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125 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 A CONTABILIDADE DE CUSTOS E SEU DESTAQUE NA GESTÃO THE COST ACCOUNTING AND ITS HIGHLIGHT IN MANAGEMENT Silvia Cristina do Nascimento de PAULA1 Vitor Luiz Lima CORRÊA2 Ademir da SILVA3 RESUMO A Contabilidade de Custos é um ramo das Ciências Contábeis de fundamental importância para os gestores de empresas, destinando-se a produzir informações de grande relevância para uma entidade, e, por conseguinte, auxiliando as funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões. Em suma, esta ciência abrange práticas que devem ser conhecidas e jamais negligenciadas pela entidade. Em razão disso, o presente estudo tem o objetivo de mostrar como uma empresa pode utilizar a contabilidade de custos, considerando sua importância na formação do preço de venda de um produto. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, por meio da qual evidenciou-se, no presente trabalho, aspectos gerais relacionados ao tema, tais como os principais conceitos associados, as classificações de custos, sua importância para a formação do preço de venda, as técnicas de custeio e sua importância para a gestão como um todo. Assim, buscou-se disseminar conhecimentos acerca deste importante ramo da contabilidade, contribuindo com a prática dos profissionais e interessados no tema. Palavras-chave: Contabilidade. Custos. Gestão. ABSTRACT Cost Accounting is a branch of accounting that is of fundamental importance to business managers, and is designed to produce information of great relevance to an entity and, therefore, assisting the functions of determining performance, planning and controlling the operations and decision-making. In short, this science covers practices that must be known and never neglected by the entity. Therefore, the present study aims to show how a company can use cost accounting, considering its importance in the formation of the sale price of a product. In order to do so, a bibliographical research was carried out, in which, in the present work, general aspects related to the theme were evidenced, such as the main associated concepts, cost classifications, their importance for the formation of the sale price, the costing techniques and their importance for the management as a whole. Thus, we sought to disseminate knowledge about this important branch of accounting, contributing to the practice of professionals and those interested in the subject. Keywords: Accounting. Costs. Management. 1 Graduanda em Ciências Contábeis - Faculdades Integradas Urubupungá. silvia.ofm@hotmail.com 2 Graduando em Ciências Contábeis – Faculdades Integradas Urubupungá. vitor_lcorrea@hotmail.com 3 Professor do curso de Ciências Contábeis – Faculdades Integradas Urubupungá. decao_77@hotmail.com mailto:silvia.ofm@hotmail.com mailto:vitor_lcorrea@hotmail.com mailto:decao_77@hotmail.com 126 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 1 INTRODUÇÃO A competição existente no mercado entre as empresas demanda que estas estejam sempre atentas às melhores formas e técnicas para o aprimoramento e qualidade em sua gestão, de maneira a alcançar os objetivos da instituição, bem como patamares mais elevados de resultados. Neste sentido, a Contabilidade pode auxiliar de diversas maneiras o gestor, possibilitando que os objetivos propostos possam ser atingidos com sucesso, colaborando com processos tais como planejamento, registro, controle e avaliação de desempenho. Dentre as possibilidades promovidas pela Contabilidade, é possível destacar a Contabilidade de Custos, ramo da Contabilidade que se destina a produzir informações para os diversos níveis gerenciais de uma entidade, como auxílio às funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões. A Contabilidade de Custos planeja, aloca, acumula, organiza, registra, analisa, interpreta e relata os custos dos produtos fabricados e vendidos, o que se mostra fundamental para o empreendedor. Em suma, trata-se de uma importante ferramenta à disposição do gestor de empresas e, em decorrência disso, o presente trabalho se destina a apresentar aspectos gerais relacionados à Contabilidade de Custos, de modo a contribuir com o conhecimento da comunidade acadêmica, profissionais e demais interessados pelo assunto, a fim de que os potenciais benefícios deste ramo da contabilidade possam ser, de fato, aproveitados. Diante do exposto, este artigo apresenta como objetivo mostrar como uma empresa pode utilizar a contabilidade de custos, considerando sua importância na formação do preço de venda de um produto. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica, que consistiu em um levantamento de informações pertinentes em livros de Contabilidade Básica e Gerencial que trazem em seu conteúdo ricas informações e ensinamentos sobre o tema abordado, além de periódicos e revistas científicas relacionadas à área de estudo, bem como teses e dissertações. As informações obtidas foram analisadas quanto à relevância e adequação ao tema proposto, sendo utilizadas para a redação do presente artigo. 2 CONTABILIDADE DE CUSTOS A Contabilidade de Custos é uma técnica responsável por identificar, mensurar e informar os custos dos serviços e produtos fabricados ou vendidos. Essa técnica tem a função 127 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 de disponibilizar informações precisas e rápidas para a administração de uma entidade, para a tomada de decisão. De acordo com Crepaldi (2009, p. 3): A Contabilidade de Custos desenvolveu-se com a revolução Industrial, e teve que se adaptar à nova realidade econômica, com o surgimento das máquinas e a consequente produção em grande escala. O sistema de apuração de custos consistia em determinar os estoques no início do período, adicionando as compras do mesmo período e deduzindo o que ainda restaria no estoque. Resultava o custo das mercadorias vendidas. Assim, o autor evidencia que a contabilidade acompanha a história da própria industrialização, desenvolvendo-se ao lado desta, uma vez que possibilita melhor controle e outros benefícios às instituições. Segundo Leone (2009, p. 5): A Contabilidade de Custos é o ramo da Contabilidade que se destina a produzir informações para os diversos níveis gerenciais de uma entidade, como auxílio às funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões. Por isso, pode-se dizer que a Contabilidade de Custos faz parte da Contabilidade Gerencial ou Administrativa, e pode ser utilizada tanto em empresas industriais, empresas comerciais, empresas públicas e até entidades sem fins lucrativos. De acordo com Crepaldi (2009, p. 2), “a Contabilidade de Custos planeja, classifica, aloca, acumula, organiza, registra, analisa, interpreta e relata os custos dos produtos fabricados e vendidos”. Para que uma entidade acompanhe e atinja seus objetivos, mediante um mercado concorrido, dinâmico e globalizado, é necessário que se tenha uma Contabilidade de Custos bem estruturada. 3 GASTOS, DESPESAS E INVESTIMENTOS A fim de abordar aspectos relacionados ao tema proposto, cabe, inicialmente, apresentar algumas definições relativas a termos frequentemente utilizados na contabilidade de custos. Essas definições encontram-se expostas a seguir. Inicialmente, é preciso apresentar quesitos relativos ao conceito de gastos. De maneira geral, trata-se de um compromisso financeiro que o indivíduo ou a entidade assume quando da aquisição de bens ou serviços (LEONE,2000). Assim, trata-se do dispêndio de dinheiro que, a 128 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 depender de sua destinação e objetivo, pode configurar diferentes termos, isto é, o gasto pode ser compreendido como custo ou despesa, a depender de sua destinação. Segundo Martins (2010), despesa pode ser entendida como um bem ou serviço que é consumido, seja de maneira direta ou indireta, com o intuito de obter receitas. Trata-se, assim, do valor desembolsado para a aquisição de bens e serviços que se relacionam à manutenção da atividade da empresa e às atividades relacionadas à obtenção de receitas por meio da venda da produção. Contrapondo-se com os custos, pode-se estabelecer que estes relacionam-se com a produção em si, como por exemplo, com a aquisição de matéria-prima, ao passo que as despesas não estão relacionadas diretamente à produção, mas sim à manutenção da estrutura necessária para que esta ocorra. Por caracterizarem o objeto principal deste estudo, os custos serão definidos pormenorizadamente em momento oportuno neste artigo. Outros termos aplicáveis ao objeto de estudo que podem ser definidos de maneira sucinta são os investimentos, que se referem aos gastos ativados com base na sua vida útil ou benefícios futuros; as perdas, compreendidas como os gastos realizados com fatos ou situações excepcionais, que fogem da normalidade das operações da empresa, caracterizando-se como anormais ou involuntários; e o desembolso, entendido como o pagamento que decorre da aquisição de determinado bem ou serviço (MARTINS, 2010; PADOVEZE, 1997). 4 CUSTO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES Os custos podem ser classificados em diretos ou indiretos, de acordo com o objeto ao qual este encontra-se associado (JIAMBALVO, 2009). Outra classificação (PADOVEZE, 1997) é aquela que separa os custos em fixos e variáveis, que decorre do comportamento dos custos em relação ao volume de produção. A seguir, são apresentadas estas classificações. 4.1 Custo direto Os custos diretos podem ser entendidos como os custos referentes a elementos individualizáveis, ou seja, são aqueles possíveis de serem identificados imediatamente com a produção, existindo ainda uma correspondência proporcional. Neste sentido, Leone (2000, p. 49) afirma que são “aqueles custos que podem ser facilmente identificados com o objeto de custeio. São custos diretamente identificados a seus portadores. Para que seja feita a identificação, não há necessidade de rateio”. 129 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 Assim sendo, custo direto é todo o gasto claramente apontado, sendo o mesmo diretamente ligado a cada tipo de bem ou função, achando-se reconhecido de imediato a um produto, sendo mensurado de modo objetivo. 4.2 Custo indireto Trata-se do custo que não se pode apropriar diretamente a cada tipo de bem ou função de custo no momento de sua ocorrência. Para Leone (2000, p. 49), “os custos indiretos são aqueles custos que não são facilmente identificados com o objeto de custeio. São custos alocados aos objetos através de rateios”. Nesse sentido, os custo indiretos se mostram contrários aos diretos, possuindo maior dificuldade de atribuir um valor a cada unidade executada, obtendo necessidade de um critério de rateio para se chegar ao valor do custo de cada unidade produzida. 4.3 Custo fixo Segundo Padoveze (1997 p. 229): Os custos que tendem a manter-se constantes nas alterações das atividades operacionais são tidos como custos fixos. De modo geral são os custos e despesas necessárias para manter o nível mínimo de atividade operacional, por isso são também denominados custos de capacidade Assim, em suma, custos fixos, como evidenciado pelo próprio termo, são aqueles que independem de alterações nas atividades da entidade, mantendo-se relativamente constantes. Em que pese esta definição, ressalta-se o exposto por Martins (2010, p. 254): Não existe custo ou despesa eternamente fixos; são, isso sim, fixos dentro de certos limites de oscilação da atividade a que se referem, sendo que, após tais limites, aumentam, mas não de forma exatamente proporcional, tendendo a subir em “degraus”. Desta forma, há que se levar em consideração os apontamentos do autor, a fim de compreender que, embora sejam fixos, não se trata de uma condição definitiva e absoluta, mas sim que tende a permanecer constante. 4.4 Custo variável 130 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 Segundo Backer e Jacobsen (1974, p. 13), os custos variáveis “são os custos que tendem a crescer ou diminuir, no total, em proporção às mudanças nos níveis de atividade”. Jiambalvo (2009, p. 6) auxilia na melhor compreensão: Como o próprio nome diz, os custos variáveis são gastos que aumentam e diminuem em proporção aos aumentos ou às diminuições no nível de atividade do negócio. A mão-de-obra direta e o material são geralmente considerados custos variáveis porque, em muitas situações oscilam em proporção a mudanças na produção (atividade de negócio). Assim, para conhecer estes custos, é preciso identificar o ciclo de vida do produto e serviço, a fim de que se verifiquem as oscilações e os custos que as acompanham. 5 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA Um dos fatores que tem grande potencial de influenciar o sucesso das operações de uma empresa é a formação do preço de venda, uma vez que é o preço terá influência direta sobre o posterior consumo dos clientes. Assim, esta atividade deve ser realizada da melhor maneira possível, levando-se em consideração características do mercado, o custo do produto e o lucro desejado. A respeito deste processo, destaca-se o exposto por Vieira (2009, p. 27): O processo de determinação de preços de venda deverá merecer a atenção da alta administração da empresa dado importância que o assunto representa, inclusive em termos de obtenção de resultados, grau de retorno do investimento, fatia de mercado desejado pela empresa e demais fatores de caráter empresarial. As decisões de preços são diretamente dependentes do volume de vendas, do grau de eficiência do mix em termos de resultado direto, do nível de despesas de vendas e administrativas, bem como das necessidades financeiras para o atendimento do volume de operação projetada. Para que a formação do preço de venda se dê de forma adequada, é preciso que haja o emprego de técnicas adequadas e profissionais especializados, de modo que o trabalho seja efetuado da melhor maneira possível, não acarretando prejuízos ao empresário. De modo geral, para esta atividade, a contabilidade de custos é de fundamental importância, pois deve-se verificar o custo total de aquisição da mercadoria, bem como outros fatores, como a carga tributária incidente, as demais despesas e a margem de lucro desejada, para formar o índice mark-up e aplicá-lo sobre o custo (BEILFUSS, 2010). A respeito deste processo, destaca-se o exposto a seguir: Com base nos dados de custos do produto a ser estimado e na política de lucros da empresa, define-se um preço preliminar. Normalmente, a composição desse preço é feita acrescentando-se uma determinada porcentagem ao custo apurado para o produto. Essa porcentagem-conhecida como mark-up –via regra inclui, além de tributos como ICMS, o IPI e o PIS/COFINS, uma parcela para cobertura de despesas 131 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 não diretamente atribuíveis ao produto (como despesas de vendas, administrativas e financeiras) e o nível de lucro pretendido. Quando se utiliza o sistema de custeio direto, o mark-up deve compreender, ainda, um fator destinado á absorçãodas despesas fixas de fabricação. Esse preço preliminar é analisado em função das condições do mercado, do que se conhece a respeito da mais provável estratégia de produto e de preços dos principais concorrentes, do poder de compra dos possíveis consumidores do produto e de outros fatores relevantes que possam afetar o desempenho das vendas se o preço preliminarmente definido vier a ser praticado. (BOMFIM; PASSARELLI, 2006, p. 446). O mark-up é um índice aplicado sobre o custo, para obtenção do preço de venda, tendo como finalidade cobrir as despesas variáveis com vendas não inclusas no custo. Sobre este índice, Bruni e Fama (2004, p. 340) explicam: Para se chegar ao preço praticado, muitas vezes pode-se empregar o mark-up, índice aplicado sobre os gastos de determinado bem ou serviço, permite a obtenção do preço de venda. O mark-up sobre o custo variável tem a finalidade de cobrir contas não consideradas no custo, como os impostos sobre vendas, as taxas sobre variáveis sobre vendas, as despesas administrativas fixas, as despesas de vendas fixas, os custos indiretos de produção fixos (a depender da situação do custeio) e o lucro desejado pela empresa. O mark-up pode ser calculado de duas formas: multiplicador –mais usual, representa por quanto devem ser multiplicados os custos variáveis para se obter o preço de venda a praticar; e divisor – menos usual, representa percentualmente o custo variável em relação ao preço de venda. Cabe ressaltar, no entanto, que nem sempre é possível que o preço obtido por esta metodologia pode ser aplicado, uma vez que é preciso proceder uma adequação ao mercado, de maneira a permitir retorno do capital investido. Assim, demonstra-se que esta é uma das atividades fundamentais da gestão de um negócio, qual seja, a formação do preço de venda, está relacionada com a contabilidade de custos, demonstrando novamente a importância desta para a organização. 6 MÉTODO DE CUSTEIO Os métodos de custeio englobam diversas vantagens e desvantagens, aptidões e restrições, sendo da competência da organização a escolha daquele que melhor lhe atender nas suas necessidades e particularidades. Assim, para Bornia (2002, p. 52), “o sistema de custeio deve estar em sintonia e adaptado ao sistema de gestão da empresa, possibilitando fornecer informações que levem a decisões corretas, diante do atual ambiente competitivo”. Desta forma, os métodos de custeio atendem ao propósito de planejar, controlar e manifestar informações para melhores deliberações. Machado e Souza (2006, p. 46) esclarecem a múltipla aplicabilidade dos métodos de custeio: 132 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 Alguns métodos de custeio são mais indicados como instrumentos gerenciais, outros para relatórios externos, outros são mais conservadores, outros mais abrangentes, com visão de curto ou longo prazo. Deve-se ter em conta que não há um método considerado o melhor para ser utilizado de maneira indiscriminada e para todas as finalidades pelas empresas. Assim sendo, é possível compreender a inexistência de um único e correto método de custeio, o que determina e qualifica qual o melhor é o alvo ambicionado com a sua utilização, fazendo com que se torne útil o conhecimento da perspectiva de cada método, correlacionado ao tipo de dados cobiçados. 6.1 Custeio por absorção O Custeio por Absorção, conhecido também como custeio integral, é o método procedente do uso dos Princípios Fundamentais da Contabilidade, sendo ele representado pela apropriação da plenitude dos custos aos produtos. De acordo com Leone (1981), o custeio por absorção apropria aos custos dos produtos todos os custos de produção, fazendo com que cada produto/serviço absorva, além dos custos variáveis, também parcelas de custos fixos e indiretos relacionados à produção, provendo assim o seu rateio. Entretanto, as características englobadas pelo custeio por absorção são a utilização dos custos totais, isto posto fixos, variáveis, direto e/ou indiretos, sendo um critério legal ordenado no Brasil. Conforme Abbas, Gonçalves e Leonice (2012, p. 147): No custeio por absorção, todos os custos de produção comporão o custo do bem ou serviço. As despesas não fazem parte do custo do bem ou serviço (CPV – custo do produto vendido ou CSP – custo do serviço prestado), ou seja, são lançadas diretamente no resultado, enquanto que os custos, tanto diretos quanto indiretos, são apropriados a todos os bens e serviços. Nem sempre visto com bons olhos como meio de gestão e estudo de custos, por proporcionar deturpação ao distribuir custos entre numerosos produtos/serviços, facilitando encobrir desperdícios e outras inaptidões produtivas, o custeio por absorção sofre preponderância direta do volume de produção. Para Bornia (2002), no Custeio por Absorção Ideal, todos os custos fixos e variáveis também são computados como custos dos produtos, porém, custos não eficientes (desperdícios) não são atribuídos aos produtos. Assim, Bornia (2002) destaca que a capacidade de separar custos e desperdícios, característica própria do custeio ideal, é uma questão muito trabalhada na empresa moderna, já que essas empresas 133 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 buscam constantemente a redução contínua dos desperdícios, possibilitando a priorização das ações de combate ao trabalho que não agrega valor. Isto posto, o método de custeio por absorção é bastante empregado para o atendimento dos requisitos da contabilidade financeira, sendo o método aderente aos princípios exigidos pelo país. 6.2 Custeio variável O custeio variável, também denominado direto, é um método de custeio que visa aferir a margem de contribuição dos produtos. Nesse sentido, Martins (2010) define-o como método em que há apropriação de todos os custos variáveis, sejam estes diretos ou indiretos. Neste método, os custos fixos, por sua vez, são considerados no resultado, sendo tratados como despesas do período. Com base nisso, pode-se dizer que este método de custeio possui importante aplicabilidade para fins gerenciais, uma vez que possibilita análises do tipo custo/volume/lucro (SOUZA; AVELAR; BOINA, 2008). Nesse sentido, destaca-se: As informações obtidas por meio do Custeio Variável possibilitam aos gestores analisar os gastos da empresa em relação aos volumes produzidos ou vendidos, as decisões em relação ao corte ou manutenção de produtos existentes, mudanças no mix de produção, incorporação de novos produtos ou quantidades adicionais etc. (MUNARETTO; DIEDRICH, 2007, p. 71). Assim, evidencia-se a importância do método em análise, principalmente com relação às informações que o uso deste método de custeio possibilita que sejam extraídas pelo gestor. De maneira geral, pode-se apresentar como características desta metodologia a ausência de distinção entre custo e despesa, uma vez que ambos são apurados indistintamente; a distinção entre custos e despesas, que variam conforme o volume de produção daqueles em que isso não ocorre; possibilita a comparação dos custos dos produtos em bases unitárias, facilitando ainda a elaboração e o controle de orçamentos (MUNARETTO; DIEDRICH, 2007). As vantagens e desvantagens do método em estudo podem ser observadas no quadro a seguir. 134 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 Quadro 1: Principais vantagens e desvantagens do método de custeio variável. Vantagens Desvantagens Ele é aproveitado para determinar qual produto, linhas de produção, departamentos, áreas de venda, empresas, entre outros são lucrativos e onde a contabilidade de custos deseja investigar os efeitos inter-relacionados dasmudanças ocorridas nas quantidades produzidas e vendidas, nos preços e nos custos e despesas. As informações do custeio variável são aplicáveis em problemas, cujas soluções são de curto alcance no tempo. Apresenta a margem de contribuição. A análise das despesas e custos, em fixos ou variáveis, é dispendiosa e demorada. Apresentam os valores referentes aos custos fixos, periódicos e repetitivos, da forma com são destacadas nas demonstrações de resultado, facilitando a visão do administrador sobre o montante desses custos e despesas, que interferem sobre o lucro do negócio. Os resultados do custeio variável ou direto não são aceitos para a elaboração de demonstrações contábeis. Fonte: Adaptado de Leone (2000). Desta forma, evidencia-se que o custeio variável é um importante método de custeio, apresentando diversas vantagens e, ao mesmo tempo, desvantagens. Ressalta-se que ambas devem ser levadas em consideração, devendo o gestor conhecer as possibilidades e limitações deste método, para que, se considerar necessário, possa usufruir das informações que este método possibilita. 6.3 Custeio ABC - Activity Based Costing Os métodos de custeio expostos anteriormente, isto é, por absorção e variável, são ditos métodos tradicionais, entretanto, alguns autores, apontam que estas metodologias não atendem às necessidades de certas empresas de maneira satisfatória (NAKAGAWA, 1991). Diante disso, surgiu o Activity Based Costing (ABC). Sobre este método destaca-se: Considerado por muitos autores como um método de difícil implantação, e por outros como a solução para todos os problemas de uma organização, esse método parte do princípio de que não são os bens ou serviços que consomem recursos, mas, sim, os recursos que são consumidos pelas atividades e estas, por sua vez, são consumidos pelos bens ou serviços. (ABBAS; GONÇALVES; LEONICE, 2012, p. 149). Isto posto, fica evidente que o método em análise se baseia nas atividades desenvolvidas pela entidade como forma de determinar os custos. Trata-se de uma “metodologia desenvolvida 135 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 para facilitar a análise estratégica de custos relacionados com as atividades que mais impactam o consumo de recursos de uma empresa” (ABRANTES; MARIOTO, 2008, p. 108). Desta forma, Jiambalvo (2009) aponta os seguintes passos: 1) Identificar as principais atividades responsáveis pelos custos indiretos; 2) Agrupar os custos das atividades em grupos de custos; 3) Identificar as medidas das atividades, os chamados direcionadores de custos; 4) Relacionar os custos aos produtos utilizando o direcionador de custos; Para melhor análise deste método, faz-se necessário compreender o conceito de atividade. Esta pode ser entendida como o processo direcionado à produção de produtos ou serviços (ABRANTES; MARIOTO, 2008). Neste sentido: A atividade descreve a maneira como uma empresa utiliza seu tempo e recursos para cumprir sua missão, objetivos e metas. O principal objetivo de uma atividade é o de converter recursos (mão-de-obra, materiais, tecnologia, informações, etc.) em produtos e serviços. A hierarquia das atividades está relacionada com a forma como elas são agregadas em termos de consumo de recursos pelas atividades e alocação dos custas das atividades aos produtos. (ABRANTES; MARIOTO, 2008, p. 110). Assim, os custos serão verificados com base nas atividades realizadas pela entidade e não especificamente com relação aos custos e despesas, como nos métodos tradicionais. Além disso, pode-se apresentar como vantagens e desvantagens deste método: Quadro 2: Principais vantagens e desvantagens do método de custeio ABC. Vantagens Desvantagens O ABC é menos propenso que os sistemas tradicionais, a subcustear produtos complexos e de volume reduzido e supercustear produtos simples de grande volume, visto que emprega mais direcionadores de custos na alocação destes, mas os direcionadores não são necessariamente relacionados com o volume; Como são alocados ao custo de cada unidade produzida, custos que são fixos, este método não mede os custos incrementais da produção de um item, os quais são essenciais para tomar decisões; Pode melhorar o controle dos custos, ao permitir visualizar os custos distribuídos às diversas atividades, em vez de incluí-los em um ou dois grupos de custos indiretos; Os processos de entrevistas e levantamentos de dados são demorados e dispendiosos; Os dados utilizados no método são subjetivos e de difícil validação; O desenvolvimento, armazenamento, o processamento e a apresentação e 136 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 manutenção desse sistema são mais onerosos do que os sistemas tradicionais; Tem o foco, geralmente, em processos específicos e não fornece uma visão integrada das oportunidades de lucro em todo o âmbito da empresa; Não é atualizável ou adaptável facilmente às novas circunstâncias; Incorre em erro teórico, ao ignorar a possibilidade de capacidade ociosa. Fonte: Adaptado de Jiambalvo (2009) e Kaplan e Anderson (2007 apud ABBAS; GONÇALVES; LEONICE, 2012). Por fim, conforme exposto nos outros métodos, existem vantagens e desvantagens associadas à sua realização, devendo estas serem consideradas pelo gestor e pelos responsáveis por estas atividades. 7 GESTÃO DE CUSTO COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA NA TOMADA DE DECISÃO Durante o processo de gestão de uma entidade, diversas decisões são tomadas a respeito dos mais variados aspectos, dependendo, muitas vezes, o sucesso dos empreendimentos ou alcance dos objetivos de decisões acertadas. Assim, é fundamental que o processo de tomada de decisão esteja em harmonia com a gestão, de maneira que os resultados esperados de uma tomada de decisão estejam de acordo com os resultados planejados pela empresa (OLIVEIRA et. al., 2008). Em decorrência dessa harmonia, pode-se estabelecer que o processo de tomada de decisões tem uma perfeita correspondência com o ciclo gerencial de planejamento, execução e controle (CATELLI, 1999). Segundo Padoveze (2012, p. 30), “o processo da tomada de decisão consiste em três grandes etapas: o exame ou análise do problema, o desenvolvimento ou desenho de curso de ação e a implementação da decisão”. Para que estas etapas sejam cumpridas, é preciso que o profissional esteja munido de informações que orientem sua tomada de decisão. A contabilidade de custos, por sua vez, é capaz de fornecer informações importantes ao gestor, direcionando sua ação aos objetivos estabelecidos. Neste cenário, ressalta-se que a contabilidade de custos perdeu seu aspecto de coadjuvante, responsável apenas pelo auxílio na avaliação de estoques e lucros globais, 137 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 passando a ser vista como importante mecanismo de controle e decisão gerencial (OLIVEIRA et. al., 2008). Diante disso, destaca-se o exposto por Santos (2005, p. 17): Na época atual, muitas empresas ainda passam por dificuldades de ajustamento e readequação de custos e preços de sua estrutura em função da globalização da economia. Muitas empresas, que não se reorganizarem e se readaptarem a esse novo ambiente competitivo, certamente não sobreviverão. E essa reorganização e readaptação estão diretamente inseridas na valorização ainda maior a Contabilidade, como a melhor ferramenta de controle e de avaliação de desempenho da gestão de um negócio empresarial existente na atualidade. O excerto acima demonstra a importância da contabilidade de custos para o sucesso das entidades frente às novas demandas do mercado contemporâneo, evidenciando-se novamente aimportância de que o gestor adote as práticas deste ramo da contabilidade em suas atividades de gestão. Em suma, a contabilidade de custos, diante desta sua nova utilidade, adquire a função e o objetivo de prover informações relevantes ao usuário, de modo a subsidiar o processo de tomada de decisão. Com isso, a avaliação dos estoques e apuração do resultado econômico por meio do controle de custos proporciona condições para que o gestor acompanhe o desempenho da entidade, sendo capaz de atuar com maior correção. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A competitividade entre as diversas empresas demanda que estas adotem práticas capazes de auxiliá-las na conquista de seus objetivos, especialmente aos relacionados a aspectos produtivos e de resultados. Desta maneira, é importante que a gestão da empresa esteja atenta às mais diferentes técnicas possíveis e disponíveis para o emprego nas práticas de gestão. Diante dessa necessidade, o presente artigo abordou aspectos relacionados à contabilidade de custos, apontando-a como importante fator capaz de auxiliar o gestor em suas atividades, proporcionando maiores condições de atingir os objetivos da empresa. No presente trabalho, foram caracterizadas a contabilidade de custos, bem como a definição de conceitos relacionados aos principais tópicos deste ramo da contabilidade. Posteriormente, foram abordados os tipos de custos existentes, o emprego deste ramo da contabilidade na formação do preço de venda, os tipos de custeio e, por fim, o uso da contabilidade de custos como ferramenta na tomada de decisão. Desta maneira, restou evidente que a contabilidade de custos é uma importante atividade a ser desenvolvida nas entidades, sendo capaz de fornecer importantes informações ao gestor. 138 Rev. Eletrônica Organ. Soc., Iturama (MG), v. 8, n. 9, p. 125-139, jan./jun. 2019 DOI: 10.29031/ros.v8i9.405 REFERÊNCIAS ABBAS, K.; GONÇALVES, M. 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