Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ CAMILO Sobreira de SANTANA GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS SANDRO Luciano CARON de Moraes - DPF SECRETÁRIO DA SSPDS ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE Antônio CLAIRTON Alves de Abreu – CEL PM DIRETOR-GERAL DA AESP|CE NARTAN da Costa Andrade - DPC DIRETOR DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE HUMBERTO Rodrigues Dias – CEL BM COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE José ROBERTO de Moura Correia – MAJ PM COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – CAP PM SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE CURSO DE HABILITAÇÃO A SARGENTO POLICIAL MILITAR - CHS PM/2021 DISCIPLINA ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA FRENTE A GRUPOS VULNERÁVIES CONTEUDISTA José Messias Mendes Freitas FORMATAÇÃO JOELSON Pimentel da Silva – 2º SGT PM • 2021 • SUMÁRIO ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA FRENTE A GRUPOS VULNERÁVEIS 1 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 2. POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS E A BUSCA PELA EQUIDADE .............................................. 3 3. O ESTADO LIBERAL ............................................................................................................ 4 4. O ESTADO SOCIAL .............................................................................................................. 4 5. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ............................................................................. 5 6. AÇÕES AFIRMATIVAS ......................................................................................................... 6 6.1 Teoria Separate but equal (Separado, mas igual) ......................................................... 6 6.2 Teoria do Treatment as an equal e as Ações Afirmativas. ............................................ 6 6.3 Ações Afirmativas no Brasil .......................................................................................... 7 7. AS MINORIAS E OS GRUPOS VULNERÀVEIS ...................................................................... 9 7.1 As Minorias ................................................................................................................... 9 7.2 Os Grupos Vulneráveis ................................................................................................ 12 8. A ATUAÇÃO POLICIAL OU BOMBEIRO FRENTE ÀS MINORIAS E AOS GRUPOS VULNERÁVEIS ...................................................................................................................... 13 9. GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS MAIS PRESENTES NAS AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA .............................................................................................................................. 15 9.1 Mulheres ..................................................................................................................... 15 9.2 Crianças e Adolescentes ............................................................................................. 18 9.3 Igualdade Racial .......................................................................................................... 19 9.4 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (LGBTI) ...................... 20 9.5 Pessoa Idosa ............................................................................................................... 26 9.6 Pessoas Portadoras de Deficiência Física ................................................................... 27 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 29 1 ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA FRENTE A GRUPOS VULNERÁVEIS 1. INTRODUÇÃO A Constituição Brasileira de 1988 consagra em art. 5º, caput, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Desde então, é possível concluir que o Estado assegurou o que poderemos chamar de igualdade formal, ao inserir no seu ordenamento jurídico os comandos legais que vinculam todas as demais relações com os seus cidadãos. Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferente quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. (Boaventura de Sousa Santos) Todavia, embora a conquista da igualdade formal represente um passo importante para o processo emancipatório das mais distintas relações entre as pessoas físicas, jurídicas e políticas; os meros ritos legislativos não garantem o exercício e gozo das promessas abstratas das Leis. Há sempre um caminho a ser construído entre a previsão legal e aquilo que realmente se torna real na vida das pessoas. De fato, não há dúvidas de que no plano formal a legislação nacional e os tratados e convenções internacionais ratificados pelo governo brasileiro apresentam avanços quanto à institucionalização de direitos, pautados nos princípios da universalidade e da igualdade. Pouco desses avanços, no entanto, têm-se tornado realidade na vida de milhares de homens e mulheres, ampliando a distância entre o legal e o real. (PINHEIRO, 2012, p.76). É a isonomia material que de fato irá se apresentar como algo realizável na vida em sociedade. Não basta a promulgação de normas que assegurem relações iguais entre os diferentes. Essas diferenças precisam ser substancialmente percebidas e realizadas nas mais diversas relações da vida em sociedade. 2 As pessoas não são iguais. Homens, mulheres, altos, baixos, negros, brancos, religiosos, ateus, ricos, pobres, gordos, magros, dentre tantas outras distinções fazem da complexidade a principal marca da humanidade. Rui Barbosa, em sua obra Oração aos Moços, assevera: A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço, até aos aljôfares do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade1. Nessa compreensão de desigualdade como atributo natural aos homens, é razoável que o Estado, na condição de tutor de todos, esteja instrumentalizado por meio de tecnologias que estabeleça relações igualitárias, mesmo que para alcançar esse equilíbrio necessite dispensar tratamento diferenciado a grupos específicos. A Constituição de 1998, em várias previsões, encarregou-se de assegurar a isonomia material. “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (Artigo 5º, XLI). Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. (art. 7º, XX). Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. (art. 7º, XXX). Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. (art. 7º, XXXI). Proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos. (art. 7º, XXXII). Em outras previsões, a própria constituição estabelece tratamento desiguais:1 Disponível em <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_aos_mocos.pdf> Acesso em 25 set. 2017. 3 Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação. (art. 5º, L). Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias. (art. 7º, XVIII). As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. (art. 143, § 2º).” Não é, portanto, contrastante que a mesma Constituição que assegura a igualdade como direito fundamental, ela mesma tutele tratamentos desiguais. Isso de dar em decorrência da compreensão de que não haveria maior injustiça, se o Estado, no ímpeto de garantir a igualdade, a fizesse de forma linear e em indiferença às vulnerabilidades de grupos de pessoas e minorias que carecem de um contrapeso capaz de equilibrar as relações com igualdade entre os iguais e em desigualdade entre os desiguais. São as “denominadas discriminações positivas ou affirmative actions, tendo em vista que... o constituinte tratou de proteger certos grupos que, a seu entender, mereciam tratamento diverso” (LENZA, 22012, 974/975), em razão da hipossuficiência histórica de um processo social de marginalização que impõe ao Estado uma espécie de compensação que leve as minorias e os vulneráveis a condições mínimas de igualdade, frente às restrições que lhes foram próprias, por decorrências de situações de etnias, sexuais, religiosas, culturais, dentre outras. 2. POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS E A BUSCA PELA EQUIDADE As políticas públicas devem ser compreendidas como um conjunto de procedimentos voltados ao atendimento das necessidades dos cidadãos e à concretização de direitos sociais. Para tanto, faz-se necessário o envolvimento de órgãos públicos e as diversas entidades sociais interessadas na implementação dessas políticas. As políticas sociais podem ser definidas como aquelas ações que estabelecem o modelo de proteção social implementado pelo Estado, orientadas para a redistribuição de benefícios sociais visando à diminuição e a superação das desigualdades produzidas ao longo das marchas civilizatórias. 4 3. O ESTADO LIBERAL A Revolução Francesa de 1789 significou a ruptura com o Estado absolutista, dando luz ao Estado Liberal. O liberalismo acreditava no progresso da humanidade a partir da livre concorrência das forças sociais, minimizando a atuação do Estado sobre a conduta dos indivíduos. Os movimentos burgueses fizeram surgir um Estado não mais governado pela vontade dos homens, substituindo a soberania do rei pela soberania das leis. Os direitos de primeira geração ou dimensão referem-se às liberdades negativas clássicas, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e políticos. Surgiram nos finais do século XVIII e representavam uma resposta do Estado liberal ao Absolutista, dominando o século XIX, e corresponderam à fase inaugural do constitucionalismo no Ocidente. Foram frutos das revoluções liberais francesas e norte-americanas, nas quais a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais, com a consequente limitação dos poderes absolutos do Estado2. Surge, portanto, um Estado orientado pelos ideais de igualdade e liberdade. Um Estado que passava a ter leis que se dirigiam a conduta de todos de forma igualitária. Que negava ao Estado a livre intervenção nas relações individuais. 4. O ESTADO SOCIAL O conceito de Estado Social surge da evolução do Estado Liberal, que tinha como principal característica a minimização dos Estados. A igualdade formal do Estado Liberal colocava trabalhadores e patrões em um mesmo nível de relação, desencadeando um sentimento de resistência por parte dos trabalhadores. O Estado Social tem na incorporação de deveres prestacionais por parte do Estado, sua mais elevada significação, dando sentido material ao conceito de igualdade, agora em sua perspectiva material. 2 Disponível em www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11750> Acesso em 10 out. 2017. 5 O Estado Social parte do pressuposto de que, além de dirigir a economia do país, o Estado deve também estar atento às distribuições da produção e ao bem estar dos cidadãos, assumindo, portanto, funções que não existiam no modelo do liberalismo clássico. Trata-se do liberalismo acrescido de novos elementos e demandas, de humanismo e de dignidade. (BONAVIDES, 2001, p. 62) O Estado assume um papel positivo, intervindo a favor dos menos favorecidos, sendo sua responsabilidade, a partir de agora, proporcionar condições materiais para que os indivíduos possam usufruir das liberdades, assistência social, saúde, educação, trabalho e proteção. 5. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO O Estado Democrático de Direito nasce em superação concomitante da indiferença do Estado liberal em relação ao indivíduo e à fragilidade democrática do Estado Social. É fruto de um profundo processo de mudanças, que “busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito posto... edificada sobre o fundamento da dignidade humana.” (LENZA, 2012, p.66). É, portanto, um Estado que promove a aproximação do Direito à filosofia, que passa a interpretar o direito a partir de significados axiológicos “fundados na crença em princípios de justiça universalmente válidos.” (LENZA, 2012, p.65), em superação ao pensamento positivista que equiparava o Direito à lei. O direito concebido no Estado Democrático é um direito constitucionalizado, cujo caráter ideológico é a concretização dos direitos fundamentais. Nesse sentido aduz LENZA (2012, p. 62): Busca-se dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas, acima de tudo, buscar eficácia da Constituição, deixando o texto de ter um caráter meramente retórico e passando a ser mais efetivo, especialmente diante da expectativa de concretização dos direitos fundamentais. É o período da consagração dos direitos fundamentais de terceira geração, que insere as pessoas em um senso de coletividade, orientado pela solidariedade e 6 fraternidade. “São direitos transnacionais que transcendem os interesses do indivíduo e passam a se preocupar com a proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade” (LENZA, 2012, p. 960), dando fundamentação filosófica e jurídica às ações afirmativas. 6. AÇÕES AFIRMATIVAS Para melhor compreensão das chamadas ações afirmativas, é relevante observar a experiência de concepção de igualdade adotada pelos Estados Unidos da América: a Teoria Separate but equal e a Teoria Treatment as an equal. 6.1 Teoria Separate but equal3 (Separado, mas igual) Doutrina jurídica adotada pelos Estados Unidos, entre os anos de 1896 a 1954, que levou a Suprema Corte Americana a julgar como legítima a prática da segregação racial naquele país, como não sendo uma violação Constituição, que garantia proteção e direitos civis iguais a todos os cidadãos. Essa doutrina autorizava o governo aceitar que setores públicos ou privados, a exemplo de moradia, cuidados médicos, educação, emprego e transporte pudessem ser separados baseado em raça, desde que a qualidade de cada um destes serviços fosse igual para pretos e brancos. 6.2 Teoria do Treatment as an equal e as Ações Afirmativas. Surgida no ano de 1954, nos Estados Unidos da América, deu origem às ações afirmativas, ao tratar de forma desigual aos desiguais, numa espécie de discriminação positiva. Este não é o direito a uma distribuição igualitária de bens e oportunidades, mas sim um direito a uma preocupação e respeito igualno âmbito das decisões políticas sobre a forma de distribuição de tais bens. (TAVARES, 2003, p. 297) 3 Disponível em <http://wiki.answers.com/Q/What_was_separate_but_equal>. Acesso em 01out 2017. 7 Todavia, embora comumente se pense que as medidas de caráter afirmativo, como ficou conhecida as affirmative action (ação afirmativa) nos Estados Unidos e discrimination positive (discriminação positiva) e/ou action positive (ação positiva) na Europa, não têm sua gênese nos EUA. Em outras nações é possível identificar também “medidas similares a essas registradas antes ou concomitantemente a experiência norte-americana, mas que não ganharam a alcunha de ação afirmativa”. (NASCIMENTO, 2016, p. 20). Foram muitas as experiência de outros países, no sentido de promoverem a igualdade material de pessoas submetidas à hipossuficiências, que careciam de um tratamento diferenciado, com vista a compensar desigualdades insuperáveis pelo esforço meramente individual. NASCIMENTO (2016, p. 20 apud Silva 2003) acrescenta que “essas políticas não se restringem a esse país, embora tenha sido lá que as ações afirmativas alcançaram maior visibilidade”. E continua destacando, como exemplo a Malásia, onde foram adotadas medidas de promoção da etnia majoritária. A antiga União Soviética, com cota de 4% das vagas para habitantes da Sibéria na Universidade de Moscou. A Nigéria e a Alemanha, com ações afirmativas para as mulheres. Na Colômbia, contemplou-se com ações os indígenas. Analisado o caso da Índia, segundo a literatura especializada sobre a temática, (MOEHLECKE, 2002; MOORE, 2005), já no ano 1940, foram adotadas medidas afirmativas com o objetivo de criar a “representação diferenciada dos seguimentos populacionais designados inferiores (Dalits) nos processos eleitorais, até então dominado por membros da mais alta casta, os Brahmin.” (NASCIMENTO, 2016, p. 21). 6.3 Ações Afirmativas no Brasil Políticas públicas tocadas pelo governo ou até mesmo pela iniciativa privada têm como objetivo a correção de desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos Dada a relevância dessa política assumida pelo Governo Federal, a problemática racial passou a contar com uma secretaria exclusiva, criada no ano de 2003. 8 A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial dispõe de ampla divulgação de conceitos e ações que buscam em tornar real a igualdade entre brancos e negros no Brasil. Na sua plataforma oficial4, encontram-se volumosas informações conceituais sobre a política de igualdade racial no Brasil. No ano de 2010, foi inserido no Ordenamento Jurídico Brasileiro, o Estatuto da Igualdade Racial, por meio da Lei nº LEI Nº 12.288, Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. É notório, portanto, o esforço da política brasileira no sentido de buscar oferecer igualdade de oportunidades a todos, por meio de ações de equidade, expressa na constituição, tratando os desiguais de forma desigual, portanto, não se tratando de um benefício, ou algo injusto, porém de uma compensação pelo longo histórico de injustiças e direitos negados. 4 Disponível em < http://www.seppir.gov.br/sobre-a-seppir/a-secretaria>. Acesso em 03out. 2017. 9 Ao debater as cotas para negros nas universidades, por exemplo, é preciso retornar ao Brasil colonial e perceber como o processo de escravidão criou desigualdades sociais que são presentes até hoje, mesmo após 127 anos da abolição da escravidão. A partir de dados estatísticos que demonstram a diferença entre negros nas universidades comparados com o percentual desta população no total de brasileiros, o governo comprova a necessidade de criar uma política para compensar séculos de desigualdades. (BRASIL, 2017). 7. AS MINORIAS E OS GRUPOS VULNERÀVEIS A discriminação positiva (reverse discrimination), também chamada de ação afirmativa é uma forma de discriminação aceitável, porque consiste em tratar de forma mais vantajosa um grupo historicamente marginalizado com o objetivo de evitar-se que a igualdade, inserida no ordenamento jurídico, funcione como mecanismo perpetuador de desigualdade. Sua função é, portanto, tratar de maneira preferencial os grupos minoritários e vulneráveis, numa espécie de compensação por suas hipossuficiências. 7.1 As Minorias Diz respeito a uma porção de pessoas que por distinções étnicas, religiosas, linguísticas ou culturais, pertencem a um grupo numericamente inferior de uma sociedade. Todavia, não se trata de uma definição fechada, fundada em diferenças meramente conceituais. Nesse sentido, BRITO (2009, p. 99 apud ELIDA SÉGUIN) alerta que não se pode ficar restrito tão apenas a critérios étnicos, religiosos, linguísticos ou culturais, sendo necessário sopesar a sua realidade jurídica ante as conquistas modernas, deixando margem para a flexibilidade e possibilidade de progresso, pensando-se “minorias como um contingente numericamente inferior, como grupos de indivíduos que se distinguem dos outros habitantes do país”. E continua afirmando que, Elida Séguin sustenta que, Caportori elenca, como elementos constitutivos da minoria: 10 a) o numérico; b) o da não dominância; c) o da cidadania; d) o da solidariedade entre seus membros, tudo com vistas à preservação de sua cultura, tradições, religião e idioma. A palavra minoria se refere a um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais se encontra numa situação de dependência ou desvantagem em relação a outro grupo, “maioritário”, ambos integrando uma sociedade mais ampla. As minorias recebem quase sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria5. Portanto, optamos por um conceito mais aberto do que seria minoria, a exemplo de ELIDA SÉGUIN6, quando adverte para o fato de que a cada dia surgem novos grupos ou se passa a discriminar novos grupos, como, por exemplo, os presos, e os egressos, que passam a sofrer intolerâncias pelo preconceito de que voltarão a delinquir, sugerindo, portanto, que é preciso, mudar o critério quantitativo para o qualificativo, o que tornará possível, em dadomomento, investigar a questão de minorias menos estudadas, como os mais altos, os mais baixos, os obesos, os transplantados, etc. As Principais Características das Minorias7 I - Vulnerabilidade: os grupos minoritários, em geral, não encontram amparo suficiente na legislação vigente, ou, se o amparo legal existe, não é implementado de modo eficaz. Por isso, é comum a luta desses grupos por terem sua voz mais escutada nos meios institucionais. Exemplo: transgêneros. II - Identidade em formação: mesmo que exista há muito tempo e que tenha tradições sólidas e estabelecidas, a minoria vive em um estado de ânimo de constante recomeço de sua identificação social, por ter de se afirmar a todo momento perante a sociedade e suas instituições, reivindicando seus direitos. Exemplo: negros. 5 Disponível http://www.politize.com.br/o-que-sao-minorias/.Acesso em 15 out. 2017. 6 Disponível em <https://pt.scribd.com/document/355531454/Minorias-e-Grupos-Vulneraveis-Politicas-Publicas-pdf. Acesso em 15 out. 2017. 7 Disponível http://www.politize.com.br/o-que-sao-minorias/.Acesso em 15 out. 2017. 11 III - Luta contra privilégios de grupos dominantes: Por serem grupos não-dominantes e, muitas vezes, discriminados, as minorias lutam contra o padrão vigente estabelecido. Essa luta, na atualidade, tem como grande marca a utilização das mídias, para expor a situação dessas minorias e levar conhecimento para a população em geral. Exemplo: índios. IV - Estratégias discursivas: As minorias organizadas, em geral, realizam ações públicas e estratégias de discurso para aumentar a consciência coletiva quanto a seu estado de vulnerabilidade na sociedade. Além das mídias já citadas, passeatas e manifestos também podem são frequentemente utilizados. Exemplo: movimento LGBT. Exemplos de Políticas Públicas Brasileiras de Proteção às Minorias8 I - As ações afirmativas para o acesso ao ensino superior, que possibilitam uma menor desigualdade de oportunidades a negros, grupos étnicos e sociais minoritários. Em cada instituição federal de ensino técnico de nível médio, as vagas de que trata o art. 4o desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE. (Lei nº 12.711/12, art. 5º - redação dada pela Lei nº 13.409, de 2016). II - As ações afirmativas que asseguram 20% dos cargos públicos federais a pessoas portadoras de deficiência: Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. (Lei 8.112/90, art. 5º, § 2o ). III - As ações para reconhecimento da união entre casais homoafetivos, dentre elas: a 8 Disponível http://www.politize.com.br/o-que-sao-minorias/.Acesso em 15 out. 2017. 12 Resolução número 175/20139 da CNJ, que passou a permitir o casamento civil entre casais do mesmo sexo e a aprovação recente. Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo. Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis. Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. 7.2 Os Grupos Vulneráveis BRITO (2009, p. 100), valendo-se dos raciocínios de Elida Séguin, caracteriza os grupos vulneráveis, diferenciando-os das minorias, a partir das seguintes características: a) se apresentam, por vezes, como grande contingente, sendo exemplo disso, as mulheres, as crianças e os idosos; b) também são destituídos de poder; c) mantém a cidadania; d) acima de tudo, não têm consciência de que estão sendo vítimas de discriminação e desrespeito; e) não sabem que têm direitos. Em abordagem elaborada pela DHES (2014, p. 13), são vulneráveis quem tem diminuídas, por diferentes razões, suas capacidades de enfrentar as eventuais violações de seus direitos básicos, a saber, de direitos humanos. Essa diminuição de capacidades está associada à determinada condição que permite identificar o indivíduo como membro de um grupo específico que, como regra geral, está em condições de clara desigualdade material em relação ao grupo específico que, como regra geral, está em condições de clara desigualdade material em relação ao grupo majoritário. Nesse sentido, o grupo vulnerável decorre de condições materiais de desigualdade, diferentemente das minorias, que preponderam pela quantidade, o vulnerável deflui da 9 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/resolu%C3%A7%C3%A3o_n_175.pdf. Acesso em 15 out. 2017. 13 hipossuficiência de condições que acabam colocando os vulneráveis em situação de dominado, mesmo que pertencentes a um grupo numericamente superior. Um didático exemplo pode ser dado pelas mulheres, que mesmo representado a maioria da população, acabam sendo submetidas a situações de subjugo e violência em decorrência de um conjunto de intervenções culturais que a colocam em situação de vulnerabilidade. O gênero é a condição que determina que as mulheres, sem serem uma minoria numérica, estão em situação de especial vulnerabilidade em relação aos direitos humanos, vulnerabilidade que varia em função do poder que estas mulheres têm nas sociedades em que vivem, e que podem torná-las sujeitos particularmente vulneráveis à violação de direitos sócio laborais (por exemplo, recebimento de salário inferior aos dos homens pelo mesmo trabalho) ou diretamente à violação de condições básicas de dignidade, como o direito à vida, à liberdade, à educação ou à saúde. (DHES, 2014, p. 14) É compreensível, portanto, que tanto as minorias quanto os grupos vulneráveis são objeto de submissão a condições de ofensa à dignidade, aqui compreendida como um conjunto de violações a direitos que comprometem a condição existencial do indivíduo, independentemente de qualquer outra situação, pois a dignidade lhe é inerente simplesmente pela sua condição de ser humano. 8. A ATUAÇÃO POLICIAL OU BOMBEIRO FRENTE ÀS MINORIAS E AOS GRUPOS VULNERÁVEIS O policial é a materialização da vontade do Estado que representa. A sua atuação decore do comando do ordenamento jurídico da nação. Não existe espaço para o arbítrio, suas ações necessitam acontecer na exata medida das leis que o legitimam como autoridade. Vejamos o que diz o Código de Conduta dos Policiais, proferido pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução nº 34/169, de 17/12/1979: ARTIGO 1.º Os policiais devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em 14 conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. ARTIGO 2.º No cumprimento do seu dever, os policiais devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas. ARTIGO 3.º Os policiais só podem empregar a força quando tal se apresente estritamente necessário, e na medida exigida para o cumprimento do seu dever. Na fala de FREITAS (2017, p. 4), o legítimo exercício da força policial, por império da legislação vigente, não pode se afastar dos escudos de cuidado e proteção que o próprioEstado estabeleceu, ao delinear a natureza, forma e condições de como a sua polícia deve se relacionar com a comunidade. A Constituição de 1988 consagrou no Brasil o respeito à dignidade da pessoa humana. Isso está inexoravelmente ligado ao conjunto de ações que os agentes de segurança pública precisarão empreender, na condição de garantidores, como forma de fazerem realizar na vida prática das pessoas, os direitos e as garantias, formalmente asseguradas pelo direito vigente. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.10 (Grifos nossos) Essa condição de garantidor, tratada diretamente no Código Penal vigente, faz recair sobre o agente de segurança pública, a obrigatoriedade de ação, quando de alguma forma for desafiado por situações que lhe imponham intervenção. 10 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>Acesso em 15 out. 2017. 15 Não poderia ser diferente, visto que o agente de segurança, seja bombeiro ou policial, é investido de autoridade, equipamento, conhecimento e condições técnicas, para se colocar na condição de protetor das pessoas, sobretudo aquelas que por situações contrárias à vontade, padecem de hipossuficiências que exigiam do Estado a compensação de suas particularidades. A polícia é importante para a manutenção da ordem, evidentemente é importante para a defesa dos direitos. A ideologia é diferente daquela que tínhamos no período autoritário, onde todo cidadão era um inimigo interno em potencial. A polícia, antes de tudo, defende direitos, logicamente direitos humanos. (BALESTRERI, 1998, p. 31). Nesse contexto, o agente de segurança é apresentado como um concreto instrumento de igualdade material, mais que um protetor de direitos humanos é um promotor desses direitos, portanto compelido a agir como instrumento assecuratório da proteção jurídica que o Estado formal estabeleceu com ferramenta de nivelamento igualitário das relações desiguais. 9. GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS MAIS PRESENTES NAS AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA 9.1 Mulheres Em abordagem acerca da violência contra a mulher, FREITAS (2017, p. 10), aduz que a violência doméstica e familiar é fruto de processo histórico de construção social, material e simbólica da ideologia de superioridade de um gênero em relação ao outro. É o ultraje à capacidade humana de refletir sobre si mesmo, porque bestializa o gênero masculino numa falsa concepção de grandeza que daria ao “ser homem” poderes sobre o “ser mulher”. Nesse cenário, a violência contra a mulher representa um dos grandes desafios aos profissionais de segurança pública, porque serão acionados para intervirem em situações que exigem desses profissionais, conhecimento técnico diferenciado, a partir das proteções jurídicas especiais que a Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei 16 Maria da Penha, assegura no campo formal. Compete, portanto, aos profissionais de segurança pública, tornar real a proteção especial assegurada no mandamento legal, com vista a compensarem as hipossuficiências das mulheres em oporem-se com suas próprias forças, as mais diversas violências rechaçadas no direito brasileiro. A Polícia Militar tem um papel fundamental nesse processo de aperfeiçoamento estatal. Os direitos que protegem a mulher imperam sobre essa instituição policial militar a adoção de estratégias diferenciadas que se apresente como um sobrepeso capaz de equilibrar a relação historicamente desigual entre os gêneros masculino e feminino.Se os direitos mudaram, os serviços de segurança pública oferecidos pela Polícia Militar precisam se adequar a essa nova realidade de proteção integrada que apontam para uma atuação que supera o conceito de que polícia eficiente é a polícia que prende. Polícia eficaz é a polícia que se reinventa para atender o cidadão na exata medida de sua necessidade. (FREITAS, 2017, p. 41). Como forma de compensar as desigualdades no tratamento da mulher na história brasileira, o legislador estabeleceu proteção especial à mulher, cabendo aos agentes de segurança empreenderem todos os esforços necessários, no sentido de proteger a mulher das violências física, sexual, moral, psicológica e material tipificadas na Lei Maria da Penha. Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; 17 IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis LEI MARIA DA PENHA E AS MULHERES LBT Já existe jurisprudência para a proteção de mulheres LBT (Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Mulheres Transexuais) a partir da Lei Maria da Penha; • Travestis e Mulheres Transexuais devem ter garantido o atendimento nas Delegacias Especializadas de Atendimento a Mulher. • O Estado do Ceará reconhece a identidade de mulheres travestis e transexuais de acordo com a Lei Estadual N° 16.946/19, garantindo-as amparo e proteção em toda sua rede de atendimento as Mulheres vítimas de Violências Domesticas • Sempre que houver violência contra uma mulher LBT, é dever do/a agente informar a pessoa e aplicar o previsto na lei, nos mesmos moldes do restante da população - se for o caso. • O artigo 5º da lei 11.340/2006, dispõe que: “(...) configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. Abrange, não só a mulher em sua definição biológica, mas também a pessoa em sua autoafirmação de gênero mulher, independente do sexo biológico, alterações documentais ou físicas. • Portanto, é perfeitamente viável a aplicação dos procedimentos da lei “Maria da Penha” a Travestis e Mulheres Transexuais. Devendo-se observar no bojo da análise o critério de autoafirmação por parte da vítima. • Nosso ponto de vista tem por base que a correta aplicação da lei pauta-se não no ser humano em seu aspecto biológico ou de orientação sexual, mas sim em sua identidade de gênero; havendo auto reconhecimento de “gênero feminino” e satisfeitos os demais requisitos legais, deve-se aplicar o referido diploma normativo 18 9.2 Crianças e Adolescentes O Direito da Infância e Adolescência se constitui em um ramo no mundo jurídico, inspirado na Doutrina de Proteção Integral da Convenção Internacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989), promulgada no Brasil, pelo Dec. nº 99.710/1990.. Nos termos da presente Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo. (CDC, art.1º)11. O Estatuto da Criançae do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990), adotou a doutrina da proteção integral, com fundamento em direitos especiais e específicos, no reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, em razão de sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, independentemente de sua condição socioeconômica. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. (Lei nº 8069, art. 4º). A condição de proteção integral e de prioridade da criança e do adolescente faz recair sobre os agentes de segurança a laboriosa distinção de emprego das técnicas policiais, ao lidar com esse público, visto que se coloca nessa relação, na condição de garantidor, não podendo fugir de práticas que indiferentemente a qualquer repulsa interna ou social, na condição de agente de segurança, vinculado ao princípio da legalidade, não caberá a esse agente, nenhuma outra postura diversa daquela imposta pela Lei Especial, a exemplo do art. 178 da Lei 8069/90. 11 Disponível em https://www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/convencao_direitos_crianca2004.pdf >Acesso em 22 out 2017. 19 O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. O agente de segurança pública, ao exercer a sua atividade profissional, deverá proceder de forma inexoravelmente alinhada à proteção integral das crianças e dos adolescentes, assegurando a igualdade material desse público, em superação à hipossuficiência que os torna vulneráveis. 9.3 Igualdade Racial Todos os grupos sociais têm suas particularidades. Cabe aos profissionais de segurança pública o dever de respeitá-las. Negros, brancos, índios e asiáticos – todas as pessoas – são iguais em direitos e deveres. Essa situação jurídica não está condicionada às suas diferenças culturais. O Art. 20 da Lei nº 7.716/89, dispõe que: Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de um a três anos e multa. Esse tipo se realiza quando as ofensas não se dirigem a uma pessoa específica, e, e sim, venham a menosprezar determinada raça, cor, etnia, religião ou origem, agredindo um número. Indeterminado de pessoas. Esse crime é inafiançável e imprescritível e sujeito à pena de reclusão, por força do inciso XLII, do art. 5º da Constituição Federal. Protegendo o mesmo bem jurídico, termos a Injúria Racial, que se diferencia do racismo tipificado em legislação extravagante, por consistir em ofensas de conteúdo discriminatório, empregadas à pessoa ou pessoas determinadas, atingindo-lhe a sua honra subjetiva, ou seja, aquilo que alguém pensa sobre si mesmo. Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) 20 Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Art. 140, § 3º, CP). 9.4 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (LGBTI) O reconhecimento legal e judicial dos direitos LGBT no Brasil acontece desde Império do Brasil, quando foi a primeira nação das Américas e uma das primeiras do mundo ao revogar a lei de sodomia vigente, herdada de Portugal e que proibia atos sexuais entre pessoas do mesmo, em 1830, quando foi promulgado o Código Penal do Império. Na primeira década do século 21, percebe-se uma maior politização das demandas do movimento LGBT, Percebe-se também uma ampliação de formas de se organizar e de defender os direitos deste segmento, especialmente através de ações de advocacia e fortalecimento de redes, grupos e coletivos, além das manifestações massivas que possibilitam o aumento da visibilidade pública das pessoas LGBT, como as paradas do orgulho LGBT. (2010, p. 316). No Brasil, efetivamente, apenas a partir de 2001, com a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), vinculado ao Ministério da Justiça, os grupos de ativismo LGBTI no Brasil iniciaram reivindicações de políticas públicas com o objetivo de promover à sua cidadania e os direitos humanos (MELLO; AVELAR; MAROJA, 2012). No Estado do Ceará o reconhecimento da cidadania, proteção e dos direito de LGBTQIA+ cearense, acontece em 2005, quando fora decretado a primeira lei específica para a esta população, que institui o Dia Estadual do Orgulho Gay e Livre Expressão Sexual no Estado do Ceará através da Lei nº 13.644/2005 e logo no ano de 2006 o Estado do Ceará na garantia da proteção a essa população historicamente violentada por razão da orientação sexual e identidade de gênero, inclui no conteúdo pedagógico sobre orientação sexual na disciplina Direitos Humanos, nos cursos de formação e reciclagem de Policiais Civis e Militares do Estado do Ceará através da Lei n° 13.833/2006. Foi também o Estado do Ceará a primeira Unidade Federativa do Brasil a se comprometer em acabar com qualquer forma de preconceito e opressão, tendo esse direito resguardado na Constituição do Estado do Ceará, que foi alterada pela Emenda 21 Constitucional n.º 65, de 16 de setembro de 2009, no artigo 14, inciso 3, que proíbe qualquer tipo de discriminação com base na orientação sexual e inclui como um dos princípios do Estado do Ceará combater qualquer tipo de preconceito. Em 2010, a criação da Coordenadoria de Políticas Públicas para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, através do Decreto nº 30.202 de 24 de maio de 2010, anos depois ganha status de Especial em 26 de novembro de 2013, através do Decreto nº 31.347, institucionalizou a política publica para promover a cidadania, proteção e os direitos humanos de LGBTQIA+ na estrutura governamental do Estado do Ceará Atualmente no Brasil a LGBTFOBIA é Crime, desde o ano de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal determina que a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ seja enquadrada nos crimes previstos na Lei Nº 7.716/1989 (Lei do Racismo), que prevê penas de até 5 anos de prisão. É importante destacar a publicação do Conselho Nacional de Justiça – CNJ da Resolução nº 175/2013, que dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo; O STF autoriza que transexuais e travestis alterem o nome e o gênero no registro civil sem a necessidade de cirurgia de redesignação sexual ou decisão judicial. A partir dessa decisão, todos os transexuais e travestis maiores de idade podem alterar os seus documentos indo a um cartório, não se exigindo nada além da manifestação de vontade do indivíduo; As decisões judiciais têm promovido o reconhecimento de direitos, enquanto a legislação tem encontrado resistência para reconhecer as demandas por igualdade. Apesar da omissão legislativa, a atuação do Poder Judiciário faz do Brasil um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT. A segurança pública é prevista na ConstituiçãoFederal de 1988 como um direito fundamental (art. 5º, caput), um dever do Estado, além de uma responsabilidade de todos (art. 144). A abordagem policial, no contexto da segurança pública, é uma atividade legítima, pois integra a garantia do direito à segurança de todos/as. Não devendo assim, haver qualquer tipo de tratamento discriminatório contra a população LGBTI. Deverá ser respeitado o nome social e a identidade de gênero de Travestis, mulheres transexuais e homens trans, tanto na abordagem bem como no atendimento nas delegacias de acordo com a Lei Estadual N° 16.946/19, (art.5° ). 22 1- Identificando as Pessoas LGBTI Na sigla LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexos) há pessoas com características diferentes entre si. O que há de comum entre elas é a relação frente as experiências obrigatórias e o quanto o não enquadramento na cis- heteronormatividade expõe esta população a violências, sejam elas simbólicas, psicológicas, físicas, institucionais, entre outras, além das constantes violações dos direitos humanos dessas pessoas. Para entender alguns aspectos desta população, dois conceitos são fundamentais: orientação sexual e identidade de gênero. ORIENTAÇÃO SEXUAL: O QUE É? Capacidade de cada pessoa sentir atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero, de mais de um gênero, ou ainda, por aquelas pessoas que reivindicam outros gêneros não binários e não gêneros, assim como ter relações íntimas e/ou sexuais com essas pessoas. │A orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas diversas formas de bissexualidade. DIVERSAS ORIENTAÇÕES SEXUAIS: Heterossexuais: pessoas capazes de sentir atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos do gênero oposto; Homossexuais: pessoas capazes de sentir atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos do mesmo gênero, podendo ser gays (gênero masculino) ou lésbicas (gênero feminino); Bissexuais: pessoas capazes de sentir atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos de ambos os gêneros (masculino e feminino); Assexuais: pessoas que não sentem ou não priorizam o desejo de se relacionar afetiva e/ou sexualmente com nenhum dos gêneros; e Pansexuais: pessoas que sentem atração por indivíduos de gênero diverso, do mesmo gênero, de ambos os gêneros, e também por todas as demais pessoas que se encontram no amplo espectro de gênero, como pessoas não binárias, de gênero fluido ou agênero. 23 IDENTIDADE DE GÊNERO: O QUE É? Gênero é a experiência interna e individual, que pode ou não corresponder ao que foi atribuído no nascimento, além de abranger outras expressões, e símbolos que vão ajudar a expressar a identidade de gênero do individuo. Identidade de gênero é a forma autopercebida de como o indivíduo se vê, é reconhecido e se reconhece na sociedade a partir da dicotomia homem x mulher, podendo ainda reivindicar uma identidade fluída e/ou não binária. IDENTIDADE DE GÊNERO SEGUNDO A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. A identidade de gênero não está assentada no genital, pois “ *...+ a identidade sexual e de gênero de uma pessoa se apresenta na realidade como uma prioridade do fator subjetivo sobre seus caracteres físicos ou morfológicos (fator objetivo). Neste sentido, partindo da complexa natureza humana que leva cada pessoa a desenvolver sua própria identidade com base na visão particular que a respeito de si mesma tenha, deve dar-se um caráter proeminente ao sexo psicossocial frente ao morfológico, a fim de respeitar plenamente os direitos de identidade sexual e de gênero, por serem aspectos que, em maior medida, definem tanto a visão que a pessoa tem de si mesma, quanto sua projeção para a sociedade” (Item 95 da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, Opinião Consultiva OC-24/7, de 24-11-2017) SEXO BIOLÓGICO E GÊNERO: NÃO CONFUNDA! Sexo biológico é a conformação física, orgânica, celular, particular que atribui um papel específico na reprodução. Gênero (masculino, feminino, não-binária, fluido) é conceito adotado para distinguir a dimensão biológica da dimensão pessoal e social. |Genital não define o gênero da pessoa. 24 CISGENERIDADE E TRANSGENERIDADE Cisgeneridade: condição em que a pessoa vivencia e se identifica com a identidade de gênero atribuída no nascimento. Chamamos de pessoa cisgênero/a. Transgeneridade: condição em que a pessoa não vivencia e não se identifica com a identidade de gênero atribuída no nascimento. Transgênero/a é uma condição que abrange a travestilidade, a transexualidade e outras identidades não cisgêneras. TRAVESTILIDADE E TRANSEXUALIDADE São identidades de gênero, autopercebidas pelos indivíduos que não se reconhecem como sendo pessoas cisgêneras. Travestis, mulheres transexuais e homens trans são identidades que, hoje, constituem a construção de demandas no campo das políticas públicas. Travesti: se identifica com o gênero oposto ao que lhe foi atribuído no nascimento. Não se entendem propriamente como “homens” mas como “mulheres”, devendo ser tratadas como pertencentes ao gênero feminino. Transexual: pessoa que se auto percebe e reivindica pertencimento ao gênero oposto àquele que lhe foi atribuído no nascimento. A mulher transexual, apesar de ter sido designada com o gênero masculino no nascimento, identifica-se como sendo pertencente ao gênero feminino. O homem trans, apesar de ter sido designado com o gênero feminino no nascimento, se identifica como sendo pertencente ao gênero masculino. Ser travesti ou transexual não tem relação com alterações físicas, cirurgias ou mudanças corporais. A diferença entre travestis e transexuais é uma questão de foro íntimo e pessoal e não é possível distinguir uma da outra apenas no olhar. É uma questão de identificação e autopercepção. PESSOAS NÃO BINÁRIAS E/OU DE GÊNERO FLUIDO Pessoas não binárias/binárixs/bináries/binári@s: são as que não se identificam com quaisquer dos gêneros binários: masculino ou feminino. 25 Pessoas com gênero fluido: identidade de gênero das pessoas que não reivindicam uma identidade fixa, que transitam entre o ser/se fazer homem ou mulher. DIFERENÇA ENTRE IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL. A partir da identidade de gênero (mulher transexual ou cisgênera, homem trans ou cisgênero, travesti, pessoa não binária, pessoa de gênero fluido, etc.) é que poderá ser pensada a orientação sexual da pessoa (homossexual, heterossexual, bissexual, pansexual ou assexual). Exemplo 1: Uma mulher, trans ou cis, pode ser lésbica se sua orientação sexual se direcionar a uma outra mulher (trans ou cis); assim como heterossexual, se sua orientação se direcionar a um homem (trans ou cis). Exemplo 2: Uma pessoa não binária pode sentir desejo afetivo e/ou sexual por outra pessoa não binária ou por alguém que se identifica com o gênero binário masculino ou feminino, ou ainda de gênero fluido. As possibilidades de autoidentificação e de relacionamento afetivo/amoroso são uma livre expressão de cada pessoa. INTERSEXUALIDADE São consideradas intersexos/intersexuais as pessoas que possuem variações em seus caracteres sexuais. Essa variação pode ou não envolver ambiguidade genital, combinações de fatores genéticos, e variações cromossômicas sexuais diferentes. Não é questão relacionada a orientação sexual ou de identidade de gênero. Pessoas intersexos podem, ainda, ser cisgêneras ou transgêneras. Intersexualidade é o nome dado para as variações do desenvolvimento sexual responsáveis por corpos que não podem ser encaixados na norma binária (mulher/homem, feminino/masculino, vagina/pênis). São conhecidas até o momento, entre todas as combinaçõespossíveis entre essas 4 categorias, 41 variações de corpos diversos, e com características que tornam impossível que sejam ditos femininos ou masculinos. Estima-se que 1,7% da população seja Intersexo. 26 DEMONSTRAÇÃO PÚBLICA DE AFETO POR PESSOAS LGBTI A manifestação de afeto, em público, por qualquer pessoa, não constitui crime, desde que não seja um ato obsceno de cunho sexual. As Pessoas LGBTI tem os mesmos direitos a andar de mãos dadas, trocar carícias e qualquer demonstração pública de afeto, assim como o restante da população, sem serem submetidos a constrangimentos por agentes do estado ou mesmo pelo restante da população. Agentes de segurança Pública devem garantir a integridade moral e física destes cidadãos 9.5 Pessoa Idosa Dentre os públicos vulneráveis, de maneira cada vez mais comum, os profissionais de segurança pública têm sido acionados para o atendimento de pessoas com idade acima de 60 anos. Em razão das vulnerabilidades dessas pessoas, o Estado Brasileiro legislou proteção específica, cujo objetivo principal foi estabelecer relações mais igualitárias, tratando diferentemente esse público no sentido de compensar-lhes as desigualdades advindas de limitações impostas pela idade. A Lei nº 10.741/2013 inaugurou no Brasil a proteção integral às pessoas com idade acima de 60 anos, garantindo-lhes “oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.” Art. 3º ... 1º A garantia de prioridade compreende: (Redação dada pela Lei nº 13.466, de 2017) I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a 27 proteção ao idoso; V – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008). § 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017) 9.6 Pessoas Portadoras de Deficiência Física Os profissionais de segurança pública necessitam estar preparados para executar um serviço de excelência, o que implica em conhecer as vulnerabilidades presentes na macro sociedade, em especial daquelas pessoas que convivem com alguma diferenciação física, que, de alguma forma, as deixe mais dependentes de medidas compensatórias, por parte dos agentes de segurança. A Lei nº 13.146/2015 inseriu no Ordenamento Jurídico Brasileiro o Estatuto da Pessoa com Deficiência, com vista a promover a inclusão das pessoas com deficiência. Cadeirantes, surdos e cegos são apenas alguns tipos de limitações com as quais os policias ou bombeiros poderão se deparar no exercício de suas atividades. O trato eficiente, respeitoso e digno que deverá ser estabelecido com as pessoas portadoras dessas vulnerabilidades, exigem desses profissionais ampla sensibilidade, no sentido de estabelecer uma relação que compense as desigualdades, porventura, geradas pela deficiência. Art. 9o A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: 28 I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público; III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas; IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e no desembarque; V - acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis; VI - recebimento de restituição de imposto de renda; VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em todos os atos e diligências. § 1o Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo. § 2o Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos protocolos de atendimento médico. Nesse sentido de assegurar ampla proteção jurídica às pessoas com deficiência, o Estatuto estabelece profundas mudanças nas relações que envolvem o público com essas vulnerabilidades, adequando arquitetura urbanística, estabelecendo prioridades e reservando espaços, para os portadores de dificuldades que os tornam vulneráveis e, portanto, necessitados de que sejam compensados naquilo que, se não tratado diferentemente pelo Estado, potencializaria as fragilidades que lhes foram próprias da deficiência. 29 REFERÊNCIAS BALESTRERI, Ricardo Brisola. In: Direitos Humanos: Coisa de Polícia. Passo Fundo: CAPEC, 1998. CUSTÓDIO, André Viana; CAMARGO, Mônica Ovinski de. Estudos Contemporâneos de Direitos Fundamentais. Curitiba: Unesc, 2008. BAYLEY, David H.; SKOLNICK, Jerome H. Nova Polícia. Tradução de Geraldo Ger-son de Souza. 2ª Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. FREITAS, José Messias Mendes. Violência contra a mulher: Polícia Comunitária como instrumento de eficácia das medidas de prevenção integrada, assistencial e de urgência da Lei Maria da Penha. Monografia (Bacharelado em Direito). Universidade Federal do Ceará. Fortaleza-CE. 2017. GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: (o direito como instrumento de transformação social : a experiência dos EUA). Rio de Janeiro: Renovar, 2001. GRECO, Rogerio. Curso de Direito Penal Parte Geral. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012. LEITÃO, Juliana Gonçalves. Lei Maria da Penha: a resposta ao clamor silencioso das vítimas da violência doméstica. Fortaleza: DIN. CE, 2009. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012. MONTENEGRO, Marília. Lei Maria da Penha: uma análise criminológica-crítica. Rio de Janeiro: Revan, 2016. MARCINEIRO, Nazareno, PACHECO, Giovanni C, Polícia Comunitária: evoluindo para a polícia do século XXI. Florianópolis: Insular, 2005. Atuação Policial na Proteção dos Direitos Humanos de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade. 2ª edição. Brasília. 2013. A POLÍTICA DE COTAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ: PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO E “COTISTAS” disponível em http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/19697/1/2016_dis_aonascimento.pdf. Acesso em 15 out 2017.
Compartilhar