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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PROF. NATASHA DONADON INTRODUÇÃO • Século XIX – Liberalismo – ausência de intervenção do Estado na economia e propriedade; • Século XX – Estado do bem-estar social – nível mínimo de conforto material; • CF/88 índole marcadamente social; • Hipóteses de intervenção na propriedade relacionadas à supremacia do interesse público • Propriedade: direito de usar, gozar, usufruir e reaver um bem. • Previsão Constitucional: Art. 5º XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. #STF: “O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria Constituição da República. O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos de realização da função social da propriedade.” (ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 4-4-2002, Plenário, DJ de 23-4-2004.) No mesmo sentido: MS 25.284, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 17-6-2010, Plenário, DJE de 13-8-2010. FORMAS DE INTERVENÇÃO 💡 Intervenção restritiva: O Poder Público limita-se a impor condicionamentos e restrições ao uso da propriedade, sem retirá-la de seu dono; 💡 Intervenção supressiva: Retirada coercitiva da propriedade de terceiro. 💡 Modalidades de Intervenção: a) servidão administrativa; b) requisição; c) ocupação temporária; d) limitação administrativa; e) tombamento; f) desapropriação. 💡 Servidão Administrativa: • Direito real público que autoriza o Poder Público a usar propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo; • Principais características: § Ônus real; § Bem particular; § Utilização pública. #Exemplos: instalação de redes elétricas, redes telefônicas, a implantação de gasodutos e oleodutos em áreas privadas, colocação de placas e avisos, ganchos em prédios públicos para sustentar a rede elétrica, etc. ü Instituição da Servidão (Decreto-Lei 3.365): • Inexistência de autoexecutoriedade, somente ocorre por: • Acordo administrativo; • Sentença Judicial. • Acordo: § Precedido de declaração de necessidade pública § Celebração de acordo por escritura pública. • Sentença: § Quando não foi possível o acordo; § Ajuizamento de ação contra o proprietário. • #OBS: Deve ser inscrita no Registro de Imóveis ü Indenização: • Não há perda da propriedade; • Somente em razão dos danos ou prejuízos que o uso causar. #OBS: Em regra, não há indenização, somente ocorrerá caso a utilização pelo Estado cause algum dano. #OBS2: O ônus da prova cabe ao proprietário. Se não o fizer, entende-se que a servidão não causou nenhum prejuízo. #OBS3: A indenização é prévia. üExtinção: • É permanente enquanto necessário aos objetivos que levaram sua instalação; • Quando o Estado torna-se proprietário do bem alheio; • Desinteresse em continuar utilizando o imóvel. 💡Requisição Administrativa: • Ocorre quando, em situação de perigo público iminente, o Estado utiliza coativamente bens móveis, imóveis e serviços particulares; • Previsão Constitucional: • Art. 5º • XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. #OBS: A requisição visa evitar danos à vida, à saúde e aos bens da coletividade, diante de inundação, incêndio, epidemias, catástrofes. ü Indenização: • É condicionada: o proprietário só fará jus se houver dano. Se houver, será ulterior, conforme dispõe a CF/88. ü Instituição: • Ato autoexecutório; • Condicionado à existência de perigo público iminente; #OBS: deve-se observar a competência da autoridade requisitante e a finalidade do ato REQUISIÇÃO SERVIDÃO Seu pressuposto é o perigo público iminente Inexiste essa exigência, bastando a existência de interesse público Incide sobre bens móveis, imóveis e serviços Só incide sobre bens imóveis Caracteriza-se pela transitoriedade Tem caráter de definitividade Somente se houver dano, porém é ulterior Também é condicionada, porém é prévia 💡Ocupação temporária: • Uso transitório de bens particulares pelo Poder Público; • Execução de obras, serviços ou atividades de interesse público; • Ocorre quando a ADM tem a necessidade de ocupar prop. privada para depósito de equipamentos e materiais destinados à realização de obras e serviços públicos na vizinhança. #Exemplo: Ocupação temporária de terrenos de particulares contíguos a estradas (em construção ou reforma). Época de eleições e campanha de vacinação pública, onde o Poder Público usa de escolas, clubes e outros estabelecimentos privados para a prestação dos serviços. ü Instituição, Extinção e Indenização: • Dá-se por meio a expedição de ato imputado pela autoridade adm. competente; • Ato autoexecutório; • A extinção dá-se com a conclusão da obra ou serviço; • Extinta a causa que lhe deu origem, extingue-se o efeito da ocupação. • A indenização é condicionada à ocorrência de prejuízo ao proprietário, porém é prévia. 💡 Limitações Administrativas: • Determinações de caráter geral, por meio das quais o poder público impõe a proprietários obrigações de fazer, de não fazer ou de permitir; • Derivam do poder de polícia, são imposições unilaterais e imperativas; • Atingem a propriedade imóvel em virtude do bem-estar social, segurança, saúde, sossego e higiene da cidade e até mesmo da estética urbana. #Exemplos: observância ao recuo de alguns metros das construções, proibição de desmatamento de parte da área de floresta da prop. rural, respeito ao número de pavimentos. ü Principais características: • Possuem caráter geral; • Caráter de definitividade; • Ausência de indenização. #STF: Em regra, o proprietário não tem direito à indenização por conta das limitações administrativas que incidam sobre sua propriedade (a limitação administrativa é gratuita). No entanto, excepcionalmente, a jurisprudência reconhece o direito à indenização quando a limitação administrativa reduzir o valor econômico do bem. O prazo prescricional para que o proprietário busque a indenização por conta das limitações administrativas é de 5 anos. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.317.806-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/11/2012 (Info 508). 💡Tombamento: • Meio de proteção do patrimônio cultural brasileiro; • Protege a memória nacional, bens de ordem histórica, artística, arqueológica, cultural, científica, turística e paisagística; • A maioria dos bens tombados são imóveis de arquiteturas passadas em nossa história; • Também pode recair sobre bens móveis. • Previsão Constitucional: Art. 216 § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. ü Espécies: • Voluntário ou compulsório; • Provisório ou definitivo. • Ocorre o voluntário quando há consenso do proprietário; • O compulsório ocorre quando o Poder Público realiza a inscrição do bem como tombado, mesmo diante da não concordância do proprietário. • O provisório ocorre enquanto está em curso o processo administrativo instaurado pela adm.; • É definitivo quando, depois de concluído o processo, o Poder Público procede à inscrição do bem como tombado, no registro de tombamento. ü Instituição: • Vontade do Poder Público, manifestada por ato adm do Executivo. ü Processo de tombamento: • Deve ser precedido de processo administrativo; • Serão apurados os aspectos que materializam a necessidade de intervenção na propriedade privada; ü São obrigatórios: • a) parecer do órgão técnico cultural; b) notificação ao proprietário; c) Decisão do Conselho Consultivo (anulação, rejeição ou homologação da proposta); d) possibilidade de interposição de recurso pelo proprietário. ü Efeitos do Tombamento: § Efetivado o tombamento e o respectivo registro no Ofício de Registro de Imóveis respectivo, surgem os seguintes efeitos: • É vedado ao proprietário destruir, demolir ou mutilar o bem tombado; • O proprietário somente poderá reparar, pintar ou restaurar o bem após a devida autorização do Poder Público; • Dever de conservação do bem para mantê-lo dentro de suas características culturais, e se não obtiver recursos para tal manutenção, deverá comunicar o fato ao órgão que decretou o tombamento; • Independente de solicitação, pode o Poder Público, no caso de urgência, tomar a iniciativa de providenciar a conservação • No caso de alienação do bem, o Poder Público tem direito de preferência. Caso não seja observado tal direito, será nula a alienação – sequestro + multa de 20%; • Não há obrigatoriedade de o Poder Público indenizar o proprietário do imóvel no caso de tombamento. #OUSESABER: Os municípios podem tombar bens públicos estaduais e federais? Sim. O tombamento veicula uma modalidade não supressiva de intervenção concreta do Estado na propriedade privada ou mesmo pública e possui o condão de limitar o uso, o gozo e a disposição de um bem, em regra de maneira permanente, visando à preservação do patrimônio cultural. Em que pese discussão doutrinária sobre o tema, o STJ (RMS 18.952/RJ) entende possível a instituição do tombamento por municípios sobre bens estaduais e federais pelo fato de tal restrição não ofender o princípio federativo já que o bem permanece na propriedade do ente federado em questão , consagrando-se a efetiva proteção do bem de valor cultural envolvido. 1) Denomina-se coeficiente de aproveitamento básico a relação entre a área edificável e a do terreno, para evitar edificações muito altas, trazendo superpopulação da área com consequente desgaste e insuficiência dos bens e serviços públicos para a região. O coeficiente de aproveitamento básico é um exemplo de: A) servidão de uso. B) limitação administrativa. C) requisição urbanística. D) tombamento. 1) Denomina-se coeficiente de aproveitamento básico a relação entre a área edificável e a do terreno, para evitar edificações muito altas, trazendo superpopulação da área com consequente desgaste e insuficiência dos bens e serviços públicos para a região. O coeficiente de aproveitamento básico é um exemplo de: A) servidão de uso. B) limitação administrativa. C) requisição urbanística. D) tombamento. 3) Corresponde à modalidade de intervenção do Estado na propriedade privada, EXCETO: A) servidão administrativa. B) alvará administrativo. C) tombamento. D) requisição administrativa. A passagem de redes transmissão elétrica ou implantação de oleodutos em pequena parcela de propriedade privada, encerra a intervenção do Estado na propriedade na seguinte modalidade: A) Limitação Administrativa. B) Servidão Administrativa. C) Requisição. D) Desapropriação. A Administração Pública, com o objetivo de tutelar o patrimônio histórico nacional, impôs algumas restrições de ordem parcial ao uso do bem imóvel “A”, sem qualquer indenização, impossibilitando o proprietário de alterar as suas características. Além disso, utilizou o bem imóvel “B”, em caráter temporário, para atender a necessidade coletiva, decorrente de perigo público iminente, indenizando o proprietário, pelos danos causados, em momento posterior. À luz da sistemática vigente, o bem imóvel “A” foi objeto de: A) registro, enquanto o “B” foi objeto de tombamento; B servidão, enquanto o “B” foi objeto de desapropriação; C) inventário, enquanto o “B” foi objeto de vigilância; D) tombamento, enquanto o “B” foi objeto de requisição. Se, na instalação de uma passagem de fios com a finalidade de distribuição de energia elétrica para a população local, apresentar-se como uma necessidade pública a utilização de parte de um terreno privado, caberá, sobre essa propriedade privada, a intervenção estatal na modalidade: A) servidão civil. B) desapropriação. C) servidão administrativa. D) tombamento. E) requisição. Assinale a alternativa INCORRETA. A) É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos, assim como impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural. B) Ao instituto do tombamento, porque possui disciplina própria, não se aplica o princípio da hierarquia verticalizada prevista no Decreto-Lei no 3.365/41, que excepciona os bens da União do rol dos que podem ser desapropriados. C) O ato de tombamento, seja ele provisório ou definitivo, tem por finalidade preservar o bem identificado como de valor cultural, contrapondo-se aos interesses da propriedade privada, não só limitando o exercício dos direitos inerentes ao bem, mas também obrigando o proprietário às medidas necessárias à sua conservação. D) Por se tratar de direito público de natureza real sobre um imóvel particular, para que este sirva ao uso geral como uma extensão ou dependência do domínio público, afetando, assim, o caráter de exclusividade da propriedade, o tombamento sempre será indenizável.
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