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A época colonial (1500-1822), profundamente marcada pela experiência de encontro e de choque cultural entre dois mundos – o dos colonizadores portugueses e os dos nativos da Terra de Santa Cruz. Foi nesse período que a identidade sociocultural brasileira se definiu. Países europeus colonizaram novos mundos entre os séculos XV e XIX, expandindo a universalização do conceito de ciência. Assim, com a chegava de novas ideias, muitos países colonizados, a exemplo do Brasil, sofreram com o epistemicídio, ou seja, com a destruição de suas formas de conhecimento e culturas, as quais não foram assimiladas pela cultura do Ocidente branco. O Brasil ingressou no universo europeu em 1500, ano em que foi invadido por Portugal, sendo que a dominação portuguesa durou cerca de três séculos, trazendo consequências como a aniquilação da formação cultural desse povo colonizado. Um grande destaque desse período é o ensino religioso lecionado por padres Jesuítas. Desse modo, a Psicologia aqui presente era embasada na Filosofia e na Teologia, principalmente a tomista, sendo que seus ensinamentos – as “ideias psicológicas” – eram passados adiante nos seminários. O foco principal era o entendimento sobre o homem e sobre a catequese. Uma importante obra dessa época é A Arte de Bem Educar, de Alexandre Gusmão – um patrono da diplomacia brasileira –, a qual abarca os valores morais e religiosos que a família e os professores devem transmitir ainda na primeira infância. Em sua chegada a Salvador, Dom João VI havia criado a Escola de Cirurgia da Bahia e, logo em seguida, a Escola Anatômica, Médica e Cirúrgica do Rio de Janeiro. Estas, em 1832, são transformadas em Faculdades de Medicina. Nesse momento (até 1932), institui-se a obrigatoriedade de defesa de teses para a obtenção de título de Doutor em Medicina. Assim, o discurso católico vai progressivamente sendo substituído pelo científico. Com o tempo, a ideia da unidade entre corpo e alma vai sendo substituída pelo evolucionismo de Darwin. Assim, as ciências naturais e biológicas ganham prestígio e o homem passa a ser estudado como um organismo, da mesma forma que os outros seres vivos. E, como a ciência implica regularidades mensuráveis, o conhecimento deixa de ser produto da autorreflexão, ou seja, do voltar-se da alma para si mesma. Dessa forma, a alma do discurso religioso colonial é progressivamente objetivada, agora, pelo discurso da ciência. No ano de 1900, Henrique Roxo publica o primeiro trabalho de Psicologia Experimental realizado no Brasil: Duração dos Atos Psíquicos Elementares nos Alienados. De acordo com Schwarcz e Herschmann & Pereira, as novas ideias demonstraram que o Brasil estava doente, povoado por uma população inculta, que habitava centros urbanos longe dos mínimos graus de civilidade europeia. Sendo assim, havia uma necessidade de higienizar as cidades, os corpos e as mentes. Esse é o esforço a que se dedicavam os intelectuais da Primeira República. Trata-se de uma geração de intelectuais que pretendiam “reinventar o País, organizá-lo em novas bases, fazê-lo transpor rapidamente as enormes barreiras arcaicas que o separavam da civilização contemporânea”. Essa nova ideia era sustentada pela elite política e intelectual da época que se dedicava à educação. Um ano após à Proclamação da República, uma nova legislação, denominada Reforma Benjamim Constant, modifica o sistema de ensino brasileiro, pois foi observado que a educação era deficitária, no sentido de ser arcaica e artificial, baseada na memorização e nos castigos físicos, com pouco conteúdo das novas ciências. É nesse contexto que surgem as primeiras propostas de educação que levaram à criação do Pedagogium. O Pedagogium é um museu pedagógico ao estilo dos existentes em diversos países europeus e cuja direção foi ocupada por Manoel Bomfim, médico que se tornou educador. Nesse loca, é criado o Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental do Brasil. Mas, com o objetivo de frutificar a educação, os intelectuais se dedicaram à prevenção, com o sanitarismo (limpeza da cidade) e com a Higiene Mental (A Liga Brasileira de Higiene Mental, por Gustavo Riédel, reúne psiquiatras interessados em entender os transtornos mentais em suas bases biológicas, e assim, pensar em como tratá-los. Tem uma abordagem de humanização do serviço, tentando difundir informações sobre o tratamento e a prevenção. Entretanto, adquire um caráter eugênico, e muitas pessoas dela se retiram). Com os avanços na educação, surgem mudanças positivas como a regulamentação do estatuto das universidades e a criação do primeiro curso de Pedagogia, em 1935. Além disso, a criança passa a ser vista como futuro da Nação, tornando a educação um projeto do Estado. Nesse período, a Psicologia ocupa um espaço diferenciado, porque, de acordo com Lourenço Filho, ela é uma das bases da educação. Desse modo, no campo de ensino, surgem os primeiros cursos de especialização em Psicologia. No Rio de Janeiro, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV), criado em 1947 sob a direção de Emilio Mira y López (1896- 1964), oferece inúmeros cursos de extensão. Mira y López é um divulgador constante da Psicologia, através de conferências e artigos em jornais diários (Rosas, 1997) e sua presença é, sem dúvida, relevante para os acontecimentos dos anos 1940 a 1960 na Psicologia brasileira. A atuação profissional do psicólogo era como psicotécnico ou psicologista, sendo que no final dos anos 40 opera em campos da seleção e da orientação profissional, como no ISOP; em escolas, principalmente nas experimentais; e em clínicas, realizando psicodiagnóstico infantojuvenil e orientação de pais. Em todos esses campos, os testes psicológicos serão o instrumental privilegiado para a atuação do novo profissional. As primeiras associações de Psicologia, bem como os primeiros periódicos, são criadas na década de 40, como por exemplo, a Sociedade de Psicologia de São Paulo (hoje oficialmente Associação de Psicologia de São Paulo) e a Associação Brasileira de Psicotécnica (hoje Associação Brasileira de Psicologia Aplicada). Não por acaso, em 1953, a PUC-Rio cria seu Curso de Graduação em Psicologia. Desse modo, está pronto o terreno para que, com cursos recém-criados e com profissionais que atuam no campo – que se intitulam psicólogos –, se filiem a associações de Psicologia, escrevam para periódicos e façam surgir o movimento para a regulamentação (27 de agosto de 1962 com a Lei nº 4.119) da profissão e dos cursos. Continua muito parecido com o ensino anterior, só que agora os professores têm formação universitária (em áreas diversas, como Direito, Medicina, Teologia, Economia, embora a maioria seja formada em Filosofia ou Educação) e são autodidatas em Psicologia. Entretanto, alguns fazem cursos de Psicologia, em nível de pós-graduação, no exterior. A partir dos anos 70, o interesse pela área da Psicologia cresce. Os primeiros trabalhos científicos da Psicologia no Brasil são de autoria de médicos e educadores, sendo que a medicina foi uma das áreas que propiciou os seus estudos. Com a ascensão da Psicologia Científica (fisiologia mental), têm-se a ideia de que a natureza humana seria composta por inteligência, sentimento e atividade. Henrique Roxo: fez a associação entre a Psicologia Experimental, a Psiquiatria e Neurologia. Antônio Austregesilo: foi um médico e neurologista que estudou os problemas psicológicos. Maurício Medeiros: estudou Psicologia Experimental no exterior; e fundou o Laboratório de Psicologia Experimental da Clínica Psiquiátrica do Hospital Nacional (RJ). Miguel, Álvaro e Branca Osório: fundaram o Laboratório de Fisiologia (RJ) e realizaram pesquisas sobre reflexos e atividade nervosa central. Domingos Jaguaribe: elaborou métodos para tratamento do alcoolismo. Ulisses Pernambuco:trabalhou no Instituto de Psicologia e da Assistência a Psicopatas (PE) e foi o pioneiro da Psiquiatria Social. Lourenço Filho: foi um professor da Escola Normal de Piracicaba (1920) que utilizou teorias norte-americanas, gestaltistas, além de behavioristas e pavlovianas. O INEP foi criado inicialmente sob sua direção. A Psicologia Experimental entrou no currículo das Escolas Normais (que hoje são as de Ensino Médio e de cursos técnicos), pois desde a origem das escolas é possível perceber uma associação entre a pedagogia e os estudos psicológicos, sendo que juntos são extremamente importantes para o desenvolvimento infantil. Antes de 1962 a Psicologia era atuante aos problemas sociais da época, mas ainda não formalizada como profissão, sendo que essa formalização só ocorreu entre de 1962 e 1980, com atuação em escolas e inclusão dos "transtornados". Entretanto, com o Regime Militar foi tolhido o direito de fala e oposição, tendo diversos psicólogos presos, abrindo uma porta para a psicologia nas salas de aula. Após 1980, a Psicologia atuou em diversos aspectos sociais, com publicações de livros, em congressos, a formação das CRPs, o papel do psicólogo nas lutas pelas desigualdades. Apenas há 50 anos a psicologia foi regulamentada no Brasil tendo base nos fundamentos humanistas e, com o passar dos anos, foram incluindo-a para o melhor entendimento de várias áreas (política, social etc.). REFERÊNCIAS: MASSIMI, Marina. História da psicologia brasileira: da época colonial até 1934. São Paulo: EPU, 1990 (CAP. 3); Aula da professora Tiara Melo (UNIFACS) em 31.05.2021
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