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ETICA MORAL E TRANSPARENCIA NA GESTAO PUBLICA

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AULA 1 
ÉTICA, MORAL E 
TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO 
PÚBLICA 
Profª Zita Ana Lago Rodrigues 
 
 
2 
TEMA 1 – INTRODUÇÃO 
Objetivando refletir sobre alguns dos conceitos necessários para a vivência 
em sociedade – a vida na pólis –, destacamos os de ética, oral e moralidade para 
que, ao compreender suas funções e distinções conceituais, possamos pensar de 
modo mais aprofundado sobre sua importância na vida cotidiana dos sujeitos e 
das sociedades. 
A fluidez, a complexidade e a diversidade da sociedade contemporânea 
(Baumann, 2001; Morin, 2005; Santos, 2006) exigem que, como membros dela, 
em face das constantes disputas sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, o 
adequado e o inadequado, nos situemos quando se definem comportamentos 
segundo os ditames de uma sociedade democrática, em sua plenitude, 
necessários à ‘vida boa’ ou à busca da eudaimonia aristotélica – ou seja, a 
felicidade e a vida justa (Aristóteles, 1994). 
Portanto, na busca pelo melhor entendimento sobre as funções, objetivos 
e propósitos da organização de uma sociedade democrática, faz-se necessário 
expor conceitos fundantes, que se imbricam e se caracterizam nas diferentes 
formas de organização da sociedade ocidental contemporânea, visando 
compreender o espaço de ação dos sujeitos, entendidos como cidadãos da pólis 
– vida pública. 
TEMA 2 – CONCEITOS DE ÉTICA 
São muitos e diversos os conceitos sobre ética, moral e moralidade que se 
apresentam pela historicidade e flexibilidade deles, que se expressam em acordo 
com as diferentes posições teóricas ou filosóficas de seus autores. Consideramos 
que há pontos convergentes sobre o sentido, os objetivos e as finalidades de cada 
forma de entendimento. 
Trazemos uma síntese de tais conceitos, entendendo-os como básicos e 
fundamentais e que nos levem a refletir sobre a importância e suas diferentes 
formas de aplicabilidade e vivência prática na vida cotidiana dos sujeitos e das 
sociedades. Iniciamos por ética, o qual nos leva à necessidade de maiores 
reflexões a seu respeito suas decorrentes formas de viabilidade e aplicabilidade 
no campo teórico-prático de ação racional humana. 
A ética consiste em um dos grandes campos entre aqueles característicos 
da investigação filosófica. Estuda formas de comportamento dos sujeitos na ótica 
 
 
3 
da moral, dos valores, do justo e do injusto, do bem e do mal, sempre sob um 
cunho reflexivo e crítico sobre os valores e princípios morais vigentes, 
caminhando no sentido de sua superação (Rodrigues, 2016). 
Conforme comentam Japiassú e Marcondes (1990), mediante a 
necessidade de se conceituarem e se estabelecerem campos de ação prática 
para cada uma das formas de comportamento humano no âmbito da ética e da 
moral revela-se que a própria etimologia nos oferece alguns pontos comuns sobre 
ambas. Assim, ética deriva do grego ethos, ethikós, cujo significado se vincula aos 
costumes e aos jeitos de viver de uma sociedade, ou seja, aos seus habitus. 
Por seu lado, a base etimológica da palavra moral provém do latim mos, 
mores, morales, cujo entendimento nos conduz a referenciar também os 
costumes, as normas de conduta, os jeitos de viver e os valores de um grupo 
social, de uma sociedade ou uma cultura, ou seja, aos seus habitus. 
Porém, apesar do sentido etimológico idêntico, há sentidos práticos que 
necessitam ser esclarecidos, como segue: 
 A Ética consiste em agir em acordo com um conjunto de valores e princípios 
morais que possibilitam nortear a conduta humana em determinada 
sociedade. 
 A Ética, por seu cunho reflexivo, serve para que haja um equilíbrio e um 
adequado funcionamento social, possibilitando que todos os componentes 
de dado grupo social sejam contemplados de forma equânime, sem 
privilegiamentos ou exclusões seletivas. 
Em outras palavras, ser ético nada mais é do que estar em acordo com as 
regras morais estabelecidas como legítimas e válidas naquele período histórico 
ou naquela cultura. Essas regras morais são os fatores balizadores para o grupo 
social que as adota, com vistas a que todos os membros procedam de tal forma 
que nenhum seja favorecido ou prejudicado quando da ação comum. 
Portanto, ser ético é agir de forma justa, correta e adequada, sem prejudicar 
os outros membros daquele grupo social. Em situações específicas, ser ético pode 
ser considerado quando o sujeito busca atender a interesses de grupos 
determinados que explicitam seus valores, suas normas e seus princípios morais 
e os têm como apropriados aos determinantes dessa sociedade ou grupo social, 
adequando-os sempre que ocorram mudanças no contexto social, cultural, político 
e econômico. Revelam-se assim dois aspectos determinantes da condição ética 
 
 
4 
de uma sociedade: sua historicidade e sua condição reflexiva e compreensiva 
sobre as práticas morais vigentes naquele tempo histórico. 
Em Cotrim (1989), encontramos a definição de que a ética consiste em uma 
parte dos saberes filosóficos que busca refletir sobre o comportamento humano 
sob o ponto de vista das noções do bem e do mal, do justo e do injusto. Já 
Vázquez (1995, p. 12) considera trata-se da “teoria ou ciência do comportamento 
moral dos homens em sociedade”. Portanto, segundo reforça esse autor, temos 
que a ética é uma ciência que trata de formas específicas dos comportamentos 
humanos, ou seja, ela se caracteriza por ser uma “[...] ciência da moral, isto é, de 
uma esfera específica do comportamento humano. Não se deve confundir a teoria 
com seu objeto: o mundo moral” (Vázquez, 1995, p. 12). 
Vázquez (1995, p. 11) chama a atenção para o fato de que a ética é 
eminentemente teórica e reflexiva, consistindo em formas de explicar ou investigar 
determinado tipo de experiência efetivado pelos homens em seu contexto 
sociocultural e deverá ser considerado em sua totalidade. Sendo teórica, não é 
normativa ou pragmática, diz Vázquez (1995), e seu valor está naquilo que pode 
explicar sobre os comportamentos humanos – jamais em prescrever, normatizar 
ou recomendar. 
O que caracteriza a ética se refere à natureza ou aos fundamentos das 
normas morais vigentes em dada sociedade ou grupo social ou profissional, 
cabendo-lhe analisar, estudar e refletir sobre sua legitimidade, validade e 
pertinência. Assim, se revelam suas características teóricas e históricas, o que a 
refere como uma forma de explicar esses comportamentos morais e as suas 
práticas à luz dos determinantes normativos da moral vigente naquela sociedade 
ou grupo social em seu espaços-tempos históricos, referendando a moral vigente. 
A condição histórica da ética e também da moral e da moralidade permite 
que a humanidade anteveja a pluralidade das morais vigentes em seu desenrolar 
factual e prático e reflita sobre ela. Porém, como ciência reflexiva e teoricamente 
situada, cabe-lhe tomar essas reflexões sobre a pluralidade e a diversidade de 
valores, princípios e normas morais vigentes neste ou naqueles períodos 
históricos, no sentido de buscar seus fundamentos e estabelecer reflexões 
pertinentes acerca de suas prováveis evoluções e/ou involuções. 
Não lhe cabe estabelecer vínculos com qualquer das morais vigentes e/ou 
existentes, nem mesmo atitude de indiferença sobre as práticas morais vigentes; 
entretanto, é pertinente a ela observar e explicitar os princípios que levam às idas 
 
 
5 
e vindas históricas, aos avanços e aos retrocessos que se descortinam por meio 
das relações que se caracterizam nos desempenhos e desenvolvimentos de 
diferentes sociedades, grupos sociais ou profissionais que as adotam e as 
legitimam. Vale lembrar, segundo Vázquez (1995, p. 11), que: 
Não lhe cabe formular juízos de valor [éticos] sobre a prática moral de 
outras sociedades, ou de outras épocas, em nome de uma moral 
absoluta e universal, mas deve antes, explicar a razão de ser desta 
pluralidade e das mudanças de moral; isto é, deve esclarecer o fato de 
os homens terem recorridoa práticas morais diferentes e até opostas. 
Sintetizando essa tentativa de explicitar conceitualmente no que consiste a 
ética, voltamos a referir Vázquez (1995, p. 12): “A ética estuda uma forma de 
comportamento humano que os homens julgam valioso e além disto, obrigatório 
e inescapável”. 
Cabe-lhe, pois, buscar reflexiva e racionalmente compreensões mais 
amplas do que as meras observações cotidianas sobre as ações humanas e sobre 
seus fundamentos valorantes, seus princípios e normas morais que se revelam 
nas práticas da moralidade vigente, por meio das quais um grupo social, uma 
instância profissional ou determinada sociedade se estabelecem, norteando até 
mesmo suas instituições, organizações e empresas públicas ou privadas. 
Apesar de algumas doutrinas éticas clássicas pretenderem dizer ao homem 
o que deve fazer para alcançar o bem, o bom, o justo, o correto, ditando-lhe 
normas ou princípios que pautem seu comportamento, as valorações morais, bem 
como as reflexões éticas referentes ao conhecimento que temos hoje sobre o 
bem, são relativas (entendidas apenas como antônimo de absolutas). O ético, o 
moral, o legal são conceitos históricos, portanto mutáveis. O agir do grupo social 
segue sempre seu modo de conhe(ser) – (conhecer o ser). 
Novas exigências existenciais sempre se apresentarão, e faz-se mister que 
uma sociedade e/ou um grupo social ou profissional se reestruturem, refaçam 
periodicamente seu conjunto de diretrizes e determinações valorantes para que a 
moral, a lei e a ética não se tornem inúteis ou insuficientes, desgastadas pelo 
tempo ou pelo uso indevido de suas normatizações. 
A ética é, portanto, uma ciência reflexiva que tem por objeto refletir sobre 
os princípios e as normas morais. Não raro, também reflete acerca das normativas 
da lei e da ordem legal – como referenciais legais sobre e das ações humanas – 
e pretende aprimorar as “atividades realizadoras de si” desenvolvidas pelos 
 
 
6 
sujeitos de uma sociedade determinada na constante busca do excelente, do bom, 
do justo, do adequado. 
Nesse sentido, a ética não deverá impor moral ou leis, mas, sempre que 
necessário e possível, compete-lhe propor rumos possíveis para a reflexão, o 
desenvolvimento e o aperfeiçoamento da vida em sociedade, a qual requer a 
existência de ambas. 
Contudo, a ética tem sido utilizada como fundamento e como justificativa 
para comportamentos morais desejados como úteis ou convenientes. Isso é feito 
por muitos em seus discursos ou ações, mesmo por quem não sabe precisamente 
do que fala. Conforme define Rodrigues (2008, p. 46): “Assim, a ética traz a 
proposta de que as instituições e a sociedade realizem um trabalho que possibilite 
aos sujeitos o desenvolvimento da ‘autonomia moral’ como condição essencial 
para a reflexão ética”. A autora também comenta que: 
A ética consiste em uma reflexão teórica sobre aspectos da vida prática 
dos homens em sociedade; é um olhar filosófico sobre o agir humano 
sob os pontos de vista do Bem e do Justo; [...] a reflexão ético-filosófica 
aponta para a presença dos valores na ação humana; tais valores são 
construções socio-históricas, ou seja em constante mutação e busca de 
aprimoramento.; [...] está presente em todas as práticas sociais; nas 
ações humanas, que não são neutras e nem impermeáveis a valores e 
significados; e no fato de que são os sujeitos que realizam essas práticas 
e que estes sujeitos são sujeitos reais e historicamente situados. 
(Rodrigues, 2008, p. 8) 
TEMA 3 – CONCEITOS DE MORAL 
Conforme já explicitado, são muitos e diversos os conceitos sobre ética, 
moral e moralidade, porém, diferentemente da opinião pessoal de teóricos ou 
filósofos, há pontos em comum em relação a seus objetos, objetivos, finalidades 
e práticas que as efetivam. Segundo conceitua Vázquez (1995, p. 14), sendo 
objeto da reflexão ética os atos humanos conscientes, voluntária e livremente 
definidos e que afetam seus semelhantes de alguma forma, as prescrições e 
normativas morais se expressam ou pelos hábitos ou pelos costumes – ethos/ 
mores – e se legitimam quando aquela sociedade ou grupo social e profissional 
os adotam e deles se servem para definir seus jeitos de viver e que, nem sempre, 
são definidos de forma natural. 
Esses jeitos de viver se expressam também como formas de saber e de 
poder, que se estabelecem como determinantes e deverão ser seguidos por todos 
os demais componentes dessa sociedade e/ou grupos de indivíduos objetivando 
a convivência harmônica. São considerados determinantes para estabelecer os 
 
 
7 
comportamentos legítimos e válidos para os demais sujeitos que vivem nesse 
mesmo contexto socio-histórico. 
Se etimologicamente o significado dos termos ética e moral é similar –
referindo-se aos costumes, jeitos de ser e de viver, ou seja, ao ethos de 
determinado grupo social –, resta referir que ambos os conceitos se situam no 
terreno humano, simplesmente humano e se fundamentam nos âmbitos 
valorantes da ação humana, ou seja, no âmbito do comportamento moral. Esse 
âmbito se desvela no terreno da ação ante os demais membros do grupo que 
pode ser adquirida ou conquistada pelos homens, que assim agem sobre sua 
própria condição natural e que, por estabelecerem essas normativas e reflexões, 
criam uma segunda natureza, sua natureza social, âmbitos mais ampliados nos 
quais decorrem as referidas ações. 
Portanto, é na criação dessa segunda natureza que os sujeitos 
estabelecem as condições normativas e valorantes para que se efetivem as 
relações sociais, econômicas, políticas e institucionais. Estas se apresentam 
permeadas por condições morais, nas quais se definem os valores, princípios e 
normas que valem para aquela sociedade ou para aquele grupo social ou 
profissional. 
A moral, portanto, consiste em um conjunto de regras de conduta adotadas 
pelos membros de uma sociedade ou de um grupo social ou profissional e tem a 
finalidade de organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do 
mal, do justo e adequado, do legítimo e válido. Ela se constitui em um rol de 
valores que, em sua dimensão prática, se vincula aos atos e às ações humanas 
sob o prisma do bom, do justo, do adequado que adquirem validade e legitimidade 
em uma cultura, sociedade ou grupo social. 
Sendo assim, conforme afirmam Japiassú e Marcondes (1990), a moral 
representa um conjunto de princípios, normas e imperativos ou ideias morais de 
uma época, de uma sociedade ou de uma cultura determinada. Isso, por si só, 
define sua historicidade e flexibilidade, em acordo com os imperativos de 
comportamento de cada período histórico. 
Das práticas efetivas da moral, como determinante e normativa, resultam 
as reflexões éticas no e sobre o cotidiano vivencial dos sujeitos; ou seja, essas 
determinações normativas da moral exigem que se efetivem considerações 
reflexivas sobre sua legitimidade, humanidade e adequabilidade nas e sobre as 
vivências dos sujeitos daquela sociedade, cultura ou grupo social, em qualquer 
 
 
8 
que seja o campo de sua atuação na vida social, política, cultural, econômica e 
organizacional. 
Conforme salienta Vázquez (1995), essas condições já revelam a 
historicidade tanto da moral quanto da ética, pois ambas se revelam em acordo 
com as condições de desenvolvimento e os valores e princípios que têm validade 
nesse contexto social. 
É deveras relevante definir que os agentes morais – os homens de 
determinada sociedade, grupo social ou profissional – são sujeitos concretos que 
fazem parte efetiva dessa mesma sociedade. Não são exógenos, mas situados 
historicamente e, nessa situação, são os autores das próprias determinações 
socioculturais e políticas, pois o âmbito moral não é algo abstrato, mas sim 
concreto e faz parte específica da situação desse mesmo grupo e somente pode 
ser considerado em suas relações práticas com os demais sujeitos que nesse 
mesmo grupo atuam e convivem.Reforçando as premissas apresentadas, buscamos em Vázquez (1995, p. 
20) a consideração de que: 
O sujeito do comportamento moral é o indivíduo concreto, mas sendo 
um ser social e, independentemente do grau de consciência que tenha 
disto, parte de determinada estrutura social e inserido numa rede de 
relações sociais, o seu modo de comportar-se moralmente não pode ter 
um caráter puramente individual, e sim social. Os indivíduos nascem 
numa determinada sociedade, na qual vigora uma moral efetiva que não 
é a invenção de cada um em particular, mas que cada um encontra como 
dado objetivo, social. 
Considerações sobre essa historicidade aparecem em diversos autores 
que tratam do tema, porém entendemos que, como as sociedades se sucedem 
umas às outras em condições de evolução e desenvolvimentos, também os 
fundamentos valorantes e as determinações normativas morais se substituem 
umas às outras, conforme afirma o autor em tela. Assim, podemos discernir que 
a moral e a ética se constituem sobre arcabouços historicamente situados, 
mutáveis e em processo. Reforçando as premissas de Vázquez (1995, p. 25), 
citamos: “Portanto, a moral é um fato histórico, e, por conseguinte, a ética, como 
ciência da moral, não pode concebê-la como dada de uma vez para sempre, mas 
tem que considerá-la como um aspecto da realidade humana mutável com o 
tempo.” 
Isso significa sustentar que, tanto no âmbito da prática quanto no âmbito 
das ideias e das necessárias reflexões sobre elas, a humanidade tem buscado 
situar-se na condição da teckné (o fazer), na qual os artefatos – produtos da mão 
 
 
9 
humana – se embasam em fatores estabelecidos pelos mentefatos, ou pela 
poiésis – produtos da reflexão, da capacidade da mente e da consciência – e que 
buscam atender às necessidades da vida coletiva e da vida individual. Porém, é 
na vida coletiva que as dinâmicas morais – os valores, princípios e normas morais 
– se estabelecem; na vida individual, seus reflexos são sentidos diretamente. 
Sintetizando, temos que o âmbito individual tem sido historicamente 
absorvido pelos âmbitos sociais, culturais e políticos, e as instituições e as 
organizações – sejam públicas, sejam privadas – são a expressão prática dessa 
dimensão coletiva. Nessas instituições, organizações ou sociedades os homens 
agem, criam, refletem, determinam, sustentam, modificam e se modificam; nelas, 
os âmbitos políticos se expressam em valorações, determinações mais amplas e 
normativas legais – leis que se determinam e determinam as relações e as 
consequentes dimensões de poder que organizam as regras das relações 
produtivas – e é nelas que as valorações ético-morais se sustentam e legitimam. 
Portanto, não é possível entender um constructo ético-moral no âmbito 
absolutamente individual. É no âmbito da dimensão coletiva que se apresentam 
as limitações de cada um, os limites da moral, o coletivo absorve o individual, o 
que empobrece e desresponsabiliza cada um dos sujeitos – aqui entendidos como 
cidadãos da pólis. Podemos afirmar que isso revela uma dimensão moral pouco 
desenvolvida, cujas normas e princípios são aceitos pela força do costume e da 
tradição ou pelo poder da força ou das influências exógenas (mídias, pobreza 
política, falta de educação, ignorância e outros fatores que se impõem). 
O enunciado de Vázquez (1995, p. 30) é elucidativo ao considerar que: “Os 
elementos de uma moral mais elevada, baseada na responsabilidade pessoal, 
somente poderão evidenciar-se quando forem criadas as condições sociais para 
um novo tipo de relação entre o indivíduo e a comunidade” – e essas condições 
deverão ser eticamente situadas. 
TEMA 4 – CONCEITOS DE MORALIDADE 
Com relação às conceituações já apresentadas sobre ética e moral, exige-
se que se definam as características conceituais de moralidade, a qual se revela 
por meio daquilo que se relaciona com as condições reflexivas da ética e 
normativa da moral. 
A moralidade se expressa nos âmbitos factuais da vida prática e pelos 
modos de agir dos sujeitos em relação ao que estabelecem os princípios e valores 
 
 
10 
morais de sua sociedade e seus grupos sociais e políticos, definindo-se mediante 
as formas com que se vivenciam esses valores no cotidiano. 
Podemos afirmar que ambas, a ética e a moral, têm sua expressão prática 
no campo factual, da vida real em determinada sociedade, evidenciando assim a 
forma de vivenciar a moralidade no cotidiano dos grupos sociais dessa mesma 
época ou cultura. 
Conforme Vázquez (1995), a moralidade consiste no conjunto de relações 
efetivas ou atos concretos que adquirem um significado moral, com respeito à 
moral vigente naquela sociedade. Portanto, pode ser entendida como a qualidade 
de um indivíduo ou de um ato, considerado quanto à sua relação com os princípios 
e os valores morais vigentes em sua sociedade, cultura ou grupo social. 
A moralidade é o campo vivencial das normas e dos princípios morais no 
qual, segundo Rodrigues (2016), podem ocorrer tanto o cinismo quanto o 
moralismo ético, pontos extremos da vida moral. Entende-se que nenhum deles 
seja adequado, por se constituírem em aspectos fundamentalistas e 
deterministas, expressando radicalismos, reducionismos e determinações 
estreitas que não possibilitam a ação dialogal necessária a uma vida justa e 
equânime entre os sujeitos, ou seja, da vivência da eticidade1. 
Temos presente que a ética se volta para detectar os fundamentos dos 
princípios que definem a vida dos sujeitos e das sociedades e que devem ser 
direcionados para a sabedoria prudencial e a felicidade coletiva ao refletir sobre 
sua legitimidade e validade. A moral, por sua vez, se preocupa com os constructos 
normativos sobre o conjunto dos princípios e valores que se destinam a assegurar 
a vida dos sujeitos nessa mesma sociedade. Nesse sentido, buscamos em 
Rodrigues (2008, p. 12), a consideração de que “a moralidade seria então o campo 
prático e factual, no qual tais normas e prescrições normativas decorrem em sua 
expressão prática cotidiana”. 
Portanto, o tema da moralidade se relaciona diretamente aos princípios 
organizativos da práxis social, cultural e econômica. Na sociedade hodierna, com 
sua complexa teia de relações e com sua diversidade organizativa e produtiva, 
 
1 Eticidade é um termo de origem grega que define a qualidade daquilo que é ético e moral. Deve 
ser entendido como princípio que fundamenta valores universalmente situados e comportamentos 
aceitáveis em uma sociedade ou em determinado grupo social. Está vinculado de forma intrínseca 
aos conceitos de ética e moralidade, e quando um sujeito age em acordo com os princípios morais 
vigentes, diz-se que está se expressando em sua eticidade. 
 
 
 
 
11 
bem como com a diversidade de inter-relações e dinâmicas da vida política, em 
que princípios são estabelecidos em normativas legais – nem sempre morais ou 
eticamente situadas –, desvelam-se interesses sobre os quais cabem profundas 
reflexões e a necessidade de entender suas determinações no âmbito da 
moralidade pública. 
As premissas dessa condição da moralidade pública se destinam aos 
coletivos da sociedade, porém suas práticas são efetivadas por sujeitos 
individuais – gestores e servidores públicos –, os quais, em suas ações, deveriam 
primar pelo atendimento aos interesses e demandas coletivamente expressadas 
pela vontade de uma sociedade ou de um grupo social e profissional. 
Assim, a moralidade administrativa estaria a serviço do estabelecimento de 
uma maior eticidade e da superação das condições duais entre os sujeitos que, 
desde as mais primitivas e antigas organizações sociais, se estabeleceram como 
normais e sustentadas por tradições e costumes. Essa dualidade se desvela 
também ao antever que essas duas morais – a dos escravos e a dos homens 
livres, a dos senhores feudais e a dos servos, a dos reis ea dos súditos – ainda 
se fazem presentes em âmbitos mais recentes da organização política e produtiva 
– a moral dos senhores e a dos trabalhadores, a dos governantes e a dos 
governados. Cada uma delas define relações que correspondem à moral 
dominante e à moral dependente, à moral do capital e à moral dos trabalhadores. 
Trata-se de características que definem a dualidade da moralidade vigente 
ainda hoje e que expressam tal dualidade estrutural a partir da moralidade vigente, 
em práticas que separam o mundo da ação de cada um, ou seja, da capacidade 
produtiva do sujeito, em sua individualidade e da vida em sociedade, que se 
expressa nos coletivos da representatividade política, em sociedades 
democraticamente estruturadas. 
A moralidade é, portanto, um campo de conflitos e contradições. Nela, 
situam-se as ações dos sujeitos em sua individualidade, por meio da qual são 
praticados valores e princípios morais vigentes e as ações do âmbito público, no 
qual situa-se a “arena societária”. Ali, se abrem espaços para a inserção e a 
integração de novos atores, olhares e práticas que expressam valores coletivos. 
 
 
 
12 
TEMA 5 – DISTINÇÕES PERTINENTES E IMPLICAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DA 
SOCIEDADE 
Sendo assim, pode-se deduzir e sintetizar que: 
A Ética é uma espécie de Filosofia da Moral, pois se constitui em uma 
dimensão reflexiva sobre a Moral; vem depois da Moral e preocupa-se 
em refletir sobre a legitimidade, pertinência e adequação das normas e 
das prescrições que se destinam a assegurar uma vida harmônica e 
justa para aquela sociedade ou grupo social. (Rodrigues, 2016) 
Conforme propõe Vázquez (1995), o ético em sua essência é algo 
problemático, pois mexe com a subjetividade humana, com conceitos, com 
posturas, com princípios e valores dos sujeitos em determinada sociedade e em 
determinado contexto socio-histórico. 
Distinguindo-se ética e moral, conforme assinala Rodrigues (2016), 
podemos dizer que a reflexão e o debate ético se referem à legitimidade e à 
validade das normas e proposições morais que fundamentam o discurso e as 
ações humanas em determinado espaço-tempo histórico. A questão da moral 
cuida da normatização das necessidades, ou pseudonecessidades, que levam os 
sujeitos ou os grupos humanos a agirem dessa ou daquela maneira em dados 
espaços-tempos, considerando-os “como o modo correto de agir”. 
Portanto, a reflexão ética se situa numa vertente que não é a mesma das 
prescrições e normas morais. O engajamento ético daí decorrente pode fazer com 
que os sujeitos transgridam tais prescrições e normatizações morais, 
distanciando-se do que “é”, no sentido de propor aquilo que entendem possa “vir-
a-ser” (Rodrigues, 2016). 
Podemos, então, considerar que desse engajamento ético vêm decorrendo 
profundas modificações e transformações socioculturais nas formas de 
organização e nas ações práticas das sociedades e dos povos, as quais podem 
ser evolutivas ou mesmo demonstrar involuções e retrocessos em seu 
desenvolvimento. 
Os tempos contemporâneos nos quais a dimensão coletiva, ou seja, o 
campo político se sobrepõe aos interesses individuais, caracterizam situações 
conflituosas que requerem profundas reflexões éticas. Isso porque surgem daí 
aspectos mais amplos do que os meramente conceituais. 
Essa complexidade e fluidez dos tempos atuais têm em estudiosos como 
Baumann (2001), Morin (2005) e Santos (2006) sínteses que refletem as 
 
 
13 
condições contraditórias e factuais que levantam debates sobre a aplicabilidade 
de princípios morais mais condizentes com sociedades democráticas, com 
definições mais amplas sobre as relações pessoais (dimensão individual) e 
coletivas (dimensão política) e suas respectivas consequências na moralidade da 
sociedade. 
A sociedade contemporânea, com suas contradições e paradoxais formas 
de agir, situa-se ante esses aspectos transformadores, com mudanças 
paradigmáticas relevantes, em que ocorrem engajamentos éticos de diferentes 
ordens e naturezas. Nessas condições de mudanças e transformações 
paradigmáticas, estão diferentes aspectos e práticas da gestão organizacional e, 
de modo especial, da gestão pública. Isso, nas sociedades ocidentais, tem exigido 
de seus envolvidos ações com maior transparência e eticidade, em conformidade 
com ditames de sociedades democráticas. 
A aplicabilidade da ética serve como diferencial para que haja um equilíbrio 
e adequado funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado 
(ética). Em outras palavras: que, por meio de ações éticas, do ser ético, se 
definam as ações em conformidade com o conjunto de valores e princípios morais 
(moral) e com respeito aos determinantes legais que exigem que as ações 
práticas e as vivências cotidianas de todos e de cada um dos cidadãos envolvidos 
em uma mesma pólis ocorram em prol do bem comum. E ainda: que tais vivências 
sejam organizadas, transparentes, ética e moralmente validas e legitimadas pelos 
seus aspectos normativos e de cunho amplo e comum (moralidade). 
Apresentar a ética e os princípios morais como fatores fundamentais para 
a vivência de uma moralidade que possibilite a transparência e a eficácia da 
gestão pública, como diferenciais necessários ao sucesso da ação do gestor 
público, como fator de relevância na sociedade contemporânea, na qual se vive a 
constante contradição entre o certo e o errado, o justo e o injusto, o adequado e 
inadequado, o correto e o incorreto, como fatos do cotidiano da vida pública – a 
vida na pólis! 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1994. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
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WEIL, P. A nova ética – na política, na empresa, na religião, na ciência, na vida 
privada e em todas as outras instâncias. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993. 
 
AULA 2 
ÉTICA, MORAL E TRANSPARÊNCIA 
NA GESTÃO PÚBLICA
Prof.ª Zita Ana Lago Rodrigues 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O desenvolvimento histórico da ética, da moral e da moralidade e o 
progresso moral da sociedade e sua aplicabilidade no âmbito da vida 
pública – a pólis 
Nesta aula, apresentaremos o desenvolvimento histórico da questão da 
Ética, da Moral e da Moralidade na sociedade ocidental, tendo por base seu 
Progresso Moral. Além disso, descreveremos os conceitos e as características do 
progresso moral e do progresso histórico-social, em face da organização da 
sociedade democrática e da vida na pólis. 
TEMA 1 – O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ÉTICA, DA MORAL E DA 
MORALIDADE 
A importância e a valorização dos aspectos éticos e da vivência dos 
princípios morais de uma sociedade podem ser avaliadas à medida que essa 
mesma sociedade alcança avanços, analisa seus desdobramentos e avalia o 
aumento de suas possibilidades de vivenciar práticas e ações em liberdade e 
responsabilidade sobre a importância do exercício da vida democrática. 
Assim se revelam as condições da moralidade que demonstram as 
condições de vivências práticas dos princípios morais de uma sociedade,quando 
seus componentes se engajam no sentido de estabelecer a veracidade e a 
legitimidade desses mesmos princípios. 
Conforme Rodrigues (2016), o engajamento ético pode levar os homens a 
se opor aos hábitos originais e aos discursos legitimadores, entendidos como 
justos e válidos pela tradição, no sentido de adquirir novas formas de agir, de 
pensar possibilidades e de aprimorar-se como sujeito humano, ser social e 
político, mutável e transformador de si e de seu ambiente. 
Rodrigues (2016) cita Aristóteles, que em seu livro Ética a Nicômaco (livro 
II, capítulo primeiro, 1994) diz que nenhuma das virtudes do homem surge 
naturalmente, pois estes estão sempre predispostos a adquiri-las, com a condição 
de aperfeiçoá-las pelo aprimoramento dos hábitos e costumes e pelas ações da 
vida prática. Em Aristóteles (1994), o ethos é uma espécie de ciência do caráter, 
podendo-se nele conjugar a criação e o desenvolvimento de hábitos, na ordem 
particular, que convergem e aprimoram a convivência social, na ordem universal. 
 
 
3 
Nos contextos sociais, existem alguns valores considerados universais, os 
quais cumprem funções fundamentais nos contextos social e cultural e, apesar 
das suas diferentes e variadas expressões das sociedades e das culturas, diz 
Rodrigues (2016), alguns desses valores – tais como dignidade, respeito mútuo, 
solidariedade, diálogo e justiça – são quase inerentes ao caráter humano e ao 
bom entendimento daquilo que se expressa nos jeitos de ser e de viver de cada 
um e de cada grupo social, ou seja, no seu ethos. 
São valores inerentes às ações reais e espontâneas de cada um de seus 
componentes e se revelam em seus juízos e expressões conceituais ou teóricas, 
para possibilitar a verdadeira com+vivência, ou seja, o estar com o outro, como se 
está consigo mesmo, em perfeita harmonia, atingindo assim a chamada 
eudaimonia aristotélica, ou seja, a felicidade entendida como fim último da vida 
humana. 
Portanto, é histórica a condição de aquisição e desenvolvimento da 
consciência ética que, em sua condição reflexiva passa a substituir perspectivas 
determinantes da ação moral entendida como fabricadora da norma e como 
definidora de hábitos e, então, se estabelecem relações e inter-relações entre os 
sujeitos, permitindo a eles analisar a validade e a legitimidade dessas normas e 
desses hábitos e princípios que constituem assim a moral vigente estabelecida 
pela tradição e pelos costumes. 
Podemos então entender que o sujeito ético é aquele capaz de entender e 
refletir sobre a concretude de sua existência, ou seja, sobre o seu existir consigo 
e com o outro, canalizando suas ações de forma equilibrada e justa, livre e 
consciente e, por sua capacidade de discernimento, procure agir de tal sorte que 
a vida em sociedade seja mais equilibrada e justa, melhorando-a para si e para 
aqueles com os quais convive. Este princípio ético-moral é a base para que a vida 
em sociedade – na pólis – seja efetivada, em suas constantes mudanças, com a 
presença de proposições construentes. 
A diversidade e modificabilidade dos hábitos, dos costumes e das ações 
humanas, individualmente ou em seus grupos de convivência, nos permite 
entender que não são apenas estes que se modificam, mas modificam-se os 
valores que lhe dão sustentação e, com isso, modificam-se os jeitos de viver – o 
ethós do grupo e/ou daquela sociedade. 
Diz Rodrigues (2016) que assim estariam bem delimitados os espaços de 
atuação da ética, da moral e da moralidade, enquanto teoricamente explicitados 
e praticamente exercidos, os quais devem sempre voltar-se para a vida boa, ou 
 
 
4 
seja, a vida justa e equilibrada, que tanto mais o será quanto mais seja possível 
refletir sobre sua historicidade, legitimidade e adequação aos períodos históricos 
vivenciados. 
TEMA 2 – O PROGRESSO MORAL 
Iniciaremos este tema parafraseando Vázquez (1995) ao destacar a 
relevância daqueles princípios que caracterizam os avanços e o progresso moral 
em uma sociedade, sendo que este poderá ser mensurado por meio de três 
aspectos a serem analisados em profundidade, sendo eles: 
1) Ampliação da esfera moral na vida social – quando essa ampliação é 
revelada pela forma como se definem e se expressam as relações entre os 
indivíduos que antes seriam reguladas por normas externas à moral, ente 
elas as normas legais e as normas do direito, entre outras. 
2) Elevação do caráter livre e consciente e o crescimento das 
responsabilidades individuais e coletivas – quando esse caráter livre e 
consciente leva os indivíduos a assumirem abertamente suas 
responsabilizações pertinentes aos diferentes aspectos da vida em 
sociedade, pois disso decorre que quanto mais forem ofertadas aos seus 
membros diversificadas condições para que assumam suas 
responsabilidades pessoais e coletivas, mais rica será moralmente essa 
sociedade e mais desenvolvidas serão as possibilidades de 
desenvolvimento de personalidades livres. 
3) Grau de articulação e de coordenação entre os interesses de cunho coletivo 
e os interesses de cunho pessoal – se considerarmos que nas sociedades 
mais primitivas predominavam premissas de uma moral coletivista, na qual 
se absorviam, de alguma forma, os interesses pessoais e se sobrepunham 
aos interesses da comunidade, temos que nas sociedades mais atuais, 
modernas e contemporâneas, uma inversão dessas premissas e os 
interesses pessoais se afirmam com mais vigor, revelando avanços na 
moral vigente. Porém, nessa evolução moral que se atingiu nos tempos 
atuais, o que a sustenta é uma capacidade de articulação entre os dois 
âmbitos, ou seja, que se harmonizem e se sustentem princípios de 
equidade e justiça social, na qual sejam possíveis o desenvolvimento 
individual e o crescimento dos interesses da comunidade em crescentes 
articulações e inter-relações construentes. 
 
 
5 
Assim, segundo Vázquez (1995), é possível mensurar a elevação do índice 
do progresso moral de uma sociedade ao exigir que esta possibilite e exercite: 
 A superação tanto do coletivismo primitivo como do individualismo e uma 
adequada harmonização entre os interesses do âmbito comunitário, 
complexo e diverso. 
 A compreensão efetiva de que essa elevação – como movimento 
ascensional dialético de negação e afirmação, negação e conservação de 
elementos morais anteriores – tem raízes na possibilidade de mudanças e 
sucessão dos valores e princípios que se definem e sucedem em 
determinadas formações sociais. 
Portanto, é relevante que o desenvolvimento histórico da ética e da moral 
seja estudado e que, sendo a ética uma ciência de cunho reflexivo, ela se 
apresente com a finalidade de refletir sobre a pertinência e a legitimidade dos 
princípios e valores morais que embasam uma determinada sociedade ou grupo 
social. 
Essas reflexões devem ocorrer com base nos desdobramentos 
significativos sobre os princípios da moral vigente em cada período histórico e de 
seus vínculos com os avanços histórico-sociais de cada sociedade. Tais 
articulações são e serão conflituosas e, não raro, contraditórias, sendo 
eminentemente dialéticas em movimentos ascendentes de afirmação e negação 
dos princípios anteriores e presentes com suas determinações notáveis que se 
articulam e se sucedem dialeticamente situadas. 
Rodrigues (2008) considera que, ao serem analisadas as condições do 
progresso moral de uma sociedade, devemos sempre considerar alguns 
elementos fundantes, entre eles que esse progresso se sustenta pela: 
 Negação ou afirmação radical de determinados valores. 
 Conservação dialítica, portanto, mutável, de alguns outros valores. 
 Incorporação de novos valores e o que implica em ampliação das 
exigências para novas virtudes morais. 
O progresso moral sempre tem origens nas mudanças de determinadas 
formações e condições produtivas, culturais e sociopolíticas, bem como na 
estruturação e adoção de novas formas de estruturaçãosocial, por exemplo, das 
condições primitivistas e lineares das sociedades antigas às condições complexas 
das atuais sociedades tecnológicas e sofisticadas em suas formas de estruturação 
notável. 
 
 
6 
TEMA 3 – CARÁTER HISTÓRICO E SOCIAL DA MORAL 
Neste tema estudaremos o caráter histórico da moral, sendo esta de cunho 
histórico e cambiante, em sua historicidade e, consequentemente a ética, que se 
refere aos valores que embasam os modos de se comportar dos homens – 
individual e coletivamente em seus grupos sociais – e, de acordo com Vázquez 
(1995), a autoprodução material e espiritual de um grupo social em seus tempos 
e espaços situacionais. 
Esse reconhecimento sobre a historicidade da moral e da ética levanta 
alguns problemas, segundo propõe Vázquez (1995). Entre eles, o da definição de 
suas fontes, causas ou fatores, que determinam as mudanças de valores e 
princípios, além do problema de seu sentido ou direção, que revela a importância 
de se estabelecer relações sobre a procura por essas origens ou fontes. 
Conforme Vázquez (1995), são três as chamadas concepções a-históricas 
dessa procura: 
 Deus como origem ou fonte da moral. 
 A natureza (o trabalho) como origem ou fonte da moral. 
 O homem como origem ou fonte da moral. 
Seja qual for a fonte e a origem da moral, ela possui em sua essência a 
condição social, pois segundo Vázquez (1995), ela somente se manifesta em 
dimensões sociais quando cumpre uma determinada função, isto é, quando 
determina os valores e princípios para a ação humana em sociedade e quando 
responde de alguma forma às necessidades e demandas dessa mesma 
sociedade com relação aos valores que a legitimam. 
Vale lembrar que essas demandas sempre são apresentadas por sujeitos 
concretos e essa mesma sociedade é valorada concretamente por meio das 
ações desses sujeitos, nas quais se expressam factualmente os âmbitos da 
moralidade vigente. 
Vázquez (1995, p.55) também afirma que a função social da moral é 
definida quando, de modo consciente e livre, sem recursos de força ou coerção 
física, os sujeitos acatam os valores da ordem social estabelecida e, por 
convicções pessoais e adesão íntima, se convencem e aceitam também os fins, 
princípios e valores que consolidam os interesses dessa mesma sociedade ou 
cultura. 
Ainda que a moral mude historicamente, e uma mesma norma moral 
possa apresentar um conteúdo diferente em diferentes contextos 
 
 
7 
sociais, a função social da moral em seu conjunto ou de uma norma 
particular é a mesma: regular as ações dos indivíduos nas suas relações 
mútuas, ou as do indivíduo com a comunidade, visando a preservar a 
sociedade no seu conjunto ou, no seio dela, a integridade de um grupo 
social. 
Nesse devir de dimensões históricas, tanto a evolução ou involução dos 
princípios da moral como as demandas de uma sociedade podem modificar a esta 
com relação aos aspectos históricos, culturais, produtivos, tecnológicos, 
comportamentais e políticos; podem modificar a moral vigente. 
Isso exige algumas reflexões de cunho ético, altamente necessárias nesse 
contexto de análise e entendimento, pois entre um grupo social ou uma sociedade 
determinada há que se considerar que: 
 A moral só surge quando o homem já é membro de uma coletividade. 
 O trabalho – ponte entre o homem e a natureza – pode ser entendido como 
forma de sobrevivência para suprir e satisfazer as necessidades do homem 
e do grupo social, mas também como forma e fonte natural de valores e 
princípios de ação humana. 
 A moral surge então como determinante de valores e princípios de 
comportamento nos grupos sociais, e como uma espécie de tábua de 
deveres embasada no que se considera bom ou útil para aquela sociedade. 
 A moral tem um cunho coletivista, pois essa coletividade seria o ponto 
fulcral dos limites da moral prática, sendo que ela deverá ser única e válida, 
devendo ser vivenciada por todos os componentes do grupo social. 
 A moral coletivista primitiva ainda persiste como fonte da regulamentação 
do comportamento de cada um, nem sempre em acordo com os reais 
interesses da coletividade. 
 As bases morais e éticas de um grupo social, segundo Rodrigues (2008; 
2016), não raro embasam as bases legais de uma sociedade e tornam-se 
efetivas por seu cunho determinante e por terem força de lei. 
TEMA 4 – O PROGRESSO MORAL E O PROGRESSO HISTÓRICO SOCIAL – 
CARACTERÍSTICAS E DESENVOLVIMENTO 
Ao analisar as condições existentes sobre o desenvolvimento de um grupo 
social e/ou de uma sociedade, é relevante entendê-lo levando em consideração 
suas fontes e origens, por meio das quais seja possível compreender seus 
avanços e/ou as regressões que caracterizam seu progresso sob o ponto de vista 
 
 
8 
moral e histórico social, sem descuidar das condições tecnológicas que a 
estruturam. 
Vázquez (1995) define alguns aspectos que são determinantes para que 
tais análises sejam efetuadas: 
 O progresso histórico-social é fruto de histórias vividas pela humanidade 
em seu conjunto. 
 A produção de bens culturais e materiais é item relevante na mensuração 
de critérios do progresso humano. 
 Não se pode conceber seu progresso moral independentemente de seu 
progresso histórico-social. 
 Não é possível proceder sua mensuração ou valoração isoladamente dos 
avanços técnico-científicos ou histórico-sociais. 
 Portanto, entre as principais características do progresso histórico-social, 
o autor define que este: 
 Cria condições para o progresso moral. 
 Afeta os homens de uma determinada sociedade sob o ponto de vista 
moral. 
 Estimula avanços significativos nas relações, inter-relações, 
comunicações, uso e disseminação de produções materiais, objetivas ou 
subjetivas. 
 Faz parte da condição humana de produzir artefatos (frutos da mão 
humana) e mentefatos (frutos da mente humana), objetivando sempre e 
constantemente avanços e progressos. 
 Destaca-se, visto que os fatos históricos nem sempre ocorrem como 
resultado planificado livre e conscientemente, pois não raro estes ocorrem 
como fruto do acaso e oportunizam descobertas (surveys) que determinam 
que uma sociedade se destaque mais do que outra. 
Como dito anteriormente, as mudanças da moral são históricas e, desde as 
sociedades primitivas, sempre ocorreram antagonismos entre os recortes 
populacionais, ou suas castas, diferenciando pobres e ricos. De acordo com 
Rodrigues (2016), tais antagonismos ainda se fazem presentes por meio dos 
valores da moral dominante e da moral dos escravos. 
A moral primitiva era considerada de cunho coletivista e, mesmo assim, tida 
como seletiva, pois embora nela tenham surgido leves sinais de uma consciência 
 
 
9 
coletiva de interesses e indícios de uma consciência reflexa sobre a 
individualidade das pessoas, a moral dominante relacionava-se a determinar os 
valores e comportamentos como técnica política para dirigir e organizar as 
relações entre os membros da comunidade sobre bases racionais. Além disso, 
impunha interesse coletivo tanto na produção como na partilha dos bens 
produzidos. 
Na sociedade feudal predominava ainda condição dual, sendo efetivas as 
duas morais: a do senhor feudal e a dos servos. Embora os servos não fossem 
mais considerados apenas como coisas, ainda assim o sistema de dependências 
ou vassalagens determinava as características materiais, econômico-sociais e 
espirituais daquela sociedade, revelando-se uma pluralidade de códigos morais. 
Já ao final do período Medieval, surge a burguesia possuidora dos meios 
de produção, prevalecendo uma moral individualista e egoística. Surgem os 
interesses das relações de trabalho como produtores de valores e princípios de 
outra natureza. O trabalho dignificaria o homem e este deveria ser moral e 
espiritualmente obediente e subserviente às vontades divinas. Surgem valores 
nos quais se destacaram a mais-valia, a posse dos meios de produção e aampliação do conceito de propriedade privada, as relações contraditórias e 
conflituosas entre a força de trabalho e o capital, surgindo daí o conceito do 
homem econômico que, com suas valorações, passa a ditar novas regras morais 
e legais. 
Nos tempos modernos, recorre-se à moral para justificar a opressão e 
surgem a tentativa de superação e a abolição de exploração do homem pelo 
homem como resultados de avanços individuais e coletivos. Além disso, surge a 
tentativa da construção de uma sociedade mais justa e humanizada. 
Criam-se métodos científicos e racionalizados para os sistemas produtivos 
e para a busca e elevação das condições materiais, visando a superação da 
desumanização e a construção de valores de participação, justiça, igualdade, 
fraternidade e solidariedade. Surgem também os conceitos democráticos de 
organização social e política, com avanços significativos nos direitos fundamentais 
dos homens e das sociedades, individuais e coletivos. Apesar de significativos 
avanços, ainda o cerne do sistema moral se conserva e difundem-se valores de 
obtenção de mais e maiores bens materiais, com o aumento da exploração do 
homem pelo homem e da máquina se sobrepondo ao homem, com vistas a 
obtenção de ‘mais-valia’. 
 
 
10 
Nos tempos contemporâneos acentuam-se os valores desumanizantes, a 
supremacia da tecnologia e da técnica em prol da suposta melhoria das condições 
no mundo do trabalho e na sobrevivência. Entretanto, a inversão de valores, a 
concentração das riquezas, a globalização econômica e a universalização das 
comunicações pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), 
acentuam valores excludentes. 
Embora os discursos políticos mundializados suponham uma nova era de 
progresso e desenvolvimento, ainda assim a máquina supera e, não raro, substitui 
o homem. Crescem então as formas de desestruturações sistêmicas, os 
desempregos massivos e concentração de renda na mão de poucos ou de 
grandes grupos econômicos internacionalizados que determinam as regras e os 
valores nas relações produtivas e políticas internacionais, nacionais e locais. 
A exclusão e a inclusão passam a ser as duas faces da mesma moeda e 
interferem subjetiva e fortemente na organização política, tornando determinantes 
os poderes do dinheiro e do chamado quarto poder, isto é, as relações midiáticas 
das grandes redes de comunicação e das infovias fazem e desfazem construtos 
valorantes e interferem substancialmente na questão da moralidade da sociedade 
hodierna. 
TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS DO PROGRESSO MORAL E DO PROGRESSO 
HISTÓRICO-SOCIAL EM FACE DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E 
DEMOCRÁTICA E DA VIDA NA PÓLIS 
 No âmbito da vida pública, ou seja, da vida na pólis, deveríamos ter 
avanços significativos nas relações políticas que se consubstanciariam 
significativamente dos progressos comunicacionais e organizacionais, trazendo 
benefícios para as relações na vida política, nas quais as comunicações, as redes 
de infovias, a globalização e a internacionalização, por sua vez, deveriam trazer 
melhorias pelas interfaces que proporcionam. 
Os valores e os princípios ético-morais poderiam ser muito mais difundidos 
e vivenciados e, com isso, ganhariam substanciais apontamentos pelas 
constantes trocas e pela ampliação nas relações internacionais, nacionais e 
locais, o que certamente acrescentaria significativos avanços nas relações 
políticas entre os sujeitos, entre os povos e entre as nações. 
A experiência moral se consolida pelos fenômenos presentes em nossas 
vidas em seus diferentes espaços históricos, sociais e políticos e define aspectos 
 
 
11 
referentes à legitimidade dos princípios que a subsidiam e lhe dão a validade 
necessária em seus espaços e tempos, revelando sua transitoriedade e 
historicidade. 
Ao tecer reflexões sobre essas dimensões históricas e transitivas da ética, 
da moral e da moralidade, Rodrigues (2016) considera que essas mesmas 
condições levantam problemas que nos colocam diante da questão da realidade 
da modificabilidade de seus valores e normas morais, que diferem conforme se 
sucedem ou sobrepõem os diferentes grupos sociais e/ou as sociedades 
humanas. Rodrigues (2016, p.43), também afirma que: 
Tais valores e normas se modificam conforme os estágios históricos da 
evolução humana e dos grupos sociais e de acordo com suas 
respectivas valorações decorrentes das diferentes expressões e ações 
empreendidas individualmente, pelos agrupamentos e pelas sociedades. 
Assim, temos que a ética, a moral e a moralidade são fenômenos históricos 
como expressão de anseios e demandas que pressupõem o trato com questões 
do bom, do justo e do belo, o que permite definir uma diversidade histórica de 
critérios ético-morais na história da sociedade ocidental, destacando os critérios 
éticos clássicos, os eudemonistas, os hedonistas, os estoicistas, os 
deontológicos, os voluntaristas, os da liberdade e os espiritualistas. 
Segundo Rodrigues (2016), para entender os critérios ético-morais 
contemporâneos dessa sociedade diversa, multicultural e multifacetária – em suas 
diversificadas aplicações nas organizações e instituições sejam elas públicas ou 
privadas –, é preciso analisar as decorrentes implicações em suas formas de 
proceder e de subsidiar as práticas administrativas e gestoras, por meio dos 
valores e princípios que estruturam e fundamentam essa mesma sociedade em 
sua fluidez e complexidade. 
Isso nos leva a buscar compreender que a renovação contemporânea dos 
princípios éticos clássicos pressupõe o questionamento de inúmeros aspectos, 
entre eles os dos princípios religiosos, da força afirmativa da vida humana e dos 
direitos humanos, da realidade, da responsabilidade, da liberdade, da igualdade 
e da diferença, da autodeterminação, do respeito à vida e à natureza, dos 
constructos da ciência e da civilização tecnológica e de suas decorrências na vida 
das pessoas, dos povos e das nações. 
Essa exposição não esgota os critérios éticos, pois existem muitos outros 
que não foram realçados. Os critérios em apreço estão em sintonia com o senso 
comum e procuram ser a expressão das ideias veiculadas pela opinião e pelas 
mentalidades populares. 
 
 
12 
De forma resumida, independentemente de sua condição espaçotemporal 
ou histórica, segundo Rodrigues (2016), temos a considerar que qualquer que seja 
a perspectiva de análise dos atos humanos em contextos socioculturais, estes 
somente poderão ser julgados moralmente se forem realizados livre e 
conscientemente e, por conseguinte, sejam atos cuja responsabilidade pode ser 
assumida plena e livremente por seus agentes. 
FINALIZANDO 
Sintetizando os conteúdos abordados nesta aula, temos que a relevância 
das reflexões éticas sobre posturas e vivências humanas, com embasamento nas 
normativas morais de uma respectiva sociedade ou grupo social e profissional, 
têm demonstrado ao longo do percurso histórico da humanidade que, por mais 
determinante que seja a moralidade vigente, ela tem sua condição transitiva e 
adaptável. Além disso, está factualmente situada, permitindo que os sujeitos e as 
instituições, organizações e empresas (públicas ou privadas) sejam aprimoradas 
ou modificadas buscando sempre a construção de uma sociedade mais justa, 
socialmente mais sustentável e moralmente mais viável, consolidando o desejo 
universal da humanidade: ser feliz. 
Buscamos em Rodrigues (2016, p.46) a reflexão que finaliza as premissas 
aqui apresentadas e reforçamos que, seja qual for o período histórico, seja qual 
for o critério ético sustentado, de qualquer forma a humanidade não cessa sua 
busca pela condição idealizada pelos sábios da humanidade. Assim, podemos 
afirmar que: 
A história da humanidade nos apresenta interessantes e ilustrativos 
exemplos sobre essas mudanças e adaptações, avanços e/ou 
retrocessos no campo da moralidade. Há tempos de harmonia e tempos 
de barbáries e todos são temposhumanos, razão pela qual nos cabe 
sempre a reflexão ética. 
Conforme Machado Filho (2006, p. 22), é relevante ter presente que nas 
conectividades sociais, culturais, organizacionais, econômicas e políticas das 
sociedades hodiernas – com suas evolutivas complexas e céleres 
modificabilidades estruturantes –, por força das condições tecnológicas e 
midiáticas que se definem diuturnamente e implicam em formas diversificadas de 
relações entre os sujeitos, a sociedade política e suas instâncias governamentais 
e a sociedade civil organizada coletivamente, é preciso considerar que: 
 
 
13 
As mudanças institucionais decorrentes da evolução tecnológica (e 
midiática da sociedade contemporânea), que estão levando à 
intensificação do fluxo informacional e à internacionalização dos 
mercados, bem como novos marcos regulatórios especialmente em 
questões ambientais e sociais, têm induzido as empresas (públicas e 
privadas) a desenvolverem ações buscando manter ou ganhar 
reputação. E, nesse processo, cresce a preocupação com o 
comportamento ético e socialmente responsável (e se revelam 
substantivos índices de avanços e de progresso ético-moral). 
Portanto, para finalizar, consideramos a urgente necessidade de observar 
e refletir sobre as diversas maneiras para o desvelamento do cenário complexo e 
instável do contemporâneo, no qual parece, em uma primeira e rasa visada, que 
vale tudo no âmbito ético-moral. Porém, olhares mais aprofundados e análises 
eticamente situadas, revelam que os âmbitos democráticos – como conquistas 
dos tempos modernos – se apresentam e definem explicações e compreensões 
mais equânimes e diversas, nas quais o contexto da reflexão ética é cada vez 
mais valorizado e, juntamente com ambiências ambientalmente sustentáveis, são 
condição sine qua non para sustentabilidade da própria condição humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
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MORIN, E. O Método 5: a humanidade da humanidade. Tradução de: J. M. 
Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005. 
QUINTANA, F. Ética e política - da antiguidade clássica à 
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VALS, A. O que é ética. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. 
VÁZQUEZ, A. S. Ética. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. 
AULA 3 
ÉTICA, MORAL E 
TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO 
PÚBLICA 
Profª Zita Ana Lago Rodrigues 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
O objetivo desta aula é relacionar os conceitos de gestão pública e 
transparência com algumas competências essenciais para práticas gestoras de 
cunho transparente embasadas em valores e princípios da ética e da moralidade 
pública. Além disso, a ideia é a de mostrar a importância dos princípios 
constitucionais como fatores fundamentais para a eficácia e a transparência na 
gestão pública e como diferenciais necessários para as ações do gestor público. 
TEMA 1 – CONCEITOS 
Ao tratar da questão da gestão pública, vale lembrar alguns conceitos que, 
historicamente, a têm situado, alguns dos quais apresentam cunho mais 
conservador e outros que, por sua condição mais atual, se adequam às demandas 
da sociedade contemporânea, caracterizada por sua fluidez (Bauman, 1999; 
2001; 2003) e por sua complexa tessitura (Morin, 2003; 2004; 2005) e diversidade 
crescente (Santos, 2006), na qual, de forma global, os fatos se apresentam e se 
sucedem celeremente. 
Essa sociedade contemporânea, com suas características fluídas, 
complexas e diversas, se revela por meio de fatores contraditórios, dinâmicos e 
inter-relacionados, o que afeta todos os âmbitos da organização da sociedade e 
influencia os contextos sociais, políticos e econômicos de forma ampla. Isso não 
pode ser desconsiderado quando os fatos locais se tornam globais em efêmeros 
segundos e, com isso, impactam as ações e as práticas gestoras e, em suas 
consequências locais, nacionais e internacionais, são parte do mundo, que 
Marshal Mc Luhan (1972; 1964) entendeu e classificou como uma aldeia global. 
Assim, no mundo e em especial no Brasil, não se permite mais que essas 
práticas ocorram à margem de determinantes de transparência e princípios 
constitucionais que as tornem parte efetiva de decisões que, por serem públicas, 
necessitam ser de acesso amplo e irrestrito a todas as pessoas que compõem 
uma mesma sociedade política – a pólis – na qual todos e todas se constituem 
como cidadãos e cidadãs de plenos direitos e deveres, condição mínima que lhes 
é constitucionalmente garantida. Nesse sentido, ressaltamos o teor do Preâmbulo 
da Constituição Federal de 1988, em que se afirma a necessidade de se: 
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos 
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
 
 
3 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias, e foi promulgada sob a proteção de Deus 
(Brasil, 1988). 
Esses direitos e deveres são também consubstanciados por essa mesma 
Constituição, que, em seu art. 1º. reza: 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamento: I. a soberania; II. a 
cidadania; III. a dignidade da pessoa humana; IV. os valores sociais do 
trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo político. Parágrafo único - 
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (Brasil, 1988) 
TEMA 2 – RELAÇÕES ENTRE GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO 
Portanto, a gestão pública relaciona-se com a função de “administrar os 
bens e patrimônios do Estado”, seguindo leis específicas e em prol de sua 
manutenção e uso voltado para o bem comum de cada um dos membros da 
sociedade e exige qualificações técnicas minimamente possíveis que possibilitem 
ao gestor gerenciar os órgãos ou setores da administração pública, assumindo 
com responsabilidade e transparência o uso consciente dos recursos públicos em 
prol da cidadania de todos. 
 A Administração é uma ciência que, de forma genérica, estuda formas de 
comportamento e planificação para gerir empresas, organizações e instituições 
públicas e/ou privadas, analisando suas práticas e padrões de atuação. 
Atualmente, destaca-se um ramo bastante complexo da administração que se 
situa no setor público e é composto por organizações e/ou instituições cujas 
finalidades e padrões organizacionais e culturais se diferenciam dasorganizações 
ou empresas do mercado e se denomina administração pública, conforme propõe 
Chiavenato (2018). 
 Administração pública é o estudo aplicado às organizações públicas, e 
gestão pública é um conceito bem mais recente, que indica a utilização de práticas 
inovadoras na administração de instituições e organizações dos órgãos e dos 
setores públicos, conforme afirma Chiavenato (2018), e são mais vinculadas a 
práticas de gestão visando à organização, à funcionalidade e à atual situação do 
Estado, seja em âmbito federal, estadual, distrital ou municipal. 
 Algumas de suas práticas foram importadas do setor privado, outras 
recuperadas dos porões da história, e as mais recentes relacionam-se às 
 
 
4 
instituições ou organizações de cunho público, cuja missão é de interesse do 
público ou relacionada à vida pública – a pólis – abrangendo ações em áreas como 
recursos humanos, finanças públicas, políticas públicas e organização e 
funcionamento do Estado. 
TEMA 3 – ORIGENS DO CONCEITO DE GESTÃO PÚBLICA 
Considerando-se o exposto e tendo em vista os preceitos constitucionais, 
vale refletir sobre a gestão pública, que, desde suas origens, tem sido estudada, 
pensada e repensada e tem seus conceitos como parte dos estudos e das 
formações teórico-práticas dos que se dedicam a formalizar do que consiste essa 
determinante da ação gestora no âmbito sociopolítico e econômico da 
organização do Estado brasileiro. 
 Em uma visão mais clássica, retomamos a Fayol (1950) que, em sua obra 
Administração industrial e geral, apresenta o ensinamento básico de que a 
condição administrativa liga-se ao processo de previsão e visualização de 
possibilidades de realizar a avaliação e o provisionamento de condições para que 
uma organização e/ou instituição, pública ou privada, possa prever e organizar 
suas condições de planejamento, programação e orçamentação de recursos e 
condições para seu adequado funcionamento e se desenvolva a contento em seu 
contexto de ação. 
A evolução do conceito da gestão pública foi aplicada no Brasil à 
Administração Pública Federal (APF), sendo pensado como um processo 
administrativo tipificado em algumas etapas, tais como: o planejamento, a 
programação, a orçamentação, a execução, o controle e a avaliação das políticas 
públicas que visem, direta ou indiretamente, à concretização de ações em uma 
organização/instituição pública. Assim, essas etapas constituem-se em partes dos 
processos de execução do cotidiano da governação pública, com seus respectivos 
impactos e consequências para os que nelas se envolvem, seja como 
planificadores ou como receptores de seus resultados. 
 Podemos definir que essas premissas do conceito fayolista que definem as 
funções administrativas de prever, organizar, comandar, coordenar e controlar 
apresentam forte analogia com os preceitos contidos no Decreto-Lei n. 200/1967, 
que dispõe sobre a organização da Administração Federal e estabelece diretrizes 
para a reforma administrativa e dá outras providências. E apresentam também 
analogias e similaridades com os preceitos da Lei n. 12.527/2011, ou seja, a 
 
 
5 
chamada Lei da Transparência, que regula o acesso a informações e que, em seu 
art. 1º., do Capítulo I, das Disposições Gerais, reza o seguinte: 
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela 
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o 
acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do 
§ 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal. 
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei: 
I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes 
Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do 
Ministério Público; 
II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as 
sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou 
indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios (Brasil, 
2011). 
Avançando nas premissas legais e nos aspectos conceituais sobre gestão 
pública, tomamos de Carneiro e Menicucci (2013) a afirmativa de que nas últimas 
décadas esse termo (gestão pública) tem sido utilizado de forma sistemática, em 
substituição ao conceito de administração pública, o que o tornou um termo 
polissêmico, referente ao fato de que alguns ainda o confundem com 
administração pública e outros entendem que seu uso marca o rompimento com 
aspectos tradicionais da administração e justifica sua adoção com base em seu 
sucesso e aplicabilidade, relacionado às novas ferramentas da organização e 
planificação no mundo empresarial, o que lhe daria um mais amplo significado. 
Nesse sentido, e em acordo com situações mais contemporâneas, definem 
Carneiro e Menicucci (2013) que gerir significa assumir responsabilidades sobre 
uma ação dentro de um sistema ou do espaço da organização e/ou instituição, 
nos quais se definem e realizam articulações, relações e negociações de interesse 
dos envolvidos nessas mesmas ações e dizem respeito à administração pública, 
cujos processos são específicos e se referem a um conjunto de práticas e 
atividades referentes ao conjunto de organizações, e não apenas de uma, cuja 
finalidade seja ajustar e adequar a complexidade da governança pública. 
TEMA 4 – NOVAS MODALIDADES DE GESTÃO: AÇÕES E PRÁTICAS 
INOVADORAS NA GESTÃO PÚBLICA 
Entendemos assim que o termo gestão pública tem sido aplicado, conforme 
normativas legais acima citadas, à administração pública e está relacionado a um 
processo administrativo que consiste em seis etapas de organização: 
planejamento, programação, orçamentação, execução, controle e avaliação de 
determinadas condições de oferta de políticas públicas que visem e se destinem 
 
 
6 
à concretização direta ou indireta de práticas de gerenciamento de instituições 
públicas e se constituem então naquilo que atualmente se denomina gestão 
pública (Chiavenato, 2018). 
Os avanços no tocante à administração não ocorreram apenas nos 
aspectos teóricos mas também ocorrem cotidianamente no âmbito da vida prática 
da organização sociopolítica e, conforme proposto por Quenehen (2019), essa 
nova modalidade de gerenciamento da coisa pública é denominada gestão 
pública, sendo também conceituada como gestão para o século XXI e que 
consiste em: 
uma proposta que se destina a adaptar e melhorar as formas de 
organização e funcionamento da Administração Pública, para que o 
Estado possa cumprir com eficácia e eficiência os seus fins. [Sendo] 
definida, também, como um novo contrato, um novo acordo entre 
políticos, funcionários públicos e sociedade para melhorar a capacidade 
do Estado na sua tarefa de implementar as políticas, sob condições 
fiscais e financeiras adequadas (Quenehen, 2019). 
Portanto, entendemos ser fundamental o reconhecimento das condições da 
sociedade, em especial nas sociedades ocidentais, frente ao contexto célere que 
modifica as formas de ver, sentir e representar o mundo e exige que sejam 
delineadas algumas das situações globais que constituem essa nova modelagem 
de mundo na complexa (Morin, 2003), fluída (Bauman, 1999; 2001; 2003) e 
diversa (Santos, 2006) sociedade contemporânea, destacando-se que sejam 
essas algumas de suas mais significativas marcas constitutivas e que exigem 
novas formas de ação e de caracterização da ação gestora, seja em âmbitos 
públicos, seja em âmbitos privados. 
Nesse sentido, com base nos autores acima citados, Rodrigues (2008) 
afirma ser relevante considerar que se vivencia hoje uma revolução tecnológica 
sem precedentes com a difusão maciça de dados e informações por infovias, 
novas formas de comunicação e de produção, uso e disseminação das 
informações e do conhecimento, a globalização dos mercados e das políticas 
públicas com o modelo neoliberal de diminuição do papel do Estado e ampliação 
e fortalecimento das leis de mercado, a internacionalizaçãodo capital com uma 
intensa reestruturação dos sistemas de produção e do desenvolvimento 
econômico, com mudanças nos processos de produção, na organização do 
trabalho e dos trabalhadores e na qualificação profissional, a circulação e o 
consumo globalizado da cultura e dos conhecimentos, com profundas mudanças 
nos paradigmas da ciência e do conhecimento, influindo na pesquisa, nas 
 
 
7 
ciências, na produção do conhecimento e nos processos de ensino e 
aprendizagem e o agravamento da exclusão social, cultural, política, econômica e 
tecnológica, com o surgimento de lideranças messiânicas. 
Esses são fatos que afetam a gestão da vida pública e apresentam riscos 
que exigem ações mais transparentes e de cunho participativo no âmbito da 
gestão da coisa pública, revelando como decorrência a efetiva construção e a 
ampliação da cidadania ativa. 
No fundamental reconhecimento do papel do Estado nas sociedades 
ocidentais para a consolidação da democracia, como detentor de princípios e 
normas para fomentar o crescimento econômico, cultural e social e responsável 
pela redução das desigualdades, por meio da promoção de educação, saúde, 
saneamento básico e segurança, entendidos como fatores cruciais para a 
manutenção da ordem e da harmonia da sociedade, há que se considerar de que 
forma esse mesmo Estado consolida essas prerrogativas e se define como um 
fator preponderante para que essa sociedade seja justa e equânime na 
distribuição dos recursos, financeiros, humanos, tecnológicos e de apoio, 
necessários a essa consolidação. 
Portanto, retomando Quenehen (2019), temos a considerar que, na atual 
configuração do Estado contemporâneo, seja ele do modelo patrimonialista, que 
esteve presente no âmbito brasileiro no período monárquico e nas fases iniciais 
do governo republicano, seja no sequente modelo burocrático, presente nos 
governos de Getúlio Vargas, seja no modelo gerencial do governo FHC, seja no 
modelo populista, marcante nos governos de Lula da Silva e de Dilma Roussef, e 
no atual momento da gestão governamental, com o governo Bolsonaro, esse 
Estado ainda se constitui em uma instituição determinante, vital e necessária. 
Essa condição vital e necessária se revela por ser sua função primordial a 
criação de condições para a organização e a manutenção da ordem social e 
política, visando estimular e fomentar políticas que propiciem o desenvolvimento 
nacional e o delineamento de necessários fundamentos e normativas legais – com 
a devida aquiescência e respaldo do Parlamento – que levem à exequibilidade de 
ações e práticas gestoras e ao delineamento de políticas públicas que permitam 
a manutenção, desempenho e desenvolvimento do governo e do Estado e que 
estimulem a vivência democrática e a participação e envolvimento de todas as 
pessoas que compõem o universo populacional do país. 
 
 
8 
É nesse contexto de mudanças que surgem iniciativas governamentais 
inovadoras que, embasadas em princípios constitucionais para a governação do 
Estado, se apresentam e contribuem para a definição e a normatização das 
relações entre governo e sociedade e que estruturam suas formas de gestão. 
 No Brasil, desde 2011, com a promulgação da Lei n. 12.527/2011, a 
chamada Lei da Transparência, constituíram-se premissas de regulação sobre o 
acesso às informações e foram dispostos os procedimentos a serem observados 
pela União, estados, Distrito Federal e Municípios, com o intuito de garantir 
práticas embasadas nos princípios constitucionais, previstos no art. 37 (e seus 
respectivos incisos) da Constituição Federal de 1988: os princípios da legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (LIMPE), que foram 
complementados pelo princípio da eficiência, instituído pela Emenda 
Constitucional n. 19/1988. 
 Temos ainda os chamados princípios de embasamento infraconstitucional 
ou do segundo grupo que, embora 
não sejam definidos como princípios servem como parâmetros quando 
delimitam constitucionalmente nos Incisos I a XXI e seus respectivos 
parágrafos, aspectos sobre os desdobramentos e a condução das ações 
e dos atos relativos ao exercício da função e/ou do cargo público.” 
(Rodrigues, 2016, p. 146). 
 Entendemos a relevância de destacar esses outros princípios relacionados 
ao desempenho dos serviços e das atividades da e na gestão/administração 
pública, sendo eles considerados princípios de embasamento infraconstitucional 
por serem fundamentados em premissas legais que complementam e 
regulamentam os determinantes constitucionais tidos como base da 
administração pública, sendo eles de não somenos importância e que deverão 
também ser considerados nas práticas das atividades administrativas no âmbito 
público, podendo-se elencar, entre outros, os princípios: do interesse público, da 
finalidade e da legalidade, da igualdade, da colaboração e boa-fé, da motivação, 
da razoabilidade, da lealdade, da integridade, da proporcionalidade, da justiça e 
imparcialidade, da informação e qualidade, da competência e responsabilidade. 
Com relação aos princípios constitucionais referenciados claramente no art. 
37 da CF/1988 e na Emenda Constitucional n. 19/1998 acima expostos, referimos 
que suas expressões são também citadas em leis infraconstitucionais, como a Lei 
Complementar n. 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF 
(Planejamento, Transparência, Controle e Responsabilização); a Lei 8.666/93 – 
 
 
9 
Lei de Licitações e Contratos da Administração Pública; a Lei 4.320/64 – que 
regulamenta o processo administrativo no âmbito da Administração Pública 
Federal (unidade, anualidade, universalidade – UAU), entre outras normas legais, 
tais como a Lei n. 8.112/1990, de semelhante relevância, que dispõem sobre atos 
e fatos que todos os gestores públicos devem observar e visam dar solidez e 
segurança legal ao exercício da função do agente público em todas as esferas do 
poder público. 
TEMA 5 – FUNDAMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA 
Além dos princípios constitucionais, previstos no art. 37 da CF/1988, o 
Modelo de Excelência do Sistema de Gestão Pública (Brasil, 2013) pautou-se por 
fundamentos da gestão pública contemporânea e que, de certa maneira, guardam 
semelhança com os critérios de excelência utilizados por esse mesmo modelo e 
certamente contribuem com as premissas de uma gestão pública pautada por 
práticas de eticidade urgente e necessária: 
 Pensamento sistêmico – Entendimento das relações de 
interdependência entre os diversos componentes de uma organização, 
bem como entre a organização e o ambiente externo, com foco na 
sociedade. 
[...] 
 Aprendizado organizacional – Busca contínua e alcance de novos 
patamares de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da 
percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de informações e 
experiências. [...] Preservar o conhecimento que a organização tem de 
si própria, de sua gestão e de seus processos é fator básico para a sua 
evolução. 
 Cultura da Inovação – Promoção de um ambiente favorável à 
criatividade, à experimentação e à implementação de novas ideias que 
possam gerar um diferencial para a atuação da organização. 
[...] 
 Liderança e constância de propósitos – A liderança é o elemento 
promotor da gestão, responsável pela orientação, estímulo e 
comprometimento para o alcance e melhoria dos resultados 
organizacionais e deve atuar de forma aberta, democrática, inspiradora 
e motivadora das pessoas, visando o desenvolvimento da cultura da 
excelência, a promoção de relações de qualidade e a proteção do 
interesse público. É exercida pela alta administração, entendida como o 
mais alto nível gerencial e assessoria da organização. 
[...] 
 Orientação por processos e informações – Compreensão e 
segmentação do conjunto das atividades e processos da organização 
que agreguem valor para as partes interessadas, sendo que a tomada 
de decisões e a execução de ações devem ter como base a medição e 
análise

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