Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 APG 5 – Estudantes em ação 1) COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO, VIA DE TRANSMISSÃO, PATOGENIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS PROTOZOOSES INTESTINAIS (GIARDIA LAMBLIA E ENTAMOEBA HISTOLYTICA) AMEBÍASE FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO A Entamoeba histolytica, parasita que causa amebíase, infecta cerca de 10% da população mundial e é a 3ª causa mais comum de morte por doenças parasitárias. A infecção segue a ingestão de cisto maduro da água, alimentos ou mãos contaminadas por fezes. Durante o seu ciclo vital, se apresenta de duas formas: cisto e trofozoítos. Os cistos são normalmente encontrados em fezes formadas, enquanto os trofozoítos são normalmente encontrados em fezes diarreicas. O ambiente ácido do estômago serve como a primeira barreira contra os patógenos entéricos, mas os cistos de Entamoeba resistem ao baixo pH e o processo de excistamento ocorre somente no lúmen do intestino delgado terminal ou nas primeiras porções do intestino grosso e trofozoítos são liberados, que migram para o intestino grosso. A adesão das amebas à camada de muco que reveste o epitélio intestinal é a primeira etapa do processo que levará a uma erosão do epitélio da mucosa intestinal. Os trofozoítos podem permanecer confinados ao lúmen intestinal (infecção não invasiva) com os indivíduos continuando a eliminar cistos nas fezes (portadores assintomáticos); Os trofozoítos podem invadir a mucosa intestinal (doença intestinal); Ou ainda, invadir os vasos sanguíneos, atingindo locais extraintestinais como fígado, cérebro e pulmões (doença extraintestinal). Os trofozoítos se multiplicam por fissão binária e produzem cistos, e ambos os estágios são eliminados nas fezes. Os cistos excretados sobrevivem por semanas em ambiente úmido. Os trofozoítos eliminados nas fezes são rapidamente destruídos uma vez fora do corpo e, se ingeridos, não sobreviveriam à exposição ao ambiente gástrico. Uma vez aderidas, as amebas secretam glicosidases e proteases, especialmente cisteína-proteases, que degradam os polímeros do muco. A degradação da camada mucosa, como consequência da ação enzimática, torna possível o contato inicial entre as amebas e suas células-alvo, os enterócitos. A partir dessa etapa inicia-se o processo de quebra da barreira epitelial, com alteração do transporte de íons e de absorção de nutrientes, inflamação local e sistêmica e mudança da composição da microbiota intestinal que caracteriza a amebíase como doença. Uma vez aderidas aos enterócitos, as amebas desencadeiam a morte das células do epitélio intestinal mediante dois processos distintos: Apoptose: as amebas fagocitam exclusivamente as células apoptóticas. Trogocitose: só é desencadeada quando a ameba interage com enterócitos vivos. Trata-se da internalização de fragmentos de células hospedeiras vivas, resultando em elevação dos níveis intracelulares de cálcio e morte celular. A morte celular estimula a produção de pré- interleucina 1β e de IL-1β, que ativam o fator de transcrição nuclear NF-kB, o que resulta na produção de diversos mediadores de inflamação e no recrutamento de neutrófilos. A migração de neutrófilos e outros leucócitos, atraídos pelos mediadores liberados, agrava a lesão epitelial. A morte de neutrófilos recrutados para a lesão resulta na liberação de mais citocinas inflamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF)-α , contribuindo para agravar a inflamação e a destruição celular, com consequente aumento da permeabilidade intestinal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os indivíduos que ingerem cisto podem infectar-se ou não, e quando infectados, podem tornar-se portadores crônicos assintomáticos (isso porque as amebas restringem-se à APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 camada mucosa, sem interação direta com o epitélio intestinal), apresentar disenteria moderada a grave (disenteria amebiana) ou ainda apresentar colite sem disenteria. Alguns desenvolve colite inflamatória 2 a 6 semanas após a ingestão de cistos amebianos. A disenteria pode desenvolver-se, com 10 a 12 pequenas defecações diárias, consistindo, na sua maioria, em sangue e muco. Menos de 40% dos pacientes apresentam febre. A colite amebiana fulminante, caracterizada por diarreia mais profusa, dor abdominal intensa com sinais peritoneais e febre, é mais comum em crianças. O abscesso hepático é o tipo mais comum de infecção extraintestinal e pode surgir meses (geralmente ≤ 5 meses) após a exposição à E. histolytica. Os pacientes apresentam dor no quadrante superior direito, febre, derrame pleural à direita e dor à palpação hepática e tipicamente não apresentam colite. DIAGNÓSTICO O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é rotineiramente realizado por meio de exame parasitológico de fezes. Como já dito, nas fezes diarreicas ou disentéricas, predominam as formas trofozoíticas e nas fezes formadas predominam os cistos. Exames de imagem, como a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada, tornam possível a identificação de abscessos hepáticos. O exame deve ser repetido em uma semana se a suspeita clínica permanecer alta. TRATAMENTO Recomenda-se o tinidazol (via oral) ou o metronidazol (via oral ou via intravenosa) que interage com o DNA, inibindo a síntese do ácido nucléico, causando a morte da célula. GIARDÍASE FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO A Giardia lamblia (também conhecida como G. intestinalis ou G. duodenalis) é um parasita protozoário que habita o intestino delgado dos humanos e de outros mamíferos. A Giardia coloniza preferencialmente o duodeno e o jejuno, um ambiente hostil em que poucos microrganismos são capazes de sobreviver. A transmissão acontece pela via fecal-oral, por ingestão de alimento e água contaminados ou de uma pessoa para outra nos ambientes com higiene fecal deficiente (creches, ambientes institucionais). A giárdia lamblia é um parasito monoxeno de ciclo biológico direto, ou seja, consegue completar o seu ciclo em apenas um hospedeiro. Os cistos são ingeridos do ambiente, eclodem no intestino delgado e liberam trofozoítos flagelados que permanecem no intestino delgado proximal. Alguns trofozoítos formam cistos, os quais são excretados nas fezes. Os trofozoítos não invadem as células intestinais do hospedeiro, revestidas por uma camada de muco, no entanto, aderem ao epitélio com auxílio do disco adesivo (olhar imagem em diagnóstico) presente em sua superfície ventral, bem como de proteínas com ação de lectina. A interação entre os trofozoítos e o enterócito induz a liberação de quimiocinas que, por sua vez, atraem mastócitos, células dendríticas e outras células do sistema imune. A inflamação resultante produz a ruptura das junções aderentes (aumenta a permeabilidade intestinal) entre as células epiteliais, bem como a apoptose dos enterócitos. As lesões mais evidentes na morfologia da mucosa intestinal são a atrofia de vilos e a hiperplasia das criptas , que podem reduzir a superfície disponível para a absorção de nutrientes. No entanto, podem ocorrer sintomas em pacientes sem atrofia de vilos, sugerindo que essa alteração não explica completamente a patogênese da giardíase. Do ponto de vista funcional, a alteração mais frequentemente associada à infecção por G. duodenalis é a redução da atividade de diversas enzimas da orla em escova da mucosa intestinal , como a maltase, a sucrase, a lactase, a sacaridase e outras, bem como de enzimas do lúmen intestinal, como a tripsina, a quimiotripsina, a amilasee a lipase. A giardíase produz aumento da permeabilidade intestinal, provavelmente como consequência de inflamação da mucosa e apoptose de enterócitos, bem como aumento da secreção de cloretos, levando ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 durante a infecção, observa-se também aumento da motilidade intestinal. Acredita-se que a giardíase produza alterações na composição da microflora intestinal que podem afetar a resposta do hospedeiro à presença do próprio parasito e de outros patógenos intestinais. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Após um período de incubação de 5 dias a 3 semanas, a doença varia desde o portador assintomático (mais comum) até a diarreia fulminante e má absorção. Sintomas precoces proeminentes incluem diarreia, dor e distensão abdominais, eructação, flatulência, náuseas e vômitos e geralmente duram mais de 1 semana. A febre é rara, assim como sangue ou muco nas fezes. Em alguns casos, a doença pode ser grave, com má absorção, retardo do crescimento, desidratação e/ou manifestações extraintestinais (uveíte anterior, artrite). DIAGNÓSTICO A giardíase pode ser diagnosticada por detecção do antígeno do parasita nas fezes e/ou identificação de cistos (ovais, com quatro núcleos) ou trofozoítos (parasitas achatados, em forma de pera, com dois núcleos e quatro pares de flagelos) em amostras de fezes ou por testes de amplificação do ácido nucleico. TRATAMENTO As taxas de cura com metronidazol (250 mg 3×/dia por 5 dias) são > 90%. O tinidazol (2 g VO em dose única) pode ser mais efetivo. A nitazoxanida (500 mg 2×/dia por 3 dias) é um agente alternativo. 2) COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO, VIA DE TRANSMISSÃO, PATOGENIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E TRATAMENTO DOS PRINCIPAIS HELMINTOS (ASCARIS LUMBRICOIDES; ENTEROBIUS VERMICULARES; SCHISTOSOMA MANSONI E TAENIA SP.). ASCARIDÍASE FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO Ascaris lumbricoides causa ascaridíase. Os humanos são infectados pela ingestão de ovos do verme em alimentos ou água contaminados por fezes humanas. O Ascaris lumbricoides é geralmente considerado um parasito estenoxeno, que infecta exclusivamente seres humanos. Foi considerado o maior nematódeo do trato digestório humano (alcança até 40cm). Os vermes adultos são cilíndricos, afilando-se gradualmente nas extremidades anterior e posterior. Os vermes adultos habitam o lúmen do intestino delgado humano, onde se alimentam e copulam (acasalam). A fêmea deposita cerca de 240.000 ovos por dia, que são eliminados nas fezes, que são recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, uma camada intermediaria também espessa e uma membrana vitelina interna, muito pouco permeável, dessa forma, esse revestimento torna os ovos extremamente resistentes no meio externo. Quando encontram condições favoráveis de temperatura (em torno de 25ºC variando de 22-30ºC), umidade e oxigenação no solo, os ovos férteis tornam-se infectantes em cerca de 3 semanas, após duas mudas das larvas contidas em seu interior. Acredita-se que a 2ª muda, ainda que iniciada no interior do ovo, possa completar-se no hospedeiro. As larvas penetram ativamente na parede intestinal, atingindo vênulas ou vasos linfáticos, para realizarem seu ciclo pulmonar. Por meio da circulação portal, acometem o fígado, o coração direito e os pulmões, aonde chegam entre 1 e 7 dias após a infecção. Essas larvas rompem os capilares pulmonares e caem no lúmen alveolar. Através dos bronquíolos e brônquios, ascendem até a traqueia e a glote. Ao serem deglutidas, chegam ao esôfago, ao estômago e ao intestino delgado. Liberadas no lúmen intestinal, essas larvas alcançam o comprimento de 1 cm (onde tornam-se adultas) até o momento da muda final, 3 a 4 semanas após a infecção. Vivem, então, no lúmen, não se aderindo à parede e obtendo seu sustento a partir dos alimentos ingeridos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria das infecções humanas envolve menos de dez vermes adultos e é assintomática O sintoma mais comum é dor abdominal vaga. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 As discretas alterações inflamatórias na mucosa intestinal, que os helmintos produzem, podem acarretar alterações da secreção e da motilidade intestinais, resultando em diarreia, redução da absorção de alguns nutrientes (especialmente vitamina A), intolerância à lactose e perda de apetite. É comum que o Ascaris cause desnutrição em crianças, por consumir os alimentos presentes no lúmen do intestino. A gravidade dos sintomas é diretamente proporcional à quantidade de vermes adultos que o paciente abriga. As infecções maciças, especialmente em crianças, podem causar distensão e dor abdominais, levando ao bloqueio mecânico do intestino delgado (especialmente do íleo) devido à uma grande quantidade de vermes. Nesses casos, podem ocorrer vólvulo (torção) ou intussuscepção intestinal e obstrução parcial ou completa do intestino delgado, levando à isquemia e à necrose da parede intestinal. A migração anômala de vermes adultos pelos ductos biliares e pancreático ou pelo fígado é uma outra complicação grave de infecções maciças. As infecções crônicas em crianças, ainda que geralmente assintomáticas, produzem frequentemente retardo de crescimento físico, especialmente em comunidades em que o acesso a alimentos é relativamente restrito. Embora a fase de migração pulmonar seja assintomática, as crianças, especialmente, apresentam uma pneumonite clinicamente caracterizada pela tosse não produtiva, febre e dispneia, eventualmente com reação de hipersensibilidade levando à obstrução brônquica e sibilância. Ocorre inflamação com exsudato eosinofílico em resposta aos antígenos das larvas, que produz alterações radiológicas evidentes. A síndrome de Loeffler, quadro autolimitado, pode ocorrer na infecção por qualquer helminto com ciclo pulmonar, e tem característica marcante a eosinofilia. Na ascaridíase ocorre cerca de 10 a 14 dias após a infecção. Um padrão de tosse característico são os acessos de tosse (expelindo o patógeno), que ocorre quando o parasita ascende à árvore brônquica para ser deglutido e ter acesso ao trato gastrointestinal. Esporadicamente, em casos de elevado número de parasitas, pode haver sufocamento e até óbito, como nos casos de bolo de áscaris em crianças. DIAGNÓSTICO Os ovos de Ascaris podem ser encontrados em amostras fecais. Os vermes adultos podem ser eliminados nas fezes ou, menos comumente, pela boca ou pelo nariz. TRATAMENTO Uma dose única de albendazol (400 mg), mebendazol (500 mg) ou ivermectina (150 a 200 μg/kg) é efetiva, sendo esses fármacos contraindicados na gestação. ENTEROBÍASE FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO A enterobíase (oxiuríase) é causada pelo Enterobius vermicularis e acomete cerca de 40 milhões de pessoas nos EUA (primariamente crianças). O hábitat de exemplares adultos de E. vermicularis é o ceco, bem como os segmentos adjacentes do intestino delgado e grosso, incluindo o apêndice ileocecal. Os seres humanos são seus únicos hospedeiros conhecidos. A fêmea adulta permanece no lúmen intestinal, junto ao revestimento mucoso que recobre o epitélio. Quando grávida, migra para a região perianal dos hospedeiros, durante a noite, onde ocasionalmente pode ser encontrada. Nas mulheres, pode penetrar na vagina. Na região perianal, são expelidos em média 11.000 ovos existentes em seu útero, alguns destes misturam-se às fezes, enquanto os demais ficam retidos na pele da região perianal. A fêmea morre após a oviposição e os machos são bemmenores que as fêmeas. Os ovos recém eliminados tornam-se infectantes em 6 horas e em condições ideais, os ovos permanecem viáveis no meio externo por até 13 dias. Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L1 no duodeno, sendo que essa larva rabditoide sofre duas mudas, provavelmente nas criptas da mucosa, antes de chegar ao jejuno e ao íleo superior. A cópula entre os vermes adultos ocorre no ceco e todo o ciclo ocorre no lúmen intestinal, sem migração visceral. Cerca de 5 semanas depois da ingestão dos ovos ocorre a primeira migração de fêmeas adultas para a região perianal e a oviposição. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 5 Ocorre autoinfecção e transmissão de pessoa a pessoa em consequência da coçadura perianal e transporte dos ovos infecciosos até a boca. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas mais comuns são prurido e irritação da região perianal, que frequentemente piora à noite. A eosinofilia é incomum. DIAGNÓSTICO O melhor método de diagnóstico é o da fita adesiva ou método de Graham. Aplica sobre a região perianal uma fita adesiva transparente de 8 a 10 cm, e quando os ovos estão presentes, estes aderem à superfície tomada da fita. Depois de removida da pele, a fita será colada sobre uma lâmina de microscopia e examinado no microscópio. Nessa preparação, podem ser vistas uma ou mais fêmeas, e caso dê negativo, deve repetir o exame cinco ou seis vezes, em dias sucessivos, pela manhã assim que o paciente se levantar e antes de tomar banho. O exame direto de uma pequena porção de fezes (cerca de 2 mg), colocada sobre uma lâmina e emulsificada em solução salina, representa uma alternativa simples e rápida, porém de sensibilidade relativamente baixa para a identificação de ovos de helmintos. TRATAMENTO Como a transmissão intrafamiliar é extremamente comum, recomenda-se tratar todos os membros da família sempre que algum de seus membros (em geral, uma criança) recebe o diagnóstico de enterobíase. Administra-se uma dose de mebendazol (100 mg) ou albendazol (400 mg), repetindo o mesmo tratamento depois de 2 semanas. ESQUISTOSSOMOSE FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO O principal hospedeiro vertebrado no ciclo de vida de S. mansoni é o homem, podendo encontrar outros hospedeiros como roedores, primatas não humanos, ruminantes, que podem servir como reservatórios de infecção. A infecção tende a ocorrer em áreas rurais. As áreas urbanas não possuem as condições de água doce necessária para que o hospedeiro intermediário do caracol prospere. As crianças adquirem a infecção tomando banho em lagoas de água doce, lagos e rios contaminados com as larvas. Tudo se inicia com a contaminação onde há penetração da cercária na pele e na mucosa do humano. Após a penetração as cercárias desenvolvem-se para uma forma parasitária primária denominada esquistossômulo, e esses migram pelo tecido subcutâneo (após ficar 3 a 4 dias na pele), penetrando em um vaso e assim que inicia o processo de migração, via circulação sanguínea e linfática, até atingir o coração e em seguida os pulmões. Dos pulmões, os esquistossômulos migram em direção ao fígado através da via sanguínea (a principal) ou por via transtissular (vai atravessando tecido até chegar no parênquima hepático). Os esquistossômulos alcançam o fígado, onde evoluem para as formas adultas, crescendo exponencialmente de tamanho. Eles demoram cerca de 25 dias (após a penetração) para se tornarem machos/fêmeas adultos. Depois desse tempo, migram para os ramos terminais da veia mesentérica inferior, onde então nos vasos portais mesentéricos, ocorre a cópula entre os vermes adultos, seguida de oviposição na submucosa, o que demora uns 35 dias. Os ovos são colocados na submucosa, e por uma série de fatores (mecânicos, inflamatórios, enzimas proteolíticas), eles atingem a luz intestinal. Assim, eles são expulsos juntamente com as fezes. No ambiente aquático, ocorre a eclosão dos ovos e liberação da forma ativa infectante do hospedeiro intermediário, denominada miracídio. Os miracídios possuem uma afinidade por moluscos, e quando são liberados na água, nadam em direção ao caramujo, penetrando-o. Algumas horas após a penetração dos miracídios no caramujo, tem início um complexo processo de alterações morfológicas que darão origem as cercárias. Os primeiros ovos nas fezes são notados cerca de 42 dias após a infecção. Quando saem do caramujo, após uns 20 a APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 6 30 dias dentro dele, assumem a forma de cercárias e assim estão prontas para contaminarem mais uma vez um novo indivíduo. A persistência de ovos nos tecidos leva a uma resposta granulomatosa do hospedeiro e fibrose hepática. Macrófagos seguidos de eosinófilos, linfócitos e alguns plasmócitos circundam os ovos e os macrófagos se fundem e formam gigantócitos, que envolvem o ovo e começam a digeri-lo. Morto o embrião, diminuem os granulócitos e multiplicam-se aí os fibroblastos que assumem a deposição de fibras reticulares e colágeno. Os fibroblastos cessam sua produção de colágeno e se tornam simples fibrócitos. O resultado é a formação de uma estrutura cicatricial fibrosa, causando hipertensão portal. A patogenia possui um perfil Th2 e com grande atuação de eosinófilos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A esquistossomose ocorre em três estágios que variam de acordo com espécie, intensidade da infecção e fatores do hospedeiro: PRÉ-POSTURAL: Essa fase ocorre entre 10-35 dias após a infecção. Pode ser assintomática para alguns, ou podem apresentar mal-estar, tosse, dores musculares. A cercária provoca dermatite cercariana ou dermatite do nadador: comichão, erupção urticantes, eritema, edema pequenas pápulas e dor que dura 1-2 semanas. AGUDA: Dura 50-120 dias após a infecção. É acompanhada de febre, sudorese, diarreia, disenteria, cólicas, tenesmo, hepatoesplenomegalia discreta, leucocitose com eosinofilia, aumento discreto das transminases. CRÔNICA: A doença pode causar uma série de repercussões, atingindo diversos órgãos. No intestino, terá diarreia mucossanguinolenta (há passagem de muitos ovos de vez, o que causa edema e irritação na mucosa, levando ao sangramento), dor abdominal e tenesmo. No fígado, em crianças e adolescentes pode haver hepatoesplenomegalia. Já nos adultos, oclusão da veia porta, hipertensão portal com esplenomegalia, varizes gastrointestinais e ascite (barriga d’agua). DIAGNÓSTICO O diagnóstico se baseia na anamnese detalhada (hábitos do paciente, contato com água contaminada), apresentação clínica e presença de ovos de esquistossoma nas excretas. Os métodos parasitológicos ou diretos se fundamentam no encontro dos ovos do parasito nas fezes ou tecidos do paciente (Kato-Katz: quantificação dos ovos) = padrão ouro. TRATAMENTO É utilizado prazinquatel (lesa o tegumento do parasito, expondo a antígenos algo da resposta imune) e oxamniquina (efeito anticolinégico, aumentando a motilidade do parasito e a inibição de síntese de ácidos nucleico). TENÍASE E CISTICERCOSE (Taenia solium e T. saginata = apenas teníase) FISIOPATOLOGIA, CICLO BIOLÓGICO E VIA DE TRANSMISSÃO As espécies T. solium e T. saginata são os principais agentes etiológicos das teníases, doenças causadas pelo estágio ADULTO (tênia) de parasitos cestoides do gênero Taenia. Os ciclos de vida de ambas as espécies têm o ser humano como hospedeiro definitivo, contaminando-se com cisticercos ao ingerir carne suína ou bovina malcozida e adquirindo a infecção com os vermes adultos. Os hospedeiros intermediários habituais de T. solium e T. saginata,que abrigam as suas formas larvárias, são, respectivamente, os suínos e os bovinos. O ser humano também pode ser um hospedeiro intermediário acidental de T. solium = cisticercose (os cisticercos solium são capazes de desenvolver em seres humanos, saginata não). Os ovos, eliminados nas fezes de indivíduos infectados, encontram-se no solo e na vegetação, e uma vez ingeridos pelos hospedeiros intermediários, os ovos eclodem no tubo digestório e as oncosferas liberadas penetram na parede intestinal e chegam a pequenos vasos sanguíneos ou linfáticos do intestino delgado. Pela circulação, as oncosferas chegam à musculatura esquelética ou ao sistema nervoso central, que são os sítios APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 7 mais comuns para o desenvolvimento das formas larvárias, os cisticercos. Em 8-15 semanas, os cisticercos (5 mm de diâmetro) de T. solium e T. saginata tornam-se infectantes e permanecem viáveis por aproximadamente 2 anos, quando degeneram e dão origem a pequenos nódulos calcificados. Os cisticercos infectantes, cheios de fluido, contêm no seu interior um único escólex. Se ingerido pelo hospedeiro definitivo humano, o escólex dará origem a um verme adulto. O verme adulto fixa-se, por meio do escólex, à mucosa do jejuno do hospedeiro humano, que normalmente abriga uma única tênia (nome popular tênia solitária), e uma tênia adulta pode viver no humano por até 25 anos. AUTOINFECÇÃO EXTERNA: ocorre quando os portadores de T. solium quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia, levando-os a boca pelas mãos contaminadas. AUTOINFECÇÃO INTERNA: poderá ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, permitindo ovos de T. solium no estômago. HETEROINFECÇÃO: ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contamina com os ovos da T. solium através de dejetos de outros pacientes. Os cisticercos são destruídos, em 10 minutos, pelo aquecimento a 96°C e, em 2 horas, quando expostos à temperatura de 45°C; 12 horas de congelamento a -20°C também resultam em sua morte. A infecção pelos vermes adultos provoca pouca lesão na mucosa do jejuno, as raras biopsias realizadas evidenciaram uma reação inflamatória mínima. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria dos indivíduos infectados é assintomática ou apresenta queixas pouco significativas e inespecíficas, como dor abdominal (mais intensa nas primeiras horas do dia), náuseas, fraqueza, perda ou aumento de apetite etc. T. SAGINATA: Os pacientes notam a infecção ao observar a eliminação de proglótides móveis em suas fezes. Eles podem apresentar desconforto perianal, dor abdominal leve, náuseas, alteração no apetite, fraqueza e perda de peso. T. SOLIUM: A neurocisticercose é a apresentação clínica mais comum e relevante da cisticercose humana. Os cisticercos podem localizar-se no córtex cerebral, nas meninges ou nos ventrículos. A manifestação clínica mais comum é a convulsão, mas podem ocorrer outras lesões focais, como déficits motores e distúrbios visuais. Cefaleia e náuseas decorrentes de hipertensão intracraniana são observadas quando os cistos afetam a drenagem liquórica. Outra forma clínica potencialmente grave é a cisticercose ocular, com sintomas que variam desde a redução discreta da acuidade visual até a cegueira unilateral. DIAGNÓSTICO T. SAGINATA: É estabelecido pela detecção dos ovos ou proglótides nas fezes; os ovos podem ser encontrados na região perianal pelo teste da fita de celofane (como na infecção por oxiúros). Eosinofilia e níveis de IgE elevados costumam estar ausentes. T. SOLIUM: A infecção intestinal é diagnosticada por meio da detecção dos ovos ou proglótides nas fezes. Os achados nos exames de neuroimagem incluem lesões císticas com ou sem realce, uma ou mais calcificações nodulares ou lesões focais com realce. TRATAMENTO T. SAGINATA: Praziquantel, administrado em dose única de 10 mg/kg. Aumenta a permeabilidade da membrana dos helmintos, causando perda de cálcio intracelular, contrações e paralisia da musculatura dos parasitas, que se desprendem da parede dos vasos; vacuolização e desintegração do tegumento dos esquistossomos, causando sua morte. T. SOLIUM: As infecções intestinais respondem a uma dose única de praziquantel (10 mg/kg), mas esse tratamento pode provocar uma resposta inflamatória no SNC se houver cisticercose críptica. Os pacientes devem ser cuidadosamente monitorados devido ao potencial de resposta inflamatória ao tratamento, devendo utilizar glicocorticoides em altas doses durante o tratamento. As medidas de suporte incluem administração de antiepilépticos e tratamento da hidrocefalia, quando indicado REFERÊNCIAS JAMESON, J L.; FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; et al. Manual de medicina de Harrison. 20ª ed. Grupo A, 2021. FEREIRA, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea. 2ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020.
Compartilhar