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Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 76 Terapêutica das disfunções temporomandibulares pela equipe multidisciplinar: a atuação adjunta da fonoaudiologia 1Antônio Marcos de Souza PRATES 2Rachel Silva LIMA 3Karolina Nunes Freitas MORAIS 4Edilaine Soares SANTOS 5Fabiele Perpétua Chagas Sabatim BARROS Recebido: setembro 2020 Revisado e aceito: novembro 2020 Resumo Constituídas por características que denotam sua etiologia multifatorial, as desordens do complexo craniomandibular se desenvolvem através de processos que prejudicam as estruturas que compõem o sistema estomatognático, principalmente a articulação temporomandibular, interferindo no encadeamento correto de todo seu arcabouço. Dessa maneira, o envolvimento de uma equipe multiprofissional faz-se necessário e, inserido neste contexto, está o profissional fonoaudiólogo que possui significativa área de atuação. Objetivo: este trabalho propôs delinear uma revisão bibliográfica para verificar a atuação da fonoaudiologia e a função do fonoaudiólogo no tratamento das disfunções temporomandibulares. Metodologia: para a realização do estudo, foram selecionados 23 artigos publicados em português e/ou inglês durante os anos de 2005 a 2020, nas seguintes bases de dados: PubMed/MEDLINE, Scielo e Lilacs. Por fim, para auxiliar no desenvolvimento do assunto, adicionou-se, no estudo, a base de dados do Google Acadêmico. Resultados: o tratamento fonoaudiológico aborda práticas conservadoras no manejo das disfunções temporomandibulares, mediante a atuação profissional capaz de modular e retirar hábitos deletérios do paciente, além de propagar exercícios miofuncionais, de relaxamento da musculatura e termoterapia, que visem, sobretudo, o reequilíbrio das estruturas acometidas e a redução de sobrecargas na musculatura. Conclusão: notou-se, 1 Graduando em Odontologia pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. E-mail: prates.ams@hotmail.com 2 Graduanda em Odontologia pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. E-mail: rachel_silva_lima@hotmail.com 3 Graduanda em Odontologia pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. E-mail: moraiskarol@yahoo.com.br 4 Graduanda em Odontologia pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. E-mail: dilaine_soares@hotmail.com 5 Graduanda em Odontologia pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. E-mail: fabielesabatin@hotmail.com Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 77 portanto, que a fonoaudiologia exerce um papel estritamente imprescindível na detecção de hábitos e funções que prejudicam a articulação temporomandibular. Dessarte, o engajamento do fonoaudiólogo na equipe para o tratamento destas disfunções torna-se de grande valia no contexto multiprofissional, assim, assegurando o suporte necessário durante toda a terapia empregada. Palavras-chave: Audição. Fonoaudiologia. Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular. Transtornos da Articulação. Therapy of temporomandibular joint disorders by the multidisciplinary team: the adjunct role of speech therapy Abstract Constituted by characteristics that denote its multifactorial etiology, the disorders of the craniomandibular complex develop through processes that damage the structures that make up the stomatognathic system, especially the temporomandibular joint, interfering in the correct chaining of its entire framework. Thus, a multidisciplinary team is necessary, including the speech therapist who has a significant area of expertise. Aim: this work proposed to outline a bibliographic review to verify the role of speech therapists and the role of speech therapists in the treatment of temporomandibular joint disorders. Methodology: were used in this study, 23 articles published in Portuguese and/or English during the years 2005 to 2020 were selected in the following databases: PubMed/MEDLINE, Scielo and Lilacs. Finally, to assist in the development of the subject, the Google Scholar database was added to the study. Results: the speech therapy treatment addresses conservative practices in the management of temporomandibular joint disorders, through its performance capable of removing deleterious habits from the patient, in addition to propagating myofunctional exercises, muscle relaxation and thermotherapy, aimed at rebalancing the affected structures and reducing overloads in the musculature. Conclusion: it was noted, therefore, that speech therapy plays an essential role in detecting habits and functions that impair the temporomandibular joint. Thus, the engagement of the speech therapist in the team for the Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 78 treatment of these disorders is of great value to ensure the necessary support during the therapy employed. Keywords: Hearing. Speech therapy. Temporomandibular Joint Dysfunction Syndrome. Joint Disorders. Introdução O sistema estomatognático constitui-se da junção de elementos estruturais que, em conjunto com a articulação temporomandibular (ATM), possibilitam as funções corretas da deglutição, mastigação e fonação, causando influência até na estabilidade da postura do corpo1. A disfunção temporomandibular (DTM) é uma expressão que referencia os efeitos dos transtornos que ocorrem na ATM, que abarca desde os músculos da mastigação até o arranjo das estruturas agregadas2. Dessa maneira, devido a essas características peculiares, a DTM demonstra uma etiologia multifatorial, com sinais e sintomas que envolvem a limitação das movimentações craniomandibulares, sintomas à palpação dos músculos, ruídos na ATM, dores na face, na região da cabeça, nas articulações temporomandibulares e/ou nos músculos da mastigação, sendo a causa mais comum da dor de origem não dentária identificada no consultório odontológico2. Apesar de que a etiologia da DTM seja multifatorial, algumas razões podem ser apontadas, tais como: hábitos deletérios, fatores psíquicos, lesões degenerativas e/ou traumáticas da ATM, inadequações na oclusão, problemas de origem esquelética e problemas anatômicos, além de condições sistêmicas, sendo este um tema rodeado de controvérsias1-4. Essas condições relatadas fazem com que a etiologia da disfunção temporomandibular seja um grande desafio no processo de diagnóstico, visto que as manifestações se demonstram análogas tanto anatomicamente, como funcionalmente5. Vale destacar que pressões exercidas pela língua durante a fonética podem ser potencialmente danosas à oclusão dentária e ao equilíbrio da ATM, ações estas que são capazes de serem trabalhadas pela fonoaudiologia6. O fato de a DTM possuir uma etiologia multifatorial implica que o seu tratamento seja multidisciplinar, condição Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 79 exclusiva na determinação e junção de terapias a serem empregadas em cada caso específico2. Hernandes et al.7 relataram que a equipe para o tratamento da DTM deve compor-se de cirurgião- dentista, psicólogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo. Estes profissionais devem ser responsáveis por devolver as funções que foram atingidas,bem como atuar na diminuição da sintomatologia dolorosa, reduzir cargas na musculatura, promover equilíbrios dos músculos com a oclusão, além de intervir para o decréscimo dos níveis de ansiedade e de estresse7. A clínica fonoaudiológica, com frequência, é procurada por pacientes que a interpelam com queixas de sintomatologias auditivas, compreendidas entre otalgias, zumbidos e vertigem, somado a outros diversos sintomas8. Nesse aspecto, o profissional fonoaudiólogo apresenta relevância no complemento do tratamento da DTM, além do odontológico, uma vez que a terapia fonoaudiológica é fundamental para ajustar a musculatura e a mobilidade da mandíbula, promovendo o equilíbrio e estabilidade dessas estruturas durante o desempenho das funções mastigatórias, de deglutição e fonética2. Da Silva considera que cabe ao fonoaudiólogo constatar possíveis impactos da DTM na fonética das pessoas diagnosticadas com a disfunção6. De outra maneira, Cassol et al.1 destacam que compete ao fonoaudiólogo verificar alguns quesitos, tais como os posturais, além do sistema estomatognático somado à tonicidade, motricidade e mobilidade dos músculos orofaciais, como também examinar a habilidade da voz e prováveis acometimentos da audição, que frequentemente se associam à DTM. A função do fonoaudiólogo é, em seu campo de atuação, detectar interferências que prejudicam a ATM, aplicando práticas que visem o restabelecimento de funcionalidades que se tornaram incorretas como a respiração pelo nariz com a boca aberta e a posição inadequada da língua entre os dentes, promovendo o progresso do quadro do paciente9. Além do mais, este profissional garante assistência na distensão de estruturas sobrecarregadas e na instalação de hábitos saudáveis para o funcionamento ideal do sistema estomatognático, ajustando a musculatura em questão10. Diante dos fatos apresentados, aliados às lacunas de informação, este estudo propôs, mediante a uma revisão de literatura, analisar a importância e a atuação do fonoaudiólogo no tratamento Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 80 das disfunções temporomandibulares, assim como determinar os eventos que permeiam o multiprofissionalismo na abordagem terapêutica da DTM. Materiais e Métodos O presente estudo trata-se de uma revisão literária permeada pelo resultado obtido por pesquisas em bases de dados científicas. Inicialmente, as bases de dados eleitas para selecionar os artigos foram três: PubMed/MEDLINE, Scielo e Lilacs. Posteriormente, devido aos resultados encontrados e a pequena demanda de artigos que exploravam o assunto de maneira adequada, foi adotada uma quarta base de dados, dessa vez o Google Acadêmico. A coleta dos dados foi feita de maneira a separar artigos publicados entre os anos 2005 a 2020, sendo os critérios de inclusão a abordagem concisa da função do fonoaudiólogo no tratamento da DTM, artigos publicados em português e/ou inglês, procurados através dos seguintes descritores: Audição, Fonoaudiologia, Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular e Transtornos da Articulação. Realizaram- se os cruzamentos entre os termos e os resultados estão descritos no quadro 1 e na figura 1, totalizando 23 estudos. Por outro lado, compuseram-se os critérios de exclusão os artigos publicados anteriormente ao ano 2005, artigos publicados em espanhol, os que não correspondiam à questão apresentada e os que não continham o texto completo para análise. Quadro 1 - Fluxograma revelando o resultado dos cruzamentos praticados em bases de dados científicas. Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 81 Obtidos os dados do quadro 1, após a investigação na base de dados do Google Acadêmico, os resultados expressam-se abaixo pela figura 1. Figura 1 - Fluxograma da pesquisa e seleção de mais artigos para elaboração da revisão de literatura. Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 82 Revisão de literatura Avaliação fonoaudiológica Ao discorrer sobre a abordagem multidisciplinar das disfunções temporomandibulares é possível averiguar a existência de diversas terapias e protocolos aplicados por diferentes profissionais, inclusive na ciência da Fonoaudiologia1. A Fonoaudiologia é atuante na comunicação do ser humano, por isso explora áreas que possibilita tal função como o sistema estomatognático1. Além de possibilitar a adequação de funções fisiológicas como falar, mastigar, deglutir e respirar, o fonoaudiólogo também analisa a existência de problemas auditivos, auxilia na redução da dor e mudanças de hábitos deletérios que possam ser prevalentes em pacientes com DTM2. Com base no conteúdo disposto no estudo realizado por César, a atuação do fonoaudiólogo no tratamento das DTMs inicia-se por meio de uma anamnese situando o profissional a respeito do estado inicial no qual o paciente se encontra e, logo após essa fase, dá-se início à avaliação fonoaudiológica propriamente dita11. Concernente com a abordagem apresentada pelo autor, essa etapa consiste na inspeção visual das estruturas que compõem o sistema estomatognático como os lábios, língua e bochechas, bem como a verificação de sua tonicidade e mobilidade11. A execução das funções do referido sistema como a fala, a mastigação, a deglutição, respiração, dinâmica da oclusão e mobilidade mandibular, assim como a verificação dos sintomas referidos na anamnese também são analisados11-13. No quesito fala, a observação, normalmente, se dá de forma espontânea durante o ato da realização da anamnese e avaliação física do paciente. Já em casos de situação dirigida, utiliza-se de artefatos como a imitação, evocação a partir de figuras e da leitura de textos11,14. Com relação à mastigação, através da palpação, verifica-se que o tônus do feixe superficial do músculo masseter e do temporal, antes e durante a realização da mesma. Analisa-se a contração destes músculos durante o ato mastigatório, averiguando possíveis simetrias e, de acordo com a localização do alimento, é possível saber se a mastigação é unilateral crônica, preferencialmente unilateral, bilateral alternado ou bilateral simultâneo1. Em ambas as situações, a abertura bucal deve ser de 1/3 da abertura máxima11. Nos pacientes portadores de Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 83 DTM, a respiração e a voz, normalmente são, respectivamente, nasal diurna e com a presença de alterações vocais, principalmente de ordem funcional11,15,16. Em se tratando dos aspectos analisados pelos profissionais fonoaudiólogos nas estruturas que compõem o sistema estomatognático, os lábios são avaliados espontaneamente, procurando a presença de marcas, feridas, cicatrizes, saliva; se são ou não ressecados; a simetria, o formato, o volume; frênulos labiais e as comissuras labiais. Por palpação, os lábios são observados pela tonicidade11. Por outro lado, a língua, através de uma inspeção visual, nota-se o seu volume e se a mesma é compatível coma cavidade bucal, além de constatar sua posição (comprimida, interposta ou preenchendo as áreas desdentadas), verificando também a situação do freio lingual11. Finalmente, as bochechas são avaliadas em três momentos. A primeira, mediante a inspeção visual externa, analisa-se se há assimetria entre as mesmas. A segunda, por uma avaliação visual interna, investiga se está presente a linha alba, sucção das bochechas em direção as faces oclusais ou arqueamento/depressão destas. Por fim, a terceira, por palpação, examina-se o tônus da bochecha (flácidas, rígidas ou normotônicas)11. Pertinente à deglutição, esta é averiguada por meio da ingestão de líquidos que possibilita a análise da posição e dos movimentos executados pela língua, se há a participação da musculatura compensatória (labial, mentual, inclinação da cabeça para frente entre outros) e também quais os movimentos mandibulares realizados durante esse ato11. A respeito da dinâmica da oclusão e a mobilidade mandibular, embora se trate de uma competência destinada ao cirurgião-dentista, o fonoaudiólogo pode observar se há ou não alguma alteração oclusal para que assim possa encaminhar o paciente para o especialista quando as mesmas forem constatadas11. O conhecimento do fonoaudiólogo a respeito dessa disfunção deve ser vasto para que assim o profissional consiga propor ao paciente um plano de tratamento preciso baseado num correto diagnóstico. Dessa forma, o fonoaudiólogo irá atuar somente em casos de real necessidade, respeitando cada momento do tratamento odontológico13. À vista disso, como já explanado, o objetivo principal da terapia Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 84 fonoaudiológica consiste em promover uma melhorara na tonicidade e na mobilidade da musculatura mastigatória e também facial, assim como das funções respiratórias, fonéticas, mastigatórias e da deglutição2,11,17. Em consonância com Berreta et al.2 e Barreto et al.13, ambos ratificam que a terapia fonoaudiológica aborda práticas conservadoras no tratamento da DTM, dentre elas encontram-se os exercícios miofuncionais orofaciais que possuem como finalidade equilibrar a musculatura orofacial e, assim, favorecer a execução das funções orais. Assim sendo, na revisão sistemática realizada por Sassi et al.12 os autores concluíram que o aspecto diferencial entre o tratamento fonoaudiológico com as demais áreas é que além de proporcionar a redução da dor, a mesma também enfatiza a necessidade da reabilitação das funções orofaciais, evidenciando que estes exercícios só são realizados pelos profissionais dessa área. Planejamento terapêutico O planejamento terapêutico das DTMs na fonoaudiologia irá variar conforme as alterações observadas e o local da intervenção. Os seus principais objetivos são: diminuir a carga sobre a articulação temporomandibular e musculatura, amenizar a dor e proporcionar equilíbrio oclusal e neuromuscular18,19. Neste contexto, os alvos da intervenção podem diversificar entre funções e estruturas anatômicas, como: dor, músculos mastigatórios, articulação temporomandibular, língua, fala, mastigação, deglutição e repouso (Quadro 2)19. Quadro 2 - Planejamento fonoaudiológico na abordagem das disfunções temporomandibulares. Local intervenção Objetivo Conduta Articulação temporomandibular Lubrificar Exercícios e placa oclusal. Músculos mastigatórios Fortalecer e coordenar movimentos mandibulares Exercícios mandibulares. Dor Diminuição Orientação de automanuseio e termoterapia. Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 85 Local intervenção Objetivo Conduta Fala Suprimir problemas fonéticos e desvio da mandíbula Exercícios de língua, mandíbula e treino articulatório. Língua Coordenar Incentivar a sensibilidade, aumentar a tensão, mobilidade e auxiliar na posição habitual. Repouso Conservação do espaço de pronúncia e evitar o apertamento dentário Conscientização e relaxamento, posicionar adequadamente a língua, fortalecer os músculos elevadores da mandíbula. Mastigação Equilibrar Informar e educar o modo utilizado, a fim de estabelecer a função sem dor e sem agravamento do problema. Deglutição Eliminar compensações Treino da deglutição e exercícios de língua. Fonte: Distúrbio miofuncional orofacial, um fator complicador no manuseio da disfunção temporomandibular dolorosa. São Paulo: Br J Pain; 2018. Adaptado. No que tange a presença de maloclusões em pacientes portadores de DTM, o fonoaudiólogo atuará nas funções fisiológicas afetadas, como deglutição, fonação e mastigação, ressaltando, sempre, a parceria com o ortodontista. Já quanto ao paciente com bruxismo, a abordagem possuirá como fim o relaxamento da musculatura facial20. Concernente à terapia miofuncional orofacial, estudos indicam que seu emprego resulta em melhoras expressivas de sintomas otológicos, dor, assimetria muscular, funções orofaciais e mobilidade da mandíbula12. Neste âmbito, quanto à dor, o uso concomitante do laser e a terapia miofuncional se mostram mais eficientes em curto período de uso21. Ainda no cenário do emprego dos exercícios fonoaudiológicos nas DTMs, segundo Maluf et al.22 a junção do mesmo com placa oclusal pode ser feita para tratamento de cefaleia associada a DTM, sensibilidade à palpação e em casos de deslocamento anterior do disco18. Em síntese, vale salientar que a abordagem terapêutica combinada, de forma multidisciplinar, proporciona melhores resultados que a isolada. Terapia fonoaudiológica Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 86 A terapia fonoaudiológica, como forma de tratamento das disfunções temporomandibulares, permite que os exercícios realizados no paciente possam relaxar os músculos, recuperando o tônus e a função, através do aquecimento muscular prévio. Os exercícios devem ser feitos de maneira sincronizada, separando-os em etapas, para que durante a execução destes não haja estímulos e percepções dolorosas. Sendo assim, a amplitude, velocidade e frequência das atividades devem respeitar os limites impostos para cada paciente, devido aos casos específicos e diferenças no tratamento individualizado23. No que se refere à termoterapia, tal manobra consiste na aplicabilidade de calor para que haja uma maior circulação sanguínea na região em que for aplicado, mediante o fenômeno da vasodilatação. Nesse sentido, pela vasodilatação ocorrida na área, há o aumento do fluxo sanguíneo circulante que, como consequência, proporciona maior oxigenação. Logo, o efeito da termoterapia suscita o conforto rápido do paciente aliado ao seu poder relaxante e analgésico23. Além disso, a realização de massagens, seja ela suave ou profunda, contribui na atenuação da sensação de dor, que proporciona aumento do fluxo sanguíneo e melhor oxigenação, além de eliminar resíduos, mobilizar tecidos musculares e reduzir pontos de tensão muscular23. Segundo dados bibliográficos, a terapia fonoaudiológica, para surtir efeitos desejáveis, deve seguir uma sequência que já é consistente na literatura, e envolve os seguintes passos clínicos: avaliação inicial; orientações e retirada de hábitos; termoterapia;massagens; relaxamento da musculatura cervical; terapia miofuncional orofacial; trabalho específico das ATMs; e, por fim, a terapia das funções estomatognáticas2. Quadro 3 - Terapias fonoaudiológicas básicas. Terapia Ações realizadas Orientações/retirada de hábitos Esclarecimentos a respeito da interpretação dos dados. Orientações ante a inclusão de alimentos nutritivos à alimentação, adequação da postura corporal, instalação de um padrão respiratório costodia-fragmático e nasal possuindo como objetivo controlar/diminuir a dor orofacial. Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 87 Terapia Ações realizadas Termoterapia, massagens e relaxamento da musculatura cervical Aplicação de calor úmido (com cerca de 45°C) por 25 minutos nos músculos faciais e logo após podem ser realizar massagens, em movimentos circulares, de alongamento muscular ou através de pequenos toques rápidos com as pontas dos dedos na musculatura facial e também cervical. Na região de ombros pode-se lançar mão do amassamento feito com a palma das mãos. Fonte: Atuação fonoaudiológica nas disfunções temporomandibulares: um relato de experiência. Extensio: Rev Eletr de Extensão; 2018. Adaptado. Conclusão Conforme observado ao longo do estudo, as disfunções da ATM requerem tratamento com uma equipe multiprofissional, portanto, o profissional fonoaudiólogo tem grande contribuição para o sucesso no tratamento dessas desordens, pois possui como área de manejo as diversas estruturas que compõem o sistema estomatognático. A atuação do fonoaudiólogo nesses casos deve ser realizada em conjunto com diversos outros profissionais, incluindo cirurgiões-dentistas, fisioterapeutas e psicólogos. Na DTM esse profissional é responsável por detectar hábitos ou funções que prejudicam a ATM, orientando técnicas conservadoras, ou seja, não invasivas, para o tratamento dessas desordens, contribuindo para equilíbrio das estruturas envolvidas, auxiliando na reabilitação e, consequentemente, na diminuição de estímulos dolorosos no paciente. Referências 1. Cassol K, Lopes AC, Bozza A. Achados audiológicos em portadores de zumbido subjetivo associado a DTM. Distúrb Comun. 2019; 31(2):276-84. 2. Berretta F, Freitas MS, Kuntze MM, De Souza BDM, Porporatti AL, Korb L, et al. Atuação fonoaudiológica nas disfunções temporomandibulares: um relato de experiência. Extensio: R Eletr de Extensão. 2018; 15(28):182- 92. 3. Aquino HSSM, Benevides SD, Da Silva TPS. Identificação da disfunção temporomandibular (DTM) em usuários de dispositivo de proteção Revista Eletrônica de Odontologia e Clínica Integrada da UNIRP – Universitas ISSN 2527-2071 Prates AMS, Lima RS, Morais KNF, Santos ES, Barros FPCS. Rev Eletr Odontol Clin Integr UNIRP – Universitas. 2020 Jul/Dez; 4(2):76-90. 88 auditiva individual (DPAI). Rev Cefac. 2011; 13(5)801-12. 4. Nogueira MF. Disfunção da articulação temporomandibular (DTM) e mastigação: uma relação de causa e efeito [monografia]. Recife: Centro de especialização em Fonoaudiologia Clínica – Motricidade Oral, 2001. 5. Maffei C, Mello MM, Biase NG, Pasetti L, Camargo PAM, Silvério KCA, et al. Videofluoroscopic evaluation of mastication and swallowing in individuals with TMD. Braz J Otorhinolaryngol. 2012; 78(4):24-8. 6. Da Silva TL. A influência das disfunções temporomandibulares (DTM) na produção da fala [trabalho de conclusão de curso]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014. 7. Hernandes NCJ, Ribeiro LL, Gomes CF, Da Silva AP, Dias VF. Atuação fonoaudiológica em disfunção temporomandibular em dois casos: análise comparativa da terapia tradicional e o uso da bandagem terapêutica associada. Dis Comun. 2017 Jun; 29(2):251-61. 8. 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