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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 2 2 PSICOPEDAGOGIA. ......................................................................... 3 2.1 Áreas de atuação da Psicopedagogia. ........................................ 4 3 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA. .......................................................... 8 4 ASPECTOS BÁSICOS: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA. ...................................................................... 11 5 A CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. ............................................................................................ 18 5.1 Modalidades de aprendizagem. ................................................ 21 6 A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM PROFESSORES, ESCOLA E FAMÍLIA. .......................................................... 23 7 A PRÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO BRASIL. .......... 26 8 A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA. 30 9 FORMAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO BRASIL. ..................................................................................................... 33 10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. ....................................... 36 10.1 Os principais distúrbios de aprendizagem.............................. 39 10.2 Problemas de Aprendizagem. ................................................ 41 10.3 Dificuldades Escolares Reativas. ........................................... 44 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ............................................ 51 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 PSICOPEDAGOGIA. Fonte: abpp.com.br A Psicopedagogia é o campo que estuda a aprendizagem em suas diferentes relações e circunstâncias. Ela se ocupa do processo de aprendizagem e suas variações e da construção de estratégias para a superação do não aprender, tendo como um de seus focos principais a autoria do pensamento e da aprendizagem. A Psicopedagogia tem uma visão integrada da aprendizagem, entendendo que todas as dimensões do sujeito são coparticipantes de seus processos de aprendizagem, por meio do entrelaçamento e da manifestação dos processos cognitivos, afetivo- emocionais, sociais, culturais, orgânicos, psíquicos e pedagógicos, concebendo o sujeito como individual e coletivo. A Psicopedagogia transita entre os aspectos pedagógicos e psíquicos e entre os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos. Sua intervenção possibilita que indivíduos, grupos e instituições desenvolvam seus processos de aprendizagem de forma saudável, resgatando o prazer de aprender e descobrindo-se como autores de seus próprios processos. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 2013, apud PICETTI, 2017, p. 264). 4 Assim, pode-se dizer que a Psicopedagogia atende aos sujeitos que necessitam de um olhar articulador sobre seu processo de aprendizagem, criando estratégias para a superação do não aprender e a autoria. Já a Educação Especial, conforme a Lei n° 12.796 de 2013, tem o seu trabalho direcionado para os sujeitos com Necessidades Educativas Especiais. 2.1 Áreas de atuação da Psicopedagogia. A atuação da Psicopedagogia pode acontecer a partir da perspectiva Clínica, Institucional e da Pesquisa. A Psicopedagogia Clínica ocupa-se do entendimento do sujeito que aprende, através de sua história pessoal, de seus vínculos familiares, de sua modalidade de aprendizagem, compatibilizando conhecimento e saber. Procura compreender o sujeito a partir de seu processo de aprender e de não aprender, indagando como, o que e de que maneira ele pode aprender. Exerce suas funções nas dimensões terapêutica e institucional, buscando a compreensão das complexas relações de aprendizagem, dos lugares e papéis de sujeitos em suas redes históricas e pela formulação de espaços e dispositivos adequados ao resgate e à promoção da aprendizagem. Realiza ações voltadas para o resgate da aprendizagem, através da formulação de espaço e vínculo de confiança e da proposição de recursos adequados e específicos. Busca possibilitar que o sujeito construa sua autoria na aprendizagem. [...] a Psicopedagogia Clínica tem como objetivo principal a investigação da etiologia e a intervenção nas dificuldades de aprendizagem em crianças, adolescentes e adultos, buscando a compreensão do processo de aprendizagem e suas fraturas, a partir do contexto desse e de todas as variáveis que intervêm neste processo. (ESCOTT, 2004, apud KLEIN, 2010, p. 2). A Psicopedagogia Institucional considera as amplas e intrincadas relações de aprendizagem de uma instituição, analisando as relações institucionais e buscando elaborar condições de articular a qualificação dos processos de aprendizagem. Objetiva fazer com que os sujeitos de um grupo possam se conceber e agir como protagonistas de seus próprios processos de aprendizagem. Pode ter como objetivo, na escola, a diminuição da incidência dos problemas de aprendizagem. Analisa e age em relação às questões da 5 didática e da metodologia, através da intervenção: na formação permanente e na assessoria junto aos professores; no atendimento familiar; no diagnóstico de sujeitos; no relacionamento entre alunos e professores; nas relações afetivas envolvidas nos processos de aprender; no significado que os alunos e professores dão à aprendizagem; na elaboração de currículos e ações pedagógicas que tenham efetivo desempenho junto ao processo de aprendizagem. A Psicopedagogia como área de Pesquisa compõe um conjunto de conhecimentos que auxiliam na investigação sobre os fenômenos dos processos de aprendizagem humana. O Psicopedagogo é um especialista em Psicopedagogia. Sua formação ocorre, geralmente, através de cursos de Especialização, possibilitando o aprofundamento dos conhecimentos obtidos nos cursos de graduação e a ampliação da discussão sobre os aspectos da aprendizagem, de sua autoria e da superação do não aprender. Assim, se uma pessoa tem a graduação em Licenciatura em Matemática e a especialização em Psicopedagogia, ela será Licenciada em Matemática e Especialista em Psicopedagogia. Se a pessoa tem graduação em Pedagogia e Especialização em Psicopedagogia, ela será uma Pedagoga e Especialista em Psicopedagogia. Se ela tiver a graduação em Psicologia e Especialização em Psicopedagogia, ela será uma Psicóloga e Especialista em Psicopedagogia. O especialista em Psicopedagogia é um profissional habilitado a lidar com os processos de aprendizagem e suas dificuldades junto às crianças, aos adolescentes, aosadultos ou às instituições, instigando aprendizagens significativas, de acordo com suas possibilidades e interesses. Em sua prática, o especialista em Psicopedagogia pode auxiliar na busca do prazer de aprender, na construção de um novo significado para as formas de aprender, da compreensão, por parte dos sujeitos, da maneira como aprendem e de como utilizar suas estratégias em relação a novos conhecimentos Entre os diferentes aspectos que precisam ser considerados ao longo de um atendimento psicopedagógico, seja institucional ou clínico, destacam-se alguns que necessitam de atenção, tais como o momento do diagnóstico, a anamnese, 6 a elaboração de hipóteses e a análise do processo de construção da lecto escrita. O processo diagnóstico caracteriza-se como os primeiros encontros nos quais se interage de forma mais direta com o sujeito encaminhado e com sua família, procurando conhecer mais detalhes de sua história. Porém, não é um momento fechado, que tenha como objetivo atribuir um rótulo ao sujeito. Há diagnósticos como transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, autismo, entre outros, que não podem ser dados por um especialista em Psicopedagogia, que pode sugerir para a família procurar um profissional como um psiquiatra ou um neurologista para avaliar e realizar tal diagnóstico. O especialista em Psicopedagogia deve sempre realizar os encaminhamentos que julgar necessários, mencionando que há outras questões que também atrapalham a aprendizagem do sujeito e que só podem ser avaliadas por outro profissional habilitado. Por isso, fala-se tanto das parcerias nos atendimentos psicopedagógicos e de um trabalho interdisciplinar. Na medida em que o trabalho interdisciplinar é fundamental na ação psicopedagógica, é importante conhecer as ferramentas que existem e são usadas pelos outros profissionais envolvidos, para saber entendê-las adequadamente, quando se recebe um diagnóstico. Porém, isso não significa que se possa utilizá-las, já que algumas ferramentas são de uso exclusivo do psicólogo, do fonoaudiólogo ou do médico. O diagnóstico psicopedagógico necessita concentrar-se nos processos de aprendizagem. Esse momento não pode estar focado apenas no sujeito, mas em todas as relações que ele mantém seja na família, na escola ou no grupo de amigos, dentre outros. O diagnóstico é um momento no qual se pode iniciar o levantamento de hipóteses sobre como e o que o sujeito aprende, bem como o que o impede de aprender. Nessa ocasião, já se inicia também o tratamento. Quando se analisa a situação do sujeito, precisa-se propor desafios de superação, para que novas hipóteses possam ser levantadas e questões já possam ser superadas. Logo, não há uma separação rígida entre o período do diagnóstico e o do tratamento. Ao iniciar o diagnóstico, já se está começando o tratamento. Ao longo do processo diagnóstico, é importante ser realizada uma entrevista de anamnese, que se constitui numa técnica de investigação e análise, a partir da 7 retomada da história de vida do sujeito através de uma conversa com a família. Ela é utilizada para auxiliar a compreender o funcionamento familiar, no sentido de se observar como o sujeito é visto por esse grupo, qual o seu papel, como o veem e compreendem sua situação ao longo da vida e como descrevem a dificuldade de aprendizagem. A anamnese auxilia o especialista em psicopedagogia a compreender o processo de aprendizagem do sujeito em diferentes momentos de sua vida. Por isso, suas perguntas devem se centrar mais no “como” do que no “quando”, como, por exemplo: Como foi que ele começou a andar? Como foi que ele aprendeu a falar? O quando traz uma questão mais relacionada com a temporalidade, o que tem importância, mas não tanto quando o processo de cada aprendizagem. A elaboração de hipóteses sobre como o sujeito aprende e o que o impede é de suma importância para o atendimento, pois é a partir dela que a ação do especialista em psicopedagogia é planejada e organizada. Ao longo de todo o tratamento, as hipóteses são elaboradas, superadas e redefinidas. A partir da superação de uma questão, outra poderá ser elaborada pelo especialista em Psicopedagogia. É significativo sempre partir do que o sujeito sabe fazer, o que conhece aquilo no que tem sucesso. Além de reforçar suas possibilidades, com essa perspectiva também se consegue, muitas vezes, observar e analisar as estratégias utilizadas e lhe ajudar a usá-las nas situações de dificuldades. Outro aspecto relevante tem relação com as inúmeras vezes em que os especialistas centram a investigação psicopedagógica na leitura e na escrita quando o encaminhamento ocorre devido a uma dificuldade nessa área. Porém, precisa-se sempre se lembrar de também analisar questões relativas ao pensamento lógico matemático. Várias vezes recebe-se dos educadores a avaliação de que o sujeito domina as questões relacionadas ao conhecimento matemático, mas o que ele consegue fazer são cálculos mecanizados, sem compreensão. A construção do pensamento lógico-matemático é estruturante da construção da leitura e da escrita, ou seja, são a base para a aprendizagem da leitura e da escrita. A testagem do nível de leitura e escrita precisa ser realizada juntamente com a observação, pois é importante observar as estratégias que o sujeito utiliza para ler e escrever sua própria produção. 8 3 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA. Fonte: cantinhodoprofessor A Psicopedagogia surgiu há poucos anos no Brasil e ainda é considerada uma área relativamente nova de estudos, mas que vem se tornando uma importante fonte de pesquisa para a área da educação. Ela contempla uma abordagem ampla e integrada do sujeito a fim de compreender o seu aprender em todos os sentidos, a saber, em relação ao significado de aprender, à construção da estruturação lógica, a um aprisionamento do corpo, a uma ressignificação de um organismo com problemas e outros. (WOLFFENBUTTEL, 2005, apud ARAGÃO, 2010, p. 10). A psicopedagogia oferece melhor reflexão sobre a aprendizagem de todos os sujeitos envolvidos. O objeto de estudo dela é compreender o aprender e o não aprender. Onde existirem situações de aprendizagem, há espaço de reflexão psicopedagógica. Ela tem o seu olhar voltado sobre o ser humano em processo de construção de conhecimento, considerando as dimensões subjetivas e objetivas, auxiliando na busca da minimização dos problemas de aprendizagem e potencialização do aprender. Dessa forma, o psicopedagogo deve ter capacidade de em sua prática identificar os problemas de aprendizagem e a origem dos mesmos, assim como conhecer e acompanhar as situações de evolução da aprendizagem do seu paciente. 9 Sobre a evolução da Psicopedagogia, observa-se que, nesse processo histórico a Psicopedagogia Clínica obteve várias denominações, tais como pedagogia curativa, pedagogia terapêutica, psicopedagogia curativa e, finalmente, passa a assumir-se como Psicopedagogia. Dentro da psicopedagogia, está a psicopedagogia clínica e a psicopedagogia institucional. Cada um desses espaços tem seu método específico de trabalho. Porém, em ambos, deve-se considerar o contexto sóciocultural do paciente. O papel do psicopedagogo da clínica é criar um espaço de aprendizagem, oferecendo ao sujeito oportunidades de conhecer o que está a sua volta, o que lhe impede de aprender, para que juntos, possam modificar uma história de não aprendizagem. Sobre a psicopedagogia institucional: [...] esta é a abordagem da Psicopedagogia que deposita seu olhar sobre as instituições de ensino-aprendizagem. Essa abordagem assume uma dimensão preventiva e social na medida em que atende os diferentes grupos da instituição, tendo como principal objetivo resgatar o prazer de ensinar e aprender. (WOLFFENBUTTEL 2001 apud ESCOTT, 2004, p.192). Dessa forma a psicopedagogiaclínica faz o papel de intervenção terapêutica, pois existe um profissional especializado no caso, o psicopedagogo e um sujeito com dificuldades no processo de aprendizagem. E a psicopedagogia institucional, faz o papel preventivo e esta tem como seu centro de interesse a instituição. Entendendo o sujeito como ser social, o resgate das fraturas e do prazer de aprender, na perspectiva da Psicopedagogia Clínica, objetiva não só contribuir para a solução dos problemas de aprendizagem, mas colaborar para a construção de um sujeito pleno, crítico e mais feliz. (ESCOTT, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 11). No diagnóstico psicopedagógico é necessário identificar, no desenvolvimento do sujeito e na relação com sua família e grupos sociais em que vive o significado da não aprendizagem. Assim, a Psicopedagogia Clínica parte da história pessoal do sujeito, procurando identificar sua modalidade de aprendizagem e compreender a mensagem de outros sujeitos envolvidos nesse processo, seja a família ou a escola, buscando, implicitamente ou não, as causas do não aprender. 10 Para o psicopedagogo entender como e o que o sujeito aprende o porquê não aprende, os significados ali atribuídos ao aprender e ao não aprender e qual a dimensão da intervenção psicopedagógica como resgate do sujeito para a aprendizagem, o processo de diagnóstico na clínica tem que ser entendido como processo permanente e não apenas inicial da relação terapêutica, pois, na interação e intervenção do psicopedagogo com o sujeito da ajuda, as próprias alterações advindas desse processo são objeto de estudo e compreensão. Assim, é de fundamental importância que o profissional de psicopedagogia consiga identificar como o sujeito se constitui que transformação sofreu ao longo das diferentes etapas de vida, quais as estruturas e conceitos por ele construídos e a forma pela qual se relaciona com o conhecimento. Para que haja conhecimento, o processo de aprender é construído pelo sujeito que aprende em inter-relação social, por meio da intervenção em quatro níveis: organismo, corpo, inteligência e desejo, não se podendo falar de aprendizagem excluindo algum deles. O organismo é a base para aprendizagem. O corpo participa do processo de aprendizagem e tem como função coordenar ações que resultam em acumular experiências. A inteligência é a estrutura lógica que se apropria do objeto conhecendo-o, generalizando-o e incluindo-o em uma classificação. O desejo está situado no nível simbólico, numa dimensão inconsciente. É o simbólico, através do não-dito, da atitude, que expressamos nossos sonhos, nossos erros, nossas falhas, nossos mitos. Esta dimensão responde também pelas significações de nosso aprender. Assim, nos faz únicos, cada um com sua história, seu imaginário, sua fantasia, seu medo, seu segredo, seu desejo de ser um aprendente ou não. (WOLFFENBUTTEL, 2005, apud ARAGÃO, 2010, p. 11). Considerando o problema de aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que se ocupam da inteligência, do desejo, do organismo e do corpo, se separadas não conseguem resolver. Portanto, o psicopedagogo clínico tem como dever não somente buscar compreender o porquê de o sujeito ter determinada dificuldade de aprendizagem, mas como ele pode vir a aprender e 11 como se dará esse processo de aprendizagem. Essa compreensão iniciará no processo do diagnóstico. O psicopedagogo clínico trabalha em um espaço psicopedagógico, que alguns preferem chamar de consultório. Dividi seu trabalho em sessões de 40 a 60 minutos. As sessões são planejadas de acordo com o objetivo avaliação ou intervenção. É o processo de investigação dos problemas ou da queixa, que o aprendente ou sua família traz ao espaço psicopedagógico. Estas sessões variam de 8 a 10. Nestas sessões o psicopedagogo clínico utiliza os instrumentos de investigação. O aprendente é todo indivíduo que aprende, e como aprender não exigi idade, lugar nem tempo, o aprendente é qualquer indivíduo. Dessa forma o psicopedagogo atende criança, adolescentes, jovens e adultos. Qualquer pessoa que precisa de ajuda para aprender ou para entender suas dificuldades. 4 ASPECTOS BÁSICOS: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA. Fonte: doity.com.br No diagnóstico psicopedagógico é realizada uma investigação na qual se procura compreender a forma que o paciente aprende e os desvios que ocorrem nesse processo. 12 Todo diagnóstico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não- aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem. (WEISS, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 13). O diagnóstico é uma das peças chaves para uma intervenção eficiente. Não basta ao psicopedagogo conhecer técnicas e provas, pois cada caso é singular e exige do profissional, além da competência teórica, um olhar sensível e particular. Cada paciente que chega à clínica traz junto sua história, suas individualidades e suas relações de coletividade, para o psicopedagogo é sempre um novo e complexo começo, que evoca seguidamente um novo olhar. O sucesso de um diagnóstico não reside no grande número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação. A maioria dos casos que recebo para avaliação psicopedagógica é de estudantes com quadro de fracasso escolar, apresentando os mais diversos sintomas. É importante que de algum modo se possa fazer um diagnóstico da escola para definição dos parâmetros do desvio. Não se pode apenas diagnosticar o sujeito isolado no tempo e no espaço da realidade socioeconômica que se vive no Brasil de hoje. (WEISS, 2000, apud ARAGÃO, 2010, p. 13). O diagnóstico psicopedagógico tem como objetivo básico identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social, possibilitando assim ao psicopedagogo fazer as intervenções e os encaminhamentos necessários. Podemos defini-lo como um processo de investigação referente ao que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. O diagnóstico para o psicopedagogo tem a mesma função que a rede para o equilibrista. O diagnóstico funciona como base para a intervenção. Entendo como Modelo de Aprendizagem o conjunto dinâmico que estrutura os conhecimentos que o sujeito já possui, os estilos usados nessa aprendizagem, o ritmo e áreas de expressão da conduta, a mobilidade e o funcionamento cognitivos, os hábitos adquiridos, as motivações presentes, as ansiedades, defesas e conflitos em relação ao aprender, as relações vinculares com o conhecimento em geral e com os objetos de conhecimento escolar, em particular, e o 13 significado da aprendizagem escolar para o sujeito, sua família e a escola. (WEISS, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 14). A relação do paciente com o terapeuta é, também, de fundamental importância para o processo do diagnóstico. Essa relação implica na validade e qualidade do diagnóstico, por isso, é importante terem empatia, ou seja, se identificarem um com outro, apresentando confiança; respeito e engajamento. O processo diagnóstico tem base no inter-relacionamento dinâmico e de condutas interdependentes entre o terapeuta que no caso é o diagnosticador e o paciente que é o diagnosticado, a comunicação que é estabelecida entre os dois faz com que o diagnosticador atue sobre o paciente sempre que apresentar qualquer conduta. Tudo na comunicação entre estes dois sujeitos deverá ser analisada durante o diagnóstico: a palavra, o modo de falar, a atitude,os gestos, a linguagem corporal, etc. É preciso que o terapeuta consiga compreender os pedidos de ajuda, dependência, proteção, reações onipotentes e fantasiosas expressas através de mecanismos transferenciais durante o diagnóstico. Compreender bem o que acontece, discriminando o seu papel, pode auxiliar o paciente a prosseguir no processo diagnóstico sem que ocorra uma fixação em pontos inadequados. O diagnóstico psicopedagógico é composto de vários momentos que temporal e espacialmente tomam dimensões diferentes conforme a necessidade de cada caso. Assim, há momentos de anamnese só com os pais, de compreensão das relações familiares em sessão com toda a família presente, de avaliação da produção pedagógica e de vínculos com objetos de aprendizagem escolar, busca da construção e funcionamento das estruturas cognitivas (diagnóstico operatório), desempenho em testes de inteligência e visomotores, análise de aspectos emocionais por meio de testes expressivos, sessões de brincar e criar. Tudo isso pode ser estruturado numa seqüência diagnóstica estabelecida a partir dos primeiros contatos com o caso (WEISS, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 14). No diagnóstico é importante que todas as regras de relacionamento, horários e honorários sejam bem definidos desde o primeiro contato. Essas regras devem ser claras e definidas em conjunto com o paciente e sua família. Por isso, é necessário o estabelecimento de um contrato com os pais e a construção de um enquadramento com estes e com o sujeito. Existem alguns aspectos importantes do contrato e do enquadramento: previsão de número aproximado de sessões e forma de encerramento do 14 trabalho, definição de dias, horários e duração das sessões; definição dos locais; honorários contratados e forma de pagamento. Estes aspectos são essenciais para o estabelecimento do profissional psicopedagogo. O processo do diagnóstico psicopedagógico clínico abrange várias etapas, que são: motivo da consulta, história vital, hora do jogo, provas projetivas, entre outras. No motivo da consulta é importante observar porque e por quem o paciente chegou até o terapeuta, se foi pela escola, pela professora, por um médico ou pela família. Isso é importante, pois dessa forma o psicopedagogo consegue entender que tipo de vínculo o paciente irá estabelecer, revelando dessa forma o grau de independência com que o paciente assume seu problema. Este primeiro momento com a família, é uma ocasião para estabelecer hipóteses sobre alguns aspectos importantes para o diagnóstico dos problemas de aprendizagem, como significação do sintoma na família ou, com maior precisão, a articulação funcional do problema de aprendizagem; significação do sintoma para a família, isto é, as reações comportamentais de seus membros ao assumir a presença do problema; fantasias de enfermidade e cura e expectativas acerca de sua intervenção no processo diagnóstico e de tratamento; modalidades de comunicação do casal e função do terceiro, entre outros. Este espaço de escuta oferecido para a família permite que a mesma elenque livremente, os motivos pelos quais busca a ajuda psicopedagógica e, também, quais os fatores que acredita causarem a não aprendizagem do paciente. Deve-se sugerir que os mesmos comentem sobre o motivo que os trouxe à clínica e que falem livremente sem que façamos perguntas particularizadas. (FERNÁNDEZ, 1999, apud ARAGÃO, 2010, p. 14). A entrevista do motivo da consulta permite conhecer as expectativas que os pais têm em relação à intervenção do psicopedagogo. Muitos pais, mesmo solicitando ou assumindo as consequências da consulta, apresentam resistências à ação do terapeuta. O momento da história vital no diagnóstico é realizado como uma segunda entrevista com a mãe, sendo que essa é realizada após o psicopedagogo conhecer um pouco seu paciente. Apesar de que nesta entrevista necessitamos uma série de dados bem estabelecidos, 15 deverá ser tão livre como for possível, dando-se à mãe como instrução o tema geral, deixando que as especificações surjam da espontaneidade do diálogo. No caso de um paciente que consulta por problemas de aprendizagem, serão as seguintes as áreas de indagação predominantes: antecedentes natais na fase pré-natal que abrange as condições de gestação e expectativas do casal e da família, onde as doenças durante a gestação, dados genéticos e hereditários, serão solicitadas somente se o caso justificar; fase perinatal que envolve as circunstâncias do parto, sofrimento fetal, cianose ou lesão, entre outros danos que costumam serem causas de destruição de células nervosas que não se produzem e também de posteriores transtornos e fase neonatal que inclui a adaptação do recém-nascido, choro, alimentação, capacidade de adaptação da família do bebê através do respeito ao ritmo individual do bebê entendendo suas demandas. Ainda nessa lista de indagações predominantes temos, aspectos significativos que devem ser investigados, como doenças e traumatismos ligados, diretamente, à atividade nervosa superior; tempo de reclusão a que a criança foi obrigada; processos abertamente psicossomáticos; disponibilidade física, fatigabilidade e limitações corporais, além de analisar o desenvolvimento motor; desenvolvimento da linguagem e desenvolvimento de hábitos da criança. Importante saber se as aprendizagens foram feitas pela criança no momento esperado, precoces ou retardadas pela família; também é necessário saber se a criança passou por situações dolorosas, mudanças, situações de perda, participação da criança nesses casos e condições em que se deram e conhecer as experiências escolares, transformações ocorridas na criança, expectativas para a família, entre outros. Com a obtenção desses dados o terapeuta começará a encaixar as peças e começará a delinear suas hipóteses. A Hora do Jogo é onde o psicopedagogo observará a estimulação do desenvolvimento motor, social, cognitivo e afetivo do paciente. Assim como são analisados os esquemas práticos de conhecimentos por meio da atividade assimilativo-acomodativa no bebê, a ludicidade fornece informações sobre os esquemas que organizam e integram o conhecimento num nível representativo. Por isto considera-se de grande interesse para o diagnóstico do problema de 16 aprendizagem na infância, a observação do jogo do paciente, e se faz isto através de uma sessão que se denomina “hora do jogo”. Para realizar essa atividade, o psicopedagogo conta com uma caixa que contém diversos materiais, sucatas e elementos não figurativos de vários tipos. Nessa etapa do diagnóstico o psicopedagogo consegue analisar de que forma a criança se relaciona com os objetos e em que condições ela é capaz de brincar. Outro momento importante do diagnóstico são as provas projetivas, que têm como objetivo conseguir identificar fatores emocionais que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem do paciente. O exame das provas projetivas permitirá em geral avaliar a capacidade do pensamento para construir, no relato ou no desenho, uma organização suficientemente coerente e harmoniosa como para veicular e elaborar a emoção; também permitirá avaliar a deteriorização que se produz no próprio pensamento, quando o quantum emotivo resulta excessivo. O pensamento incoerente não é a negação do pensado, ele fala ali mesmo onde se diz mal ou não se diz nada e isto oferece a oportunidade de determinar a norma no incongruente e saber como o sujeito ignora. (PAÍN, 1985, apud ARAGÃO, 2010, p. 17). Existem três tipos de diagnósticos mais comuns dentro das provas projetivas: desenho da figura humana, relatos e desiderativo. O desenho da figura humana permite avaliar os recursos simbólicos do sujeito para referir a diferenças como criança/adulto feminino/masculino; fada/bruxa, etc., o que revela o nível de sua adequação semiótica, cuja relação com a aprendizagemse teve oportunidade de enfatizar na ocasião em que se analisou a hora do jogo. Nas provas de relatos, elas têm como instrução criar uma história ou antecipar seu final. São oferecidos ao sujeito estímulos gráficos ou verbais que sugerem certas relações ou transformações viáveis. O sujeito percorre um dos caminhos insinuados trazendo elementos mais ou menos originais. As lâminas e contos não são neutros, pelo contrário, apontam temas classicamente conflitivos, provocando defesas mais ou menos apropriadas. Em relação ao diagnóstico desiderativo, As dificuldades, as falhas e os rodeios que os sujeitos com problemas de aprendizagem apresentam na prova denominada de desiderativo indicam sua dificuldade para recuperar intelectualmente objetos perdidos e reprimidos. O diagnóstico não segue uma linearidade, cabe ao 17 psicopedagogo durante o processo observar o andamento das sessões e, assim, vai construindo o percurso. Após as sessões diagnósticas, o psicopedagogo tem condições de avaliar o processo de ensino e aprendizagem do paciente. De acordo com a hipótese diagnóstica, uma vez que foi recolhida toda a informação e reunidos os diferentes aspectos que interessam a cada área investigada, tem-se a necessidade de avaliar o peso de cada fator na ocorrência do transtorno de aprendizagem. Em relação à devolução diagnóstica, a mesma autora comenta que talvez o momento mais importante desta aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, pois se realiza primeiramente com o paciente e depois com os pais, nesse caso quando se trata de uma criança. Após a conclusão do diagnóstico, o psicopedagogo necessita determinar qual tratamento é mais adequado para o problema em que o paciente apresenta. Dizemos que, em geral, o tratamento psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se de um transtorno na aprendizagem. “A tarefa diagnóstica tem um enquadramento próprio que possibilita solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos”. (PAÍN, 1985, apud ARAGÃO, 2010, p. 19). Os objetivos básicos do tratamento diagnóstico são a desaparição do sintoma e a possibilidade do sujeito de aprender normalmente ou, ao menos, no nível mais alto que suas condições orgânicas, constitucionais e pessoais lhe permitam. Ainda, conforme a autora pode-se resumir os objetivos do tratamento em três fundamentais: em primeiro lugar, conseguir uma aprendizagem que seja uma realização para o sujeito; em segundo lugar, conseguir uma aprendizagem independente por parte do sujeito e por último, propiciar uma correta autovalorização. Para poder cumprir os objetivos expostos e garantir a conservação do enquadre, o psicopedagogo necessita adotar técnicas gerais que são as seguintes: organização prévia da tarefa, graduação, autoavaliação, historicidade, informação e indicação. 18 5 A CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. Fonte: trabalhosescolares.net Existem muitos fatores que interferem no processo de aprendizagem, porém a criança não é a única responsável pelos problemas que enfrenta ou que se encontra. Mas também, não é a busca de culpados por esses problemas que permitirá encontrar soluções. É preciso o psicopedagogo ter clareza de que a dificuldade de aprendizagem não se dá isoladamente, mas precisa ser compreendida como um sintoma social, cultural, epistemológico e individual, que se manifesta na dimensão da singularidade do sujeito. Na realidade, para compreender os problemas que surgem na aprendizagem, necessita-se um processo de interação, fora desse não existirá compreensão. Os problemas necessitam ser analisados considerando o processo interativo existente para haver a aprendizagem. Dessa forma o psicopedagogo precisa ter um olhar e uma escuta aprofundada a todos os momentos do processo. [...] podemos considerar o problema de aprendizagem como sintoma, no sentido de que o não-aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa numa constelação peculiar de comportamentos, nos quais se destaca como sinal de descompensação.(PAÍN, 1989, apud ESCOTT, 2004, p. 28). 19 O sintoma do não aprender tem um significado funcional dentro da estrutura na qual está inserido o sujeito. Nas dificuldades de aprendizagem sintoma, aprender torna-se um fato ameaçador e, portanto, fonte de sofrimento, de repulsa e de desprazer. Pode-se dizer que o que é percebido pelo próprio sujeito ou pelos outros é chamado de sintoma. Com o sintoma o sujeito sempre diz alguma coisa aos outros, se comunica, e sobre o sintoma sempre se pode dizer algo. (WEISS, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 21). O sintoma é, portanto, o que surge da personalidade em interação com o sistema social em que está inserido o sujeito. O problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas ocasionados pelas causas externas são chamados por essas autoras de problemas de aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de personalidade ou familiar do sujeito denominam-se sintoma. Segundo as autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é preventivo. Na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura individual e familiar, o trabalho é terapêutico. Para entender o significado do problema de aprendizagem sintoma, deveremos descobrir a funcionalidade do sintoma dentro da estrutura familiar e aproximar-nos da história individual do sujeito e da observação de tais níveis operando. Para se compreender a diferença entre o problema de aprendizagem reativo e o sintoma, podendo ser comparados com a diferença que existe entre a desnutrição e a anorexia, pois na desnutrição falta a comida, mas existe a vontade de comer e na anorexia o fator é outro, existe a comida, mas por algum motivo o sujeito não come. Em ambos existe o fato de não comerem, porém o motivo disso é diferente em cada caso. De acordo com essa comparação, no sintoma, existem as possibilidades de aprendizagem, como a comida existe para o anoréxico, porém se perdeu a vontade de aprender. E no problema chamado de reativo, pode-se comparar com o desnutrido, pois nesse caso o sujeito deseja aprender, mas não são ou não foram proporcionadas situações de aprendizagens viáveis. Assim como em todas as classes sociais pode aparecer a anorexia, em todas as situações socioeducativas pode aparecer o problema de aprendizagem-sintoma. 20 É de grande importância ter-se claro o que é a desnutrição (fracassos escolares) e o que é a anorexia (problemas de aprendizagem), para que dessa forma se possa fazer a intervenção antes que algum deles seja produzido, pois, em muitos casos, um pode vir a surgir do outro, ou seja, um sujeito com desnutrição pode vir a se transformar em um sujeito com anorexia como uma defesa, dessa forma um problema reativo pode vir a se tornar um sintoma. O fracasso escolar ou o problema de aprendizagem deve ser sempre um enigma a ser decifrado que não deve ser calado, mas escutado. Dessa forma, quando surgir o “não sei” como principal resposta, o psicopedagogo deve perguntar-se o que não está permitido saber. Para resolver o problema de aprendizagem reativo, necessitamos recorrer principalmente os planos de prevenção nas escolas (batalhar para que o professor possa ensinar com prazer para que, por isso, seu aluno possa aprender com prazer, tender a denunciar a violência encoberta e aberta, instalada no sistema educativo, entre outros objetivos), porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas (assessoramento à escola, mudança de escola, orientação a uma ajuda extra-escolar mais pautada, a um espaço de aprendizagem extra-escolarexpressivo, etc), para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico. Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança (problema de aprendizagem – sintoma ou inibição), vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada [...] Para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar. (FERNÁNDEZ, 1990 apud BOSSA 2000, p.88). Nesse contexto fica clara a importância do trabalho em conjunto com a família e com a escola. Em determinados casos de não aprendizagem, a intervenção pode ser feita na escola, em outros na clínica. A aprendizagem é um processo que resulta de uma interação do sujeito com seu meio. Dessa forma a dificuldade para aprender se caracteriza por ser um impedimento, persistente ou momentâneo, do sujeito diante de obstáculos que surgem nessa interação. O processo de aprender não acontece em linha reta, numa ascensão suave de aquisições que vão se somando simplesmente umas às outras; e sim apresenta um traçado acidentado, definido como “dente de serra”, com picos de alturas variadas, em que se soma, subtrai-se, divide-se e multiplica-se. Em alguns momentos o aprendiz resolve as situações com facilidades; em outros, surge à dificuldade que 21 mobiliza para a solução. (BARBOSA, 2001, apud ARAGÃO, 2010, p. 23). A dificuldade na aprendizagem é um elemento que faz parte do processo de aprendizagem e não deve ser vista sem vínculo com o mesmo. Sem dificuldade não existe aprendizagem real, não havendo desequilíbrio, não há busca pelo equilíbrio e a aprendizagem não se faz. 5.1 Modalidades de aprendizagem. Atualmente a área psicopedagógica busca referências pedagógicas na abordagem histórica crítica. Cabe retomar que, a psicopedagogia é um campo da ciência que busca referências teóricas na psicologia, psicanálise, antropologia, pedagogia, fonoaudiologia, entre outros, e que esses referenciais vão se constituindo e se modificando. Então, além de a psicopedagogia ser interdisciplinar, está em constante desenvolvimento. Em cada um de nós, se pode observar uma particular “modalidade de aprendizagem”, quer dizer, uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e seu saber. Tal modalidade de aprendizagem constrói-se desde o nascimento, e por meio dela nos deparamos com a angústia essencial ao conhecer-desconhecer. Cada pessoa tem sua modalidade singular de aprendizagem, como um idioma, por exemplo, pode ser diferente um do outro, mas não quer dizer que necessariamente todas as pessoas que falam esse idioma pensam ou dizem as mesmas coisas. Por isso, as modalidades de aprendizagem estão essencialmente ligadas à estrutura da personalidade. A psicopedagogia parte da história pessoal do sujeito, procurando identificar sua modalidade de aprendizagem e compreender a mensagem de outros sujeitos envolvidos nesse processo, seja a família ou a escola. A modalidade de aprendizagem em um paciente com problemas para aprender, costuma ser sintomática, e por isso este sujeito tem dificuldade em aprender, mas por outro lado, também, algo lhe permite e permitiu aprender. Muitas vezes, na aprendizagem, o sujeito acredita que dispõe somente daquilo que sempre usa e não procura buscar ou encontrar o que também tem, mas que há muito tempo não utiliza. 22 Diferenciamos “modalidade de aprendizagem” de “modalidade de inteligência”. A aprendizagem é um processo em que intervém a inteligência, o corpo, o desejo, o organismo, articulados em um determinado equilíbrio; mas a estrutura intelectual tende também a um equilíbrio para estruturar a realidade e sistematizá-las através de dois movimentos que Piaget definiu como invariantes: assimilação e acomodação. (FERNDÉZ, 1991, apud ARAGÃO, 2010, p. 24). A assimilação refere-se ao movimento do processo de adaptação no qual os elementos do ambiente alteram-se para poderem ser incorporados à estrutura do organismo. E a acomodação é o movimento do processo de adaptação pelo qual o organismo é que se altera. Dessa forma, pela assimilação o sujeito transforma a realidade para integrá-las a seus esquemas de ação e pela acomodação transforma e coordena seus próprios esquemas para adequar-se à realidade do objeto a conhecer. (FERNÁNDEZ, 2001, apud ARAGÃO, 2010, p. 24). Para que haja uma aprendizagem, precisa-se ter uma modalidade de aprendizagem na qual se produza um equilíbrio entre os movimentos assimilativos e acomodativos. Observa-se a constituição de diferentes modalidades nos processos representativos cujos extremos podem descrever- se como: hipoassimilação-hiperacomodação, hipoacomodação- hiperassimilação. Hipoassimilação: Os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, como também a capacidade de coordená-los. Isso redunda em um déficit lúdico e na disfunção do papel antecipatório da imaginação criadora. Hiperassimilação: pode ocorrer uma internalização prematura dos esquemas, com um predomínio lúdico que, em vez de permitir a antecipação de transformações possíveis, desrealiza negativamente o pensamento da criança. Hipoacomodação: aparece quando não se respeitou o tempo da criança nem sua necessidade de repetir muitas vezes a mesma experiência. Hiperacomodação: houve uma superestimulação da imitação. A criança pode cumprir com as consignas atuais, mas não dispõe com facilidade de suas expectativas nem de sua experiência previa. (PAÍN, 1985, apud FERNÁNDEZ, 2001, p.83). Nos problemas de aprendizagem sintoma encontra-se na maioria a modalidade heperassimilativa/hipoacomodativa, mas também existem sintomas que se estruturam de uma modalidade hiperacomodativa/hipoassimilativa. O problema de aprendizagem sintoma instala-se sobre uma modalidade existente, modalidade esta que o sujeito construiu desde o nascimento, na qual 23 intervêm significações ainda anteriores a ele mesmo. O sintoma surge da modalidade prévia, mas ele vai se modificando, estereotipando e enrijecendo. 6 A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM PROFESSORES, ESCOLA E FAMÍLIA. Fonte: votuporangatudo.com.br É de grande importância que haja um trabalho integrado entre psicopedagogo, professor, escola e família. Dessa forma é necessário que no trabalho do profissional de psicopedagogia, se tenha a definição dos papéis dele, do professor, da escola e da família. Propor o pensamento psicopedagógico sistêmico no entendimento das questões educativas, na família e na escola, é possibilitar uma visão mais ampla entre o ensinar e o aprender na compreensão do quando, onde e como acontece. Seria possibilitar aos alunos, crianças e adolescentes, membro de uma família, assimilarem os conhecimentos que vão adquirindo em seus contextos culturais, reunindo-os, religando-os em novas bases de saber. (MUNHOZ, 2004 apud SCOZ, 2004, p.175). Com base nessa afirmação, defende-se que um saber só é pertinente se for capaz de ser situada num contexto, neste caso a família. O ambiente escolar pode exercer, também, um efeito estimulador para o estudo ativo dos alunos. Os professores precisam procurar unir-se a direção da escola e aos pais para tornar a escola além de um espaço educativo, também um lugar 24 agradável e acolhedor. A família deve estar ligada à escola, pois suas funções se encontram e se complementam. É na família que se tem as primeiras experiências de aprendizagem, pois o indivíduo e a família vivem em constante interação. Sabemos que as famílias podem ser facilitadoras ou inibidoras desse processo, portanto compreendê-las em suas interações e significados sobre o que consiste a autoria de pensamento na formação do sujeito autor, como poder diferenciar-se de suas famílias deorigem, acaba sendo um ponto crucial nos estudos sobre a família, no desempenho de sua função educativa. (MUNHOZ 2004 apud SCOZ, 2004, p. 181). O psicopedagogo deve buscar o que significa o aprender para o sujeito e sua família, tentando descobrir o porquê do sujeito não aprender. Conhecer como se dá à circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem do sujeito, não esquecendo qual o papel da escola na construção do problema de aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de atendimento. É a escola, indiscutivelmente, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem. [...] Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito de problemas de aprendizagem fazia com que os alunos com dificuldade fossem encaminhados concomitantemente para profissionais das mais diversas áreas da atuação. Pouco a pouco, foi se criando a consciência da necessidade de uma formação mais globalizante e consciente, que unisse a ação educacional na figura de um único indivíduo apto para integrar conhecimentos e para atuar de maneira mais objetiva e eficaz. Assim, os atendimentos antes dispersos entre várias pessoas poderiam centrar-se num só profissional, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o resgate de aprender e desenvolver-se. (SCOZ, 1992, apud ARAGÃO, 2010, p. 27). Assim, é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição à escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios nesse processo. [...] não basta que o psicopedagogo tenha somente uma ação preventiva, trabalhando com educadores, quando surgirem processos patológicos individuais; nessas situações cresce a importância da identificação da patologia e da indicação terapêutica. Da mesma forma, não é suficiente que o psicopedagogo intervenha terapeuticamente, atendendo ao sujeito individualmente, sem que sua ação estenda-se à instituição escolar. Dentro dessa perspectiva, as dimensões clínicas e institucionais não se contrapõem. (WONFEBUTTEL 2001 apud ESCOTT, 2004, p.34). 25 O profissional de psicopedagogia tem grande importância, atuando, como assessor na busca da melhoria do processo de aprendizagem e mais importante ainda é que se desenvolva um trabalho integrado psicopedagogo, professor, escola e família, no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. A reação familiar frente ao fracasso escolar ou frente ao não aprender, relaciona-se com os valores que predominam o grupo social ao qual se liga à família, uma imagem desvalorizada de si mesma. É necessário que a família procure conhecer melhor a escola que vai 28 escolher para seus filhos, que tipo de homem pretende formar, sua metodologia de ensino, formas de avaliação, normas disciplinares, atualização de professores, etc. (WEISS, 2004, apud ARAGÃO, 2010, p. 27). Nem todas as famílias se comprometem com a escola em que seu filho está inserido, muitos pais se ausentam da participação escolar. Alguns desconhecem a importância de sua participação junto à escola e aos professores. Pensar a escola, à luz da psicopedagogia significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade. (BOSSA, 2000, apud ARAGÃO, 2010, p. 28). Sendo assim, o psicopedagogo não irá analisar somente quem ensina ou quem aprende, mas todo o contexto, incluindo também a família e a sociedade. Cabe ao profissional da psicopedagogia livrar-se de estereótipos, generalizações e analisar cada escola com suas histórias e particularidades. [...] O professor desempenha essa tarefa com dedicação e esforço constante e, geralmente, ao sentir que a família não colabora ou até atrapalha a sua tarefa, sente-se impotente e desvalorizado e faltam- lhe estratégias e habilidades para intervir. Nesses casos, fica difícil ajudar esse aluno, e a relação com a família torna-se frustrante e difícil. O psicopedagogo pode, então, ajudar a tomar distância, a analisar a situação com maior objetividade e a tentar mediar nessa relação para superar a incompreensão ou rejeição que possa gerar. (SOLÉ, 2000, apud ARAGÃO, 2010, p. 28). Dessa forma, família, escola e professores possuem um fundamental papel no processo de aprendizagem da criança. Essa tríade precisa estar 26 comprometida com o processo de ensino e aprendizagem e, assim, haverá um trabalho integrado com o psicopedagogo. 7 A PRÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO BRASIL. Fonte: eltribuno.com As práticas psicopedagógicas são relativamente novas no território brasileiro. Datam da década de 1960 e foram trazidas a esta pátria por profissionais e estudiosos argentinos. Desde então, elas vêm ganhando espaço nas questões educacionais principalmente naquelas que dizem respeito aos problemas de aprendizagem. Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPP, 2005), não existe uma prática padronizada e uniforme nas ações psicopedagógicas, “aquela que o profissional utiliza para ajudar seu cliente a aprender e ter sucesso é a melhor e a mais adequada. Cada indivíduo tem sua peculiaridade e assim deverá ser estudado”. Identificamos uma gama de ações psicopedagógicas, todas com o objetivo de identificar e intervir nos problemas de aprendizagem. Quando um profissional psicopedagogo é procurado, pretende-se que este diagnostique e intervenha na questão apresentada. O que ocorre é que a queixa, que geralmente parte da escola, aponta para os pais ou responsáveis algo que está obliterando a aprendizagem daquele aluno. 27 O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos no modelo de aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer dentro do esperado pelo meio social. (WEISS, 1991, apud CHAVES, 2010, p. 4). O princípio da ação psicopedagógica, na maioria das vezes, está marcado pela anamnese que consiste na identificação do problema de aprendizagem e a proposição de uma hipótese diagnóstica que dê conta do caso apresentado. Para a análise inicial, propõe alguns caminhos investigativos: a história das primeiras aprendizagens, a evolução geral, a história clínica, a história da família nuclear, a história da família ampliada e por fim, a história escolar. Um dos instrumentos para se efetuar tal percurso é formular um questionário de anamnese que procure levantar o maior número de informações, a fim de conseguir pistas das dificuldades encontradas no aprendente. O uso recursivo do questionário procura focar a investigação por duas vias. A primeira seria a via horizontal que procura responder como o problema se apresenta hoje, ou seja, trata-se de procurar levantar um maior número de dados o mais abrangente quanto possível em que se possa verificar a dinâmica do suposto problema de aprendizagem. O percurso vertical é neste momento que se procura fazer um mergulho nas diversas histórias do sujeito. O psicopedagogo ao inquirir os pais ou o próprio aprendente faz um levantamento biográfico meticuloso, abrangendo desde sua vida de pré-concepção até seu momento atual. Acredita-se que essas informações possam desvelar possíveis entraves que estejam interferindo no processo de aprendizagem. Após a escuta da queixa inicial e da fase de anamnese, passa-se à fase de avaliação propriamente dita. Onde há uma série de avaliações que podem ser feitas com o sujeito, tais avaliações visam levantar alguma hipótese do problema de aprendizagem. Uma estratégia utilizada é discutir a avaliação do sujeito através de suas produções gráficas por meio de desenhos; com isso procura-se perceber como a criança se organiza de forma espontânea frente ao material lúdico e gráfico, segue-se a esta observação a efetivação de um espaço onde sepossa dar muita liberdade à criança para que fale como quiser (SCOZ, 2004, apud CHAVES, 2010, p. 4). 28 Há ainda a possibilidade de se fazer uma avaliação com os aportes psicanalíticos. A observação em momento lúdico possibilita ao psicopedagogo observar as angústias e defesas que são mobilizadas pela situação de aprendizagem, pelo erro cometido, pela instrução e pela presença do psicopedagogo. Seguem-se então sugestões de avaliação neuropsicológica. Neste momento, o psicopedagogo deve estar atento às funções motoras, às praxias orais, às funções acústico-motoras e às funções intelectuais do sujeito. Alia-se a isso um exame psicomotor. Para essa empreitada, o psicopedagogo deverá estar atento a uma série de particularidades do sujeito. Para tanto, o profissional necessitará observar: coordenação óculo-manual, coordenação dinâmica, controle postural (equilíbrio), controle do próprio corpo, organização perceptiva, linguagem e lateralidade. Há ainda algumas considerações, o psicopedagogo deve estar atento ás intenções comunicativas do sujeito, a expressão oral, a quantidade e a qualidade da fala, a produção articulatória etc. Para compor a avaliação o profissional deve considerar dois tipos de avaliação: pedagógica e do nível operatório. No primeiro tipo de avaliação, procura-se verificar o desenvolvimento da leitura, o desenvolvimento da escrita, a aprendizagem matemática etc. Nessa oportunidade, o psicopedagogo pode também utilizar recursos lúdicos. Por exemplo, para a avaliação da leitura, os dados de anamnese se tornam importantes na medida em que a seleção dos textos a serem utilizados pode (e é bom que assim seja) fazer parte do rol de interesses do aprendente. No que diz respeito à avaliação matemática, esta pode se dar por meio de jogos em que se solicite ao sujeito que dê conta do somatório de pontos de uma partida disputada entre psicopedagogo e aprendente. Quanto ao nível operatório segue-se o modelo clássico piagetiano no qual se procura investigar a complexidade estrutural do aprendente. Dependendo da idade do aprendente, o psicopedagogo poderá realizar provas de conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos, de quantidade de líquido, de quantidade de matéria, de comprimento, de peso e de volume. Ainda podem ser realizadas, para avaliação do nível operatório, provas de 29 mudança de critério (dicotomia), quantificação da inclusão de classes, intersecção de classes, seriação, combinação e permutação. A intervenção psicopedagógica está diretamente relacionada com o resultado da avaliação. Assim, uma vez detectado o problema de aprendizagem, o psicopedagogo dispõe de técnicas de intervenção com o objetivo de ajudar o aprendente em sua limitação. O sujeito poderá apresentar problemas com cálculos matemáticos, o que poderá ser classificado como acalculia ou discalculia, da mesma forma as dificuldades léxicas são classificadas como alexia ou dislexia. A essas dificuldades acrescentam-se: agrafia, disgrafia, disortografia, discaligrafia, dissintaxe ou ainda sintomas combinados. Muitas técnicas têm como objetivo modificar a ação corporal do sujeito afastando aquilo que esteja dificultando seu aprendizado, ou mesmo, quando esta ação não é percebida pelo aprendente, procuram desfazer movimentos desnecessários que interfiram no momento da aprendizagem. Assim, por exemplo, o sujeito que possua uma qualidade gráfica comprometida pode fazer o treino da escrita com lápis triangular em um papel sensível à pressão da mão. O psicopedagogo intervém nos momentos em que perceba força desnecessária no ato da escrita. Também este pode intervir na postura geral global do sujeito, sugerindo-o posicionar-se de maneira adequada à tarefa solicitada, neste caso, a escrita. Existe também uma série de exercícios gráficos desenvolvidos pela psicomotricista francesa Giselle Soubiran que visam ao aperfeiçoamento da mecanização da escrita. Esses exercícios trabalham freio inibitório na escrita, ajuste fino de precisão etc. Enfim, são práticas corporais que visam à melhoria da escrita do sujeito (LEVIN, 1995, apud, CHAVES, 2010, p. 4). Se por outro lado o problema de aprendizagem se encontra na leitura, uma das técnicas utilizadas é convidar o aprendente a realizar desenhos, que podem ser feitos por meio da técnica de desenho livre, desenho cego e, a partir daí, pede-se que o sujeito elabore uma estória sobre sua criação e depois a leia para o profissional. Aqui, o psicopedagogo terá oportunidade de favorecer o treino de seleção de figura-fundo na seleção textual, poderá também propiciar a capacidade de análise e síntese do sujeito, uma vez que seja solicitado a recontação da estória alterando seu final, o que possibilita ao sujeito “brincar” com seu próprio texto. 30 Por sua vez, se as dificuldades apresentadas estão no nível matemático, há um conjunto de técnicas que favorecem a solução desse tipo de problema. O uso de jogos que requeiram do sujeito à realização de pequenas somas ou subtrações é largamente empregado. Acredita-se que, mesmo tendo de realizar tarefas matemáticas no espaço clínico, o sujeito pode ter sucesso em suas atividades, uma vez que essas tarefas estão inseridas em um momento lúdico, o que o afasta daquela situação convencional de sala de aula, onde se cumpre muitas vezes uma tarefa enquanto condição capital para sua promoção ou não de ano escolar. Vemos o quanto são diversas as fontes de intervenção psicopedagógica, o que depende numa relação direta da formação inicial do psicopedagogo e leva-se também em consideração a singularidade do sujeito. Com o propósito de estudar a aprendizagem e seus problemas, a Psicopedagogia procura relacionar outras áreas de conhecimento, a fim de realizar um trabalho interdisciplinar, contribuindo para a compreensão do processo, a orientação dos problemas decorrentes e também para melhorar a qualidade do ensino. (PASSERI, 2003, apud CHAVES, 2010, p. 6). Acredita-se que, não obstante a dislexia ter suas manifestações clássicas, a forma de intervir deve levar em consideração a particularidade de cada sujeito. Dentro dessa visão, não existe “o disléxico” assim como não existe “a forma ideal de intervenção para todos os disléxicos”. 8 A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA. 31 Fonte: psicoenvolver.com.br Marcadamente duas grandes teorias são utilizadas pela psicopedagogia clínica brasileira. Trata-se da teoria psicológica piagetiana, conhecida como Psicologia Genética, e da teoria psicanalítica, quer em sua origem freudiana ou em sua versão lacaniana. Faz-se essa distinção entre teorias porque epistemologicamente psicologia e psicanálise se diferem. Os aportes teóricos e as práticas psicanalíticas são de outra ordem dos daqueles da psicologia. De um lado, a teoria genética da inteligência, e, de outro, a psicanálise, são precisamente irredutíveis, visto que uma se apóia sobre a lógica da ação, enquanto que a outra, sobre a realização do desejo, estando as condições da verdade, para cada uma delas, nas leis próprias a seus objetos. (PAÍN, 1999, apud CHAVES, 2010, p. 7). O primeiro deles é a noção de estrutura: tanto Piaget como Lacan defende a ideia de ordenação do universo humano, através da qual é possível a obtenção de leis e propriedades dessa totalidade. O segundo elemento é a noção de gênese. A questão da gênese em Piaget não apresenta qualquer dúvida, pois sua própria psicologia estava preocupada com a gênese do conhecimento e, portanto, do desenvolvimento da inteligência. Já em psicanálise, considerar a psicanálise, de um modo superficial, como uma teoria genética, posto que ela recorre sempre, seja à origem da vida psíquica ou aos estágios do desenvolvimento da criança. O terceiro elemento é a noção de inconsciente. Há neste último argumento uma inversão O inconscienteé uma das premissas da psicanálise, um dos fundamentos desta teoria, contudo, no que diz respeito à Psicologia Genética a pesquisadora apoia-se na compreensão de Piaget de que o passado intelectual do indivíduo é para si próprio bem mais desconhecido que o passado sentimental, porque as fontes do primeiro devem ser procuradas nas coordenações das ações, que escapam, totalmente, à visão direta. Assim o inconsciente piagetiano é cognitivo, enquanto que o inconsciente freudiano é simbólico. Os autores supracitados trabalham com bastante eloquência tanto a teoria da Psicologia Genética de Piaget como a Psicanálise, procurando fazer em suas obras uma apara das arestas dessas 32 teorias, com o objetivo de fazê-las dialogar em torno de um objetivo comum: o sujeito com problemas de aprendizagem. A questão não é nada fácil. Sabe-se que o objeto da Psicanálise é diverso daquele da Psicologia Genética, assim como as condições em que a teoria psicanalítica surge são muito diversas das condições de Escola de Genebra. E por que então a insistência nessa dupla jornada? Qual o objetivo desses autores em querer compreender o aprendente em seus aspectos cognitivos e desejantes? Uma das referências mais comuns que estes autores fazem pelo duplo interesse da conjugação Psicanálise e Psicologia Genética é a própria noção elaborada por Piaget (1989, p.227) quando este afirma que um dia as duas teorias se complementarão e darão espaço a uma só teoria que dê conta das questões cognitivas e simbólicas. Em compensação estou persuadido que chegará o dia em que a psicologia das funções cognitivas e a psicanálise serão obrigadas a se fundir numa teoria geral que melhorará as duas corrigindo uma e outra, e é esse futuro, que é conveniente prepararmos, mostrando desde agora as relações que podem existir entre as duas. (PIAGET, 1989, apud CHAVES, 2010, p. 7). Contudo, a Psicanálise e a Psicologia Genética não são as únicas teorias que influenciam as práticas em psicopedagogia clínica no Brasil. Outras perspectivas psicológicas são a psicometria e a avaliação por testes projetivos. Trata-se de um recurso exclusivo de uso profissional dos psicólogos, mas aqueles psicopedagogos que têm como formação a graduação a psicologia o utilizam. A psicometria é fundamentada em concepções sobre inteligência dentre as quais a Teoria do fator geral da inteligência de Charles Spearman e a teoria multifatorial de L. L. Thurstone. Já os testes projetivos são baseados na teoria psicanalítica, nestes há a pressuposição de que na atividade solicitada no processo de avaliação o aprendente poderá projetar seu estado psíquico sendo passível de avaliação por parte do psicopedagogo. [...] a psicometria utilizada para medir habilidades e competências é entendida como uma ‘fotografia instantânea’. Hoje, uma parte significativa dos profissionais está mais interessada em pesquisar a zona de desenvolvimento proximal. Atualmente, a perspectiva de análise é oposta àquela dos primórdios dos estudos do fracasso escolar. (RUBINSTEIN, 2004, apud CHAVES, 2010, p. 8). 33 Destaca-se outro nível de avaliação da aprendizagem criado por L. S. Vigotski (2001). Este psicólogo criou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) ao realizar estudos com crianças. Estas eram convidadas a realizarem tarefas de acordo com o grau de complexidade relativo às suas idades. Em um segundo momento, o pesquisador introduzia a presença de um sujeito mais capacitado com o objetivo de auxiliar a realização de tarefas mais complexas. O desempenho das crianças auxiliadas era superior àquele apresentado quando em atividades individuais. Tal fato o levou a acreditar na existência de um espaço de desenvolvimento que apontava para um sentido prospectivo. As crianças eram avaliadas não em relação ao seu passado, o que supostamente já haviam aprendido, mas em relação às potencialidades futuras que proporcionariam a resolução de problemas. Talvez o que seja importante considerar, a partir dessas explicações, é que a ZDP não é uma estrutura e muito menos pode ser atestada por testes psicométricos, acerta Rubinstein. Neste sentido, o que o psicopedagogo deve procurar perceber são os processos de interações infantis e as ZDP que ali emergem na dinâmica da aprendizagem. Ainda no sentido da interação social, a psicopedagogia brasileira se apropria da teoria de Pichon-Rivière. Trata-se de uma teoria sistêmica que procura perceber o papel que o sujeito ocupa dentro de um grupo, sendo que este pode ser sua família, sua escola etc. No tópico seguinte, discutiremos de que modo se dá a articulação das práticas em psicopedagogia clínica no Brasil com as teorias que lhes dão suporte. A partir desse confronto, poderemos esboçar o status do espaço epistêmico da psicopedagogia clínica brasileira. 9 FORMAÇÃO EPISTEMOLÓGICA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA NO BRASIL. A fundamentação teórica da psicopedagogia clínica brasileira se dá pelo caminho da diversidade. São incontáveis as ciências que fundamentam as 34 práticas, passando desde ciências da área da saúde como medicina e fonoaudiologia, seguindo seu curso, até a psicologia e a pedagogia. Dizer transdisciplinaridade no lugar de interdisciplinaridade não se mostra gratuito nem inócuo. O segundo termo pressupõe, necessariamente, uma operação de articulação teórica que nós descartamos por considerá-la inviável, na medida em que cada um dos campos teórico-práxicos considerados, constitui, em sentido estrito, uma noção de sujeito que não guarda relação alguma com a outra: sujeito epistêmico x sujeito do desejo (por sinal, que assim seja não é nenhum pecado). Isto determina que, assim como cada um desses campos amalgama-se em torno de uma noção particular de sujeito, o campo transdisciplinar que vislumbramos costura, por sua vez, uma nova noção – um novo objeto teórico construído com os retalhos dos anteriores. Terrorífica criatura? Apesar de que todo o empreendimento teórico, em certo sentido, não faça senão encarnar o espírito do Dr. Frankenstein por se valer também de retalhos, daí não decorre que, necessariamente, sejamos tão displicentes a ponto de montar o nosso monstro com os olhos na nuca. O sujeito epistêmico do construtivismo genebriano (bem como seu sujeito psicológico pós-70) e o sujeito do desejo inconsciente da psicanálise não podem ser simplesmente costurados. (LAJONQUIÈRE, 2003, apud CHAVES, 2010, p. 9). A bricolagem de retalhos de diversos corpos humanos causa um estranhamento a ponto das pessoas não conseguirem elaborar uma gestalt satisfatória. Quando se fala em gestalt satisfatória refere-se às leis da percepção: fechamento, continuidade, boa forma etc. O não fechamento da gestalt faz com que o homem não se reconheça homem, a criatura não se reconheça criatura, causando repúdio ao desconhecido. Como reconhecer as diversas teorias que embasam o corpo teórico da psicopedagogia clínica brasileira? Será que a psicanálise reconheceria seu retalho naquele corpo? Será que Piaget encontraria a parte que lhe cabe nesta combinação? E quanto aos demais saberes (psicomotricidade, linguística, neurologia, neurociência, psicologia social, antropologia, sociologia etc.)? Se for feito uma investigação mais acurada e minuciosa, veremos que só podemos dar um passo seguinte na compreensão do sujeito que procura a clínica se tivermos respondido às inquietações anteriores. Ou seja, se não tivermos bem claro qual o sujeito a ser investigado na clínica psicopedagógica e mais ainda, por quais meios investigar, estaremos fadados a acrescentar saberes em uma ordem exponencial aumentado ainda mais este conglomerado de pretensas contribuições nas dificuldades de aprendizagem. 35 Faz-se necessária à psicopedagogia clínica brasileira, portanto, antes de qualquer coisa: 1. Recortar seu objeto de estudo; 2.Compreender epistemologicamente que teoria ou teorias dão conta desse objeto; 3. Verificar a consistência dessas teorias na compreensão da problemática envolvida no processo de aprendizagem; 4. Finalmente, harmonizar epistemologicamente os diversos pilares teóricos na clínica psicopedagógica. Há algumas indicações que podem auxiliar a definir a psicopedagogia, no sentido de configurar seu campo de investigação e seu objeto de estudo. A partir da visão fenomenológica, a psicopedagogia estabelece seu objeto de estudo, uma unidade vital no ato de conhecer a realidade, o ser cognoscente. Portanto, a psicopedagogia, com essa nova perspectiva, não percebe mais os alunos como partes isoladas, inteligência, emoção, psicomotricidade que são necessárias para aprender. O que se tem é um sujeito, um ser que, se o dissecamos para melhor conhecê-lo, apenas o destruímos. Portanto, não faz sentido falar em inteligência ou afetividade como dimensões isoladas, mas como dimensões integradas por um sujeito, por um eu que se dedica a conhecer o mundo. O passo seguinte é entender as teorias que dão suporte à psicopedagogia. É preciso observar o rigor epistemológico sob pena de aglomerarmos disciplinas muitas vezes opositivas entre si. Observa-se que muitas práticas estão sob a ótica de teorias empiristas que visam a um ideal racionalista e que se autodenominam de construtivistas. Uma vez que se compreenda em que campo se circunscreve cada teoria, o psicopedagogo tem condições de verificar a consistência desse saber em sua prática. Com isso, consegue averiguar se esta ou aquela teoria pode realmente dar conta do problema de aprendizagem encontrado na clínica. O recrudescimento da clínica acerca dos problemas de aprendizagem tornou-se algo importante uma vez que possibilitou se pensar sobre esse sujeito integrado; mas, dentro das práticas psicopedagógicas brasileiras, corre- se um sério risco. Parece que a psicopedagogia clínica do Brasil está ainda à 36 sombra do substrato orgânico. Se não mais for falado de Disfunção Cerebral Mínima (DCM), diagnóstico muito comum no século passado, contemporaneamente focamos no distúrbio do déficit de atenção com ou sem hiperatividade. O ressurgimento desse tipo de discurso, que objetiva explicar o fracasso escolar, pode provocar um movimento nosográfico e uma pretensa fundação de uma psico-pedo-patologia das aprendizagens. 10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. Dificuldade de aprendizagem é uma expressão que se refere a um grupo heterogêneo de distúrbios manifestados por dificuldades intensas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. A criança, que foi previamente preparada para a socialização extrafamiliar, de modo a entrar em uma escola com maleabilidade suficiente para atender suas necessidades específicas, consegue rápida adaptação, uma vez que adquiriu amadurecimento intelectual, emocional e físico suficientes para aceitar com naturalidade as importantes modificações da rotina de vida que surgem com a vida escolar. O que se chama de dificuldade de aprendizagem é basicamente “dificuldade de ensino” ou distúrbio de escolaridade. O distúrbio de escolaridade depende basicamente da motivação. Cada indivíduo aprende de uma forma diferente, conforme seu canal perceptivo preferencial. O que se vê normalmente é que uma criança desestimulada acha-se “burra”. Os pais sofrem e estes pressionam a criança e a instituição, e começam a pular de escola em escola, em busca de uma solução satisfatória para o seu filho. Em casos como esse, é necessário o reconhecimento do problema por um profissional adequado, com treino específico da dificuldade, a fim de que a criança supere as suas dificuldades com esforço, colaboração da família e da escola em conjunto, acompanhando as etapas de evolução da criança. Diferente de um distúrbio de aprendizagem, a dificuldade escolar é, nesses casos, expressa pela inadaptação, geralmente revelada por queixas do tipo: recusa em ir à escola, agressividade, passividade, desinteresse, instabilidade emocional, comportamento desordeiro, somatizações. 37 Quando surgem dificuldades, toda a relação "família-criança-escola" encontra-se alterada. Frente a uma criança específica, pode-se dizer, em última análise, que a escolha daquela escola, naquele momento, não foi adequada. Porém, a criança normal pode não corresponder às expectativas da família, que escolheu a escola segundo suas expectativas; a criança é normal, mas ainda está imatura para a escolarização, logo, precisa de uma atenção mais diferenciada. O mau desempenho escolar tem sido foco de preocupação para pais, educadores, psicopedagogos, psicólogos e outros profissionais de saúde mental e educação. A compreensão dos fatores que contribuem para o desempenho escolar abrange as “características da escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade dos pais, presença dos pais e interação dos pais com escola e deveres) e do próprio indivíduo” (Araújo, 2002, apud PACHECO 2015, p. 48). Quando os pais e professores declaram que a criança é desatenta estão referindo que a criança não presta atenção, é descuidada, não é observadora, é distraída ou é negligente, sem grande preocupação significativa. Várias dessas crianças que apresentam alguma das características são consideradas e tratadas como hiperativas. A grande procura de atendimento psicopedagógico para crianças impõe a necessidade de se conhecer essa demanda e identificar os problemas que estão sendo objeto de preocupação dessas famílias que recorrem a esse serviço. Em vários serviços de saúde mental, incluindo-se os serviços-escola, tem predominado a procura por esse atendimento para crianças em idade escolar, em sua maioria encaminhada por instituições de ensino, com queixa de mau desempenho escolar ou dificuldades escolares. A caracterização da clientela infantil que busca atendimento psicopedagógico clínico nos diversos serviços disponíveis, em geral, é realizada posteriormente ao inicio do funcionamento dos mesmos, com base em dados de prontuários clínicos. Os critérios quanto às faixas etárias, ao agrupamento das queixas ou mesmo a categorização tende a variar de um serviço a outro. Essa caracterização da clientela que busca as clínicas- escola e os serviços de saúde mental possibilita, por meio do conhecimento de suas especificidades, ampliar a compreensão de sua problemática, de suas 38 demandas e o grau de adesão ao serviço proposto. Tais elementos permitem a análise do serviço prestado, o nível de eficácia, e a proposição de alterações ou de novos serviços que atendam melhor a alguma demanda mais específica. Possibilitam, também, a sistematização e a comunicação das experiências profissionais, visando à troca e a formação contínua. Os distúrbios de aprendizagem são anormalidades no processo cognitivo, que derivam de algum tipo de disfunção do sistema nervoso central, relacionada a uma “falha” no processo de aquisição ou do desenvolvimento tendo, portanto, caráter funcional. São distúrbios do desenvolvimento no processo da aquisição. É característico que fatores genéticos tenham um papel importante na etiologia. Na maioria dos casos, as funções afetadas incluem linguagem, habilidades visuoespaciais e coordenação motora; diferente da dificuldade escolar que está relacionada especificamente a um problema de ordem e origem pedagógica. O termo distúrbio de aprendizagem é um termo amplo que abrange distúrbios específicos como, por exemplo, distúrbio de leitura e escrita (dislexia), distúrbio de matemática (discalculia), distúrbio na expressão escrita (disgrafia), distúrbio não verbal, etc (WINNICOTT, 1975, apud PACHECO 2015, p. 51). Crianças que apresentam dificuldades de aquisição de matéria
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