morte de Vargas, Juscelino Ku-
bitschek é eleito em 1955. Toma posse em 1956 e governa até 1960 perseguindo um “Plano de Metas” 
cujo slogan apontava a gestão desenvolvimentista que pretendia realizar: “Cinquenta anos em cinco”. 
Uma forma otimista de reconhecer o atraso do Brasil.
O desenvolvimentismo de JK combina-se harmonicamente ao cenário externo da economia ca-
pitalista internacional, os chamados Anos Dourados da expansão do capital. A orientação da política 
econômica de JK inaugura uma nova fase da industrialização brasileira, na qual associam-se o Estado, a 
empresa nacional e o capital estrangeiro. Ao passo que o Estado investia em infraestrutura (construção 
de estradas, hidrelétricas e siderúrgicas), também oferecia benefícios fiscais e tributários às empresas, 
principalmente a multinacionais que quisessem instalar sua produção no Brasil.
Muitas indústrias multinacionais de bens de consumo duráveis vieram para o Brasil. Emblemá-
tica do período foi a indústria automobilística em São Paulo, um verdadeiro símbolo da modernida-
de. Outro símbolo, de diferente magnitude, foi a construção de Brasília, moderna na sua concepção 
e formas.
O retorno da inflação e as críticas de submissão da política de JK ao poder do capitalismo norte-
-americano e do FMI mobilizaram os grupos oposicionistas. Mas é inegável que a política de JK deu 
grande impulso ao desenvolvimento econômico do país, ao mesmo tempo em que seu governo foi 
responsável pelo agravamento de antigos problemas, como as desigualdades sociais, as diferenças re-
gionais e a defasagem entre setores arcaicos e modernos da economia. Nesse período, a dívida externa 
aumentou e o controle da economia pelo capital externo também.
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23|A modernização do Brasil
Texto complementar
Brasil em perspectiva
(MOTA, 1984 p. 277-278)
Em todos esses anos tudo se fez sob a hegemonia do Estado que se reivindicava “nacional”. 
Nessa afirmação ideológica havia um grão de verdade: o poder de Estado, sua consolidação no 
Brasil não significa a hegemonia política direta de nenhuma classe em particular. É certo também 
que, sob a égide do novo regime, se processou uma recomposição das classes ao nível do poder, 
implicando uma colaboração entre elas. Graças à instabilidade política e econômica em que se 
encontravam os grupos dominantes, antes do golpe, o Estado pôde se fortalecer, assumindo, não 
obstante, o papel de instrumento de realização de interesses já diferenciados: das oligarquias ru-
rais, quer ligadas à exportação, quer ao mercado interno; da burguesia industrial, que se ia cons-
tituindo e se desenvolveu sob sua proteção. Quanto a esta última, o governo antecipa soluções 
econômicas e políticas que objetivamente favoreciam as condições de acumulação capitalistas 
do Brasil; desses efeitos, entretanto, permanecem inconscientes seus principais beneficiários, os 
industriais em seu conjunto. Porque, tanto a consciência de seus interesses, quanto a sua prática 
política – enquanto classe – eram ainda rudimentares. Suas relações com o Estado caracterizavam-
-se por compromissos e expectativas de vantagens individuais; estavam viciadas, também elas, por 
um conteúdo paternalista.
Entretanto, se aquela colaboração entre os grupos dominantes foi possível, se, por sua vez, 
foi possível ao Estado atender ao mesmo tempo às exigências principais de uns e de outros, isto 
não se deve exclusivamente àquela configuração conjuntural, econômica e política. Sua eficácia, 
sua razão de ser, é de ordem estrutural. Não havia (e continuou não havendo depois do Esta-
do Novo) antagonismo entre os interesses das oligarquias rurais e da burguesia industrial. Pelo 
contrário, as relações entre elas se caracterizavam naquela época por uma solidariedade funda-
mental. A explicação não está na origem social de muitos empresários, ligados por laços de pa-
rentesco, aos grupos oligárquicos: isto seria pouco definir uma compatibilidade de interesses no 
sistema capitalista. Na verdade o que os unificava era o fato de que os investimentos na indústria 
dependiam da acumulação de capitais na agricultura, canalizados sob a forma de créditos e de 
financiamentos, através do sistema bancário, que lhes servia de mediador. Essa “acumulação pri-
mitiva” tinha por pressuposto sociológico a exploração ou a expropriação das populações rurais. 
Por isso, o trabalhador do campo, apesar de sua importância numérica e de sua ativa presença 
econômica, será a grande figura ausente do Estado Novo, reprimida na consciência coletiva e 
excluída da “questão social”. As oligarquias rurais tinham sido forçadas a abdicar de seu poder 
político, mas permaneceram intactas as bases sociais e econômicas de sua dominação. Daí, uma 
espécie de compromisso tácito entre elas, o governo e a burguesia industrial – satisfeita com a 
expansão do mercado interno urbano.
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24 | A modernização do Brasil
Atividades
1. Apresente dois princípios teóricos do liberalismo econômico.
2. Explique a figura política do coronel e a atuação dele para a ocorrência do voto de cabresto no 
panorama da República Velha.
3. O modelo de política econômica adotado por Vargas previa um Estado:
a) intervencionista, promotor direto do desenvolvimento industrial.b) mínimo, atuando como órgão regulador da economia.
c) socialista, que não apoia propriedade privada.
d) financiador da iniciativa privada.
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25|A modernização do Brasil
Gabarito
1. O liberalismo econômico pregava a não intervenção do Estado na economia e a livre concorrência.
2. O coronelismo e o voto de cabresto garantiam a eleição dos candidatos das localidades, que re-
passavam poder aos representantes estaduais e ambos dependiam de estar alinhados ao poder 
central para receber benefícios políticos e econômicos para suas regiões. A figura do coronel civil 
havia sido criada no período regencial do império quando da criação da Guarda Nacional, dando 
esse título a proprietários de terra nos quintões do território nacional para representar a força 
militar nos lugares onde esta estivesse ausente. O povo local dependia desses proprietários e o 
processo de votação aberta facilitava a criação dos chamados currais eleitorais.
3. A
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26 | A modernização do Brasil
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O Brasil entre dois mundos
A industrialização tardia
A partir da década de 1960 é possível observar as marcas da modernização operada no Brasil. As 
políticas econômicas dos governos de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) e Juscelino Kubitschek 
(1956-1960), por suas características e resultados, podem ser consideradas como as mais significativas 
e responsáveis, até aquele momento da República, para o desenvolvimento do país. Foram as políticas 
econômicas mais sistematizadas e efetivas, no sentido de avançar o capitalismo industrial brasileiro, em 
comparação aos outros governos. Além de terem declarado a explícita intenção de promover, com seus 
planos, a infraestrutura para a cadeia produtiva, também elaboraram novos elementos para a estrutu-
ração do Estado em bases mais modernas, fazendo, cada um ao seu modo, o uso direto ou indireto do 
aparelho estatal para alavancar a economia e preparar a sociedade. Repetindo a história, era novamente 
o Estado criando a sociedade, como ocorreu na colonização, na Proclamação da Independência e na 
criação da República, todas ações de cima para baixo.
A primeira das marcas de tal modernidade alcançada pela sociedade é a de se registrar, na-
quela década (1960), que, pela primeira vez, mais da metade da população brasileira estava vivendo 
nas cidades. A economia do país, embora evidentemente sustentada pela agroexportação, passava 
a mobilizar a maioria dos trabalhadores nos setores de serviços e de produção industrial das zonas 
urbanas. O cenário citadino começa a predominar na vida dessa sociedade. Seus elementos e perso-
nagens, seus eventos e problemas passam a se destacar na leitura que a própria sociedade faz de si 
em seu cotidiano. O imaginário da vida urbana, tanto perseguido e evidenciado em décadas anterio-
res no anseio de obter a face da modernidade, nos estilos, comportamentos, adventos tecnológicos e 
itens de consumo, estava, naquele momento, mais genuíno em seus aspectos positivos e negativos. 
Principalmente os negativos, visto que se tratava de um processo de desenvolvimento tardio do ca-
pitalismo industrial.
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28 | O Brasil entre dois mundos
Proclamação da República, na praça da Aclamação – 1889.
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O contraste entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno, até então mais visível no panorama 
internacional do capitalismo, havia ganhado o interior da sociedade. O que não deixava de ser uma 
reprodução de circunstâncias já vividas pelos países de capitalismo central, mas que, diferente destes, 
traziam as consequências da relação de dependência inscrita na lógica da expansão do capitalismo 
em direção às periferias. No entanto, cabe ressaltar aqui a percepção, que não se deve esquecer, so-
bre a formação da sociedade brasileira, uma vez que esta sempre esteve vinculada a fatores externos 
que a submetem à história e à atuação das sociedades europeias e também, a partir do século XIX, da 
norte-americana.
Política econômica e expansão do capitalismo industrial
No compasso do liberalismo econômico, ao longo do século XIX, o capitalismo central europeu 
se desenvolvia industrialmente e financeiramente de forma acelerada. No seu rastro, as novas relações 
de produção geravam profundas desigualdades econômicas e sociais. Enquanto trabalhadores assa-
lariados se associavam em movimentos e organizações para enfrentarem seus patrões, os governos 
disputavam mercados e territórios externos para alimentar a lógica do capital. Os conflitos internos e 
externos eram latentes. Ideologias contrárias se formavam, sendo o binômio socialismo-comunismo o 
mais representativo das insatisfações com a realidade social produzida pelo capitalismo. Foi na mesma 
Europa que os teóricos socialistas e comunistas surgiram, críticos do capitalismo, propondo a busca por 
uma sociedade mais justa, igualitária e feliz. Mas foi a partir dos escritos teóricos de Karl Marx e Frederick 
Engels que aquelas ideologias ganharam bases científicas para denunciar os mecanismos de explora-
ção presentes na relação capital-trabalho, identificando o antagonismo de interesses entre as classes 
sociais: burguesia e assalariados.
Em fins do século XIX e início do XX, registrou-se o fenômeno do “imperialismo neocolonizador”, 
momento específico do estágio de desenvolvimento capitalista e de sua expansão internacional. Se-
gundo Eric Hobsbawm (1997, p. 91):
A repartição do mundo entre um pequeno número de Estados foi a expressão mais espetacular que já observamos da 
crescente divisão do planeta em fortes e fracos, “avançados” e “atrasados”. Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 
1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia 
dúzia de Estados. A Inglaterra aumentou seus territórios em cerca de dez quilômetros quadrados; a França, em cerca de 
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29|O Brasil entre dois mundos
nove; a Alemanha conquistou mais de dois milhões e meio; a Bélgica e a Itália, pouco menos que essa extensão cada 
uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha; o Japão, algo em torno da mesma quantida-
de, à custa da China, da Rússia e da Coreia. As antigas colônias africanas de Portugal foram ampliadas em cerca de 750 
mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar 
alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara ocidental.
No início do século XX, enquanto o capitalismo liberal estava em crise frente ao fenômeno do 
“imperialismo” – que conjugou a formação de monopólios –, a presença do capital financeiro e a atu-
ação externa dos governos deparam-se com os conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); o 
socialismo iniciava sua ascensão política e concreta conquistando o poder de um Estado com a Re-
volução Russa (1917). No mesmo contexto, nascem as ideologias nazifascistas, cujos elementos eram 
o nacionalismo e o totalitarismo. Diante da crise liberal, que perdia espaço no mundo para as novas 
alternativas ideológicas, visto que sociedades inteiras estavam se organizando a partir delas (Alema-
nha nazista, Itália fascista e Rússia socialista), os países capitalistas começavam a redirecionar suas po-
líticas econômicas com vistas a promover maiores benefícios sociais, adotando um modelo de Estado 
chamado de bem-estar social (welfare state). O modelo de bem-estar social preconizava a criação de 
mecanismos de amortecimento do choque que o capitalismo provocava nas classes subalternas com 
suas práticas liberais de livre concorrência e ausênciade interferência do Estado. Dessa forma, as elites 
econômicas e políticas desses países manteriam seu capitalismo, porém, em bases que atendessem 
aos anseios das classes assalariadas. Além de direitos trabalhistas, que essas classes já vinham conquis-
tando lentamente, o Estado de bem-estar social criava instituições de previdência, saúde, educação 
e controle das relações de mercado. Nesse instante, a ideologia que guiará esses Estados capitalistas 
será a social-democracia e não mais o liberalismo.
Quando termina a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que foi uma extensão da Primeira Guerra 
e de seus motivos de controle territorial e de mercados – só que dessa vez visivelmente associados ao 
conflito de ideologias –, os nazifascistas são derrotados e os capitalistas, representados pelos Estados Uni-
dos da América (EUA), e os socialistas, representados pela União Soviética (URSS), passam a medir forças e 
desempenhos, creditando suas qualidades às ideologias e modos de produção adotados por cada um.
Os EUA, aproveitando os estragos da guerra em solo europeu e a preservação do seu parque 
industrial já bem desenvolvido, ampliou suas ações políticas de boa vizinhança, que o país promovia 
desde o final do século XIX com os países do continente americano, fortalecidas, então, pelo New Deal 
(Novo Acordo), plano de ações adotado em 1933 para superação da crise provocada pela quebra da Bol-
sa de Nova York (1929). Os EUA assumiram, imediatamente, papel decisivo para o apoio e recuperação 
dos países capitalistas europeus e, até mesmo, do derrotado Japão.
A URSS, por sua vez, passou a estimular ou servir de exemplo, para sociedades em vias de revolu-
ção, de poderio e desenvolvimento alcançado por uma economia planificada (e não de mercado), onde os 
meios de produção são estatais (e não privados) e não há divisão de classes sociais (pelo menos em tese, 
ao invés de burguesia e proletariado). Estendeu seus domínios sobre a Ásia e o Leste Europeu, em seguida 
sobre a América Latina e a África, liderando o bloco dos países que adotaram o socialismo.
A geopolítica internacional após 1945 estava organizada em virtude de dois blocos: o dos países 
capitalistas (divididos entre desenvolvidos e subdesenvolvidos, no que se convencionou chamar pri-
meiro e terceiro mundos) e países socialistas (identificados como segundo mundo).
Foi nesse novo contexto internacional que o Brasil movimentou-se obtendo os resultados ante-
riormente descritos até o início da década de 1960, e continuou sua trajetória sendo afetado, também 
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diretamente, pelo cenário de acirramento da disputa entre os dois blocos geopolíticos, no período que 
passava a ser denominado de “Guerra Fria”.
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Economia e política a partir da década de 1960
A década de 1960 se inicia confirmando a dependência externa do Brasil ao capital estrangeiro, 
acentuada pelas ações desenvolvimentistas do governo JK, e demonstrando a fragilidade da economia 
interna diante do aumento da inflação. 
Jânio Quadros, ex-vereador, prefeito e governador de São Paulo, é eleito presidente da República em 
1961 com amplo favoritismo. O carismático candidato da União Democrática Nacional (UDN), em seu discur-
so, condenava a permanência das características do Estado da Era Vargas, a situação econômica agravada 
pelo antecessor JK e as imoralidades na estrutura de governo. Os sete meses iniciais de seu governo mostra-
ram a forte presença de um conjunto de fatores, internos e externos, reflexos do passado desta sociedade e 
do cenário internacional da Guerra Fria, que eram necessários administrar para governar o país. Período este, 
suficiente para que Jânio Quadros renunciasse à Presidência após adotar medidas moralistas, o que o levou a 
enfraquecer-se diante da população, condecorar Che Guevara, desagradar setores conservadores das Forças 
Armadas e da elite econômica, definir ações econômicas e criar recessão, mas agradar ao FMI.
O vice-presidente João Goulart, cujo partido político, Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), estava 
vinculado ao legado de Getúlio Vargas, associava-se a ideias distintas de Jânio. O trabalhismo, o populis-
mo e o nacionalismo estavam claros nas chamadas Reformas de Base, seu plano de governo. O ambien-
te político, que era tenso e se acumulava desde o governo JK, fez-se crescente após a superação, por 
parte dos que apoiavam a posse de João Goulart, da resistência dos setores contrários, conservadores 
e elite econômica, que buscavam meios de impedir essa posse aproveitando a viagem que ele fazia, na 
ocasião da renúncia de Jânio, à China comunista.
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31|O Brasil entre dois mundos
A despeito das manobras políticas, que fizeram o Brasil adotar o sistema parlamentarista por dois 
anos (1961-1963) e retornar ao presidencialismo, João Goulart assumiu o governo recebendo o apoio 
dos trabalhadores, dos estudantes e intelectuais, mas contrariando interesses e valores de militares, 
proprietários rurais e burguesia. Isso porque vinha adotando medidas como: reforma agrária, ampliação 
das vagas em universidades públicas, reforma eleitoral, monopolização do petróleo, nacionalização de 
refinarias e controle da remessa de lucros das empresas multinacionais.
Tais medidas, no cenário da Guerra Fria, provocaram a leitura de que João Goulart representava 
a ameaça socialista no Brasil e, por conseguinte, na América Latina. A reação interna capitaneada pelas 
Forças Armadas, que desfecham um Golpe de Estado em 1.º de abril de 1964, tem o apoio dos EUA, 
cuja postura será a mesma para qualquer país, principalmente das Américas, para prevenir o avanço do 
bloco socialista no mundo.
A partir daí, inicia-se um período de governos militares ditatoriais, afastando, por 21 anos, a pos-
sibilidade de construção, em bases democráticas, da República brasileira, que, além de nova, havia ex-
perimentado até aquele momento poucos governos civis e, menos ainda, democráticos.
Para o sociólogo Octávio Ianni (1975, p. 206-207), esse é o limiar entre duas épocas da política 
brasileira:
O populismo brasileiro surge sob o comando de Vargas e os políticos a ele associados. Desde 1930, pouco a pouco, vai 
se estruturando esse novo movimento político. Ao lado das medidas concretas, desenvolveu-se a ideologia e a lingua-
gem do populismo. Ao mesmo tempo em que os governantes atendem a uma parte das reivindicações do proletariado 
urbano, vão se elaborando as instituições e os símbolos populistas. Pouco a pouco, formaliza-se o mercado de força 
de trabalho, no mundo urbano-industrial em expansão. Ao mesmo tempo as massas passam a desempenhar papéis 
políticos reais, ainda que secundários. Assim, pode-se afirmar que a entrada das massas no quadro das estruturas de 
poder é legitimada por intermédio dos movimentos populistas. Inicialmente, este populismo é exclusivamente getulis-
ta. Depois, adquire [sic] outras conotações e, também, denominações. Borguismo [sic], queremismo, juscelinismo, jan-
guismo e trabalhismo são algumas das modulações do populismo brasileiro. No conjunto, entretanto, trata-se de uma 
política de massas específica de uma etapa das transformações econômico-sociais e políticas no Brasil. Trata-se de um 
movimento político, antes do que um partido político. Corresponde a uma parte fundamental das manifestações po-
líticas que ocorrem numa fase determinada das transformações verificadas nos setores industrial e, em menor escala, 
agrário. Além disto, está em relação dinâmica com a urbanização e os desenvolvimentos do setor terciário da economia 
brasileira. Mais ainda, o populismo está relacionado tanto como consumo em massa como o aparecimento da cultura 
de massa. Em poucas palavras, o populismo brasileiro é a forma política assumida pela sociedade de massas no país.
Novamente governo militar
De1964 a 1985, a sociedade brasileira será governada por militares. Nada tão surpreendente se 
considerados: 
o passado de permanentes participações desse setor na vida nacional (Proclamação da Re-::::
pública, os dois primeiros governos republicanos, os movimentos tenentistas da década de 
1920, a Revolução de 30, a Revolta Constitucionalista de 1932, o Golpe de 1937 criando a 
ditadura do Estado Novo até 1945, e até mesmo o fim deste, que se deu pela deposição con-
duzida por generais dos quais um foi eleito presidente de 1946 a 1950); e 
o constante uso reacionário das Forças Armadas pelos países do bloco capitalista, em plena ::::
Guerra Fria, insufladas de perto pelos EUA para efetuar golpes de Estado, prevenindo ou debe-
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32 | O Brasil entre dois mundos
lando os temidos movimentos sociais e políticos cujas vinculações ideológicas poderiam, por 
via das dúvidas, inclinar-se às revoluções socialistas (como foram os casos de Brasil, Uruguai, 
Chile, Argentina, Nicarágua, entre outros).
A permanência do governo militar pela sucessão de cinco presidentes no decorrer de 21 anos foi 
acompanhada pelas disputas e visões internas dos setores moderados e radicais das Forças Armadas. 
Além da avaliação que estes faziam de seu papel à frente do governo, eram fatores incidentes nesse 
cenário a ação dos interesses do capitalismo internacional e as movimentações políticas e sociais de 
setores civis organizados que resistiam à ditadura, denunciando sua violência e exigindo o retorno à 
democracia.
Ainda no primeiro governo, de Marechal Castello Branco (1964-1967), considerado do setor mo-
derado entre os militares, havia a expectativa de que ao seu término ocorresse o retorno ao Estado de 
Direito e as eleições de um governo civil. Mas o fato é que isso não só não ocorreu como também a 
sucessão de governo se deu na direção da linha mais dura e radical dos militares, cujo representante foi 
o Marechal Costa e Silva (1967-1969), seguido pelo General Emílio Garrastazu Médici (1969-1974).
Política: autoritarismo e repressão
Até aquele momento, as marcas de um governo militar ditatorial estavam evidentes em suas 
ações políticas. Foi criado o Sistema Nacional de Informações (SNI) para investigar e espionar a vida de 
opositores declarados e suspeitos, controlando uma rede de órgãos militares e civis, como o Departa-
mento de Ordem Pública e Social (DOPS). Vários deputados tiveram seus mandatos cassados. A perse-
guição e punição aos integrantes do governo deposto e seus simpatizantes foi intensa; e a principal 
ferramenta era a instauração de inquéritos policiais militares. Entidades estudantis e da sociedade civil 
foram fechadas, as greves foram proibidas e sindicatos trabalhistas sofreram intervenção. O ambiente 
punitivo servia também para desencorajar a resistência de alguns setores que levasse ao golpe. 
A concentração do poder fortalecendo o Executivo se expressava no uso de atos institucionais, 
atos complementares outorgados e leis excepcionais. Com a edição desses instrumentos, o governo 
controlou o Poder Legislativo e limitou o Poder Judiciário. O Ato Institucional n.º 2 (AI-2) extinguiu todos 
os partidos políticos e estabeleceu eleições indiretas para presidente. Em seguida, foi criado o sistema 
bipartidário com a fundação do partido da situação governista, Aliança Renovadora Nacional (ARENA), 
e o partido da oposição reunida, Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Externamente, a posição política dos militares rompeu as relações políticas com Cuba, 
caracterizou-se pelo anticomunismo e alinhou-se às decisões norte-americanas, pelas quais rece-
bia apoio econômico.
O clima de repressão aumenta à medida que a insatisfação e mobilização de setores da sociedade 
civil, como estudantes, intelectuais, políticos, artistas, trabalhadores, setores da Igreja Católica e entidades 
classistas – Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por exemplo 
–, se faz mais contundente. Em 1968 é editado o AI-5, conjunto de medidas consoantes à linha militar 
mais autoritária representado pelo Marechal Costa e Silva. Com esse ato, o governo fechou o Congresso 
Nacional e outorgou o direito de poder fazer o mesmo com as assembleias legislativas estaduais e com as 
câmaras de vereadores municipais. O regime poderia cassar mandatos parlamentares e direitos políticos, 
o presidente poderia demitir, aposentar ou transferir funcionários públicos civis ou militares.
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Foi o AI-5, também, que estabeleceu o cerceamento à liberdade de expressão por meio da cen-
sura sistemática nos meios de comunicação. O governo colocava agentes censores nas redações dos 
jornais ou recebia, previamente, os originais de revistas, jornais, livros ou programas de televisão para 
avaliar se o conteúdo apresentava informações subversivas à ordem militar. Dessa forma, originais ti-
nham trechos extraídos, suprimidos ou mesmo eram proibidos integralmente de ir a público.
Tal violência por parte do governo, que perseguia e vedava a liberdade, provocou reações diversas 
entre seus opositores: muitos se calaram, outros se exilaram no exterior e tantos outros, adotando uma 
postura proporcionalmente agressiva, começaram a viver na clandestinidade, organizando ações sistemá-
ticas de combate ao governo. Estes últimos, em sua maioria estudantes, trabalhadores e políticos, eram 
militantes de partidos ou grupos políticos ideologicamente identificados com os princípios do socialismo 
e suas diferentes correntes: Ação Libertadora Nacional (ALN); Ação Popular (AP); Movimento Revolucioná-
rio 8 de Outubro (MR8); Vanguarda Popular Revolucionária (VPR); o Partido Comunista do Brasil (PC do B). 
Incentivados pela história de revoluções socialistas pelas armas, sendo a de Cuba a mais recente e próxima 
geograficamente, esses militantes lançaram-se à luta armada como forma de derrubar o governo militar. 
Dessa forma, executavam assaltos a bancos para financiar a “guerrilha urbana” e planejavam sequestros de 
autoridades para forçar o governo a ceder posições, como foi o caso do embaixador americano feito refém 
para a libertação de presos políticos. Nesse desigual embate de forças, em que os mais fracos acreditavam 
no apoio da população (mas que não aconteceu), a violência do governo, que prendia sem mandato judi-
cial e praticava tortura nas cadeias, criou a figura dos desaparecidos políticos.
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Ditadura 1968. Diretas Já.
Economia: crescimento e modernização 
com desigualdades e subdesenvolvimento
Economicamente, o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), implementado pelo pri-
meiro governo militar (Castello Branco), não logrou o êxito esperado. Ao combater a inflação, agiu con-
tra as suas possíveis causas: o deficit do setor público, o excesso de crédito e a política trabalhista. Mas 
em pouco tempo provocou forte recessão, aumento do desemprego e a falência ou redução de empre-
sas, enquanto outras foram adquiridas por grupos estrangeiros. 
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34 | O Brasil entre dois mundos
Com a reforma tributária, organizando um sistema nacional de impostos diretos e indiretos, o 
governo promoveu maior concentração de renda a partir de uma tributação injusta que incidia sem as 
devidas diferenciações sobre os níveis de consumo e renda da população, conforme se verificava nas 
alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no Imposto sobre a Circulação de Mercado-
rias (ICM) e no Imposto sobre a Renda (IR).
O crédito para a classe média afetou negativamente à população mais pobre, pois a maior 
circulação de moeda provocou o aumento da inflação. Enquanto a abertura externa da economia 
brasileira, por mais que estimulasse a exportação, acabou

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