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GIARDÍASE Uma das principais diferenças entre a giardíase e a amebíase, é que na amebíase ocorre sangue nas fezes e na giardíase não. Também é chamada de giardose ou lambíase, é causada pelo agente etiológico Giardia duodenalis, descrita por Lambl em 1859. É um protozoário flagelado de ocorrência cosmopolita, infecta seres humanos e demais vertebrados (gatos e cachorros de rua têm grande importância na disseminação de cistos desse protozoário), tem ciclo monoxênico. No Brasil, a prevalência varia de 12,4 a 50%, dependendo da região. O agente possui 2 formas: inativa (cisto, infectante) e ativa/reprodutiva (trofozoíto). Cisto: · Ovoide ou elipsoide · Dura cerca de 2 meses · Tolera desidratação · Destruído em temperatura maior de 64°C · Podem ser encontrados 1 a 2 semanas após infecção nas fezes · Desencistamento ocorre após passagem pelo estômago e suco pancreático · Eclosão ocorre no duodeno · Eliminação fecal de 300 milhões a 14 bilhões de cistos por dia · Pode haver períodos de interrupção da eliminação de cistos por 7 a 10 dias · Principais estruturas – feixe de fibras, corpos parabasais (complexos de Golgi) e 4 núcleos Trofozoíto: · Formato piriforme · Achatado dorso-ventralmente · Reprodução assexuada (divisão binária longitudinal) · Vivem no duodeno e primeiras porções do intestino delgado · Rara disseminação extraintestinal (ductos biliares e vesícula biliar) · Livres ou aderidos na superfície da mucosa intestinal CICLO BIOLÓGICO O hospedeiro entra em contato com o cisto pela água e ambiente contaminados. Ele passa pelo estômago e desencista nas porções iniciais do intestino delgado. Depois, sofre sucessivas reproduções assexuadas, e conforme passa pelas porções finais do intestino, encista novamente (forma resistente). É comum encontrar trofozoítos nas fezes, mas ela sobrevive pouquíssimo tempo. Vias de transmissão: ingestão de cistos (água e alimentos, contato interpessoal, via sexual e zoonótica), aglomerados populacionais com precárias condições sanitárias/higiene e o convívio em creches aumentam a disseminação. Pico sazonal no verão, relacionado à maior frequência a piscinas comunitárias por crianças de pouca idade. Vetores mecânicos também são importantes, pois a giárdia pode sobreviver até 24 horas no trato digestório de moscas e vários dias no de baratas. PATOGÊNESE O processo patológico depende do número de parasitos que colonizam o intestino delgado, da cepa do protozoário, e de fatores inerentes ao hospedeiro, como hipocloridria e deficiência de IgA e IgE na mucosa digestiva. Numa alta carga parasitária ocorre principalmente uma ação irritativa sobre a mucosa intestinal, que pode gerar produção excessiva de muco que causará uma barreira mecânica, ou, alteração na produção de enzimas digestivas, principalmente as dissacaridases, o que ocasiona intolerância ao leite e derivados. A barreira de muco dificulta a absorção de vitaminas lipossolúveis, ácidos graxos, vitamina B12, ácido fólico e ferro. Já a adesão dos parasitos no intestino causa lesões nas microvilosidades. Geralmente não são observadas alterações macroscópicas no intestino, em alguns casos crônicos pode-se evidenciar ACHATAMENTO DAS MICROVILOSIDADES. SINTOMATOLOGIA Geralmente é assintomático, principalmente em pacientes adultos. Em crianças e adultos jovens tem um amplo espectro clínico, podendo as crianças evoluírem para hemorragia retal e fenômenos alérgicos em casos raros. As manifestações podem surgir de forma súbita ou gradual: · Giardíase aguda – os sintomas surgem após período de incubação (1 a 3 semanas, podendo chegar a 6) · Giardíase crônica – os sintomas podem ser contínuos ou episódicos, persistindo por anos, e o paciente não necessariamente desenvolve manifestações agudas (quadro subagudo) A manifestação clínica mais frequente é a síndrome diarreica, que é uma diarreia de evolução crônica, contínua ou com surtos de duração variável, acompanhada por cólicas abdominais, com alternância de exonerações normais e constipação intestinal. As evacuações ocorrem de 2 a 4 vezes por dia, com fezes pastosas, abundantes, fétidas e com predomínio de muco (raro sangue ou pus). Outras manifestações clínicas secundárias: · Síndrome da má absorção – causa emagrecimento, anorexia, distensão abdominal, flatulência, desnutrição, raquitismo, esteatorreia e anemia · Síndrome dispéptica (indigestão) – sensação de desconforto epigástrico, plenitude gástrica pós-prandial, eructações, pirose, náuseas e vômitos · Síndrome pseudoulcerosa – dor epigástrica ou pirose que melhora com ingestão de alimentos e retorna com jejum É possível ocorrer cura espontânea. DIAGNÓSTICO · Em fezes formadas (normais): busca por cistos · Em fezes diarreicas: busca por cistos ou trofozoítos · Aspirado duodenal: busca por trofozoítos · Biópsia duodeno-jejunal · Técnica de imunosseparação magnética, acoplada à imunofluorescência para detecção de cistos · ELISA TRATAMENTO · Secnidazol 2g VO em dose única para adultos, e 30mg/kg ou 1ml/kg para crianças, em dose única, após refeição. · Tinidazol 2g VO, em dose única para crianças e adultos. · Metronidazol 250mg duas vezes ao dia, por cinco dias, para adultos; em crianças, 15mg/kg/dia, VO, divididos em duas tomadas, por cinco dias, não ultrapassando 250mg. · Nitazoxanida 100 mg por VO duas vezes ao dia por três dias em crianças com idade entre um a três anos. As doses de 200mg são utilizadas em crianças entre quatro e 11 anos, duas vezes/dia e para adolescentes e adultos a dose é de 500mg, 2 vezes/dia por três dias.
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