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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL Grupo: Ana Flávia Wulf RA: 008026, Marcela da Silva RA: 009247, Paula Y. T. Takaezú RA: 009580, Viviane Correia Lolo RA: 010068, Yara Giatti RA: 010099 CONTEXTO HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL A escolha profissional nem sempre foi um problema universal do homem. Ao estudarem-se os primeiros seres humanos, constata-se que seu trabalho era organizado como atividade de coleta e mais tarde de caça e não havia muita diferenciação de funções, ou seja, viviam para sua própria sobrevivência. Na comunidade primitiva, cuja coletividade era pequena, assentada sobre a propriedade comum da terra e unida por laços de sangue, os seus membros eram indivíduos livres, com direitos iguais. As mulheres e as crianças estavam em pé de igualdade com os homens, havendo apenas uma hierarquia no que se refere a assuntos de guerra e cuidados com a saúde, atividades desenvolvidas por questão de bravura e/ou idade avançada. Não há necessidade nem a possibilidade de grandes escolhas no desempenho das funções. Na Grécia Antiga, a atividade valorizada era o ócio, a contemplação era exercida pelos cidadãos livres e o trabalho era uma atividade dos homens não - livres, que tinham a função de produzir a existência material. "Desligados do trabalho manual e do intercâmbio dos produtos, as classes superiores já eram nessa época socialmente improdutivas" (Ponce, 2001, p. 37). O trabalho era visto como atividade penosa e degradante, não valorizada socialmente, e assim, ser cidadão ou escravo, por exemplo não dependia de qualquer tipo de escolha, mas da condição de classe da família, do indivíduo ou de acordo com as vitórias ou derrotas em guerras. Na Idade Média, especificamente no feudalismo, a sociedade era estratificada na qual a posição e a ocupação do indivíduo era transmitida de pai para filho, como se fosse uma determinação divina: "nobres seriam sempre nobres e servos seriam igualmente vassalos" (Bock, 2001, p. 5). Dessa maneira, neste modo de produção não havia escolha de uma profissão por parte dos sujeitos, os laços de sangue é que determinavam e explicavam a estrutura social, não havendo, dessa forma, mobilidade social. O conceito de vocação que imperava era o religioso favorecendo a manutenção da ordem social, colocando que esta era determinada pela vontade de Deus. A possibilidade da escolha profissional surge como um problema importante na medida em que é instalado definitivamente o sistema capitalista de produção. Na passagem do feudalismo para o capitalismo é que ocorrem transformações profundas no modo de produzir e reproduzir a sociedade humana. Inicialmente, o trabalhador é "expulso" da propriedade e dos meios de produção, devendo, então, para garantir sua sobrevivência, vender sua força de trabalho. Em segundo lugar, é condição primeira que o trabalhador seja livre, não existindo mais servos e senhores, todos devem ser iguais perante a Lei. Em terceiro lugar, a característica principal deste modo de produção será não mais a satisfação das necessidades humanas, mas sim a geração de lucro. É É neste momento que as teorias e práticas da Orientação Profissional avançam e a questão da seleção passa a ter importância, uma vez que prevalece a ideologia capitalista: "o homem certo no lugar certo", visando à maior produtividade. "A posição do indivíduo no capitalismo, não é mais determinada, ... pelos laços de sangue. Agora, esta posição é conquistada pelo indivíduo segundo o esforço que despende para alcançar esta posição. Se antes esta posição era entendida em função das leis naturais referendadas pela vontade divina, agora, ao contrário, o indivíduo pode, desde que lute, estude, trabalhe, se esforce, e também (por que não?) seja um pouco aquinhoado pela sorte." ( Bock apud Bock, 2001, p. 7) AS TEORIAS VOCACIONAIS Várias teorias em Orientação Profissional surgiram para entender e guiar as escolhas profissionais. A teoria de Crites (in Bock, 2001) é muito utilizada entre os autores neste estudo. Ele, por sua vez, as divide em 3 grandes blocos: as Psicológicas, as Não-Psicológicas e as Gerais. As Teorias Psicológicas são subdivididas em: Traço-Fator, Evolutivas, Psicodinâmicas, Decisionais e Tipológicas. A Teoria Traço-Fator, parte do princípio de que as pessoas diferem em suas habilidades, interesses e traços de personalidades e que cada profissão requer indivíduos com aptidões específicas. Esta teoria enfatiza "o homem certo no lugar certo". Para as Teorias Evolutivas ou Desenvolvimentistas, o indivíduo possui um ciclo de vida e este se desenvolve vocacionalmente durante toda a vida. Critica-se a idéia de "momento de escolha", defendendo-se a concepção de desenvolvimento vocacional. Esta teoria pode ser resumida em quatro proposições: 1. A escolha profissional é um processo de desenvolvimento que se estende da pré-puberdade até os 20 anos aproximadamente 2. Esse processo é irreversível, já que a experiência não pode ser nula. 3. Esse processo implica um compromisso entre os interesses, capacidades, valores e oportunidades oferecidas pelo meio. 4. O processo da escolha profissional pode ser divido em vários períodos: o da fantasia, baseado no desejo de se tornar adulto, se estende da infância até os onze anos; o provisório, determinado primeiramente pelos interesses e depois pelas capacidades e valores, dos 11 aos 17 anos; o realista, ocorre a partir dos 17 anos e possui as fases: de exploração, de cristalização e de especificação, que, segundo Ferreti (1988a), termina quando há uma compatibilidade de interesses, capacidades, valores e oportunidades ocupacionais. As Teorias Psicodinâmicas adotam a concepção dos instintos, baseando-se que há uma continuidade no desenvolvimento entre as atividades primárias e físicas e as intelectuais complexas e abstratas do organismo. As atividades adultas complexas, nesta teoria, mantêm as mesmas fontes instintivas de gratificação que as infantis e também que as experiências infantis, nos primeiros seis anos de vida, são decisivas na formação da personalidade e na criação das necessidades que se expressarão mais tarde na conduta vocacional. Segundo as Teorias Decisionais, a decisão deve ser fruto de uma análise minuciosa dos elementos que intervém no processo. Consiste em identificar as possibilidades oferecidas, analisar as conseqüências, avaliar e decidir, chegando finalmente a uma escolha. O orientador profissional deve, nesta teoria, ajudar a pessoas a analisarem os dados para estabelecer uma decisão, colidir informações e a determinar empiricamente a utilidade de cada decisão. As Teorias Tipológicas implicam numa correspondência entre tipo de personalidade e modelos ambientais. Com base na experiência da pessoa, ela elabora formas habituais no desempenho de tarefas que seu ambiente psicológico, social e físico lhe apresenta. Sua herança biológica e social, unida à sua história pessoal, cria uma série característica de capacidades preceptivas e pontos de vista, como meta vitais, valores, autoconceitos e métodos típicos, para enfrentar os problemas cotidianos. Já as Teorias Não-Psicológicas são subdividas em teorias sociológicas e econômicas. As Teorias Sociológicas enfatizam a importância dos determinantes socioeconômicos e culturais. A família, a raça, a nacionalidade, a classe social e as oportunidades culturais e educacionais são fatores decisivos na determinação da ocupação. O indivíduo ao fazer escolha é determinado principalmente pela expectativa de status da classe social a que pertence. Nas Teorias Econômicas, o fator determinante da escolha profissional é a vantagem econômica oferecida pela profissão; dessa forma, os indivíduos tenderiam a escolher a ocupação que oferecesse melhores salários e a distribuição dos trabalhadores no mercado de trabalho, seria, portanto, de acordo com a lei da oferta e da procura. E, por último, as Teorias Gerais, que preconizam que determinantes isolados não são suficientes para explicar a escolha profissional, mas sim reunindo contribuiçõesda Economia, Sociologia e Psicologia. A estrutura social influencia no desenvolvimento da personalidade e define as condições socio-econômicas em que a seleção ocorre (Crites apud Silva, 1996). TEORIAS Teorias Tradicionais Segundo as Teorias Tradicionais, o perfil do indivíduo representa o conjunto de seus traços de personalidade, aptidões e interesses. Tais características são definidas numa determinada idade e quase não mudam ao longo da vida. Isso possibilita, então, a comparação deste perfil pessoal com os perfis das profissões já preestabelecidos, ou seja, nessas teorias, a aproximação do indivíduo com as profissões se dá através do chamado "Modelo de Perfis", o qual coloca como uma boa escolha "aquela que resulta da harmonia mais perfeita entre um perfil profissional ou ocupacional e o perfil pessoal" (Bock, 2001, p.19). Algumas teorias dessa abordagem consideram essas características como sendo inatas ou construídas a partir da relação afetivo-sexual estabelecida na primeira infância ou ainda como sendo formadas durante o desenvolvimento do indivíduo, mas todas elas vão comparar as mesmas com os perfis das profissões, isto é, busca-se a "fôrma" a qual o indivíduo se adapta melhor, "ajusta-se" o indivíduo à sociedade. Nesta abordagem, a Orientação Profissional tem como função ajudar o indivíduo a conhecer-se melhor e a saber mais sobre as profissões. Críticas às Teorias Tradicionais Com o tempo, questionamentos e críticas sobre essas teorias são levantadas. Questiona-se a ação da Orientação Profissional nessa abordagem: "para diferenciar-se daquilo que o indivíduo pode fazer sozinho, vem revestida de uma certa aparência de ciência ao utilizar instrumentos que só o orientador pode manipular e que carrega a idéia de que o indivíduo tem uma essência que só um profissional pode descobrir" (Bock, 2001, p.23). Esse modelo vai ser considerado como sendo um "modelo estático", isso porque coloca que os perfis dos profissionais dificilmente são alterados, mesmo acontecendo transformações sociais, políticas, tecnológicas, econômicas, etc. Traça-se o perfil de um determinado profissional e usa-se este por vários anos, sem alterar nenhum aspecto. Esse modelo é ainda classificado dessa forma por defender a estaticidade dos perfis dos indivíduos, por esperar que a pessoa não mude muito a partir do fim da adolescência, mantendo suas características pessoais durante toda a vida. Outro ponto criticado é que a preocupação maior dessa abordagem parece ser o fornecimento de uma espécie de critério racional de escolha, não dando ênfase, dessa forma, à maneira como vai ocorrer a formação da personalidade do indivíduo e a interferência do contexto sócio - econômico nessa formação. Os fatores sociais também são considerados, porém consideram-se muito mais os fatores pessoais. E, por fim, critica-se o seu fundamento na ideologia liberal, pois essa abordagem coloca a escolha profissional como sendo apenas individual e responsabiliza o indivíduo pela superação dos obstáculos impostos pela realidade, colocando de lado a influência dos contextos social, histórico e econômico. Dessa forma, a escolha profissional desse indivíduo vai ser considerada como um fator fundamental para o seu deslocamento na pirâmide social. A Orientação Profissional, nessa abordagem então, tem por objetivo ajudar o indivíduo a identificar a sua "vocação" e, com isso, alcançar o sucesso. Abordagem Sócio-Histórica Assumindo essas críticas, surge a Abordagem Sócio-Histórica, a qual apresenta como objetivo a elaboração de uma concepção na área de Orientação Profissional que entenda o indivíduo na sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética, sendo contra a dicotomia entre ambos. Vygostky é o principal representante dessa abordagem. Para ele: "...o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo sócio - histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem." (Oliveira, 1992, p.24). Segundo essa abordagem então, o indivíduo desenvolve as suas habilidades e sua personalidade nessa relação estabelecida com as outras pessoas, sendo esta última mediada pela sociedade. Assim, as influências dos contextos sociais, econômicas e históricas também são consideradas como um determinante na formação do indivíduo. Com isso, a teoria demonstra a sua oposição ao aspecto liberal das Teorias Tradicionais. Nessa questão, há a relação com o conceito de interiorização proposto por Vygotsky, pois o indivíduo interioriza, "toma" como seu algo que lhe foi atribuído de determinada forma por outros indivíduos. A internalização é uma operação que no início representa uma ação externa que depois será reconstruída e passará a ocorrer internamente, isto é, um processo interpessoal que se torna um processo intrapessoal e que representa um conjunto de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento do indivíduo. A Abordagem Sócio - Histórica defende que o ser humano é multideterminado, isto é, o seu suporte biológico específico, as relações sociais, a linguagem, o trabalho, entre outros, serão determinantes na sua formação. Dessa forma, a concepção de que o homem é natural ou abstrato é colocada de lado. Essa teoria coloca ainda que as profissões e ocupações não são imutáveis, tal qual o indivíduo que se modifica e constrói a sua identidade constantemente. Por esse motivo, é contra a aproximação dos indivíduos com as profissões através dos ‘Modelos de Perfis" proposta pelas Teorias Tradicionais. Quanto ao conceito de vocação, para essa abordagem, o ser humano não nasce determinado biologicamente para realizar uma atividade específica; ao contrário, "a vocação do ser humano é exatamente não ter outras vocações" (Bock. 2001 p. 47). Ele não possui nenhum "chamado interno" que o faz realizar uma certa tarefa com o objetivo de garantir sua sobrevivência e de sua espécie, como a abelha, por exemplo, que nasce determinada geneticamente para produzir mel (ela é atraída pelo perfume das flores, recolhe o néctar e este, dentro de seu organismo, vai sofrer uma reação e originar o mel). Porém, se admitirmos que o ser humano é um ser sócio-histórico formado de suas relações com outros indivíduos, não poderíamos entender a escolha da profissão como algo simplesmente isolado e individual. Um conjunto de elementos sociais e econômicos determina ou influencia a escolha profissional. Consideraremos: mercado de trabalho, a importância social e remuneração, grupo social e custos de formação. Mercado de Trabalho Define-se mercado de trabalho como a venda e compra da força de trabalho. Os fatores que o determinam (relação entre oferta e procura) estão diretamente ligados com a política econômica de um país. O mercado de trabalho é algo flutuante: a profissão que hoje pode ser promissora, daqui a algum tempo pode ser estar saturada, ou seja, mais oferta do que procura, havendo o rebaixamento do salário. Importância social e remuneração A sociedade atribui diferente prestígio às profissões. Historicamente, as profissões ligadas ao trabalho manual têm menos status que as ligadas ao intelectual. Assim, as profissões responsáveis pela produção material possuem menos prestígio e, conseqüentemente, baixa remuneração. Logicamente, as profissões ligadas ao trabalho intelectual necessitam de maior especialização (cursos, estudo permanente), mas há também a necessidade de remunerar pouco os setores em que são necessários mais trabalhadores. Grupo Social Os familiares e os amigos são os principais elementos de referência do indivíduo em qualquer escolha, inclusive a profissional. Os valores, satisfações, insatisfações e expectativas que esse grupo apresenta, são referências fundamentais para a escolha do jovem. A sexualização das profissões também é um fator de pressão da família na escolha, ou seja, a distribuição cultural das profissões - umas destinadas à mulher outras ao homem - faz com que o indivíduo opte por outra profissãoque "não seja do sexo oposto". Sobre a liberdade de escolha, é colocado que esta irá depender da classe social à qual o indivíduo pertence, ou seja, será ela que determinará se este terá mais ou menos liberdade para decidir qual será a sua profissão. Considera-se que a escolha das classes subalternas pode promover uma mudança histórica, pois reconhece que a pessoa pode, de certa forma, intervir sobre as condições sociais através de ações individuais e/ou coletivas. Mas lembra-se que não se resgata com isto o aspecto liberal das Teorias Tradicionais; o que é afirmado é que as pessoas podem lutar para mudar as condições em que vivem, a sua realidade. Escola A escola também é um determinante na decisão profissional. Ela é vista como transmissora de valores que tanto pode facilitar as opções, como dificultá-las. Ao mesmo tempo, ela exerce uma interferência limitadora sobre as opções individuais, seja porque a realização de determinado curso, estruturado segundo dado currículo, necessariamente obriga o aluno a deixar de lado outro tipo de preparação escolar, seja porque exclui de determinados cursos alunos que não possuem certos atributos pessoais ou sociais requeridos por esses cursos, ou pelas profissões para as quais preparam. A partir de tais determinantes, podemos dizer que: "criar condições para que a pessoa, a elas submetida, reflita, sobre o processo e o ato de escolha profissional bem como sobre o ingresso em uma atividade profissional e no seu exercício no contexto mais geral da sociedade onde tais ações se processam" (Ferreti, 1988a, p.45). Dessa maneira, é importante destacar que o objetivo é que o indivíduo reflita além da escolha, sobre o ingresso em uma atividade profissional e sobre o exercício desta. Tal preocupação se faz necessária à medida que existem milhares de jovens, vindos de camadas mais populares, que não optam por uma ocupação e muito menos por uma carreira profissional ou fazem escolhas dentro de áreas muito restritas. Assim pretende-se que a orientação trabalhe também com estes jovens, sem que isso signifique a aceitação passiva de suas condições. Assim, a reflexão do trabalho, enquanto atividade social e processo de modificação da natureza,é fundamental para tanto os que optam quanto os que não optam desenvolvam uma consciência crítica dessa atividade e que isso influencie em sua atividade profissional. Ferreti (1988) propõe que a orientação profissional atue predominantemente através do currículo, entendendo este como uma estrutura e organização das atividades educacionais que serão desenvolvidas pela agência educativa. O autor cita algumas vantagens dessa proposta, tais como: 1. A possibilidade de se atingir um número maior de alunos, muito maior do que seria possível através do processo de aconselhamento; 2. A possibilidade também atinge os alunos cujas opções são restritas; 3. A exigência de que a orientação profissional defina e estruture um conteúdo específico que vá além da simples informação profissional; 4. A ampliação das condições de atendimento aos alunos, sem exclusão das formas tradicionais de atuação. O conteúdo básico a ser enfocado é o "trabalho e sua realização no âmbito da sociedade brasileira" (Ferreti, 1988, p. 47), visto que esta proposta de orientação profissional se destina a criar condições para a reflexão sobre a escolha profissional, sobre o ingresso na força de trabalho e sobre o exercício de uma profissão num determinado contexto sócio-cultural. O tratamento deste conteúdo não visa somente à definição teórica de trabalho na sociedade brasileira, mas também à verificação, à análise e à crítica de todos os valores dos alunos, vendo-os como futuros ou atuais consumidores e produtores de bens desta sociedade.Seguindo essa linha de atuação, pode-se gerar condições para que, "(...) refletindo sobre a uma prática (enquanto adolescentes, adultos, estudantes, membros de uma classe social), possam ter dela uma visão crítica para chegar mais conscientes a uma outra prática (a de profissionais), submetendo-a, por isso mesmo, à mesma contínua reflexão" (Ferreti, 1988, p. 49). Como vimos, para a ideologia liberal todos têm direitos de escolha (liberdade), todos são diferentes (individualidade) e têm as mesmas oportunidades. Assim todos têm possibilidade de ascensão social, a qual irá depender exclusivamente do indivíduo. Porém como afirma Bock (1986), essas questões são discutíveis, na medida em que prevalece ao senso comum a questão do inato, ou seja, o indivíduo nasceu para exercer determinada profissão, é a sua vocação. Para o autor, a vocação deve ser, como primeiro tema, trabalhada com os jovens do 2º grau para desmistificar a escolha profissional como herança genética, pois essa concepção serve por legitimar as desigualdades sociais, entendendo que as diferenças são biopsicológicas e que estas justificam o posicionamento do indivíduo nas sociedades. A teoria da vocação, para Bock, serve para legitimar e manter o status quo, sem nenhum questionamento e vários estudos têm demonstrado que a Orientação Profissional, baseada na Vocação, tem servido para, em longo prazo, esconder a realidade que é econômica e socialmente injusta. Assim o sucesso ou fracasso profissional é única e exclusivamente responsabilidade do indivíduo. Como segundo tema, a possibilidade real de escolha, ou seja, os determinantes sociais e econômicos que acabam por levar o indivíduo a "escolher" determinados caminhos, sem poder interferir nesse processo. Um terceiro tema é a questão do trabalho na sociedade capitalista, pois mesmo que o indivíduo tenha grandes expectativas quanto à sua profissão, na medida em que vende sua força de trabalho para o empregador, ou seja, sua energia à disposição do empregador para produzir, ele se vê obrigado a fazer aquilo que o empregador ordenar. A questão de como o trabalhador é visto nessa sociedade é um tema que também deve ser discutido com os alunos. Para o autor, é necessário esclarecer ao jovem que o sistema capitalista, trata o trabalhador como uma simples mercadoria capaz de produzir outras. E que, no sistema capitalista o trabalho está cada vez mais fragmentado e a escolha de uma profissão, na verdade, é a escolha de uma pequena parte de todo o processo. Assim, a discussão com os alunos deve nortear-se pela análise crítica de como ele irá posicionar-se no mundo do trabalho, no processo de produção de mercadorias ou simplesmente na reprodução da sociedade. Referências Bibliográficas BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, M. L. T. Capitulo 21: a escolha de uma profissão. In: BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 307-329. BOCK, Silvio Duarte. Capítulo 14: Trabalho e profissão. In: CONSELHO Regional de Psicologia e Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo. Psicologia no ensino de 2º grau – uma proposta emancipadora. São Paulo: Edicon, 1986. BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional: avaliação de uma proposta de trabalho na avaliação sócio-histórica. (tese de mestrado) Campinas, S.P.: s.n., 2001. BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1977. FERRETTI, Celso João. Uma Nova Proposta de Orientação Profissional. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1988. ______. Opção Trabalho: trajetórias ocupacionais de trabalhadores das classes subalternas. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1988a. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky Aprendizagem e Desenvolvimento – um processo sócio- histórico. São Paulo: Scipione, 1997. PONCE, Aníbal. Educação e Lutas de Classes. São Paulo: Cortez, 2001. SILVA, Laura Beluzzo de Campos. A escolha da profissão: uma abordagem psicossocial. São Paulo: Unimarco, 1996. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993 ______. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991, 4º edição
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