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Texto Orientação Profissional

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1. INTRODUÇÃO
Escolher uma profissão. Quem já passou por isso sabe quanto é difícil o momento da escolha. Mas, existe mesmo um momento? Podemos mesmo escolher? Como?
Tentando responder a essas questões, surgem e se desenvolvem muitas teorias em Orientação Profissional. Cada uma delas trazendo, implícita ou explícita, suas de concepções de indivíduo e de sociedade, propondo formas de opção profissional coerentes.
O presente texto pretende apresentar um breve histórico sobre por que e como a orientação profissional se desenvolveu ao longo da história, abordando as diferentes e mais praticadas teorias em Orientação Profissional para chegar à nova teoria proposta por Silvio Bock cujo referencial teórico é a abordagem sócio-histórica de Vygotsky.
 
2. HISTÓRICO
A história da atividade laboral da existência humana varia conforme cada época e parte, primeiramente, da necessidade de sobrevivência e da conservação da espécie.
Na pré-história, esta atividade se dava basicamente por estes aspectos e as diferenciações de funções eram notadas apenas em função de força física e/ou gênero. Na vida tribal não se deixava de notar o traço forte da atividade laboral para a sobrevivência ou conservação da espécie; no entanto já havia diferenciações de funções nas tribos, isto é, uma certa hierarquia, por questões de bravura, algum tipo de liderança na tribo, idade e gênero. De toda forma, a atividade laboral ainda era fortemente regida por leis naturais. Os povos orientais delimitavam suas atividades profissionais por herança familiar, que era praticamente imposta pela casta a qual pertencia o indivíduo
Na Grécia Antiga ocorria a desvalorização do homem que dependia do trabalho, pois isso era caracterizado como servidão, isto é, quem tinha apenas a força do trabalho como modo de sobrevivência eram os servos, os escravos . Valorizava-se, então, a atividade contemplativa, o que poderíamos chamar de trabalho intelectual, trabalho para homens livres.
Segundo Ojer, na República de Platão encontra-se a primeira intenção de sistematização da orientação profissional, quando na parte da legislação concebida para esta república idealizada por Platão hierarquizam-se as funções, colocando os governantes como os filósofos, homens do pensamento. Aristóteles mostra sua concepção de hierarquia para o trabalho passando pelas classes sociais em uma associação com os órgãos do corpo. Segundo ele, "a cabeça do corpo social é constituída pelos governantes, o tronco os guerreiros, o ventre os comerciantes e os artesãos e os pés os escravos." (Ojer, 1965, p.208). Já os povos conquistadores, como os Impérios Assírios, Persa e Romano, valorizavam as atividades de guerra.
Até então as atividades laborais variavam conforme a organização e estrutura da sociedade e as características de cada povo; porém alguns aspectos continuavam prevalecendo na maioria destes povos, que eram os das classes sociais e os da herança familiar.
O início da era cristã traz consigo a doutrina da não diferenciação do povo por castas, isto é, homens livres ou escravos. Contudo estas castas continuam prevalecendo dando o direcionamento para a profissão. O povo árabe neste mesmo período, por sua vez, coloca que para assumir o posto de seu governante, o califa tenha determinadas qualidades como inteligência, lealdade e cumprimento das leis. Ojer coloca que várias profissões liberais se diversificam neste período, como por exemplo, escritores, geógrafos, alquimistas etc. (Ojer, 1965, p.209).
Na idade média torna-se ainda mais forte a divisão laboral pelas camadas sociais. O feudalismo contribui para a observação desta nítida divisão: nobres, clérigos, senhores e vassalos. A divisão social do trabalho, ainda pequena, visava a subsistência da comunidade e manutenção dos bens dos nobres e clérigos. As profissões liberais e os artesãos mantinham-se ainda em pequena escala e para a finalidade de manutenção da comunidade. E mais uma vez o traço da herança também estava presente pois: "Filhos de nobres, serão nobres, filhos de servos, serão igualmente vassalos" (Bock: 2001, p.5)
O conceito de vocação presente neste período esteve intimamente ligado à religião; deste modo é que se formava a classe religiosa, pelo "chamado divino", "vontade de Deus".
No renascimento, segundo Ojer, nasce pelo menos da forma teórica, juntamente com outras ciências, a orientação profissional que, pelos estudos que Juan de Dios Huarte, iniciou-se formalmente pela edição do livro "Examen de Ingenios para las Ciências", estabelecendo como tema central deste mesmo título, a orientação profissional. Esta obra mostra as diferentes habilidades que os homens possuem em suas descobertas. Este livro foi impugnado pela inquisição e apenas muitos anos após foi publicado em vários idiomas.
Bock (2001), por sua vez, coloca que apenas na passagem do feudalismo para o capitalismo, com o trabalhador, agora "livre", expropriado da terra e dos meios de produção restando-lhe apenas a venda da sua força de trabalho, se estabelece de maneira concreta na sociedade a necessidade de orientação profissional. Este autor entende que este processo não se constitui um problema universal ou natural do ser humano, sendo construído através da história, portanto, só a partir da nova ordem social que está embutida no modo capitalista de produção é que acontece uma verdadeira divisão social do trabalho, criando-se a necessidade de orientação profissional.
A Revolução Francesa, com os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, insere na sociedade europeia e de maneira geral no ocidente a forma de pensamento da ideologia liberal que entende que a posição social de cada indivíduo deve ser conquistada pelo próprio esforço e que "O indivíduo pode tudo desde que lute, estude, trabalhe, se esforce" (Bock: 2001, p.7). Os ideais da burguesia, classe que ascende ao poder neste momento, valorizam igualmente a liberdade de escolha do indivíduo e a igualdade de oportunidade através da qual todos terão condições de buscar melhorias em suas condições materiais de existência reforçando a posição da real necessidade de orientação profissional.
O Capitalismo, já completamente instaurado, estabelece alguns pressupostos em seu modo de produção que afetarão de maneira marcante o campo da orientação profissional. Entre eles temos a questão da produtividade (homem certo no lugar certo), da eficiência e da qualidade. O trabalho com isto perde a dimensão antiga de sobrevivência e manutenção da espécie ou apenas da preservação de uma herança familiar, tomando a dimensão da produção para o mercado que visa ao lucro.
Assim, a função social que a orientação profissional cumpre a partir deste momento tanto passa pelo processo de escolha do caminho profissional que o indivíduo tem a seguir de acordo com as condições materiais em que vive, como também pela adaptação do indivíduo ao seu meio social e cultural por meio do trabalho profissional.
Ojer associa o desenvolvimento da orientação profissional com base científica no desenvolvimento da psicologia e a sociologia. Cita os testes psicotécnicos de Catell e as obras de Durkheim, como a "divisão social do trabalho", como as obras que abriram caminhos para a orientação profissional como disciplina científica.
Com a industrialização crescente das primeiras décadas do século XX, acontece um interesse ainda maior pela orientação profissional. Por parte dos teóricos da área da área da psicologia surgem várias publicações a este respeito e, concomitante com este movimento teórico, se dá a fundação de oficinas e institutos de orientação profissional na Europa e no mundo ocidental. Ojer ressalta a importância da difusão dos testes psicotécnicos no sentido de crescimento do interesse e busca por orientação profissional. Nomes como Decroly e Claparède entre outros, fazem parte deste movimento. Ressalta também que aspectos como a organização econômica, social e política do país, as diferentes correntes psicológicas seguidas pelos profissionais que atuam na orientação e os aspectos da ideologia dominante é que provavelmenteserão os pontos relevantes para as tendências em orientação profissional.
Observamos então que, desde a antiguidade, ocorreram intentos de organização do trabalho; todavia, apenas a partir do capitalismo é que o movimento da organização científica do trabalho ocorreu de maneira efetiva, obedecendo ao motivo intrínseco do aumento da produção industrial.
Várias correntes da atualidade levam em conta outros aspetos para a orientação profissional. No entanto, podemos observar que boa parte delas levam em consideração a dimensão de sua construção histórica e da importância do contexto em que o indivíduo está inserido. (Gemelli, 1963, p.11)
 
3. AS TEORIAS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Bock (2001) faz uma sistematização para situar como a Orientação Profissional é entendida atualmente. Inicialmente ele apresenta a classificação elaborada por Crites, que é utilizada por vários autores brasileiros. Crites divide as teorias na área de Orientação Profissional em três grandes blocos: (1) Teorias não psicológicas; (2) Teorias psicológicas e (3) Teorias Gerais. Bock faz uma breve abordagem dos três grupos para explicar por que não utilizar essa classificação, apresentando com mais minúcias as teorias psicológicas, por terem estas, maior repercussão no Brasil.
Ferretti (1988) propõe alguns referenciais para analisar os quatro grupos de teorias, como: (1) objetivo da teoria; (2) características do processo de escolha ou de orientação profissional; (3) papel do indivíduo que escolhe; (4) papel reservado ao orientador no processo de escolha.
 
1) Teorias não psicológicas
Segundo Bock (2001), as teorias não psicológicas consideram que a escolha profissional do indivíduo é causada por elementos externos a ele, como fatores econômicos, culturais e sociais. Elas descrevem o processo de inserção das pessoas no trabalho, mas não lhes mostram qualquer papel ativo, ou seja, descartam a possibilidade de "orientabilidade" do processo. A ocupação do indivíduo na sociedade é definida pelas contingências das leis do mercado (oferta e procura) ou pelo padrão cultural das famílias.
De acordo com Pimenta (1979, apud Bock 2001), as teorias não psicológicas podem provocar um "sociologismo" ou "economismo" na Orientação Profissional, pois tendem a aglutinar o esquema científico da Economia e da Sociologia ao fenômeno da decisão, sem permitir que o indivíduo tome contato com estes esquemas. São forças que agem sobre o indivíduo, como mera explicação, sem deixar que ele as opere, em qualquer nível.
 
2) Teorias psicológicas
Bock (2000) afirma que as teorias psicológicas são aquelas que analisam os determinantes internos de escolha dos indivíduos. Sob esta perspectiva, o indivíduo teria papel ativo ou parcial e as condições sócio-econômica-culturais teriam uma função secundária no processo. Justamente por pressuporem participação ativa do sujeito, é que estas teorias são alvo de análise dos estudiosos. Segundo Crites (apud Bock, 2001), elas englobam vertentes denominadas de: (1) Teoria de traço e fator; (2) Teorias psicodinâmicas; (3) Teorias desenvolvimentistas e (4) Teorias de decisão, descritas abaixo.
 
2.1) Teoria Traço e Fator
De acordo com Ferretti (1988), tal teoria se apoia nos seguintes pressupostos teóricos: (a) diferença de habilidades físicas, aptidões, interesses e características pessoais; (b) diferenças ocupacionais, de acordo com a profissão; (c) a compatibilização desses dois fatores anteriores pode se dar por um processo racional de escolha.
Segundo Bock (2001), a teoria traço e fator dá início à área de Orientação Profissional. Ela pauta sua ação e dá fundamento aos testes vocacionais, que, por mais criticados que sejam, ainda fazem parte do imaginário social, quanto à escolha da profissão, pois acredita-se que as aptidões, os interesses e os traços de personalidade são inatos. A concepção de escolha relaciona-se ao modelo médico, que "radiografa" o indivíduo, analisa os dados coletados e sintomas, realiza um diagnóstico e propõe um prognóstico. O interessado, portanto, não decide, mas aceita ou não o conselho do orientador educacional. Normalmente, os instrumentos utilizados pelo profissional, mensuram as aptidões, inventariam ou testam os interesses e descrevem a "personalidade" do indivíduo.
Ferretti (1988) define os papéis: ao indivíduo cabe optar entre diferentes alternativas de escolha, compatibilizando habilidades pessoais e exigências da profissão; já, ao orientador educacional, cabe organizar as condições para a obtenção dos dados e conduzir entrevistas de aconselhamento com o orientando para que este possa realizar sua escolha.
Para Santos (1974, apud Bock 2001), o interesse profissional é definido como "atração, preferência, gosto", ou seja, sentimento de satisfação por determinado tipo de atividade. De acordo com o autor, os interesses tendem a se estabilizar a partir do fim da adolescência e passam a se manter no período da "maturidade". Descreve várias maneiras de conceituar personalidade e aponta que existem desde as fisiológicas até as psicológicas; seria um conjunto dinâmico e funcional de todos os atributos físicos e psíquicos que caracterizam e diferenciam os indivíduos. Santos afirma ser mais operacional trabalhar com os conceitos de traços de personalidade, motivos e emoções, para fins de orientação e escolha profissional. Apoiado em Cattel (apud Bock 2001), elaborou uma lista que expressa alguns termos de traços de personalidade e acredita que tal conceituação é necessária ao trabalho de interpretação da linguagem psicológica dos orientadores.
"(...) conceituação dos traços de personalidade é particularmente necessária aos orientadores, a fim de que sejam capazes de interpretar a linguagem psicológica, entendendo ou exprimindo-se adequadamente e, ainda, conhecer os aspectos ou manifestações que, realmente, possam exprimir reações típicas dos orientandos. Nas etapas de aconselhamento, na interpretação dos dados colhidos e no estudo da personalidade do aluno ou orientando, não pode o orientador ignorar a existência de traços que, de uma forma ou de outra, atuam nos ajustamentos pessoais." (Santos, apud Bock 2001: 12)
 
2.2) Teorias Psicodinâmicas
Nas teorias psicodinâmicas, segundo Bock (2001), busca-se a explicação de como os indivíduos constituem sua personalidade e acabam se aproximando das profissões. Trata-se de teorias que se fundamentam-se na psicanálise, considerando o desenvolvimento afetivo sexual, principalmente na primeira infância, para entender as aptidões, interesses e características de personalidade. Representam a superação de uma visão inatista de personalidade, considerando que é a partir da relação com o meio que o indivíduo constitui sua individualidade.
De acordo com Pimenta (1979, apud Bock 2001) e Silva (1996, apud Bock 2001), os representantes destas teorias tentavam aproximar-se, de maneira mecanicista, às concepções de Freud e seus seguidores, ao estabelecerem padrões de personalidade em função das relações mantidas na infância, com as profissões.
Pimenta cita Meadow, apontando a formulação da relação de certos tipos de personalidade e escolha profissional:
"1. A pessoa independente poderá procurar um emprego no comércio ou em profissões onde possa exercer liderança e iniciativa; 2. Os tipos reativos, como os compulsivos, procurarão atuar em profissões que requeiram este traço; 3. Os agressivos podem escolher profissões altamente competitivas; 4. Uma pessoa que tenha superego severo pode sentir-se insatisfeita nas suas ocupações; 5. O trabalhador passivo e submisso tem menos êxito no emprego que escolher, do que o agressivo." (Pimenta, apud Bock 2001: 13)
Estas teorias, como afirma Bock (2001), não atingiram grande repercussão nas práticas de Orientação Profissional no Brasil.
 
2.3) Teorias Desenvolvimentistas
Estas teorias surgem a partir da década de 50, como alternativa à abordagem do traço e fator. Trazem uma crítica a ideia de "momento de escolha" e defendem a concepção de desenvolvimento vocacional, considerando que o indivíduo possui um ciclo de vida e a questãoprofissional perpassa-o como um todo, ou seja, os indivíduos desenvolvem-se vocacionalmente e este processo dura por toda a sua vida.
De acordo com Ferretti (1988), a teoria de Ginzberg supõe que o indivíduo realiza escolhas durante o processo de desenvolvimento vocacional e a sua última escolha leva a uma compatibilização entre características pessoais e oportunidades ocupacionais; o orientador vocacional, portanto, não tem um papel definido. Tiedeman e O'Hara supõem que o indivíduo realiza escolhas através de um processo de diferenciação e integração da personalidade frente à necessidade de optar. Super alega que o indivíduo opta entre alternativas ocupacionais, a partir de escolhas anteriores e sucessivas, considerando suas características pessoais; a escolha se fará em função do autoconceito. Já Pelletier, Noiseaux e Bujold, afirmam que ao indivíduo cabe cumprir as tarefas do desenvolvimento vocacional, de modo a tornar-se mais maduro e o orientador profissional pode planejar e submeter o indivíduo a experiências de aprendizagem que lhe permitam cumprir as tarefas de seu desenvolvimento vocacional.
Bock (2001) afirma que Ginzberg é o introdutor da visão evolutista. Ele divide o desenvolvimento vocacional em três estágios: "escolha fantasia", que seria da infância até os onze anos; "tentativas de escolha", dos onze aos dezessete anos e "realista", a partir dos dezessete anos, estágio que mostra as fases sucessivas de exploração, cristalização e especificação.
Super, segundo Bock (2001), seria o mais representativo e influente autor da visão desenvolvimentista. Para ele o desenvolvimento vocacional se dá através de estágios evolutistas, os quais denominou de crescimento, exploração, estabelecimento, manutenção e declínio. Pelletier, Noiseux e Bujold propõem a operacionalização do estágio de exploração descrito por Super, considerando as seguintes tarefas como evolutivas deste estágio, a partir do modelo de intelecto proposto por Guilford:
1. Exploração seria entendida como: a descoberta de problemas a resolver e tarefas para realizar no meio imediato e sociedade (sensibilidade aos problemas); acúmulo de informações sobre o meio e sobre si mesmo fluidez; disponibilidade de um repertório diversificado de informações (flexibilidade); obtenção de informações de difícil acesso e incomuns (originalidade, autonomia, penetração); reconhecimento da importância da questão de orientação (sensibilidade aos problemas); aceitação de que a orientação é complexa e não oferece respostas únicas e definitivas (tolerância da ambiguidade); experimentação de papéis profissionais na imaginação (risco).
2. Cristalização seria: a constatação da necessidade de se fazer escolhas; a constatação da multiplicidade dos pontos de vista associados às ocupações; a interferência nas significações que podem ter resultados, rendimentos, performances escolares e extraescolares situando-os em uma grade de habilidades e talentos; o encontro de alguns atributos essenciais; a identificação de atividades as quais mostram interesses duradouros; organização do mundo do trabalho com base nos componentes da identidade pessoal.
3. Especificação seria: a identificação de valores e necessidades subjacentes aos comportamentos; ordenação das necessidades e valores, de acordo com a importância; obtenção de informações segundo critérios determinados; o encontro de possibilidades que são consequentes às necessidades e valores identificados; a decisão, integrando todos os elementos já considerados.
4. Realização, seria: a revisão de todas as etapas da decisão, considerando sua estabilidade e certeza; a operacionalização e planejamento das etapas da decisão; a antecipação das dificuldades; a proteção da decisão e a formulação de escolhas substitutivas.
Como conclui Bock (2001), o enfoque operatório acredita na educabilidade das habilidades necessárias ao desenvolvimento de uma boa escolha profissional. Para Pelletier, Noiseux e Bujold, apud Bock, 2001), os problemas de escolha podem ser considerados como problemas a longo prazo, cuja solução implica um certo número de tarefas, visando à maturidade vocacional.
"(...) fazer o inventário das possibilidades, colocar questões pertinentes, organizar os elementos do problema e esclarecer os objetivos, identificar suas necessidades e valores, avaliar os fatores de realidade e computar as probabilidades de materialização dos seus projetos, (saber) planejar e proteger sua decisão. Em suma, têm o imprescindível para a autodeterminação, para se atualizarem no seio das condições constringentes e facilitantes do meio." (Pelletier, Noiseux e Bujold, apud Bock 2001: 16)
 
2.4) Teorias Decisionais
Como afirma Bock (2001), as teorias decisionais importam pressupostos da Administração de Empresas e da Economia, visando à racionalidade das escolhas, portanto, a decisão deve ser fruto de análise minuciosa dos elementos que interferem no processo. A racionalidade proposta por tais teorias prevê uma etapa chamada de preditiva, ou seja, a identificação de possibilidades oferecidas e a análise de suas consequências. Prevê também uma segunda etapa, a avaliativa, que seria a fase de "desejabilidade" das consequências listadas na etapa anterior e, por último, a etapa decisória, onde se avaliam as decisões e finalmente chega-se a uma escolha.
Ao orientador profissional, de acordo com as considerações de Bock (2001) caberia ajudar o indivíduo a: (1) analisar os dados capazes de fornecerem bases adequadas para se chegar a uma decisão; (2) deduzir informações que possam sugerir novas alternativas e (3) determinar empiricamente a utilidade de cada decisão.
"Como diz Pelletier, Noiseux e Bujold (1977), tal visão não fórmula exatamente uma teoria de escolha profissional, não aponta os elementos que fazem parte desse processo e não oferece uma explicação mais geral do comportamento vocacional. Tais teorias estão mais preocupadas com o entendimento dos procedimentos da escolha, das etapas que necessariamente devem ser ultrapassadas para a tomada da melhor, da mais ponderada e racional decisão." (Bock, 2001: 17)
Ferretti (1988) indica os grupos de teorias em Orientação Profissional e indica seus principais representantes, como verificado em seu quadro a seguir:
 
	Grupos teóricos
	Autores
	Traço e fator
	Parsons
	Psicodinâmicas
	Bordin, Nachman & Segall
Roe
Holland
	Desenvolvimentistas
	Ginzberg
Super
Tiedeman & O'Hara
Pelletier
	Decisionais
	Gellat
Hilton
Hersheson e Roth
3) Teorias Gerais
Nas teorias gerais, de acordo com Bock (2001), tenta-se entender a escolha profissional determinada ora por aspectos psicológicos, ora por aspectos socioeconômicos, mas elas não formulam novas abordagens, apenas justapõem as anteriores.
Segundo Crites (apud Bock, 2001), são aquelas que não enfatizam somente aspectos psicológicos da escolha, nem somente aspectos estruturais socioeconômicos, como explicação da inserção do indivíduo em uma dada profissão ou ocupação.
Blau (apud Bock 2001), representante desta linha, elaborou um esquema conceitual com aportes da psicologia, economia e da sociologia. O autor tenta entender o porquê de as pessoas escolherem esta ou aquela profissão. Adverte que não propôs uma nova teoria sobre a escolha e seleção profissional, pois a sua visão é a de que na ciência, a teoria deve ser o resultado de pesquisas empíricas sistemáticas, as quais ele não realizou. Blau não trouxe inovações importantes, mas buscou aliar os determinantes psicológicos com os determinantes externos para a sua compreensão.
 
"A escolha profissional é um processo de desenvolvimento que se estende por muitos anos, (...) . Não há uma ocasião única em que os jovens se decidam por uma dentre todas as carreiras possíveis, mas há muitas encruzilhadas em que suas vidas dão passos decisivos que vão tornando limitado o rol de futuras alternativas e que, consequentemente, influem sobre a escolha final de uma ocupação. Por toda a parte, as experiências sociais - intercâmbio com outras pessoas - constituem um aspecto essencial do desenvolvimento individual.As experiências ocupacionais que por fim se cristalizam não determinam, porém, diretamente o ingresso numa ocupação. Se elas podem vir a ser realizadas, se precisam ser modificadas ou mesmo postas de lado, são coisas que dependem das decisões dos selecionadores, isto é, todas as pessoas cujas ações atingem as chances que o candidato tem de obter uma posição em qualquer das etapas do processo de seleção (...)." (Blau, apud Bock, 2001: 18)
De acordo com Ferretti (1988), as teorias gerais tratam de proposições de caráter econômico-social. Aproxima o peso que as dimensões psicológicas têm na decisão e a sua proximidade, em certos aspectos, com as teorias decisionais.
Blau e seus colaboradores (apud Bock 2001) argumentaram que tanto o processo de escolha como o de seleção devem ser considerados para entender o porquê de os indivíduos dirigirem-se para caminhos profissionais diferentes. Para eles, a estrutura social tem implicações em duas ordens distintas para a escolha de uma profissão: influencia o desenvolvimento da personalidade, por um lado e determina as condições socioeconômicas no tempo em que ocorrerá a seleção profissional, por outro. No entanto, estas duas ordens ocorrem em momentos distintos da pessoa; enquanto a estrutura social determina a personalidade num tempo passado - a infância (processo sócio-histórico), a seleção ocorre sempre no presente, determinada pela estrutura social do tempo atual.
 
4. A ABORDAGEM HISTÓRICO CULTURAL EM VYGOTSKY
Vygotsky nasceu em 1896, em Orsha, na Rússia e faleceu prematuramente em 1934, aos 34 anos de idade, vítima da tuberculose. Estudou na Universidade de Moscou. Fez direito e graduou-se também em história e filosofia na Universidade do Povo de Shanjavsky, não reconhecida oficialmente. Nos anos da universidade se interessa por problemas psicológicos e pedagógicos, mas é em Gomel, cidade para onde vai após concluir a universidade, que tem origem o pensamento psicológico de Vygotsky.
Foi em 1924, no II Congresso de Psiconeurologia, em Leningrado, que fez sua primeira comunicação falando, sem nenhum papel escrito, sobre a relação entre os reflexos condicionados e o comportamento consciente do homem. Defendeu a ideia "segundo a qual a consciência era um conceito que deveria permanecer no campo da psicologia, argumentando que ela deveria ser estudada por meios objetivos" (Vygotsky, et alli, 1988: 22). Sua palestra teve como título "Consciência como um Objeto da Psicologia do Comportamento".
Para Vygotsky, as teorias psicológicas, até então, existentes, quais sejam, a psicologia subjetiva e comportamentalista, não possuíam "as bases necessárias para o estabelecimento de uma teoria unificada dos processos psicológicos humanos" (Vygotsky, 1991: 6). Partindo deste pressuposto, tomou para si a tarefa de construir uma teoria que não só descrevesse, mas que explicasse as funções psicológicas superiores – pensamento, memória ativa, atenção voluntária, comportamento intencional - e que, além disso, resolvesse o problema da dicotomia entre as concepções subjetivistas e objetivistas. De 1924 a 1934 dedicou-se à construção de sua teoria histórico-cultural cujas bases repousam no materialismo histórico e dialético marxista e cujo pressuposto básico é que as origens das formas superiores de comportamento consciente, que diferenciam os homens dos animais, devem ser achadas nas relações sociais que o homem mantém.
O materialismo histórico e dialético é uma concepção da História que afirma que a vida determina a consciência, que é a partir da produção material da vida imediata, do processo real de produção humana que ela, a consciência, se desenvolve: "os homens desenvolvem a consciência no interior do desenvolvimento histórico real" (Marx e Engels, 1982: 44). Essa história real, produzida por homens reais, também está ligada à produção material destes homens. Não são fenômenos separados, mas fenômenos que coexistem. Nesta concepção as circunstâncias fazem os homens assim como os homens fazem as circunstâncias e, portanto, "o homem não é apenas um produto de seu ambiente, é também um agente ativo no processo de criação deste meio" (Lúria, 1988: 25); sua relação com a cultura é dialética: o homem se transforma e transforma a cultura sempre em relações sociais. Para Marx, mudanças históricas na sociedade e na vida material produzem mudanças na consciência e no comportamento humanos.
Vygotsky relaciona os referenciais teóricos marxistas a questões psicológicas concretas. Um ponto central do materialismo histórico e dialético que ele aplica em sua teoria, visando explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos, é que "todos os fenômenos sejam estudados como processos em movimento e em mudança".(Vygotsky, 1991: 8). O método de análise dos processos não se concentra apenas nos resultados do desenvolvimento, no conhecimento que o sujeito já possui, mas analisa os processos de desenvolvimento, para compreender as suas origens, explicando a essência dos fenômenos psicológicos. Assim, o desenvolvimento é a história do desenvolvimento, o comportamento é a história do comportamento, a cultura é a história da cultura, a sociedade é a história da sociedade. Nesse processo histórico, dois fatores filogenéticos são fundamentais: o trabalho social e o emprego de instrumentos "como os meios pelos quais o homem transforma a natureza e, ao fazê-lo, transforma a si mesmo" (Vygotsky, 1991: 9) e o surgimento da linguagem.
Outro ponto, também fundamental, é a concepção de que a origem da atividade consciente do homem deve ser procurada na "forma histórico-social de atividade", nas condições sociais de vida historicamente formadas. Esse é um pressuposto básico na obra de Vygotsky: as explicações do funcionamento das funções psicológicas superiores devem ser buscadas nas relações sociais que o indivíduo mantém com a cultura, isto é, nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais se desenvolvem em um processo histórico. "Portanto, para a abordagem sócio-histórica não há conflito entre a sociedade e o indivíduo" (Bock, 2001: 44).
Dentro do processo geral de desenvolvimento, Vygotsky distingue duas linhas qualitativamente diferentes do desenvolvimento que diferem quanto á origem: os processos elementares que estão num nível inicial do desenvolvimento, têm origem biológica e são relações diretas, como, por exemplo, a sucção do seio materno pelo bebê e os processos psicológicos superiores, mais complexos, próprios do ser humano, de origem sociocultural, e que envolvem as ações conscientes, o controle consciente do comportamento, as ações intencionais, a memória ativa, a atenção voluntária, o pensamento abstrato, a liberdade do indivíduo em relação ao tempo e ao espaço presentes (ele pode imaginar eventos não vividos, pensar em objetos ausentes, planejar ações, etc.), a tomada de decisão a partir de uma nova informação, a interação do organismo individual com o meio físico e social em que vive e as formas mediadas de comportamento. A atividade consciente do homem possui três características fundamentais: não está obrigatoriamente ligada a necessidades biológicas, mas normalmente a necessidades cognitivas; não é orientada por uma experiência imediata, mas pelo conhecimento mais profundo que o homem tem da situação; ela se forma por meio da assimilação da experiência de toda a humanidade, isto é, suas raízes são histórico-culturais.
A história do desenvolvimento das funções psicológicas superiores deve ser estudada desde a sua pré-história, cujas raízes estão na infância, considerada por Vygotsky o centro da pré-história do desenvolvimento cultural. O desenvolvimento deve ser visto em três aspectos: o instrumental, o cultural e o histórico. Lúria (1988) nos ajuda a compreender cada um deles. O instrumental se refere à natureza basicamente mediadora de todas as funções psicológicas complexas; o homem não apenas responde aos estímulos imediatos do ambiente, mas os transforma e usa essas transformações como instrumentos de seu comportamento. O culturalenvolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefas que a criança em crescimento enfrenta e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos inventados pela humanidade é a linguagem. Vygotsky enfatizou o pensamento e a linguagem. O histórico funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento foram criados e modificados ao longo da sua própria história social.
A compreensão e explicação das formas superiores do comportamento humano têm na mediação um conceito central. A mediação, segundo Oliveira (1997) é, em termos mais gerais, o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação que deixa, então, de ser direta para ser mediada por esse elemento. Esse elemento é um elo entre o organismo e o meio, tornando a relação mais complexa. Pela mediação, o indivíduo responde a uma situação, e ao mesmo tempo a modifica. Isso faz com que a mediação seja uma atividade produtora do comportamento humano. "A mediação é um processo essencial para tornar possível as atividades psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo" (Oliveira, 1997: 33).
Outro conceito igualmente importante é o de internalização. Segundo Vygotsky, o processo de internalização é uma mudança qualitativa que consiste numa série de transformações: as operações externas vão se transformando em processos internos de mediação; um processo interpessoal ou Inter psíquico, isto é, os partilhados entre pessoas é transformado em um processo intrapessoal ou intrapsíquico, isto é, no interior da própria pessoa e ocorre ao longo da evolução da espécie humana e do desenvolvimento do indivíduo. O processo de internalização é a reconstrução interna de uma operação externa. Para Vygotsky, o plano interno não preexiste, mas é constituído pelo processo de internalização, baseado nas ações, nas interações sociais e na linguagem "A internalização de formas culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como base as operações com signos" (Vygotsky, 1991: 65). Os signos, enquanto sistemas de representações mentais da realidade são os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo.
No processo de internalização, Vygotsky (1991) destaca a importância da zona de desenvolvimento proximal, um conceito que ele define como: a distância entre o nível de desenvolvimento real - aquele que se refere a processos de desenvolvimento já completados - e o nível de desenvolvimento potencial - aquele que se refere a processos de desenvolvimento que ainda precisam da mediação do "outro". A zona de desenvolvimento proximal está sempre em transformação. O que significa dizer que o homem está sempre em transformação, ou está constantemente constituindo sua identidade, sua personalidade nas relações com o outro, mediadas dialeticamente pela sociedade.
Além do processo de internalização, outra mudança qualitativa no uso dos signos é o desenvolvimento dos sistemas simbólicos que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. O sistema simbólico básico de todos os grupos humanos é a linguagem. A linguagem é um sistema de códigos que designa os objetos, suas ações, qualidades ou relações e serve de meio de transmissão de informação, tendo por função principal a de intercâmbio social ou de comunicação. Ela é considerada por Vygotsky o fator fundamental de formação da consciência por propiciar três mudanças essenciais à atividade consciente do homem: primeiro, a linguagem permite discriminar os objetos, dirigir a atenção para eles e conserva-los na memória, possibilitando lidar com os objetos do mundo exterior inclusive quando eles estão ausentes, ou seja, permite conservar a informação, discriminar, selecionar e memorizar; segundo, assegura o processo de abstração das propriedades essenciais das coisas relacionando-as a categorias, classificando-as e assegura a generalização, isto é, a formação de conceitos, construídos socialmente e a transição do sensorial ao racional; por fim, a linguagem é a mediadora que permite ao homem assimilar a experiência da prática histórico-social acumulada ao longo dos séculos. A linguagem penetra em todos os campos da atividade consciente do homem por isso ela tem importância fundamental na formação dos processos psíquicos, na constituição das complexas formas de pensamento. Por todas essas razões a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupam lugar central na obra de Vygotsky.
A linguagem desenvolve-se inicialmente por necessidades de comunicação, mas para que a comunicação ocorra é necessário que sejam utilizados signos compreensíveis por todos, isto é, signos cujos significados sejam compartilhados culturalmente. A função de generalização da linguagem, que classifica os objetos em categorias conceituais, permite essa compreensão e faz dela um instrumento de pensamento, permitindo a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Daí a importância de se compreenderem as relações entre a linguagem e o pensamento no estudo das funções psicológicas do ser humano.
O pensamento e a linguagem têm raízes genéticas diferentes. Suas trajetórias são independentes e não há relação clara e constante entre elas. "Na filogenia do pensamento e da fala, pode-se distinguir claramente uma fase pré-linguística no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da fala" (Vygotsky, 1991: 36). A linguagem é pré-intelectual quando ainda não ainda não tem função de signo, quando não produz significados específicos e o pensamento é pré-linguístico quando ainda não está vinculado à linguagem, quando a fala ainda não serve ao intelecto. Porém, em algum momento, ao longo da história do desenvolvimento da espécie humana (filogênese), pela necessidade de intercâmbio dos indivíduos durante o trabalho coletivo, e da história desenvolvimento do indivíduo (ontogênese) pela própria necessidade de sua inserção na cultura em que nasceu, as trajetórias do pensamento e da linguagem se unem e o pensamento se torna verbal e a linguagem racional. Essa união acontece num processo histórico, nas relações sociais de trabalho que exige tanto o uso de instrumentos quanto a comunicação. Assim, o surgimento do pensamento verbal e da linguagem racional é um momento marcadamente importante no desenvolvimento da espécie e do indivíduo.
O pensamento verbal permite um modo de funcionamento psicológico mais complexo predominando na ação psicológica humana. Aqui, na análise de Vygotsky, entra em cena um conceito fundamental: o do significado das palavras. O significado une estreitamente o pensamento e fala no pensamento verbal e ao fazê-lo, permite que a linguagem desempenhe suas duas funções primeiras: a de intercâmbio social ou de comunicação e a de pensamento generalizante. Os significados também são construções humanas históricas e, portanto, sempre estão sofrendo transformações tanto em relação à história da própria língua quanto em relação à aquisição da linguagem. Essa idéia, o de transformação do significado das palavras, está relacionado com um outro aspecto: o do sentido da palavra. Enquanto o significado refere-se a uma compreensão da palavra compartilhada culturalmente, o sentido refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo de acordo com as suas vivências sociais e afetivas. A linguagem é, pois, um instrumento do pensamento. "O pensamento não é simplesmente expresso em palavras: é por meio delas que ele passa a existir." (Vygotsky, 1993: 108).
Estes são os pressupostos teóricos básicos da abordagem histórico-cultural em Vygotsky.
 
5. NOVA CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
É a partir do referencial teórico histórico-cultural, de Vygotsky, cuja base teórica repousa no materialismo histórico e dialético, que Bock (2001) propõe uma nova classificação para as teorias em orientação profissional,buscando superar teorias que dissociam indivíduo e sociedade, implicando em considerar ou o determinismo individual ou o determinismo social na escolha da profissão, para chegar a uma teoria que entenda dialeticamente esta relação e sua implicação na escolha profissional.
As teorias em orientação profissional, até então classificadas em psicológicas, não-psicológicas e gerais recebem uma nova classificação, a saber: teorias tradicionais, teorias críticas e teorias para além da crítica.
 
1) As teorias tradicionais
As teorias tradicionais equivalem àquelas teorias anteriormente classificadas por teorias psicológicas, que se apoiam no modelo de perfis. Trazem uma clara concepção liberal de indivíduo e sociedade. Nesta concepção o indivíduo é ativo no sentido de ser responsável por suas ações no mundo e é livre para desenvolver-se de acordo com seus talentos e aptidões, ajustando-se à sociedade que dá a todos as mesmas oportunidades para obterem sucesso e melhores condições de vida. A sociedade é dada (não questionada) e acredita que é a partir do aperfeiçoamento e progresso individual que se dá o progresso geral. Esta teoria centra-se no determinismo individual, pois considera que é o indivíduo que escolhe a sua profissão de acordo com sua vocação. Coerente com a concepção liberal que legitima as diferenças individuais e a divisão em classes a idéia de "vocação individual", esconde e justifica as desigualdades sociais, pois responsabiliza apenas o indivíduo pela sua escolha, pelo seu sucesso ou pelo seu fracasso profissional e social, excluindo os fatores econômicos, sociais, culturais, políticos, etc. O indivíduo é autônomo em relação à sociedade. Desta forma, a escolha profissional certa é aquela coerente com o perfil pessoal, isto é, com os traços de personalidade do indivíduo, com suas capacidades, aptidões e interesses pessoais. Este perfil, de acordo com esta teoria, poderá ser determinado por meio de alguma técnica ou instrumento, como os testes vocacionais, por exemplo.(ver anexos)
Estas técnicas ou instrumentos farão um diagnóstico do perfil do indivíduo, buscando relacioná-lo às várias profissões existentes, para que ele, de acordo com os resultados, encontre a profissão que mais se adapte ao seu perfil, ou a profissão para a qual tem vocação "natural", "inata".
Segundo Bock (2001), neste modelo, a função da Orientação Profissional é ajudar o indivíduo a se conhecer, ou seja, saber quais são as suas características pessoais mais acentuadas, além de ajudá-lo a conhecer as profissões existentes para que ele possa identificar "para que leva jeito", podendo, assim, fazer a escolha profissional certa, que o leve a ascender socialmente. O indivíduo, neste caso, pode aceitar ou não o resultado do teste, mas a responsabilidade da escolha é dele e só dele.
"Encarada dessa perspectiva a Orientação Profissional exerceria, dentro do aparelho escolar, uma ação reprodutora, contribuindo para disseminar (ou reforçar) entre os jovens, o ideário liberal, através do qual seriam mascaradas as verdadeiras razões pelas quais as oportunidades educacionais e ocupacionais existentes no país se apresentam muito favoráveis para alguns, enquanto, para outros, são precárias, severamente limitadas ou inexistentes."(Ferretti, 1988, p: 153).
Essa idéia de vocação ainda é muito forte em nossa sociedade. Ela está presente nos discursos neoliberais de competência, somado ao de capacidade, que se mede pelos resultados obtidos. Hoje, mais do que nunca, a lógica da competência persegue todo profissional. Este fato tem reforçado, ainda mais, a procura pelos testes vocacionais na hora de escolher uma profissão, pensando em se eliminar, ao máximo, a possibilidade de escolher a profissão errada, sendo, depois, declarado "incompetente". Este fato continua escamoteando a estrutura social que mantém a desigualdade, deixando-a sob a responsabilidade do indivíduo. Assim, pode-se dizer que se o indivíduo não obteve sucesso, se ele não é competente no que faz, é porque ele não escolheu a profissão certa, isto é, a profissão para a qual tem vocação.
Bock (2001) critica este modelo por este polarizar a escolha profissional apenas no lado indivíduo e por considerá-lo "estático tanto no que se refere às profissões ou ocupações como quanto ao indivíduo" (p:23), o que contraria totalmente um dos pressupostos teóricos da abordagem sociocultural, de Vygotsky, que analisa processos e não resultados, não considerando o indivíduo como ser histórico.
 
2) As teorias críticas
Da mesma forma que as teorias psicológicas foram agrupadas sob nova classificação, assim também o foram as teorias não-psicológicas, que passaram a ser classificadas por Bock (2001) como teorias críticas. Estas teorias fazem a crítica das teorias de concepção liberal, que se apóiam no inatismo vocacional e no determinismo individual, para centrar-se numa concepção reprodutivista cujos determinantes são econômicos, políticos, sociais, culturais e tecnológicos.
As teorias críticas surgem, no Brasil, no final da década de 70 e início da década de 80, momento em que o país vivia o regime da ditadura militar. São fortemente influenciadas por teóricos como Althusser, Bourdieu e Passeron que direcionam os olhares principalmente para a escola, vendo-a como um Aparelho Ideológico do Estado (Athusser) com a função de manter o status quo da classe dominante, transmitindo e reproduzindo os seus valores e crenças (reprodutivismo). Aponta para o caráter ideológico das teorias tradicionais, centradas nos princípios liberais de igualdade, liberdade e individualidade, que vê a escola como fator de equalização social, visando dissimular as relações de poder implícitas na escola e na realidade social e econômica vigente. Propõe uma análise crítica da sociedade para que se possa superar a visão ingênua que dela se tem e chegar à conscientização que leve à transformação social.
No Brasil, Luis Antônio Cunha (1977) aponta o caráter ideológico e reprodutivista da escola, mostrando que as chances de escolarização, bem como a qualidade de ensino, são desiguais; que as aptidões dos indivíduos não são inatas, mas resultados de suas condições materiais de vida; que a escola valoriza comportamentos e competências que não são próprios da classe trabalhadora; que as diferenças intelectuais não produzem as diferenças de classes sociais. (Cunha apud Bock: 2001)
Da mesma forma que Cunha desmascara a ideologia liberal-reprodutivista na escola, Ferretti (1988a, p:44) o faz com as teorias em Orientação Profissional de concepção liberal, denunciando a ideologia, também reprodutivista, nela embutida, quando responsabilizam o indivíduo pela sua escolha profissional, que o leva ao sucesso ou fracasso, desconsiderando as causas ou as condições materiais de vida que o influenciaram. Além disso, segundo Pimenta (apud Bock: 2001), as teorias tradicionais apenas descrevem o fenômeno da escolha profissional, não explicando os processos pelo qual se desenvolveu, o que já foi criticado por Bock.
Nas teorias críticas, a Orientação Profissional tem por função levar o indivíduo a refletir sobre as questões ideológicas, mais notadamente, aquelas que permeiam as relações do trabalho, visando "a consciência crítica dessa atividade humana" (Bock, 2000), abordando criticamente, portanto, todos os temas que envolvem o trabalho. Além disso, a Orientação Profissional, aqui, deve levar a uma análise crítica da própria Orientação Profissional de visão liberal, por considerá-la ideológica.
Dentro desta visão crítica, as profissões, ocupações e os indivíduos não são estáticos, mas "têm história, isto é, se modificam no tempo em função de variáveis econômicas, políticas, sociais e tecnológicas" (Bock, 2001:p: 33). Porém, se na relação indivíduo-sociedade as teorias tradicionais polarizam o lado indivíduo, as teorias críticas polarizam o lado sociedade, ou o determinismo econômico e sociológico Aqui o indivíduo não é autônomo em relação à sociedade mas é por ela determinado, o que equivale a dizer que não existe o indivíduo, pois não háliberdade de escolha.
Bock também critica este posicionamento, justamente por negar o indivíduo enquanto alguém que escolhe. Em seu modo e pensar "o indivíduo existe e é a síntese das influências [...] sociais, biológicas e psicológicas." (Bock, A. 1995, p: 276). Portanto, também estas teorias não articulam indivíduo e sociedade, numa relação dialética como propõe a abordagem sócio-histórica.
 
3) As teorias para além da crítica
Como foi dito, nenhuma das teorias anteriores superam a dicotomia indivíduo-sociedade. Superar esta dicotomia, em Orientação Profissional, significa superar as teorias tradicionais e críticas em direção a uma nova teoria que conjugue ambas as visões. Esta tarefa está, aqui, reservada à teoria sócio-histórica que compreende a relação indivíduo-sociedade de forma dinâmica e dialética. Portanto, não polariza nem indivíduo (determinismo individual), nem sociedade (determinismo econômico e sociológico) ideologicamente na questão da escolha profissional.
Assim, a teoria sócio-histórica critica a visão liberal das teorias tradicionais centradas no talento individual que coloca o indivíduo como autônomo em relação à sociedade. Também critica a visão reprodutivista das teorias críticas que coloca o indivíduo como mero reflexo da sociedade. Esta teoria trabalha com o conceito de multideterminação do ser humano, na qual está embutida a idéia de que, simultaneamente, o indivíduo escolhe e não escolhe a sua profissão (Bock, 2001).
Tendo, como já foi dito, por pressupostos teóricos o materialismo histórico e dialético, a teoria sócio-histórica não acredita na natureza humana inata: o homem não é pré-concebido (portanto não existe vocação inata) , mas na condição humana: o homem se constitui nas relações sociais, nas relações com o outro. Nesta concepção, o homem é um ser ativo, na medida que age na natureza e produz cultura; é um ser social, na medida que se relaciona com o outro, pelo trabalho, e é um ser histórico na medida que relação e produção se constituem de formas diferentes em cada período histórico. O homem é criado pelo próprio homem e deve ser objeto da Psicologia: na produção material, o homem desenvolve a sua consciência, atua sobre o mundo, modificando-o e modificando-se. Assim, "o indivíduo só pode ser entendido enquanto inserido numa totalidade social e histórica que lhe determina e lhe dá sentido". (Bock, 2001, p: 47)
Neste sentido, a Orientação Profissional, dentro desta visão, deve dar condições para que a própria pessoa faça sua reflexão e possa decidir, entendendo as determinações de sua escolha, tendo em vista que o indivíduo constrói sua identidade a partir do que vive (internalização do vivido), nas relações sociais históricas. A escolha profissional, portanto, cristaliza relações interpessoais passadas, presentes e futuras, pelas quais a imagem de uma profissão é construída e pelas quais o indivíduo se identifica com ela. Este é, segundo Bock, o ponto de partida da escolha profissional.
 
6. O PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA
O programa de orientação profissional proposto por Bock tem como principal objetivo superar os modelos tradicionais. Para isto utiliza, como eixo de seu trabalho, as contribuições de Bohoslavsky.
Embora este autor não tenha uma abordagem sócio-histórica em seus trabalhos, mantém uma proximidade muito grande com ela. Isto se dá principalmente porque não aceita uma visão neutra do sujeito, determinado biologicamente, e busca a dimensão histórica da construção da identidade do sujeito que está procurando orientação profissional.
Segundo Bock "as pessoas constroem e lidam com a cara da profissão...[que] é [o] resultado do contato direto ou não...que ela já teve com a área profissional". (Bock: 2001, p.53). Este contato com a profissão somente acontece porque o indivíduo está inserido em um meio social. São estas caras que formam os pilares para a escolha profissional.
As principais inovações deste programa de orientação profissional foram: a aceitação que o indivíduo não é um ser determinado biologicamente, mas sim historicamente, na convivência social e a constituição de uma equipe interdisciplinar de trabalho. Os membros desta equipe atuam em diferentes funções e não , como nas teorias tradicionais, nas quais o psicólogo exercia funções clínicas e os pedagogos enumeravam profissões.
As atividades do programa ocorrem em três módulos, totalizando quinze sessões. Todas as sessões são realizadas em grupos pois acredita-se na necessidade de confrontar diferentes idéias, valores e projetos de vida para observar a vida de diferentes ângulos.
O Módulo I – O significado da escolha profissional tem como objetivo introduzir o assunto, como o próprio nome diz, o significado da escolha profissional. Isto ocorre em quatro sessões:
· Primeira sessão: é apresentado como funciona o programa.
· Segunda sessão: discutem-se tópicos como o mercado de trabalho, os meios de comunicação e o vestibular. Isto é feito por meio de argumentação das respostas dadas a três questões, da conceituação dos termos acima, da introdução de outros temas, da análise dos valores sociais e da desmistificação do vestibular.
· Terceira sessão: trabalha-se a relação de gênero e a escolha profissional, mostrando alguns dados estatísticos que evidenciam a influência social. Nesta sessão é utilizada uma metáfora, a do "Sorvete", para demonstrar o processo de escolha e que toda escolha é uma tomada de decisão, a resolução de um conflito e a perda de algo.
· Quarta sessão: esta é destinada à síntese deste primeiro módulo. Discute-se um conto que é lido e se desenvolve uma atividade para fortalecer o relacionamento de todos os componentes do grupo.
O Módulo II – O trabalho, tem como objetivo conceituar e discutir como se desenvolve o trabalho. São destinadas para esta fase do programa duas sessões:
· Quinta sessão: sua meta é que o grupo conheça o conceito de trabalho genérico. Para isto o grupo desenvolve uma atividade que, basicamente, é a simulação da montagem de duas empresas (uma do setor primário e outra do setor secundário.)
· Sexta sessão: é uma continuação da sessão anterior complementando-a através do trabalho de assuntos, muito estudados por Marx, que são a divisão do trabalho, o conceito de mercadoria, a força de trabalho e o estabelecimento dos salários. Também são abordadas as questões da vocação e do desemprego.
O Módulo III – Autoconhecimento e informação profissional, é o último e o maior de todos eles. É composto por nove sessões sendo que, as duas últimas são destinadas para sintetizar o trabalho realizado com o grupo. Neste módulo
"Não se pretende buscar alguma relação entre as características pessoais e as profissões: trata-se de propiciar ao orientando que compreenda sua forma pessoal de tomada de decisão e dar condições para que possa elaborar projetos inclusive de mudança em suas características pessoais". (Bock: 2001, p.68)
· Sétima sessão: é nesta que se inicia o trabalho com as profissões, ou seja, são dadas as primeiras informações. Diferente dos programas tradicionais em que o psicólogo fala sobre as profissões, neste o orientador entrega ao grupo que está trabalhando cento e seis fichas contendo os nomes das profissões. Os orientandos, em grupo, terão que classificá-las, em oito grupos conforme as suas "caras" e não nos três grupos convencionais (exatas, humanas e biológicas).
· Oitava sessão: ela é reservada para finalizar a tarefa da sessão anterior. É dado aos orientandos o gabarito do agrupamento das profissões, sanadas as dúvidas que surgirem e pedido a cada um escolha o grupo com o qual mais se identificou e que gostaria de exercer como profissão.
· Nona sessão: é realizada uma atividade para que cada membro da sessão se conheça melhor. A atividade se chama "Atividade da Lã". Os orientandos são divididos em dois grupos e sem poder falar ou fazer mímica eles têm que desenvolver qualquer coisa com aquela lã, em um tempo estipulado. Terminada a atividade os participantes falam sobre si e sobre os desenvolvimentos no trabalho.Em seguida, sozinhos, respondem a duas questões que têm como finalidade principal mostrá-los que a individualidade de cada um está intimamente relacionada com as expectativas do grupo em que vivem.
· Décima sessão: somente são trabalhadas informações profissionais por meio da análise do cotidiano de cada um. Para isto é solicitado para eles que façam uma lista sobre: "tudo o que você quer", "tudo o que você tem que" e "você tem medo de". Os tópicos escritos são socializados em um grupão e discutidos que "os desejos e as vontades se constituem, não como atividade autônoma, mas como construção social internalizada". (Boch: 2001.p. 71). Em seguida estimula-se os orientandos a fazerem pesquisas e leituras a respeito das profissões escolhidas na sessão oito.
· Décima primeira sessão: aqui é trabalhado o autoconhecimento com o "jogo da imagem". No início do jogo cada participante escreve, em pequenas folhas de papel, o nome de cada componente do grupo e o presente que deseja dar a ele. Também escreve, em outras folhas, uma carta colocando a imagem que o dono do presente tem do dono do papel. Por fim cada um faz o comentário sobre os presentes que recebeu.
· Décima segunda sessão: trabalham-se novamente as informações profissionais após o "jogo do governo". O jogo se desenvolve da seguinte forma: participantes têm que imaginar que moram em um lugar em que o governo decide quais as profissões que as pessoas terão. Mas, os habitantes do local têm uma chance para mudar de profissão, esta acontece uma vez ao ano. Acontece um tribunal (metade do grupo é da justiça e a outra metade são as pessoas solicitando a mudança de profissão, depois os grupos trocam de papel) e as pessoas têm que argumentar sobre a sua decisão de trocar de profissão. Segundo Bock, esta atividade procura demonstrar o quanto cada um conhece sobre a profissão que deseja seguir.
· Décima terceira sessão: assim como a décima primeira, trabalha o autoconhecimento. Um orientador propõe que o grupo sonhe acordado. Para isto os orientandos se deitam no chão, relaxam e seguindo as instruções devem imaginar/sonhar acordado. Após isto escrevem e verbalizam suas imaginações e sensações.
· Décima quarta e décima quinta sessões: são destinadas a fazer uma síntese. Na primeira uma "síntese afetiva" que trabalha com as escolhas e, na segunda, são realizadas conclusões e avaliações de todo o trabalho realizado e do grupo.
Os orientadores, após todas estas sessões, darão orientação individual, para todos aqueles que necessitarem.
 
7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
1. A pesquisa
Este trabalho tem como base a dissertação de mestrado de Silvio Duarte Bock: Orientação Profissional: Avaliação de uma proposta de trabalho na abordagem sócio-histórica. Em tal dissertação procurou-se investigar os efeitos de um programa de orientação profissional, de base teórica sócio-histórica, nas decisões profissionais de jovens que dele participaram.
Para a pesquisa, Bock escolheu:
" um grupo com dezesseis participantes, cujo desenvolvimento ocorreu no segundo semestre de 1994. Analisou-se a situação de entrada e saída dos sujeitos quanto às suas decisões profissionais. Posteriormente, selecionaram-se cinco deles para a realização de entrevistas visando a uma melhor compreensão do significado do programa nas suas decisões, bem como a um detalhamento da trajetória pessoal e profissional após o término do programa." (Bock, 2001)
Foram coletados dois conjuntos de dados:
· os "dados dos documentos", que incluíam diversos registros, tais como os relatos, cujos registros foram realizados antes, durante ou após as atividades;
· os "dados das entrevistas", divididas em duas etapas com cada sujeito.
Após a apresentação dos dados Bock conclui que houve uma ampliação dos determinantes na decisão profissional, durante as sessões, devido a ampliação de visão sobre os fatores da escolha.
Tal conclusão pode ser obtida devido ao aumento no grau de reflexão dos sujeitos, por exemplo, no início identificaram-se seis categorias de análise, e na saída doze, o que demonstra uma visão mais "dinâmica e processual da trajetória da decisão".
2.Categorias comuns aos dois momentos – entrada e saída
2.1. Experiência escolar e escolha
Na entrada do programa, a categoria mais expressiva era a experiência escolar, que se torna a 4ª na saída.
Isso ocorre provavelmente em função de dois fatores:
· Um questionamento a respeito das habilidades inatas ou dons que explicaria os interesses e o bom desempenho;
· E o questionamento em relação às matérias escolares e às profissões.
2.2. Autoconhecimento
Na entrada aparece como segunda categoria, "expressão das características individuais", como por exemplo, leitura, escrita e criatividade. Os sujeitos divergem entre o individualismo, como fator coerente à ideologia liberal e a preocupação com o futuro emprego diferentemente do sujeito que se reconhece como pertencente a parte de um todo social.
2.3. Família
Foi a terceira categoria mais citada. Percebe-se aqui a influência familiar na escolha da profissão. Inicialmente, tal escolha e influência eram percebidas como se fossem "heranças". Posteriormente, os orientandos verão a família como mais um determinante de escolha.
 
2.4. Mercado de trabalho
Muito interessante foi o fato de nenhum sujeito assumir sua escolha em função dessa categoria. Segundo Bock (2001), talvez pela "condição de classe social dos sujeitos que, partícipes de uma classe bastante privilegiada, discriminam que sua família detém capital financeiro, cultural e social para superar as possíveis dificuldades colocadas pelo mercado" (p.126)
 
2.5. Vestibular
Apenas um sujeito fez menção relacionando a aprovação no vestibular à escolha profissional.
3. Categorias específicas da escolha no final do programa
Percebe-se que a importância do programa de orientação profissional agrega conhecimentos e aumenta a compreensão do fenômeno de escolha profissional.
Pode-se notar, ao final do programa, o surgimento de novas categorias, como os valores que serão reelaborados e transformados em projetos de vida; muitas vezes tais valores são de ordem individual.
Vale ressaltar que o programa de orientação profissional, contido na tese de Bock, apesar de possuir atividades e objetivos que colocam a "contribuição social da profissão" em voga, não consegue transformar o individualismo, uma vez que possui pouco tempo para trabalhar com tal valor.
Outro fator que pode ser percebido ao final do programa como tendo grande relevância é o fator informação sobre a profissão escolhida. A informação profissional amplia a visão sobre a profissão, desmistificando certos modelos estereotipados pelos próprios orientandos.
 
8. CONCLUSÃO
A globalização e o desenvolvimento tecnológico estão gerando mudanças na relação homem-trabalho.
A partir desse estudo, pode-se chegar a conclusões de que o trabalho desenvolvido em instituições, com Orientação Profissional , em sua maior parte destina-se a um público restrito.
Pode-se também perceber o papel do psicólogo educacional que atua no programa e nas relações Inter e intrapessoais envolvidas no processo, realizando intervenções individuais ou em grupo, visando à compreensão e elucidação de uma escolha.
O programa de orientação profissional, conforme Bock, contribui para a incorporação de novos determinantes que levam à reflexão sobre a escolha da profissão, superação de preconceitos e uma visão mais completa e complexa sobre a realidade.
Faz-se importante considerar a base sócio-histórica, interagindo no programa de Orientação Profissional que se constitui enquanto um "conjunto de intervenções que visam a apropriação dos determinantes de escolha".
A "escolha da profissional" deve ser regida pela real conscientização das diversas ocupações e o conhecimento das perspectivas do mercado de trabalho em termos ocupacionais. Além dessa desmistificação, é necessário aumentar a oferta de escolas que ofereçam tal orientação, bem como melhorar a capacitação dos profissionais, para que os orientandos, e não desorientados, possam buscar o caminho maisadequado, sem desperdiçar tempo ou recursos, evitando desajustes profissionais e pessoais.
09. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, M. L. T. Capítulo 21: a escolha de uma profissão. In: BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 307-329.
BOCK, Silvio Duarte. Capítulo 14: Trabalho e profissão. In: CONSELHO Regional de Psicologia e Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo. Psicologia no ensino de 2º grau – uma proposta emancipadora. São Paulo: Edicon, 1986.
BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional: avaliação de uma proposta de trabalho na avaliação sócio-histórica. (tese de mestrado) Campinas, S.P.: s.n., 2001.
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