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REFORMA DA PREVIDÊNCIA PRINCIPAIS MUDANÇAS por Sandro Lucena Rosa 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO REGIMES PREVIDENCIÁRIOS: REPARTIÇÃO E CAPITALIZAÇÃO COMO SERÁ FINANCIADA A NOVA PREVIDÊNCIA? VALOR DOS BENEFÍCIOS BENEFÍCIOS NA NOVA PREVIDÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS 3 INTRODUÇÃO A Previdência Social brasileira, da Constituição Federal de 1988 para cá, já foi reformada, pelo menos, quatro vezes. Se formos apurar o histórico legislativo que alterou nosso regime de Previdência, o número aumenta consideravelmente. Em todas as ocasiões, é possível observar um esforço no sentido de recrudescer as regras de acesso aos benefícios com o intuito de equilibrar o saldo do caixa previdenciário. Após o insucesso da PEC n. 287/16, intentada pelo então presidente Michel Temer, o atual Chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, busca a aprovação da PEC nº 06/2019, responsável por instituir a Nova Previdência. Uma das justificativas é a questão da pirâmide etária, que está invertendo, pouco a pouco – um alarme preocupante no regime de repartição simples, posto que uma geração é dependente da outra. Aponta-se que em 2019 a Previdência poderá consumir três vezes mais recursos que saúde, educação e segurança juntos. A reforma da Previdência, assim, tem por objetivo “equilibrar” essa conta, de forma que o sistema tenha um maior equilíbrio atuarial. Segundo a exposição de motivos da proposta, três pilares a sustentam: combate à fraude e redução da judicialização (MP nº 871/19); fortalecimento do processo de cobrança da Dívida Ativa da União; equidade, de forma a igualar os regimes previdenciários dos servidores e dos trabalhadores da iniciativa privada. Sem a pretensão de esgotar completamente o assunto ou opinar de maneira política/ideológica sobre a Nova Previdência, este ebook tem o objetivo de abordar as principais mudanças trazidas com a proposta, ressalvando-se que está limitado ao que estão debatendo hoje, em texto aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Com certeza serão feitas emendas e algumas coisas poderão mudar, mas já é possível se adiantar e ficar por dentro do que pode ser alterado. Vamos lá? 4 REGIMES PREVIDENCIÁRIOS: REPARTIÇÃO E CAPITALIZAÇÃO Para compreensão desse ponto da Reforma da Previdência, é preciso, antes, analisar os regimes previdenciários. Sob o aspecto financeiro, eles podem ser de: 1. repartição simples; ou 2. capitalização. O primeiro é o adotado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que é gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), instituído no art. 201 da Constituição Federal. O segundo, por sua vez, é o adotado nos planos de previdência privada, por exemplo, oferecido por bancos. O regime de repartição simples tem por fundamento a solidariedade entre os indivíduos e um pacto entre as gerações (também chamado de “pacto intergeracional”). Dessa forma, aqueles trabalhadores que estão na População Economicamente Ativa (PEA) contribuem para o custeio dos benefícios daqueles que já estão no grupo da População Economicamente Inativa (PEI). Em termos mais simples, significa dizer que quem está trabalhando sustenta quem já se aposentou. Além disso, esse regime possui uma ideia de “caixa”: à medida que o dinheiro entra na Previdência, esse orçamento é utilizado para o pagamento dos benefícios, não havendo uma ideia de “acumulação”. O regime de capitalização, por sua vez, opõe- se à ideia de pacto intergeracional. Assim, cada indivíduo fica responsável pelo custeio de seu benefício. As técnicas aqui adotadas assemelham- se às de um seguro comum ou de uma poupança. Consequentemente, existe a ideia de acumulação. O valor do benefício, portanto, dependerá diretamente do quanto o contribuinte aportou desde o início em seu fundo. A gerência desse valor no mercado permitirá que, ao final, haja quantia suficiente para custear sua aposentadoria. Como exemplo do sistema de repartição simples, temos o caso do Brasil e da França. Já como exemplo do sistema de capitalização, temos o caso do Chile. Cabe ressaltar que o Chile migrou para esse regime no governo de Augusto Pinochet, precisamente em 1981. https://blog.sajadv.com.br/principios-do-direito-previdenciario/ Alguns países nórdicos, como Suécia e Noruega, adotam um terceiro regime, chamado de “contas virtuais”. Ele é tratado por especialistas, como um regime “intermediário”. Em síntese, nota-se que o assunto não é pacífico e que a escolha varia entre os países - e isto não é de espantar, afinal cada nação possui suas nuances em relação à qualidade de vida, emprego e saúde. E isto reflete no sistema de previdência. Cada sistema possui vantagens e desvantagens. O sistema de repartição simples tem a vantagem de fazer um “caixa” que não se baseia apenas na contribuição do segurado. Dessa forma, em tese, teríamos um benefício melhor, de valor mais alto. No Brasil, a Constituição Federal diversifica a base de financiamento da Previdência Social expressamente em seu art. 195. A consequência disso é que um segurado que tenha poucas condições financeiras pode ter um benefício de valor razoável. Isso porque, além de suas contribuições diretas, existirão outras contribuições que farão o “caixa” de custeio de sua aposentadoria. Atualmente, o sistema de repartição simples enfrenta três problemas. O primeiro deles diz respeito à questão demográfica do país: a expectativa de vida aumentou e a taxa de natalidade vem diminuindo. 6 Consequentemente, a população jovem (economicamente ativa) se torna menor, ano após ano. A consequência disso é que o custeio dos benefícios da geração anterior fica comprometido, porquanto existem menos pessoas para exercer atividade remunerada. Consequentemente, será menor a contribuição para a Previdência Social. O gráfico abaixo, originalmente divulgado pelo IBGE, simula a “pirâmide” da população brasileira: O segundo diz respeito à gerência do sistema público de repartição, que atualmente conta com déficit de servidores e que há pouco tempo era muito pouco informatizado. Essas questões, aliadas a outras vicissitudes do INSS, abrem espaço para a existência de fraudes, o que prejudica o “caixa” da autarquia. Igualmente, a má gestão das informações dos benefícios causa indeferimentos descabidos, o que gera judicialização e ainda mais custos. Enfim, o terceiro ponto é que a manutenção de regimes de repartição simples partem da premissa de que a população jovem estará trabalhando e que as empresas estarão funcionando, aptas a contribuir com a Previdência Social. É um cenário sempre otimista, mas deve-se ter em mente que o Brasil é um país marcado pelas crises financeiras – e nesses momentos, não há contribuição, o que também prejudica o caixa do INSS e a manutenção dos benefícios. O regime de capitalização, a seu turno, tem as vantagens de não submeter a existência e a manutenção de seus benefícios a uma álea futura, qual seja, a existência de população jovem empregada e empresas lucrando e contribuindo normalmente para o regime. As contribuições são contabilizadas de acordo com os aportes feitos pelo segurado. Isso, portanto, não o coloca à mercê de terceiros para garantir seu benefício previdenciário. Lado outro, uma desvantagem possível diz respeito ao valor dos benefícios, que tende a ser mais baixo. No caso do Chile, por exemplo, 90,9% dos aposentados recebem 149.435 pesos. Para se fazer uma comparação, o salário mínimo chileno é de 264 mil pesos. https://blog.sajadv.com.br/calculo-e-revisao-do-beneficio/ https://blog.sajadv.com.br/calculo-e-revisao-do-beneficio/ 7 Há ainda mais uma dificuldade no caso brasileiro, que pode ter impactos após a Reforma da Previdência. O regime de capitalização necessita de aportes, mas o brasileiro não possui uma educação financeira razoável. Ou seja, não é acostumado a poupar. Pesquisa feita pelo Banco Mundial em 2017 entre 144 países revela que o Brasil é o 101ºpior quando o assunto é poupar para a velhice. O mesmo estudo apontou que apenas 6% dos jovens entre 15 e 24 anos têm o hábito de poupar. Dentre esses poucos, outra pesquisa revela que 25% guarda o dinheiro em casa. Essa falta de educação financeira deve trazer entraves na realização de aportes. Ainda, fará com que existam dificuldades no futuro, no momento da aposentadoria. Consequentemente, criaria uma geração de aposentados que dependerão de terceiros ou de serviços básicos fornecidos pelo Estado. Por fim, deve-se destacar que a alteração dos regimes com a Reforma da Previdência terá um custo. Afinal, os aposentados de hoje estão contando com os trabalhadores de amanhã. Se hoje já é suscitado um déficit na Previdência, deixar de entrar dinheiro no “caixa” vai ainda piorar a situação. E tudo será financiado pela população. Esse valor, embora não tenha sido ainda divulgado, com certeza corresponde a uma cifra expressiva, na casa dos bilhões. 8 O que propõe a “Nova Previdência” A “Nova Previdência”, nomenclatura adotada pelo Governo Federal para evitar o nome “reforma”, estabelece que: Lei complementar de iniciativa do Poder Executivo federal instituirá novo regime de previdência social, organizado com base em sistema de capitalização, na modalidade de contribuição definida, de caráter obrigatório para quem aderir, com a previsão de conta vinculada para cada trabalhador e de constituição de reserva individual para o pagamento do benefício, admitida capitalização nocional, vedada qualquer forma de uso compulsório dos recursos por parte de ente federativo. Posteriormente, então, dispõe que “o novo regime de previdência social de que tratam o art. 201-A e o § 6º do art. 40 da Constituição será implementado alternativamente ao Regime Geral de Previdência Social e aos regimes próprios de previdência social e adotará, dentre outras, as seguintes diretrizes”. Até o presente ponto, podemos observar que, a despeito do que foi alarmado por muitas pessoas, não há pretensão de substituição por completo do regime de repartição simples, imediatamente. Contudo, é válido fazer a ressalva de que o §1º do art. 115, citado acima, dispõe que “a lei complementar de que trata o art. 201-A da Constituição definirá os segurados obrigatórios do novo regime de previdência social de que trata o caput”. Dentre as diretrizes, trazidas na PEC, destaca- se a existência de: 1. Contribuição definida: sabe-se o quanto irá contribuir e o impacto disso no valor de seu eventual benefício; 2. Garantia de piso básico: um dos pontos criticados acerca do regime de capitalização é que poderia haver benefícios abaixo do salário mínimo. Não é o que pretende o Governo, buscando para tanto a criação de um fundo solidário; 3. Gestão das reservas: será feito por entidades públicas e privadas, com regulamentação, assegurada “ampla transparência”. 4. Escolha: o trabalhador poderá escolher a entidade e a modalidade de gestão de reservas, sendo assegurada a portabilidade; 5. Impenhorabilidade: haverá exceção no caso de dívida de alimentos; 6. Uso compulsório das reservas pelos entes federativos é vedado; 7. Pode haver contribuições patronais, bem como do trabalhador, entes federativos e servidores. Em todo caso, não se admite a transferência de recursos públicos. Por fim, deve-se ressaltar que esse novo regime de capitalização pretende cobrir apenas algumas contingências, vale dizer, é menos abrangente do que o regime atual. Segundo o §2º do art. 115 proposto, compreende: 1. Benefício programado de idade avançada: aposentadoria, em outros termos; 2. Benefícios não programados: • Maternidade; • Incapacidade temporária ou permanente 3. Morte do segurado; 4. Risco de longevidade do segurado. Em arremate, ressalta-se que o item 55 da exposição de motivos deixa clara a intenção do governo em “introduzir, em caráter obrigatório, a capitalização tanto no RGPS quanto no RPPS”. Assim, hoje o regime de capitalização possui um caráter alternativo, porém para as gerações futuras, sejam trabalhadores da iniciativa privada ou do serviço público, pretende-se que o novo regime lhes seja obrigatório. 10 COMO SERÁ FINANCIADA A NOVA PREVIDÊNCIA? Uma mudança significativa, mas pouco debatida, diz respeito ao valor das contribuições, que passam a ser vertidas para o sistema de Previdência. E isso envolve tanto o Regime Geral de Previdência Social(RGPS), ao qual se vinculam os trabalhadores da iniciativa privada e os empregados públicos, por exemplo, como também o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), que reúne os servidores públicos, titulares de cargo efetivo. Dessa forma, torna-se relevante analisar as mudanças pretendidas no tocante às contribuições diretas feitas pelos segurados. A ideia, portanto, é comparar como elas são feitas hoje e como serão feitas se o texto for aprovado da maneira proposta. O financiamento da Seguridade Social É comum a crença de que a Previdência seja financiada somente pelo segurado. Trata-se, no entanto, de grande equívoco. O art. 194 da Constituição Federal estabelece princípios que demonstram a diversidade dessa base de financiamento. Ações integradas entre Poder Público e sociedade farão um sistema sustentável. O art. 195 da Carta Magna estabelece a fonte dos recursos da Previdência – apenas um deles é o trabalhador. A legislação infraconstitucional estabelece outras fontes de custeio da Previdência, não se limitando ao que está estabelecido na Constituição, portanto. A Lei nº 8.212/91 trata especificamente sobre o custeio da Seguridade Social, em seu art. 27. Nesse universo de fontes da Seguridade Social, nota-se que toda a sociedade acaba arcando com os custos do sistema de Seguridade (Previdência, Saúde e Assistência Social). Nesse sistema, dividem-se as fontes entre diretas e as indiretas. Segundo a doutrina, a primeira diz respeito às Contribuições Sociais, enquanto a segunda corresponde aos aportes realizados diante de recursos orçamentários da União. Apesar da referida classificação, consideremos o termo direto em sentido amplo neste artigo. Vale dizer: quanto será descontado do trabalhador em seu salário, mês a mês, com a aprovação das alterações propostas. https://blog.sajadv.com.br/reforma-da-previdencia-capitalizacao/ https://blog.sajadv.com.br/reforma-da-previdencia-capitalizacao/ 11 Como é hoje: RGPS E RPPS No RGPS, ou conforme as regras atinentes ao INSS, a contribuição da Previdência depende do tipo de segurado vinculado ao sistema. No caso de contribuintes individuais e facultativos, por exemplo, ela é de 20% do salário de contribuição, em regra. A exceção, no entanto, fica por conta de planos simplificados, que importam correspondentes restrições. Já para o segurado empregado, que trabalha com carteira assinada, as alíquotas variam de acordo com a sua remuneração. Assim, elas podem ser de três tipos: Remuneração Alíquota Até R$ 1.751,81 8% De R$ 1.751,82 até R$ 2.919,72 9% De R$ 2.919,73 a R$ 5.839,45 11% No RPPS, o valor varia de acordo com o respectivo plano. Afinal, cada ente federativo pode estabelecer seu regime de previdência. A Secretaria da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia, libera um índice de como os entes federativos aplicam suas alíquotas. O relatório é atualizado regularmente. Em regra, repete-se o que se aplica aos servidores públicos da União: 11% sobre a remuneração, que é o mínimo a ser descontado. Vale ressaltar, ainda, que no RPPS os aposentados e pensionistas continuam contribuindo, caso o valor de seus proventos supere o teto do RGPS, que hoje é de R$ 5.839,45. A exceção, no entanto, envolve o aposentado por invalidez. Neste caso, a contribuição só incidirá se exceder o dobro do teto do RGPS, que corresponde a R$ 11.678,90. No RGPS, no entanto, essa contribuição não existe, em decorrência da vedação constitucional estampada no art. 195, II da CF. Como ficará coma aprovação da Reforma da Previdência Como se sabe, a PEC nº 06/2019 visa alterar o sistema de contribuição dos empregados e servidores públicos para a Previdência. Embora não inove, ela aprofunda a ideia de progressividade. Assim, o valor da contribuição inicial tende a cair. Nada obstante, o valor da contribuição daqueles que recebem mais supera os 11% aplicados sobre a remuneração no RPPS. http://sa.previdencia.gov.br/site/2019/05/Aliquotas.csv http://sa.previdencia.gov.br/site/2019/05/Aliquotas.csv https://blog.sajadv.com.br/reforma-da-previdencia-calculo-aposentadoria/ 12 No RGPS, as variações serão de 7,5% até 11,68%. Variam, então, de um salário mínimo até o teto, que hoje correspondem a R$ 998 e R$ 5.839,45, respectivamente: Remuneração Alíquota Até R$ 998 7,5% De R$ 998 até R$ 2 mil 7,5% a 8,25% De R$ 2.0001 a R$ 3 mil 8,25% a 9,5% De R$ 3.000,01 a R$ 5.839,45 9,5% a 11,68% Já no RPPS, as variações de contribuição para a Previdência serão de um salário mínimo até as remunerações que superem R$ 39 mil: Remuneração Alíquota Até R$ 998 7,5% De R$ 998 até R$ 2 mil 7,5% a 8,25% De R$ 2.0001 a R$ 3 mil 8,25% a 9,5% De R$ 3.000,01 a R$ 5.839,45 9,5% a 11,68% De R$ 5.839,46 a R$ 10 mil 11,68% a 12,86% De R$ 10.0001,01 a R$ 20 mil 12,86% a 14,68% De R$ 20.000,01 a R$ 39 mil 14,68% a 16,79% Acima de R$ 39 mil + de 16,79% Alguns exemplos práticos Para se ter uma ideia da progressividade da Nova Previdência, usemos duas situações mencionadas pelo próprio governo. Imagine, por exemplo, um segurado do RGPS que receba R$ 1.250 de remuneração. Veja, então, como se desenha a contribuição dele: • Conforme as regras atuais: 8%, que corresponde a R$ 100. • Conforme a Nova Previdência: 7,8%, que corresponde a R$ 97,53. Já no outro caso, o segurado do RPPS recebe, por exemplo, R$ 30 mil como remuneração. Veja a sua situação: • Conforme as regras atuais: 11%, que corresponde a R$ 3,3 mil. • Conforme a Nova Previdência: 16,11%, que corresponde a R$ 4.835,83. Caso queira simular quanto ficaria sua contribuição caso a Nova Previdência seja aprovada nos limites aqui demonstrados, o governo disponibilizou uma Calculadora da Nova Previdência, que pode ser acessada gratuitamente. https://www.servicos.gov.br/calculadora/calcular 13 Conclusão Sob o argumento de austeridade e saúde das contas da Seguridade Social, o governo propôs a alteração das alíquotas, de forma a aumentar o financiamento direto (aqui tratado em sentido amplo) da Previdência. Vale dizer, será descontado um valor maior da remuneração dos segurados - e isso independe do fato dele ser ou não vinculado ao RGPS ou ao RPPS. A ideia de justiça está traduzida na questão da progressividade. As pessoas que recebem menos, por exemplo, devem contribuir com menos do que contribuem hoje. Por outro lado, aqueles que recebem remunerações maiores devem contribuir com mais. Em arremate, observa-se que a progressividade apresentada demonstra clara intenção de aproximar os dois regimes (RGPS e RPPS). Tanto que, até certo ponto, as alíquotas chegam a coincidir. Nada obstante, os servidores públicos arcarão com um valor considerável de diferença em relação ao que contribuem hoje. Se a Reforma da Previdência demonstra justiça por um lado, especialmente na forma de participação do custeio do sistema, por outro torna cada vez mais desinteressante o plano de benefícios para o servidor público. Hoje, rememore-se, o valor do benefício está limitado ao teto do RGPS. Se a proposta for aprovada, no entanto, eles passarão a contribuir com mais, para um regime que pagará menos. 14 VALOR DOS BENEFÍCIOS Como visto, a Nova Previdência objetiva conter os gastos da Previdência Social. Então, sob a pressão da pirâmide etária que ameaça se inverter em breve e tornar o Brasil um país de idosos, a ideia é buscar o equilíbrio atuarial, mediante alterações capazes de diminuir os valores gastos com o pagamento de benefícios. Essa é uma das várias alterações que vêm trazendo medo e insegurança aos segurados do INSS. Afinal, as próprias regras atuais já são confusas – inclusive para os profissionais da área. Vejamos como ficarão os cálculos, caso ela seja aprovada da maneira proposta 1. Aposentadoria por idade A aposentadoria por idade (B41) é um benefício programado. É pago pela Previdência Social nos casos em que o segurado completa a carência de 180 contribuições – conforme a tabela (art. 142 da Lei 8.213/91). Além disso, outro requisito é o segurado alcançar a idade mínima de 65 anos (homem) ou 60 anos (mulher). Para se chegar ao valor da Renda Mensal Inicial (RMI) é preciso apurar o valor do chamado salário de benefício. Esse valor consiste em uma média aritmética que considera 80% dos maiores salários de contribuição ao longo da vida profissional, compreendidos dentro do Período Básico de Cálculo (PBC). Após encontrar esse valor, aplica-se a ele uma alíquota de 70%, e ao resultado dessa operação soma-se 1% a cada ano de contribuição. Nesse sentido, considerando o cenário atual (antes da Reforma da Previdência) um trabalhador que se aposenta com 180 contribuições (15 anos), por exemplo, inicia seu cálculo com os 70% e mais os 15% referentes a cada ano contribuído. Isso totaliza, portanto, 85% do salário de benefício. Por conseguinte, ele deve contribuir 30 anos para obter 100% do salário de benefício (70% da lei + 30% em decorrência dos anos contribuídos). Vale ressaltar que é possível que seja aplicado no salário de benefício o chamado fator previdenciário. Trata-se de uma fórmula que leva em consideração a idade e o tempo de contribuição da pessoa e que pode até majorar a renda. Registre-se, no entanto, que para esse benefício em específico, o Fator Previdenciário é opcional. https://blog.sajadv.com.br/estatuto-do-idoso/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm https://blog.sajadv.com.br/fator-previdenciario/ https://blog.sajadv.com.br/fator-previdenciario/ 2. Aposentadoria por tempo de contribuição A aposentadoria por tempo de contribuição (B42), por sua vez, difere nos requisitos em relação à aposentadoria por idade. O segurado deve completar 35 anos (homem) ou 30 anos (mulher) de tempo de contribuição. Isso também conforme o cenário atual, antes da Reforma da Previdência. Para chegar ao valor da RMI desse benefício também é preciso apurar o valor do salário de benefício do segurado. Mais uma vez, ele consiste em uma média aritmética dos 80% maiores salários de contribuição do segurado dentro do PBC. Nesse caso, no entanto, é obrigatório o uso do fator previdenciário. Vale observar que está vigente a chamada regra 85/95 progressiva, que permite o afastamento do fator previdenciário do cálculo. Essa regra exige, para tanto, a soma da idade e do tempo de contribuição mínimo, que valerão como pontos. O homem que somar 35 de tempo de contribuição e 60 de idade, por exemplo, está apto a afastar o fator previdenciário – o que lhe permite aposentar cinco anos mais cedo do que se fosse aguardar para aposentar por idade. 16 3. Aposentadoria por invalidez Considerando as regras atuais, para descobrir o valor a ser recebido deve-se apurar o salário de benefício, da mesma maneira que nas demais. A diferença é que o fator previdenciário não será aplicado e a alíquota utilizada será de 100% sobre o valor do salário de benefício. Mas atenção: isso não quer dizer que o segurado irá receber 100% do último salário. Ele vai receber 100% do salário de benefício que, como vimos, é uma média. Como devem ficar os cálculos com a Reforma da Previdência O item 68 da exposição de motivos da Reforma da Previdência (PEC 06/2019) explica como será feito o cálculo dos benefícios. Assim, já é possível observar algumas diferenças: O cálculo das aposentadorias terá como base a média aritmética simples de todos os salários de contribuição e das remunerações, utilizadas como base paras as contribuiçõesao RGPS e aos regimes próprios de previdência social de que trata o art. 40 da Constituição, atualizados monetariamente, correspondentes a 100% de todo o período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde a competência inicial de contribuição, se posterior àquela data. O valor das aposentadorias corresponderá a 60% dessa média, com acréscimo de 2% para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 anos de contribuição, salvo no caso da aposentadoria do trabalhador que exercer atividade exercida em condições especiais prejudiciais à saúde por 15 anos, hipótese em que o acréscimo será aplicado ao tempo que exceder a 15 anos. Em relação ao PBC, como se pode perceber, a Reforma da Previdência não prevê grandes alterações práticas. Isso porque o texto se assemelha ao que está disposto no art. 29 da Lei 8.213 e também ao texto do art. 3º da Lei 9.876/99. Já quanto à apuração da média nota-se significativa diferença. A proposta prevê aplicar ao salário de benefício uma alíquota de 60% com acréscimo de 2% a cada ano de contribuição que exceder 20 anos. A ressalva é o caso dos segurados que trabalham em condições especiais. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1712459&filename=PEC+6/2019 https://blog.sajadv.com.br/revisao-da-vida-toda/ 17 Vejamos, então, como fica em relação a cada tipo de aposentadoria. 1. Aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo de contribuição Como dito em momentos anteriores, a Reforma da Previdência pretende acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição - e as razões são simples. Primeiro porque não existe idade mínima. Segundo porque esse tipo de aposentadoria corriqueiramente é concedida a trabalhadores que possuem alto tempo de contribuição. Ou seja: eles aposentam mais cedo e recebem por mais tempo, o que causa um dispêndio financeiro elevado. Assim, com as regras atuais, é possível, por exemplo, que uma mulher se aposente com 46 anos de idade por tempo de contribuição, uma vez que não há exigência de idade mínima. Por sua vez, os novos requisitos previstos pela Reforma da Previdência à aposentadoria por idade exigem 65 anos de idade (para o homem) e 62 anos de idade (para a mulher) mais 20 anos de tempo de contribuição. A mudança na lei, após a Reforma da Previdência, terá um regime de transição, cujo início está previsto para 2020. O cálculo será feito conforme já mencionado: 60% do salário de benefício mais 2% a cada ano que exceder 20 anos de tempo de contribuição. Imagine, por exemplo, um trabalhador (homem) com 66 anos de idade. Cumprido o requisito etário, ele deverá contribuir por 40 anos para ter direito a 100% do salário de benefício. Nesse caso, temos 20 anos excedentes. Multiplicados por 2%, chega-se aos 40% que, somados aos 60%, alcançam os 100% da média. Nessa situação em específico, o homem deveria ter iniciado sua vida laboral formal com 26 anos de idade e não ter parado de contribuir. Além disso, para conseguir o reconhecimento desse período, ele também não pode acumular qualquer pendência com o INSS. 2. Aposentadoria por invalidez A Reforma da Previdência prevê um novo nome para a aposentadoria por invalidez. Ela passará a se chamar aposentadoria por incapacidade permanente. O raciocínio de cálculo do benefício é o mesmo da aposentadoria anterior: 60% da média mais 2% a cada ano que exceder 20 anos de tempo de contribuição. Alguns casos, todavia, autorizam a aplicação de 100% da média, da maneira como já ocorre hoje: quando a incapacidade decorrer de acidente de trabalho, doenças profissionais ou doenças do trabalho. 18 Tabela comparativa: o antes e o depois da Reforma da Previdência Benefício Regra atual Reforma da Previdência Por idade 70% do salário de benefício + 1% a cada grupo de 12 contribuições 60% do salário de benefício + 2% a cada ano que exceder 20 anos de tempo de contribuição Por tempo de contribuição Salário de benefício * Fator previdenciário Exceção: salvo enquadramento na regra 85/95 Deixa de existir, pois será necessária idade mínima. Por invalidez 100% do salário de benefício 60% do salário de benefício + 2% a cada ano que exceder 20 anos de tempo de contribuição Exceção: casos de acidente de trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho, que será 100% da média No que tange às mudanças no cálculo do valor do benefício, podemos destacar alguns pontos. Em primeiro lugar, não serão mais descartados os 20%, como ocorre na regra atual. Por conta disso, menores salários de contribuição serão incluídos e o valor do benefício a ser pago tende a ser menor. Como visto, para chegar a 100% da média, será necessário um tempo de contribuição consideravelmente maior. Além disso, o requisito da idade mínima terá acréscimo no caso das mulheres. Os homens, por sua vez, deverão contribuir um ano a mais (no mínimo) para alcançar a média ideal. Portanto, considerando o descompasso de informações e a informalidade do trabalho brasileiro, que ainda é considerável, esse reconhecimento deve ser visto como um desafio a ser encarado. Afinal, cada contribuição terá uma diferença valiosa para os segurados. 19 BENEFÍCIOS NA NOVA PREVIDÊNCIA O Governo propões alterações em todos os benefícios, sem exceção. Alguns mais, outros menos, mas é certo que não ficarão da maneira que estão hoje. Vejamos o que muda nos principais benefícios. Aposentadoria por idade A Lei nº 8.231/91 institui em seu art. 48 o benefício programado de aposentadoria por idade. Para que o segurado tenha acesso, o INSS exige 65 (homem) ou 60 anos (mulher), além do cumprimento da carência de 180 contribuições. Adverte-se que carência é contribuição mensal paga em dia, contada em meses e não se confunde com tempo de contribuição, que é contado em dias. Caso seja instituída a Nova Previdência, o benefício está mantido, embora o texto da PEC se refira agora a vinte anos de tempo de contribuição e não mais em meses de carência. Haverá regra de transição, que consiste no aumento progressivo dos requisitos da aposentadoria. A partir de 01/01/2020 o requisito etário aumentará para a mulher 6 meses a cada ano. O requisito de tempo de contribuição, por sua vez, também aumentará na mesma proporção, até que atinja a regra geral proposta, que exige vinte anos de tempo de contribuição. A título de exemplo, se um segurado, homem, quiser se aposentar em 2022, deverá ter 65 anos de idade e 16 anos de tempo de contribuição. Se mulher, deverá ter 61 anos e 16 anos de tempo de contribuição. Assim será aumentado até que se chegue à regra permanente proposta: 65 (homem) e 62 (mulher), ambos com exigência de 20 anos de tempo de contribuição. Aposentadoria por tempo de contribuição Atualmente existe o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição para os segurados que completarem 35 anos ou 30 anos de tempo de contribuição, exigidos, respectivamente, de homens e de mulheres. Na regra de cálculo, aplica-se o fator previdenciário, que pode ser afastado pelo preenchimento dos requisitos pela regra “85/95 progressiva”. 20 Segundo essa regra, as pessoas que somarem os pontos necessários farão jus ao benefício. Eles correspondem ao mínimo do tempo de contribuição + idade. Por exemplo, uma mulher que tenha 30 anos contribuídos e 55 de idade poderá se aposentar por essa regra, 5 anos antes de se aposentar por idade, já adiantando a vantagem que teria, qual seja, afastamento do Fator Previdenciário na regra de cálculo. Como visto, não há idade mínima, de forma que o único requisito é o preenchimento do referido tempo contributivo. Com a Nova Previdência esse benefício deixará de existir, porquanto a PEC nº 06/2019 traz a exigência de idade mínima. O Governo justifica, em sua exposição de motivos, que essa regra causa um dispêndio financeiro maior, posto que as pessoas se aposentam mais cedo recebempor maior tempo, normalmente com uma renda superior à da aposentadoria por idade: No âmbito do RGPS, existe a possibilidade de a pessoa se aposentar por tempo de contribuição, sem a exigência de uma idade mínima, o que acarreta a concessão de aposentadorias com idades médias de 55,6 anos e 52,8 para o homens e mulheres, respectivamente. Nessas faixas etárias, a expectativa de sobrevida é de 24,2 anos e 30,9 anos para homens e mulheres, o que implica elevadas durações médias de aposentadorias. No caso das mulheres, a duração esperada é maior que o tempo de contribuição exigido (30 anos). É importante destacar que os trabalhadores urbanos mais pobres não conseguem contribuir tempo suficiente para se aposentar nessa modalidade, se aposentando por idade, em média: homens aos 65,5 (mínimo de 65 anos) e mulheres aos 61,5 anos (mínimo de 60 anos). Enquanto na aposentadoria por tempo de contribuição o valor médio do benefício está R$ 2.231, na aposentadoria por idade urbana está em R$ 1.2521. Nesse ponto, o Brasil não destoa de outros países da América Latina, posto que somente equador não exige idade mínima. Na Europa, somente a Hungria não exige. Em outras palavras, nosso país se alinha a vários modelos de Previdência espalhados pelo mundo, que só permitem acesso à aposentadoria após o cumprimento de certa idade. Apesar da mudança, duas regras de transição estão previstas. 1 Item 34 da exposição de motivos. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoe- sWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1712459&filename=PEC+6/2019>. A primeira, para quem completar 30 anos de contribuição + 56 anos de idade (mulher) ou 35 anos de contribuição + 61 anos de idade, se homem. A partir de 1º de janeiro de 2020 serão acrescidos 6 meses a cada ano, até que se atinja a idade mínima da aposentadoria por idade e o benefício deixe de existir. A segunda, para quem, na data da publicação contar com no mínimo 28 anos (mulher) ou 33 anos (homem), que poderá pagar pedágio de 50% do tempo faltante para os 30 ou 35 anos, respectivamente. Por exemplo, uma mulher que já tenha 28 anos contribuídos deverá recolher mais 3, pois faltam 2 para atingir os 30 e, portanto, deverá mais 1 (50% dos 2) a título de pedágio. É válido ressaltar que nesse caso terá a aplicação do Fator Previdenciário. Por fim, o Governo manterá a regra “85/95 progressiva”, explicada em linhas anteriores. Rememore-se, apenas, que periodicamente ela já sofre um reajuste: a cada ano aumenta um ponto. Esse acréscimo continuará a partir de 01/01/2020, até que se alcance o limite de 100 pontos para as mulheres e 105 pontos para os homens. 22 Aposentadoria especial A aposentadoria especial é um benefício previsto no art. 57 da Lei nº 8.231/91 que se destina aos trabalhadores que exercem atividades que os expõem a agentes nocivos de natureza química, física ou biológica. A exposição também pode ocorrer por associação entre esses agentes. A depender da agressividade e do prejuízo à saúde, o tempo de contribuição necessário para se aposentar diminui. As condições especiais de trabalho devem se dar de maneira “permanente, não ocasional nem intermitente” (art. 57, §3º da Lei nº 8.213/91). Além disso, caso um segurado tenha trabalhado em mais de uma empresa, mas não tenha preenchido completamente os requisitos para a aposentadoria especial, poderá se aposentar de maneira comum, mediante a conversão do período que laborou em condições especiais. Atualmente, a aposentadoria especial possui dois requisitos: 180 meses de carência e 15, 20 ou 25 anos de atividade especial, com exposição a agentes químicos físicos ou biológicos. O valor do benefício será de 100% do salário-de-benefício, o que não implica em dizer que será 100% do valor que o segurado estava contribuindo antes de se aposentar. No momento do cálculo, não há incidência do fator previdenciário e não é necessário ter uma idade mínima. Caso a Nova Previdência seja aprovada, relevantes mudanças acontecerão. A principal é a vedação da conversão de tempo especial em comum. O período que foi cumprido até a promulgação da PEC nº 06/2019 poderá ser convertido – após, não haverá mais essa possibilidade. Isso implica dizer que haverá significativa perda, uma vez que a conversão permite hoje um aumento de no mínimo 40% do tempo laborado. Também será instituída a idade mínima. Para se aposentar, agora o segurado que exerce atividade especial entrará em um sistema de pontos, semelhante ao que acontece com a regra “85/95 progressiva”, vigente hoje para a aposentadoria por tempo de contribuição: EXPOSIÇÃO TEMPO + IDADE 15 anos 66 pontos 20 anos 76 pontos 25 anos 86 pontos 23 A partir de janeiro de 2020, essas pontuações aumentarão a cada ano, até que seja atingido o número de 89, 83 e 99 pontos, respectivamente. Como se pode ver, ficará muito mais difícil ter acesso ao benefício de aposentadoria especial. Deve-se ressaltar que existe regra de transição: 15 anos de tempo de contribuição+ 55 anos de idade; 20 anos de tempo de contribuição + 58 anos de idade; e, por fim, 25 anos de tempo de contribuição + 60 anos de idade. A variação depende do grau de exposição aos agentes nocivos. O valor do benefício também sofrerá mudanças. Observará, até um certo ponto, a regra geral de cálculo dos benefícios. A única diferença é que será acrescido 2% a cada ano que exceder 20 anos do tempo de contribuição nas atividades em que a exposição requeira 25 e 20 anos e a mesma alíquota para as atividades de maior exposição, porém com a contagem iniciada após 15 anos de tempos de contribuição. Alerta-se, mais uma vez, que com a aprovação da proposta fica vedada a conversão de tempo especial em comum. Ao se aposentar pelas regras da especial, o trabalhador deve se afastar do ambiente laboral que lhe prejudica a saúde. A conversão era uma estratégia para aqueles que pretendiam continuar no trabalho mesmo 24 aposentados. Aposentadoria por invalidez A aposentadoria por invalidez (B32) é um benefício previdenciário devido àquele segurado que “estando ou não em gozo de auxílio doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta subsistência” (art. 41 da Lei nº 8.213/91). Essa incapacidade, segundo a lei (art. 43, §1º da Lei 8.213), deve ser total e definitiva. O benefício passará a ser chamado de “aposentadoria por incapacidade permanente” e sua grande mudança diz respeito à alteração nas regras de cálculo, já debatidas em linhas anteriores: utilizará regra semelhante à aposentadoria por idade, salvo nos casos em que a incapacidade decorrer de acidente de trabalho, em que será aplicada a alíquota de 100% sobre o salário de benefício. Aposentadoria dos portadores de deficiência A Lei Complementar nº 142/2013, responsável por regulamentar o art. 201, §1º da Constituição Federal, trata sobre a aposentadoria dos segurados portadores de deficiência. Para eles, há uma diminuição dos requisitos necessários para ter acesso ao benefício programado. Em todo caso, salienta-se, é necessário o preenchimento do cumprimento da carência de 180 contribuições mensais. No caso da aposentadoria por idade, existe a redução de 5 anos, independentemente do grau de deficiência, desde que o cumprimento da carência tenha se dado no exercício de atividade em que ele era portador de deficiência. Sendo assim, podem se aposentar aos 60 anos (homem) ou 55 anos (mulher). Já na aposentadoria por tempo de contribuição, a redução varia de acordo com o grau de incapacidade, que é classificada em leve, moderada e grave. Com base nessas informações, podemos elaborar a seguinte tabela: GRAU DE DEFICIÊNCIA HOMEM MULHER LEVE 33 ANOS 28 ANOS MODERADA 29 ANOS 24 ANOS GRAVE 25 ANOS 20 ANOS A Nova Previdência propõe um aumento desse tempo de contribuição, ao mesmo tempo que iguala o requisito para homens e mulheres. Noentanto, prevê o pagamento de 100% do salário de benefício para esse tipo de aposentadoria. Caso seja aprovada sem retoques, teremos o seguinte cenário: GRAU DE DEFICIÊNCIA HOMENS E MULHERES LEVE 35 ANOS MODERADA 25 ANOS GRAVE 20 ANOS https://blog.sajadv.com.br/aposentadoria-por-invalidez/ 25 É bom ressaltar que o texto da proposta submete os segurados a uma avaliação “biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar”, o que deve ser considerado positivo. A deficiência, para além da questão clínica, deve ser conjugada com o impedimento social. Além disso, será levado em consideração o fato de o grau de deficiência ser alterado (por exemplo, acontecer um agravamento com o passar do tempo), hipótese em que haverá um ajuste proporcional. Benefício de Prestação Continuada (BPC) Esse benefício, popularmente conhecido como LOAS, faz parte da Assistência Social, embora seja gerido pelo INSS. É devido a idoso (65 anos) ou pessoas com deficiência de qualquer idade, cuja renda mensal não supere ¼ do salário mínimo vigente. É de bom alvitre ressaltar que esse limite financeiro pode ser contestado na via judicial. Hoje, corresponde ao valor de um salário mínimo. Caso seja aprovada a Nova Previdência, o Governo propõe adiantar esse pagamento: será pago R$ 400,00 a partir dos 60 anos, de forma que o salário mínimo só voltaria a ser pago quando for atingido 70 anos. Antecipa-se um valor menor do que a metade para, dez anos depois, pagar o valor que hoje já é deferido pelas regras vigentes. Esse é, sem dúvida, um dos pontos mais criticados da reforma, porquanto a expectativa de vida de pessoas que vivem em condições de miserabilidade é baixíssima. Muito sequer chegam aos 70 anos. Embora esteja previsto, com certeza terá alterações quando da votação, caso seja aprovada a PEC nº 06/2019. 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi possível observar, o Governo pretende alterar de maneira significativa as regras vigentes. Se a intenção é de economizar (e as declarações falam em 1 trilhão em dez anos), por decorrência lógica ficará mais difícil ter acesso aos benefícios. Em termos mais simples, ficará mais difícil aposentar e o valor tende a diminuir. É bom ressaltar que a nossa Constituição Federal assegura o direito adquirido, ou seja, aqueles que preencherem os requisitos antes da Reforma têm direito à regra de cálculo vigente nessa época. Isso não pode implicar em uma corrida desenfreada ao INSS, que inclusive passa por problemas críticos de gestão e atendimento; porém, deve-se alertar os segurados para que reúnam documentações capazes de comprovar o máximo de tempo de contribuição, seja para fugir das regras ou para diminuir os efeitos das mudanças. Por fim, não é demasiado ressaltar que este material se baseia no texto original, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Existem muitos outros pontos em debate e com certeza sofrerão alterações no decorrer da votação. SOBRE O AUTOR Sandro Lucena Rosa é advogado, especialista em Direito Previdenciário, professor universitário, vice-presidente do Instituto de Estudos Avançados em Direito (IEAD), associado ao Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), membro da comissão de Direito Previdenciário da OAB/GO. Da petição inicial à sentença: cada etapa do processo na sua mão, em qualquer lugar Teste grátis por 7 dias Converse com um consultor SOFTWARE JURÍDICO www.sajadv.com.br https://www2.sajadv.com.br/experimente-2018.php?utm_source=ebook&utm_medium=an%C3%BAncio&utm_campaign=anuncio%20ebook&utm_term=trial https://materiais.sajadv.com.br/conversa-especialista-em-software-juridico https://www.sajadv.com.br/ INTRODUÇÃO Regimes Previdenciários: Repartição E Capitalização COMO SERÁ FINANCIADA A NOVA PREVIDÊNCIA? VALOR DOS BENEFÍCIOS BENEFÍCIOS NA NOVA PREVIDÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Botão 101: Botão 100: Botão 99: Botão 108: Botão 103: Botão 102: Botão 14: Página 4: Página 5: Página 6: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Página 24: Página 25: Botão 12: Página 4: Página 5: Página 6: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Página 24: Página 25: Botão 13: Página 4: Página 5: Página 6: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Página 24: Página 25: Botão 111: Botão 110: Botão 109: Botão 114: Botão 113: Botão 112: Botão 117: Botão 116: Botão 115: Botão 120: Botão 119: Botão 118: Botão 104: Página 27: Botão 105: Página 27: Botão 106: Página 27:
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