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A Primeira República em Mato Grosso

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A Primeira República em Mato Grosso
Em 15 de novembro de 1889, os militares do Exército brasileiro proclamaram a República. Entretanto o ideal republicano não era novo no Brasil, pois desde o século XVIII, movimentos em prol da independência, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração dos Alfaiates, já idealizavam o regime republicano.
Porém foi somente ao final do século XIX, que a República foi instaurada. Quais foram então os fatores que favoreceram o advento da Republica?
Com certeza um fator determinante foi a adesão dos fazendeiros de café. Os cafeicultores do oeste paulista interessados em defender os seus interesses econômicos, advogavam a favor do regime, uma vez que a República daria uma maior autonomia aos Estados.
Os fazendeiros do Vale do Paraíba, defensores da Monarquia, em 1888 com a assinatura da Lei Áurea perderam seus escravos e não receberam do Estado nenhuma indenização. Contrariados, esses fazendeiros passaram a apoiar a oposição. Desta maneira, a decretação do fim da escravidão foi um dos fatores que provocaram a queda do Império.
Outro fator foi o descontentamento dos militares com o governo imperial. Com o término da Guerra do Paraguai, os militares foram fortemente influenciados pelo positivismo de Augusto Comte. Sonhavam com uma república centralizada, uma ditadura republicana. Desejavam participar ativamente da vida política do país, contudo, apesar das vitórias na Guerra do Paraguai, o sistema político era monopolizado pela aristocracia tradicional. Tal situação gerou um profundo descontentamento entre os militares.
Além da crise com os militares, o governo imperial também teve que enfrentar uma crise com a Igreja Católica. Essa crise foi motivada pela prisão dos bispos de Belém e Olinda. A prisão dos religiosos estava relacionada a Encíclica “Syllabus”, que condenava a participação de católicos na maçonaria. Entretanto, D.Pedro II desautorizou a bula papal e permitiu que fieis católicos pudessem freqüentar a maçonaria. O bispo de Belém e de Olinda desobedeceu as determinações do imperador, e por isso foram condenados a prisão.
Assim em 15 de novembro, apoiados pelos cafeicultores e pelas classes médias urbanas, o Marechal Deodoro da Fonseca conduziu as tropas militares na proclamação da República.
A notícia da proclamação da Republica chegou tardiamente em Mato Grosso, mas foi bem aceita pela população. Os jornais que circulavam em Mato Grosso noticiaram com entusiasmo a novidade declarando que a República daria a população “a liberdade plena, a igualdade civil, a fraternidade, chama ao Serviço da Pátria todos os que na pátria habitem; e acreditamos que podemos em tempo dizer que jamais tão bela cooperação no Brasil se efetuou. Viva a confederação Brasileira!” [footnoteRef:1] [1: APEMT: Jornal “A Província”,31 de dezembro de 1889.] 
As idéias republicanas circulavam em Mato Grosso desde o final do século XIX. Os seus partidários chegaram a fundar em 1888, o Partido Republicano Mato-Grossense e para defender os seus princípios chegaram a fundar o jornal “A República”. A seguir vejamos o desenrolar dos primeiros anos da Republica......
Republica da Espada (1889-1894)
Esse período foi marcado pelo governo dos marechais: Deodoro e Floriano Peixoto.
Deodoro ao proclamar a República se tornou presidente do Governo Provisório. Nessa fase política foi elaborada a primeira constituição republicana que estabeleceu:
 Presidencialismo
 Federalismo
 Sistema Representativo, que foi dominado por São Paulo, Minas Gerais e o Rio de Janeiro.
 Voto Aberto
 Voto: 21 anos, sexo masculino e alfabetizados, exceto aos padres, soldados e mendigos.
Deodoro ainda nomeou governadores para os estados brasileiros. Para governar Mato Grosso foi escolhido o General Antonio Maria Coelho, que foi muito bem aceito pela população. O jornal Mato –Grosso, em 31 de dezembro de 1889 publicou a seguinte saudação ao Presidente do Estado de Mato Grosso
“Acha-se como governador de Mato Grosso, o Exmo. Senhor General Antonio Maria Coelho.
Com a nova forma de governo que operou-se em todo o Brasil, no dia 15 de novembro ultimo, o governo Provisório não podia fazer melhor escolha, porquanto, a nomeação justa do Exmo. Sr. para governador de Mato Grosso, nos colocou em posição segura de ajudar o Sr. Exmo,... porque é filho de Mato Grosso, simpático, e ainda mais tendo sido o herói da retomada de Corumbá.
O general Antonio Maria Coelho há de fazer um bonito governo, por enquanto, todos os mato-grossenses acham-se satisfeitos com a distinta nomeação.” 
Antônio Maria Coelho criou durante a sua gestão, o Partido Republicano Nacional, reunindo políticos do Partido Republicano e do Partido Conservador. Porém, Antônio Maria viria surgir contra o seu governo forças de oposição.
 Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes de Leme Souza Ponce, forças opositoras ao governador, pressionam Antônio Maria, que diante da crise política acabou renunciando. Com a sua renúncia, tomou posse no governo do Estado, Frederico Sólon Sampaio. 
No Rio de Janeiro, depois de promulgada a Constituição de 1891, Deodoro foi eleito indiretamente como previa o texto constitucional como presidente, e como vice-presidente foi eleito Floriano Peixoto. Em Mato Grosso, Sólon Sampaio organizou a Assembléia Constituinte Estadual que elegeu como governador de Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho (Presidente do Estado) e Generoso Paes Leme de Souza Ponce ( Vice- Presidente do Estado).
Governo Constitucional de Deodoro (1891)
O governo de Deodoro foi caracterizado por uma crise política. O Presidente governava desrespeitando a constituição, demitiu os governadores dos Estados de Minas Gerais e de São Paulo e ainda fechou o Congresso Nacional.
As atitudes de Deodoro desagradaram a oligarquia e provocaram fortes reações. No Rio de Janeiro eclodiu a 1ª Revolta da Armada, que tinha como líder Custodio de Melo. Os rebeldes reivindicavam a renúncia de Deodoro. Pressionado pelas forças oposicionistas, Deodoro renunciou.
Em Mato Grosso, Manuel Jose Murtinho e Generoso Paes Leme de Souza Ponce, com a renúncia de Deodoro tiveram o seu poder ameaçado, crescendo contra esse grupo oligárquico uma forte oposição no sul de Mato Grosso.
Governo de Floriano Peixoto (1891-1894)
Com a renúncia de Deodoro tomou posse Floriano Peixoto. Entretanto, a constituição de 1891 previa em seu artigo 42, que se o presidente renunciasse antes de completar dois anos de governo, o vice não podia subir ao poder, e as eleições deveriam ser convocadas. Assim a posse de Floriano Peixoto contrariava a constituição, porém o marechal de ferro tinha o apoio da oligarquia.
Ao tomar posse viu surgir contra o seu governo, oposicionistas que afirmavam que o governo de Floriano era inconstitucional, ilegal.
Em Mato Grosso, essa oposição estava no sul, que promoveu um movimento para derrubar do governo Manuel José´Murtinho. A oligarquia do sul não reconhecia o governo do Estado, instalaram com isso uma Junta Governativa que tinha no comando João da Silva Barbosa, que inclusive tentou instituir no sul o Estado Livre de Mato Grosso ou a República Transatlântica. Os sulistas chegaram a cogitar em pedir ajuda a República do Prata ou até mesmo hipotecar o Estado a Inglaterra para atingir os seus objetivos. Partindo de Corumbá, os opositores vieram para Cuiabá com a intenção de depôr o governo do Estado.
Para aniquilar a oposição e se manterem no poder, Generoso Ponce, a frente de uma força paramilitar denominada “Divisão Floriano Peixoto” conseguiu vencer os opositores e Manuel Jose Murtinho foi novamente recolocado na presidência do Estado. A seguir Generoso Ponce comandando a “Divisão Floriano Peixoto” dirigiu-se ao sul para aniquilar os últimos focos de oposição.
Essa luta pela poder promovidas pelas oligarquias mato-grossense marcou o início da república em Mato Grosso. As camadas populares estiveram à margem destas intrigas políticas, e não puderam participar efetivamente das decisões políticas, portanto, não podiam de fato exercer o direito a cidadania. Tal situação nos reporta a Lima Barreto, queem sua obra “Policarpo Quaresma” demonstrou o comportamento político vigente no período republicano ao afirmar que o “Brasil não tem povo, tem público”. Assim o povo mato-grossense assistiu o desenrolar dos fatos impotentes e perplexos com as lutas políticas travadas pelas oligarquias em disputa pelo poder.
Republica Oligárquica (!894-1930)
 Depois de vencidas as primeiras dificuldades que caracterizaram os primeiros anos da República, os republicanos históricos (civis) passaram a exigir o poder que até aquele momento esteve com os militares. Com a consolidação da república, as eleições diretas são realizadas tomando posse na presidência em 1894, Prudente de Morais. O presidente eleito era civil, paulista e fazendeiro de café, portanto, o seu governo assinala a subida ao poder da oligarquia cafeeira. 
Contudo a força política da oligarquia cafeeira ocorreu principalmente na gestão do presidente Campos Sales, que para sustentar o poder da oligarquia cafeeira construiu importantes estratégias políticas. Dentre os mecanismos políticos construídos por Campos Sales, destacou-se a “política dos Estados”, assim denominado pelos seu idealizador, ou a “política dos governadores”.
A política dos governadores consistia em um acordo entre o presidente da república e os governadores dos Estados, que durante as eleições deveriam apoiar a candidato da oligarquia cafeeira à presidência recebendo em troca favores políticos. Os governadores também apoiavam os candidatos da oligarquia paulista e mineira nas eleições para a formação da bancada dos deputados e senadores, que iriam compor o Congresso Nacional.
Esse mecanismo político acabou fortalecendo em todo o país os coronéis, que através das fraudes, da manipulação dos votos controlavam os votos da sua região. A expressão “coronel’ é originaria da Guarda nacional criada no período regencial para conter as rebeliões que ocorriam pelo país, e que ameaçavam os interesses das elites regionais. Com este titulo, concedido pelo governo imperial, o poder central autorizava os chefes locais para possuir “gente armada” a seus serviços. O título era entregue ao chefe municipal de prestígio e a ele cabia todo o poder decisório ao nível do município:econômico, político, judicial e policial.[footnoteRef:2] [2: Treveisan, Leonardo, A republica Velha, p.24.] 
No período republicano, os coronéis eram geralmente grandes proprietários de terra, detentores de poder econômico, possuíam prestigio social e poder político nas suas localidades. Controlavam os votos da população mais pobre, que viviam sob a sua influência. Exigiam dos seus agregados, da população fidelidade total. Assim nas eleições, os coronéis controlavam currais eleitorais, isto é, um depósito de votos. Muitas vezes para obter os votos, os coronéis recorriam a violência para obrigar a população a votar em seus candidatos. Esse voto dirigido e obtido através da violência ficou conhecido como “voto de cabresto”.
Em Mato Grosso, como já foi mencionado anteriormente, as lutas políticas entre a oligarquia do norte e a oligarquia do sul eram freqüentes. Na verdade, o regime republicano veio consolidar uma situação já existente, ou seja, conflitos pelo poder em nível local e regional. A violência se intensificou com o regime republicano, e com o coronelismo, o banditismo local aumentou consideravelmente. Assim a região mato-grossense passou a ser conhecida como “terra sem lei” aonde a única lei obedecida era o calibre 44.[footnoteRef:3] [3: Correa, Valmir, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso,p.31.] 
A seguir a leitura do quadro abaixo nos dá uma dimensão dos conflitos armados ocorridos em Mato Grosso nos primeiros anos do governo republicano:
	Data /Período
	Local/ Região
	Causa/Objetivo
	Observações
	1891
	Poconé
	Eleições: Adeptos do PRN
	Sob o comando do Cel. Antonio Nunes Cunha, Tem. Salomão ª Ribeiro e Diógenes Benites, um grupo armado tendo à frente uma bandeira vermelha., ocupa a cidade.
	1891
	Campo Grande
	Reação Monarquista
	Grupos armados dispostos a atacar a cidade.
	1891
	Vila de Levergeria: comarca de Miranda
	Contra o governo de Murtinho
	Bando civil e militar sob o comando dos coronéis João de Moraes ribeiro e João Rufino.
	1892
	Corumbá/Outras regiões
	Contra o governo estadual
	São depostos os elementos ligados à administração estadual, inclusive o presidente do Estado. 
	1892
	Cuiabá
	A favor do governo estadual
	O coronel Generoso Ponce comanda o batalhão “Floriano Peixoto” com mais de mil homens
	1892
	Miranda
	A favor do governo estadual
	Os coronéis Augusto Mascarenhas, Manuel Antonio de Barros, José Alves Ribeiro, Estevão Alves Correa e Francisco Alves C armam mais de 200 homens para combater os revolucionários.
	1892
	Nioaque
	A favor do governo estadual
	Bando de mais de 60 paraguaios sob o comando dos irmãos Lopes(armados por coronéis)
	1895
	Nioaque
	Crise no PR
	Invasão da cidade pelo coronel João Mascarenhas.
	1896
	Nioaque
	
	O coronel João Caetano Muzzi, João Rodrigues de Sampaio e Vicente Anastácio invadem a cidade com mais de 150 homens. 
	1896
	Nioaque
	
	Conflito armado entre os coronéis Muzzi e Mascarenhas.
	1896
	Nioaque
	PR
	Coronel Jango Mascarenhas invade a cidade.
	1896
	Ponta Porã
	PR
	Ataque às fazendas sob o comando do cel. João Cláudio Gomes da Silva
Fonte:Correa, Valmir Batista, Coronéis e Bandidos em Mato Grosso, p.33. 
Portanto, os oligarcas com seus bandos armados disputavam a condução política do Estado. Em Mato Grosso, duas grandes oligarquias disputavam o poder; a do norte composta principalmente pelos usineiros, e a do sul formadas pelos grandes pecuaristas, pelos comerciantes, e pelos ervateiros.

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