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Orçamento Público Receita Orçamentária3 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Educação Continuada Paulo Marques Coordenador-Geral de Educação a Distância Carlos Eduardo dos Santos Conteudista/s Fernanda Costa Bernardes (Conteudista revisora, 2018). Curso produzido em Brasília 2019. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação .................................................................................. 5 1. Conceito de Receita Orçamentária ................................................ 5 2. Classificação da Receita Orçamentária .......................................... 7 2.1 Classificação por natureza da receita ...............................................................9 2.2 Classificação por identificador de resultado primário ....................................16 2.3 Classificação por Fonte/Destinação de Recursos............................................16 2.4 Classificação por esfera orçamentária ............................................................19 3. Noções básicas sobre tributos ..................................................... 19 4. Etapas da Receita Orçamentária ................................................. 25 5. Determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF ............... 27 6. Revisão do Módulo ..................................................................... 29 7. Referências ................................................................................ 31 Material complementar .................................................................. 32 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação Olá! Boas-vindas ao módulo 3 do nosso curso de Orçamento Público. Neste módulo falaremos sobre a Receita Orçamentária. Quando iniciado o processo de elaboração de um orçamento, o primeiro item que devemos considerar, tendo em vista o princípio orçamentário do equilíbrio, é a capacidade de captação dos recursos necessários para cobrir as despesas que serão realizadas. Assim, entender a Receita Orçamentária é um fator fundamental para a compreensão do Orçamento Público. Para isso, abordaremos pontos importantes relacionados aos principais conceitos, classificações da receita orçamentária e noções básicas sobre tributos, tendo como principal referência as orientações do Manual Técnico de Orçamento. Também conheceremos as etapas em que se processa a Receita Orçamentária e destacaremos as implicações da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF em sua gestão. A nossa expectativa é que o conteúdo possibilite uma base de informações suficientes para o desenvolvimento de uma visão crítica a respeito deste relevante tema orçamentário. Bons Estudos! 1. Conceito de Receita Orçamentária Cabe relembrar que o orçamento é a ferramenta de planejamento de qualquer entidade, seja pública ou privada, ela representa o fluxo previsto de ingressos (receitas) e aplicações de recursos (despesas) em determinado período. Nessa direção, vamos conceituar a Receita Orçamentária, abordando alguns aspectos relacionados ao conceito de Receita Pública. Com relação às receitas, você tem o costume de estimar o quanto terá à disposição nos meses futuros ou no próximo ano? Você define as despesas que poderão ser realizadas? Consegue acompanhar de forma organizada a movimentação das receitas que entram na sua conta bancária? M ód ul o Receita Orçamentária3 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Para responder tantas perguntas que ajudam a contextualizar a importância de uma boa gestão da receita orçamentária, é importante considerar que, enquanto as demandas e possibilidades de gastos são infinitas, a capacidade de geração de recursos para financiar esses mesmos gastos encontra limites, ou seja, tais recursos são escassos. Assim, no caso da Administração Pública, torna-se fundamental uma gestão eficiente de suas receitas. Importante Receita pública é o montante total em dinheiro recolhido pelo Tesouro Nacional, incorporado ao patrimônio do Estado, que serve para custear as despesas públicas e as necessidades de investimentos públicos. Em sentido amplo, as receitas públicas possibilitam duas formas de ingressos de valores nos cofres públicos: por meio de ingressos extra orçamentários e através das receitas orçamentárias. Abaixo, clique sobre elas para conhecê-las: • Ingressos extraorçamentários: são aqueles que representam apenas entradas compensatórias, ou seja, são recursos financeiros de caráter temporário e não integram a LOA. Nesse caso, o Estado é mero depositário desses valores, que constituem passivos exigíveis e cujas restituições não se sujeitam à autorização legislativa. Exemplos: depósitos em caução, fianças, emissão de moeda e outras entradas compensatórias. Apresentamos, para ilustrar melhor como ocorrem estes ingressos, um exemplo de leilão de imóveis públicos: O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) promoveu leilão de um prédio de cinco andares localizado na Rua 24 de Maio, região central da cidade de São Paulo. Para participar, os interessados deveriam retirar uma guia de caução, calculada em 5% 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública do valor de cada imóvel pertencente ao lote leiloado, e fazer o seu recolhimento no banco indicado. Tal exigência visou proporcionar maiores garantias de que os participantes teriam condições de adquirir os imóveis em leilão. Ao final do processo, aqueles interessados que não fizeram nenhuma aquisição receberam o valor da caução de volta. Nesse caso, o depósito não significou um ingresso efetivo de receita nas contas públicas, uma vez que gerou, para a Administração Pública, a obrigação de devolução das cauções depositadas pelos participantes ao final do leilão. • Receitas orçamentárias: quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário. Portanto, as receitas orçamentárias pertencem ao Estado, integram o patrimônio do Poder Público, aumentam-lhe o saldo financeiro e, via de regra, por força do princípio da universalidade, estão previstas na LOA. De acordo com o Manual Técnico do Orçamento - Versão 2019, a Receita Orçamentária é o conjunto de disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e constituem elemento novo para o patrimônio público. Constitui-se como um instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, sendo a fonte de recursos utilizada pelo Estado para o atendimento das necessidades públicas e demandas da sociedade. Para fins didáticos, a receita pública deve ser entendida em seu sentido mais amplo, cuja abrangência envolve tanto os ingressos extraorçamentários quanto as receitas orçamentárias, ou seja, a receita orçamentária é um tipo de receita pública. Por fim, é importante salientar que abordaremos somente aspectos relacionados à Receita Orçamentária. Desse modo, quando mencionarmos o termo receita, corresponderá à Receita Orçamentária. 2. Classificação da Receita Orçamentária Ao abordar o tema Orçamento Público, é possível que venha em mente seus principais elementos: as receitas e as despesas. Nessa perspectiva, o objetivo do tópico é apresentar as principais classificações da Receita Orçamentária. Mas, antes de iniciarmos nossos estudos, considere as seguintes reflexões: Com relação às contas da sua família, você considera que as receitas, tais como salários, aluguéis de imóveis, rendimentos de aplicações, vendas de bens, etc., estão organizadas, facilitando assim, o planejamento de gastos futuros? E quanto ao governo, tendo em vista o planejamento das políticas públicas e gestão de suas finanças, qual a importância daclassificação de suas diversas receitas? 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública No caso da União, a origem de receitas é bem diversificada, e sua composição abrange receitas mais conhecidas, tais como as decorrentes do imposto de renda, as oriundas da cobrança de Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos, entre outras. Assim, as atividades de identificação, ordenamento, agrupamento e estimativa das receitas orçamentárias são fundamentais para a eficiente gestão governamental. Para tanto, os governos devem, com base na classificação padronizada para todos os entes da federação, organizar as suas receitas orçamentárias. Importante De acordo com Machado (1967), o conhecimento do mecanismo de funcionamento e das repercussões de cada categoria de classificação, tanto da receita quanto da despesa, sob diferentes óticas (econômica, administrativa, jurídica, contábil, etc.), possibilita tornar o orçamento um instrumento racional de tomada de decisões. O autor afirma, ainda, que qualquer sistema de classificação de contas constitui-se como um instrumento de planejamento, de tomada de decisões, de comunicação e de controle, apresentando as seguintes vantagens: a) Proporciona o fornecimento de informação para gestores públicos, analistas e pesquisadores. b) Permite um melhor conhecimento do assunto estudado. c) Facilita a uniformização da terminologia técnica. d) Proporciona a sistematização mais adequada do pensamento. e) Sintetiza as diversas informações a grupos homogêneos. A classificação orçamentária, no âmbito da União, é normatizada por meio de Portaria da Secretaria de Orçamento Federal, já a normatização da classificação válida para estados e municípios é feita por meio de Portaria Interministerial da SOF e Secretaria do Tesouro Nacional-STN. Existem diversos critérios que podem ser utilizados para classificar as receitas. Tradicionalmente, a doutrina utiliza critérios quanto a regularidade, dividindo as receitas em: • Ordinárias (tributos regulares, contribuições, etc.). • Extraordinárias (empréstimos, vendas de ativos, etc.). Quanto à origem, a doutrina divide em originárias resultantes das atividades do Estado – receita patrimonial, de serviços, etc. – e derivadas decorrentes do setor privado com base na soberania estatal – impostos, taxas, contribuições, etc. 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Entretanto, abordaremos apenas as classificações adotadas no modelo brasileiro: quanto à natureza de receita, ao indicador de resultado primário, às fontes e à esfera orçamentária. 2.1 Classificação por natureza da receita A classificação da receita por natureza é utilizada por todos os entes da Federação e visa identificar a origem do recurso segundo o seu fato gerador: acontecimento real que ocasionou o ingresso da receita nos cofres públicos. Cabe frisar que, para cada tributo, a legislação estabelece um fato gerador específico, caracterizando as condições para que isto ocorra. Vamos entender melhor essa afirmativa? No caso do exemplo da empresa que adquire um equipamento de fabricação estrangeira para utilizá-lo em suas instalações no Brasil, o fato gerador1 do imposto de importação é a entrada da referida mercadoria estrangeira no território nacional, com base no Decreto-lei nº 37, de 18 de novembro de 1966. Assim, a natureza da receita representa o menor nível de detalhamento das informações orçamentárias sobre as receitas públicas; por isso, contém as informações necessárias para as devidas alocações no orçamento. NATUREZA DA RECEITA = ORIGEM DO RECURSO A Lei nº 4.320, de 1964, define que os itens da discriminação da receita, mencionados em seu artigo 11, serão identificados por números de código decimal. Convencionou-se denominar esse código de natureza da receita que, no âmbito da União, é normatizado por meio de Portaria da SOF, enquanto nos Estados e Municípios é normatizado por Portaria interministerial (SOF e STN). A atual codificação utilizada na União é voltada para a gestão das receitas orçamentárias, provendo informações imediatas quanto à origem dos recursos, sem a necessidade de qualquer procedimento paralelo para conectar dados, contribuindo para a celeridade, simplicidade e transparência. Para isso, estrutura-se por meio de um código numérico de 8 dígitos, cujas posições ordinais têm o seguinte significado: Dígito 1º 2º 3º 4º a 7º 8º Níveis Categoria Econômica Origem Espécie Desdobramentos para identificação de peculiaridades de receita Tipo Tabela 1: Níveis da Classificação por Natureza da Receita. Fonte: Manual Técnico de Orçamento 2018 1_ Fato, conjunto de fatos ou o estado de fato a que o legislador vincula o nascimento de obrigações jurídicas de pagar tributo determinado. 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1º - Categoria Econômica A categoria econômica mede o impacto das decisões do governo na economia nacional. Classifica as receitas orçamentárias em: Código Categoria 1 Receitas Correntes 2 Receitas de Capital • Receitas Correntes: são arrecadadas dentro do exercício (entre 1º de janeiro a 31 de dezembro) e aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, em geral, com efeito positivo sobre o Patrimônio Líquido. Essas receitas constituem instrumento para financiar despesas correntes2. Como exemplo, podemos citar as receitas arrecadadas com impostos, tais como o Imposto de Exportação (IE), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). • Receitas de Capital: também são receitas que aumentam as disponibilidades financeiras do Estado. Porém, diferentemente das receitas correntes, não provocam efeito sobre o Patrimônio Líquido, uma vez que geram sempre uma contrapartida. Assim, estamos diante de uma receita de capital quando o governo de um determinado estado obtém recursos via operação de crédito (empréstimo) junto a um organismo internacional através do qual terá os referidos recursos em caixa a sua disposição, porém terá a obrigação de pagamento da dívida constituída com o empréstimo. Importante As receitas decorrentes de operações realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade do mesmo ente federativo (operações intraorçamentárias) não constituem novas categorias econômicas de receita, mas especificações das categorias econômicas de receitas correntes e de receitas de capital. Entretanto, recebem codificação específica para evitar a dupla contagem na consolidação das contas governamentais. Exemplo: quando o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) efetua pagamento à Imprensa Nacional para a publicação de contrato no Diário Oficial da União, a receita obtida por esse órgão decorre de uma operação intraorçamentária, uma vez que esse faz parte da estrutura da Casa Civil da Presidência da República e, portanto, pertence também ao Orçamento da União, assim como o DNIT. 2_ Despesas destinadas à manutenção dos serviços e do patrimônio público. 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2º - Origem A origem refere-se ao detalhamento das categorias econômicas (receitas correntes e receitas de capital) com vistas a identificar a procedência das receitas no momento em que ingressam nos cofres públicos. Assim, a Lei nº 4.320/64 prevê a seguinte classificação quanto a origem na natureza de receita: CATEGORIA ECONÔMICA (1º DÍGITO) ORIGEM (2º DÍGITO) 1. Receitas Correntes 7. Receitas Correntes Intraorçamentárias 1. Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 2. Contribuições 3. Receita Patrimonial 4. Receita Agropecuária 5. Receita Industrial 6. Receita de Serviços 7. Transferências Correntes 9. Outras Receitas Correntes 2. RECEITAS DE CAPITAL 8. Capital (Intraorçamentárias) 1. Operações de Crédito 2. Alienação de Bens 3. Amortização de Empréstimos 4. Transferências de Capital 9. Outras Receitas de Capital Tabela 2: Classificaçãopor Natureza da Receita – Origem. Fonte: Manual Técnico de Orçamento 2019 (2018). Agora, acompanhe atenciosamente os quadros a seguir. Eles resumem as informações de cada classificação da origem: 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Classificação econômica Classificação de origem Item Descrição Exemplo Corrente Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria São decorrentes da arrecadação dos tributos previstos no artigo 145 da Constituição Federal. Imposto de Renda, Taxa de Emissão de Passaporte, contribuição de melhoria no caso de valorização de imóveis de propriedade privada em virtude da execução de obra pública num determinado município. Contribuições Decorrem da intervenção estatal, abrangendo contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, conforme preceitua o artigo 149 da CF. C o n t r i b u i ç õ e s previdenciárias cobradas de empresas ou entidades equiparadas à empresa pela legislação que, em regra, incidem sobre a folha de pagamento, Cide- Combustíveis, incidente sobre a importação e a comercialização de gasolina. Patrimoniais São receitas provenientes da fruição do patrimônio de ente público, como bens mobiliários e imobiliários ou, ainda, bens intangíveis e participações societárias. Concessões, permissões, aluguéis, royalties, etc. Agropecuárias Trata-se de receita originária, auferida pelo Estado quando atua como empresário, em posição de igualdade com o particular. Decorrem da exploração econômica, por parte do ente público, de atividades agropecuárias. Venda de produtos agrícolas (grãos, tecnologias, insumos, etc.), e pecuários (técnicas em inseminação, matrizes, etc.). Industriais São provenientes de atividades industriais exercidas pelo ente público. Indústria de extração mineral, de transformação, de construção, etc. Serviços Decorrem da prestação de serviços por parte do ente público. Tais serviços são remunerados mediante preço público. Comércio, transporte, comunicação, serviços hospitalares, armazenagem, serviços recreativos, culturais, etc. 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Corrente Transferências Correntes Recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas de manutenção ou funcionamento, a fim de cumprir finalidade pública específica que não seja contraprestação direta em bens e serviços a quem efetuou essa transferência. As transferências ocorrem entre entidades públicas (seja dentro de um mesmo ente federado, seja entre diferentes entes) ou entre entidade pública e instituição privada. Fundo de Participação dos Estados, Fundo de Participação dos Municípios, etc. Outras Receitas Correntes Registram-se nesta origem outras receitas cujas características não permitam o enquadramento nas demais classificações da receita corrente. Multas, juros de mora, indenizações, restituições, receitas da dívida ativa, entre outras. Classificação econômica Classificação de origem Item Descrição Exemplo Capital Operações de Crédito Recursos financeiros oriundos da colocação de títulos públicos ou da contratação de empréstimos junto a entidades públicas ou privadas, internas ou externas. Contratação de empréstimo externo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para financiar ações de programa de modernização em órgão federal. Alienação de Bens Ingressos financeiros provenientes da alienação de bens móveis ou imóveis de propriedade do ente público. Venda de edifício público, de ações, etc. Amortização de Empréstimos Receitas obtidas quando o Estado recebe o valor do principal dos empréstimos concedidos por ele a entidades públicas ou privadas. Ressalta-se que os juros recebidos associados ao empréstimo são classificados como Receitas Correntes (econômica) de Serviços (origem). Recebimento de receitas decorrentes de pagamento de parcela de empréstimo concedido a outro país. 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Capital Transferências de Capital São os recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender despesas com investimentos ou inversões financeiras, a fim de satisfazer finalidade pública específica que não seja contraprestação direta a quem efetuou essa transferência. As transferências ocorrem entre entidades públicas (seja dentro de um mesmo ente federado, seja entre diferentes entes) ou entre entidade pública e instituição privada. Recursos recebidos por um Estado, oriundos de convênio firmado com a União, tendo em vista a construção de hospitais. Outras Receitas de Capital Registram-se nesta origem receitas cuja característica não permita o enquadramento nas demais classificações da receita de capital. Resultado do Banco Central, Remuneração das Disponibilidades do Tesouro Nacional, Integralização do Capital Social de empresas estatais, etc. 3º - Espécie Nível de classificação vinculado à origem, que permite qualificar com maior detalhe o fato gerador das receitas. Por exemplo, dentro da origem Receita Tributária, identificam-se as seguintes espécies: Impostos, Taxas e Contribuição de Melhoria, que serão abordadas com maior detalhamento no próximo tópico. 4º a 7º - Desdobramentos para identificação de peculiaridades da Receita Foram reservados 4 dígitos para desdobramentos com a finalidade de identificar peculiaridades de cada receita, caso seja necessário. Desse modo, os dígitos podem ou não ser utilizados conforme a necessidade de especificação do recurso, ou seja, é facultativo. No caso de receitas exclusivas de Estados e Municípios, o quarto dígito utilizará o número “8” (Ex.: 1.9.0.8.xx.x.x – Outras Receitas Correntes exclusivas de Estados e Municípios). 8º - Tipo O último dígito do código de natureza da receita se destina à identificação do tipo de arrecadação a que se refere aquela natureza, sendo: 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Dígito 1º 2º 3º 4º a 7º 8º Descrição-padrão do Códigos de Tipo:Significado Categ. Econ. Origem Espécie Desdobramentos Tipo Código 0 Natureza Agregadora 1 Receita Principal X X X X.XX.X 2 Multa e Juros da Receita Principal 3 Dívida Ativa da Receita Principal 4 Multa e Juros da Dívida Ativa da Receita Federal Códigos de Tipo. Fonte: Manual Técnico de Orçamento (2019) Assim, as arrecadações de cada recurso – sejam elas da receita propriamente dita ou de seus acréscimos legais – ficarão agrupadas sob um mesmo código, sendo diferenciadas apenas no último dígito. A organização da receita nos níveis mencionados facilita e otimiza a identificação dos recursos que ingressam nos cofres públicos. Porém, como aplicarmos essa classificação na prática? Como reconhecê-las? Bem, quando, o imposto de renda de pessoa física é recolhido dos trabalhadores, aloca-se a receita pública correspondente na natureza da receita código “1.1.1.3.01.1.1”, conforme apresentado no esquema: Classificação do Imposto de Renda Pessoa Física sob a perspectiva da natureza da receita. Fonte: Manual Técnico de Orçamento (2019) 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Note que a classificação em cada nível tem dígitos específicos, que, em conjunto com os demais, forma o código da receita em questão (1.1.1.3.01.1.1). No caso das demais receitas, cada uma tem uma codificação própria. 2.2 Classificação por identificador de resultado primário A classificação, sob a ótica do resultado primário, tem como objetivo identificar as receitas cujos valores são incluídos no cálculo do resultado primário. Assim, são divididas em: Receita Orçamentária Financeira: são receitas decorrentes de aplicações financeiras, operações de crédito, alienação de ativos3 e outras de que não resultem modificações patrimoniais do ente respectivo. Ou seja, o ente público não temganhos efetivos em seu patrimônio, tendo em vista que ocorre apenas uma permutação entre contas, conforme pode ser observado no exemplo: a União vendeu edifício pertencente ao seu patrimônio na cidade de São Luís – MA. Com a venda, houve a entrada de recursos financeiros no seu caixa. Em contrapartida, houve redução do patrimônio da União, ou seja, ocorreu um fato permutativo. Receita Orçamentária Não-Financeira (primária): são receitas oriundas de tributos e contribuições; de receitas patrimoniais, agropecuárias, industriais, serviços entre outras. Exemplo: um médico, ao receber os pagamentos oriundos do seu trabalho, tem a sua renda tributada por meio do imposto de renda. Nesse exemplo, temos uma receita efetiva que entra no caixa da União, sem nenhuma contrapartida para isso. 2.3 Classificação por Fonte/Destinação de Recursos Esse mecanismo foi criado para assegurar que receitas vinculadas por lei à finalidade específica sejam exclusivamente aplicadas em programas e ações que visem à consecução de despesas ou políticas públicas associadas a esse objetivo legal. Segundo Giacomoni (2010), por meio dessa classificação, demonstram-se as parcelas de receitas comprometidas com o atendimento de determinadas finalidades e aquelas que podem ser livremente alocadas a dada programação orçamentária. Assim, denomina-se “fonte/destinação de recursos” a cada agrupamento de receitas que possui as mesmas normas de aplicação. Nesse contexto, a fonte é simultaneamente mecanismo de gestão de receita e de despesa, assegurando que determinadas receitas sejam destinadas ao financiamento de certas atividades de governo, em conformidade com lei que rege o tema. A classificação de fonte/destinação de recursos consiste em um código de três dígitos numéricos, conforme quadro abaixo: 3_ É a transferência de domínio de bens e direitos a terceiros. 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1º 2º 3º Grupo da Fonte de Recursos Especificação da Fonte de Recursos 1º - Grupo da Fonte de Recursos Cód. GRUPO da Fonte de Recurso Descrição 1 Recursos do Tesouro – Exercício Corrente Compreende todos os recursos do exercício corrente arrecadados diretamente por órgãos e unidades da administração indireta. 2 Recursos de Outras Fontes – Exercício Corrente Envolve os recursos do exercício corrente que tem como fonte entidades com autonomia e que integram o orçamento. 3 Recursos do Tesouro – Exercícios Anteriores Compreende todos os recursos de exercícios anteriores arrecadados diretamente por órgãos e unidades da administração indireta. 6 Recursos de Outras Fontes – Exercícios Anteriores Envolve os recursos de exercícios anteriores que tem como fonte entidades com autonomia e que integram o orçamento. 9 Recursos Condicionados Refere-se a recursos que dependem de aprovação legal e que ficam em suspenso até que a pendência seja sanada. 2º e 3º - Especificação da Fonte de Recursos Composto por 2 dígitos, detalha o grupo a que pertence. Exemplos: 01 - Transferências do Imposto sobre a Renda e sobre Produtos Industrializados. 50 - Recursos Próprios Financeiros. 81 - Recursos de Convênios. A classificação de fonte/destinação consiste em um código de três dígitos. Seguem alguns exemplos de fontes/destinação de recursos: 1º DÍGITO (GRUPO DA FONTE) 2º E 3º DÍGITOS (ESPECIFICAÇÃO DA FONTE) FONTE Recursos do Tesouro – Exercício Corrente 12. Recursos Destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino 112 Recursos de Outras Fontes – Exercício Corrente 50. Recursos Próprios não Financeiros 112 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2. Recursos de Outras Fontes – Exercício Corrente 93. Produto da Aplicação dos recursos à Conta de Salário-Educação 293 Recursos do Tesouro – Exercícios Anteriores 12. Recursos Destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino 312 6. Recursos de Outras Fontes – Exercícios Anteriores 93. Produto da Aplicação dos Recursos à Conta de Salário-Educação 693 9. Recursos Condicionados 93. Produto da Aplicação dos Recursos à Conta de Salário-Educação 900 Exemplos de Classificação Fonte/Destinação de Recursos. Fonte: Manual Técnico de Orçamento 2019 (2018). Dessa forma, o mesmo código utilizado para controle das destinações da receita é também utilizado na despesa para controle das fontes financiadoras Importante Enquanto a natureza da receita orçamentária busca identificar a origem do recurso segundo seu fato gerador, a fonte/destinação de recursos possui a finalidade precípua de identificar o destino dos recursos arrecadados. Quanto à destinação de recursos, pode-se dizer que há destinações vinculadas e não vinculadas: • Destinação vinculada: Processo de vinculação entre a origem e a aplicação de recursos, em atendimento às finalidades específicas estabelecidas pela norma. Cabe frisar que há ingressos de recursos em decorrência de convênios ou de contratos de empréstimos e de financiamentos. Esses recursos também são vinculados, pois foram obtidos com finalidade específica e deverão ser direcionados à realização dessa finalidade. • Destinação não vinculada (ou ordinária): É o processo de alocação livre entre a origem e a aplicação de recursos, para atender a quaisquer finalidades, desde que dentro do âmbito das competências de atuação do órgão ou entidade. Considere, para ilustrar a diferença entre os dois tipos de destinações, que: quando o governo arrecada as receitas decorrentes do imposto sobre operações financeiras, poderá alocá- las em diferentes despesas de sua competência. Porém, quando recebe receitas oriundas de contribuições previdenciárias, deverá destiná-las ao financiamento de despesas específicas do sistema previdenciário, com base em determinação legal. Saiba que a vinculação de receitas deve ser pautada em diretrizes legais que regulamentam a aplicação de recursos e os direcionam para despesas, entes, órgãos, entidades ou fundos. 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Importante Devido ao alto grau de vinculação de receitas, a União conta com poucos recursos livres disponíveis para o governo federal financiar políticas públicas discricionárias. Nesse contexto, estabeleceu-se, por meio da EC nº 93/2016, a desvinculação de determinados recursos, que se tornam passíveis de serem aplicados livremente e estão agregados sob o código de Fonte de Recursos “00 – Recursos Ordinários”. O artigo 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT da Constituição Federal de 1988 – CF/88 estabelece, até o fim do exercício de 2023, a desvinculação de 30% dos recursos arrecadados a título de taxas, contribuições econômicas e contribuições sociais (exceto as contribuições sociais do empregador e a do trabalhador para os Regimes de Previdência Social Geral e Próprio do Servidor Público, bem como a contribuição social do salário educação). 2.4 Classificação por esfera orçamentária Essa classificação tem como finalidade identificar a qual orçamento a receita pertence, sendo que: • Receitas do Orçamento Fiscal: receitas arrecadadas pelos Poderes da União, seus órgãos, entidades, fundos e fundações, inclusive pelas empresas estatais dependentes, excluídas as receitas vinculadas à seguridade social e as receitas das empresas estatais não dependentes (compõe o orçamento de investimento). • Receitas do Orçamento da Seguridade Social: abrangem as contribuições sociais destinadas por lei à seguridade social e as receitas de todos os órgãos, entidades, fundos e fundações vinculados à seguridade sócial (saúde, previdência social e assistência social). • Receitas do Orçamento de Investimento das Empresas Estatais: recursos das empresas estatais não dependentes, em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. 3. Noções básicas sobre tributos Em seu ambiente familiar ou de trabalho, você já deve ter discutido acerca dos tributos, uma vez que eles estão presentes em nosso cotidiano e influenciama economia e as contas de cada um de nós. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quando você ouve falar ou discute acerca dos tributos, qual o primeiro exemplo de tributação que vem à sua mente? Talvez você tenha pensado no imposto de renda, uma vez que esse imposto incide diretamente sobre os seus rendimentos. Para se ter uma ideia da incidência tributária no dia a dia dos cidadãos, verifique no quadro a seguir, de forma aproximada, o percentual dos tributos nos preços de alguns produtos/serviços: Incidência tributária em produtos e serviços. Fonte: http://www.fiepr.org.br/sombradoimposto/veja-o-quanto-voce-paga-de- imposto-1-14466-115735.shtml De acordo com os dados apresentados, imaginemos que a sua conta de telefone tenha custado R$ 100,00 (cem reais); desse valor, aproximadamente R$ 46,00 (quarenta e seis reais) são relativos à tributação sobre esse serviço. Ressalta-se que a receita decorrente de tributos é a principal fonte de recursos do Governo Federal, cujo montante é aplicado na viabilização das políticas públicas em prol do desenvolvimento do país. Assim, devido a sua importância, faz-se necessário dedicar algum tempo de estudos para compreender um pouco mais a respeito das noções básicas sobre os tributos. De acordo com o artigo 3º do Código Tributário Nacional – CTN, tributo é toda prestação pecuniária4 compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. De forma resumida, tributo é uma obrigação que, preferencialmente, deve ser paga em dinheiro, no caso da ocorrência de hipótese prevista em lei. Assim, o contribuinte fica obrigado a pagar o tributo, independentemente de sua vontade, que deverá ser recolhido pelo ente governamental competente. 4_ É um pagamento em dinheiro (ou cheque, transferência bancária, etc.). Significa entregar pecúnia (do latim “pecus” = dinheiro). 21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública De acordo com a classificação por natureza da receita, os tributos são origens da receita orçamentária corrente, cuja finalidade é obter recursos financeiros para o Estado custear as atividades que lhe são correlatas. Para compreender melhor as características dos tributos, acompanhe as espécies da receita a seguir. • Impostos Os impostos5 são quantias em dinheiro pagas para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios por pessoas físicas e jurídicas. É um tributo que serve para custear parte das despesas da Administração Pública e dos investimentos governamentais em obras de infraestrutura (estradas, portos, aeroportos, etc.) e serviços essenciais à população, como saúde, segurança, educação, etc. Exemplos: Imposto sobre Operações Financeiras - IOF, Imposto Territorial Rural - ITR e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Quando uma pessoa compra um automóvel, ela tem a obrigação legal de pagar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), independentemente 5_ Segundo o artigo 16 do CTN, os impostos são espécies tributárias cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte, o qual não recebe contraprestação direta ou imediata pelo pagamento. Portanto, o governo não fica obrigado a prestar um serviço ou benefício específico ao contribuinte para que surja a obrigação de pagamento do imposto. 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de qualquer serviço ou benefício específico oferecido pelo Estado como contrapartida. Dessa forma, o recurso deste imposto pode ser alocado em despesas com saúde, cultura, educação, sem a obrigação de ser destinado, por exemplo, para a melhoria de estradas e ruas onde os veículos trafegam. O art. 167 da Constituição Federal proíbe, ressalvadas algumas exceções, a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa. • Taxas De acordo com o art. 77 do CTN, as taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador: O exercício regular do poder de polícia; A utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. De acordo com o CTN, os serviços são específicos quando podem ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade pública; e são divisíveis quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários (ALEXANDRE, 2009). Conforme o art. 77 do CTN: Os serviços públicos têm que ser específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou colocados à sua disposição. Para que a taxa seja cobrada, não há necessidade de o particular fazer uso do serviço, basta que o Poder Público coloque tal serviço à disposição do contribuinte. A taxa está sujeita ao princípio constitucional da reserva legal e, sob a ótica orçamentária, classifica-se em: 9 Taxas de Fiscalização: também são chamadas de Taxas de Poder de Polícia; são definidas em lei; e tem como fato gerador o exercício do poder de polícia, poder disciplinador, por meio do qual o Estado intervém em determinadas atividades, com a finalidade de garantir a ordem e a segurança. Exemplos: Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, Taxa de Fiscalização da Aviação Civil – TFAC e Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária. 9 Taxas de Serviço Público: são as que têm como fato gerador a utilização de determinados serviços públicos. Nesse contexto, o serviço é público quando estabelecido em lei e prestado pela Administração Pública, sob regime de direito público, de forma direta ou indireta. Nesse tipo de serviço, a relação jurídica é de verticalidade, ou seja, o Estado atua com supremacia sobre o particular. Exemplo: A Taxa de Combate a Incêndios, devida, anualmente, pelos contribuintes 23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública que utilizam edificações para exercer atividades de comércio, indústria e prestação de serviços. O valor a ser pago varia de acordo com o grau de risco de incêndio na edificação, em razão da forma de ocupação e da área construída, e os recursos arrecadados com a taxa são destinados ao Corpo de Bombeiros Militar. • Contribuição de Melhoria A contribuição de melhoria é uma espécie de tributo na classificação da receita orçamentária e tem como fato gerador a valorização imobiliária que decorre de obras públicas, contanto que haja nexo causal entre a melhoria ocorrida e a realização da obra pública. De acordo com o art. 81 do CTN: a contribuição de melhoria cobrada pela União, Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. Exemplo: Quando uma rua é asfaltada, ou uma estação de metrô construída, havendo valorização dos imóveis que estão próximos, os donos desses imóveis são chamados a pagar uma “contribuição de melhoria” para o ente responsável pelas obras, em função da valorização que o serviço feito trouxe ao seu imóvel. • Contribuições Sociais Classificada como espécie de contribuição, por força da Lei nº 4.320, de 1964, a contribuição social6 é um tributo vinculado a uma atividade estatal que visa atender aos direitos sociais previstos na Constituição Federal, tais como a saúde, a previdência, a assistência social e a educação. Assim, por exemplo, as contribuições referentes à previdência social devem ser destinadas ao financiamento de despesas específicas do sistema previdenciário, conforme já mencionado. A competência para instituição das contribuições sociais é da União, exceto das contribuições dos servidores estatutários7 dos Estados, DistritoFederal e Municípios, que são instituídas pelos respectivos entes. As contribuições sociais estão sujeitas ao princípio da anterioridade nonagesimal, ou seja, somente poderão ser cobradas noventa dias após a publicação da lei que as instituiu ou as majorou. 6_ Enquadram-se na categoria de Contribuições Sociais as contribuições que visam ao custeio dos serviços sociais autônomos: Serviço Social da Indústria - SESI, Serviço Social do Comércio - SESC e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI. 7_ Ocupantes de cargo público provido por concurso público, nos moldes do artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, e que são regidos por regime jurídico que estabelece direitos e obrigações, sendo, no caso da União, a lei nº 8.112, de 1990. 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE é o tributo classificado no Orçamento Público como uma espécie de contribuição que atinge um determinado setor da economia, com finalidade qualificada na Constituição, instituída mediante um motivo específico. São exemplos dessa espécie, a CIDE -Combustíveis, relativa às atividades de comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e álcool carburante, e a CIDE-Tecnologia, relativa à exploração de patentes, uso de marcas, fornecimento de conhecimentos tecnológicos ou prestação de assistência técnica, no caso de contratos que impliquem transferência de tecnologia. • Contribuição de Interesse das Categorias Profissionais ou Econômicas Esta espécie de contribuição se caracteriza por atender a determinadas categorias profissionais ou econômicas, vinculando sua arrecadação às entidades que as instituíram. Não transita pelo orçamento da União. Essas contribuições são destinadas ao custeio das organizações de interesse de grupos profissionais, como, por exemplo, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA, Conselho Regional de Medicina - CRM, entre outros. É preciso esclarecer que existe uma diferença entre as contribuições aludidas no texto e as contribuições confederativas. Conforme o art. 8º da CF: "Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:" [...] "IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei." As contribuições confederativas não são tributos, pois serão instituídas pela assembleia geral e não por lei. A Contribuição de Interesse das Categorias Profissionais ou Econômicas é instituída por lei, portanto compulsória, e encontra sua regra no art. 149 da CF, possuindo natureza de tributo. • Contribuição para o Custeio de Serviço de Iluminação Pública Instituída pela Emenda Constitucional nº 39, de 19 de dezembro de 2002, que acrescentou o art. 149-A à CF, possui a finalidade de custear o serviço de iluminação pública. A competência para instituição é dos Municípios e do Distrito Federal. 25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública "Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III." "Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de energia elétrica." Sob a ótica da classificação orçamentária, a Contribuição para o Custeio de Serviço de Iluminação Pública é espécie da origem Contribuições, que integra a categoria econômica Receitas Correntes. 4. Etapas da Receita Orçamentária Você já refletiu a respeito de como o governo viabiliza as receitas orçamentárias públicas? Para reuni-las, com vistas a aplicar nas despesas orçamentárias, é preciso adotar procedimentos específicos. Portanto, vamos apresentar as etapas da receita orçamentária, que podem ser entendidas como cada passo identificado para demonstrar o ingresso da receita no caixa do governo. O processamento da Receita segue a ordem de ocorrência dos fenômenos econômicos, levando- se em consideração o modelo de orçamento existente no País. Dessa forma, a seguir, a ordem sistemática das etapas é apresentada. Etapas da Receita Orçamentária. Fonte: Manual Técnico de Orçamento 2019 (2018). Etapas da Receita Orçamentária • Previsão Efetuar a previsão implica planejar e estimar a arrecadação das receitas que constarão na proposta orçamentária. Isso deverá ser realizado em conformidade com as normas técnicas e legais correlatas e, em especial, com as disposições constantes na LRF. No âmbito federal, a metodologia de projeção de receitas busca assimilar o comportamento da arrecadação de determinada receita em exercícios anteriores, a fim de projetá-la para o período seguinte, com o auxílio de modelos estatísticos e matemáticos. 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A busca do modelo dependerá do comportamento da série histórica de arrecadação e de informações fornecidas pelos órgãos orçamentários ou unidades arrecadadoras envolvidas no processo. A previsão de receitas é a etapa que antecede a fixação do montante de despesas que irá constar nas leis orçamentárias, além de ser base para se estimar as necessidades de financiamento do governo. • Lançamento O art. 53 da Lei nº 4.320, de 1964, define o lançamento como ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. Por sua vez, conforme o art. 142 do CTN, lançamento é o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo8 e, sendo o caso, pode ainda propor a aplicação da penalidade cabível. Observa-se que, segundo o disposto nos arts. 142 a 150 do CTN, a etapa de lançamento situa-se no contexto de constituição do crédito tributário9, ou seja, aplica-se a impostos, taxas e contribuições de melhoria. • Arrecadação Corresponde à entrega dos recursos devidos ao Tesouro Nacional pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente. Vale destacar que, segundo o art. 35 da Lei nº 4.320, de 1964, as receitas pertencem ao exercício financeiro em que foram arrecadadas, o que representa a adoção do regime de caixa para o ingresso das receitas públicas. • Recolhimento Consiste na transferência dos valores arrecadados à conta específica do Tesouro Nacional, responsável pela administração e controle da arrecadação e pela programação financeira da União, observando-se o princípio da unidade de tesouraria ou de caixa, conforme determina o art. 56 da Lei n° 4.320, de 1964, a seguir transcrito: 8_ É a pessoa obrigada ao pagamento do imposto. 9_ Obrigação tributária; vínculo jurídico que exige do contribuinte (sujeito passivo) o pagamento do tributo ao ente público competente (sujeito ativo). 27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública "Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais." Por fim, cabe frisar que nem todas as etapas citadas ocorrem para todos os tipos de receitas orçamentárias. Pode ocorrer arrecadação não só das receitas que não foram previstas (não tendo, naturalmente, passado pela etapa da previsão), mas também das que não foram “lançadas”, como é o caso de uma doação em espécie recebida pelos entes públicos. 5. Determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF Você sabe qual a relação entre a LRF e a Receita Orçamentária? A LRF busca garantir o equilíbrio orçamentário de todos os entes da Federação. Para tanto, estabelece uma série de regras, exigências e restrições. Com relaçãoà receita orçamentária, a seguir, destacaremos as principais determinações: • Planejamento Um dos requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal, ressaltada pela LRF, é o planejamento rigoroso em relação à previsão das receitas orçamentárias, por meio da previsão e arrecadação de todos os tributos. Para a sua previsão, além de observar as normas técnicas e legais e a respectiva metodologia de cálculo, as estimativas da receita devem estar acompanhadas de demonstrativo da sua evolução nos três anos anteriores e nos dois seguintes àquele a que se referirem. Permanece, também, o mandamento constitucional em que somente se admite reestimativa de receita, pelo Poder Legislativo, nos casos de erro ou omissão de ordem técnica ou legal. Nesse sentido, o art. 13 da LRF determina que o Poder Executivo deverá, até trinta dias após a publicação do orçamento anual, efetuar o desdobramento das receitas em metas bimestrais de arrecadação, informando quais medidas serão adotadas para o combate à sonegação fiscal10, a cobrança da dívida ativa11 e os créditos executáveis12 pela via administrativa. 10_ Não pagamento do tributo devido à Fazenda Pública, por meio de fraude ou qualquer outro artifício, tais como prestar declaração falsa; inserir elementos inexatos ou omitir informações devidas; alterar faturas e quaisquer documentos 11_ Dívida constituída pelos créditos do Estado, devido ao não pagamento dos tributos pelos contribuintes dentro dos exercícios em que foram lançados. 12_ Decorrem da incorporação de uma receita em favor de ente público. 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ressalta-se a importância dessa medida, uma vez que tais metas bimestrais de receita servirão de parâmetro para a gestão das despesas orçamentárias. • Capacidade de arrecadação Em relação ao emprego de toda a capacidade de arrecadação dos entes da Federação, a LRF impõe um parâmetro comportamental no estilo gerencial da receita dos entes públicos. Assim, quando a lei exige a “efetiva arrecadação de todos os tributos”, pode-se interpretar que não basta dispor de toda uma estrutura de normatização legal, previsão e planejamento para todos os tributos da competência de cada ente, sendo necessária à sua arrecadação de fato. (CRUZ, 2006). Dessa forma, o ente público que deixar de criar ou disciplinar um tributo, para o qual a Constituição lhe confere competência, ficará impedido de receber transferências voluntárias13. • Renúncias de receitas públicas Segundo a LRF, a renúncia de receitas compreende anistia (perdão de multas), remissão (perdão da dívida), subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique a redução discriminada de tributos ou contribuições e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. Os chamados “incentivos fiscais”, se concedidos de forma indiscriminada, podem configurar-se como uma prática danosa às finanças públicas. Assim, com vistas a fornecer meios para a sua prudente aplicação, tal mecanismo fica sujeito a regras disciplinadoras. Acompanhe o que está detalhado no artigo 14 da LRF: A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária, da qual decorra renúncia de receita, deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: I- demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II- estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. 13_ A entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. Exemplo: transferência de recursos, por meio de convênio, do Ministério da Cultura para a Prefeitura do Município de Pirenópolis - GO, com vistas à implantação de biblioteca. 29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Limite de dispêndios públicos A definição da Receita Corrente Líquida (RCL), como limite de dispêndios públicos, revela uma preocupação do legislador com a identificação daquelas receitas realmente disponíveis (líquidas), desoneradas de quaisquer vinculações, fortalecendo o conceito de liquidez nas contas públicas. Tendo em vista que as ações governamentais devem fixar suas despesas de acordo com a disponibilidade real das receitas. Dessa forma, a RCL pode ser caracterizada como um instrumento medidor da realidade no sentido de balancear a, até então, frequente lacuna existente entre a receita e a despesa orçamentária. Seu principal objetivo é servir de parâmetro para o montante da reserva de contingência e para os limites da despesa total com pessoal, da dívida consolidada líquida, das operações de crédito, do serviço da dívida, das operações de crédito por antecipação da receita orçamentária e das garantias de cada ente da Federação. O cálculo da RCL é realizado a partir do somatório das receitas tributárias, de contribuições patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos, principalmente, os valores transferidos por determinação constitucional ou legal, aos Estados e Municípios, no caso da União, e aos Municípios, no caso dos Estados, consideradas ainda as demais deduções previstas na Lei. Portanto, o conhecimento e respeito a essas regras, exigências e restrições, estabelecidas pela LRF, são fundamentais para uma gestão mais eficiente e responsável dos recursos arrecadados junto aos contribuintes. 6. Revisão do Módulo A receita orçamentária é o conjunto de disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e constituem elemento novo para o patrimônio público. A receita orçamentária se constitui como um instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, sendo a fonte de recursos utilizada pelo Estado para o atendimento das necessidades públicas e demandas da sociedade. As principais classificações relativas à receita orçamentária são: • Quanto à Origem: receitas Originárias e Derivadas. • Sob a ótica do Resultado Primário: Receita Orçamentária Financeira e Receita Orçamentária Não-Financeira (primária). 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Sob a ótica da Obrigatoriedade: Receitas Compulsórias e Facultativas. • Natureza da Receita: categoria econômica, origem, espécie, Desdobramentos para Identificação de Peculiaridades (DIP) e Tipo. • Fonte/Destinação de Recursos: classificação utilizada como mecanismo integrador entre a receita e a despesa. Tivemos a oportunidade de aprender noções básicas sobre tributo, o qual é toda prestação pecuniária compulsória em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Conhecemos as espécies de tributos: impostos, taxas, contribuição de melhoria. Além das seguintes contribuições: Sociais, de Intervenção no Domínio Econômico, de Interesse das Categorias Profissionais ou Econômicas e para o Custeio de Serviço de Iluminação Pública. Também verificamos quais são as etapas da Receita Orçamentária: Previsão, Lançamento, Arrecadação e Recolhimento. Por fim, conhecemos as determinações estabelecidas pela LRF em relação à Receita Orçamentária: • Planejamento rigoroso em relação à previsão das receitas orçamentárias. • Empregode toda a capacidade de arrecadação dos entes da Federação. • Restrição quanto às possibilidades de renúncias de receitas públicas. • Definição da Receita Corrente Líquida (RCL) como limite de dispêndios públicos. 31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7. Referências ALBUQUERQUE, C. M.; MEDEIROS, M. B.; SILVA, P. H. F. Gestão de Finanças Públicas. 2ª edição. Brasília, 2008. ALEXANDRE, R. Direito Tributário Esquematizado. 8º ed. Rio de Janeiro: Método, 2014. CRUZ, F. Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada: Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 2006. GIACOMONI, James: Orçamento Público. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. MACHADO JR., J.T. Classificação das contas públicas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: FGV,1967. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. BRASIL. Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. BRASIL. Lei no 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. BRASIL. Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966. Define o crime de sonegação fiscal e dá outras providências. BRASIL. Lei no 4.729, de 14 de julho de 1965. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. BRASIL. Decreto-lei nº 37, de 18 de novembro de 1966. Dispõe sobre o imposto de importação, reorganiza os serviços aduaneiros e dá outras providências. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento: 2019. BRASIL. Ministério da Fazenda. Glossário Econômico. Disponível em: http://www.fazenda.gov. br/portugues/glossario/glossario-a.asp. Acesso em: fevereiro de 2016. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Patrimônio da União. Tudo o que você precisa saber sobre laudêmio, taxa de ocupação e foro. Brasília, 2002. 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Material complementar Leitura complementar: MTO (Portal do MTO): https://www1.siop.planejamento.gov.br/mto/ doku.php/mto
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