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Indaial – 2021 Práticas de conversão de energia Prof. Léo Roberto Seidel 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Léo Roberto Seidel Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S458p Seidel, Léo Roberto Práticas de conversão de energia. / Léo Roberto Seidel. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 187 p.; il. ISBN 978-65-5663-500-2 ISBN Digital 978-65-5663-498-2 1. Conversão de energia. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 621.313 aPresentação Prezado acadêmico! Bem-vindo à disciplina Práticas de Conversão de Energia. Nesta disciplina serão apresentados conceitos, aplicações práticas e de projeto que lhe auxiliarão a identificar, compreender e avaliar alguns fenômenos elétricos muito importantes, como a conversão eletromecânica de energia. Você, acadêmico da Educação à Distância, deve saber que existem alguns fatores importantes para um bom desempenho: disciplina, organização e um horário de estudos predefinido para se obter o sucesso. Em sua caminhada acadêmica, você é quem faz a diferença. Como todo texto técnico, por vezes denso, você necessitará de papel, lápis, borracha, calculadora científica e muita concentração. Lembre-se de que o estudo é algo primoroso. Aproveite essa motivação para iniciar a leitura deste livro de estudos. Este livro está dividido em três unidades que contemplam partes importantes da conversão de energia, aspectos que julguei imprescendíveis para qualquer curso de Engenharia, tais como conceitos de eletrostática, carga elétrica, polarização de materiais, e fenômenos de eletromagnetismo. Na Unidade 1 vamos estudar os princípios da Eletrostática. Essa importante área de estudos explica diversos fenômenos muito comuns no nosso dia a dia. A atração de cargas elétricas e a interação de campos elétricos explica uma infinidade de comportamentos físicos. Na Unidade 2 abordaremos os fenômenos Magnéticos, tais como fluxo magnético e intensidade de campo magnético, permeabilidade magnética e histerese e Efeito Hall. Finalmente, na Unidade 3, nos concentraremos em dispositivos e equipamentos que se utilizam de fenômenos eletromagnéticos para funcionar, tais como relés, solenoides, motores e geradores. Apesar deste livro ser um material destinado à formação geral para os cursos de Engenharia, é importante que você, prezado acadêmico, tenha estudado previamente alguma disciplina sobre Eletromagnetismo, pois diversos temas serão abordados aqui de maneira superficial, considerando que estes já sejam de seu entendimento. Estimamos que, ao término deste estudo, você tenha agregado à sua experiência de acadêmico um mínimo de entendimento sobre a conversão de energia, a fim de lidar com esse tema de forma satisfatória tanto na área acadêmica quanto profissional. Destaca-se, ainda, a necessidade do contínuo aprimoramento através de atualizações e aprofundamento dos temas estudados. Bons estudos! Prof. Me. Léo Roberto Seidel Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA ........................................................................... 1 TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A ESTRUTURA DA MATÉRIA ........................................................................................................ 3 2.1 HISTÓRIA DA ESTRUTURA ATÔMICA ................................................................................... 4 2.2 APLICAÇÃO DA ESTRUTURA ATÔMICA À ELETRICIDADE ESTÁTICA ....................... 7 3 OBJETOS NEUTROS E OBJETOS CARREGADOS .................................................................... 8 3.1 OBJETOS CARREGADOS COMO UM DESEQUILÍBRIO DE PRÓTONS E ELÉTRONS ... 9 3.2 A CARGA COMO UMA QUANTIDADE................................................................................. 10 4 INTERAÇÕES DE CARGA ............................................................................................................. 11 4.1 OS OPOSTOS SE ATRAEM E OS SEMELHANTES SE REPELEM ....................................... 11 4.2 A FORÇA ELÉTRICA E A TERCEIRA LEI DE NEWTON ..................................................... 12 4.3 INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS E NEUTROS ............................................ 14 4.4 REPULSÃO VERSUS ATRAÇÃO ............................................................................................... 15 5 CONDUTORES E ISOLANTES ...................................................................................................... 16 5.1 EXEMPLOS DE CONDUTORES E ISOLANTES ..................................................................... 18 5.2 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA VIA MOVIMENTO ELETRÔNICO....................................... 19 6 POLARIZAÇÃO ................................................................................................................................. 21 6.1 INDUZINDO O MOVIMENTO DE CARGA ........................................................................... 21 6.2 COMO UM ISOLANTE PODE SER POLARIZADO? ........................................................ 23 6.2.1 Como a polarização explica o balão preso à parede? ..................................................... 24 6.3 POLARIZAR NÃO É ELETRIZAR UM OBJETO ..................................................................... 26 7 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: O ELETROSCÓPIO DE FOLHAS DE OURO ................. 27 7.1 PROCEDIMENTO PRÁTICO ..................................................................................................... 28 7.1.1 Materiais ................................................................................................................................28 7.1.2 Montagem do eletroscópio ................................................................................................. 29 7.1.3 Experimentação dos materiais ........................................................................................... 30 7.1.4 Responda estas questões após a realização do experimento: ........................................ 30 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 32 TÓPICO 2 — ELETRIZAÇÃO ............................................................................................................ 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 ELETRIZAÇÃO POR ATRITO ........................................................................................................ 35 2.1 COMO FUNCIONA O ELETRIZAÇÃO POR ATRITO .......................................................... 36 3 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO ................................................................................................... 37 3.1 CARREGANDO UM SISTEMA DE DUAS ESFERAS, USANDO UM OBJETO CARREGADO NEGATIVAMENTE ........................................................................................... 37 3.2 ELETRIZAÇÃO POR INDUÇÃO UTILIZANDO A TERRA ................................................. 38 4 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO (OU POR CONTATO) ..................................................... 40 4.1 ELETRIZAÇÃO POR CONDUÇÃO USANDO UM OBJETO CARREGADO POSITIVAMENTE ......................................................................................................................... 40 5 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA ..................................................................................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 3 — ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS ..................................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 FORÇAS ELÉTRICAS COMO FORÇAS SEM CONTATO ....................................................... 47 2.1 O CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO .................................................................................... 47 2.2 A RELAÇÃO FORÇA POR CARGA .......................................................................................... 48 2.3 OUTRA FÓRMULA DE FORÇA DE CAMPO ELÉTRICO .................................................... 49 2.3.1 A Lei do Inverso Quadrático .............................................................................................. 50 2.4 A DIREÇÃO DO VETOR DE CAMPO ELÉTRICO ................................................................. 50 3 LINHAS DE CAMPO ELÉTRICO .................................................................................................. 51 3.1 REGRAS PARA DESENHAR PADRÕES DE CAMPO ELÉTRICOS .................................... 52 3.1.1 Linhas de campo elétricas para configurações de duas ou mais cargas ...................... 52 3.1.2 Linhas de Campos Elétricos como uma Realidade Invisível ........................................ 54 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 61 UNIDADE 2 — FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS ............................................................ 63 TÓPICO 1 — OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO MAGNETISMO ................................ 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 MAGNETISMO ................................................................................................................................. 65 2.1 A NATUREZA DO MAGNETISMO .......................................................................................... 65 2.2 FLUXO MAGNÉTICO ................................................................................................................. 67 2.3 A MAGNITUDE DO MAGNETISMO ....................................................................................... 70 3 ELETROMAGNETISMO ................................................................................................................. 71 4 O ELETROÍMÃ .................................................................................................................................. 74 4.1 A FORÇA MAGNÉTICA DO ELETROÍMÃ ............................................................................. 76 4.2 PERMEABILIDADE DOS ELETROÍMÃS ................................................................................. 78 5 HISTERESE ......................................................................................................................................... 79 5.1 RETENTIVIDADE ........................................................................................................................ 82 6 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA ..................................................................................................... 85 6.1 INSTRUÇÕES GERAIS ................................................................................................................ 86 6.2 INSTRUÇÕES DE MONTAGEM................................................................................................ 87 6.3 EXPERIMENTAÇÃO ................................................................................................................... 87 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90 TÓPICO 2 — A INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA E O EFEITO HALL ................................. 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA ............................................................................................... 93 2.1 BOBINAS COM NÚCLEO DE AR OU VAZIAS ...................................................................... 93 2.2 LEI DE INDUÇÃO DE FARADAY ............................................................................................. 95 2.3 LEI DE INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA DE LENZ ........................................................... 97 3 SENSOR DE EFEITO HALL .......................................................................................................... 100 3.1 SENSOR MAGNÉTICO DE EFEITO HALL ........................................................................... 102 3.2 APLICAÇÕES DO EFEITO HALL ........................................................................................... 104 3.2.1 Detecção frontal ................................................................................................................. 105 4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA ...................................................................................................107 4.1 PEÇAS E MATERIAIS ................................................................................................................ 108 4.2 INSTRUÇÕES .............................................................................................................................. 109 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 110 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 121 UNIDADE 3 — PRINCÍPIOS DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA ................................ 123 TÓPICO 1 — FORÇA MAGNÉTICA EM UM CONDUTOR QUE TRANSPORTA CORRENTE .......................................................................................................................................... 125 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 125 2 CAMPOS MAGNÉTICOS PRODUZIDOS POR CORRENTES ELÉTRICAS .................... 125 2.1 CALCULANDO A FORÇA MAGNÉTICA ............................................................................. 126 3 FORÇA E TORQUE EM UMA ESPIRA DE CORRENTE ........................................................ 131 4 GERADORES ELÉTRICOS E FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ FCEM ....................... 137 4.1 A FORÇA CONTRA ELETROMOTRIZ (FCEM) ................................................................... 141 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 145 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 146 TÓPICO 2 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE I .......................................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149 2 SENSORES DE POSIÇÃO ............................................................................................................. 149 2.1 O POTÊNCIOMETRO ................................................................................................................ 149 2.2 SENSORES DE POSIÇÃO INDUTIVOS .................................................................................. 153 2.2.1 Transformador diferencial variável linear ..................................................................... 153 2.2.2 Sensores Indutivos de Proximidade ............................................................................... 155 3 SOLENOIDE LINEAR .................................................................................................................... 157 3.1 CONSTRUÇÃO DE SOLENOIDES LINEARES ..................................................................... 159 3.2 SOLENOIDE ROTATIVO .......................................................................................................... 160 3.3 COMUTAÇÃO DE SOLENOIDES ........................................................................................... 161 3.4 REDUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA ........................................................................... 162 3.4.1 Ciclo de trabalho de um solenoide .................................................................................. 163 4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MONTAGEM DE UM SOLENOIDE............................... 164 4.1 MONTAGEM DO SOLENOIDE ............................................................................................... 165 4.2 TESTE DO SOLENOIDE ............................................................................................................ 165 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 TÓPICO 3 — DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS PARTE II ......................................... 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 169 2 RELÉ ELÉTRICO .............................................................................................................................. 169 2.1 O RELÉ ELETROMECÂNICO .................................................................................................. 170 3 MOTOR CC ....................................................................................................................................... 173 3.1 O MOTOR CC BÁSICO ............................................................................................................. 174 3.2 O MOTOR CC COM ESCOVAS ............................................................................................... 175 3.3 O MOTOR CC SEM ESCOVAS ................................................................................................. 178 3.4 O SERVOMOTOR CC ................................................................................................................ 179 4 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: MOTOR CC .......................................................................... 180 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 182 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 184 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 187 1 UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • saber e identificar a eletricidade estática em várias situações do dia a dia; • entender o que é carga elétrica, o que são condutores e o que são isolan- tes; • como ocorre a polarização de objetos condutores; • compreender como ocorre a polarização em materiais isolantes; • o que são e como se comportam os campos elétricos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A ELETRICIDADE ESTÁTICA TÓPICO 2 – ELETRIZAÇÃO TÓPICO 3 – ANÁLISE DE CAMPOS ELÉTRICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A ELETRICIDADE ESTÁTICA 1 INTRODUÇÃO A eletricidade estática é um fenômeno muito comum e abundante em nosso dia a dia. A interação entre cargas positivas e negativas explica uma grande parte dos fenômenos físicos e químicos que regem o mundo como conhecemos. Neste tópico, vamos estudar os princípios fundamentais da eletricidade estática que nos permitirão analisar, avaliar e compreender muitas situações de nosso cotidiano. 2 A ESTRUTURA DA MATÉRIA Existe uma grande interação entre o mundo da eletricidade estática e o mundo cotidiano que vivemos. As roupas saem na secadora e se agarram. Você anda pelo carpete de uma sala e recebe um choque na maçaneta da porta. Você tira um casaco de lã no final do dia e vê faíscas de eletricidade. Durante o clima seco do inverno, você sai do carro e recebe um choque na porta deste. Faíscas de eletricidadesão vistas enquanto você tira um cobertor de lã dos lençóis da sua cama. Você acaricia a pele do seu gato e observa o pelo ficar em pé em sua extremidade. Raios atravessam o céu da noite durante uma tempestade de primavera. Esses são todos fenômenos da eletricidade estática – eventos que só podem ser explicados por uma compreensão da física da eletrostática. Na Figura 1, pode-se ver um gato com pedaços de isopor presos ao seu pelo devido à eletricidade estática. FIGURA 1 – PEDAÇOS DE ISOPOR PRESOS AO PELO POR ELETRICIDADE ESTÁTICA FONTE: <https://pic4.zhimg.com/80/v2-0f3ed3765eef72b92c0f873f9e7333bf_1440w.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2020. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 4 Não só as ocorrências eletrostáticas permeiam os acontecimentos da vida cotidiana, mas sem as forças associadas à eletricidade estática, a vida como conhecemos seria impossível. Forças eletrostáticas, de natureza atrativa e repulsiva, mantêm o mundo dos átomos e moléculas juntos em perfeito equilíbrio. Sem essa força elétrica, qualquer coisa material não existiria! Átomos são como os blocos de construção da matéria que dependem dessas forças para se manterem unidos. E objetos materiais, incluindo nós terráqueos, são feitos de átomos e ações como andar ou ficar de pé, sentir e tocar, cheirar e degustar, e até mesmo pensar é o resultado de fenômenos elétricos. Forças eletrostáticas são fundamentais para nossa existência. Uma das principais perguntas a serem feitas neste tópico é: como um objeto pode ser eletricamente carregado e quais os efeitos essa carga tem sobre outros objetos em sua vizinhança? A resposta a essa pergunta começa com a compreensão da estrutura da matéria. Entender a carga como uma quantidade fundamental exige que tenhamos uma compreensão da estrutura de um átomo. Então começamos este tópico com o que pode parecer para muitos como uma breve revisão de alguma disciplina já estudada em algum semestre anterior. 2.1 HISTÓRIA DA ESTRUTURA ATÔMICA A busca pelo átomo começou como uma questão filosófica. Foram os filósofos naturais da Grécia antiga que começaram a busca pelo átomo fazendo perguntas como: do que a matéria é feita? Qual é a estrutura dos objetos materiais? Existe uma unidade básica da qual todos os objetos são feitos? Já em 400 a.C., alguns filósofos gregos propuseram que a matéria é feita de blocos de construção indivisíveis conhecidos como átomos – que, em grego, significa indivisível. Para esses gregos primitivos, a matéria não poderia ser continuamente quebrada e dividida indefinidamente. Em vez disso, havia uma unidade básica ou bloco de construção que era indivisível e fundamental para sua estrutura. Esse bloco de construção indivisível do qual toda a matéria foi composta ficou conhecida como o átomo, conforme explica Lana (2014). Átomos são os blocos construtivos da matéria. IMPORTANT E TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 5 Os primeiros gregos a pensarem nas questões da composição da matéria eram simplesmente filósofos. Eles não realizaram experimentos para testar suas teorias. Na verdade, a ciência como disciplina experimental não emergiu como uma prática crível e popular até meados de 1600. Assim, a busca pelo átomo permaneceu um debate filosófico por alguns milênios. De 1600 até o século atual, a busca pelo átomo tornou-se uma busca experimental. Vários cientistas se destacam nessa área, entre eles estão Robert Boyle, John Dalton, J. J. Thomson, Ernest Rutherford, e Neils Bohr. Os estudos de Boyle (meados do final de 1600) de substâncias gasosas promoveram a ideia de que havia diferentes tipos de átomos conhecidos como elementos. Dalton (início de 1800) conduziu uma variedade de experimentos para mostrar que diferentes elementos podem se combinar em proporções fixas de massas para formar compostos. Dalton propôs posteriormente uma das primeiras teorias do comportamento atômico que foi apoiada por evidências experimentais reais (LANA, 2014). Os experimentos de raios catódicos do cientista inglês J. J. Thomson (final do século XIX) levaram à descoberta do elétron carregado negativamente e às primeiras ideias da estrutura desses átomos indivisíveis. Thomson propôs o Modelo de Pudim de Ameixa, sugerindo que a estrutura de um átomo se assemelha a sua sobremesa inglesa favorita: o pudim de ameixa. As passas dispersas em meio ao pudim de ameixa são análogas a elétrons carregados negativamente imersos em um mar de carga positiva. Quase uma década depois de Thomson, os famosos experimentos de folha de ouro de Ernest Rutherford levaram ao modelo nuclear da estrutura atômica. O modelo de Rutherford sugeriu que o átomo consistia de um núcleo densamente empacotado de carga positiva, conhecido como núcleo cercado por elétrons carregados negativamente. Enquanto o núcleo era único para o átomo de Rutherford, ainda mais surpreendente era a proposta de que um átomo consistia principalmente de espaço vazio. A maior parte da massa estava concentrada no núcleo que era anormalmente pequeno comparado com o tamanho real do átomo. Neils Bohr melhorou o modelo nuclear de Rutherford (1913) explicando que os elétrons estavam presentes em órbitas fora do núcleo. Os elétrons estavam confinados a órbitas específicas de raio fixo, cada um caracterizado por seus próprios níveis discretos de energia. Embora os elétrons pudessem ser forçados de uma órbita para outra órbita, eles nunca poderiam ocupar o espaço entre as órbitas. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 6 FIGURA 2 – LINHA DO TEMPO COM A EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ev/ol/evolucaodosmodelosatomicos-cke. jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. A visão de Bohr dos níveis de energia quantizada foi a precursora das visões da mecânica quântica moderna dos átomos. A natureza matemática da mecânica quântica impossibilita uma discussão de seus detalhes e nos restringe a uma breve descrição conceitual de suas características. A mecânica quântica sugere que um átomo é composto de uma variedade de partículas subatômicas. As três principais partículas subatômicas são o próton, elétron e nêutron. O próton e o nêutron são as mais massivas das três partículas subatômicas; eles estão localizados no núcleo do átomo, formando o núcleo denso do átomo. O próton é carregado positivamente. O nêutron não possui uma carga e é dito ser neutro. Os prótons e nêutrons estão firmemente unidos dentro do núcleo do átomo. Fora do núcleo estão regiões esféricas concêntricas do espaço conhecidas como camadas eletrônicas. As camadas são o lar dos elétrons carregados negativamente. Cada camada é caracterizada por um nível de energia distinto. As camadas externas têm níveis de energia mais elevados e são caracterizadas como sendo menores em estabilidade. Elétrons em camadas de energia mais alta podem descer para camadas de energia mais baixas; este movimento é acompanhado pela liberação de energia. Da mesma forma, elétrons em camadas de energia mais baixas podem ser induzidos a mover-se para as camadas externas de maior energia pela adição de energia ao átomo. Se for fornecida energia suficiente, um elétron pode ser removido de um átomo e ser libertado de sua atração pelo núcleo. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 7 FIGURA 3 – MODELOS DOS ÁTOMOS DE OXIGÊNIO E DE SÓDIO FONTE: O autor 2.2 APLICAÇÃO DA ESTRUTURA ATÔMICA À ELETRICIDADE ESTÁTICA Essa breve excursão à história da teoria atômica leva a algumas conclusões importantes sobre a estrutura da matéria que será de extrema importância para o nosso estudo da eletricidade estática. Essas conclusões são resumidas aqui: • Todos os objetos materiais são compostos de átomos. Existem diferentes tipos de átomos conhecidos como elementos atômicos, estes elementos podem se combinar para formar compostos. Diferentes compostostêm propriedades distintas. Os objetos materiais são compostos de átomos e moléculas desses elementos e compostos, fornecendo materiais diferentes com diferentes propriedades elétricas. • Um átomo consiste em um núcleo e uma vasta região de espaço fora do núcleo. Elétrons estão presentes na região do espaço fora do núcleo. Eles estão negativamente carregados e fracamente ligados ao átomo. Elétrons são frequentemente removidos e adicionados a um átomo por ocorrências normais do dia a dia. Essas ocorrências são foco de estudo deste tópico. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 8 • O núcleo do átomo contém prótons carregados positivamente e nêutrons, estes últimos sem carga elétrica. Esses prótons e nêutrons não são removíveis ou mesmo perturbados por ações usuais do dia a dia. Seria necessário algum fenômeno de natureza nuclear de alta energia para perturbar o núcleo e, posteriormente, desalojar seus prótons carregados positivamente. Essas ocorrências de alta energia felizmente não são um evento cotidiano e certamente não fazem parte de nosso estudo. Assim, uma verdade absoluta deste tópico é que os prótons e nêutrons permanecerão dentro do núcleo do átomo e, por consequência, fenômenos eletrostáticos nunca poderão ser explicados pelo movimento de prótons. • Uma variedade de fenômenos será ponderada, investigada e explicada no decorrer de nosso estudo. Cada fenômeno será explicado utilizando um modelo de matéria descrito pelas três declarações supracitadas (I, II e III). Os fenômenos vão desde um balão de borracha grudando em uma porta de madeira, ao enrosco de roupas que caíram na secadora ou ao raio visto no céu da noite. Cada um desses fenômenos será explicado em termos de movimento de elétrons – tanto dentro dos átomos e moléculas de um material quanto dos átomos e moléculas de um material para os de outro. Próton Nêutrons Elétron No núcleo. Firmemente preso. Carga Positiva. Com massa. No núcleo. Firmemente preso. Sem Carga. Com massa. Fora do núcleo. Fracamente preso. Carga Negativa. Pouca massa. QUADRO 1 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS PARTÍCULAS SUBATÔMICAS FONTE: O autor 3 OBJETOS NEUTROS E OBJETOS CARREGADOS Como discutido anteriormente, os átomos são os blocos de construção da matéria. Existem diferentes tipos de átomos, conhecidos como elementos atômicos. Átomos de cada elemento são distinguidos uns dos outros pelo número de prótons presentes em seu núcleo. Um átomo contendo um próton é um átomo de hidrogênio (H). Um átomo contendo seis prótons é um átomo de carbono (C). E um átomo contendo oito prótons é um átomo de oxigênio (O). O número de elétrons que circundam o núcleo determinará se um átomo é eletricamente carregado ou eletricamente neutro. A quantidade de carga em um único próton é igual à quantidade de carga possuída por um único elétron. Um próton e um elétron têm uma quantidade igual, mas um tipo oposto de carga. Assim, se um átomo contém números iguais de prótons e elétrons, o átomo é descrito como sendo eletricamente neutro. Por outro lado, se um átomo tem um número desigual de prótons e elétrons, então o átomo é eletricamente carregado (e, de fato, é referido como um íon em vez de um átomo). Qualquer TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 9 QUADRO 2 – PARTÍCULAS CARREGADAS VERSUS NÃO CARREGADAS FONTE: O autor partícula seja um átomo, molécula ou íon, que contenha menos elétrons do que prótons dizemos que está positivamente carregada. Por outro lado, qualquer partícula que contenha mais elétrons do que prótons é considerada carregada negativamente. Carregada positivamente Carregada negativamente Não carregada Possui mais prótons do que elétrons. Possui mais elétrons do que prótons. Número igual de prótons e elétrons. 3.1 OBJETOS CARREGADOS COMO UM DESEQUILÍBRIO DE PRÓTONS E ELÉTRONS Anteriormente, um átomo foi descrito como sendo um pequeno e denso núcleo de prótons carregados positivamente e nêutrons neutros cercados por camadas de elétrons carregados negativamente. Os prótons estão firmemente ligados dentro do núcleo e não removíveis por ações comuns. Enquanto os elétrons são atraídos pelos prótons do núcleo, a adição de energia a um átomo pode persuadir os elétrons a deixar um átomo. Da mesma forma, elétrons dentro de átomos de outros materiais podem ser persuadidos a deixar suas próprias camadas eletrônicas e se tornar membros das camadas de elétrons de outros átomos de diferentes materiais. Em suma, os elétrons são migrantes: constantemente em movimento e sempre prontos para experimentar um novo ambiente atômico. Todos os objetos são compostos por esses átomos. Os elétrons contidos dentro dos objetos são propensos a se mover ou migrar para outros objetos. O processo de um elétron deixando um objeto material para residir (talvez apenas temporariamente) em outro objeto é uma ocorrência comum no dia a dia. Mesmo quando você lê as palavras desse texto, alguns elétrons provavelmente estão se movendo através da tela do seu dispositivo e aderindo à sua roupa (assumindo que você está usando este recurso on-line e vestindo roupas). Se você atravessasse o carpete em direção à porta da sala, os elétrons provavelmente seriam arrancados dos átomos de seus sapatos e movidos para os átomos do tapete. E à medida que as roupas caem na secadora, é altamente provável que elétrons em uma peça de roupa se movam dos átomos da roupa para os átomos de outra peça de roupa. Em geral, para os elétrons fazerem um movimento dos átomos de um material para os átomos de outro material, deve haver uma fonte de energia, um motivo, e uma via de baixa resistência. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 10 A causa e os mecanismos pelos quais esse movimento de elétrons ocorre serão vistos adiante. Por enquanto, basta dizer que objetos que são carregados contêm números desiguais de prótons e elétrons. Objetos carregados têm um desequilíbrio de carga: ou elétrons mais negativos do que prótons positivos ou vice-versa. E objetos neutros têm um equilíbrio de carga: número igual de prótons e elétrons. O princípio declarado anteriormente para os átomos pode ser aplicado a objetos. Objetos com mais elétrons do que prótons são carregados negativamente; objetos com menos elétrons do que prótons são carregados positivamente. Nesta discussão de objetos eletricamente carregados versus eletricamente neutros, o nêutron foi negligenciado. Nêutrons, sendo eletricamente neutros, não desempenham nenhum papel nesse momento. Sua presença (ou ausência) não terá relação direta sobre se um objeto é carregado ou não. Seu papel no átomo é apenas proporcionar estabilidade ao núcleo, assunto não discutido nesta disciplina. Quando se trata da eletricidade estática, elétrons e prótons tornam-se os personagens principais. 3.2 A CARGA COMO UMA QUANTIDADE Tal qual a massa, a carga de um objeto é uma quantidade mensurável. A carga possuída por um objeto é frequentemente expressa usando a unidade científica conhecida como Coulomb. Assim como a massa é medida em gramas ou quilogramas, a carga é medida em unidades de Coulombs (abreviadamente C). Como um Coulomb de carga é uma quantidade de carga muito grande, as unidades de microcoulombs (μC) ou nanocoulombs (nC) são mais comumente utilizadas como a unidade de medição da carga. Para ilustrar a magnitude de 1 Coulomb, um objeto precisaria de um excesso de 6,25 x 1018 elétrons para ter uma carga total de -1 C. E, claro, um objeto com uma escassez de 6,25 x 1018 elétrons teria uma carga total de +1 C. A carga em um único elétron é -1,6 x 10-19 Coulomb. A carga em um único próton é +1,6 x 10-19 Coulomb. A quantidade de carga em um objeto reflete a quantidade de desequilíbrio entre elétrons e prótons naquele objeto. Assim, para determinar a carga total deum objeto carregado positivamente (um objeto com um excesso de prótons), deve-se subtrair o número total de elétrons do número total de prótons. Essa operação produz o número de prótons em excesso. Uma vez que um único próton contribui com uma carga de +1,6 x 10-19 Coulomb para a carga global de um átomo, a carga total pode ser calculada multiplicando o número de prótons em excesso por +1,6 x 10 -19 Coulomb. Um processo semelhante é usado para determinar a carga total de um objeto carregado negativamente (um objeto com um excesso de elétrons), exceto que o número de prótons é subtraído, inicialmente, do número de elétrons. Este princípio é ilustrado no Quadro 3. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 11 Objeto Nº de prótons/elétrons em excesso Quantidade e Tipo de Carga (Q) no Objeto em Coulombs A 1 x 106 elétrons em excesso -1,6 x 10-13 C B 1 x 106 prótons em excesso +1,6 x 10-13 C C 2 x 1010 elétrons em excesso -3,2 x 10-9 C D 3,5 x 108 prótons em excesso +5,6 x 10-11 C E 4,67 x 1010 elétrons em excesso -7,5 x 10-9 C QUADRO 3 – OBJETOS CARREGADOS FONTE: O autor Em conclusão, um objeto eletricamente neutro é um objeto que tem um equilíbrio de prótons e elétrons. Em contraste, um objeto carregado tem um desequilíbrio de prótons e elétrons. Determinar a quantidade de carga em tal objeto envolve um processo de contagem; o número total de elétrons e prótons é comparado para determinar a diferença entre o número de prótons e elétrons. Essa diferença é multiplicada por 1,6 x 10-19 Coulombs para determinar a quantidade total de carga no objeto. O tipo de carga (positiva ou negativa) é determinado se os prótons ou os elétrons estão em excesso. 4 INTERAÇÕES DE CARGA Suponha que você esfregou um balão com uma amostra de pelo animal, como um casaco de lã ou até mesmo seu próprio cabelo. O balão provavelmente se tornaria carregado e sua carga exerceria uma estranha influência sobre outros objetos em sua vizinhança. Se alguns pequenos pedaços de papel foram colocados sobre uma mesa e o balão foi trazido perto e mantido acima dos pedaços de papel, então a presença do balão carregado pode criar uma atração suficiente para os pedaços de papel para levantá-los da mesa. Essa influência, conhecida como força elétrica, ocorre mesmo quando o balão carregado é mantido a alguma distância dos pedaços de papel. A força elétrica é uma força sem contato. Qualquer objeto carregado pode exercer essa força sobre outros objetos – objetos carregados e não carregados. 4.1 OS OPOSTOS SE ATRAEM E OS SEMELHANTES SE REPELEM Esses dois princípios fundamentais de interações de carga serão usados em toda a unidade para explicar a vasta gama de fenômenos estáticos de eletricidade. Como mencionado anteriormente, existem dois tipos de objetos eletricamente carregados: aqueles que contêm mais prótons do que elétrons (positivamente carregados) e aqueles que contêm menos prótons do que elétrons (negativamente carregados). Esses dois tipos de cargas elétricas, positivas e UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 12 negativas, são consideradas tipos opostos de carga. E de maneira consistente com nosso princípio fundamental de interação de carga, um objeto carregado positivamente atrairá um objeto carregado negativamente. Objetos com cargas opostas exercerão uma infl uência de atração uns sobre os outros. Em contraste com a força atrativa entre dois objetos com cargas opostas, dois objetos de polaridade semelhantes irão repelir um ao outro, ou seja, um objeto carregado positivamente exercerá uma força repulsiva sobre um segundo objeto carregado positivamente. Essa força repulsiva irá afastar os dois objetos. Da mesma forma, um objeto carregado negativamente exercerá uma força repulsiva sobre um segundo objeto carregado negativamente. Objetos com carga semelhante repelem uns aos outros. FIGURA 4 – DEMONSTRAÇÃO DAS INTERAÇÕES DE OBJETOS CARREGADOS FONTE: O autor 4.2 A FORÇA ELÉTRICA E A TERCEIRA LEI DE NEWTON Essa força elétrica exercida entre dois objetos com cargas elétricas opostas, ou com cargas elétricas semelhantes, é uma força tal qual a tensão, gravidade e resistência ao ar. E sendo uma força, as mesmas leis e princípios que descrevem qualquer força também descrevem a força elétrica. Uma dessas leis é a Lei da Ação e Reação. De acordo com a terceira lei de Newton, uma força é simplesmente uma interação mútua entre dois objetos que resulta em um empurrão (ou puxão) igual e oposto sobre esses objetos. Vamos aplicar a terceira lei de Newton para descrever a interação entre o Objeto A e o Objeto B, ambos com carga positiva, conforme mostrado na Figura 5. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 13 FIGURA 5 – INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS DE MESMA CARGA FONTE: O autor Na Figura 5, o objeto A exerce um empurrão para a direita sobre o objeto B. O objeto B exerce um empurrão para a esquerda sobre o objeto A. Essas duas forças têm magnitudes iguais e são exercidas em direções opostas uma da outra. Cada objeto exerce sua própria força sobre o outro. O empurrão sobre o objeto B (pelo objeto A) é direcionado para longe do objeto A, e o empurrão sobre o objeto A (devido o objeto B) é direcionado para longe do objeto B. Devido à natureza de afastamento das forças mútuas nesses objetos, elas são denominadas repulsivas. Agora vamos aplicar o mesmo princípio de ação-reação a dois objetos carregados com polaridades opostas: Objeto C (positivo) e Objeto D (negativo), conforme mostrado na Figura 6. O objeto C exerce um puxão para a esquerda sobre o objeto D. O objeto D, por sua vez, exerce uma atração para a direita sobre o objeto C. Mais uma vez, cada objeto exerce sua força sobre o outro. Assim como antes, essas duas forças têm magnitudes iguais e são exercidas em direções opostas uma da outra. No entanto, neste caso, a direção da força no Objeto D é em direção ao Objeto C e a direção da força no Objeto C é para o objeto D. Devido esta natureza da interação mútua, a força é denominada como atrativa. FIGURA 6 – INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS DE CARGAS OPOSTAS FONTE: O autor UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 14 4.3 INTERAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS E NEUTROS A interação entre dois objetos carregados com mesma polaridade é repulsiva. A interação entre dois objetos carregados de forma oposta é atrativa. Que tipo de interação é observada entre um objeto carregado e um objeto neutro? A resposta pode ser um tanto surpreendente. Qualquer objeto carregado, seja positivamente ou negativamente, terá uma interação atrativa com um objeto neutro. Objetos carregados positivamente e objetos neutros atraem-se uns aos outros; e objetos carregados negativamente e objetos neutros atraem-se uns aos outros. Na Figura 7 é mostrada a atração de pedaços de papel, eletricamente neutros, por um objeto com carga elétrica. FIGURA 7 – UM PENTE DE PLÁSTICO CARREGADO ATRAI PEDAÇOS DE PAPEL FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/na-figura-acima-ve- mos-um-pente-plastico-eletricamente-carregado-atraindo-pequenos-pedacos-papel-5bb7cb- 0644ced.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. Esse terceiro tipo de interação, entre objetos carregados e neutros, é bastante comum em experimentos de laboratório. Por exemplo, se um balão carregado for mantido acima de pedaços neutros de papel, a força de atração para os pedaços de papel será forte o suficiente para superar a força para baixo da gravidade e elevar os pedaços de papel da mesa. Se um tubo de plástico carregado for mantido acima de alguns pedaços de papel, o tubo exercerá uma influência atrativa sobre o papel para levantá-lo da mesa. E de maneira surpreendente, um balão de borracha carregado pode ser atraído para um armário de madeira com força suficiente para grudá-lo no armário. Qualquer objeto carregado,plástico, borracha ou alumínio, exercerá uma força atrativa sobre um objeto neutro. E de acordo com a lei de Newton de ação e reação, o objeto neutro atrai o objeto carregado. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 15 FIGURA 8 – OBJETOS CARREGADOS SE REPELINDO FONTE: O autor 4.4 REPULSÃO VERSUS ATRAÇÃO Pelo fato de objetos carregados interagirem com seus arredores, uma interação observada fornece possíveis evidências de que um objeto é carregado. Suponha que você entre na sala de aula e observe dois balões suspensos do teto. Em vez de fi car em linha reta verticalmente, os balões estão pendurados em um ângulo, exibindo uma interação repulsiva como mostrado na Figura 8. A única maneira que dois objetos podem se repelir é se ambos estiverem carregados com o mesmo tipo de carga. Assim, a repulsão dos balões fornece evidências conclusivas de que ambos os balões são carregados com carga de mesma polaridade. Não se pode concluir que os balões estão carregados positivamente ou negativamente. Informações adicionais ou testes adicionais seriam necessários para chegar a uma conclusão do tipo de carga presente nos balões. No entanto, podemos concluir que ambos os balões possuem uma carga em excesso: positiva ou negativa. Agora vamos contrastar a observação da repulsão com a da atração. Suponha que você entre na sala de aula de física e observe dois balões suspensos do teto apresentando uma interação de atração, conforme mostrado na Figura 9. Há duas razões para os dois objetos se atraírem. Um balão pode ser neutro e o outro balão carregado ou ambos os balões podem ser carregados com o tipo oposto de carga. Assim, sua única conclusão pode ser que pelo menos um dos balões esteja carregado. O outro balão é neutro ou carregado com o tipo oposto de carga. Você não pode tirar uma conclusão sobre qual dos balões é carregado ou que tipo de carga (positiva ou negativa) o balão carregado possui. Informações adicionais ou testes adicionais seriam necessários para tirar essas conclusões. Por exemplo, se você pudesse pegar cada balão e trazer individualmente perto de alguns UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 16 pedaços neutros de papel, você poderia testar para ver se cada balão individual é carregado ou neutro. Se um balão fosse carregado, então ele exibiria uma interação de atração com os pedaços de papel neutro. Por outro lado, um balão não carregado não interagiria com pedaços de papel neutros. FIGURA 9 – ATRAÇÃO ENTRE OBJETOS CARREGADOS FONTE: O autor Os experimentos citados ilustram, de maneira conclusiva, a natureza de repulsão dos objetivos. Quando os objetos se repelem, pode-se ter certeza de que ambos os objetos são carregados. Por outro lado, a observação de uma interação de atração leva a conclusões limitadas. Na melhor das hipóteses, pode-se concluir que pelo menos um dos objetos é carregado. 5 CONDUTORES E ISOLANTES O comportamento de um objeto que foi carregado depende se o objeto é feito de um material condutor ou não condutor (isolante). Condutores são materiais que permitem que elétrons fl uam livremente de partículas para partículas. Um objeto feito de um material condutor permitirá que a carga seja transferida por toda a superfície do objeto. Se a carga for transferida para o objeto em um determinado local, essa carga será rapidamente distribuída por toda a superfície do objeto. A distribuição da carga é o resultado do movimento dos elétrons. Uma vez que os condutores permitem que os elétrons sejam transportados de partículas para partículas, um objeto carregado sempre distribuirá sua carga até que as forças repulsivas globais entre elétrons em excesso sejam minimizadas. Se um condutor carregado for tocado por outro objeto, o condutor pode até transferir sua carga para esse objeto. A transferência de carga entre objetos ocorre mais facilmente se o segundo objeto for feito de um material condutor. Os condutores permitem a transferência de carga através da livre circulação de elétrons. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 17 FIGURA 10 – EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO UNIFORME DE CARGAS NUM CONDUTOR FONTE: O autor As partículas referidas anteriormente podem ser átomos, moléculas ou mesmo objetos. ATENCAO Na Figura 10, em (a), uma esfera metálica está apoiada sobre uma base de material isolante. Um bastão de plástico carregado negativamente toca a esfera. Em (b) vemos que parte da carga do bastão foi transferida para a esfera no ponto de contato com o bastão (não representado). Em (c), a carga elétrica adquirida de espalhou uniformemente sobre a esfera. Em contraste com os condutores, isolantes são materiais que impedem o livre fl uxo de elétrons de átomo para átomo e molécula para molécula. Se a carga for transferida para um isolante em um determinado local, aquela carga excedente permanecerá naquele local. As partículas do isolante não permitem o livre fl uxo de elétrons. Embora os isolantes não sejam úteis para transferir cargas, eles servem a um papel crítico em experimentos eletrostáticos e demonstrações. Objetos condutores são frequentemente montados sobre objetos isolantes. Esse arranjo de um condutor em cima de um isolante impede que a carga seja transferida do objeto condutor para o seu entorno. Esse arranjo também permite que o experimentador manipule um objeto condutor sem tocá-lo. O isolante serve como uma alça para mover o condutor em cima de uma mesa de laboratório. Se os experimentos de eletrização forem realizados com latinhas de alumínio, as latas devem ser montadas em cima de copos de isopor, por exemplo. Os copos servem como isolantes, impedindo que as latinhas descarreguem sua carga. Os copos também servem como alças quando se torna necessário mover as latas sobre a mesa. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 18 5.1 EXEMPLOS DE CONDUTORES E ISOLANTES Exemplos de condutores incluem metais, soluções aquosas de sais (ou seja, compostos iônicos dissolvidos em água), grafi te e corpo humano. Exemplos de isolantes incluem plásticos, isopor, papel, borracha, vidro e ar seco. A divisão de materiais nas categorias de condutores e isolantes é uma divisão um tanto artifi cial. É mais apropriado pensar em materiais como ordenados numa fi la contínua. Aqueles materiais supercondutores (conhecidos como supercondutores) seriam colocados num lado e os materiais menos condutores (ou seja, isolantes) seriam colocados na outra extremidade. Os metais seriam colocados perto da extremidade mais condutora e o vidro seria colocado na extremidade oposta da fi la. A condutividade de um metal pode ser um milhão de vezes maior que a do vidro. FIGURA 11 – CONDUTIVIDADE DE ALGUNS MATERIAIS FONTE: O autor Ao longo da fi la de condutores e isolantes, pode-se encontrar o corpo humano em algum lugar central um pouco mais próximo dos condutores. Quando o corpo adquire uma carga estática, tem uma tendência a distribuir essa carga por toda a superfície do corpo. Dado o tamanho do corpo humano, em relação ao tamanho de objetos típicos usados em experimentos eletrostáticos, ele exigiria uma quantidade muito grande de carga antes que seu efeito fosse perceptível. Os efeitos do excesso de carga no corpo são frequentemente demonstrados usando um gerador Van de Graaff . Quando alguém coloca a mão sobre a esfera estática, o excesso de carga da esfera é compartilhado com o corpo humano. Sendo um condutor, o excesso de carga poderia fl uir para o corpo humano e se espalhar por toda a superfície do corpo, mesmo em fi os de cabelo. À medida que os fi os individuais de cabelo se tornam carregados, eles começam a se repelir. Procurando distanciar-se de seus vizinhos carregados, os fi os de cabelo começam a subir e a apontar para longe da cabeça. A Figura 12 ilustra esse fenômeno: TÓPICO 1 — A ELETRICIDADEESTÁTICA 19 FIGURA 12 – ELETRICIDADE ESTÁTICA CRIADA POR UM GERADOR DE VAN DER GRAAFF FONTE: <https://assets.fishersci.com/TFS-Assets/CCG/product-images/FS102482~p.eps-650. jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. Muitos estão familiarizados com o impacto que a umidade pode ter sobre acúmulos de carga estática. Você provavelmente notou que, em dias “de cabelo ruim”, choques de maçanetas e roupas com eletricidade estática são mais comuns durante os meses de inverno (para as regiões do país que possuem o inverno definido por dias mais frios). Os meses de inverno tendem a ser os meses mais secos do ano, com os níveis de umidade no ar caindo para valores mais baixos. A água tende a remover gradualmente o excesso de carga dos objetos. Quando a umidade é alta, uma pessoa que adquire uma carga elétrica tenderá a perder essa carga para moléculas de água no ar circundante. Por outro lado, as condições de ar seco são mais propícias ao acúmulo de carga estática e choques elétricos mais frequentes. Como os níveis de umidade tendem a variar de dia para dia e estação para estação, espera-se que os efeitos elétricos (e até mesmo o sucesso das demonstrações eletrostáticas) possam variar de dia para dia. 5.2 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA VIA MOVIMENTO ELETRÔNICO Prever a direção que os elétrons se moveriam dentro de um material condutor é uma simples aplicação das duas regras fundamentais de interação de carga: os opostos se atraem e os semelhantes se repelem. Suponha que algum método seja usado para transmitir uma carga negativa a um objeto em um determinado local. No local onde a carga é transmitida, há um excesso de elétrons, ou seja, o grupo de átomos naquela região possui mais elétrons do que prótons. Claro, há uma série de elétrons que poderiam ser considerados como UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 20 sendo bastante satisfeitos, uma vez que há um próton positivamente carregado para satisfazer sua atração por um oposto. No entanto, os chamados elétrons em excesso têm uma resposta repulsiva uns aos outros e preferem mais espaço. Elétrons desejam manipular seus arredores em um esforço para reduzir efeitos repulsivos. Uma vez que esses elétrons em excesso estão presentes em um condutor, há pouco obstáculo à sua capacidade de migrar para outras partes do objeto. E isso é exatamente o que eles fazem. Em um esforço para reduzir os efeitos repulsivos globais dentro do objeto, há uma migração em massa de elétrons em excesso por toda a superfície do objeto. Elétrons em excesso migram para se distanciar de seus vizinhos repulsivos. Nesse sentido, diz-se que o excesso de carga negativa se distribui por toda a superfície do condutor. O que acontece se o condutor adquirir um excesso de carga positiva? E se os elétrons forem removidos de um condutor em um determinado local, dando ao objeto uma carga positiva? Se os prótons não podem se mover, então como o excesso de carga positiva pode se distribuir pela superfície do material? Embora as respostas a essas perguntas não sejam tão óbvias, ainda envolve uma explicação bastante simples que, mais uma vez, se baseia nas duas regras fundamentais de interação de carga. Os opostos se atraem e os semelhantes se repelem. Suponha que uma esfera metálica condutora seja carregada no seu lado esquerdo com um excesso de carga positiva. Isso significa que os elétrons sejam removidos do objeto naquele local por eletrização. Uma infinidade de átomos na região onde a eletrização ocorre perderam um ou mais elétrons e têm um excesso de prótons. O desequilíbrio de carga dentro desses átomos cria efeitos que podem ser considerados como perturbadores do equilíbrio de carga dentro de todo o objeto. A presença desses prótons em excesso em um determinado local atrai elétrons de outros átomos. Elétrons em outras partes do objeto podem ser considerados como sendo bastante satisfeitos com o equilíbrio de carga que eles estão experimentando. No entanto, sempre haverá alguns elétrons que sentirão a atração pelo excesso de prótons a alguma distância. Em termos humanos, podemos dizer que esses elétrons são atraídos pela curiosidade ou pela crença de que a grama é mais verde do outro lado da cerca. Na linguagem da Eletrostática, simplesmente afirmamos que os opostos se atraem: o excesso de prótons e os elétrons vizinhos e distantes se atraem. Os prótons não podem fazer nada sobre esta atração, uma vez que estão ligados dentro do núcleo de seus próprios átomos. No entanto, os elétrons estão vagamente ligados dentro dos átomos, eles são livres para se mover. Esses elétrons fazem o movimento para o local com excesso de prótons, deixando seus átomos TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 21 com seu próprio excesso de carga positiva. Essa migração de elétrons acontece em toda a superfície do objeto, até que a soma global de efeitos repulsivos entre elétrons em toda a superfície do objeto seja minimizada. 6 POLARIZAÇÃO Foi afi rmado anteriormente que uma atração elétrica seria observada entre um objeto carregado e um objeto neutro. Se um tubo de plástico carregado for mantido perto de pedaços de papel neutro, a atração entre o papel e o plástico seria sufi ciente para levantar o papel da mesa. Se um balão de borracha é carregado esfregando-o com pele animal, o balão pode posteriormente ser preso à superfície de um armário de madeira ou uma parede de material isolante. Surpreendentemente, essa interação entre um objeto neutro e qualquer objeto carregado pode ser explicada usando nossas regras habituais de opostos se atraem e semelhantes se repelem. FIGURA 13 – BALÕES PRESOS NA PAREDE PELA ELETRICIDADE ESTÁTICA FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-GrKlC0ojsKU/Tmf9JE9rieI/AAAAAAAAADg/VDb-tst6mtQ/ s1600/DSCF0247.JPG>. Acesso em: 14 dez. 2020. 6.1 INDUZINDO O MOVIMENTO DE CARGA Como discutido anteriormente, um átomo consiste em prótons carregados positivamente e elétrons carregados negativamente. Os prótons estão no núcleo do átomo, fi rmemente ligados e incapazes de se movimentar. Os elétrons estão localizados nas vastas regiões do espaço ao redor do núcleo, conhecidos como camadas eletrônicas ou nuvens eletrônicas. Em relação aos prótons do núcleo, esses elétrons estão vagamente ligados. Em objetos condutores, eles estão tão fracamente amarrados que podem ser induzidos a mover-se de uma parte do objeto para outra parte do objeto. Para que um UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 22 elétron deixe um objeto condutor e se mova para determinada direção, basta que aproximemos um objeto carregado. Para ilustrar esse movimento induzido de elétrons, consideraremos uma latinha de alumínio colada a um copo de isopor. O copo de isopor serve tanto como um suporte isolante quanto uma alça. Um balão de borracha é carregado negativamente, talvez, o esfregando contra peles de animais. Se o balão carregado negativamente for trazido perto da latinha de alumínio, os elétrons dentro da lata podem experimentar uma força repulsiva. A repulsão será maior para os elétrons mais próximos do balão carregado negativamente. Muitos desses elétrons serão induzidos a se afastar do balão repulsor. Estando presentes dentro de um material condutor, os elétrons são livres para mover de átomo para átomo. Como tal, há uma migração em massa de elétrons do lado do balão da lata de alumínio para o lado oposto da lata. Esse movimento de elétrons deixa átomos no lado do balão da lata com uma escassez de elétrons: eles se tornam positivamente carregados. E os átomos do lado oposto podem ter um excesso de elétrons: eles se tornam negativamente carregados. Os dois lados da latinha podem ter cargas opostas. No geral, a lata é eletricamente neutra: é que a carga positiva e negativa foi separada uma da outra.Dizemos que a carga na lata foi eletricamente polarizada. Em termos gerais, a polarização signifi ca separar-se em opostos. No contexto da eletricidade, a polarização é o processo de separação de cargas opostas dentro de um objeto. A carga positiva torna-se separada da carga negativa. Ao induzir o movimento dos elétrons dentro de um objeto, um lado do objeto é deixado com um excesso de carga positiva e o outro lado do objeto é deixado com um excesso de carga negativa. FIGURA 14 – PROCESSO DE POLARIZAÇÃO DE UM ISOLANTE POR INDUÇÃO FONTE: <http://ifserv.fi s.unb.br/matdid/1_1999/Vildinei/inducao.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 23 Na Figura 14, na situação (a), tem-se uma esfera condutora B sem polarização e eletricamente neutra, e uma esfera A carregada negativamente. Ambas estão afastadas e não interagem entre si. Na situação (b), a esfera carregada é aproximada de B, fazendo com que os elétricos migrem para a esquerda. Ao final, a esfera B está polarizada: seu lado esquerdo está com carga negativa e seu lado direito com carga positiva. O processo de polarização sempre envolve o uso de um objeto carregado para induzir o movimento de elétrons ou o rearranjo de elétrons. Nessa figura e na discussão que acompanha, elétrons dentro de um objeto condutor foram induzidos a mover-se do lado esquerdo da lata condutora para o lado direito da lata. Sendo um condutor, os elétrons eram capazes de mover-se de átomo para átomo em toda a superfície do condutor, mas e se o objeto que está sendo polarizado for um isolante? Elétrons não são livres para se mover através da superfície de um isolante. Como pode um isolante, como uma parede de madeira, ser polarizado? Veremos adiante. 6.2 COMO UM ISOLANTE PODE SER POLARIZADO? A polarização pode ocorrer dentro dos isolantes, mas o processo acontece de uma maneira diferente em relação aos condutores. Em um objeto condutor, elétrons são induzidos a se movimentar através da superfície do condutor de um lado do objeto para o lado oposto. Em um isolante, os elétrons simplesmente se redistribuem dentro do próprio átomo ou moléculas mais próximas da superfície externa do objeto. Para entender o processo de redistribuição de elétrons, é importante fazer outra breve excursão ao mundo dos átomos, moléculas e ligações químicas. Acredita-se que os elétrons ao redor do núcleo de um átomo estão localizados em regiões do espaço com formas e tamanhos específicos. O tamanho e a forma reais dessas regiões são determinados pelas equações matemáticas comuns à Mecânica Quântica. Em vez de serem localizados a uma distância específica do núcleo em uma órbita fixa, os elétrons são simplesmente considerados como sendo localizados em regiões muitas vezes referidas como nuvens eletrônicas. As nuvens eletrônicas têm densidade variada, a densidade da nuvem é considerada maior na porção da nuvem onde o elétron tem a maior probabilidade de ser encontrado a qualquer momento. E, por outro lado, a densidade da nuvem de elétrons é menor nas regiões onde o elétron é menos provável de ser encontrado. Além de ter densidade variada, essas nuvens de elétrons também são altamente distorcidas. A presença de átomos vizinhos com alta afinidade eletrônica pode distorcer as nuvens eletrônicas ao redor dos átomos. Em vez de ser localizada simetricamente sobre o núcleo positivo, a nuvem se torna assimetricamente moldada. Como tal, há uma polarização do átomo, pois os centros de carga positiva e negativa não estão mais localizados no mesmo local. O átomo ainda é um átomo neutro, mas ele acabou de se polarizar. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 24 FIGURA 15 – POLARIZAÇÃO DE UM ÁTOMO FONTE: Adaptada de <https://phys.libretexts.org/@api/deki/fi les/8169/CNX_UPhysics_25_05_ polariz.jpg?revision=1&size=bestfi t&width=800&height=421>. Acesso em: 14 dez. 2020. Na Figura 15, na situação (a), é mostrado um átomo sem polarização, com sua nuvem eletrônica uniformemente distribuída em torno de seu núcleo. Em (b), pela presença de cargas elétricas externas, a nuvem eletrônica de distorce, formando um polo positivo no lado direito do átomo e um polo negativo do lado esquerdo. Essa situação é mostrada simplifi cadamente em (c). O link a seguir disponibiliza uma animação interativa referente à polarização de um condutor e de um isolante por indução, acesse: https://javalab.org/en/conductor_ and_insulator_en/. DICAS 6.2.1 Como a polarização explica o balão preso à parede? Os átomos são compostos de um núcleo positivo e uma "nuvem eletrônica" negativa, ligadas umas às outras por atração eletrostática. Quando um átomo se aproxima de uma carga positiva, o núcleo é repelido pela carga e a nuvem é atraída para a carga. A Figura 16 mostra o resultado: o átomo em si se polariza. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 25 FIGURA 16 – O ÁTOMO EM SI SE POLARIZA FONTE: <https://physics.nfshost.com/textbook/08-Materials/img/InsulatorPolarized.png>. Aces- so em: 10 dez. 2020. Quando um bastão positivamente carregado se aproxima de um isolante, todos os seus átomos polarizam dessa forma, com as nuvens de elétrons inclinadas em direção ao bastão e os núcleos se inclinando na direção oposta. Em alguns materiais (como a água), as moléculas em si são naturalmente polares: elas não têm que esticar, apenas giram sua extremidade negativa em direção ao bastão positivo. Em ambos os casos, o lado do isolante mais próximo da carga positiva desenvolve uma camada de carga negativa, enquanto o lado oposto desenvolve uma camada positiva. Isolantes polarizam assim como os condutores, embora o mecanismo seja diferente. A diferença é de grau: os condutores são muito melhores em polarização. As camadas polarizadas em um condutor são compostas de portadores de carga de todo o material (os elétrons, que podem se movimentar), enquanto as camadas de um isolador incluem apenas as cargas que já estavam na superfície do material. Esse processo de polarização explica o porquê de um balão carregado eletricamente poder grudar numa superfície de madeira: a madeira torna- se polarizada devido às cargas do balão, o atraindo. O atrito do balão junto à superfície da madeira, aliado ao fato de o balão ter pouco peso, é sufi ciente para manter o balão preso. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 26 FIGURA 17 – ATRACAÇÃO ELETROSTÁTICA ENTRE O BALÃO CARREGADO E A PAREDE ISO- LANTE FONTE: <https://www.science-sparks.com/wp-content/uploads/2020/09/Static-electricity-dia- gram-768x768.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2002. Na Figura 17, as cargas negativas do balão polarizam a superfície isolante da parede, de acordo com o processo visto anteriormente. A parede e o balão, então, apresentam cargas opostas nas suas faces de contato, originando a atracação elétrica. 6.3 POLARIZAR NÃO É ELETRIZAR UM OBJETO Talvez o maior equívoco que diz respeito à polarização seja a crença de que a polarização envolve a eletrização (adicionar ou remover elétrons) de um objeto. Polarização não é carga! Quando um objeto fi ca polarizado, há simplesmente uma redistribuição dos centros de cargas positivas e negativas dentro do objeto. Seja pelo movimento dos elétrons através da superfície do objeto (como é o caso dos condutores) ou através da distorção das nuvens eletrônicas (como é o caso dos isolantes), os centros de cargas positivas e negativas se separam um do outro. Os átomos em um local no objeto possuem mais prótons do que elétrons e os átomos em outro local têm mais elétrons do que prótons. Embora exista o mesmo número de prótons e elétrons dentro do objeto, esses prótons e elétrons não são distribuídos na mesma proporção através da superfície do objeto. No entanto, ainda há números iguais de cargas positivas (prótons) e cargas negativas (elétrons) dentrodo objeto. Embora haja uma separação da carga, não há um desequilíbrio de carga. Quando objetos neutros se polarizam, eles ainda são objetos neutros. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 27 Separação de cargas não é o mesmo que desequilíbrio de cargas! IMPORTANT E O processo de polarização é frequentemente usado em muitos métodos de eletrização. Esses processos serão vistos no próximo tópico. 7 EXPERIMENTAÇÃO PRÁTICA: O ELETROSCÓPIO DE FOLHAS DE OURO O eletroscópio de folhas de ouro é um instrumento inventado em 1786 por Abraham Bennet (ASSIS, 2010), consistindo em uma haste de latão vertical cuja extremidade inferior contém duas tiras de folhas de ouro muito finas e cuja extremidade superior é equipada com uma esfera metálica. Um jarro de vidro envolve a parte inferior da haste e as tiras de folhas de ouro, impedindo-as de serem movidas por correntes de ar. Quando o condutor não estiver carregado, as tiras se alinharão verticalmente por causa da gravidade. Quando, em vez disso, a esfera é tocada por um corpo eletricamente carregado, parte da carga é distribuída em todo o condutor. As folhas ficam carregadas de forma idêntica e se repelem umas às outras, formando um ângulo proporcional à carga. O fenômeno baseia-se numa propriedade fundamentai da eletrostática: corpos com cargas elétricas do mesmo sinal se repelem, enquanto aqueles com cargas elétricas opostas se atraem. As duas tiras de papel alumínio colocadas em lados opostos do recipiente servem para descarregar o excesso de carga para a terra. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 28 FIGURA 18 – UM ELETROSCÓPIO ANTIGO FONTE: <https://catalogue.museogalileo.it/images/cat/oggetti_944/0554_3253_2200-006_944. jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. 7.1 PROCEDIMENTO PRÁTICO A proposta desta prática é construir um eletroscópio com materiais caseiros e, depois, testar e analisar seu funcionamento. 7.1.1 Materiais • Frasco de vidro transparente. • Tampa de frasco ou pedaço de plástico grande o suficiente para cobrir a abertura do frasco (precisa ser de material não condutor). • Fita isolante para eletricidade. • Fio de cobre rígido de 1,5 mm² (ou bitola similar). • Canudo de plástico. • Tesoura. • Pistola de cola quente. • Folha de papel alumínio. • Materiais para testar: balão de ar cheio, régua de plástico, pedaço de lã (na falta de lã pode ser pelo de animal, linho, flanela), um CD velho. TÓPICO 1 — A ELETRICIDADE ESTÁTICA 29 FIGURA 19 – MATERIAIS UTILIZADOS PARA MONTAR O ELETROSCÓPIO FONTE: Adaptada de <https://cdn.education.com/static/science-fair/physics_making-electros- cope/homemade-electroscope-materials.png>. Acesso em: 14 dez. 2020. 7.1.2 Montagem do eletroscópio • Faça esse experimento em um dia seco! O experimento pode não funcionar se estiver úmido ou chovendo. • Use a tesoura para cortar um pedaço de canudo de, aproximadamente, 3 centímetros de comprimento. • Faça um buraco no centro da tampa do pote. • Insira a palha no orifício da tampa. Fixe o canudo com cola quente para que ele fi que bem preso à tampa. • Corte um pedaço de 25 centímetros de fi o de cobre. • Torça uma das exterminadas do fi o de cobre em espiral. Utilize 10 cm de fi o para fazer a espiral. • Insira a extremidade reta do fi o através do canudo e crie um gancho de cerca de 2,5 centímetro de comprimento. • Pendure os dois pequenos pedaços de papel alumínio no gancho. Certifi que-se de que eles estão em contato. • Coloque a extremidade, em forma de gancho do fi o, dentro do frasco e torça ou tampe o frasco. Na Figura 20, você confere uma foto de um eletroscópio montado seguindo esses procedimentos descritos. UNIDADE 1 — ESTUDO DA ELETROSTÁTICA 30 FIGURA 20 – ELETROSCÓPIO CASEIRO FINALIZADO FONTE: <https://www.acsedu.co.uk/uploads/science/Electroscope%20built.png>. Acesso em: 14 dez. 2020. 7.1.3 Experimentação dos materiais • Esfregue cada um dos materiais de teste (balão, régua, CD e qualquer outro que você queira experimentar) no pedaço de lã; • Aproxime cada um dos materiais da espiral de fi o e observe a movimentação das folhas de alumínio na outra extremidade do fi o; • Analise se o afastamento das folhas, para cada material testado, é igual ou não. Quanto mais carga possui o material, maior será o afastamento das folhas de alumínio. 7.1.4 Responda estas questões após a realização do experimento: • O experimento pode não funcionar se estiver úmido ou chovendo. Por que acha que isso é importante? • Considerando que estamos tentando testar a presença de uma carga elétrica, por que você acha que ter uma superfície maior (como a espiral de fi o) é melhor? E Por que o fi o mais grosso é melhor? • Por que estamos usando dois pedaços de folha de alumínio em vez de um? Qual a função esperada dessas duas folhas de alumínio? • Por que devemos esfregar os materiais na lã para haver eletrização elétrica? 31 Neste tópico, você aprendeu que: • Os átomos são construídos por elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons têm carga elétrica negativa e vagam ao redor do núcleo. Os prótons estão presos no núcleo e possuem carga positiva. Os nêutrons também estão no núcleo, mas não têm carga elétrica. • Cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e de sinais contrários se atraem. • Materiais condutores são aqueles em que seus elétrons podem se mover com certa facilidade de um átomo para o outro. Nos isolantes os elétrons estão fortemente presos aos núcleos de seus átomos. • Um material está carregado eletricamente quando existe um desequilíbrio entre seu número de prótons e de elétrons. • Um objeto pode ser carregado positiva ou negativamente perdendo ou ganhando elétrons, respectivamente. Não é possível mover os prótons. • A polarização consiste em separar as cargas positivas das negativas num material isolante. A polarização pode acontecer em uma única molécula ou átomo. RESUMO DO TÓPICO 1 32 1 Considere o átomo de oxigênio, eletricamente neutro, mostrado na figura a seguir: AUTOATIVIDADE REPRESENTAÇÃO DE UM ÁTOMO DE OXIGÊNIO FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/atomo-oxi- genio.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2020. Explique o que precisa acontecer para que: a) O átomo fique carregado negativamente. b) O átomo fique carregado positivamente. 2 Determine a quantidade e tipo de carga num objeto que possui um excesso de 3,62 × 1012 mais prótons do que elétrons: 3 Ao entrar na sala, você observa dois balões suspensos do teto. Você nota que, em vez de ficar em linha reta na vertical, os balões parecem estar repelindo um ao outro. Qual das afirmações a seguir pode ser considerada conclusiva para este caso? a) ( ) Ambos os balões têm uma carga negativa. b) ( ) Ambos os balões têm uma carga positiva. c) ( ) Um balão é carregado positivamente e o outro negativamente. d) ( ) Ambos os balões são carregados com o mesmo tipo de carga. 4 Suponha que uma esfera de material condutor seja carregada positivamente por algum método. A carga é inicialmente depositada ao lado esquerdo da esfera. No entanto, como o objeto é condutor, a carga se espalha uniformemente por toda a superfície da esfera. Sobre o que explica a distribuição uniforme da carga, assinale a alternativa CORRETA: 33 a) ( ) Os átomos carregados no local da carga se movem por toda a superfície da esfera. b) ( ) O excesso de prótons se move do local de carga para o resto da esfera. c) ( ) Elétrons em excesso do resto da esfera são atraídos para o excesso de prótons. d) ( ) Nenhuma alternativa está correta. 5 Quando um caminhão de combustíveis chega ao seu destino, ele se prepara para esvaziar seu combustível em um reservatório ou tanque. Parte da preparação envolve conectar o corpo do carro-tanque com um fio de metal ao chão. Sugira uma razão para isso ser
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