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Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 INTRODUÇÃO Existem 3 tipos de Trichomonas encontradas nos humanos, que são: A) Trichomonas Vaginalis (T. vaginalis); B) Trichomonas Tenax (T. tenax); C) Trichomonas Hominis (T. hominis). Desses três, o T. vaginalis é o único patogênico para os humanos, tendo como local de infecção o trato geniturinário do homem e da mulher. O T. tenax, não patogênico, vive na cavidade bucal humana e o T. hominis, também não patogênico, habita no trato intestinal humano. Neste resumo, trataremos do T. vaginalis, pois é ele que causa a tricomoníase. MORFOLOGIA O Trichomonas vaginalis não possui a fase evolutiva de cistos, se apresentando apenas no estágio de trofozoíto (patogênica). O trofozoíto do Trichomonas vaginalis: A) É uninucleado (formato elipsoide); B) Possui 4 flagelos anteriores (todos com tamanhos diferentes entre si); C) Possui 1 flagelo posterior, que se origina no mesmo local de origem dos flagelos anteriores e acaba entrando na membrana citoplasmática, emergindo apenas na região posterior; D) Possui uma membrana ondulante, que é formada pelo percurso do flagelo posterior dentro da membrana citoplasmática; E) Possui um axóstilo, que é uma estrutura rígida, desempenhando o papel de uma “coluna vertebral”; F) Hidrogenossomos (síntese de ATP). Por ser um protozoário desprovido de mitocôndrias, ao longo do seu citoplasma são encontrados grânulos densos chamados Hidrogenossomos, que são as organelas que sintetizam o ATP desse ser vivo. O trofozoíto do T. vaginalis é uma célula polimorfa, ou seja, pode assumir mais de uma morfologia, variando entre uma forma elipsoide, oval e esférica. Por ser uma célula polimorfa, o T. vaginalis possui uma certa plasticidade para mudar sua morfologia com o intuito de aumentar sua área de contato, otimizando sua fixação no epitélio da mucosa vaginal e a absorção de nutrientes provenientes dessa mucosa. Então, quanto maior sua área de contato, mais aderido estará ao epitélio da mucosa vaginal e, consequentemente, absorverá mais nutrientes das células dessa mucosa, favorecendo uma rápida multiplicação. OBS: O trofozoíto do T. vaginalis quando acaba de se dividir possui um formato piriforme (formato de pera). OBS2: Por não possuir uma forma cística, o trofozoíto do T. vaginalis não sobrevive quando não está em contato com o humano. BIOLOGIA Tricomoníase Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 LOCAL DE INFECÇÃO O T. vaginalis habita o trato geniturinário do homem e da mulher, onde produz a infecção e não sobrevive fora do sistema urogenital, por não possuir uma forma cística com uma parede cística. REPRODUÇÃO A multiplicação ocorre por divisão binária longitudinal e a divisão nuclear é do tipo criptopleuromitótica. FISIOLOGIA O T. vaginalis é um organismo anaeróbio facultativo, ou seja, consegue crescer perfeitamente bem na ausência de oxigênio; Se desenvolve perfeitamente em meios com faixa de pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20º e 40ºC; Como fonte de energia utiliza glicose, frutose, maltose, glicogênio e amido; Usa como vias para produção de ATP – o Ciclo de Krebs (incompleto) e a Via d’Embden-Meyerhof (conversão de uma pentose em ATP) (no hidrogenossomo); Como já mencionado, é desprovido de mitocôndrias e, por isso, o parasito possui grânulos densos, os hidrogenossomos, que são portadores de uma enzima, a piruvatoferredoxina-oxidorredutase (PFOR), enzima capaz de transformar piruvato em acetato e de liberar ATP e H2; É capaz de manter em reserva glicogênio e pode realizar a síntese de apenas um certo número de aminoácidos, possuindo uma fraca atividade de transaminação. TRANSMISSÃO Principalmente contato sexual direto; De forma menos comum, o contágio pode ocorrer por meio do contato com superfícies contaminadas, embora o T. vaginalis não possua forma cística, ele pode sobreviver fora de um hospedeiro por algumas horas sob condições específicas. PATOGENIA A) O estabelecimento do T. vaginalis no sítio de infecção inicia com o aumento do pH, visto que o pH normal da vagina é ácido (3,8- 4,5) e o organismo se desenvolve em pH maior que 5,0; B) Colonização das células epiteliais da mucosa vaginal pela interação com a mucina; C) Alteração morfológica do T. vaginalis da forma elipsoide para a ameboide; D) Interação do tipo ligante-receptor entre o T. vaginalis e as células epiteliais da mucosa; E) Cinco proteínas do T. vaginalis são mediadores da citoaderência (AP120, AP65, AP51, AP33, AP23); F) Essas proteínas são secretadas no meio extracelular e ligam-se a um sítio específico na superfície do parasito; G) O processo de citoaderência do T. vaginalis às células epiteliais modula a expressão gênica de proteínas funcionais da célula hospedeira associadas à manutenção da estrutura celular. PATOLOGIA INFERTILIADE Mulheres que já tiveram tricomoníase tem o risco de infertilidade cerca de duas vezes maior comparado com as que nunca tiveram; Mulheres com mais de um episódio de tricomoníase tem um risco maior de Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 infertilidade do que aquelas com um único episódio, pois o T. vaginalis pode ascender da exocérvice do colo uterino (local mais frequente da infecção) para a tuba uterina, causando um processo inflamatório nessa região, impedindo a nidação do óvulo; O T. vaginalis também está associado com a doença inflamatória pélvica. PROBLEMAS RELACIONADOS COM A GRAVIDEZ O T. vaginalis promove: A) Ruptura prematura de membrana; B) Parto prematuro; C) Baixo peso em recém-nascidos; D) Endometrite pós-parto; E) Morte neonatal (muito raro). TRANSMISSÃO DO HIV (COINFECÇÃO) A infecção por T. vaginalis causa uma agressiva resposta imune celular local. Essa resposta inflamatória induz uma grande infiltração de leucócitos, incluindo células- alvo do HIV (TCD4+ e macrófagos), aos quais o HIV pode se ligar e ganhar acesso. Além disso, o T. vaginalis causa pontos hemorrágicos na mucosa, permitindo acesso direto do vírus para a corrente sanguínea. Isso resulta em um aumento de vírus livres e ligados aos leucócitos, expandindo a porta de saída do HIV. Com isso, há uma probabilidade oito vezes maior de exposição e transmissão para um parceiro sexual não infectado. Além disso, o T. vaginalis tem a capacidade de degradar o inibidor de protease leucocitária secretória, um produto conhecido por bloquear o ataque do HIV às células, podendo esse fenômeno também promover a transmissão desse vírus. Portanto, uma coinfecção de T. vaginalis e HIV, aumentam as chances do indivíduo se tornar soro positivo. SINTOMAS E SINAIS MULHERES Infecta principalmente o epitélio do trato genital; A exocérvice é mais susceptível ao ataque, porém na endocérvice também podem ser encontrados; Provoca vaginite (com corrimento vaginal, de odor fétido); Prurido ou irritação vulvovaginal e dores no baixo ventre; Disúria e polúria. HOMENS É comumente assintomática (atua como um reservatório para possível transmissão); Quando há sintomas, estes se apresentam como uma uretrite com uma leve sensação de prurido; Pela manhã, antes da passagem da urina, pode-se observar um corrimento claro e viscoso, pouco abundante, com desconforto ao urinar; Possíveis complicações: prostatite, balanopostite e cistite; Esse protozoário pode se localizar ainda, no homem, na bexiga e na vesícula seminal. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Exame ginecológico conhecido como Papanicolau. No entanto, é necessário também uma investigação laboratorial, visto que essa infecção pode ser confundida com outras IST’s, pois os sinais e sintomas são muito parecidos.LABORATORIAL Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 Busca-se pela presença do trofozoíto do T. vaginalis; Por exame microscópico de preparações a fresco e de esfregaços fixados e corados de urina, secreção vaginal, secreções prostáticas e sêmen (pois o sêmen passa pela uretra). Imunológico, por meio de reações de aglutinação, métodos de imunoflorescência e técnicas imunoenzimáticas (ELISA). EPIDEMIOLOGIA É a IST não viral mais comum do mundo; Estima-se 200 ou mais milhões de novos casos a cada ano; A incidência da infecção depende de vários fatores incluindo idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, outras IST’s, fase do ciclo menstrual e condições socioeconômicas; A tricomoníase é incomum na infância; A prevalência da infecção em homens não é exata, mas provavelmente é 50 a 60% menor que em mulheres. TRATAMENTO Metronidazol, Secnidazol e Tinidazol (especialmente para gestantes pois possui uma fácil aplicação). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016.
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