Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Captulo A luz e a cor n a Idade M édia E X T O o m o le m enTA R T U 1 . L u z e c o r A inda hoje m uitas pessoas, vítim as d a im agem convencional d a "idade das trevas, im aginam a ldade M édia c o m o u m a época "obscura, m e s m o d o ponto de vista coloristico. N essa época, a n o ite é vivida e m am bientes p o u c o lum inosos: e m cabanas ilum inadas-no m áxim 0-pelo fogo da lareira, nos quartos amplíssimos de castelos ilum inados p o r tochas o u n a cela d e u m m o n g e o lum e d e u m débil candeeiro, e e s c u ra s (além d e p o u c o confiáveis) e ra m a s estradas das aldeias e cidades.Todavia, esta é um a caracteristica própria tam bém d o R enascim ento, do B arroco e - ainda adiante - d o período q u e vai pelo m e n o s a té a d e sc o b e rta d a eletricid ad e. 1 , 2 0 O hom em m edieval s e vé, a o contrário (ou pelo m e n o s s e representa n a poesia o u n a pintura), e m u m am biente lum inosíssim o. O q u e cham a atenção n a s m iniaturas m edievais é q u e elas, q u e talvez ten h am sido realizadas e m am bientes som brios m al ilum inados p o r u m a única janela, Parte de m anuscrito Vaticano coma liturgla de São João C risóstom o, séculos X-Xl. C idade do V aticano, ajblioteca Apostólica V aticana ern face co p o u slaK åid airrd K d a A bertura dopoço d o abismo esalda dos gafanhotos, B eato de L iébana, llum inuras do B eato Fernando ly S ancho, C odigo B .N , século V il. Madri, Biblioteca Naciona TNaAEN O i o N O V U S T N O D P K P T u IV. A L U Z E A C O R N A ID A D E M E¬DIA 1 . L U Z E C O R são plenas d e luz, d e u m a lum inosidade, aliás, particular, gerada pela com binação de cores puras; verm elho, azul, ouro, prata, branco e verde, sem esfu m atu ras. A ld ad e M éd ia joga c o m c o r e s elem entares, c o m z o n a s cro m áticas d efin id as e h o stis à esfum atura, c o m a com binação d e tin tas q u e g eram luz pelo acordo d o conjunto e q u e n ào tê m c o m o caracteristica u m a luz q u e en v o lv a e m claro -escu ro s o u q u e leve a c o r p ara além d o s lim ites d a figura. N a pintura barroca, p o r exem plo, o s objetos são atingidos pela luz, e n o jogo d o s v o lu m es desenham -se z o n a s claras e z o n a s e s c u r a s (ver, p o r exem plo, a luz e m Caravaggio o u e m G eorges de La T our). N as m in iatu ras m edievais, ao co n trário , a lu z p arece irrad iar-se d o s o b jeto s. E les são lu m in o so s em si. Is o é e v id e n te n ã o a p e n a s n a estação m ais m ad u ra d a m in iatu ra flam en g a e b o rg o n h esa (b asta p en sar em Les T rès riches h eu res d u D uc d e B erry), m as ta m b é m e m o b ras d a A lta ld ad e M édia, c o m o a s m in iatu ras m oçarábicas, q u e jo g a m co m co n trastes v io len tissim o s d e am arelo e v erm elh o o u azul, o u as m in iatu ras otonianas, o n d e o esplendor d o o u r o c o n tra s ta c o m to n s frios e claros, c o m o o lilás, o v erd e g lau co , o am arelo -areia o u o b ran co -azu lad o . N a Id ad e M éd ia m ad u ra, T o m ás d e A q u in o reco rd a (reto m an d o , to d av ia, idéias q u e ja circu lav am am p lam en te) q u e à b eleza são n ecessárias três coisas: a p ro p o rção ,a in teg rid ad e e a claritas,v ale dizer, a clareza e a lu m in o sid ad e. Irm ão s L im b o u rg A visitação0, e m L es ires rich es iE u res du D uc de B erry, 1 4 1 0 -1 4 1 1 . C h an tilly , M u sê e C o n d é G e o rg e s d e L a T o u r, M adalena penitente, 1 6 3 0 -1 6 3 5 . W ashington, N atio n al G allery C laritas lo m a s d e A q u in o (sé c u lo X ll) S u m m a T heologiae, Il-I1, 145, 2 C o m o se p o d e extrair d as palavras d e D ionisio, o b elo é co n stitu id o tan to p elo esplendor quanto pelas devidas proporções: d e fato, ele afirm a q u e D eus é b elo "com o cau sa d o esp len d o r e d a h arm o n ia d e to d as as c o isa s P o rta n to , a b e le z a d o c o rp o c o n siste e m te r o s m e m b ro s b e m p ro p o rc io n a d o s, A nlo d a Q unta trom beto, B eato d e L iéb an a, um inuras do Beato Fernando I y Sancha, C ódigo B.N., século V Il. M adri, B iblioteca N acional C o m a d e v id a lu m in o s id a d e d a co r. IV. A LU Z E A C O R N A D A D E M ED IA 2 . D E U S C O M O L U Z 2 . D e u s c o m o lu z U m a d as origens d a estética d a claritas d eriv a c e rta m e n te d o fato d e q u e em n u m ero sas civilizaçôes D eu s era p erso n ificad o co m a luz: o B aal semitico, o R á egipcio, o A h u ra M azd a iraniano, são to d o s personificações d o sol o u d a benéfica ação d a luz, q u e chegam n atu ralm en te à concepção d o B em co m o sol d as id éias em P latão ; atrav és d o n eo p lato n ism o estas im ag en s p en etram n a trad ição cristä. P lo tin o h erd a d a trad ição g reg a a idéia d e que o b elo co n sistia sobretudo n a proporção (cf. C apítulo l) e sab e q u e esta ü ltim a n asce d e u m a relação h arm ô n ica en tre as várias p artes d e u m to d o . Como a tradição g reg a afirm av a q u e a b eleza n ão é ap en as sym m etria, m as ta m b é m ch ró m a, cor, p erg u n ta-se co m o era p o ssiv el h av er u m a b eleza que hoje definiriam os com o "qualitativa, "pontual, que pudesse se m an ifestar em u m a sim p les sen sação cro m ática. E m su as E n éad as (1,6), Plotino se pergunta p o r que julgamos b elas a s c o re s e a luz d o sol, o u o esp len d o r d o s astro s n o tu rn o s, q u e säo sim p les e n ão ex traem su a beleza d a sim etria das partes. A resp o sta a q u e ch eg a é q u e "a sim p les b eleza d e u m a c o r é d ad a p o r u m a fo rm a q u e d o m in a a o b scu rid ad e d a m atéria, pela p resen ça d e u m a luz in co rp ó rea q u e m ais n ão é q u e razão e idéia" D aí a B eleza d o fo g o , q u e brilha q u al u m a idéia. M as e s ta observação só adquire sen tid o n o quadro d a filosofia neoplatónica, p ara a q u al a m atéria é o ú ltim o estág io (d eg rad ad o ) d e u m a d escid a p o r "emanação" de u m Uno inatingivel e su p rem o . Logo, só é posivel atrib u ir a luz que resplandece so b re a m atéria a o reflexo d o U no d a qual ela e m a n a . D eu s s e identifica c o m o esplendor d e u m a espécie d e c o rre n te lu m in o sa q u e p erco rre o universo. K Encadernação A s im p le s b e le z a d e u m a c o r S o m b ra s q u e tu g in d o d e a lg m m o d o d e ev an g eliário , detalhe, P lotino (século I) E néadas, I,6 A sim p le s b e le z a d e u m a c o r d e riv a d e u m a form a q u e d o m in a a o b scu rid ad e da m at�ria e dla p resen ça de um a lu m in o sid ad e d e s c e m n a m a te ria , a o rd e n a m e n O s secu lo V Il. c o m o v e m c o m s e u a s p e c to . S a sta m M onza, essas coisas. T esoro d el D u o m o B eleza d o fo g o P seu d o D ionisio A reo p ag ita (seculo V) H ierarquia celeste, XV in co rp ó rea q u e é razãoe id�ia. D isso resulta q u e , e n tre to d o s o s c o rp o s, o fo g o é b e lo e m si m esm o .e en tre os o u tro s elem en to s esta n o n iv e l d a id é ia . E o m a is e le v a d o , p o r su a C reio, ju stam en te, q u e o rogo m aniresta aq u ilo q u e hå d e m ais divino nas p o sição , e o m ais leve d e to d o s os corpos, p o is é v iz in h o d o in c o rp o re o ; é S O z in h o e in telig en cias celestes: de te:o, os sacros Estas id éias serão reto m ad as pelo P seu d o D ionísio A reopagita, a u to r o b scu ro q u e provavelm ente e sc re v e n o sécu lo V d.C ., m a s q u e a tradição m edieval, depois que ele foi traduzido para o latim , no século IX, iderntifica co m D ionísio co n v ertid o p o r S ão P aulo n o A reó p ag o d e A tenas. a u to re s fre q u e n te m e n te d e s c re v e m a su b stàn cia su p ra-su b stan cial. q u e não não aco lh e em si os o u tro s elem en to s, em b o ra Os o u tro s e le m e n to so receb am . te m n e n h u m a fo rm a c o m o s im b o lo d o E stes, de fato, podenm s e inflam ar, en q u an to aq u ele nao p o d e se resfriar. E o p rim eiro a o g o , p o is e s te re m r u ito s a s p e c to s d o c a ra te r divino, s e ë licito diza-lo p o rq u an to p o d e-se d e sc o b i-o nas coisas te r e m si a s c o re s e à s o u tra s c o isa s d e le Ele representa, e m s e u s escritos, c o m o H ierarquia celeste e D os n o m e s divinos, D eu s com o"lum e", "fogo, "fonte lu m in o sa' A s m e s m a s im agens en co n tram -se n o expoente d o neoplatonism o m edieval, Jo ão E scoto Erigena. P ara influenciar to d a a E scolástica posterior c o n c o rre m ain d a tan to a filosofia quanto a poesia árabes, q u e transm item visões d e essên cia rutilantes d e luz, éx tases d e beleza e fulgor e, n o século IX, c o m Al-Kindi, irá elab o rar u m a com plexa visäo cosm ológica baseada n a potência d o s receb em form a e cor. Ele resp lan d ece e visiveis. D e fato, o fogo sensivel 2 sta, por a ssim d iz e , e m to d a s a s c o isa s e p a s s a brilha, pois é u m a idêia. A s coisas q u e lhe sã o in fe rio re s e m p o tê n c ia d e s v a n e c e m o fu scad as por sua luz, d eix an d o de ser belas, a tra v e s d e to d a s s e m se m istu ra r, s e n d o d estacad o d e to d as e, sen d o to d o b rilh an te p o is n ã o p a rtic ip a m d a id e ia to ta l d a co r. S ão as h arm o n ias im p ercep tiv eis aos co n tem p o ran eam en te pernm anece, p o rq u e O culto, d e sc o n h e c id o em si e por si en q u an to n a o seja p o sta d ia n te d e le um m ateria enm d ireção à q u al m an ifeste a p r o p r i a a ç ã o - e n ã o s e p o d e a f e r r a r n e m senticlos q u e fazem as h arm o n ias sensiveis, p o r o b ra delas a alm a p o d e intuir a beleza, p o is elas rev elam o id�ntico n o d iv erso ...) S o b r e a s b e le z a s se n siv e is, in m a g e n s e raio s estelares. 10 v er, m a s a fe rra q u a lq u e r c o Isa . 103 V . A L U Z E A C O R N A ID A D E M E D IA T 4 .A L U Z E A C O R N A ID A D E M ÉD IA U m a c o rre n te lu m in o sa R aio s e ste la re s P seu d o D ionisio A reo p ag ita (sécu lo V ) N om es divinos, IV A l K indi (secu lo IX ) D e radiis, Il to q u e d irem o s d o 1aio solar to m ad o em si D e 1ato, cad a estrela d e n a m a em to d as as m esm o ? A Luz deriva d o B em e é im ag em da d ireçõ es raios cu ja d iv ersid ad e fu n d id a, p o r B o n d ad e, p o r isso o B em é celeb rad o co m o a s s im d iz e r, e m u m a so , v a ria d e c o n te ú d o n o m e d a L u Z c o m o a rq u é tip o q u e s e m an ifesta n a im ag em . C o m o , d e fato, a B o n d ad e divina, su p erio r a to d as as coisas, p en etra d esd e as m ais altas e n o b res d e lu g ar para lugar, pois em cad a lugar diverso, d iv erso è o teo r d o s raios q u e deriva d a h arm o n ia to tal d as estrelas. E sta, aliás, co m o e tran sfo rm ad a co n tin u am en te pelo 3 . L uz, riqueza e pobreza su b stan cias ate as ultim as, e ain d a esta m o v im en to co n tin u o d o s p lan etas e d as a c im a d e to d a s s e m q u e a s m a is e le v a d a s O u tra s estrelas, m o v e , e m tunçâo d o lugai, o m u n d o d o s elem en to s e cad a u m d e seu s p o ssam atin g ir a su a excel�ncia e q u e as m ais b aix as p o ssam fu g ir d e seu influxo; e co n teu d o s em d iv ersas co n d içó es q u e se realizam seg u n d o as exig�ncias d a h arm o n ia N a base da concepção da claritas não existem apenas razões filosóficas. A sociedade medieval é com posta p o r ricos e poderosos e p o r pobres e deserdados. E m bora esta não seja um a caracteristica apenas da sociedade m ed iev al, n as so cied ad es an tig as e n a ld ad e M éd ia, e m particular, a d iferen ça en tre rico se p o b res é m ais m arcad a d o q u e n as so cied ad es o cid en tais e dem ocráticas m odernas porque em um m undo de escassos recursos e com u m co m ércio baseado n a tro c a in n atu ra, asso lad o p o r pestilências e secas o poder e n c o n tra s u a m anifestação exem plar n a s a rm a s, n a s arm ad u ras e n o fau sto d o v estu ário . P ara m an ifestar seu p o d er, o s sen h o res ad o rn am -se d e o u ro ,jó ias, e v estem ro u p a s co m as co res m ais p recio sas, co m o a p ú rp u ra . lu m in a . p ro d u z , v iv ific a , c o n tê m e ap erfeiço a to d as as coisas ap tas a receb�-la; d a q u e le m o m e n to , e m b o ra p a ra o s s e n tid o s e e a m ed id a, a d u ração , o n u m ero , a o rd em , a cu sto d ia, a cau sa e o fim d o s seres; assim h u m a n o s a s v á ria s re a lid a d e s d o m u n d o o p areçam p erm an en tes. E claro, p o rtan to , q u e to d o s o s d iv e rso s lu g a re s e te m p o s ta m b e m a im a g e m m a n ife s ta d a d iv in a B o n d ad e, o u seja, este g ran d e sol to d o lu m in o so e sem p re relu zen te, seg u n d o a co n stitu em indivicduO s cliferentes n este m u n d o e q u e isso é o p erad o pela h arm o n ia celeste atrav és d o s raios p ro jetad o s nele, os sutilissima resso n an cia d o B em ,ilu m in a to d a s a s e o is a s q u e e s tã o e m c o n d iç õ e s d e p articip ar d ele, e tem u m a luz q u e se q u ais se diversificam co n tin u am en te, o q u e e m a n ife s to ta m b ê m p a ra o s s e n tid o s , n e s s e s e e m o u tro s fe n ó m e n o s . L o g o , a d iv ersid ad e d as coisas, q u e ap arece n o o ifu n d e so b re to d as as co isas e esten d e so b re to d o o m u n d o visivel o s esp len d o res d o s seu s raios p ara o alto e p ara baixo; e se alg u m a co isa d ele n ão p articip a, tal n ão m u n d o d o s e le m e n to s e m q u a lq u e r m o m e n to , p ro c e d e p rin c ip a lm e n te d e d u a s lm ã o s L im b o u rg , M aio, d ev e ser atrib u id o a su a o b scu rid ade o u à cau sas:ju stam en te a d iv ersid ad e da m a té ia in ad eq u acão d a d istrib u ição d e su a luz, m as e a d iferen te ação d o s raios estelares. Visto q u e as d isp arid ad es en tre a m at�ria são ora m aio res, ora m en o res, n o s vários lu g ares e e m L es T rès rich es h e u re s as p ro p rias co isas q u e n ão te n d e m à p articip ação na luz p o r cau sa d e su a du D uc d e B erry, 1410-1411. in a p tid a o a re c e b e -la . N a re a lid a d e , o ra1 0 , te m p o s s a o p ro d u z ic d a s c o isa s d iv e rsa s. P o r C hantilly, M usée C ondé a tra v e s s a n d o m u it�s c o is a s q u e s e en co n tram n essa situ ação , ilu m in a aq u elas isso s e e n c o n tra m re a lid a d e s d ife re n te s p e r g ên ero , o u tras p o r esp écie e o u tras ain d a Q u e v e m d e p o is e n a o h a n e n h u m a d a s s o m e n te p o r n u m e ro . cO isas visiveis q u e ele n ão alcan ce, p o r cau sa d a g ran d eza ex ced en te d e seu p ró p rio E splendor. D e u s c o m o lu m e Jo ão E sco to E rig en a (sécu lo IX ) C o m en tario à H ierarquia celeste, P or isso aco n tece d e esta fáb rica universal d o m u n d o ser u m g ran d issim o lu m e, co m p o sto d e m u itas p artes, assim co m o d e m u ita s lu z e s, p ar� re v e la r a s p u ra s e s p e c ie s d as co isas inteligiveis e intui-las co m a visão d a m en te, co o rd en an d o n o co ração d o s sap ien tes fieis a divina g raça e a aju d a d a razào. D e B em , p o rtan to , o teó lo g o ch am a D eus, o p i d o s L um es, pois D ele sào to d as as co isas, p e la s q u a ise n as q u ais E le se m an ifesta, e n a luz d o lu m e d e su a sab ed o ria E le as unifica e faz. 105 104 V . A L U Z E A C O R N A ID A D E M E D IA 3 L U Z , PIQ U E Z A E PO B R EZA A s co res artificiais, q u e d eriv am d e m in erais o u v eg etais e so frem co m p licad as elaboraçdes, representam um a riqueza, enquanto os pobres vestem -se ap en as c o m tecidos d e c o re s pálidas e m o d estas. E n o rm al q u e u m cam ponês vista tecid o s brutos, n ão to cad o s pelo tintureiro, co n su m id o s pelo u so , d e u m cinza o u d e u m m a rro m q u ase sem p re sujo. U m co lete v erd e o u verm elho, p ara n ã o fa la r d e u m o rn a m e n to feito d e o u ro o u d e pedras preciosas (que freqüentem ente são aquelas que hoje cham am os de quartzo, com o a ágata o u o ônix) é coisa ra ra e adm irável. A riqueza d as c o r e s e o esplendor . 7 T m u r a n 102. 181970 16IA d as gem as são u m signo d e poder, logo, objeto d e desejo e m aravilha. E c o m o o s castelo s d a época, q u e ag o ra estam o s habituados a v e r torreados e fab u lo so s em su as tran sfig u raçõ es ro m ân ticas e d isn ey an as, são, d e fato, ru d es fo rta le z a s-à s v e z e s até d e m ad eira n o c e n tro d e u m cin tu rão d e defesa, p o etas e v iajan tes so n h am castelo s esp lên d id o s d e m árm o re e g em as: inventam-nos, c o m o S ão B ran d ão n o c u rs o d e s u a s viagens, o u c o m o Mandeville, e s e chegam realm en te a v�-os, relatam -nos c o m o d ev eriam s e r p ara q u e fo ssem b elíssim o s, co m o n o caso d e M arco P olo. P ara c o m p re e n d e r q u ã o cu sto sas eram as tin tu ras, b asta p en sar n o trab alh o q u e o s p ró p rio s m in iatu ristas realizav am , p ara fab ricar co res vivas e brilhantes, conforme testemunham livros c o m o S ch ed u la diversarum artium , d e T eófilo, o u D e arte illum inandi, d e u m an ó n im o d o sécu lo X IV V estu ário d e ser, u m dia, en v en en ad o : Jean D e M eu n g e G u illau m e D e L orris 's é c u lo X 1 ) está p ro teg id o , asseg u rad o , p rin cip e fosse, o u im p erad o r P ed ra é esta d e alto valor: L e R o m a n d e la ro se , to m o l,v . 1 0 5 1 -1 0 8 7 V e ste R iq u e z a p u rp u ra e o u ro o h a b ito v a le m a is q u e u m te s o u ro . A qui p o r lisonja jam ais falarei d o p o te n te o s h a v e re s p ro te g e ria m ais q u e o o u ro d e R om a faria. P edras d iv ersas são os m o rd en tes: p o d em cu rar a d o r d e d en tes, e se rem irad o u m seg u n d ito faz en co n trar o q u e foi perdicdo. D e o u ro a s c a p a s :g ro s s a e p e s a n te , ach o q u e vale cad a q u al um b isan te. ta ls o o u m e n tira ja m a is d ire i, o em b u steiro eu , aliás, co n fu n d o : n u n c a vi n a d a a s s im n e s s e m u n d o . O h ab ito ru b ro to d o fran jad o é in teiram en te ilu strad o d e o u ro e d e p ed ras reb rilh an tes: h istó rias d e d u q u es e d e rein an tes. V ejo o rn ad a d o co lo a ab ertu ra, U m b elo an el d e áu rea fiada tem a trança: eis ap resen tad a D am a R iqueza, àu reo esp len d o r. e ricam en te, d e u m a b o rd u ra P úrpura C h rétien d e T royes (século X Il) d e o u ro en talh ad o : esm alte e nielos esp len d em o s fios ain d a m ais b elo s. T an tas e tan tas esp lèn d id as co isas E u lh es g aran to : p ed ras p recio sas, perlas, rubis, àm b ar, d iam an tes: b rilh o e reflexos q u ase o fu scan tes. E rec et E nide A q u e le q u e r e c e b e r a o rd e m p o rta v a o m an to e a túnica, forrada d e arnm inho b ran co até as m an g as; n o s p u lso s e n o colo havia, p ara n ad a esco n d er, m ais d e cem m arco s d e Irm ãos L im bourg. P or o u tro lado, o s d eserd ad o s, q u e tém a v en tu ra d e viver em u m a n atu reza c e rta m e n te av ara e d u ra, p o rém m ais in teg ra q u e aq u ela em q u e v iv em o s, podem gozar apenas do espetáculo da vegetação, do céu, da luz solar ou lunar, das flores. E, portanto, é natural que seu conceito instintivo d e B eleza identifique-se com a variedade de cores que a natureza sabe oferecer. U m d o s p rim eiro s d o cu m en to s d a sen sib ilid ad e coloristica m ed iev al p o d e ser en co n trad o em u m a o b ra q u e, escrita n o sécu lo V Il, in flu en ciará n o tav elm en te a cu ltu ra su cessiv a, as E tim ologias, d e Isidoro d e S evilha. T udo é d e bela, rara fatura. Setem bro, E stre ita p O r c in to a c in tu ra , O u ro b a tid o c o m p e d ra s p o d e ro s is s im a s , em L es T res rich es h eu res esp lên d id o tam b ém e eleg an te, C om o n en h u m , m u ito im p o rtan te. O lho a fivela: p ed ra talh ad a e m ag istralm en te facetad a. E nao é ap en as preciosa, violetas e verdes, tu rq u esas e castan h as, en g astad as na su p erficie cdo ouro. N as fivelas havia u m a o n ça d e cu ro ; d e u m lad o u m du D uc de B erry, 1410-1. -1 4 1 1 C hantilly,M usée C ondé ja c in to , d o o u tro , uim ru b i cq u e e m itia m a is fo g o q u e u m c a rb u n c u lo . O fo rro e ra d e arm in h o b ran co , o m ais fino e m ais b eio q u e se p o d eria ver. A p ú rp u ra era trab alh ad a enm c o m oé m a is ju sto , m a s v irtu o s a . Sim , eu diria ao p o ssu id o r q u e v iv a tra n g u ilo , se m te m o r cru zetas d e co res várias, violeta, v erm elh o e 106 tu rq u esa, b ran co e verde, violeta e am arclo. 0 7 A LU Z EA CO R N A ID A D E M 4 . O o rn a m e n to P ara Isidoro d e Sevilha, n o c o rp o h u m an o algum as coisas sã o destinadas à utilidade, o u tra s a o decus, o u seja, a o o rn am en to , a o belo, a o agradáv .P a ra a u to re s posteriores, c o m o p o r exem plo T o m ás d e A quino, u m a coisa é b ela tam bém p o r s e r adequada às próprias funções, n o sentido e m q u e u m co rp o m u tilad o -o u m u ito pequeno o u u m objeto q u e n ão p o ssa desem penhar co rretam en te a função p ara o qual foi pensado (com o u m m artelo d e cristal, p o r exem plo) seria d e se considerar feio, em bora produzido e m m aterial d e valor. M as aceitem os d e Isidoro a distinção (de origem tradicional) e n tre útil e belo:assim c o m o a ornam entação d e u m a fach ad a acrescen ta B eleza a o s edificios e o o rn a m e n to retórico acrescen ta B eleza a o s discursO s, assim o co rp o hum ano p arece belo p o r c a u s a d e o rn a m e n to s n atu rais (o um bigo. a s gengivas, a s sobrancelhas, o s seios) e artificiais (as ro u p as, a s jóias). e m fa c e E n cad ern açao d e evangeliário, prato anterior, co d .m arc. L at. I, 101 detalhe, século IX. V eneza, B iblioteca N azio n ale M arcian a A rca d e S ã o C alm in , séculos Xl-XIl. M ozac,junto a R iom , lgreja d e S an P ietro O c o rp o h u m a n o Isidoro d e S evilha (560-636) e a s p e c t o d e c e n tis S im o . l g m a s s ã o f e ita s a p e n a s p a ra o rn a m e n to , c o m o o s m a m ilo s E tim ologias, XI, 25 E m n o s s o co rp o algum as co isas sã o feitas n o s h o m e n s e o u m b ig o e m a m b o s o s se x o s. A lg u m as são feitas por discriçao, co m o nos m ach o s o s genitais, a b a rb a proem inente o am plo peito, e n a s fem eas a s g en g iv as c o m fin s d e u tilid ad e c o m o a s visceras, FA O u tra s ta n to pela u tilid ad e q u an to pela B eleza, c o m o a vista n o ro s to e o s pés e asS m ãos, m em bros que são de grande utilidade S u a v e s, o p e ito p e q u e n o e o s rin s e q u a d ris am p lo s para p o d er p o rtar o teto. 0 IV. A L U Z E A C O R N A ID A D E M ÉD IA 4 0 G P N A M E N T O em face G entile da Fabriano, A doração dos m agos, 1423. E ntre o s o rn am en to s em g eral são fu n d am en tais aq u eles q u e se b aseiam n a luz e n a cor: o s m årm o res são b elo s p o r su a b ran cu ra, o s m etais, pela luz q u e refletem . Florença, G alleria degli U fizi O p ró p rio ar é belo, p o rq u e aes-aeris (afirm a Isidoro co m su a discutibilissim a técnica etim ológica) é assim ch am ad o p o r te r o esplendor d o aurum ,isto é, d o o u ro . C o m o o o u ro , d e fato, o ar resp lan d ece m al é to cad o p ela luz.A s pedras preciosas são belas por sua cor, e a cor nada m ais é que luz do sol aprisionada e m atéria purificada. O s o lh o s são belos s e lu m in o so s e m ais belos os olhos verde-azulados. U m a das prim eiras qualidades de um belo corpo éa pele ro sad a e, portanto, argumenta o etim ologista Isidoro, v e n u sta s: "Beleza fisica'vem d e venis, sto é, d o san g u e, enquanto form osus, "belo, v e m de formo, que é o calor q u e m o v e o san g u e; de sa n g u e v e m ta m b é m sa n u s, q u e se diz d e q u e m é n åo é pálido. N estas p åg in as, p erceb e-se o q u an to era im p o rtan te u m co rp o d e asp ecto são em u m a ép o ca em q u e se m orria jo v em e se p ad ecia d e fo m e:Isid o ro afirm a q u e o fato d e ch am arm o s u m asp ecto d e delicatus v em d as deliciae d o s b o n s rep asto s e ten ta até m esm o u m a classificação d o caráter d e alg u n s p o v o s co m b ase n o m o d o co m o vlvem e se alim en tam , u tlizan d o etlm o lo g las arrojadas. E o s g au leses, cu jo n o m e v em d e gala, em g reg o "lelte" p o r cau sa d a can d u ra d e seu s corpos, são ferozes em razão d o clim a em q u e vivern. M iniaturista d a co rte a n g e v in a , A m u sica e seu s cu lto res, em M. Severinus Boetius, De A rythm etica, de m usica, sécu lo XIV . N ápoles, B iblioteca N azio n ale 112 113 V . A L U Z EA C O R N A ID A D E M ED IA 5 . AS CORES NA POESIA E NA M STICA 5. A s co res n a p o esia e n a m istica N os p o etas e ste sen tid o d a co r cin tilan te está sem p re p resen te: a relva é v erd e, o san g u e, v erm elh o , o leite, cán d id o . E xistem su p erlativ o s p ara cad a co r (co m o o p raeru b icu n d a d a rosa) e u m a m esm a co r p o ssu i m u itas g rad açõ es, m as n e n h u m a co r ex tin g u e-se em zo n as d e so m b ra. P o d eriam o s reco rd ar a "am en a co r d e o rie n ta l sa fira "d e D an te, o u o "ro sto d e n ev e em carm im co lo rid o " d e G uinizzelli, a 'clère et b lan ch e" esp ad a D u ren d al d a C h an so n d e R oland, q u e relu z ch am ejan te co n tra o sol. N o P araiso d an tesco ap arecem v isõ es lu m in o sa s c o m o 'o in cên d io seu seg u ia cad a fav ila; o u "e eis, em to rn o , clarid ad e ra ra / su rg ir u n id a so b re a que já e ra /a m o d o d e h o rizo n te q u e s e aclara: N as páginas m isticas d e S an ta H ild eg ard a d e B in g en ap arecem v isõ es d e fu lg id íssim a luz. H ild eg ard a d e B in g en , A criação co m A o rien tal safira O im en so brilho d o E spirito S anto! D ante A lighieri (1265-1321) P urgatório, l,v. 13-24 C o m o to rn o u -se sú b ito can d en te, O u n iv e r s o e o h o m e m v en cen d o o em p en h o d o s m eu s olhos tanto! C O sm ic o , e m R evelationes, A am en a co r d e oriental safira F u lg id issim a luz H ildegarda de B ingen (1098-1179) L iber Scivias, 1, visão 2 C 1 2 3 0 . q u e se form ava n o seren o leito d o céu, lim pido até su a ex trem a tira Lucca, B iblioteca G overnativa V i u m a fulgidissim a luz e nela unm a form a de h o m em co r d e safira q u e inflam ava tu d o com suavissim o fogo rutilante, e aq u ela luz e s p lê n d id a d ifu n d iu -se p o r to d o o fo g o rutilante, e este fogo rutilante p o r aquela iuz esp len d en te, e aq u ela luz fulgicdissim a e aq u ele fogo rutilante p o r tocda a form a do h o m em , p ro d u zin d o um so lum e d e um a unica v irtu d e e potência. E ouvi acjucla luz o s o lh o s m e u s re c o n d u z iu p ro v e ito , o g o q u e a c h e r-m e fo ra d a a u ra m o rta G ue m e havia co n tristad o a vista e o peito. p la n e tà g e n til, q u e a a m a r e x o rta , to d o ao riso incitava o O riente, v e la n d o o s P e ix e s q u e a se u te m p o p o rta . V oltei-m e à destra, dirigindo a m en te aq u ele polo, e avistei q u atro estrelas n ao vistas m ais fora da prim a g ente. v iv e n te m e d iz e r: "E ste é s e n tid o d o s m isté rio s d e D eus: q u e co m discrição se veja e se co m p reen d a qual seja a plenitucde sem n ascim en to e à qual nacda falta, cque com V isoes lu m in o sas D ante A lighieri (1265-1321) P araiso, XiV, v. 67-77 v irtu d e p o te n tis s im a tra ç o u to d o s o s c u rso s d o s fortes. Se, d e fato, o S en h o r fosse E eis, em torno, clarid ad e rara su rg ir u n id a so b re a q u e ja e ra , a m o d o d e h o riz o n te q u e se a c la ra . esvaziado de sua virtude, (jue necessicdnde haveria dele? N enhum a, decerto, por isso, na E, C om o q u an d o o crep u scu lo gera, n o c é u se re n o , n o v a s a p a rè n c ia s obra perfeita, vê-se cjue artiste Ele é, Por isso $ e v e à ju lg id issim a luZ q u e é s e m n a sc im e n to e à qual nada jpode laltil, cla cdesigna o l'ai, e nela o Fillho declara, por m eio cla form a de q u e a lte rria n n o ssa V ISta e m 1 alsa o u v e ra , p a re c e u n e v er n o v a s e x isté n c ia s reunir-se, form ando um novo m an to h o m em de cor safira sem m an ch a de à volta das duas prim as resplendéncias. im perfeiçao, de inveja ou iniqiiclacde, ter sicdo 114 1 1 5 5. A S C O R ES tIA PO E SIA E N A M ÍSTIC A A d rv o re d e Jessé, A o d escrev er a B eleza do prim eiro anjo, H ildegarda fala d e u m L úcifer (an tes d a queda) enfeitado d e pedras refulgentes à guisa d e céu estrelado, d e so rte q u e a in u m eráv el tu rb a d as cen telh as, resp lan d ecen tes n o fu lg o r d e to d o s o s s e u s o rn am en to s, clareia d e luz o m u n d o (L iber divinorum o p eru m ). V itral à d ireita d o p o rta l real, sécu lo X I C hartres, C atedral d e N o tre -D a m e P o r o u tro lad o , foi ju sta m e n te a id ad e M éd ia q u e elab o ro u a técn ica figurativa que m elhor desfruta da vivacidade de um a cor sim ples unida à v iv acid ad e d a luz q u e a penetra: o vitral d a cated ral gótica. A igreja gótica é co rtad a p o r låm inas d e luz q u e penetram d as janelas, m a s filtrad as p o r v id ro s co lo rid o s ligados p o r junturas d e ch u m b o . E les já ex istiam n as ig rejas ro m ân icas, m as co m o g ó tico as p ared es so b em , unindo-se n a ch av e de abóbada ogival. O espaço p ara a s janelas e ro sáceas am plia-se e a s paredes, assim perfuradas, equilibram -se em vez d iso na contrapressão dos contrafortes e dos arcos em aclive. A cated ral é co n stru íd a em fu n ção d a luz q u e irro m p e atrav és d e u m tú n el d e estruturas. O arcebispo Suger q u e, p ara a glória d a fé e d o rei d a França, concebeu a igreja ab acial d e S ain t-D en is (inicialm ente d e estilo ro m an ico ) n o s dá u m testem u n h o d e co m o este esp etácu lo p o d e en can tar o hom em m edieval. Suger descreve a s u a igreja c o m palavras d e grande com oção, ex tasiad o seja pela B eleza d o s te s o u ro s q u e ela acolhe, seja pelo jo g o d a luz q u e p en etra p elo s vitrais. g erad o an tes dos tem p o s, seg u n d o divindade, pelo Pai, m as ter-se en carn ad o depois, no tem po, seg u n d o h u m an id ad e. A quela q u e tu d o in fla m a d e su a v íssim o fo g o ru tila n te , fogo isento d e co n tato com q u alq u er m o rtalid ad e árida e ten eb ro sa, m ostra o p esso as.C o m o ? A ch am a consiste em um a esp lên d id a clareza, em um insito vigor e em u m ig n e o a rd o r, m a s a e s p le n d id a c la re z a a possui para q u e resp lan d eça e o insito vigor p ara q u e v ig o re e o ig n eo ard o r para q u e ard a. P o r isso c o n s id e ra n a e s p lè n d id a c la re z a o P ai E spirito S anto, d o qual foi co n ceb id o seg u n d o c a rn e o U n ig é n ito d e D e u s, n a to tem p o ran eam en te da V irgem , 0 qual infunde q u e e x p a n d e so b re o s fieis c o m p a te rn à carid ad e a sua clareza, e en ten d e através do in sito v ig o r d a e s p la n d id a c h a m a o F ilh o n o lum e d e verdadeira carid ad e ao m u n d o . q u a l e sta c h a m a m o stra a su a v irtu d e , o F ilh o M as se'aquela esplêndida lu z d ifu n d e-se por to d o aquele fogo rutilante, e aquele fogo rutilante p o r to d a aq u ela luz esp len d en te e aquela esplèndida luz e rutilante fogo por toda a form a do h o m em , p ro d u zin d o uni q u e se fez c o rp o p o r m e io d e u m a v irg e m n a qual a D iv in d a d e d e c la ro u a s s u a s m aravilhas; e d is tin g u e n o ig n e o a rd o r o E sp irito S a n to , q u e in c e n d e ia a s m e n te s d o s fieis. M as o n d e n ã o h o u v e r n e m e sp lè n d id a clareza, in ico lum e em u m a só virtude e potência, e n e m in sitO V Igor, n e m ig n e o a rd o r là n ã o se p o r q u e o P a i, q u e e s u m a e q u i d a d e , n a o e s e m v e r à t a m b e m a c th a m a ; c o m o o n d e n ã o s e o F ilh o e o E sp irito S a n to , e o E sp írito S a n to inflam a os co raçõ es dos fiéis, m as n ao sem o P ai e o F ilh o ; e o F ilh o é p le n itu d e d e v irtu d e , m a s n ã o se m o P ai e o E sp irito S a n to , e sã o a d o ra o Pai, n e m o F ilh o , n e m o Espirito Santo, n ã o se te m d ig n a v e n e ra ç ã o . C o m o e m u m a cham a s e distinguem estas três forças, n a u n id ad e da d iv in d ad e d ev em -se co m p reen d er A inseparäveis n a m ajestade d a d iv in d ad e [. C om o um a ch am a em um só fogo tem très tras p e sso a s. C o m o tré s forças d en o tam -se n a P a la v ra o u V e rb o , assin se p o d e considerar a virtudes, assim um único D eus està em tr�s trin d a d e n a u n id a d e d a d iv in d a d e . 1 1 7 IV. A LU z EA C O R N A ID A D E NM EDIA 6. A s co res n a v id a c o tid ia n a E ste g o sto p ela co r ta m b é m se m an ifesta fora d a arte, n a vida e n o s h áb ito s co tid ian o s, n as ro u p as, n o s ad o rn o s, n as arm as. E m u m a fascin an te an álise d a sen sib ilid ad e co lo rística d a B aixa ld ad e M éd ia, O crep ú scu lo d a ld ad e M édia, H u izin g a reco rd a o en tu siasm o d o cro n ista F roissart d ian te d o s "navios co m as b an d eiras e flåm u las esv o açan tes e o s b rasõ es m u ltico lo rid o s cin tilan tes ao sol. O u e n tã o o jo g o d o s raios d o sol so b re o s elm o s, as arm ad u ras, as p o n tas d as lan ças, o s p en ach o s e estan d artes d o s cav aleiro s em m arch a: O u ain d a as p referên cias cro m áticas m en cio n ad as n o B lason d es couleurs, o n d e se lo u v am as co m b in açõ es d e am arelo p álid o e azul, laran ja e b ran co , laran ja e rosa, ro sa e b ran co , p reto e b ran co ; e a rep resen tação d escrita p o r La M arch e, em q u e ap arece u m a d o n zela em sed a roxa so b re u m a h acan éia co m xairel d e sed a azul, co n d u zid a p o r três h o m e n s v estid o s d e escarlate co m cap as d e sed a v erde. irm a o s L im b o u rg Jan eiro , em L es T res riches h eu res d u D u c d e B e ry , 1 4 1 0 -1 4 1 1 . C h an tilly , M u sé e C ondéE em face Irm ão s L im b o u rg , A bril, e m L es ires rich es h eu res d u D u c d e B erry, 1 4 1 0 -1 4 1 1 . C hantilly, M usée C ondé 118 7 oSM A ouSM O D A 5 COPES V isdo d a g ran d e p ro stitu ta (A p o calip se, 17). A rras d o A pocalipse, i soculo X IV A ngers, C astelo d o rei R en ato A p artir d o s m istico e n o esp len d o r estético d o azul d o s vitrais e ro sáceas d as cated rais, que d o m in a sobre a s o u tra s c o re s e co n trib u i p ara filtrar u m a lu z'celestial" Em certos periodos e e m c e rto s lugares, o n eg ro é a c o r d o s reis, e m o u tro s, é a co r d o s cav aleiro s m isterio so s q u e o cu ltam a p ró p ria id en tid ad e. N o te-se q u e n o s ro m an ces d o ciclo d o rei A rtur o s cav aleiro s d e cab elo s ruivos säo vis, traid o res e cruéis, m as ap en as alg u n s sécu lo s an tes Isidoro d e S evilha dizia q u e e n tre o s cab elo s m ais b elo s e s ta v a m o s lo u ro s e o s ruivos D a m e s m a form a, u m co lete o u u m xarel v erm elh o s exprim em co rag em e n o b reza, em b o ra o v erm elh o seja ta m b é m a co r d o s carrasco s e d as p ro stitu tas. O am arelo é co n sid erad o co r d a co v ard ia e é asso ciad o às p esso as m arg in alizad as e rejeitad as, ao s lo u co s, ao s m u çu lm an o s e ao s ju d eu s; co n tu d o , ta m b é m é celeb rad o c o m o a co r d o o u ro , e n te n d id o co m o o m a is so la r e p re c io s o d o s m e ta is. e m fa c e lo X ll o azul to rn a-se u m a co r ap reciad a: b asta p en sar n o valor h o m e m selv ag em , u rso o u c e rv o , em R o m an ce d e Alexdndre sécu lo X V I O xford, B odleian L ibrary 123
Compartilhar