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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL FACULDADE DE DIREITO DERMEVAL NONATO LIMA FILHO GIOVANNA PEREIRA MORENO ISLANE CARDOSO GALVÃO LEANDRO LUIS MENEZES GOMES DIREITOS POLÍTICOS SOB A PERSPECTIVA DO ATO INSTITUCIONAL Nº 5 DE 1968 E DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: O DISCURSO LEGITIMADOR DA DITADURA Salvador 2021 DERMEVAL NONATO LIMA FILHO GIOVANNA PEREIRA MORENO ISLANE CARDOSO GALVÃO LEANDRO LUIS MENEZES GOMES DIREITOS POLÍTICOS SOB A PERSPECTIVA DO ATO INSTITUCIONAL Nº 5 DE 1968 E DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: O DISCURSO LEGITIMADOR DA DITADURA Artigo apresentado à disciplina Teoria da História do Direito da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, para fins de obtenção de nota referente à II unidade. Profª. Ms. Ana Cláudia Gusmão Cunha Salvador 2021 DIREITOS POLÍTICOS SOB A PERSPECTIVA DO ATO INSTITUCIONAL Nº 5 DE 1968 E DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: O DISCURSO LEGITIMADOR DA DITADURA DERMEVAL NONATO LIMA FILHO1* GIOVANNA PEREIRA MORENO2** ISLANE CARDOSO GALVÃO3*** LEANDRO LUIS MENEZES GOMES4**** RESUMO: O artigo apresenta uma análise comparativa dos direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 5 de 1968 (AI-5) e os garantidos pela Constituição de 1988, quanto à liberdade política e o direito do cidadão em escolher os seus representantes. A interpretação sobre as motivações dos atores responsáveis pela edição do AI-5, em dezembro de 1968, significou um aprofundamento e radicalização da ditadura militar instaurada em 1964 no Brasil. O texto pretende abordar os fatos históricos que deram origem ao AI-5 até o processo de redemocratização do país, a fim de construirmos uma análise dedicada à compreensão do fenômeno. Foram analisadas as principais ideias dos autores referenciados, buscando o conteúdo alusivo ao objeto da pesquisa, no intuito de aprofundar os conhecimentos acerca dos direitos políticos sob perspectiva do Ato Institucional do n° 5 de 1968 e da Constituição Federal de 1988. A principal conclusão é que o AI-5 se prestava não apenas a estimular a repressão sobre a esquerda, mas, sobretudo, para controlar os que divergiam das ideias da ditadura militar. Palavras-chave: Ditadura; Golpe 1964; AI-5; CF 88; Democracia. SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO, 2; 2 CONTEXTO POLÍTICO NO MOMENTO DA INSTAURAÇÃO DO AI-5, 2; 3 DISCURSO LEGITIMADOR PARA ADOÇÃO DO AI- 5, 5; 4 PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL, 6; 5 RISCOS DE UMA REEDIÇÃO DE UM INSTRUMENTO JURÍDICO SEMELHANTE AO AI-5, 7; 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS, 8; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS, 9. 1 Graduando de primeiro semestre do curso de Direito da UCSal: e-mail: dermevalnonato.filho@ucsal.edu.br 2 Graduanda de primeiro semestre do curso de Direito da UCSal: e-mail: giovanna.moreno@ucsal.edu.br 3*** Graduanda de primeiro semestre do curso de Direito da UCSal: e-mail: islane.galvao@ucsal.edu.br 4 Graduando de primeiro semestre do curso de Direito da UCSal: e-mail: leandro.gomes@ucsal.edu.br Artigo apresentado à disciplina Teoria da História do Direito da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, para fins de obtenção de nota referente à II unidade, sob orientação da Profª. Ms. Ana Cláudia Gusmão Cunha. Salvador, 2021 mailto:dermevalnonato.filho@ucsal.edu.br mailto:giovanna.moreno@ucsal.edu.br mailto:islane.galvao@ucsal.edu.br mailto:leandro.gomes@ucsal.edu.br 2 1 INTRODUÇÃO Os direitos políticos estão diretamente relacionados com a escolha dos seus representantes nos Poderes Executivo e Legislativo por parte dos cidadãos. O Ato Institucional nº 5 de 1968, suspendeu os direitos políticos dos brasileiros, trazendo consequências danosas na vida das pessoas. O período da ditadura militar foi marcado pela ausência de eleições presidenciais diretas, interferência nos Poderes Legislativo e Judiciário, além da censura. A partir da vigência do AI-5, houve uma repressão violenta para quem fazia oposição ao governo, ocorreram assassinatos e tortura, cometidos por agentes do Estado. No ambiente em que imperava a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, os militares adotaram como discurso legitimador para tomar o poder, o avanço das ideias comunistas no país e a defesa dos valores morais da família, intitulando o golpe militar como uma revolução vitoriosa. Após diversas lutas pela liberdade de expressão e maior abertura política, houve um período de transição denominado de redemocratização. Este período culminou na Constituição Federal de 1988, que assegurou o direito político ao cidadão brasileiro de votar e ser votado através do sufrágio universal. Decorridos 33 anos, após a promulgação da Constituição de 1988, parte da sociedade vem se manifestando favoravelmente à intervenção militar e ao retorno de instrumentos jurídicos, semelhantes ao AI-5. Há uma polarização política no Brasil em 2021, além de uma discussão acerca da defesa da democracia. 2 CONTEXTO POLÍTICO NO MOMENTO DA INSTAURAÇÃO DO AI-5 Antes de contextualizar o momento político que motivou a instauração do AI-5, se faz necessário abordar, brevemente, o golpe militar de 1964. Antes do golpe se instaurar, o presidente da república era João Goulart, que assumiu a Presidência em setembro de 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961. A situação político-econômica era difícil, “inflação alta e em trajetória ascendente, descontrole nos gastos públicos e um alarmante volume de dívida externa a ser pago já nos primeiros meses de 1962.” (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p.437) O mundo vivia um ambiente de Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, que se refletia no Brasil com discussões de agendas políticas de grupos da 3 esquerda e da direita. Esse reflexo se evidenciou nas eleições de outubro de 1962, com a eleição do governador Miguel Arraes e do então deputado federal Leonel Brizola, que teve a votação mais expressiva para a Câmara Federal na época, e militavam no campo da esquerda. No entanto, houve um investimento expressivo em candidatos com ideologia ligada à direita. As eleições de 1962 emitiram um segundo alerta: o golpismo continuava articulado no país. A característica dessas eleições foi o envolvimento de organismos extrapartidários no financiamento das campanhas, e o mais perigoso deles, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), funcionava no Rio de Janeiro, desde 1959, articulado com a Agência Central de Informações (Central Intelligence Agency, CIA) norte americana. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 440) O clima político em 1963 era tenso, e se intensificou com a revolução dos sargentos da Aeronáutica e da Marinha que eram ligados à esquerda e tinham sido eleitos nas eleições para a Câmara Federal em 1962. Eles se rebelaram contra uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que os tornaram inelegíveis, com base na interpretação da Constituição de 1946. Nesta rebelião, houve a ocupação do prédio do STF, mas os oficiais militares acabaram com a rebelião, alegando insubordinação militar. No entanto, o comportamento de neutralidade do presidente João Goulart incomodou o comando militar: Começou aí a inversão de sentido que permitiu aos golpistas se apropriarem da bandeira da defesa da legalidade, argumento capaz de, nos meses seguintes, fornecer credibilidade à campanha anti-Goulart patrocinada pelo Ipes. A partir de outubro, a instabilidade política e administrativa do governo ficou evidente.” (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p.443) Em março de 1964, ocorreu a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, que foi uma manifestação articulada pelo Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais – Ipes, que era uma instituição de orientação política de cunho conservador, fundada em 1961 por empresáriosdo Rio de Janeiro e São Paulo, além de oficiais da Escola Superior de Guerra. O Ipes usou a União Cívica Feminina para liderar a manifestação, que reuniu em torno de 500 mil pessoas, apelando pela intervenção militar no governo de João Goulart. A intervenção das Forças Armadas acabou se consumando em 11 de abril de 1964, de acordo com Schwarcz e Starling (2015), o Congresso Nacional elegeu o general Castello Branco com 361 votos, que governou o Brasil de 1964 a 1967. Em 1967, assumiu a presidência o general Costa e Silva. Ele tomou posse na perspectiva de legitimar e estabilizar a ditadura, tendo a intenção de colocar a Constituição de 1967 em vigor, já aprovada pelo Congresso Nacional da legislatura 4 anterior. O regime era totalmente autoritário, onde possuíam instrumentos de repressão, como o Decreto-Lei de Segurança Nacional e a Lei da Imprensa que regulava a liberdade de manifestação de pensamento e de informação, impedindo que os jornalistas se manifestassem em defesa da população. O ano de 1968, se inicia com muitos protestos estudantis, sendo que uma das manifestações foi marcada pelo assassinato do jovem Edson Luís (28 de março 1968), que se tornou uma forte inspiração aos jovens universitários. O presidente Costa e Silva foi o principal responsável pela instauração do Ato Institucional nº 5 de 13 de dezembro de 1968. Segundo Schwarcz e Starling (2015), o pretexto para a sua edição foi a recusa do Congresso Nacional em autorizar o processo judicial contra o deputado Márcio Moreira Alves, que tinha denunciado e provado casos de torturas ocorridos no governo do general Castello Branco. Mas, o principal motivo era o contexto do país naquele momento, havia um clima de inquietação política e movimentos de oposição ao governo, através de manifestações estudantis, greves operárias, articulação de lideranças políticas, além do início de ações armadas por grupos da esquerda revolucionária. O texto do AI-5 tinha 12 artigos que: Suspendia a concessão de habeas corpus e as franquias constitucionais de liberdade de expressão e reunião, permitia a demissões sumárias, cassações de mandatos e de direitos de cidadania, e determinava que o julgamento de crimes políticos fosse realizado por tribunais militares sem direito a recurso. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p.455) O AI-5 foi devastador, todo o poder político estava concentrado nas mãos do Presidente da República. Quando Costa e Silva ocupou a cabeceira da mesa, cada ministro tinha uma cópia do Ato Institucional nº 5 em frente ao seu lugar. Os microfones foram colocados ostensivamente sobre a mesa e gravaram a sessão. “A sala estava tomada pelo barulho de sirenes de veículos que circulavam no pátio da mansão.” (GASPARI, 2002, p. 349). O período a partir de 1968, foi um dos mais dramáticos da ditadura militar no Brasil, pois ocorreram eventos impactantes, a temperatura subiu politicamente e houve a intensificação de ações violentas, por parte do governo aos seus opositores. 5 3 DISCURSO LEGITIMADOR PARA ADOÇÃO DO AI-5 Desde o Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964, que as Forças Armadas denominam o golpe militar de revolução vitoriosa, e segundo o texto oficial: A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si mesma. (BRASIL, 1964, p.1) Portanto, o discurso de legitimação do AI-5 tem inspiração no primeiro Ato Institucional, explicitando que os comandantes das Forças Armadas representam o povo e exercem o Poder Constituinte em seu nome, visando assegurar a reconstrução econômica, política e moral do país, apresentando um discurso claro contra o comunismo, se dizendo que as suas ações iriam ao encontro dos interesses e da vontade da nação. Os dispositivos do AI-5 e os decretos da época tiveram diversas repercussões, houve a proibição de manifestações populares de caráter político e impôs censura a jornais, revistas, livros, peças de teatros e músicas, toda forma de manifesto que fosse contra o pensamento do governo ditatorial: A ditadura militar firmou-se, a tortura foi seu instrumento externo de coerção, o último recurso de repressão política desencadeada pelo AI-5. Ela se tornou prática rotineira por conta de dois conceitos. O primeiro relaciona-se com a segurança nacional da sociedade e o segundo associa-se a funcionalidade do suplício. (GASPARI, 2002, p. 13,17) O apoio da diplomacia americana foi um dos agentes externos que imprimiu fortalecimento aos golpistas em 1968. O governo dos Estados Unidos acompanhou a escalada autoritária, com isso, o governo de Costa e Silva se sentiu motivado a tratar do golpe. “Um outro ponto de partida foi o próprio texto AI-5 que na sua síntese apresentava as justificativas para o novo Ato, no seu teor afirmando o compromisso de preservar a Revolução” (GASPARI, 2002, p. 389) Partindo do ponto de vista militar, eles lutaram para o desenvolvimento de uma consciência altamente favorável à ditadura, entretanto, também queriam ingressar no país, a aprendizagem dos símbolos que fortaleciam a cooperação e aceitação dos grupos sociais a favor do regime em vigor. Eles insistiam em afirmar, que seria um regime do povo, democrático, porém em sua prática não se transparecia esse tipo de imagem de liberdade. “A justificativa no momento desse contexto era a mudança, e a necessidade de formar uma consciência favorável e, portanto, participativa no sentido 6 de defender e propagar, de forma contínua e sucessiva, os valores essenciais da ditadura.” (REZENDE, 2013, p. 92) 4 PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL A partir de 1975, o presidente Ernesto Geisel deu início ao processo denominado de abertura lenta, gradual e segura do regime militar. De acordo com Schwarcz e Starling (2015), havia um consenso entre os principais comandantes das Forças Armadas, que os militares deveriam renunciar ao controle da Presidência, pois a vivência política estava contaminando os quartéis e pondo em risco à instituição militar. Durante o processo de distensão e de abertura política, o regime se empenhava ainda mais arduamente em destacar que, desde o seu início, ele estava forrado de razão para buscar aceitabilidade e adesão para o seu projeto de sociedade, de Ditadura Militar. (REZENDE, 2013, p. 277) Dentro desse processo, houve a extinção do AI-5 em 31 de dezembro de 1978 e a Lei da Anistia foi assinada em agosto de 1979, já em 1982 realizaram-se as eleições diretas para os governadores de Estado. Em 1983, o deputado federal Dante de Oliveira apresentou um projeto de emenda constitucional que pedia o restabelecimento da eleição direta para presidente da república. A partir desse projeto de emenda constitucional, o apoio popular foi refletido através de comícios. Segundo Schwarcz e Starling (2015), o primeiro comício ocorreu em Goiânia e reuniu cerca de 5 mil pessoas, as manifestações ganharam força e se espalharam por todo o país, contando com o apoio de milhares de pessoas, se transformando numa campanha suprapartidária, denominada de Movimento das Diretas Já. Em 1984, a chamada emenda Dante de Oliveira foi votada no Congresso Nacional e não foi aprovada por 22 votos. Apesar da rejeição do referido projeto de emenda constitucional, houve em 15 de janeiro de 1985, uma eleição indireta para Presidente da República, sendo que os votantes eram os membros do Congresso Nacional. A eleição teve dois candidatos: Tancredo Neves do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e Paulo Maluf do Partido Democrático e Social (PDS). De acordo com Schwarcz e Starling (2015), o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves como presidente da república. No entanto, ele morreuantes de assumir o mandato e no dia 15 de março de 1985, o seu 7 vice-presidente eleito, José Sarney, assumiu a Presidência, pondo fim ao regime militar no Brasil, dando prosseguimento ao processo de redemocratização. Uma das medidas mais importantes, foi a convocação de eleições para a formação da Assembleia Nacional Constituinte, que tinha o objetivo de redigir uma nova Constituição. Em 1º de fevereiro de 1987 foi instaurada a Assembleia Constituinte, com a posse de 72 senadores e 487 deputados federais constituintes. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição Federal, também conhecida como constituição cidadã. Além da Constituição promulgada em 1988, um dos marcos para a redemocratização do país, foi a participação de forças sociais que estavam afastadas das decisões dos órgãos de Estado, pois estavam em luta contra o processo político onde o povo estava sendo pressionado a aceitar o projeto militar. Os direitos políticos foram restabelecidos na Constituição Federal de 1988, expressos no seu capítulo IV. O caput do Art.14 é claro, “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos” (BRASIL, 1988). Além disso, o Art. 15 da Carta Magna brasileira veda a cassação dos direitos políticos, salvo em alguns casos, que não tem correlação com ideologia política. Portanto, a Constituição brasileira assegura aos seus cidadãos, o direito de escolher os seus representantes, no sentido de definir os rumos do país. 5 RISCOS DE UMA REEDIÇÃO DE UM INSTRUMENTO JURÍDICO SEMELHANTE AO AI-5 A partir das eleições presidenciais de 2018, o Brasil vem atravessando um momento de polarização política entre campos ditos de direita e de esquerda. Desde 2002, a Presidência da República vinha sendo exercida por membros do Partido dos Trabalhadores – PT, que é considerada uma agremiação política de esquerda. Em 2016, o governo foi exercido pelo presidente Michel Temer do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que assumiu após o impeachment da presidenta Dilma Roussef do PT. Em 2018, foi eleito o presidente Jair Bolsonaro, que apresentou uma agenda econômica liberal e uma pauta de costumes conservadora, tendo o apoio de setores militares do Brasil. Tem-se observado que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro são adeptos a intervenção militar e favoráveis a instrumentos jurídicos como o AI-5, de acordo com Ramires (2020), em frente a um quartel do exército em 19/04/2020, manifestantes 8 vestidos de verde e amarelo, portando bandeiras e faixas, gritavam frases contra o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF), também a favor do AI-5. Tais movimentos têm sido considerados antidemocráticos por parte de juristas, políticos e imprensa. Para Safatle, (2018, p.1): “Houve o esgotamento do ciclo histórico, do modelo de desenvolvimento econômico e social, e da esquerda brasileira. O ciclo histórico que se esgota hoje é o da Nova República, ou seja, o ciclo dessa redemocratização que começou em 1984-1985 e nunca terminou, vivemos um processo de redemocratização infinito, que nunca conseguiu estabelecer uma democracia.” As manifestações de parte da sociedade em 2020, favoráveis a instrumentos semelhantes ao Ato Institucional nº 5 de 1968, evidenciam que as marcas da ditadura militar continuam presentes no Brasil e que o sentimento de democracia ainda não está totalmente consolidado. "O que restou da ditadura foi absolutamente tudo, continuamos um país excludente, autoritário, com uma grave desigualdade social, preservando os direitos de uma elite em detrimento dos mais pobres” (TALES AB’SÁBER, 2010, apud TELES e SAFATLE, 2010, p.188). Há um clima de instabilidade democrática no Brasil, de acordo com Safatle (2018), não se observa manifestações favoráveis a golpe militar, em nenhum país do mundo. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade brasileira passou 21 anos por um regime ditatorial, muitos cidadãos lutaram, foram torturados e até mesmo morreram pelo restabelecimento da democracia no Brasil. Após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, a discussão sobre a defesa das ações do período da ditadura militar veio à tona, inclusive com o apoio de políticos eleitos, dando sustentação ao discurso autoritário de apoio aos instrumentos utilizados pelo AI-5. É importante salientar que os direitos políticos, garantidos pela Constituição Federal de 1988, se configuram de forma preciosa para a sociedade, que tem o direito assegurado de representar e ser representado. Este instrumento jurídico caracteriza o Brasil, como uma das maiores democracias do mundo. Manifestações que favorecem a regimes ditatoriais de caráter repressor, é visto pela comunidade mundial como um retrocesso às liberdades dos ser humano. Portanto, a sociedade deve estar atenta à garantia dos seus direitos políticos e lutar pela manutenção da democracia. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS ALBUQUERQUE, Ana Luiza, Bolsonaro critica medidas restritivas para frear pandemia. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/bolsonaro-passeia-de-moto-e-gera- aglomeracao-no-rio-apos-dizer-que-teve-sintomas-de-covid-19.shtml BRASIL. Ato Institucional nº 1. Planalto, Brasília, 1964. BRASIL. Ato Institucional nº 5. Planalto, Brasília, 1968. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. MARCELLO, Maria Carolina. Bolsonaro discursa para manifestação com faixa “Fora Maia'' e apoio ao AI-5. Brasília. 2020. Disponível em: https://exame.com/brasil/bolsonaro-discursa-para-manifestacao-com-faixa-fora-maia- e-apoio-ao-ai-5/ RAMIRES, Yuri. Manifestantes pedem intervenção militar, volta do AI-5 e abertura do comércio. Cuiabá, 2020. Disponível em: https://www.gazetadigital.com.br/editorias/politica-de-mt/em-cuiab-manifestantes- pedem-interveno-militar-volta-do-ai-5-e-abertura-do-comrcio/613663 REZENDE, Maria José. A Ditadura Militar no Brasil: Repressão e Pretensão de legitimidade, 1964-1984. Londrina: Editora UEL, 2013. SAFATLE, Vladimir, A ditadura militar no Brasil nunca terminou. Florianópolis: Notícias da UFSC, 2018. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2018/03/vladimir- safatle-na-ufsc-a-ditadura-militar-no-brasil-nunca-terminou-nunca-foi-vencida/ SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. TELES, Edson, SAFATLE, Vladimir (Org). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.
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