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Biodiversidade Global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade

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Diversidade Biológica, 
Evolução e Conservação 
das Espécies
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Claudio da Cunha
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Biodiversidade global e fatores que 
influenciam na perda de Biodiversidade
• Diversidade biológica
• Fatores que reduzem a Biodiversidade
• Fatores que ampliam a Biodiversidade 
 · Aprender sobre os principais e mais biodiversos grupos de seres vivos 
e os mecanismos associados com a amplificação da diversidade 
biológica e sua distribuição; aprenderemos também sobre as 
principais atividades humanas que ameaçam as espécies.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
 
Observe o gradual ganho de conhecimento sobre a biodiversidade e como 
a construção do conhecimento foi lenta. Observe que os padrões de 
biodiversidade não possuem uma explicação única e, portanto, necessitam 
de conhecimentos múltiplos para uma compreensão integradora. Perceba 
os principais fatores que ameaçam a biodiversidade e a interação entre eles. 
ORIENTAÇÕES
Biodiversidade global e fatores que 
influenciam na perda de Biodiversidade
UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Contextualização
Se você mora em uma cidade, está acostumado a ver certas espécies de animais 
e plantas. Porém, muito provavelmente a maioria delas não pertence às espécies 
nativas do Brasil. Para muitas pessoas é difícil acreditar que a banana, o coco, 
a manga, o abacate, entre outras, não são frutas brasileiras. Da mesma forma, 
pombos, pardais, gatos e cães foram trazidos ao nosso país durante a colonização.
A globalização não é apenas comercial, mas também envolve os seres vivos. 
Nesse contexto, apontar quais são as espécies nativas do Brasil e as 
introduzidas, passou a ser um desafio para especialistas. Cabe aos biólogos não 
só zelar pela biodiversidade de nosso país, mas também entender e saber explicar 
de onde vem tanta diversidade, bem como conseguir apontar os principais fatores, 
que podem reduzir ou destruir completamente nossos ecossistemas.
Tecnicamente, o profissional deve saber também apontar mecanismos, 
tecnologias e estratégias que podem manter e ampliar a biodiversidade do 
nosso país.
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Diversidade biológica 
De forma simplista, utiliza-se o termo diversidade biológica ou biodiversidade 
para indicar o número de espécies que ocorrem em um determinado local. Pode-se 
utilizar o termo biota quando o objetivo é indicar o total de seres vivos de forma 
generalista, encontrados em certo ecossistema ou habitat, mas sem definir o 
número de espécies existentes.
Biota: conjunto de seres vivos que vivem em um determinado local, quando os seres vivos 
são microrganismos, pode-se utilizar o termo microbiota.
Na Política Nacional de Meio Ambiente nº 6.938, está a definição de poluição ambiental 
como fatores, “afetem desfavoravelmente a biota”, entre outros.
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O termo diversidade biológica é de uso bastante recente e o seu sinônimo 
“biodiversidade” começou a ser utilizado em 1985 por W.G. Rosen, no Foro Nacional 
de Biodiversidade, em Washington (Sole-Cava, A.M., em Matioli, S.R., 2001).
A identificação das espécies é feita por especialistas em taxonomia ou sistemática 
de certos grupos biológicos, sendo denominados como taxonomistas ou sistematas. 
A sistemática utiliza padrões morfológicos, ecológicos, comportamentais, temporais 
e mais modernamente moleculares (genes, cromossomos, proteínas, enzimas) para 
realizar a identificação das espécies, que recebem um nome científico.
Dependendo da área de estudo, pode-se subdividir a biodiversidade em três 
níveis: biodiversidade genética (variabilidade genética dos indivíduos de uma 
população), biodiversidade orgânica (dentro de populações de uma espécie) e 
biodiversidade ecológica (produto da interação entre diversas populações).
Pode-se afirmar com certeza que nunca saberemos quantas espécies de seres 
vivos existem no planeta modernamente, pois além do baixo número de especialistas 
em taxonomia, temos ainda um número excepcionalmente grande de ambientes 
para pesquisar de difícil acesso e o risco iminente de destruição desses locais 
por ação humana. Vamos extinguir grande parte das espécies sem termos tido 
conhecimento de sua existência; a biodiversidade é valorizada quando podemos 
retirar produtos de importância comercial ou farmacêutica dos seres vivos. Quando 
se entra na discussão sobre o assunto é inevitável utilizar como exemplo didático, 
que ainda existem remédios para serem descobertos nos animais e vegetais. 
Mas isso é apenas uma forma de tentar dar uma valoração financeira palpável para 
as pessoas se interessarem pelo assunto.
Partindo do pressuposto que todos os seres vivos estão intrinsecamente 
interligados entre si e estes com o meio abiótico, a retirada de qualquer espécie 
trará reflexos nas cadeias alimentares e na dinâmica populacional, sejam em macro 
ou microecossistemas. Porém esse tipo de raciocínio geralmente está distante do 
cotidiano e não afeta a percepção das sociedades humanas.
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Mas, quantas espécies existem no mundo? Esse número é muito difícil de ser 
definido dependendo do grupo analisado. Podemos avaliar a biodiversidade em 
diferentes níveis taxonômicos em ordem decrescente de biodiversidade: reinos, 
filos, classes, ordens, famílias e gêneros até chegar no nível específico, ordenamento 
tipicamente utilizado em zoologia; em botânica utiliza-se o termo divisão no lugar 
de filo e mais comumente utilizam o táxon tribo entre outras variações dependendo 
dos autores utilizados como base para análise sistemática. Cada grande ramo de 
pesquisa usa seus próprios níveis taxonômicos mais importantes e expressivos.
Tabela 1
Grupo No de spp. Estimativa Alta Estimativa Baixa Favorável Provável/Real
Vírus 4.000 1.000.000 50.000 400.000 100
Bactérias 4.000 3.000.000 50.000 1.000.000 250
Fungos 72.000 2.700.000 200.000 1.500.000 21
Protistas 40.000 200.000 60.000 200.000 5
Algas 40.000 1.000.000 150.000 400.000 10
Plantas 270.000 500.000 300.000 320.000 1,2
Nematóides 25.000 1.000.000 100.000 400.000 16
Crustáceos 40.000 200.000 75.000 150.000 3,8
Aracnídeos 75.000 1.000.000 300.000 750.000 10
Insetos 950.000 100.000.000 2.000.000 8.000.000 8,5
Moluscos 70.000 200.000 100.000 200.000 2,9
Cordados 45.000 55.000 50.000 50.000 1,1
Outros 115.000 800.000 200.000 250.000 2
Totais 1.750.000 111.655.000 3.635.000 13.620.000 7,78
Fonte: Matioli, Sérgio Russo,2002 
A partir da tabela acima, vamos descrever os que apresentam maior importância, 
em relação à biodiversidade.
Dentro dos filos invertebrados, a maior biodiversidade está no Filo dos artrópodes, 
com mais de um milhão de espécies descritas (mais de 1.065.000 espécies) e dentro 
deste, seguem as classe dos insetos a maior de todas, com 950.000, seguida por 
quelicerados(aracnídeos) com 75.000 espécies e crustáceos, com 40.000 espécies. 
Dentro da classe dos insetos, a ordem mais biodiversa é a dos coleópteros (besouros, 
vagalumes, carunchos) representando praticamente metade das espécies da classe, 
seguido por dípteros(moscas, pernilongos), lepidópteros(borboletas e mariposas) 
e os himenópteros (abelhas, formigas e vespas ).
Importante!
Na cultura ocidental, tendemos a considerar como animais importantes apenas os 
vertebrados terrestres (sobreviventes do dilúvio bíblico), mas um terço das espécies de 
seres vivos do planeta Terra é representado pelos muitos tipos de besouros. 
Você Sabia?
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Observe vários grupos de seres vivos descritos nos gráficos abaixo e sua biodiversidade.
Figura 1
Fonte: www.hileiaamazonica.com.br
925.000 insetos
123.000 cordados
116.000 demais animais
30.000 protistas
69.000 fungos
27.000 algas
248.400 plantas vasculares
1.000 vírus
4.800 bactérias etc
Figura 2
Fonte: www.mzufba.ufba.br
As estimativas do número de plantas angiospermas variam em torno de 30 mil, 
além das já classificadas, restando a sistematizaçãode espécies raras e que ocorrem 
em locais de difícil acesso, particularmente nas florestas tropicais, onde sobram 
espécies e faltam pesquisadores; dentre as plantas, existem famílias de parasitas 
subterrâneas que vivem sugando a seiva de raízes de outras plantas e raramente 
dão flores, plantas que só vivem em altas montanhas e penhascos entre outras 
variantes que reduzem a chance de serem encontradas e classificadas.
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Porém, as plantas estão no ambiente terrestre, próximas de nós, enquanto diversos 
filos de animais ocorrem exclusivamente no assoalho oceânico, muitas vezes em 
enormes profundidades. Mais homens chegaram à lua do que nas profundezas abissais 
dos oceanos. Portanto, nesses locais a biodiversidade é mensurada por dragagens que 
dão amostras bastante superficiais do que realmente deve existir. O mesmo vale para 
a microbiota, o conjunto de seres vivos microscópicos que não vemos, mas estão em 
todo lugar, mantendo a estrutura dos ecossistemas sem que saibamos.
Documentário Seres Abissais. Disponível em: https://goo.gl/pH5WVA
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Observe que certos grupos apresentam baixo número descrito em relação á 
estimativa, como os nematoides. O grupo Nematoda apresenta uma infinidade 
de espécies vivendo em locais pouco frequentados por humanos e são também 
encontradas muitas espécies parasitas em literalmente qualquer animal que se 
estude com mais rigor. Porém, o esforço de amostragem é baixo, além de existirem 
pouquíssimos biólogos especialistas em nematoides, excetuando-se as espécies que 
parasitam humanos, animais e vegetais domesticados de interesse econômico.
Merece destaque também o grupo dos fungos, com aproximadamente 72.000 
espécies descritas e talvez, mais de 2 milhões ainda por serem analisadas e 
classificadas. Os fungos (cogumelos, bolores, leveduras) embora sejam “esquecidos” 
pelos humanos, são seres essenciais para a manutenção da vida na Terra, cumprindo 
o papel de decompositores da matéria vegetal, reciclando os minerais e nutrientes 
para a base das cadeias alimentares terrestres.
Caso brasileiro: Uma nova espécie de planta carnívora, a Drosera magnífica foi descrita em 
2015, encontrada em apenas um morro na cidade de Conselheiro Pena, estado de Minas 
Gerais. Novas espécies não estão apenas no meio da floresta amazônica, mas ás vezes 
próximas de nós. Por existirem pouquíssimos indivíduos, e de ocorrência restrita (endêmica), 
a espécie descrita já inicia sua história criticamente em risco de extinção. 
Veja uma reportagem sobre o caso em http://goo.gl/RPUlnh
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Dentro do grupo dos vertebrados temos algumas estimativas, que se modificam 
constantemente tanto pela descrição de novas espécies, como pela extinção de 
outras. Observe a tabela abaixo:
Tabela 2
Grupo principal (classe) Grupo secundário (subclasse, ordem) Número aproximado de espécies
Peixes
Peixes cartilaginosos (arraias, tubarões e quimeras) 800
Peixes ósseos 23.707
Ciclostomados (lampreias e feiticeiras) 80
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Grupo principal (classe) Grupo secundário (subclasse, ordem) Número aproximado de espécies
Anfíbios
Anura (sapos, rãs, pererecas) 3.750
Urodela (salamandras) 400
Gymnophiona(cobras cegas) 160
Répteis
Lepidosauria (lagartos e cobras) 5.700
Testudomorpha ou quelônios (tartarugas) 250
Crocodilia 21
Aves 8.750
Mamíferos 4.050
Tabela baseada em Pough, 2002
Dentro do mundo dos vertebrados (Filo Chordata, Subfilo Vertebrata), os 
animais mais biodiversos são os peixes, com mais da metade das espécies de 
vertebrados descritos.
Outra peculiaridade dos peixes é que 
embora os oceanos cubram a maior parte da 
superfície terrestre, o número de espécies de 
água doce é surpreendentemente elevado: 
aproximadamente 40% das espécies de 
peixes vivem em água doce, embora rios e 
lagos ocupem apenas 0,01% da superfície 
terrestre! (Pough, 2002). 
Lembre-se que os peixes são os 
primeiros vertebrados a surgir no 
registro fóssil, ou seja, eles estão 
habitando o planeta a muito mais 
tempo do que os animais terrestres 
e tiveram muito mais tempo para 
atingir o número de espécies que 
encontramos hoje. 
A explicação para o fenômeno foi estudada nos módulos anteriores: a formação 
de espécies depende principalmente de isolamento geográfico e reprodutivo. 
Do ponto de vista real, não existem “oceanos”, mas apenas um oceano, pois todas 
as denominações (Atlântico, Pacifico, Ártico, etc) criadas por nós são na realidade 
um único corpo de água salgada, com condições físicas bastante estáveis. Já os 
rios apresentam subdivisões em bacias e microbacias que os isolam e permitem 
os processos de isolamento necessários para a formação de novas espécies, além 
de meios físicos com enorme variação (pH, temperatura, oxigenação etc.), que 
também formam um fortíssimo conjunto de pressões ambientais que selecionam 
os mais aptos a sobrevivência.
Fatores que reduzem a Biodiversidade
Redução de áreas naturais
Grande parte do planeta Terra já passou por processos de degradação por influência 
humana, denominadas como áreas antropisadas. Com a redução de hábitats, são 
reduzidos todos os recursos para a sobrevivência das espécies, como áreas de 
nidificação, reprodução, caça, abrigo e fontes de água e alimento. Particularmente, 
para os animais carnívoros, os territórios de caça podem ser muito grandes. Com a 
extinção dos grandes carnívoros, ocorrem desequilíbrios populacionais que produzem 
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
alterações de nichos ecológicos, migrações e competição intra e interespecífica, 
podem tornar abundantes certas espécies em detrimento de muitas outras. Se aves 
insetívoras desaparecem, aumenta o número de populações de insetos, como as 
formigas cortadeiras, que por sua vez vão destruir as plântulas jovens que fariam 
a reposição das árvores que vão morrer naturalmente, produzindo um colapso do 
ecossistema em longo prazo. Assim como esses, muitos outros exemplos de diferentes 
tipos de perturbação são disparados com a redução de habitats.
Em áreas alteradas ocorre uma alteração da dinâmica e espécies com maior 
capacidade competitiva e reprodutiva podem suplantar outras espécies e dominar 
o novo ecossistema pós-alteração.
Após uma alteração ambiental, os processos de sucessão ecológica se iniciam, 
mas os ecossistemas nunca mais serão iguais ao anterior; durante esse processo pode 
ocorrer perdas extremamente significativas de biodiversidade, com o predomínio de 
poucas espécies mais competitivas e mais generalistas em detrimento de espécies 
menos competitivas e mais exigentes.
Efeito fundador e endocruzamento
Animais e vegetais assim como os outros seres vivos podem se dispersar de 
forma proposital ou não, saindo de seus habitats originais e ocupando novas áreas. 
Geralmente, quando uma área é ocupada por um com poucos organismos, levam 
consigo um “pool gênico” restrito, transmitindo a seus descendentes uma variedade 
de genes que se alteraram apenas por mutações genéticas aleatórias nas células 
germinativas, produtoras de gametas e esporos. Quando encontramos populações 
com características muito semelhantes, e restritas a certa região, supomos que está 
ocorrendo o efeito fundador. Em humanos, descobriu-se análises genéticas e que o 
transtorno bipolar que ocorre especificamente em um grupo de imigrantes protestantes 
norte-americanos (Amish), é derivado de genes específicos para essa doença que 
vieram com uma família alemã imigrante, transmitidos através dos séculos. Nesse 
grupo, também ocorre em endocruzamento (consanguíneo), por motivações religiosas. 
No Brasil, há inúmeras características físicas ou doenças genéticas restritas a certas 
regiões ou cidades. O mesmo raciocínio se aplica a todos os organismos vivos.
Figura 3. Bothrops insularis, a jararaca Ilhoa, encontrada na Ilha da queimada Grande, 
Itanhaém –SP, conhecida como “Ilha das Cobras”.
Fonte: Wikimedia / Commons
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13Descendentes de pouquíssimos indivíduos originários do continente a jararaca 
Ilhoa tornou-se a única espécie de jararaca arborícola, adaptando-se para se 
alimentar de aves, é endêmica e apresenta baixa variabilidade genética.
Veja um pequeno vídeo sobre a jararaca ilhoa em https://goo.gl/SNkRsy
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Fragmentação de áreas naturais
Um dos principais fenômenos em curso no Brasil é a fragmentação das áreas 
naturais em todos os biomas. Quando dividimos as propriedades para a agricultura, 
pecuária ou loteamentos é obrigatória a manutenção de áreas denominadas como 
reservas legais de áreas de proteção permanente (APPs). Porém, acabam sendo 
deixadas pequenas áreas isoladas, onde o endocruzamento produz uma forte 
depressão genética, determinando o desaparecimento das espécies gradualmente 
através do tempo. 
Figura 4
Fonte: www.oeco.org.br
Coleta seletiva de espécies silvestres
Muitas espécies silvestres possuem valor econômico. Dessa forma o homem 
ao entrar nos ambientes naturais, vai retirar seletivamente as espécies de animais 
e vegetais associados a sua sobrevivência direta ou fonte de recursos (caça, pesca 
e extrativismo descontrolado). Assim, os mares estão com os estoques de peixes 
e frutos do mar mais valiosos, sempre sob maior risco de extinção, e o mesmo 
ocorre no ambiente terrestre. Se a espécie retirada for uma espécie chave para o 
ecossistema, maior será o impacto sobre as cadeias alimentares e por consequência, 
a redução ou extinção de um maior número de organismos vivos.
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Figura 5. Apreensão de carga de palmiteiros que retiravam ilegalment 
 o produto do Parque Estadual Carlos Botelho-SP
Fonte: www.ambiente.sp.gov.br 
Introdução de espécies exóticas invasoras 
Quando uma nova espécie é introduzida em um novo habitat, podem ocorrer 
alterações profundas na dinâmica populacional de todo o ecossistema. Como 
exemplos clássicos, coelhos e sapos na Austrália, a mosca da bicheira na África, e no 
Brasil o caramujo gigante africano Achatina fulica, o mexilhão dourado Limnoperna 
fortunei, e o eucalipto, representam impactos incalculáveis sobre biodiversidade 
local. Muitas vezes, a espécie exótica não desperta simpatia, como o caramujo 
africano e seu controle não enfrenta resistência pelas sociedades protetoras dos 
animais. Mas outros, por questões estéticas recebem uma proteção muitas vezes de 
ordem puramente emocional, sem base técnica, como os javalis e cães domésticos. 
Figura 6. Caramujo Achatina fulica, uma das principais espécies invasoras do mundo. 
Causa destruição de plantações e é hospedeiro de parasitoses. 
Fonte: Wikimedia / Commons
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Figura 7. Mexilhão dourado Limnoperna fortunei espécie exótica, 
que no Brasil apresenta alto poder invasivo e destrutivo.
Fonte: Wikimedia / Commons
Saiba mais sobre o mexilhão dourado na página do IBAMA: 
Disponível em: http://goo.gl/pdb4wWEx
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Fatores que ampliam a Biodiversidade 
Coevolução e fecundação cruzada
Os seres vivos evoluem dentro de padrões de sobrevivência seletiva sob os diferentes 
desafios ambientais e ecossistemas particulares, mas chama a atenção que dentro do 
filo dos artrópodes, existe a classe com a maior biodiversidade da terra: os insetos.
Como os insetos atingiram tamanha diversidade biológica? Várias vertentes de 
pesquisa tiveram que fornecer pistas para montar o quebra-cabeça. Percebeu-se pelo 
registro fóssil que os insetos são muito antigos, já presentes no início da conquista 
do meio terrestre, mas que seus representantes ainda não tinham apresentado a 
explosão de biodiversidade até o final do período Cretáceo (fim dos dinossauros); 
mas até esse momento não havia no registro fóssil a presença de plantas com flores 
especializadas em atração de insetos para a polinização cruzada.
Se uma planta apresentar autofecundação, ou cruzamento com parentes próximos, 
ocorre um fenômeno de estabilidade genética ou até mesmo de depressão genética, em 
que genes deletérios podem inviabilizar o desenvolvimento dos embriões, das plântulas ou 
adultos, de forma semelhante ao “casamento consanguíneo” em animais. O grão de pólen 
contém o gameta masculino, e este é primitivamente disperso pelo vento (anemofilia) em 
gimnospermas e angiospermas de várias famílias, como as gramíneas. Para ocorrer a 
polinização pelo vento é necessário investir grande quantidade de matéria e energia para 
produzir pólen em enormes quantidades, suficiente para ser jogado aleatoriamente ao 
vento e por sorte atingir o estigma floral de um indivíduo da mesma espécie.
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
A fecundação cruzada permite uma amplificação de variabilidade genética, mola 
propulsora dos processos evolutivos. A seleção atua sobre variedades melhor adaptadas, 
mas se a variabilidade é baixa, a evolução é lenta. Algumas plantas começaram a ter 
seu grão de pólen levado por insetos, que provavelmente se alimentavam do pólen, 
mas com as visitas em várias flores acabavam por aumentar a variabilidade genética dos 
vegetais. Lentamente, as estruturas foliares que apresentavam cores diferentes, atraiam 
mais insetos, ampliando a variabilidade dos vegetais. Surgem então flores modernas 
capazes de atrair especificamente os insetos que melhor dispersavam seu pólen, 
surgindo os nectários florais, moléculas odoríferas, cores e formatos específicos para a 
atração de mais insetos, que por sua vez, sofreram uma seleção natural para voar mais 
e melhor em busca de alimento, amplificar sua visão para cores, melhorar seu olfato 
com antenas cada vez mais eficazes e aparelhos bucais capazes de buscar o néctar em 
flores com os mais diversos formatos, em um processo denominado coevolução, ou 
seja, a evolução conjunta e concomitante de dois ou mais seres vivos.
Os processos coevolutivos acabam produzindo os mais espetaculares casos de 
seres “feitos um para o outro”, em todos os grupos de seres vivos, mas de forma 
muito mais acentuada envolvendo as angiospermas e os insetos polinizadores.
A mais biodiversa família de plantas do mundo, as orquidáceas, apresentam estreita 
relação com seus principais polinizadores, as abelhas, que por sua vez apresentam 
também uma das maiores biodiversidades entre os insetos. Mas as orquídeas se 
adaptaram para atrair além de abelhas, outros insetos, como as moscas. 
Não apenas as orquídeas, mas nesse caso, os perfumes não são agradáveis, 
lembram carne em decomposição, fermentação e outros atratores de moscas, 
conjuntamente com cores e pelos que lembram cadáveres. Esses conjuntos 
de características florais que atraem especificamente certos polinizadores são 
chamados de síndromes de polinização ou síndromes florais. 
Ecologia evolutiva: estudo das interações entre os seres vivos e o ambiente associado com 
os processos evolutivos induzidos por essas interações. A cada novo fator ambiental, novos 
padrões populacionais surgirão, alterando as pressões evolutivas sobre os organismos.
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Biodiversidade biológica na história do planeta
As espécies surgem e desaparecem através do tempo de forma natural; a partir 
do registro fóssil, acredita-se que hoje temos bem menos de 1% das espécies que 
já viveram na Terra em algum momento do passado.
Os períodos geológicos (devoniano, jurássico, quaternário etc.) são delimitados 
por grandes eventos globais que causaram extinções em massa e que alteraram 
profundamente o registro fóssil, os ecossistemas terrestres e toda a biodiversidade do 
planeta; a primeira grande extinção em massa ocorreu quando o oxigênio produzido 
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por cianobactérias ultrapassou um ponto de reação com minerais e passou a “sobrar” 
na atmosfera; para nós, seres aeróbicos, o oxigênio é fundamental para a vida, mas 
para os organismos anaeróbicos, o oxigênio pode ser tóxico e assim, esse novo 
componente da atmosfera eliminou o produto de bilhões de anos de biodiversidade 
anaeróbica, mas permitindoo florescimento de um novo padrão de vida na terra. 
O mesmo ocorreu em dezenas de períodos glaciais, vulcanismo extremo ou queda 
de meteoritos no planeta; o fim dos dinossauros há 65 milhões de anos no chamado 
evento “K”, no fim do Cretáceo é apenas o mais famoso, pois os dinossauros possuem 
um grande apelo midiático e foi amplamente utilizado em animações e filmes.
Evento K
O fim da era mesozóica ocorreu com a queda de um grande meteorito onde hoje é a baía de 
Yucatan, no golfo do México. O quebra-cabeça foi sendo montado aos poucos, mas a principal 
evidência do fenômeno é uma fina camada do elemento químico Irídio em todas as rochas do 
planeta na camada estratigráfica correspondente a 65 milhões de anos. O Irídio é extremamente 
raro na crosta terrestre, mas muito comum em meteoritos; portanto após a queda, ocorreu sua 
pulverização e o espalhamento por toda superfície terrestre; é possível calcular que a atmosfera 
tornou-se escura por longos períodos, com alterações climáticas globais profundas, causando 
extinções em massa não apenas dos dinossauros, mas de grande parte dos seres vivos do planeta. 
Com o fim dessa era, inicia-se a diversificação de aves e mamíferos, que já estavam presentes, mas 
incapazes de se desenvolver provavelmente pela competição extrema com os répteis.
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Até o século 19, a diversidade de 
animais e vegetais descoberta após as 
grandes navegações, era incompreensí-
vel. A percepção de que os continentes 
se movimentam na deriva continental, 
ocorreu a partir da década de 50 do 
século 20. Hoje, sabemos que a Amé-
rica do sul, a África, a Índia, Antártica, 
Austrália e Nova Zelândia faziam parte 
de um grande e único continente deno-
minado Gondwana, ao sul do planeta, 
enquanto ao norte, estava a Laurásia, 
composta pela América do Norte, Gro-
enlândia, Europa e Ásia, produto da 
fragmentação da última Pangea.
Figura 8
Fonte: Wikimedia / Commons
As emas no Brasil, os avestruzes africanos, os emus e casuares da Oceania, 
possuem ancestrais comuns que viviam na Gondwana e que com a separação 
dos continentes, evoluíram dentro dos padrões ecológicos locais, mas mantendo 
características ancestrais ou primitivas (apomorfias) que denotam claramente seu 
parentesco e ancestralidade comuns. Os seres vivos que apresentam essa condição 
são denominados gondwânicos, enquanto ao norte são denominados laurasianos. 
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Figura 9. Aves paleognata (A) avestruz; (B) ema; (C) ave-elefante – extinta; (d) inhambu; (E) casuar; (F) Emu; 
G) moa – extinto; (H) kiwi (Fonte Wikipédia exceto (B) foto de Augusto Gomes e (D) foto de Jarbas Mattos).
Fonte: http://vidadasaves.com/evolucao-das-aves-ratitas/ 
Observe que Avestruzes(A), Emas (B) e Emus (F), são claramente aparentados, 
com ancestrais comuns gondwânicos.
Durante a passagem do tempo geológico, o planeta esfriou e esquentou 
diversas vezes. Em cada glaciação, a água do planeta fica presa na forma de gelo, 
abaixando o nível dos oceanos, quando surgem pontes naturais ligando ilhas e 
continentes. Dessa forma, o ser humano atravessou o estreito de Bering entre a 
Ásia e a América do norte, e a fauna do sul da Ásia chegou em parte das ilhas que 
formam a Oceania. A movimentação nas placas tectônicas permite o surgimento 
de montanhas e o afundamento do continente abaixo do nível do mar. 
O surgimento da América central, que ligou a América do sul com a América do 
norte em um tempo razoavelmente recente, permitiu um enorme fluxo migratório 
de fauna, antes da chegada dos seres humanos, cerca de 13 mil anos atrás e desse 
mesmo modo em outro locais do globo
Modernamente, estamos no período 
quaternário, que se iniciou com o fim da 
última grande glaciação a cerca de 20 mil 
anos atrás. Porém, já é possível afirmar 
que a atividade humana dos últimos dois 
séculos está produzindo uma alteração 
global com extinções tão grandes como as 
que ocorrem nos grandes cataclismas do 
passado, iniciando para alguns autores um 
novo período geológico, o antropoceno 
(antropos, homem; ceno, tempo).
Figura 10
Fonte: Wikimedia / Commons
Desafio: neste exato momento, os cães domésticos abandonados próximos de áreas de conservação da vida 
silvestre estão se organizando em matilhas caçando a fauna local e exterminando populações locais. Qual a 
decisão esperada de um técnico responsável pela manutenção da biodiversidade, em um caso como esse.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
IBAMA - Mexilhão Dourado
Leia sobre o mexilhão dourado e outras espécies exóticas invasoras na página 
do IBAMA
http://goo.gl/pdb4wW
 Vídeos
Seres Abissais / Criaturas das Trevas (Dublado HD Completo) Discovery Channel
A diversidade de seres vivos não se restringe aos animais e plantas que estão ao nosso 
alcance. Assista ao vídeo sobre os seres abissais disponível em:
https://goo.gl/pH5WVA
https://goo.gl/l0Vtoi
Um mundo sem abelhas?
As espécies exóticas podem reduzir ou eliminar as espécies nativas, mas podem também 
se integrar e tornar-se úteis; hoje, a principal polinizadora em áreas antropizadas é a 
abelha Apis melifera, que embora seja exótica no Brasil, agora já é uma espécie chave 
para outras espécies.
Veja o ducumentário sobre o colapso das colmeias.
https://goo.gl/U44AU8
 Leitura
Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais do Brasil
Leia o artigo científico “Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação 
Federais do Brasil”.
http://goo.gl/YFhazL
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UNIDADE Biodiversidade global e fatores que influenciam na perda de Biodiversidade
Referências
CUNHA, Claudio da. Genética e Evolução Humana. Campinas, SP: Átomo, 2011.
FUTUYMA, Douglas. Biologia Evolutiva. 3.ed. Editora Funpec, 2009.
POUGH, F.Harvey, HEISER, J.B., MCFARLAND, W.N. A vida dos vertebrados. 
2.ed. São Paulo: Atheneu, 1999.
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