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A993i Azevedo, Denise Manhães de. A importância do ensino da língua inglesa nos anos iniciais do ensino escolar/ Denise Manhães Azevedo. Cabo Frio, 2017. 15 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras - Inglês) – Universidade Estácio de Sá, Cabo Frio, 2017. 1. Língua inglesa. 2. Alfabetização. 3. Aprendizagem. I. Título. CDD 423.69 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ LICENCIATURA EM LETRAS – INGLÊS (EAD) A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NOS ANOS INICIAS DO ENSINO ESCOLAR DENISE MANHÃES DE AZEVEDO 2015.01.17513-1 Trabalho de Conclusão de curso apresentado como requisito parcial para aprovação no curso de Licenciatura em Letras – Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Professora orientadora: Rosangela de Araújo Salviano Saquarema – RJ 2017 1 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NOS ANOS INICIAS DO ENSINO ESCOLAR RESUMO Este artigo traz uma análise histórica e atual do ensino da língua inglesa nas escolas de ensino regular no Brasil e aponta para a deficiência no sistema de leis educacionais que vem mantendo o domínio desse idioma, pelos cidadãos brasileiros, ainda num patamar muito baixo. Particularmente, examina a situação atual do ensino da língua inglesa dentro do ensino fundamental II, expondo a aplicação dos seus conteúdos e o desenvolvimento do aluno na disciplina. Diante disso, este estudo, fundamentado em pesquisas bibliográficas de estudiosos dos campos da educação e linguística, aponta caminhos para que o ensino da língua inglesa seja mais significativo e permanente, para que deste modo possa contribuir para o melhor desenvolvimento educacional do aluno. Palavras-chave: Língua inglesa; anos iniciais do ensino regular; conhecimento linguístico; conhecimento significativo; ABSTRACT This article presents a historical and current analysis of English teaching in regular schools in Brazil, and points to the deficiency in the laws of the educational system that has maintained the language proficiency, by Brazilian citizens, at a very low level. In particular, it examines the current situation of English teaching in secondary education, exposing the application of its contents and the development of the student in the discipline. Therefore, this study, based on bibliographical research of scholars in the fields of education and linguistics, points out ways in which English teaching can be more meaningful and permanent, so that it can improve students’ development. Keywords: English language; Early years of regular education; language proficiency; significant knowledge; 2 INTRODUÇÃO O estudo da língua inglesa não é uma exigência recente dentro do currículo escolar brasileiro. Oficializado no currículo escolar das escolas públicas em 1809, durante o período colonial, o ensino desse idioma desde então já era visto como de grande importância tanto para o progresso do Estado quanto para o desenvolvimento do saber do aluno. Contudo, apesar de historicamente fazer parte da grade curricular de estudos, o ensino atual dessa disciplina, principalmente nas redes de ensino público, ainda não possibilita aos estudantes a fluência no idioma. A lei brasileira que regula a educação determina o ensino do inglês a partir do segundo segmento do ensino fundamental, contudo, a introdução ao ensino dessa língua acontece já pautado na gramática normativa e formal da língua. Esse ensino, cheio de definições e regras, enchem os quadros das salas de aula e cadernos de alunos, que se desdobram para aprender ao mesmo tempo a escrita, a leitura, a oralidade e regras morfossintáticas da língua, ou seja, um tornado de informações que entra na vida de estudantes despreparados. Nesse sentido, o tema desse artigo pretende responder sobre a importância de se trabalhar a língua inglesa dentro do contexto escolar a partir dos anos iniciais do ensino regular. Para isso o levantamento de algumas questões foram importantes: Qual a importância do ensino da língua inglesa nos anos iniciais do ensino escolar? E como a capacidade de comunicação na língua inglesa pode contribuir para o indivíduo? Diante dessas questões, o conteúdo deste trabalho tem a finalidade de mostrar a importância do investimento, principalmente por parte do poder público, no ensino da língua inglesa nos anos iniciais da educação escolar. O que contribuiu para análise, reflexão, fundamentação e resultado do exposto, foram estudos e pesquisas voltados ao campo do ensino da segunda língua, particularmente nos estudos de Vilson J. Leffa, PhD em Linguística Aplicada, expostos no livro “O Ensino da Leitura e Produção Textual: Alternativas de Renovação” (1999), seus artigos “O Ensino das Línguas Estrangeiras no Contexto Nacional” (1999) e “O Ensino do Inglês no Futuro: Da Dicotomia para a Convergência” (2003), onde podemos ter uma visão bastante ampla do ensino da língua inglesa nas escolas de ensino regular, da importância dessa língua no mundo atual e dos princípios fundamentais para 3 aquisição da segunda língua (L2), nos estudos de Lydia White, PhD em Linguística, expostos no livro “Second Language Acquisition and Universal Grammar”(2003), que traz uma análise e visão geral de estudos e pesquisas sobre a aquisição da L2, nos estudos de Renilson Santos Oliveira, PhD em Língua Francesa, expostos em seu artigo “Linha do Tempo da Didática das Línguas Estrangeiras no Brasil”, que revela o caminho histórico do ensino das línguas estrangeiras no Brasil, entre outros documentados estudos e pesquisas considerados relevantes para produzir este artigo. A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA INGLESA A propagação da língua inglesa ocorreu em consequência da expansão do Império Britânico e do subsequente poder econômico americano. Mesmo antes da globalização, a língua inglesa já era considerada de grande importância, pois se propagava pelo mundo devido ao poderio e expansão colonial do Império Britânico, toda via, não foi até o século XX, com o surgimento dos Estados Unidos como o poder político e econômico mundial, que o inglês passou a ser visto como a mais significativa língua à ser aprendida para se ter acesso a mais conhecimentos e obter-se ampla de oportunidades profissionais. Os PCNs de Língua Estrangeira observam que “A importância do inglês no mundo contemporâneo, pelos motivos de natureza político-econômica, não deixa dúvida sobre a necessidade de aprendê-la. (PCNs, p. 50) O fenômeno da globalização despertou o mundo para uma diferente realidade, e passou a motivar também o interesse de comunicação na língua inglesa para outra realidade na vida do indivíduo, o da socialização mundial de grupos voltados ao mesmo interesse. O rápido avanço da tecnologia de comunicações e a criação da internet deu início a expansão e a popularização das redes sociais, transformando as relações interpessoais. Segundo Leffa (2003), a internet derrubou as fronteiras geográficas e transformou as associações humanas. A tradicional relação social entre pessoas com poucos interesses em comum decresceu com a propagação das ‘comunidades virtuais’, que possibilitaram que pessoas com interesses semelhantes, de diversas partes do mundo, interagissem com mais frequência. Este cenário além de revelar um novo comportamento social do ser 4 humano, o levou a necessidade de se comunicar em uma língua global.[...] as comunidades atuais, para manter a comunicação entre seus membros, às vezes distantes geograficamente, tendem a uma língua comum. (ibid 2003, p. 225-250) As atuais formas de comunicação também possibilitaram maior conhecimento, interação e aceitação de diferentes tipos de cultura. No que diz respeito as preocupações com a cultura das sociedades ocidentais, dominantes da mídia, e da massiva influência de seus valores culturais na cultura de sociedades não dominantes, Silva (2012) entende que apesar de a influência ser bilateral, a posição de domínio da cultura predominante opera em posição vantajosa e pode ser danosa para culturas menos dominante, redefinindo seus traços característicos. No que diz respeito ao papel da língua inglesa na conjuntura do mundo atual Leffa (2003) afirma que, “O inglês deixa de transmitir uma única cultura para transmitir várias culturas, produzindo o fenômeno estranho de uma língua multilíngüe e multicultural. [grifo original]”. A partir de uma breve rememoração dos passos da civilização humana, podemos constatar que as influências culturais são inevitáveis, e que isso faz parte do desenvolvimento da humanidade. O mundo está em constante mudança, assim como os aspectos da atividade e da identidade do homem, como a língua e a cultura, e segundo Leffa, “Acaba-se usando o inglês não apenas para a aquisição do conhecimento científico mas também cultural.” (2003, p. 225-250) A identidade cultural não deve ser encarada como um conjunto de valores fixos e imutáveis, mesmo porque, historicamente ela sofreu muitas modificações. O desenvolvimento tecnológico e a globalização são fenômenos modernos que influenciam a cultura mundial, assim como a expansão do Império Romano, a Revolução Francesa, o Iluminismo, a Revolução Científica, entre outros, foram acontecimentos que influenciaram na cultura de sociedades antigas e fazem parte do desenvolvimento da humanidade. A disseminação da língua inglesa também faz parte da evolução e, assim como foi o latim na Antiguidade, o inglês está contribuindo com as necessidades de comunicação do mundo contemporâneo. De acordo com Leffa (2003, p. 225-250), “Ao difundir certos conhecimentos e culturas até então inacessíveis, o inglês tem globalizado o que muitas vezes é apenas local.” Em observação ao citado, podemos entender que ao termos uma língua dinâmica, capaz de disseminar conhecimento e relacionamento interpessoal a nível global, teremos muito mais a ganhar do que a perder. 5 A LÍNGUA INGLESA NO CURRÍCULO ESCOLAR A exigência do domínio da língua inglesa para o desenvolvimento profissional e ocupação de cargos dentro do mercado de trabalho brasileiro não é uma realidade inédita na história do país. Segundo Miranda (2015, p. 28) Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal, a Inglaterra, grande aliada portuguesa, foi beneficiada com taxas de importação bem mais baixas do que a de outros países. Essa condição vantajosa influenciou a vinda de muitos ingleses que, quando aqui se instalaram, passaram a dominar grande parte do comércio e indústria. De acordo com Almeida (1989, apud JUCÁ, 2010, p. 27-28), com o controle de grande parte do mercado de produtos e serviços na mão dos ingleses, muitas das ofertas de emprego tinham como requisito principal o domínio comunicativo na língua inglesa, principalmente para cargos especializados, tais como, engenheiros, enfermeiros e cargos técnicos em geral. Diante da influência do idioma na realidade comercial e social da colônia e antevendo a importância de seu conhecimento, tanto para o crescimento econômico do Brasil quanto para o desenvolvimento intelectual dos cidadãos, o Príncipe Regente, D. Pedro I, decretou em 22 de junho de 1809 o ensino da língua inglesa como parte integrante dos estudos da Cadeira de Humanidades do ensino público. E sendo outrosim tão geral, e notoriamente conhecida a necessidade, e utilidade das linguas franceza e ingleza, como aquellas que entre as línguas vivas teem o mais distinto logar, é de muito grande utilidade ao Estado, para augmento, e prosperidade da instrucção publica, que se crêe nesta capital uma cadeira de lingua franceza, e outra de ingleza. [grifo no original] (Câmara dos Deputados, p. 29) Apesar da língua inglesa ter sido oficialmente introduzida como parte integrante do ensino público, havia grande falta de professores especializados no ensino da língua, o que resultava no ensino direcionado somente a população privilegiada, entre esses estavam pessoas ligadas a corte e os economicamente afortunados. De acordo com Fogaça e Nunes (2007, apud BARREIROS, p. 25) “De uma época em que servia a uma classe dominante [...] até chegar aos nossos dias, [...] foram muitas as mudanças sociais [...] aprender língua estrangeira era algo reservado à minoria.” 6 Mesmo com a antevisão passada, da necessidade do ensino das línguas vivas para o progresso dos cidadãos e do país, e diante da realidade concreta do domínio territorial inglês e do crescente desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, aqueles, que em períodos anteriores a reforma de 1942, estabeleceram as diretrizes da educação no Brasil, não produziram consideráveis avanços no ensino da LI. Segundo Oliveira (2015 p. 30), “[...] havia sinalizações na legislação educacional para que houvesse avanços no ensino das línguas estrangeiras [...] Essa intenção era o ideal, mas não o real na educação brasileira.” Ainda de acordo com o autor, apesar das orientações sobre uma metodologia comunicativa terem sido sinalizadas na reforma de 1911, o ensino tradicional, focado na gramática normativa e tradução de textos, estava tão enraizado na cultura e desenvolvimento docente, que a mesma manteve-se predominante durante boa parte do século XX. Somente com a reforma de 1942, o Ministro da Educação Gustavo Capanema, fazendo alusão ao ensino vigente como tradicional e ultrapassado, redirecionou o ensino de línguas estrangeiras a um patamar mais moderno, voltado ao estudo da LE na própria LE, ou seja, no método ou abordagem direta na língua alvo. De acordo com Day (2012 p. 6), “Foi essa a reforma que maior importância atribuiu ao ensino de línguas estrangeiras no Brasil República.” A primeira LDB, lei no 4.024, publicada em 20 de dezembro de 1961, reorganizou o ensino básico e reduziu o ensino das LE. Segundo Leffa (1999 p. 13- 24) “[...] é o começo do fim dos anos dourados das línguas estrangeiras.” Enquanto em muitos países o ensino de línguas estrangeiras crescia, no Brasil esse ensino era diminuído, e acrescenta dizendo que, com a introdução do ensino profissionalizante na LDB de 1971 e a decisão de escolha das disciplinas mínimas a cargo do Conselho Federal de Educação, muitos foram os alunos que completaram o 1º e 2º graus que nunca tiveram aulas de língua estrangeira. Em posicionamento também crítico à LDB de 1971, concordamos com a posição do autor, por entendermos que a determinação privou alunos de conhecimentos mais amplos, que poderiam ter sido alcançados através do domínio linguístico de línguas modernas, e de ter instaurado, na mentalidade social e política de muitos cidadãos desse país, um valor ainda muito evidente, o da cultura operária, daquela que executa e não daquela que pensa e que planeja. Em 20 de dezembro de 1996 é aprovada a LDB, Lei no 9.394, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, por ter sido ele seu relator e um dos seus 7 principais formuladores. Considerada a mais significante lei já sancionada neste país, voltada a educação, menciona Severino (2014 p. 30), “Ao estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, a LDB [...] ganhou um porte de lei muito especial, razão pela qual tem alcance muito abrangente.” Continuando, o autor fala sobre a objetividade de seu conteúdode garantir a educação igualitária e de qualidade através de políticas educacionais, mas que, contudo seu texto é muito básico e impensado, motivo pelo qual vem sofrendo muitas alterações ao longo do tempo. Consideramos destacar aqui três grandes conquistas para a educação do país: o artigo que determina a porcentagem dos recursos financeiros, provindos do recolhimento de impostos, que devem ser destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino público; a modificação na lei que dá autonomia pedagógica às unidades de ensino no país para que, através da própria experiência profissional e convivência com os alunos, possam criar diferentes meios e métodos de educar; e “[...] a retomada da importância do ensino das línguas estrangeiras [...]” (OLIVEIRA, P. 34). Em 1997, com o objetivo de orientar a educação escolar, foram distribuídos os Parâmetros Curriculares Nacionais, documento composto por 10 textos voltados, cada um, a orientar uma área de ensino. De acordo com seu texto de introdução, a elaboração dos PCNs partiu do compromisso de atender as necessidades básicas e aumentar as oportunidades de aprendizagem para todos, assumido em 1990, durante a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia. O texto também fala sobre a posterior criação do Plano Decenal de Educação, conjunto de diretrizes políticas, elaboradas pelo Ministério da Educação, direcionadas a assegurar as necessidades básicas para aprendizagem no período de 10 anos. Além disso, o Plano Decenal de Educação “[...] afirma a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no campo curricular, capazes de orientar as ações educativas do ensino obrigatório [...]”. (BRASIL. PCN, p. 14). Os PCNs são pautados nos termos do Art. 9º, inciso IV da LDB, que determina que sua elaboração seja feita em conjunto com Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com o intuito de direcionar quanto aos conteúdos mínimos necessários à serem ministrados nas escolas, para que seja garantida a educação básica a todos. Segundo Leffa (1999 p. 13-24), “Amplos em seus objetivos, os parâmetros estão baseados no princípio da transversalidade, destacando o contexto maior em que deve estar inserido o ensino das línguas estrangeiras”, referindo-se à 8 abordagem de temas voltados a questões sociais, culturais, politicas e de interesse mundial. Contudo, o autor acrescenta que, apesar dos PCNs não recomendarem diretamente uma metodologia, o seu texto fere o Artigo 3º, Inciso III da LDB/96, que diz “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; [grifo original]” (LDB/96, p. 31), ao demarcar a prática do professor quando orienta que o ensino deva ser focado na leitura, e que o ensino da LE nas escolas nunca será estabelecido se estiver focado na leitura, pois não desperta o interesse do educando e “Muito breve o aluno provavelmente perceberá que para “falar" uma língua estrangeira, só freqüentando um “um curso de línguas. [grifo original]” (LEFFA, 1999, p. 13-24). Definitivamente a LDB no 9.394/96 representa uma conquista no ensino educacional brasileiro, apesar de ainda serem considerados poucos os investimentos estabelecidos por ela. Freitas, Pacifico e Tamboril (em Bueno, Pacifico e Amaral), mencionam que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançarmos uma educação de qualidade no Brasil, pois muitos são os problemas [...] “a precariedade das estruturas físicas das escolas, a escassez de financiamento público e a constante desvalorização do trabalho docente [...], entretanto, continuam os autores, nos últimos anos o tema ‘educação’ tem sido amplamente discutido em razão da repercussão dos resultados que avaliam sua qualidade, e que toda essa atenção tem contribuído com a elaboração de melhores politicas educacionais. (2014, p. 30-31) As leis que regulamentam o ensino de língua estrangeira nas escolas passaram por muitas mudanças a fim de garantir um ensino de qualidade, contudo, a realidade do ensino-aprendizagem nas salas de aula está distante de cumprir efetivamente o que a base curricular determina. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), “documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.” (BNCC, p. 7), é bastante clara na organização dos conteúdos a serem desenvolvidos pelos professores. Contudo, segundo Tonegutti (2016), essa organização já é do conhecimento docente, pois os conteúdos são ‘mais do mesmo’, ou seja, o que o BNCC apresenta são os mesmos conteúdos já estabelecidos dentro dos currículos dos Estados e Municípios, só que de uma forma mais ramificada e com o uso de diferentes expressões para preexistentes conceitos, “as duramente criticadas “competências e 9 habilidades” dos PCNEM passam a ser, com outra linguagem, “objetivos educacionais.” (ibidem, p. 4). Concordamos que novas regulamentações e orientações que direcionam o ensino não estão melhorando sua qualidade e sim subdividindo conteúdos já conhecidos e trabalhados, de acordo com o possível, pelos professores, e que os objetivos para melhorar a qualidade do ensino- aprendizagem devem estar voltados para a realidade encontrada na escola. A baixa remuneração e desvalorização dos profissionais de educação causa o desinteresse pela profissão e, consequentemente, a escassez de profissionais competentes, a superlotação das salas de aula, as condições precárias da maioria das instituições públicas, a insuficiência de material didático, entre outras coisas, são o que realmente impossibilitam o ensino de qualidade. O ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA NAS ESCOLAS Deve-se considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras (carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido a giz e livro didático etc.) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas. Assim, o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes. (PCN - LÍNGUA ESTRANGEIRA, p.21) Iniciamos esse capítulo com o paragrafo dos PCNs que recomenda o ensino da língua estrangeira com o foco na leitura fundamentado no retrato, generalizado, da condição que se apresenta o ensino nas escolas públicas do Brasil, para dar início a análise e compreensão do conhecimento necessário ao aluno para atingir os objetivos da leitura. De acordo com Leffa, “O que caracteriza a leitura é a linearidade, representada por um movimento uniforme [...] sem recuos e sem saltos para a frente.” (Leffa & Pereira 1999, p. 19) O autor explica que o reconhecimento das palavras envolve um processo de decodificação do código escrito para o código oral ou imagem do significado, que é básico e por isso fundamental para a formação do leitor. Dentro das necessidades exigidas para a compreensão de textos estão também outros elementos relevantes, como conhecimento de mundo, do contexto, o léxico e o conhecimento linguístico da língua. “[...] quantas relações intra e 10 intertextuais o leitor precisa fazer, além do conhecimento de vocabulário, para entender e apreciar o significado de um cartaz “Prisioneiros da Balança; uma comédia de peso”. (ibid, p. 23) Segundo White (2003), a dificuldade de aquisição da L2 ocorre quando alunos são subdeterminados a comparações, de propriedades abstratas, complexas e sutis, entre a gramática da L1 e L2, como exemplo, características de ‘pronomes abertos ou nulos’ em línguas. Mesmo reconhecendo que comparações nesse sentido são inevitáveis aos aprendizes da L2, a autora aconselha queas mesmas sejam minimizadas, pois exercem um efeito negativo no aprendizado. Sendo assim, a mesma defende que a mais indicada forma de introdução da L2 seria através de conhecimentos linguísticos sutis e abstratos, sem definições, conceitos, instruções explícitas (exceto linguística), ou regras gerais de gramática. O ensino da língua inglesa que, obrigatoriamente, deve ser iniciado a partir do 6º ano do ensino fundamental, é fundamentalmente pautado na gramática normativa da língua. Apesar das orientações dos PCNs Línguas Estrangeiras não especificarem o ensino da gramática normativa da língua, o seu texto, que direciona ao conhecimento discursivo, textual e pautado no conhecimento da L1, não sinaliza outro caminho, que não este, para que o professor atenda as orientações deste documento. Destacamos abaixo o paragrafo que orienta sobre os conteúdos propostos. O ponto de partida para o tratamento dos conteúdos pauta-se pelo pré-conhecimento que o aluno tem de sua língua materna; portanto, o critério principal de gradação das unidades é a familiaridade que os alunos têm com os conteúdos indicados. Isso quer dizer que o critério de gradação e adequação dos conteúdos deve considerar o conhecimento do aluno em relação à sua língua materna e ao conhecimento de mundo, para que a aprendizagem seja significativa para o aluno. Esse seqüenciamento dos conteúdos é uma tentativa de ajustar o ensino às necessidades e possibilidades de aprendizagem do aluno. (PCNs Língua Estrangeira, p. 71) Acreditamos que além dos conhecimentos preexistentes da L1 atuarem de forma dominante no input da L2, causando interferências negativas que dificultam o aprendizado, fatores voltados a realidade do ensino escolar, principalmente nas unidades públicas, tais como classes superlotadas, carência de materiais didáticos e, principalmente, a inexistente base do conhecimento linguístico e de vocabulário, 11 dificultam ainda mais o aprendizado, pois contribuem com o desinteresse do educando. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da língua inglesa não é uma exigência recente dentro no currículo escolar brasileiro. Contudo, apesar de historicamente fazer parte da grade curricular de estudos, o ensino atual dessa disciplina, principalmente nas redes de ensino público, ainda não possibilita aos estudantes a fluência no idioma. Países como o Brasil, que não investiram seriamente no ensino da língua inglesa nos primeiros anos escolares nas redes públicas de ensino, tem hoje, entre seus cidadãos, um nível muito baixo de domínio do idioma. Segundo pesquisas realizadas pelo British Council (2014), menos de 5% da população brasileira é fluente na língua inglesa, e segundo a análise do índice de proficiência mundial, realizada pelo Education First, entre 72 países avaliados o Brasil ocupa 40ª posição, que significa um grau de proficiência baixo. No Brasil, a lei da educação determina que a obrigatoriedade do ensino de língua inglesa aconteça a partir do ensino fundamental II, já os conhecimentos de matemática, história, português, entre outras, começam nos anos iniciais. Quando o aluno é inserido no ensino fundamental II, o desenvolvimento nas disciplinas que ele teve acesso durante os anos escolares iniciais atropelam covardemente as expectativas com relação ao desenvolvimento da língua inglesa, tendo em vista que, sem terem o tido acesso ao ensino básico de inglês, começam o estudo da disciplina precisando aprender a falar, ler, escrever, conhecer regras gramaticais e a história cultural dos povos que a usam esta língua. Desses alunos, é usurpada a possibilidade de cometer erros, pois o nível de conhecimento linguístico e gramático exigido pela disciplina de inglês dentro do ensino fundamental II é o mesmo que exige a disciplina de português, a qual tiveram pelo menos 12 anos de experiência dentro do contexto linguístico e 5 anos de preparo formal durante o ensino anterior (Fundamental I). Estudiosos concordam que a aquisição da L2 tem um fator mais permanente quando o aprendizado ocorre nos primeiros anos da infância, pelo fato desse aprendizado acontecer dentro de um contexto natural e prazeroso e não por meio 12 pressão e exigências. O aluno que desde os anos escolares iniciais é exposto a segunda língua como forma de aquisição e não de ensino, consequentemente terá melhor domínio linguístico da mesma, pois a barreira, ou seja, o medo de se expor ao se expressar de forma errada é quase que nulo. A adequação ao segmento linguístico da L2 pelas crianças é mais fácil, pois questionamentos fundamentados na comparação com a gramática dominante (L1), são quase que inexistentes, ao contrário dos mais adultos que, já dotados de conhecimentos gramaticais da L1, persistem em comparar as línguas. Também durante a infância, o processo de correção dos erros cometidos na fala é facilmente absorvido, o que ocorre de maneira oposta com pessoas mais adultas, que por terem medo de se expor ao erro, muitas vezes, inibem a fala. De acordo com o MEC (2014), um dos objetivos da educação básica é “[…] fornecer os meios para que os estudantes progridam em estudos posteriores […]”. Esse objetivo é trabalhado para todas as disciplinas, com exceção da língua inglesa. Assim como é construído o conhecimento base para outras disciplinas escolares, o ensino da língua inglesa também precisa desse alicerce. O aluno antes de avançar para segundo nível do fundamental, precisa estar familiarizado com a língua inglesa, precisa cometer erros para encontrar os acertos, precisa aprender a língua sem pressão, de forma natural e espontânea, para então depois, no ensino fundamental II, poderem aprimorar seus conhecimentos estudando então a gramática, as definições de verbo, adjetivo, artigo, preposição, enfim, aprender a norma da língua e seu contexto formal. Para isso, Governos e sociedade precisam trabalhar juntos para elevar a qualidade de ensino da língua inglesa nas escolas de ensino regular. Por muitos anos o conhecimento da língua inglesa no Brasil era associado a classe mais privilegiada e para a maioria da população dominar essa língua não apresentava muita diferença no desenvolvimento pessoal e profissional do individuo, por isso muitos não viam muitas vantagens no investimento financeiro de estudar uma língua que talvez só viesse a ser utilizada para viagens ou profissionalização específica. O que poucos previam é que a chegada da internet revolucionaria os meios de comunicação e tornaria o mercado profissional tão competitivo ao ponto de tornar o domínio desta língua um pré-requisito, tanto para o exercício dos mais simples cargos como para a continuidade de estudos de muitos campos do conhecimento. 13 Mesmo diante da realidade do mundo contemporâneo, o ensino da língua inglesa nas escolas regulares ainda não conquistou um lugar de referência para capacitar o aluno comunicativamente na língua. A lei que determina o ensino dessa língua nas escolas de ensino regular ignorou a importância de seu domínio para formação de profissionais cada vez mais qualificados, pois não acompanhou os avanços tecnológicos e econômicos mundiais. Nos dias atuais, dentro de um mercado capitalista cada dia mais competitivo, dominar a língua inglesa não é mais uma exigência somente para ocupar cargos mais elevados, mas muitas vezes uma necessidade para conseguir uma vaga até mesmo em cargos diversos, como porteiros, garçons, motoristas, etc., e aqueles que desejam dominar esse idioma ainda precisam de investir tempo e recursos financeiros em cursos ou profissionais de ensino para alcançar o domínio da língua e a oportunidade de um emprego. O conteúdo deste artigo tem como finalidade levar de forma ampla o leitor a analisar e refletir sobre a importância do ensino da língua inglesa nos primeiros anos do ensino escolar, estimular maiores discussões,interesses e atitudes voltadas a construção de um ensino básico dentro das escolas de ensino regular, que desenvolva competência linguística do aluno em língua inglesa como base para que o desenvolvimento do conhecimento gramático e formal da língua em níveis subsequentes sejam significativos e permanentes. REFERÊNCIAS BARREIROS, Renata Pontes Pereira. Professores de Língua Inglesa Considerados Marcantes: Entre o Desprestígio da Disciplina e a Relação com o Saber. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. UFRJ. 2013. Disponível em: <http://www.educacao.ufrj.br/drenatapontes.pdf>. Acesso em 25 Ago. 2017. BRASIL, Câmara dos Deputados. Collecção das Leis do Brazil de 1809: Parte 2. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. 1891. 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