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A tricomoníase, causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis, é a infecção sexualmente transmissível (IST) não viral mais comum do mundo, com a preocupante incidência de mais de 200 milhões de novos casos anualmente. Embora seja facilmente tratável, apresenta importantes implicações médicas, sociais e econômicas. Os sintomas podem apresentar-se de maneira amplamente variável. Muitas vezes, o quadro clínico é de difícil diferenciação com outras IST, e até 70% das mulheres e dos homens com o protozoário são assintomáticos, dificultando o diagnóstico precoce da infecção. Infecções não tratadas podem durar meses ou anos e causar diversas complicações, principalmente nas mulheres, destacando-se: predisposição à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e sua transmissão, parto prematuro, doença inflamatória pélvica (DIP) atípica, câncer cervical e infertilidade. A tricomoníase pode ainda causar uretrite, prostatite e predisposição ao câncer de próstata nos homens. Este capítulo tem como objetivo apresentar os principais tópicos referentes à tricomoníase, enfermidade parasitária reconhecidamente prevalente no Brasil, visando elucidar aspectos do parasito e da resposta inflamatória do hospedeiro, diferentes apresentações clínicas, testes diagnósticos e suas aplicações, provendo, assim, noções fisiopatológicas que descompliquem a condução do diagnóstico e a adequada instituição do tratamento, controlando a propagação do protista e prevenindo possíveis complicações da infecção. Segundo estimativas, ocorrem 180 milhões de casos de Trichomonas no mundo inteiro e 5 milhões nos EUA a cada ano. Pelo menos três espécies de protozoários do gênero Trichomonas podem parasitar os seres humanos, porém apenas T. vaginalis causa a tricomoníase. As outras espécies são comensais: T. hominis é encontrado no intestino, e T. tenax, na boca. T. vaginalis é um grande flagelado, com quatro flagelos anteriores e uma membrana ondulante (Figura 21.8). Ele infecta a superfície do sistema urogenital de ambos os sexos e alimenta-se de bactérias e secreções celulares. Como o pH ótimo é de 5,5 a 6,0 para esse organismo, ele só infecta a vagina quando as secreções vaginais apresentam um pH anormal. Esse pH é causado por uma comunidade de bactérias do gênero Mycoplasma. A princípio, acreditava-se que a comunidade de Mycoplasma foi a primeira a existir, com o estabelecimento secundário de Trichomonas. Agora, descobriu-se que Trichomonas é o primeiro a chegar, e como “fazendeiros” cultivam os Trichomonas que, de algum modo, são benéficos para eles próprios. Os sintomas da tricomoníase consistem em prurido intenso e secreção copiosa de cor branca, sobretudo nas mulheres, que têm a consistência de clara de ovo crua. Os homens são habitualmente assintomáticos, porém os parceiros de mulheres infectadas também precisam ser tratados para prevenir uma reinfecção. Trichomonas podem sobreviver em toalhas, lençóis e roupa íntima e podem ser transmitidos por compartilhamento desses itens. A tricomoníase, causada pelo protozoário trichomonas vaginalis, é a infecção sexualmente transmissível (ist), não viral, mais comum do mundo. ntroduçã https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737326/epub/OEBPS/Text/29_chapter21.xhtml?favre=brett#fig21-8 Os efeitos das diferentes espécies de Trichomonas ilustram a extrema variação no grau de dano que esses parasitas podem causar. T. hominis e T. tenax são considerados comensais. Entretanto, T. foetus provoca graves infecções genitais no gado bovino. Trata-se da principal causa de aborto espontâneo em vacas, e, de fato, essa espécie é responsável por perdas que alcançam quase 1 milhão de dólares por ano para os criadores de gado bovino nos EUA. Infelizmente, os surtos de Brucella abortus ocorridos em 2004 – uma infecção bacteriana que também provoca aborto contagioso –, se não forem logo controlados, poderão substituir Trichomonas como principal causa. Em 2000, durante a pesquisa de aves infectadas pelo vírus do Nilo ocidental, a causa de uma doença emergente do cérebro, os pesquisadores da fauna selvagem constataram que bandos de pombos estavam morrendo de infecção por Trichomonas, em vez do vírus do Nilo ocidental. _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ Figura 21.8 Trichomonas vaginalis. Observe as membranas ondulantes e os flagelos característicos vistos por meio de microscopia eletrônica de varredura (534×). Por que as infecções do trato urinário são mais comuns nas mulheres do que nos homens? Diferencie as quatro vias de infecção na prostatite. Por que o tecido renal é lesionado na glomerulonefrite, visto que as bactérias não estão infectando diretamente os rins? 4.O que são “células indicadoras”? TIOLOGI Taxonomia Trichomona vaginalis é um protozoário parasito, que, segundo a classificação de Dyer (1990), pertence à ordem Trichomonadida. QUADRO 33.1 Classificação taxonômica do gênero Trichomonas. Domínio Eukaryota Classe Parabasalia Ordem Trichomonadida Família Trichomonadidae Gênero Trichomonas Espécies Trichomonas brixi, Trichomonas canistomae, Trichomonas equibuccalis, Trichomonas gallinae, Trichomonas gypaetinii, Trichomonas stableri, Trichomonas tenax, Trichomonas vaginalis Adaptado de NCBI – The Taxonomy Database, 2019. Não existe consenso sobre a posição taxonômica do gênero Trichomonas. Esse é classicamente considerado um protozoário primitivo, sem mitocôndrias, que Cavalier-Smith (1987) coloca em um reino à parte, chamado de Archezoa. Com a emergência de novas sequências de DNA disponíveis para análise filogenética (Embley; Hirt, 1998), tornou-se necessário seu reposicionamento taxonômico. Na classificação mais recente, que não considera o sistema hierárquico tradicional de filos, classes e ordens, Trichomonas surge como membro de um grupo de protozoários flagelados chamado de Parabasalia, caracterizado por uma estrutura conhecida como corpo parabasal, por sua vez, parte de um supergrupo de protozoários denominado Excavata, que reúne diversos parasitos flagelados de importância clínica e veterinária que geralmente apresentam um citóstoma com morfologia característica, escavada (Adl et al., 2005). O gênero Trichomonas compreende flagelados monoxenos que apresentam, como estruturas características, três ou quatro flagelos anteriores, uma membrana ondulante e um citoesqueleto complexo que compreende um feixe de microtúbulos, chamado de axóstilo, além de estruturas conhecidas como pelta, costa e corpo parabasal. O citóstoma, que corresponde a uma prega da membrana celular por onde são internalizados os alimentos, é proeminente (Figura 12.1). Duas espécies infectam o ser humano: (i) T. vaginalis, que habita o trato geniturinário; e (ii) T. tenax, comensal encontrado na cavidade oral e na nasofaringe. Outro tricomonadídeo humano é o Pentatrichomonas hominis, um comensal eventualmente encontrado no cólon (Figura 12.1).Trichomonas spp.: espécies de protozoários que parasitam o homem, sendo o agente etiológico da Tricomoníase: Trichomonas vaginalis: trato urogenital masculino e feminino; Trichomonas tenax: cavidade oral; Trichomonas hominis: intestino grosso. Aspectos biológicos O T. vaginalis é um parasito eucariota, flagelado e anaeróbio facultativo. Habita o trato geniturinário feminino e masculino, e vive em ambientes com pH entre 5 e 7,5 e temperaturas entre 20°C e 40°C. É uma célula polimorfa, cujo aspecto morfológico é afetado por variações das condições físico-químicas do meio (pH, temperatura, oxigênio e força iônica), podendo apresentar-se nas formas elipsoides, piriformes, ovais e, às vezes, esféricas, tanto no hospedeiro natural quanto nos meios de cultura. Não apresenta a forma cística, somente a trofozoítica, diferentemente da maioria dos protozoários. Estruturalmente, conta com quatro flagelos anteriores de diferentes tamanhos, que lhe conferem mobilidade, e um quinto flagelo que se incorpora a uma membrana ondulante em sua superfície. Uma protuberância se projeta do centro do parasito até a extremidade posterior, formada por microtúbulos, chamada de axóstilo. O T. vaginalis tem a capacidade de formar pseudópodes para capturar alimentos e fixar-se em partículas sólidas. Seu núcleo é elipsoide, com dupla membrana celular próximo à extremidade anterior, podendo apresentar um pequeno nucléolo. Não possui mitocôndrias, mas apresenta hidrogessomos, estruturas formadas por grânulos densos visíveis ao microscópio óptico. Os hidrogessomos possibilitam que o parasito se desenvolva na ausência de oxigênio, pois são portadores da enzima piruvato ferredoxina oxirredutase, que, por meio de reação de oxidação fermentativa, é capaz de metabolizar o piruvato presente no meio em acetato, com liberação de energia na forma de adenosina 5′-trifosfato (ATP). O protozoário ainda armazena glicogênio como forma de energia, característica fundamental para a evolução do microrganismo, que, no epitélio vaginal, está sujeito a constantes variações de pH, hormônios, menstruação e fornecimento de nutrientes. O T. vaginalis utiliza a glicose, a maltose e a galactose como fonte de energia. Alternativamente, em condições adversas, o flagelado pode utilizar aminoácidos como fontes energéticas, principalmente arginina, treonina e leucina. Em relação ao ciclo biológico (Figura 33.1), deve ser comentado que sua multiplicação ocorre por divisão binária, e a transmissão se dá essencialmente por relação sexual. Ainda que rara, há possibilidade de transmissão vertical durante o parto e infecção de vias respiratórias e trato geniturinário do neonato. Enquanto as mulheres são os principais hospedeiros, o homem é considerado “vetor” da doença, visto que T. vaginalis pode sobreviver por mais de 1 semana no prepúcio do homem sadio após relação sexual com uma mulher infectada sem causar sintomas. Com a ejaculação, os organismos presentes na mucosa uretral entram em contato com a vagina e, se houver condições adequadas, ali se instalam e se reproduzem. orfologi https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473/epub/OEBPS/Text/chapter033.xhtml?create=true&favre=brett#fig33-1 Trofozoíto de Trichomonas vaginalis: Resumo das Principais Características Parâmetro Descrição Variação de tamanho Até 30 μm de comprimento Formato Ovoide, arredondado ou piriforme Motilidade Rápida, irregular Núcleos Um, ovoide, indefinível Flagelos Todos originando-se anteriormente, sendo: Quatro estendendo-se anteriormente Um estendendo-se posteriormente Outras características Membrana ondulante se estendendo por metade do comprimento do corpo Axóstilo proeminente que frequentemente se curva ao redor do núcleo; grânulos podem ser observados ao longo do axóstilo Trofozoítos. Apesar de os trofozoítos de T. vaginalis poderem atingir 30 μm de comprimento, a média de comprimento é de 8 a 15 μm (Fig. 4-15; Tabela 4-12). Os trofozoítos podem ter formato ovoide, arredondado ou piriforme. Uma motilidade irregular e rápida é obtida com o auxílio de cinco flagelos do organismo, todos os quais se originam na extremidade anterior. Quatro deles estendem-se anteriormente e são livres, e apenas um dos flagelos estende-se posteriormente. Os flagelos podem ser difíceis de ser observados em preparações das amostras. A membrana ondulante característica é relativamente curta, estendendo-se apenas por metade do comprimento do corpo. O núcleo único é ovoide, indefinível e não visível em preparações não coradas. Trofozoítos de T. vaginalis apresentam um axóstilo facilmente reconhecível que frequentemente se curva ao redor do núcleo e estende-se posteriormente para além do corpo. Grânulos podem ser observados ao longo do axóstilo. Cistos. Não existe nenhum estádio de cisto conhecido de T. vaginalis. FIGURA 4-15 A, Trofozoíto de Trichomonas vaginalis. B, Trichomonas vaginalis circundando uma célula epitelial escamosa em uma preparação úmida de corrimento vaginal. Microfotografia com contraste de fase Morfologia A forma típica de Trichomonas vaginalis é alongada, ovoide ou piriforme, medindo 10 a 30 µm de comprimento por 5 a 12 µm de largura. Mas como não existem estruturas de sustentação sob a membrana celular, que lhe confiram rigidez, essa forma varia muito e permite mesmo a emissão de pseudópodes. T. vaginalis possui quatro flagelos livres que partem de uma depressão do polo anterior, denominada canal periflagelar, e se dirigem para a frente. Um quinto flagelo, recorrente, emerge fora desse canal e fica voltado para trás, mantendo-se aderente em toda sua extensão ao corpo celular por uma prega que constitui a membrana ondulante, mas que não chega até a extremidade posterior (Figs. 7.2 e 7.3). Cada flagelo nasce de um blefaroplasto e, desses mesmos blefaroplastos ou de suas proximidades, partem feixes com estrutura fibrilar que percorrem distâncias maiores ou menores, no interior do citoplasma. São eles (Fig. 7.3) os seguintes: O axóstilo, em forma de fita, constituído pela justaposição de microtúbulos que percorrem toda a extensão do corpo celular e fazem saliência no polo posterior; A costa é uma faixa que percorre o citoplasma nas proximidades do flagelo recorrente, tendo partido do mesmo blefaroplasto que este; O corpo parabasal corresponde ao conjunto das fibras parabasais (uma mais longa que a outra) e o aparelho de golgi, com suas membranas paralelas e suas vesículas. O núcleo celular é relativamente grande, alongado, e situado na metade anterior do corpo celular. Uma camada de reticulo endoplásmico envolve a membrana nuclear. No citoplasma, encontram-se disseminados inúmeros vacúolos, granulações e membranas do retículo endoplásmico. T. vaginalis vive habitualmente sobre a mucosa vaginal, podendo ser observado em outros lugares do aparelho geniturinário. No homem, já foi encontrado no prepúcio, na uretra e na próstata. Seu metabolismo é anaeróbio, razão pela qual o desenvolvimento do flagelado, tanto em cultura como em condições naturais, faz-se melhor em presença de um crescimento bacteriano. A ação favorável das bactérias consistiria em criar um ambiente redutor, pois a presença de oxigênio é nociva para os tricomonas. A reprodução de T. vaginalis é por divisão binária longitudinal. Não se conhecem formas de multiplicação sexuada. Também não há formação de cistos para a propagação. T. vaginalis sobrevive, entretanto, várias horas em uma gota de secreção vaginal e, na água, resiste 2 horas a 40°C. Esse protozoário apresenta somente a forma trofozoíta em seu ciclo de vida, que, apesar de seu polimorfismo, possui um único núcleo ovalado ou elipsoide e localizado próximo à inserção flagelar na porção anterior. Não apresenta mitocôndria e possui quatro flagelos apicais e livres, e um quinto flagelo pregueado junto à membrana citoplasmática da célula em direção à porção posterior denominadomembrana ondulante, ou flagelo recorrente. A célula é elíptica, piriforme ou oval, medindo em média 9,5 µm de comprimento e 7 µm de largura. O citoesqueleto, denominado axóstilo, percorre toda a célula e se projeta ao exterior na porção posterior (Figura 3.1). Existem diferentes espécies desse gênero que parasitam animais domésticos e silvestres, sendo que em seres humanos pode- se ainda observar a presença de T. tenax na cavidade bucal e outro gênero da mesma família, com a espécie Pentratrichomonas hominis, comensal intestinal. A morfologia dos trofozoítos de T. vaginalis é extremamente variável. Podem ser elipsoides, piriformes ou ovais, com dimensões aproximadas de 7 a 32 μm de comprimento por 5 a 12 μm de largura, dependendo das características físico-químicas do ambiente (Figura 12.2). Os trofozoítos têm quatro flagelos anteriores livres, de tamanho desigual, que emergem de uma depressão no polo anterior da célula conhecida como canal periflagelar, além de um flagelo recorrente que se mantém aderido ao corpo celular por uma prega, formando a membrana ondulante . (Figura 12.3). Abaixo da membrana ondulante encontra-se a costa, estrutura de sustentação presente apenas em tricomonadídeos, que consiste em um feixe de filamentos do citoesqueleto complexo e organizado, formada por uma nova classe de proteínas (de Andrade Rosa et al., 2017). A movimentação do trofozoíto depende da ação dos flagelos livres e da membrana ondulante. O axóstilo, estrutura microtubular originada na região anterior da célula, projeta-se internamente por toda a extensão do trofozoíto e produz uma saliência em sua extremidade posterior, recoberta pela membrana celular (Figura 12.3). A principal função do axóstilo é provavelmente o suporte de célula, mas ele pode também auxiliar no processo de divisão celular ao criar constrições no núcleo durante a cariocinese. Junto à extremidade anterior do axóstilo encontra-se a pelta ou escudo, estrutura composta por microtúbulos e que sustenta a parede do canal periflagelar. Em torno do corpo parabasal, que compreende fibras com estrias transversais, formando lamelas em forma de gancho, dispõe-se o complexo de Golgi. Não há forma cística conhecida no gênero Trichomonas. No entanto, formas esféricas com flagelos internalizados têm sido consideradas pseudocistos, observadas em condições ambientais hostis e no processo de interação com a célula hospedeira. Habitat O T. vaginalis é parasito cavitário, tendo como habitat os tratos genitais masculino e feminino. Na mulher é usualmente encontrado no epitélio do trato genital, podendo alcançar a cérvix. No homem, usualmente assintomático, o parasito é encontrado na uretra, podendo alcançar o epidídimo e a próstata. FIGURA 12.1 Morfologia de Trichomonas vaginalis (A), Trichomonas tenax (B) e Pentatrichomonas hominis (C). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737166/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737166/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737166/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-3 http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.medicine.mcgill.ca/tropmed/imagesamoeba/trichimonas-chengmai.jpg&imgrefurl=http://www.medicine.mcgill.ca/tropmed/txt/lecture1%2520intest%2520protozoa.htm&h=310&w=456&sz=14&hl=pt-BR&start=20&tbnid=3cQME0ND4_1waM:&tbnh=87&tbnw=128&prev=/images%3Fq%3DTrichomonas%2Bvaginalis%26start%3D18%26gbv%3D2%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN FIGURA 12.2 Trofozoítos pleomórficos de Trichomonas vaginalis em amostra de secreção vaginal corada pelo Giemsa. Fotografias de Marcelo Urbano Ferreira (A) e Carlos Eugênio Cavasini (B, C, D, E). Trichomonas vaginalis desenvolve-se bem em ambientes com baixa tensão de oxigênio, com pH entre 5,0 e 7,5 e temperatura entre 20°C e 40°C. Em mulheres saudáveis, o pH vaginal é normalmente mantido entre 3,8 e 4,4, graças à produção de ácido láctico por bactérias saprófitas, tornando o ambiente hostil ao parasito. No homem, os trofozoítos podem ser encontrados na uretra, no epidídimo e na próstata. Aderem às células epiteliais e causam lesão celular seguida de inflamação e transição epitélio-mesenquimal. Os trofozoítos não apresentam mitocôndrias nem peroxissomos, organelas envolvidas no metabolismo energético da maioria dos eucariotos, mas têm seu citoplasma repleto de hidrogenossomos, organelas de dupla membrana envolvidas no metabolismo de carboidratos, dispostas em torno da costa e do axóstilo (Figura 12.3). O hidrogenossomo realiza a fermentação oxidativa de carboidratos, resultando na formação de dióxido de carbono, de hidrogênio molecular e de ATP. Considera-se que as mitocôndrias e os hidrogenossomos originaram-se a partir de um ancestral comum. Entretanto, diferentemente das mitocôndrias, os hidrogenossomos não têm citocromos, enzimas da cadeia respiratória, nem tampouco DNA extranuclear. Análises dos dados genômicos e metabólicos sugerem uma função adicional dos hidrogenossomos na síntese de aminoácidos. Os trofozoítos têm um único núcleo elipsoide, localizado próximo à extremidade anterior, envolvido por uma membrana porosa. Reproduzem-se assexuadamente por mitose fechada, processo que envolve a formação de fuso mitótico extranuclear, com a manutenção do envoltório nuclear durante todo o processo, seguido por fissão binária simples longitudinal, precedida de divisão mitótica do núcleo. O parasito apresenta um amplo genoma, com 176 milhões de pares de bases, distribuído em seis cromossomos com características peculiares. Os trofozoítos são FIGURA 12.3 Ultraestrutura de um tricomonadídeo genérico, com suas principais organelas. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737166/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-3 frequentemente infectados por vírus de RNA de dupla fita, que induzem mudanças no padrão de expressão de proteínas pelo parasito. Os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais do T. vaginalis. O trofozoíto é transmitido de pessoa a pessoa, geralmente por relações sexuais (Figura 12.4). A transmissão não sexual pode ocorrer em meninas, mulheres virgens e até mesmo em recém-nascidos por propagação e transferência do parasito pela água de banho em instalações sanitárias (duchas higiênicas, pias, banheiras, vasos sanitários) e em objetos de higiene íntima e outros fômites. Em gestantes com infecção assintomática não tratada, pode ocorrer transmissão do parasito ao recém- nascido (particularmente do sexo feminino) pelo rompimento da bolsa amniótica, seja precocemente ou durante a passagem pelo canal do parto. Embora a associação entre a infecção por T. vaginalis durante a gestação, o parto prematuro e o baixo peso ao nascer esteja bem estabelecida, pouco se sabe sobre a patogênese dessas complicações. No recém-nascido exposto ao canal de parto infectado, observa-se raramente a colonização das vias respiratórias pelo parasito, que pode causar pneumonia neonatal. A tricomoníase é incomum na primeira década de vida, uma vez que o ambiente vaginal (características do epitélio e pH) não favorece sua colonização pelo parasito. • Célula elipsóide ou oval; • Formam pseudópodes: utilizados para a captura de alimentos e fixação; • Trichomonas não possui forma cística, apenas trofozoíta; • Possui quatro flagelos anteriores e uma membrana ondulante; • Condições físico-químicas: pH, temperatura, tensão de oxigênio – afetam o aspecto morfológico do parasito. • Parasito anaeróbico facultativo; • Sobrevive em pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20 à 40ᵒC. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737166/epub/OEBPS/Text/chapter12.html?create=true#fig12-4A tricomoníase é a mais comum IST não viral do mundo, tendo nas Américas os maiores índices de prevalência e incidência. Estudo comparativo entre 2005 e 2008 evidenciou um aumento de 11% da incidência global da doença. Vários fatores têm influência sobre a incidência da infecção, destacando-se atividade sexual, idade, fase do ciclo menstrual, número de parceiros, outras IST concomitantes e condições socioeconômicas. O pico de incidência da doença ocorre mais tarde do que na maioria das IST, na faixa etária entre 40 e 50 anos, enquanto infecções por clamídia e gonococo são mais prevalentes entre 15 e 25 anos. A diferença de distribuição de gênero é significativa, com uma taxa de infecção de quatro mulheres para um homem. Os fatores que justificam essa discrepância incluem a transitoriedade da infecção no homem, a escassez de sintomas e a carência de exames de triagem no sexo masculino. A tricomoníase é moléstia cosmopolita, incidindo nas mulheres adultas em proporções elevadas. As estatísticas mundiais e as do Brasil registram taxas que oscilam entre 20 e 40% das pacientes examinadas. Entre as que apresentam leucorreia, a proporção pode chegar a 70% dos casos. Nos homens a prevalência parece ser muito menor, talvez porque o diagnóstico se faça com maior dificuldade, ou porque a benignidade da infecção raras vezes dê motivo a uma consulta médica para isso. Ainda assim, inquéritos têm revelado taxas que oscilam entre 10 e 15% e, entre maridos de mulheres infectadas, um positivo sobre cada quatro. Sendo transmitida principalmente pelas relações sexuais, pode ser considerada uma doença venérea (a de maior incidência, em escala mundial, talvez). Ocorre de preferência no grupo etário de 16 a 35 anos. Entretanto, a propagação em outras circunstancias deve ocorrer muitas vezes, quando a promiscuidade e a falta de higiene asseguram a transferência do parasito através da água do banho, das instalações sanitárias (bidês, banheiras, privadas etc.), de objetos de toalete e de roupa íntima ou de cama. Trichomonas vaginalis resiste muito tempo na água corrente e suporta durante uma ou duas horas temperaturas entre 40° e 46°C. Em gotículas de secreção vaginal, não completamente dessecadas, permanece viável por 6 horas e na solução de ringer, 24 horas. O controle da tricomoníase tropeça nos complicados problemas relativos aos costumes sexuais e aos preconceitos que prevalecem nessa área, tal como sucede com a prevenção das outras doenças de transmissão sexual. Ele deve basear-se na educação sanitária, no diagnóstico precoce, no tratamento intensivo dos casos (sempre que possível, por casais ou famílias) e na recomendação de medidas higiênicas. A intensa propaganda para o uso de preservativos, que se seguiu ao aparecimento da síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), deverá contribuir em certa medida para seu controle. pidemiologi Trichomonas vaginalis: agente etiológico de uma IST de distribuição Mundial; Organização Mundial da Saúde (OMS): 170 milhões de casos e cerca de 10 a 20 milhões de novos casos por ano; 92% dos casos ocorrem em mulheres; Atinge principalmente homens e mulheres de vida sexual ativa; Fatores que favorecem a distribuição: pH, idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, outras ISTs, fase do ciclo menstrual, erros no diagnóstico, clínicas ginecológicas; Mulheres grávidas: ↑ da incidência – interrupção no uso de contraceptivos tricomonocidas e mudanças hormonais; Parasito sobrevive em água tratada; Tricomoníase: é um incômodo e não um problema de saúde pública; Trichomonas vaginalis: causa um série de complicações: favorece a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV); Problemas relacionados a gravidez; Mulheres: doença inflamatória pélvica atípica, câncer cervical e infertilidade Transmissão • Relação sexual; • Parasito pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio do homem após a relação sexual com uma parceira infectada; • Homem é o reservatório da doença; • Na ejaculação: os tricomonas presentes na mucosa da uretra são levados à vagina; • Transmissão não-sexual: pode ocorrer através dos fômites: duchas contaminadas, lingerie, toalhas, vasos sanitários, piscina, banheira e durante o parto. A transmissão da tricomoníase é direta, ou seja, de uma pessoa infectada a outra, ocorrendo primariamente por relação sexual sem o uso de preservativo. Pode, em menor grau, ser transmitida de mãe infectada ao feto no momento do parto e mecanicamente através de fômites úmidos. 4 flagelos anteriores Núcleo Blefaroplasto Membrana Ondulante Oxóstilo (Sustentação) A instalação do protozoário na vagina coincide com um aumento do pH vaginal, e consequentemente elevação da proporção de bactérias anaeróbias e redução concomitante dos lactobacilos. O contato da mucosa vaginal com o protozoário desencadeia uma intensa resposta imune celular e humoral, evidenciada pelo aumento do número de leucócitos polimorfonucleares facilmente detectados nas secreções. A resposta imunológica natural à infecção pelo T. vaginalis parece desenvolver uma imunidade parcialmente protetora, considerando que a taxa de reinfecção ocorre em cerca de 30% dos pacientes. A interação de Trichomonas com seu hospedeiro envolve componentes associados à superfície celular do parasito e às células epiteliais do indivíduo infectado, além de componentes solúveis das secreções vaginal e uretral. O protozoário causa lesões no epitélio vaginal e intenso processo inflamatório agudo local. Pelo menos três mecanismos patogênicos são responsáveis pela destruição das células epiteliais pelo T. vaginalis: citoaderência (contato-dependente), citotoxicidade e citofagocitose. A adesão do parasito às células epiteliais do hospedeiro tem papel essencial na colonização, persistência e patogênese do T. vaginalis. Diversas adesinas (moléculas de adesão) presentes na superfície do parasito se concentram do lado oposto à membrana ondulante do microrganismo e permanecem em constante contato com as células epiteliais; sendo, então, responsáveis pelo processo de citoaderência. Quatro adesinas são identificadas como principais mediadoras: AP23, AP33, AP51 e AP65. Alguns estudos in vitro demonstraram a ocorrência de up regulation na síntese de adesinas do parasito ao entrar em contato com células de mamíferos e moléculas de ferro, sugerindo a existência de um complexo sistema de transdução de sinal que regularia a expressão das adesinas, motivado pela ligação tanto às células epiteliais quanto ao ferro. Pouco se conhece sobre os receptores da célula do hospedeiro aos quais as adesinas se ligam, mas evidências na literatura sugerem que o alvo delas seria a glicoproteína laminina. Destacado o importante papel da citoaderência, um mecanismo contato-dependente, na patogênese da tricomoníase, deve também ser considerada a possibilidade de lesão às células do hospedeiro por meio de mecanismo citotóxico contato- independente. Em meios de cultura, produtos secretados pelo T. vaginalis, como glicosidades e cell- detaching factor (CDF), mostram-se altamente tóxicos às células epiteliais, o que teria implicação na patogênese da doença. Um ensaio in vitro mostrou que uma amostra de cultura de T. vaginalis, quando aplicada a uma camada única de células, causava a separação destas; efeito análogo à descamação de células epiteliais vaginais durante infecções agudas. O mesmo estudo observou que a atividade do CDF sofre influência do pH do meio, tendo seu pico em pH 6,5 e inatividade em pH abaixo de 4,5. Deve-se lembrar que o pH vaginal normal é de 4,5, mas durante a tricomoníase é maior que 5, sugerindo que o aumento do pH vaginal pode ser crucial na patogênese da doença. O CDF também sofre influência da concentração de estrogênio na mucosa vaginal, sendo observada diminuição da sua atividade na presença de β-estradiol. Esse achado é de relevância clínica, uma vez que pode explicaro motivo pelo qual os sintomas são mais intensos durante o período menstrual, quando há maior liberação de estrogênio, e, assim, corroborar a hipótese de que essas moléculas teriam papel efetivo na patogênese da tricomoníase. Outra classe de moléculas, as cisteíno-proteinases (CP), exercem funções em diferentes mecanismos patogênicos. Parecem ser necessárias para que ocorra uma adesão eficiente, além de serem consideradas fatores líticos para eritrócitos e possuírem efeitos citotóxicos, capazes de degradar moléculas de imunoglobulina (Ig) G, IgM e IgA presentes na vagina. Como nos CDF, a atividade das CP também é influenciada pelo ferro. Assim, durante o período menstrual, os sintomas são exacerbados devido ao aumento da disponibilidade do mineral na mucosa. O ferro tem notável papel nas infecções e é também utilizado como nutriente direto por T. vaginalis. Eritrócitos são fagocitados para aquisição da hemoglobina e assim, do ferro, e ainda de ácidos graxos necessários ao parasito, que é incapaz de sintetizar lipídios. A hemólise ocorre com a inserção de poros na membrana do eritrócito ou pela interação de receptores da hemácia com adesinas do Trichomonas, que provoca a aderência entre as células e a eritrofagocitose pelo protozoário. iclo Biológico, patologia e imunologi FIGURA 33.1 Ciclo biológico dos protozoários da espécie Trichomonas vaginalis: transmissão inter-humana (A) e divisão do protista (B). O mecanismo de fagocitose também é alterado pelo T. vaginalis, que, ao entrar em contato com leucócitos, é capaz de formar pseudópodes, que promovem internalização e degradação dessas células nos vacúolos fagocíticos do parasito. Sequência de eventos associados à lesão da mucosa vaginal por Trichomonas vaginalis. Ocorre inicialmente a adesão à camada de mucina que recobre as células epiteliais, facilitada por proteínas de adesão. As mucinases degradam a camada de mucina do epitélio. A seguir, ocorre a degradação de substratos da matriz extracelular, por ação de cisteíno-proteases, com subsequente interação com as células epiteliais subjacentes. Esse processo leva ao rompimento da junção entre as células epiteliais, agravando a lesão epitelial. Doença em humanos O protozoário infecta principalmente o epitélio escamoso do trato genital, podendo ser encontrado na exocérvice uterina e, mais raramente, na endocérvice. A tricomoníase é tipicamente uma doença que se manifesta em idade reprodutiva. O período de incubação é de 4 a 28 dias, e os sintomas se relacionam com a resposta inflamatória do hospedeiro e os aspectos do parasito, podendo variar com os níveis hormonais, a microbiota bacteriana vaginal, a virulência do protozoário e a concentração de organismos no meio. Sendo assim, mulheres infectadas podem apresentar um amplo espectro clínico, desde quadros assintomáticos até exuberante inflamação (vaginite). Costumeiramente, os quadros são classificados em: assintomático, agudo e crônico. Até 50% das mulheres são assintomáticas, têm pH (3,8 a 4,2) e microbiota vaginal normais, mas até metade dessa porcentagem pode desenvolver sintomas em até 6 meses. A forma aguda apresenta como principal manifestação clínica corrimento vaginal, devido à grande infiltração leucocitária. A consistência, o odor e o volume do corrimento variam, e o típico corrimento da tricomoníase – bolhoso, fluido, abundante, de coloração amarelo-esverdeada e com odor fétido ‒ ocorre apenas em 20% das mulheres sintomáticas. A vaginite pode ser acompanhada por irritação e desconforto vaginal, prurido vulvar, dispareunia, disúria, poliúria e dor no baixo-ventre. A sintomatologia é cíclica, com exacerbação no período menstrual, e costuma ser mais intensa entre gestantes e mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais. No exame especular, é possível visualizar sinais de inflamação com edema e eritema na vagina e na cérvice uterina, além de erosão e pontos hemorrágicos, dilatação capilar na mucosa vaginal e parede cervical, a colpitis macularis ou colpite multifocal, também conhecida como cérvice em aspecto de morango, com teste de Schiller positivo (aspecto tigroide ou onçoide). Esse achado, altamente sugestivo de tricomoníase, está presente em apenas 2 a 5% das mulheres infectadas no exame macroscópico e em até 90% na colposcopia. Na infecção crônica, os sintomas são mais brandos, com prurido, dispareunia e corrimento escasso. Porém, essa forma da doença merece atenção, pois esses indivíduos constituem a principal fonte de transmissão do T. vaginalis. Embora a tricomoníase seja essencialmente uma doença de mulheres, também ocorre em homens, considerados “vetores” do parasito, o qual pode colonizar a uretra, a próstata ou ainda a bexiga e a vesícula seminal. A doença no homem é frequentemente assintomática, podendo variar de autolimitada a 10 dias de infecção, provavelmente devido à eliminação mecânica dos microrganismos que se encontram na uretra durante a micção e à ação tricomonicida de secreções prostáticas (Mandell et al., 1995; Schwebke, 2015). Os homens sintomáticos podem apresentar uretrite com fluxo mucopurulento escasso, disúria, prurido na uretra e sensação de queimação após ato sexual. Se não tratada, a tricomoníase pode levar ao desenvolvimento de complicações irreversíveis – tais como a esterilidade – em homens e mulheres. Doença em animais não humanos A infecção pelo parasito T. gallinae é frequentemente relatada em aves, principalmente em pombos, principais vetores da doença entre as aves. Outros grupos de aves que desenvolvem a doença são: rapinantes (águias, falcões e corujas), passeiriformes (comumente chamados de passarinhos), psitacídeos (papagaios, cacatuas) e galiformes (galos e perus). Na evolução da doença, desenvolvem-se placas pustulosas nos tratos digestório e respiratório superior desses animais, com consequente oclusão das vias, disfagia e morte. Na Inglaterra, a tricomoníase pode representar um problema ecológico. Nos últimos anos, foi identificada elevada mortalidade de aves selvagens da espécie rola-comum ou rolinha, possivelmente como consequência do elevado número de novos casos de infecção pelo T. gallinae. Outras espécies de Trichomonas, como T. tenax e T. canistomae, são encontradas na cavidade oral e no sistema digestório de cães e gatos, onde os parasitos podem causar periodontite e estomatite. Admite-se que a prevalência de tricomoníase em cães seja de 15 a 25%. spectos clinico Manifestações Clínicas Sinais e sintomas dependem das condições individuais, da agressividade e do número de parasitos infectantes. Na mulher: Trichomonas vaginalis infecta o epitélio do trato genital; Cerca de 20 a 25% de mulheres infectadas são assintomáticas – pH vaginal normal e microbiota vaginal normal; 1/3 de pacientes assintomáticos tornam-se sintomáticos dentro de seis meses; Doença de idade reprodutiva; Raramente as manifestações clínicas são observadas antes da menarca e após a menopausa; Sintomas: Vaginite aguda acompanhada de corrimento amarelo ou amarelo- esverdeado e fétido (leucorréia), prurido vulvar – 20% dos casos; Vulvovaginite e cervicite (colo do útero) – edema e eritema, com erosão e pontos hemorrágicos; Dor pélvica ou abdominal, disúria (dor ao urinar), freqüência miccional, dispauremia do intróito (dor na relação sexual); Severidade: neoplasias cervical. Período de incubação: 1 a 4 semanas; No homem: Infecção autolimitada e assintomática; Autolimitação: relacionada com as secreções prostáticas e a eliminação do parasito durante a micção; Estado agudo: uretrite purulenta abundante, escasso corrimento, disúria, ulceração peniana, sensação de queimação após a relação sexual, epididimite, prostatite e infertilidade. Patogênese Problemas relacionados com complicações na gravidez: Ruptura prematura da membrana vitelina; Parto prematuro; Baixo peso ao nascer; Endometrite pós-parto; Feto natimorto e morte neonatal.Problemas relacionados com a fertilidade: Risco de infertilidade duas vezes maior em mulheres com tricomoníase; Tricomoníase: doença inflamatória pélvica – ocorrendo destruição das estruturas tubárias e danificação das células ciliadas da mucosa tubárica, inibindo a passagem dos espermatozóides ou óvulos pela tuba. Transmissão do HIV: • Co-fator da propagação do vírus HIV; • Tricomoníase: aumenta o risco de transmissão: • Reação inflamatória no trato genital feminino e masculino: induz a infiltração de leucócitos; • Pontos hemorrágicos na mucosa: permite o acesso direto do vírus à corrente sangüínea; • Trichomonas vaginalis degrada o inibidor da protease que atua no bloqueio do ataque do HIV às células. Mecanismos da Patogênese ◼ Estabelecimento da tricomoníase na vagina: favorecido pelo ↑ pH > 5. ◼ Interação parasito-hospedeiro: complexa e envolve componentes da superfície celular do parasito com a membrana celular do hospedeiro. ◼ Trichomonas vaginalis: auto-revestimento com proteínas plasmáticas do hospedeiro – camuflagem e mecanismo de escape à resposta imunológica. Diagnostico Diagnóstico clínico e laboratorial: inúmeras dificuldades, principalmente em homens; Diagnóstico clínico: difícil – sintomas são parecidos a outras ISTs; Investigação laboratorial: essencial para o diagnóstico. Diagnóstico Laboratorial ◼ Secreção vaginal; ◼ Secreção uretral; ◼ Urina de primeiro jato matinal; ◼ Exame microscópico das preparações a fresco ou coradas; ◼ Imunodiagnóstico: pouco utilizado; ◼ Cultura de parasito ( positividade de 3 a 7 dias) – alta sensibilidade. Tratamento ◼ Supervisão médica; ◼ Tratamento específico e eficiente; ◼ Tratamento de todos os parceiros; ◼ Metronidazol, ornidazol, tinidazol; ◼ Medidas preventivas no combate as ISTs. Diagnóstico laboratorial O sinal clínico de corrimento amarelo-esverdeado, bolhoso, volumoso e fétido associado à elevação do pH vaginal e ao achado de colpitis macularis são altamente sugestivos de infecção por T. vaginalis. Porém, os sinais e sintomas clássicos da tricomoníase podem ser facilmente confundidos com outras IST, além de não estarem presentes em grande parte das mulheres infectadas, o que torna necessária a investigação laboratorial para o diagnóstico de certeza (Figura 33.2). Essa análise é de essencial importância para identificar a doença de maneira precisa, principalmente nos pacientes assintomáticos, e indicar o tratamento adequado, limitando, assim, a propagação da infecção. Quatro classes de exames laboratoriais utilizadas para o diagnóstico da tricomoníase se destacam atualmente: microscopia a fresco, cultura, reação em cadeia da polimerase (PCR) e detecção de antígenos. A microscopia a fresco é a técnica mais amplamente utilizada por ser bastante acessível, rápida e de baixo custo. Consiste em análise microscópica de amostra de secreção vaginal, cervical ou uretral diluída em solução salina. A técnica permite a visualização de T. vaginalis móveis ou o batimento de seus flagelos em esfregaço, tipicamente rico em elementos polimorfonucleares e células epiteliais, proporcionando o diagnóstico definitivo de tricomoníase, quando positivo. Entretanto, falsos-negativos podem ocorrer, uma vez que o parasito é sensível à temperatura e perde sua capacidade de movimentação em 10 minutos após a coleta. O protozoário apresenta tamanho similar ao dos leucócitos, podendo ser confundido ou omitido por essas células; além disso, a quantidade de parasitos pode ser insuficiente para a detecção por microscopia. Sendo assim, a técnica a fresco apresenta baixa sensibilidade em amostras vaginais (51 a 65%) e ainda menor em amostras uretrais; assim, quando o resultado for negativo, deve-se prosseguir com a investigação diagnóstica por meio de outros métodos. Tratamento A terapêutica adequada elimina os sinais e sintomas causados pela infecção, a transmissão do parasito e as possíveis complicações. Para evitar a reinfecção, que pode chegar a 17% em 3 meses, é de essencial importância que o parceiro também seja tratado. O metronidazol é o fármaco mais amplamente utilizado no tratamento da tricomoníase, com taxas de cura entre 84 e 98% (CDC, 2015; Brasil, 2019). Isso porque os nitroimidazóis, sendo metronidazol o principal, são prontamente absorvidos e alcançam os tecidos por simples difusão. Nos hidrogenossomos do T. vaginalis, o fármaco tem seu grupo nitro reduzido, com formação de produtos quimicamente reativos, responsáveis pela atividade antimicrobiana do metronidazol mediante ação sobre o DNA e outras biomoléculas vitais do parasito. O regime de tratamento mais utilizado e recomendado pelo Ministério da Saúde se faz com o uso oral de 2 g de metronidazol em dose única. Alternativamente, em caso de intolerância, o uso do fármaco pode ser feito em 7 dias, com posologia de 400 a 500 mg, 2 vezes/dia. Da mesma maneira, é preconizado o tratamento em gestantes após o primeiro trimestre e durante a amamentação, com a opção de metronidazol 250 mg, 3 vezes/dia, por 7 dias. Outras opções terapêuticas incluem os medicamentos de mesma classe, como o secnidazol e o tinidazol. O uso de creme ou gel tópicos não mostrou eficácia no tratamento contra T. vaginalis, portanto, não é indicado. É recomendada abstinência sexual até o desaparecimento dos sintomas https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473/epub/OEBPS/Text/chapter033.xhtml?favre=brett#fig33-2 e abstinência alcoólica até 24 horas após o término do tratamento, devido ao potencial efeito dissulfiram ou antabuse. Estudos indicam crescentes taxas de resistência microbiana ao metronidazol (4 a 10%) e ao tinidazol (1%). Esses são dados preocupantes, levando em conta as mínimas opções terapêuticas para os casos de resistência. Nos casos de falha terapêutica com uso de metronidazol em dose única, e excluída a possibilidade de reinfecção ou não adesão ao tratamento, é recomendado metronidazol 400 a 500 mg por via oral, 2 vezes/dia, por 7 dias. Se esse regime também falhar, deverá ser considerado o tratamento com metronidazol ou tinidazol 2 g, via oral, por 7 dias. Quando houver falha de tratamento nesses casos, é indicado o teste de suscetibilidade microbiana em isolados de T. vaginalis (Quadro 33.2). Um estudo randomizado com 60 voluntárias avaliou a eficácia terapêutica do fitoterápico Mentha crispa no tratamento da tricomoníase e obteve animadores resultados, com negativação da infecção em 90% das mulheres do grupo tratado com o fitoterápico. Assim, o medicamento apresenta-se como alternativa terapêutica para o tratamento de pacientes com tricomoníase Profilaxia e controle A infecção por T. vaginalis está associada a 2 a 3 vezes maior risco de aquisição do HIV, parto prematuro e outras consequências adversas da gravidez, sendo essenciais a identificação e o tratamento adequado, assim como a prevenção de novos casos (Crosby RA et al., 2012). A tricomoníase é uma IST; logo, a prevenção deve ser feita pelo uso correto de preservativos durante o ato sexual. O Ministério da Saúde recomenda a realização de testes diagnósticos para T. vaginalis em mulheres que procuram cuidados com queixa de corrimento vagina. O CDC ainda propõe o rastreio de rotina para T. vaginalis em mulheres assintomáticas com infecção pelo HIV, embora o Ministério da Saúde não faça tal recomendação. A triagem pode ser considerada para pessoas assintomáticas com alto risco de infecção (com múltiplos parceiros sexuais, que trocam sexo por pagamento, em uso de drogas ilícitas ou com história de infecção sexualmente transmissível [IST]). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473/epub/OEBPS/Text/chapter033.xhtml?favre=brett#qua33-2
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