Prévia do material em texto
64 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Unidade II 3 MARKETING INDUSTRIAL Após a Revolução Industrial, as pessoas que trabalhavam familiarmente e em casa foram para as indústrias, começando a receber um salário, o que gerou aumento da renda individual e do número de trabalhadores, e também ocasionou a queda de preços dos produtos. A lei da oferta e da procura funcionou, derrubando o preço de muitos produtos no mercado. Foi preciso encontrar formas de aumentar as vendas, escoando os produtos para as mãos das pessoas e de outras empresas. Este é o início da era da produção, quando se precisava vender o produto de qualquer jeito, sem pensar se o consumidor queria comprá‑lo ou não. Uma redução na demanda e o aumento da oferta diminuiu o preço, aumentando o esforço de venda para circular o dinheiro. Atualmente, da mesma forma, as demandas internacionais e os movimentos de globalização, em todos os setores, expuseram a maioria das empresas brasileiras a uma concorrência acirrada, a qual não tinham a menor ideia de que enfrentariam. Pense nos produtos vindos da China a preços baixíssimos que concorrem de igual para igual em nosso mercado consumidor. Tomemos como exemplo um fabricante de máquinas para a indústria gráfica. Ele não vende suas máquinas ao consumidor final, e sim a outros tipos de empresas, no caso, as gráficas, que fornecem o serviço ao cliente final. Observe que seus negócios, seu produto, seu preço, sua distribuição e sua comunicação, ou os quatro Ps de Marketing, seriam totalmente diferentes caso vendesse essa máquina a consumidores finais. A começar pelo próprio produto, que, por sua natureza, não é feito em escala industrial, mas provavelmente em escala quase artesanal e peças únicas. Seus clientes também não estão localizados em todos os lugares, nem é possível determiná‑los a partir de características demográficas, geográficas ou psicográficas. Assim, participando do processo produtivo, não com distribuição direta ao consumidor final, mas vendendo seus produtos a outras empresas, foi preciso aprimorar e adaptar as técnicas de marketing dirigido para essas empresas, uma vez que a concorrência não é mais local, mas global. O marketing business to business (B to B) ou marketing industrial é responsável por criar, planejar e executar as trocas entre as organizações privadas e governamentais, contribuindo para a conclusão dos objetivos das entidades envolvidas. Essas relações de troca incluem as relações comerciais entre empresa versus empresa, parceiros na produção de um bem, que seja entre fornecedor e produtor, produtor e distribuidor, e até mesmo entre duas fábricas que compartilham ou terceirizam a produção. Não se trata apenas de vender para empresas, trata‑se de criar relações em que o objetivo é todos ganharem. O processo produtivo empresarial é dependente de uma cadeia de produção que não começa e acaba somente com o produto desta empresa. 65 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Figura 19 – As relações de troca são os fatores fundamentais do Marketing. O termo inglês exchange significa troca Dessa forma, as relações comerciais são mais complexas e envolvem o interesse de não uma, mas de muitas empresas, geralmente. As parcerias devem ser de longo prazo, buscando pelo relacionamento entre as partes e não pela venda em si para que se pense em marketing industrial. As necessidades do cliente, tratado então como um parceiro, e suas constantes alterações devem ser acompanhadas, a fim de prestar serviços e oferecer produtos cada vez mais customizados, o que gera novas oportunidades de negócios. Para o desenvolvimento do marketing industrial é comum a realização de estudos sobre o mercado por meio de pesquisas, para conhecer os clientes e os segmentos que deverão ser abordados, as melhores áreas, os investimentos necessários e as pesquisas, além de todas as etapas da transformação das ideias em produtos. Nesse ponto, assemelha‑se bastante com o processo de criação de novos produtos para os consumidores. O Marketing divide‑se em marketing ao consumidor (B to C – B2C – business to consumer) e marketing industrial (B to B – B2B – business to business). Alguns termos são utilizados para tratar do marketing industrial, como o marketing organizacional, que trata das empresas em geral, e o marketing business to business (B to B). Originalmente, o marketing industrial refere‑se às relações entre indústrias da mesma cadeia de produção e essa denominação tem sido estendida aos mercados organizacionais em geral. Também são tratadas, nesse processo, as vendas para governos e outras instituições. Assim, no B to B, o marketing é tratado como um processo de construção de relações duradouras com os clientes e deve estar disseminado por toda a empresa, em todas as suas áreas, com o objetivo de criar diferenciais competitivos que sejam assim percebidos como valor pelo cliente e, de preferência, que tenham dificuldade em ser acessados ou copiados pela concorrência. Esse mercado proporcionado pelas empresas, o mercado industrial, empresarial ou organizacional, compra bens e serviços com os objetivos clássicos que entendemos que toda empresa busca: aumentar suas vendas e consequentemente seus lucros, reduzir custos de fabricação e venda ou ainda atender a exigências legais e, mais fortemente, de uns tempos para cá, exigências sociais propostas por um 66 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II consumidor e uma sociedade mais preocupada com questões que afetam o mundo como um todo, como a sustentabilidade, a responsabilidade social e a qualidade de vida. Tomemos um exemplo para refletirmos sobre isso: será que em algum momento, algum supermercado, por livre e espontânea vontade, vai adotar as sacolinhas de plástico que não agridem o meio ambiente? Ou oferecer as sacolas retornáveis, de graça, para os consumidores? Sabe‑se que a pressão social para essa atitude sustentável é grande, face ao fato de futuramente os aterros sanitários não mais aguentarem receber o lixo e o plástico oriundo das atividades comerciais. No entanto, nenhuma empresa ainda adotou as atitudes adequadas nesse sentido. As mudanças da sociedade vão se refletindo nas atitudes empresariais, e visto que os consumidores estão cada vez mais conscientes para os problemas ambientais, é possível que as empresas tenham que adotar essas medidas mesmo que não sejam obrigadas por lei. 3.1 Marketing industrial (B to B) como uma especialização da função de marketing Os processos de vendas entre empresas envolvem variáveis diferentes das que tratam as vendas ao consumidor final. Geralmente, falamos em marketing one‑to‑one, ou de relacionamento, pois envolve a criação de uma parceria de longo prazo com fornecedores preferenciais, diferentemente do consumidor final, que troca de fornecedor mais facilmente. E quem faz as compras nas empresas? Os profissionais de compras, que são bem informados e consultam uma base de fornecedores para ter todas as informações sobre o que pretende adquirir. Por meios racionais, conseguem decidir‑se pela melhor compra que trará mais benefícios e vantagens à empresa para a qual presta serviço. Esse processo de compra é bem mais complexo e envolve várias etapas, em que o comprador vai aumentando o nível de informação sobre o produto gradativamente e dispensando alternativas para chegar ao melhor resultado, oferta ou custo‑benefício. Completamente diferente da decisão do consumidor final, cuja decisão de comprar é quase solitária. O processo de vendas, da mesma forma que o processo de compras,ganha em complexidade, pois é preciso analisar muito bem cada uma das fases, as pessoas que estão envolvidas na decisão de compra e eliminar as barreiras normais para chegar ao resultado esperado. Só no processo de compra, a empresa que oferece o produto ou o serviço deve ultrapassar fases que incluem prospecção e qualificação do cliente, elaboração de propostas, contrapropostas, estratégias para negociação e, finalmente, fechamento do contrato. Como o marketing industrial lida com pessoas, e estas representam as organizações por meio de seus papéis atribuídos ora como fornecedores, ora como compradores industriais, e refletem, ora as preocupações técnicas da empresa, ora as próprias preocupações pessoais dos compradores e dos envolvidos na decisão da compra industrial, dá para ter uma ideia da complexidade que envolve o tema. Uma venda de máquina de grande porte, por exemplo, pode demorar meses e até anos para se concretizar e depende de análises técnicas para saber se realmente atenderá à necessidade 67 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS da empresa compradora, ou de autorizações vindas do exterior, quando a matriz não é brasileira ou, ainda, superar objeções como a falta de conhecimento da tecnologia oferecida, entre tantas outras especificidades. 3.2 Mercados para o marketing industrial O mercado para os bens de consumo é constituído por famílias e indivíduos que adquirem produtos e serviços para consumo pessoal. O mercado de negócios constitui‑se de organizações que compram bens e serviços a serem usados na produção de outros produtos ou na prestação de serviços que são revendidos, alugados ou fornecidos para outras pessoas ou outras organizações. São divididos em quatro categorias: mercado empresarial, institucional, governamental e revendedor (BRETZKE, 2006). Os clientes do mercado organizacional ou compradores empresariais dividem‑se em produtores, intermediários (empresas comerciais), governo (órgãos governamentais) e outras instituições, que podem ser atendidos tanto no mercado interno como no exterior. Os produtores são os que compram produtos e serviços para produzir outros bens e serviços vendidos aos consumidores ou outras organizações. Se uma produtora de aços planos vende chapas para uma montadora de automóveis, ou ainda se um jornalista vende seu trabalho de assessoria de imprensa para uma editora de livros, então, eles estão vendendo para produtores que fabricarão outros produtos, no caso, automóveis e livros para serem vendidos aos consumidores ou a outras organizações. Os produtores formam o maior contingente de compradores organizacionais e compõem‑se de diversos setores como agricultura, indústrias, construção civil, finanças, extração de petróleo e gás, entre outros. Os intermediários, também chamados de revendedores, incluem as empresas que compram produtos para revender com lucro e, entre elas, estão outros tipos de empresa, como os atacadistas, que vendem para varejistas ou para outras empresas, e os varejistas, que vendem aos consumidores finais. Esse setor de compradores intermediários tem alcançado mudanças e dinamismo ímpar na economia atualmente. Englobam de micro e pequenas a grandes e megaempresas de vários setores, como materiais eletrônicos, home centers (materiais para construção), livros, supermercados, roupas e outros. Para ter uma ideia, os grandes grupos varejistas incorporam diversos formatos de varejo e detêm também suas marcas de atacadistas, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar. Para garantir a atuação no mercado e atender às diferentes necessidades e expectativas dos consumidores, a empresa mantém uma estrutura multiformato com os modelos: supermercados (Pão de Açúcar, Extra), hipermercados (Extra), lojas de bens duráveis (Pontofrio), lojas de conveniência (Extra Fácil) e atacarejo (Assaí Atacadista). A companhia também atua no comércio eletrônico nas áreas de alimentos, por meio do site www.paodeacucar.com.br, e não alimentos, com os sites www.extra.com.br e www.pontofrio.com.br. Uma vez implementada a associação com Casas Bahia, também passou a atuar por meio do site www.casasbahia.com.br (PÃO DE AÇÚCAR, [s.d.]). 68 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Os governos são excelentes clientes do mercado empresarial com necessidades importantes que vão desde quinquilharias, papelaria, máquinas e equipamentos, a turbinas, instalações de equipamentos e máquinas e produtos diversos, além de toda a gama de serviços de infraestrutura, como a construção de estradas, de portos e de aeroportos, além de tudo que pode ser utilizado por uma empresa e seu funcionários. Os compradores governamentais não têm preocupação com o lucro, tendem a ter orçamentos controlados por muita burocracia e exigências legais. Geralmente, tornam‑se clientes cativos de determinado fornecedor, favorecendo os fornecedores locais. A decisão dos compradores governamentais é baseada no custo. Trabalhar com esse mercado exige preparo para atender a muitas exigências. Atuando em nível federal, estadual e municipal, talvez seja o maior cliente que uma empresa possa ter, dependendo do ramo em que atua. Essas vendas, no entanto, podem ser mais complexas do que se pensa, pois estão sujeitas a diversas legislações e regulamentações que apresentam detalhes tanto do produto, como da negociação em si, geralmente feitas por meio de licitações e de leilões eletrônicos via internet. Saiba mais Quando se fala em compras governamentais no Brasil, as notícias que fazem parte da pauta, todos os dias, tratam sobre corrupção no governo, em todos os níveis: federal, estadual e municipal. Sobre este tema, conheça a obra de Manuela Maia Ribeiro, que apresenta uma análise sobre o melhor uso dessas ferramentas para ajudar a combater esse problema: RIBEIRO, M. M. O uso das tecnologias de informação e comunicação como ferramentas de combate à corrupção do Governo Federal: comprasnet e o portal da transparência, 2011. Disponível em: < http://esaf.fazenda.gov.br/assuntos/ premios/premios‑realizados/pasta‑concurso‑de‑monografias‑da‑cgu/ concurso‑de‑monografias‑da‑cgu‑2008/universitarios/2‑lugar>. Acesso em: 27 jul. 2017. Além dos produtores, intermediários e governos, fazem parte dos compradores organizacionais outras instituições sem fins lucrativos, como organizações não governamentais, museus, hospitais, escolas, creches, universidades, prisões, organizações religiosas e partidos políticos, que também consomem uma diversidade grande de produtos em suas operações. Parecidas com os compradores governamentais, essas instituições não visam lucro e buscam o atendimento das suas especificações de compra e, geralmente, seguindo exigências legais para os processos de compra, como licitações, que envolvem recursos públicos e burocracia governamental. Essas entidades, assim como os governos, dão preferência aos fornecedores locais e contratam pelo preço mais baixo. 69 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Acompanhe os exemplos ilustrados em seguida: Produtos Intermediários Organizações governamentais Outras instituições Volkswagen Editora Atlas FNAC Carrefour INSS Ministério da Saúde Santa Casa Universidades Ongs Figura 20 – Exemplos Figura 21 – O marketing industrial ou organizacional atende ao mercado formado pelas indústrias, comércio, governos e outras instituições 3.3 Características dos mercados organizacionais O Marketing para produtos de consumo visa a trocas de bens de consumo tangíveisou não, duráveis ou não, que satisfaçam necessidades de pessoas ou grupos. No marketing industrial, o princípio é o mesmo. O que o diferencia são os tipos de clientes (são as organizações – empresas, governo, instituições) e a forma como usam o produto. Os tipos de negócios variam muito nesse mercado, desde um pequeno bar de esquina, uma cozinheira que fornece marmitas para determinados locais, até uma grande indústria, como uma montadora de veículos e um fabricante de aviões. Quando se tratam de serviços, estamo nos referendo a um pequeno fornecedor de cópias instalado perto de uma escola, a uma oficina de instalação de som para carros, a um salão de cabeleireiros, até a uma instituição bancária, a uma locadora de automóveis ou ainda a um órgão governamental e outras instituições não lucrativas. 70 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Apesar dessa variação e muitas possibilidades de negócios, é possível fazer algumas generalizações para melhor compreensão dessa especialização de marketing. Nas compras empresariais, as compras são grandes em volume, bem maiores do que as que ocorrem no mercado consumidor, mas os compradores são restritos, ou seja, em número bem menor do que os do mercado consumidor. Essa informação faz sentido, obviamente, porque em qualquer lugar, seja uma cidade ou país, existem mais consumidores individuais do que empresas. Se pensarmos no consumo de clipes anuais de uma pessoa comum e o de uma instituição como o Banco do Brasil, por exemplo, podemos entender a diferença. No caso de um automóvel, cada consumidor compra um único carro para uso próprio, salvo exceções de pessoas muito endinheiradas e que queiram variar de modelos todos os dias. Já as concessionárias, que são as distribuidoras dos veículos, compram vários produtos de uma única vez. Uma compra grande de vários produtos é feita por um único comprador. Esse número de compradores cai ainda mais conforme a especialização do produto a ser vendido, como um avião ou roupas especiais para uso na falta da gravidade (talvez apenas consumido pelos astronautas). Por isso, o nível de exigência desses consumidores também é bem maior. Atender a uma grande empresa de alimentação pode custar grandes negociações com fornecedores de matérias‑primas para garantir a qualidade exigida pelo comprador, que espera atender seu consumidor da forma combinada e anunciada. Pense na negociação que envolve a compra de batatas para o McDonald’s. A batata precisa ter sempre a mesma qualidade para que a lanchonete a sirva sempre da mesma forma. Apesar de as compras serem para as empresas, elas são decididas por pessoas que as integram, que precisam apresentar informações, mostrar que suas decisões são boas para a empresa, seja um chefe, um diretor ou um acionista. Por isso, as escolhas de produtos precisam ser racionais. No mercado de consumo de massa, as principais influências sobre o processo de compra são emocionais, existindo até as compras por impulso. Nas compras industriais deve prevalecer a razão. Essa característica tão específica influencia a maneira como o vendedor comunica os produtos para esse mercado, que precisa ser assertiva e corroborar as preocupações dos envolvidos, que podem ser economia de dinheiro, desejo de maior qualidade para o produto, melhor custo‑benefício oferecido. Tudo isso aumenta a complexidade do momento da compra, exigindo, assim, a venda pessoal como principal ferramenta de comunicação, outra característica do marketing industrial. Outro ponto a se considerar no atendimento ao mercado organizacional é o número de envolvidos na decisão de compra. Quando um consumidor resolve comprar um produto, geralmente faz essa compra por si só, no máximo com um amigo ou marido, ou esposa, ou companheiro, ou algum familiar próximo, mas a compra em uma empresa envolve vários grupos de pessoas como parte da decisão, conforme citado anteriormente. Imagine um comprador de produtos para a área de tecnologia e telefonia de uma empresa. Além dele, outras pessoas estão envolvidas, como o seu superior, os técnicos da área, os gerentes, os diretores, o presidente. Esse número de envolvidos varia de acordo com o tamanho dos valores a serem despendidos. Imagine o número de pessoas que opinam na decisão, por exemplo, de uma empresa do porte de um varejista como Casas Bahia, quanto à troca de seus sistemas de segurança e de computadores. 71 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Há uma grande dependência da empresa fornecedora em relação à empresa compradora, pois as compras são maiores, e o número de compradores menor, o que torna esse cliente organizacional de importância ímpar ao sucesso do fornecedor. O comprador, por sua vez, necessita de quantidades específicas de produtos, com a qualidade determinada por ele, e também com preço que possa trazer melhor resultado à organização. Trata‑se de uma relação de interdependência, que deve ser trabalhada para trazer soluções para os dois lados, ou seja, é preciso desenvolver uma relação de parceria entre comprador e fornecedor, como dito anteriormente. Lembrete As principais diferenças entre marketing de produtos de consumo e marketing industrial são o tamanho e o valor das compras (menos compradores de maior porte compram mais, concentrando‑se geograficamente); por isso deve‑se levar em consideração o relacionamento entre compradores e vendedores; os critérios de decisão de compra, que incluem fatores racionais e fatores não racionais; o número de pessoas envolvidas nas decisões de compra, geralmente com interesses divergentes etc. 3.4 Tipos de produtos ou serviços industriais Um bem industrial é um produto final produzido por determinada indústria ou aqueles produtos que são utilizados na indústria para a produção de outro produto final, contendo uma ou mais matérias‑primas. Numa indústria de confecções de uniformes, por exemplo, o produto industrial principal é o tecido e são utilizados ainda a linha, os aviamentos, os serviços das costureiras e de estamparias para gravar os logotipos das empresas. Os produtos que são necessários às empresas de todos os portes (pequenas, médias e grandes) são chamados de bens industriais, cuja compra é efetuada por pessoas ou departamentos específicos que visam atender às necessidades de consumo empresarial em diversas áreas. Em função de sua utilização, podemos dividir os produtos industriais em grupos (CHURCHILL JR.; PETER, 2000): • Instalações: são bens industriais que não podem ser transportados, como um uma caldeira em uma indústria de qualquer segmento. Elas são compradas e instaladas para serem utilizadas para produção de outros bens e serviços. • Equipamentos acessórios: excetuando os de grande porte citados em instalações, fazem parte desse grupo os equipamentos e as ferramentas de pequeno porte que são utilizados para fabricação de outros produtos, como martelos, furadeiras, tornos, prensas etc. 72 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II • Peças e materiais componentes: são os itens e elementos que fazem parte do produto final que a empresa produz. Em um computador, o teclado e todos os elementos que o compõe, como fio e teclas, são exemplos de componentes. • Matéria‑prima: produto natural ou transformado que faz parte do processo de produção de um bem e passa a fazer parte dele. Em um carro, os vidros e o aço são matérias‑primas. • Suprimentos: são os que são utilizados no processo de produção de outros produtos, mas não fazem parte do produto final. Os computadores e os materiais de escritório utilizadospelos funcionários da área de vendas são exemplos de suprimentos. • Serviços empresariais: são as atividades que auxiliam a empresa a funcionar, sem fazer parte de seu core business, de seu negócio propriamente dito. Servem como exemplos empresas fornecedoras de mão de obra em geral, serviços de limpeza e suporte técnico para os computadores. Ao contratar esses serviços, as empresas podem se preocupar diretamente com seu ramo de negócios, não desviando o foco da gestão para outras áreas. Observação O core business é foco de atividade principal de uma empresa. Um banco tem como core business atender os clientes em todas as suas necessidades financeiras. Figura 22 – Os bens industriais incluem as instalações, equipamentos acessórios, peças e materiais componentes, matéria‑prima, suprimentos e serviços empresariais 73 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Saiba mais Assista a um filme que trata de produtos industriais e sua dificuldade em entrar no mercado: KINKY Boots (Fábrica de sonhos). Dir. Nick Barton. EUA/Reino Unido: Harbour Pictures; Touchstone Pictures, 2005. 107 minutos. Ele conta a história de Lola (Chiwetel Ejiofor), uma cantora de cabaré que ajuda Charlie (Joel Edgerton) a salvar a fábrica de sapatos da família da falência. Eles relançam uma antiga marca em uma importante feira de negócios fashion em Milão. Foi inspirado em uma história real que ocorreu numa tradicional fábrica de sapatos inglesa. 3.5 Situações de compras empresariais São quatro tipos principais de situações de compras vividas pelas empresas: a recompra direta, a recompra modificada, a compra nova e a compra de sistemas (KOTLER; KELLER, 2006). • Recompra direta: diz respeito às compras recorrentes e rotineiras. O comprador tem total domínio das informações necessárias para fazê‑la e, geralmente, de um único fornecedor. Ele conhece as alternativas e não precisa de nenhuma informação nova para tomar sua decisão. Fazem parte desse tipo as compras de materiais de consumo e os insumos utilizados pela empresa. • Recompra modificada: ocorre quando a empresa pensa em avaliar novos fornecedores por estar descontente com a atuação dos atuais, ou fazer alterações no tipo de compra. Apesar de serem compras usuais na empresa, e os compradores terem experiência com a decisão necessária, é preciso pensar em renegociar alguns itens do acordo, tais como preço, embalagem, componentes do produto, prazos de entrega etc. Nesse caso, o comprador deve buscar novas informações para suas decisões. Elas podem ser de dois tipos: recompra modificada simples, quando envolve poucas pesquisas e análises e se baseia no relacionamento de longo prazo com os fornecedores, tendo poucas alternativas a serem avaliadas. E recompra modificada complexa, em que as alternativas são inúmeras, exigindo mais pesquisas e negociações para um bom acordo, como no caso dos leilões on‑line. • Compra nova: ocorre quando se observa uma nova necessidade para resolver um problema da empresa, e a solução precisa ser diferente das anteriores. Assim, o nível de informações precisa ser mais alto e a quantidade das informações precisa ser maior para encontrar o fornecedor ideal para a situação. Essa decisão demanda mais tempo e também envolve um grande número de pessoas no processo de decisão. 74 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Elas podem ser de dois tipos: compra nova de julgamento, que depende do grau de complexidade técnica e da dificuldade para se avaliar as alternativas ou ainda de aspectos intrínsecos à negociação, e compras novas estratégicas, que são de importância vital para a empresa e devem ser orientadas por planejamentos de longo prazo, com informações abundantes e muitos participantes na decisão final. • Compra de sistemas: quando uma compra demanda outras tantas. Um sistema para lavagem de pratos, por exemplo, que inclua uma máquina para secagem, empilhamento etc., é uma compra desse tipo. Uma única compra demanda outros vários fornecedores. O processo é mais demorado, pois inclui esses fornecedores de segundo nível. Sistemas operacionais de computadores também se incluem nesse tipo de compra, pois raramente uma única empresa terá cabedal para fornecer o sistema, o treinamento, o suporte etc. Uma empresa chamada integradora pode liderar o processo e responsabilizar‑se pelo projeto. Lembrete Tipos de situações de compra: recompra direta (encomendas comuns e sistemáticas); recompra modificada (as recompra modificada simples e modificada complexa exigem o conhecimento das especificações de produto, preços, prazos de entrega e outros termos que podem ser modificados; compra nova ou nova tarefa (compra nova de julgamento e compras novas estratégicas o comprador adquire o produto ou ou o serviço pela primeira vez, com subdecisões importantes envolvidas na decisão de compra; compra de sistemas, a qual demanda vários outros fornecedores e compras. Dada a dificuldade e a complexidade das compras industriais, os profissionais da área de compras podem optar por avaliar e selecionar os produtos da seguinte forma: • Compra por inspeção: compra de alguns produtos para examiná‑los melhor, ou se for um aluguel de espaço, conhecer e analisar o local detalhadamente. • Compra por amostra: o fornecedor fornece uma amostra para ser estudada pela empresa. Pode comprar, por exemplo, meia dúzia de parafusos antes de efetuar uma enorme compra de um lote desse produto. • Compra por descrição: os catálogos e as explicações do vendedor geralmente suprem essa fase. Os produtos padronizados são comprados dessa forma a partir do conhecimento das especificações técnicas. • Compra por contrato: determina todos os critérios a serem observados como especificações do produto ou características detalhadas da prestação de serviços, bem como preços, prazos de entrega e outras características necessárias. Também se estabelecem multas e penalidades sobre não cumprimento do contrato. 75 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS • Licitações: conduta originalmente encontrada na área governamental; a área de compras pode também utilizar este expediente, com trâmites burocráticos e exigências reduzidas, e a partir de critérios bem definidos acerca do produto de que precisa. Podem ser convidados vários fornecedores potenciais para apresentarem preços e outras condições que tenham as especificações mínimas exigidas. Quando o comprador entende que a qualidade oferecida pelos fornecedores é semelhante, poderá escolher pelo menor preço, como geralmente acontece nas compras governamentais. Figura 23 – Diferentemente das compras feitas pelo consumidor individual nos pontos de vendas comuns, como os supermercados, as compras industriais são mais complexas e difíceis de serem concretizadas. 3.6 Processo de compras empresariais Se conhecer o cliente é importante para vender qualquer tipo de produto, imagine numa venda dirigida a outras empresas, que envolve grandes quantidades e valores que podem representar a diferença entre o sucesso e o fracasso do negócio. As informações, nesse caso, mais do que de importância crucial, são uma questão de sobrevivência empresarial. Nas empresas, as influências nas decisões da compra vão muito além das questões pessoais. Os compradores organizacionais sofrem ainda influências ambientais, organizacionais, interpessoais e individuais que podem alterar o processo de compra. Por isso, é fundamental conhecer o cliente e os envolvidos na decisão. As principaisrespostas a serem buscadas são: • Quem são os principais participantes do processo de decisão? • Em quais decisões eles exercem influências? • Quais são seus graus relativos de influência? • Qual critério de avaliação cada participante do processo de decisão usa? 76 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Apesar de semelhanças com o processo de compras do mercado de bens de consumo, decidido por pessoas, individualmente ou com seus familiares, as compras empresariais são mais estruturadas e envolvem especificações e pessoas treinadas para essa atividade, dado o grande número de fatores e a complexidade envolvida. Os fornecedores são avaliados e homologados, tornando‑se aptos ou não para fornecer determinado produto à empresa. 3.6.1 Leilões eletrônicos A qualidade não é o principal fator de decisão para uma compra, e os serviços agregados e adicionais ganham cada vez mais importância, além da pressão por preços cada vez menores. Essas expectativas levaram as empresas a encontrar novas formas de comprar, por meio dos leilões eletrônicos. Para os fornecedores, representa maior controle de custos para ter preços competitivos e competência para gerar inovação e conhecimento do mercado e da concorrência. São os leilões reversos, em que fornecedores convidados propõem seus lances e o pedido fica com quem oferecer menor preço. 3.6.2 O que é e‑procurement? Segundo o site Guia de Compras (O QUE... [s.d.]), o termo e‑procurement diz respeito aos métodos eletrônicos em cada estágio do processo da compra, em que há identificação desde o pedido até o pagamento, somando informações importantes para o gerenciamento da área. São sistemas geralmente usados por intermédio da internet, que permitem aos compradores o gerenciamento de suas compras, reduzindo a fase operacional em relação aos sistemas de cotações convencionais e, por isso, fazendo melhor uso de seu tempo. Se antigamente os compradores tinham de solicitar aos vendedores o fornecimento de cotações por fax, telefone ou e‑mail, hoje disponibilizam as informações on‑line, com total segurança (inibindo a atuação de maus profissionais infiltrados nas áreas das empresas, querendo pagar ou receber propinas para fechar o negócio) e qualidade da informação, redução de custos (menos tempo, menos planilhas, menos papel) e agilidade nas compras (o tempo do comprador é poupado, visto que ele não precisa digitar as cotações, o que é feito pelo fornecedor), ganhos financeiros (o fornecedor esforça‑se em fornecer a melhor cotação). Geralmente, são as próprias empresas que desenvolvem esses aplicativos para serem compatíveis com outras áreas, como contabilidade, finanças, pedidos de compras, estoques etc. Saiba mais Entenda um pouco mais sobre a importância da gestão de compras por meio do artigo: RAPOSO, M. R. et al. A importância do planejamento de compras para a gestão estratégica de suprimentos. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 9, 2016. CONSAD, 2016. Disponível em: <http://consad.org.br/ wp‑content/uploads/2016/06/Painel‑44‑03.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2017. 77 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Conforme indica Kotler (2000), algumas características genéricas são comuns a todos os processos de compras, envolvendo oito etapas, que vão da percepção da necessidade do produto até a concretização da compra e a análise do resultado para recompras posteriores. 1. Identificação do problema 2. Descrição geral da necessidade 3. Especificação técnica 4. Identificação de fornecedores 5. Solicitação de proposta 6. Seleção de fornecedores 7. Especificação rotineira do período 8. Revisão e desempenho Figura 24 – Fases de compra Assim, em cada uma das fases, podemos observar o que acontece na empresa: 1. Reconhecimento do problema: descoberta da necessidade de alguém na organização. 2. Descrição da necessidade geral: características gerais dos itens e quantidades a serem adquiridas. 78 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II 3. Especificação do produto: elaboração das especificações técnicas para a compra e a busca de formas para reduzir os custos. 4. Procura de fornecedores: identificação de fornecedores mais apropriados à compra necessária. 5. Solicitação de proposta: pelo meio mais conveniente, seja e‑mail, telefone, sites e aplicativos, ou outras formas de contato. 6. Seleção de fornecedor: com base em atributos predefinidos que envolvam a negociação que melhor favoreça a empresa. 7. Especificação do pedido: acerto com o fornecedor selecionado, concluindo o processo de negociação de preços, prazos, entrega, serviços agregados, garantias etc., ou seja, as negociações finais para a aquisição do produto. 8. Revisão do desempenho: avaliação periódica do desempenho dos fornecedores habituais da empresa, por métodos internos e externos. Figura 25 – O comprador organizacional é o profissional encarregado de abastecer a empresa de insumos e produtos necessários para seu funcionamento. Em um pequeno negócio, ele pode ser o próprio dono e numa grande empresa ser um executivo com status de diretor Essas fases devem ser conhecidas por quem pretende fazer vendas para o mercado empresarial. Em cada uma delas pode aparecer pessoas desempenhando os diversos papéis de compra. Observe que são várias nuances a serem acompanhadas de perto. Como em qualquer tipo de venda ou de compra, é preciso observar alguns pontos importantes para entender o processo de decisão de compra, tentando concentrar seus esforços nos pontos mais frágeis e de difícil andamento. Primeiramente, é preciso identificar os interessados na compra. Quem quer o produto, quem vai usá‑lo, quem vai apenas comprá‑lo, quem vai interferir nessa compra, quem vai interferir no uso do produto, ou outras perguntas que ajudem na identificação. 79 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS As pessoas que têm interesse mais direto ou pessoal na compra exercem maior influência do que os outros na decisão. Assim, é preciso seguir o fluxo de informações, pois os que podem influenciar tendem a controlar a decisão de compras. Deve‑se conhecer e identificar os especialistas no assunto que, de fato, influenciam na decisão, além de rastrear as conexões e relações entre a direção, os centros de decisão propriamente ditos e os compradores. Deve‑se buscar entender o papel do setor de compras, área que vai sempre ter a predominância na decisão, principalmente nas situações de compras repetidas, rotineiras, que acontecem em virtude da experiência, do conhecimento e do relacionamento com os fornecedores. 3.7 Participantes do processo de compras empresariais Os decisores das compras empresariais são acompanhados de muitas outras pessoas que o influenciam. Assim como o comprador individual questiona, troca ideias com familiares e amigos para decidir uma compra, na empresa, esse número de pessoas envolvidas aumenta bastante. As pessoas que desempenham os diversos papéis num processo de compra empresarial deverão ter a atenção do vendedor e da empresa fornecedora. Muitas vezes, uma mesma pessoa alterna‑se nos diversos papéis, outras têm o mesmo papel. São chamados de centros de compra os diversos membros da empresa que participam da escolha de fornecedores, de produtos ou outras informações que ajudem na decisão de compra. Não se trata de um grupo formal ou de um departamento, mas de pessoas que se comunicam a respeito da compra.Podemos observar estes seis papéis no processo de compra empresarial, que podem ser exercidos por mais de um indivíduo, sendo possível ainda que uma única pessoa desempenhe mais de um deles (MOREIRA et al., 2004; KOTLER, 2000). 1. Iniciador: pessoa que tem a ideia de realizar a compra, que percebe a necessidade da solução. 2. Influenciador: pessoa (geralmente, são várias pessoas) que tem influência na escolha do produto e do fornecedor e afeta a decisão de compra, criando especificações para o produto; alguns deles detêm conhecimento técnico sobre o produto. Um técnico que define a quantidade de espaço que precisa ter determinadas áreas da memória nas redes de computadores afeta a escolha do tipo de memória a ser comprada. 3. Decisor: pessoa que decide a compra, o quê, como e onde comprar; tem conhecimento ou poder para aprovar e fazer uma seleção de compra. O mesmo técnico que pode apenas influenciar uma compra pode também decidi‑la por causa de seus conhecimentos específicos. Imagine um gerente de tecnologia dizendo que determinado computador ou acessório não tem durabilidade e bom funcionamento. Será que algum comprador vai querer bancar a compra desta marca? 4. Usuário: pessoa que consome ou usa o produto comprado; pode ser uma ou várias. A mesa do diretor é para um usuário, um programa de computador pode ter centenas, milhares de usuários. Em alguns casos, é o próprio iniciador do processo, e em outros não. Há uma requisição de 80 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II treinamento específico para uma área de tecnologia. Por exemplo, os operários serão os usuários finais da compra, mas quem identifica a necessidade de equipamento destes pode ser um diretor ou gerente de outra área que utiliza os serviços desses funcionários. 5. Guardião: pessoa que controla e centraliza o fluxo de informações sobre a compra. Podem ser especialistas técnicos, secretárias e compradores. São eles que acompanham e organizam as informações sobre a compra. 6. Comprador: pessoa que, efetivamente, realiza a compra, selecionando o fornecedor e negociando as condições. Em médias e grandes empresas geralmente existem áreas ou departamentos de compras segmentados por tipos de produtos. Nas pequenas empresas, o dono exerce essa função. Lembrete Pessoas especializadas em determinados assuntos adquirem grande importância nas compras empresariais. Conforme a complexidade da compra, os papéis que acabamos de descrever podem aparecer nas diversas fases do processo de compra e serem desempenhados por indivíduos diferentes. Pensemos na compra de um novo equipamento de segurança para uma empresa. O iniciador pode ser qualquer pessoa que observa um ponto fraco na segurança da empresa, uma recepcionista, um gerente de área, qualquer um. O influenciador poderia ser alguma pessoa ligada à diretoria de compras, um assistente, um funcionário administrativo ou um gerente de outra área. O decisor pode ser o diretor de compras e o comprador ou o chefe de compras. O usuário do sistema de segurança será a área de segurança e demais áreas que sofrerão mudanças com os novos equipamentos, como a recepção e os outros diversos setores. O guardião ou especialista pode ser alguém especializado no assunto de dentro da empresa ou um consultor externo contratado especificamente para isso, que detenha vastos conhecimentos sobre o tema, ou ainda a secretária da diretoria de área. Será que a esposa do presidente da empresa pode ser uma influenciadora da decisão de compra? Claro que sim. Ela pode dizer ao marido, numa conversa informal, que ouviu dizer que a marca X é muito boa para produtos de segurança. Quando a ordem de compra chegar para ser assinada, pode ser que ele se lembre disso. Ao contrário, se falar mal de alguma marca em algum momento para o marido, é provável que o presidente se lembre disso quando for assinar a ordem a ser executada. 3.8 Principais influências sobre os compradores empresariais Tudo o que pode influenciar as pessoas envolvidas na decisão, pode interferir no resultado de uma compra ou de uma venda. Os principais fatores de influência são os seguintes (CHURCHILL JR.; PETER, 2000): • Mercado ou ambientais: incluem os fatores econômicos como nível da demanda, custo do dinheiro (taxa de juros), perfil econômico da população; os fatores políticos, como política fiscal, dinheiro disponível, legislações específicas que tratam do produto ou de seus componentes, mudanças na 81 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS política, crise econômica, tecnologias obsoletas, inovação etc. • Culturais: alterações proporcionadas pelo ambiente em que as pessoas vivem. No mercado de consumo, as principais mudanças dos últimos tempos que alteram os produtos e o fornecimento deles ao mercado organizacional são: o culto à saúde e a beleza física; a informalidade no vestir; o uso da internet para compras e lazer; maior tempo para lazer; maior autonomia nas decisões de compra para crianças e adolescentes; maior participação nas decisões de compra de alguns produtos, como carro, imóveis e investimentos financeiros; intensificação do uso dos smartphones. Até pouquíssimo tempo, o lado do motorista dos carros não vinha equipado com espelho para maquiagem no quebra‑sol. A indústria demorou a perceber que as mulheres já dirigiam seus próprios carros e também o carro da família. No mundo empresarial, as principais mudanças culturais incluem o foco no próprio negócio, deixando de lado e terceirizando atividades que não sejam seu core business; a atuação em mercados globalizados, com acirrada concorrência interna e global em todos os mercados; a administração focada no cliente; a consciência da responsabilidade social da empresa que deixou de focar apenas a lucratividade, voltando‑se também para a governança corporativa, com administração transparente e informações disseminadas para evitar conflitos e crises. • Fatores organizacionais: referem‑se às questões internas que atrapalham os objetivos dos compradores serem alcançados, ou resultarem em uma compra errada, como políticas internas de pessoal, de pesquisa e desenvolvimento ou, ainda, procedimentos e processos que podem ser burocráticos demais, atrasando resultados de compras e afetando o poder de barganha e negociação dos fornecedores. Além disso, a posição ocupada na organização define a postura do profissional na hora em que ele influencia ou decide uma compra. Equipes diversificadas e multidisciplinares geralmente ajudam a tomar decisões melhores pela quantidade de variáveis envolvidas no processo. Assim, evitam, em alguns momentos, que o comprador tome decisões que se baseiem mais em critérios pessoais, que podem incluir interesse em ascensão profissional, medo de ser mal interpretado, riscos desnecessários para a empresa e até amizades pessoais com fornecedores. Reduzir esses possíveis direcionamentos é um bom caminho para áreas de compras maduras, bem como para os fornecedores ao atenderem empresas. • Fatores interpessoais ou sociais: todas as pessoas no centro de compras têm interesses, autoridade, status, empatia, prestígio do cargo, influência e poder de persuasão diferentes. Além disso, os próprios grupos de referência as influenciam: os formais e os informais, os primários e os secundários. A família e os grupos de amigos, da escola, do trabalho, do clube, do bairro em que moramos, são grupos informais e primários, pois não existem regras que os aproximem, a relação em si é o objetivo. Os grupos formais são representados pelos que se formam e precisam seguir regras de participação, como nas empresas, que têm objetivos comuns a serem alcançados, por issosão chamados de secundários. Nos grupos de influência secundários, figuram as associações esportivas e de lazer (informais). 82 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II • Fatores individuais ou pessoais: como todo ser humano, os participantes do processo de compra estão sujeitos às influências normais, como idade, instrução, situação econômica, cargo ocupado, estilo de decisão, personalidade, estilo de vida e autoconceito. Neste aspecto, o ciclo de vida familiar também influenciam nas decisões: se moram com os pais, se a família é unicelular (solteiros, divorciados e viúvos que moram sós), com um ou dois pais, famílias sem filhos, casados com filhos etc. • Fatores psicológicos: motivação, percepção, aprendizado, crenças e atitudes. Diversos autores procuram explicar os processos internos e psicológicos do comportamento do cliente. Todos concordam que a compra é motivada pela satisfação de uma necessidade que precisa ser satisfeita. Trata‑se de um desejo que deve ser atendido de forma específica, determinado pelas preferências ligadas ao autoconceito do comprador. A partir da motivação existe um freio representado pela personalidade, que somada à percepção que o indivíduo tem do produto, geralmente formada pela comunicação a que foi submetido ao longo da vida, cria atitudes positivas ou negativas, que formam suas preferências e levem‑no à decisão de compra e à ação de comprar. Imagine a seguinte situação: um profissional que trabalha com compras de produtos químicos que sabidamente são perigosos, cujo contato indevido ou de forma inapropriada podem levar à morte. Ele sofre um dilema pessoal muito grande para exercer seu trabalho, concorda? Que elementos ele leva em consideração para tomar suas decisões? Se o filho desse profissional fizer algum comentário sobre ter aprendido na escola que o produto x (este com o qual o profissional atua) faz mal à saúde e pode matar, como ele faz para trabalhar no outro dia? Essa história do produto químico nos faz pensar no quanto podemos ser influenciados pessoalmente. Imagine só o estrago que outras pessoas podem fazer quanto à decisão de compra de uma empresa, com vários envolvidos e muitas influências a serem dribladas para realizar a venda. 3.9 Principais forças em mercados organizacionais Se os compradores sofrem os vários tipos de influência apontados no tópico anterior, os mercados organizacionais também sofrem interferências em seu comportamento de compra, ou seja, as compras empresariais dependem de muitos fatores. Observe: • Demanda: eles compram o que precisam para ajudá‑los a produzir seus produtos para satisfazer necessidades de bens de seus clientes e assim obter lucros. Dessa forma, são altamente sujeitos às variações do ambiente de marketing (interno e externo). Se os consumidores finais estão com renda suficiente, comprando em abundância, as compras vão bem. O contrário diminui a produção e as compras. • Demanda derivada: as quantidades compradas variam de acordo com a demanda de seus consumidores (clientes). Não adianta uma montadora de veículos comprar bancos de couro para 100 mil veículos, se a demanda de seus compradores atingirá apenas 60 mil veículos. 83 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS De acordo com o princípio da aceleração, uma pequena mudança na demanda dos consumidores por um produto pode resultar numa grande mudança na demanda pelos bens e serviços necessários para a produção desse produto. Imagine que 50% da população pode comprar um frango a mais por mês. Para uma empresa que vende o frango vivo, essa expectativa de demanda deve gerar a compra de toneladas de ração a mais para criar as aves e a contratação de funcionários a mais para suprir a criação e os cuidados. • Concorrência: é claro que os concorrentes existentes e potenciais são sempre uma parte importante a ser analisada no ambiente de marketing. No caso das compras organizacionais, a concorrência afeta mais ainda o resultado, justamente por haver poucos compradores, pelas compras serem geralmente grandes e por cada cliente representar uma grande porcentagem do total de vendas. Por isso, não se deve correr riscos de perder o cliente, deve‑se estar sempre à frente, reconhecendo as oportunidades para aperfeiçoar os produtos, adequando‑os aos usos e às necessidades de seus clientes. 3.10 Análise dos fornecedores Se para as compras normais de uma casa as pessoas analisam muitos itens, como preço, qualidade, facilidade em encontrar o produto, confiabilidade na marca, entre outros, nas compras organizacionais, os compradores baseiam‑se em vários elementos que variam conforme a complexidade da compra. Se ele for comprar meia dúzia de canetas para alguns funcionários, seu critério deverá ser diferente de quando pretender adquirir 100 mil canetas para serem distribuídas como brindes durante o ano inteiro em eventos nos quais a empresa participará. 3.10.1 Critérios de compra São três os critérios que iremos abordar neste livro‑texto, os quais podem ser vistos a seguir: • Econômico: valores, preço levam em conta o prazo de retorno do investimento e a eficiência do produto a ser comprado. Um sistema de computadores que agilize o trabalho dos funcionários poderá ser o escolhido se, ao se fazer essas contas, observar‑se que ele reduz o tempo de execução de determinadas tarefas em uma hora por dia, por funcionário. Assim, investir em um produto caro pode significar economia ao longo do tempo. Trata‑se de uma análise de valor, em que se compara os custos de uma compra com os benefícios que se espera que ela proporcione. Por essa análise, a empresa pode decidir também por comprar, alugar ou fabricar determinado produto. • Qualidade: baixos estoques na operação de qualquer área têm sido condição de sobrevivência dos negócios. Por isso, saber o que os compradores precisam e a qualidade desejada por eles é essencial para se obter sucesso. Oferecer qualidade e serviços desejados não é um diferencial, mas uma exigência do mercado e uma obrigação de quem oferece produtos. Essa característica ajuda os compradores a manterem‑se fiéis por mais tempo ao fornecedor. Foi‑se o tempo em que oferecer um produto de qualidade era um diferencial. 84 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II • Análise da parte vendedora ou dos fornecedores: os compradores precisam determinar critérios para analisar seus fornecedores, de forma a constituírem regras claras e parâmetros aceitáveis para aceitar as ofertas. Pela análise da parte vendedora, classifica‑se cada fornecedor potencial com base em várias medidas de desempenho, como qualidade do produto, pontualidade de entrega, preço e condições de pagamento e uso de tecnologia de ponta. Definidos esses critérios, o comprador pode dispor de uma lista de fornecedores aprovados em cada área, o que facilita tanto a escolha quanto a exclusão, por afastar‑se dos parâmetros aceitáveis. Acompanhe o quadro a seguir, que mostra um formulário para análise de fornecedor apresentado por Churchill Jr. e Peter (2000): Quadro 2 – Análise dos fornecedores Nome do Fornecedor:______________________ Localização do Depósito:____________________ Tipo de Produto:______________________ Vendas Anuais:_______________________ 5 Excelente 4 Bom 3 Satisfatório 2 Razoável 1 Ruim 0 N/D Qualidade Taxa de defeitos _____ _____ _____ _____ _____ _____ Qualidade de amostra _____ _____ _____ _____ _____ _____ Conformidade com o programa de qualidade _____ _____ _____ _____ _____ _____ Responsabilidade por problemasde qualidade _____ _____ _____ _____ _____ _____ Qualidade geral _____ _____ _____ _____ _____ _____ Entrega (25%) Cuidado para evitar entregas atrasadas _____ _____ _____ _____ _____ _____ Condições de expandir a capacidade de produção _____ _____ _____ _____ _____ _____ Desempenho na entrega da amostra _____ _____ _____ _____ _____ _____ Resposta a mudança no tamanho do pedido _____ _____ _____ _____ _____ _____ Entrega geral _____ _____ _____ _____ _____ _____ Preço (20%) Competitividade do preço _____ _____ _____ _____ _____ _____ Condições do pagamento _____ _____ _____ _____ _____ _____ Absorção de custos _____ _____ _____ _____ _____ _____ Apresentação de planos de economia de custos _____ _____ _____ _____ _____ _____ Preço geral _____ _____ _____ _____ _____ _____ 85 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Tecnologia (10%) Componentes de alta tecnologia _____ _____ _____ _____ _____ _____ Capacidade compartilhada de pesquisa e desenvolvimento _____ _____ _____ _____ _____ _____ Capacidade e disposição de ajustar no projeto _____ _____ _____ _____ _____ _____ Responsabilidade por problemas de engenharia _____ _____ _____ _____ _____ _____ Tecnologia geral _____ _____ _____ _____ _____ _____ Comprador:______________________ Comentários:____________________ Data:____/____/____ Fonte: Churchill Jr. e Peter (2000, p. 190). Propomos agora a leitura de um texto do Sebrae, com o qual você perceberá como um cadastro bem feito pode ser importante para a área de vendas. Pesquisa e escolha de fornecedores A escolha dos fornecedores de matéria‑prima ou de produtos tem grande importância no planejamento da empresa. É preciso descobrir quem são, onde se localizam e quais são os mais adequados para o negócio que está sendo planejado. É recomendável a criação de um cadastro com mais de um fornecedor por produto, para que não haja a dependência de uma única empresa e o risco de desabastecimento. É importante lembrar que os fornecedores devem suprir as necessidades inerentes ao negócio, minimizando os estoques e atendendo suas solicitações nos prazos estabelecidos. Como o desempenho do fornecedor interfere diretamente na atividade da empresa, o ideal é que seja encarado como um “sócio” e, dessa forma, o relacionamento deve ser do tipo ganha‑ganha. “Espremer” o fornecedor não é uma boa estratégia de longo prazo, pois pode comprometer o relacionamento e a viabilidade de fornecimento. A parceria deve pressupor um alinhamento de objetivos e confiança e ser baseada em princípios de qualidade, excelência e responsabilidade, que devem ser negociados no estabelecimento da parceria. Fatores que devem ser analisados para a escolha de um fornecedor: • distância física; 86 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II • referências; • custo do frete; • qualidade; • capacidade de fornecimento; • preço; • prazo; • forma de pagamento e de entrega. Fonte: Sebrae ([s.d])e. 4 A VENDA INDUSTRIAL Para o mercado organizacional, os vendedores precisam reconhecer quem desempenha cada um dos papéis de compra de seus produtos – iniciador, influenciador, decisor, usuário, guardião e comprador. Ao encontrarem essas pessoas, elos da decisão de compra, devem se esforçar para construir relacionamentos com todas elas. Descobrir como funciona o centro de compra e descobrir qual o peso de cada um é importante para o sucesso da venda. Fabricantes de produtos complexos, que demandam muito conhecimento especializado para a decisão, sabem que devem dispor de técnicos e vendedores que consigam explicar adequadamente os diferenciais, os requisitos de seus produtos para as diversas áreas da empresa compradora. A linguagem deve ser adequada a cada um dos participantes. Na área técnica, esses profissionais devem convencer os envolvidos sobre as qualidades e os diferenciais específicos do produto. Na área financeira, o objetivo deve ser explicar diferenças de preços em função de qualidade e de custo‑benefício dos produtos. Ao comprador, cumpre provar que seu produto é o que reúne as especificações, com o melhor preço e prazo de entrega adequados; dessa forma, o discurso de venda deve ser adequado a todas as linhas decisórias e participantes da compra. Não só o discurso de venda, mas toda a comunicação da empresa deve ter o objetivo de atingir cada um desses integrantes. O processo de venda e de compra não fica restrito, portanto, ao vendedor e ao comprador. A complexidade do processo também envolve muitos departamentos e áreas. Uma compra nova envolve mais decisores do que uma recompra rotineira. Altos valores envolvidos sugerem aprovação de linhas gerenciais e de diretoria para realizar a compra, além do cumprimento das especificações técnicas. 87 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Saiba mais Veja o filme: AMOR e outras drogas. Dir. Edward Zwick. EUA: Stuber Productions; New Regency Pictures; Fox 2000 Pictures; Bedford Falls Productions, 2010. 112 minutos. Baseado no livro Hard sell: the evolution of a Viagra salesman, de Jamie Reidy, o filme apresenta um representante de laboratório farmacêutico aprendendo a reconhecer os papéis das pessoas na decisão de compra de seu produto, no caso, um remédio para depressão e depois um para impotência sexual. Vale assistir e compreender a percepção do vendedor e a adequação de seu discurso a cada um dos participantes da decisão. Cada uma das áreas tem determinada preocupação com a compra do produto. Se o departamento de finanças preocupa‑se em como fazer para pagar a compra, a área de compras preocupa‑se com a qualidade mínima aceitável para os produtos e com atender rapidamente as necessidades das diversas áreas da empresa. Assim, cada uma delas prioriza e dá atenção a cada ponto que é de seu interesse. Observe no quadro a seguir, fornecido por Churchill Jr. e Peter (2000), as principais preocupações das áreas citadas: Quadro 3 – Preocupações de compras para as diversas áreas da empresa Área funcional Principais preocupações na tomada de decisões de compra Engenharia de projeto e desenvolvimento Reputação do nome do fornecedor; capacidade do fornecedor para atender especificações do projeto. Produção Entrega e confiabilidade de compras de forma que a interrupção dos cronogramas de produção seja minimizada. Vendas/marketing Impacto dos itens comprados sobre o potencial de vendas dos produtos da empresa. Manutenção Grau em que os itens comprados são compatíveis com as instalações e equipamentos existentes; serviço de manutenção e arranjos de instalação oferecidos pelo fornecedor. Finanças/contabilidade Efeitos de compras sobre o fluxo de caixa, balanço financeiro e posições de demonstrativos de renda; variações nos custos de materiais acima das estimativas; viabilidade de fabricar ou fazer leasing em vez de comprar. Compras Obtenção do menor preço possível com níveis de qualidade aceitáveis; manutenção de boas relações com os fornecedores. Controle de qualidade Garantia de que os itens comprados satisfaçam as especificações e tolerâncias prescritas, as regulamentações governamentais e os requisitos do cliente. Fonte: Churchill Jr. e Peter (2000, p. 191). 88 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II 4.1 Segmentação dos mercados organizacionais Segmentar o mercado significa dividi‑lo para melhor atender cada um dos segmentos, ouseja, identificar cada um dos grupos que pretendemos atender com determinada oferta. Essa divisão do mercado organizacional é muito parecida com a que fazemos quando tratamos do mercado de consumo. A frequência de compras e os benefícios procurados servem tanto para consumidores individuais quanto para compras empresariais. Critérios como demografia e psicografia, no entanto, não ajudam muito para segmentar os tipos de compradores organizacionais. Vamos conhecer os critérios utilizados para segmentar o mercado empresarial, que podem ser diferentes conforme o tipo de empresa. A segmentação mais comum nos mercados business to business inclui (PALMER, 2006): • Tamanho da empresa: o porte da empresa determina o segmento, pois as encomendas também variam em função do seu tamanho. Pequenas empresas recorrem aos atacadistas para fazer suas compras, pois não têm poder para negociar com um grande fabricante; situação diferente das grandes redes de varejo, que além de comprar diretamente do fabricante, geralmente ditam as regras da negociação, dado o porte de suas compras. • Formalidade do processo de compra: a complexidade da compra e o número de envolvidos na decisão determina a facilidade e a formalidade para completar a compra. Assim, órgãos governamentais, muito burocráticos e lentos em suas decisões enquadram‑se nesse grupo, bem como grandes empresas em que a decisão é demorada. Empresas que conseguem delegar a função de compras por algum critério, regionalmente, por exemplo, fábricas locais, escritórios regionais, facilitam o processo e a formalidade da compra. • Setor de atividade – segmentar por setores de atividades é uma forma interessante de fazer essa divisão. Uma empresa que fornece roupas de cama, por exemplo, pode dividir seus clientes em alguns subsetores como hospitais particulares, hospitais do governo, clínicas particulares, hotéis de luxo, hotéis executivos, hotéis simples etc. Essas divisões visam a atender necessidades de nichos específicos, que são diferentes e, por isso, devem ser tratadas de modo diferente. Considera‑se, nesse caso, os comportamentos de compra de cada cliente. O varejista pequeno compra de forma diferente e em quantidades diferentes do grande varejista, assim como os atacadistas e distribuidores. Atender cada um dos segmentos da melhor forma, provendo negociações satisfatórias e baseadas nas quantidades atendidas, exige equipes dedicadas. Kotler (2000) reconhece outras duas formas para segmentar o mercado empresarial. • Segmentação geográfica: leva em consideração a proximidade física das empresas às quais se pretende atender. Uma empresa que fabrique fios para tecelagem e lã, pode segmentar seus clientes por polos regionais da indústria têxtil, em cada um dos estados brasileiros. 89 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS • Segmentação por comportamento: os diversos hábitos de compras podem servir aos fornecedores como critério para segmentar sua clientela. Pode ser pela lealdade à marca, pelo tamanho do pedido médio, pela periodicidade de compras, pelo uso que fazem do produto etc. A segmentação do mercado empresarial poderá ser encontrada com outros nomes em diversos autores, mas o fundamental é que você compreenda que a divisão do mercado é feita para melhor atender e satisfazer as necessidades desses clientes tão especiais que compram muito dos fornecedores. Será que há diferença entre vender um livro para uma pequena livraria, que comprará, suponhamos, no máximo dez exemplares, e para uma escola particular, que comprará 500 livros para revender aos seus alunos, ou ao governo federal, que comprará 10 milhões de unidades para atender aos alunos da rede pública no Brasil inteiro? Certamente, com cada um dos compradores a negociação será bem diferente, assim como os preços e as condições de entrega e de prazo de pagamento. Figura 26 – A segmentação das empresas é importante no processo de vendas industriais, pois o fornecedor consegue atender melhor às necessidades de cada tipo de empresa 4.2 Os quatro Ps do B to B Para abordar os quatro Ps do marketing industrial, temos de levar em conta uma série de fatores. O P de produto representa o bem ou serviço, a oferta que é feita ao cliente empresarial, governamental ou de outras entidades. É preciso observar que esse produto deve ter qualidade, excelência em serviços aos clientes, como valor agregado, o que hoje é de suma importância, pois os consumidores têm cada vez mais informações e também muitas opções na concorrência. Dessa forma, a qualidade e os serviços oferecidos como extra, excedentes ou agregados devem seguir o que pede o cliente. Atendê‑lo em suas necessidades é a diferença em mantê‑lo ou perdê‑lo para a concorrência. Pesquisas junto aos clientes ajudam a entender como satisfazê‑los antes que sejam solicitadas mudanças, uma forma de antecipar‑se ao que o cliente precisa. Daí a importância de áreas específicas e preparadas para atendê‑los em todas as fases da compra: antes, durante e após a venda. 90 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Quando falamos em preço, o ponto de interesse é a negociação de valores, vantagens, custos, benefícios, prazos e seus valores agregados. Não cabe a uma compra empresarial uma pechincha apenas por preço mais baixo, como acontece com o mercado consumidor, que prioriza a elasticidade dos preços e busca outros fornecedores por essa razão. Vale a compreensão sobre o que ela ganhará a mais em termos de suporte ao produto, de melhores condições para consertos e assistência técnica, por exemplo. Além disso, os compradores B to B são muito bem informados, dispõem de recursos mais racionais do que emocionais quando se trata de preço, pois devem dar satisfação a outros na empresa. Dependendo da exigência para o produto ou serviço, esses compradores têm poucas opções de fornecedores, por isso o caminho da negociação será sempre o melhor. A distribuição e a logística, que incluem a forma como o produto deve ser entregue e instalado no cliente, a localização do atendimento, bem como as instalações da empresa, são estudadas pelo P, de praça (distribuição). O atendimento e a entrega são feitos na empresa compradora, sob suas condições. Quanto à comunicação, a principal ferramenta utilizada em marketing industrial é a venda direta feita por equipes ou por vendedores e representantes. Esse atendimento específico faz com que os fornecedores fiquem menos dependentes dos grandes distribuidores, sendo favorecidos pela força de vendas empregada. Investimentos em treinamentos e técnicas de negociação precisam ser constantes para que essas equipes atinjam o objetivo desejado. Agora que já conhecemos toda a complexidade das compras industriais, que envolve muitos fatores e pessoas, vamos refletir sobre a relação entre preço e promoção nas decisões de compras industriais, em cada um dos tipos de compras que as empresas precisam fazer: instalações, equipamentos acessórios, peças e materiais componentes, matéria‑prima, suprimentos e serviços empresariais (CHURCHILL JR.; PETER, 2000). Na decisão de compra de instalações, compra complexa, grande, esporádica e demorada, com muitos membros envolvidos na decisão, o preço não tem tanta importância e a melhor forma de chegar ao cliente é por meio do vendedor, das vendas pessoais. Estamos falando, por exemplo, de prédios e grandes equipamentos. No caso de um equipamento acessório, uma compra menos demorada e menos complexa, com menos pessoas envolvidas na decisão, o preço começa a ficar importante para a negociação e chega‑se até o cliente por meio da propaganda. A compra de peças e materiais componentes, menos complexae frequente, também envolve muitas pessoas na decisão, o preço é importante e a promoção é feita por meio de propaganda. As matérias‑primas são compradas frequentemente e a complexidade varia conforme o que se busca. O preço é muito importante e as vendas pessoais também são a maneira mais eficaz de chegar ao cliente. Os suprimentos são compras simples e frequentes, envolvendo apenas um único comprador, o preço é importante e a propaganda é utilizada. 91 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Os serviços empresariais apresentam variação em todos os itens, podendo ser complexos ou não, o preço pode ser muito importante para a decisão de compra, como não ser nada importante, varia‑se também a forma como se chega ao cliente, por meio da propaganda ou por meio de vendas pessoais. Imagine a contratação de um plano de saúde para os funcionários. Parece mais caro e complexo do que a contratação de uma manicure para agradar às funcionárias no dia das mães, por exemplo, uma decisão bem mais simples e menos cara, na qual o preço não vai importar muito. 4.3 Singularidades da comunicação em B to B As ações de comunicação, como propaganda em televisão, jornais, revistas, rádios, internet, marketing direto (por meio de e‑mail marketing) e participação em feiras de negócios, anunciam o produto para o mercado, mas não provocam a venda, como ocorre no mercado de consumo, que imediatamente leva o consumidor ao ponto de venda para realizar a compra. No mercado empresarial é preciso que o comprador entre em contato com a empresa para que esta inicie a negociação por meio de um vendedor ou de um representante. Por essa razão, a figura do vendedor ou da equipe de vendas é das mais importantes ferramentas de comunicação para o marketing empresarial. O sucesso das vendas depende da habilidade dessa pessoa ou dessas pessoas em captar e entender a necessidade do cliente, oferecendo as soluções corretas para atender as necessidades e expectativas dele. A Microsoft fez da propaganda um meio para melhorar e facilitar o contato da empresa com o cliente. A ação ajudou a empresa a estar o mais próximo possível do cliente ou do decisor de compras nas empresas. Ela convidou consumidores para avaliar os seus gastos, investimentos em tecnologia, e refletir se ela estava agindo da maneira correta e rentável. Para isso, a companhia valeu‑se de uma campanha publicitária em que trabalhou o conceito “Descubra”, com foco no público empresarial, sob o objetivo de apresentar as soluções e ferramentas oferecidas pela Microsoft para otimizar o cotidiano do universo corporativo. O treinamento da equipe de vendas é fundamental para conseguir compreender o problema do cliente, desenvolver um bom trabalho de argumentação, persuasão e convencimento. O vendedor ou a equipe de vendas é responsável pela confiança adquirida pelo cliente na companhia, pois a representa. Esse profissional também se responsabiliza pelo feedback de informações sobre os clientes e os mercados, compondo os dados do Sistema de Informação de Marketing (SIM), o que facilita a rápida tomada de decisão das áreas de interesse. Acompanhe o caso da 3M e da Drogaria São Paulo. QlikView fortalece vendas da 3M do Brasil e da Drogaria São Paulo Com a implantação do Data Cloud QlikView, a Drogaria São Paulo, [...] cortou pela raiz a possibilidade de qualquer decisão da empresa ser tomada com base em palpite. O fator humano não saiu de cena, pelo contrário, a força de vendas ganhou um forte empurrão, uma tecnologia de análise associativa fácil de usar, implementar e gerenciar. Outra empresa usuária, a 3M do Brasil, também virou case de sucesso e conseguiu manter sua área comercial centrada em sua atividade principal: vender. [...] 92 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II De acordo com Sandro Vidal, especialista pleno de Sistemas de Informação da 3M do Brasil, o fundamental é usar como parâmetro informações realmente importantes para a força de vendas. “Só desse jeito é que agregamos em suas atividades diárias. Os profissionais não podem perder tempo desvendando relatórios. Nosso primeiro passo foi aumentar a capacidade de entrada de pedidos e depois implementar o QlikView com a proposta de ganhar em análise.” [...] O QlikView mostra detalhes da performance de cada integrante da equipe. Os seus recursos de colaboração abrangem a variedade grande de métricas da 3M do Brasil para mensurar as vendas de produtos tão diferentes entre si (de lembrete até esponja de lavar louça). Fonte: Qlikview... (2008). Saiba mais Conheça o caso completo do QlikView, ferramenta de tecnologia da informação que facilitou a vida da área de vendas de empresas: TECNOLOGIA enxerga oportunidades de vendas para Drogaria São Paulo e 3M do Brasil. Portal Fator Brasil, 25 nov. 2011. Disponível em: <https:// www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=182074>. Acesso em: 28 jul. 2017. Como vimos, é preciso ter um bom trabalho persuasivo para alavancar as vendas, e, para isso, treinar a equipe de vendas é fundamental, pois ela é o principal elo com o cliente, capaz de conseguir compreender seus problemas e conquistar sua confiança. Para alcançar esse objetivo, existem casos em que a comunicação é mais personalizada e há pouco uso de mídia de massa; em outros casos, há também preferência pelo marketing de relacionamento para se comunicar com cada um dos elementos que ocupam determinado papel na decisão da compra empresarial. Além da força de vendas, pela sua importância e atuação decisiva no processo de vendas industriais, o objetivo é informar, criar imagem favorável, encontrar e manter o contato personalizado e fidelizar o cliente, por meio de malas‑diretas via internet (e‑mail marketing), bem como com anúncios institucionais em revistas especializadas. O uso das ferramentas de CRM (Customer Relationship Management – Gerenciamento de Relacionamento com Clientes) é bom para manter esse contato e formar um banco de dados com informações pertinentes e que facilitem a aproximação e o contato com os envolvidos. Quando chegou à região Nordeste, a LocawebCorp elaborou uma lista de 120 prospects, possíveis clientes ideais para a empresa, pelo porte e pela necessidade de serviços sofisticados. A agência enviou uma mala direta especial: um impactante contêiner azul, fechado com cadeado. Para obter o segredo, o cliente deveria assistir a um vídeo em 3D, que usava a realidade aumentada em mobile, tecnologia ainda 93 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS pouco utilizada, e que trouxe uma experiência diferente aos clientes. Dos 120, 40 ligaram para marcar uma apresentação. Saiba mais Conheça outros casos de sucesso em marketing industrial no site da Associação Brasileira de Marketing Direto (ABEMD), que tem premiação anual para os associados. O site traz muitas informações sobre como fazer marketing direto com ética e seguindo os preceitos legais. Ele está disponível em: <http://abemd.org.br/>. A assessoria de imprensa pode ser utilizada para gerar interesse dos veículos especializados em divulgar os produtos em matérias interessantes, que serão lidas por formadores de opinião e decisores de compras empresariais. Outras ações de Relações Públicas são bem‑vindas, como a participação em feiras de negócios do setor, em seminários e em workshops, tanto expondo como apresentando palestras e trabalhos por alguém da empresa que domine determinado assunto. Figura 27 – A busca por novas formas de se comunicar com o cliente trouxeinovação e novidades como a realidade aumentada à internet e aos smartphones 4.3.1 Internet e redes sociais As redes sociais também têm ganhado a preferência das empresas para conversar com os clientes e estreitar o relacionamento com os possíveis compradores. Mais utilizadas para produtos de consumo, as redes podem ser usadas de forma adequada quando há um conhecimento das pessoas e das funções que exercem no processo de compra. 94 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Estratégias que incluem participação ativa no Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn e Youtube, entre outras, visam a aproximar a marca dos consumidores, criando vínculos emocionais e relacionamentos de longo prazo. O uso massificado dessas redes eleva a sua importância como mídia para aproximação com clientes em geral. As redes sociais são os canais usados para estreitar o relacionamento com os consumidores. As pessoas se manifestam, demonstram opiniões, expressam satisfação e insatisfação e ainda apresentam livremente sugestões. Por meio delas, as empresas podem coletar importante material acerca da satisfação de seus clientes. E nelas estão as pessoas que vendem os produtos e as que os compram. Podemos dizer que um percentual alto das compras é influenciado pela internet e pelas redes sociais, ficando de fora desse percentual apenas os que não acessam a internet. Dessa forma, compartilhar e manifestar interesses comuns é importante também para as empresas que vendem apenas para outras empresas. Ao conseguir sintonizar seus públicos e descobrir onde se encontra a empresa, é possível utilizar‑se das ferramentas do marketing digital e das redes sociais para atrair novos clientes, aumentar a visibilidade da empresa e criar novos negócios. Além das redes que são mais conhecidas, como o Facebook, Twitter, LinkedIn, Pinterest, Instagram, YouTube, Snapchat e Whatsapp, existe uma infinidade de redes sociais especializadas em muitos temas. A empresa precisa ter alguém responsável por fazer varreduras na internet na busca de redes sociais e de sites onde supostamente estejam seu público‑alvo para fazer as ações necessárias. As páginas da empresa na internet e nas redes sociais também precisam ser movimentadas com conteúdo relevante e de qualidade para que se tornem uma referência para o público‑alvo, e, assim, para que as pessoas passem a procurá‑las para obter mais informações. Entendem‑se como ações necessárias, o marketing de conteúdo e os oferecimento de material de qualidade e relevante para os clientes. Se sua empresa fabrica facas para cortes especiais em carnes ou peixes, e seus clientes principais são os restaurantes, que tal preparar matérias interessantes para serem divulgadas nas redes sociais sobre como fazer os diversos cortes em carne bovina, suína, frango, peixes? Exemplo de aplicação Visite agora as páginas nas redes sociais de alguma empresa que tenha seus negócios voltados para as vendas industriais. Observe se ela está utilizando ferramentas importantes para manter a presença digital, como o relacionamento e o oferecimento de conteúdo de qualidade para seus clientes. Será que as empresas estão aproveitando todas as oportunidades que a internet oferece? 4.4 Serviços aos clientes em marketing industrial Cada vez mais o relacionamento de longo prazo entre as partes adquire importância no processo de venda industrial. Sendo assim, a venda, bem como os serviços, não começa na pré‑venda e acaba no pós‑venda, mas nutre um relacionamento que perdura pelo tempo que se conseguir ou interessar mantê‑lo ativo. 95 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Vamos entender os serviços‑produtos intangíveis, de serviços aos clientes prestados pelos fornecedores, uma ferramenta muito importante e que deve estar atrelada ao conjunto de situações atribuídas ao marketing B to B: Serviço ao cliente é uma atitude de marketing traduzida por um conjunto de ações mercadológicas de responsabilidade do fabricante, visando posicionar o bem tangível ou intangível num ambiente de segurança e confiabilidade, capaz de garantir benefícios ampliados aos clientes, geradores e mantenedores da lealdade à marca (MOREIRA, 1989, p. 144). Os serviços adicionados são competitivos importantes. Eles são únicos e diferenciados, agregam valor ao produto, além de permitir margens de lucro maiores, pelo reconhecimento e pela valorização do comprador. Favorecem, dessa forma, um vínculo mais íntimo e duradouro com os clientes. A ocorrência de uma venda industrial concentra esforços diferenciados em cada uma de suas etapas, do pedido à entrega. Chegam a 80% na fase de pré‑venda, a 15% na venda propriamente dita e a 5% na fase pós‑venda. Quando se considera os serviços aos clientes em marketing industrial, esses números se alteram para 50% na pré‑venda e 25% tanto na venda como na pós‑venda. Podemos dizer que a utilização dos serviços ao cliente é um fator que facilita as vendas (MOREIRA, 1989). Outro fator a se considerar é que toda empresa perde clientes por diversas razões, mas pelo menos 70% dos clientes deixam de comprar por descontentamento com o atendimento da empresa. Alguns dos motivos pelos quais as empresas perdem clientes são (CANADIAN MANAGEMENT ASSOCIATION apud MOREIRA, 2004): • 1% por morte. • 3% por mudança de atividade. • 5% por amizades comerciais. • 9% por melhores vantagens na concorrência (inclusive preço). • 14% por insatisfação com os produtos. • 68% pela atitude de indiferença dos funcionários do fornecedor em seus diversos níveis. Segundo Moreira et al. (2004), serviços diferenciados têm bastante importância para o marketing industrial, que sugere alguns deles em cada uma das fases da venda. Durante a fase de pré‑venda: • follow‑up de pedido (serviço auxiliar básico); • assessoria técnica e comercial (administrativo e de assessoria); 96 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II • assessoria legal (administrativo e de assessoria); • assessoria em financiamentos (administrativo e de assessoria). Durante a venda propriamente dita: • processamento de pedidos (serviço auxiliar básico); • follow‑up de pedido (serviço auxiliar básico); • serviços de transporte (serviço auxiliar básico); • controle de entregas (serviço auxiliar básico); • assessoria técnica e comercial (administrativo e de assessoria); • assessoria legal (administrativo e de assessoria); • propaganda cooperada (comunicação). Durante a fase de pós‑venda: • follow‑up de pedido (serviço auxiliar básico); • serviços de transporte (serviço auxiliar básico); • assessoria técnica e comercial (administrativo e de assessoria); • assessoria legal (administrativo e de assessoria); • propaganda cooperada (comunicação); • jornais de clientes (comunicação); • oficina de assistência técnica (AT); • almoxarifado de peças para assistência técnica (AT); • vendas de peças de reposição (serviço de peça de reposição). Por isso, o marketing de relacionamento é a forma mais comum de suprimento em mercados industriais em que há muitos concorrentes competindo não apenas nas dimensões de preço. Os clientes satisfeitos permanecem fiéis e voltam a comprar sempre e mais, além de falar bem da empresa e de seus produtos, sem se preocupar ou dar atenção à concorrência, sendo menos sensíveis a preço e 97 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS dando sugestões e informações importantes ao fornecedor.Para gerir esse relacionamento, como já considerado anteriormente, é preciso o investimento em bons programas de CRM (Customer relationship management – Gerenciamento de relacionamento com clientes) para integrar as várias atividades entre diversas unidades e gerências do fornecedor com as diferentes unidades ou seções da empresa cliente. A interação entre compradores e fornecedores torna o marketing industrial e corporativo muito mais voltado para a solução de problemas. Como tudo em marketing, o cliente não compra produtos, mas os benefícios que eles trazem, ou seja, soluções para seus problemas. 4.5 Questões éticas entre compradores e vendedores: relações perigosas Assim como no meio político, oferecer presentes, vantagens e facilidades em troca de favores, o pagamento de ofertas aos compradores, com a finalidade de ajudá‑los na tomada de decisão (pela empresa ofertante), são bem conhecidos no meio empresarial. Essa prática, contudo, não é bem vista no mercado, e as empresas precisam traçar parâmetros aceitáveis e éticos para a prática. Algumas proíbem os funcionários receberem qualquer presente como oferta de fornecedores, outras estipulam valores limite para isso. Por outro lado, algumas aplicam treinamentos e cursos para seus funcionários, dada a complexidade do produto que compram. Quem vende precisa conhecer as regras e cumpri‑las para evitar constrangimentos e punições aos funcionários da empresa. Tomar decisões com base em presentes recebidos levanta questões éticas na empresa, podendo ser considerado como suborno, o que não é uma atitude ética. Alguns países aceitam essa prática e até concedem descontos em impostos às empresas que a utilizam. O perigo é deixar de analisar o fornecedor, ficando refém de presentes e premiações ofertados por ele. Os procedimentos vão se enraizando e tornando‑se uma praga, à semelhança dos casos de nossa política. Ser leal a um fornecedor traz vantagens e desvantagens, independente de ele oferecer facilidades e dinheiro indevido aos funcionários e à empresa. Sendo leal, o comprador se acostuma e confia no fornecedor, o que gera melhor comunicação e relacionamento com ele, e pode trazer produtos melhor adaptados às suas necessidades, além de ter a preferência no fornecimento em momentos de escassez de produtos. Como desvantagem, esse costume gera compras repetidas sem novas análises, que causam a perda de oportunidades em preços, entregas e produtos diferenciados, pela falta da busca de informações por parte do comprador. Mais um ponto tratado como questão ética ou falta dela são os acordos entre empresas que combinam de comprar apenas uma da outra. Isso é chamado de reciprocidade e pode ser considerado como restrição ao livre comércio, uma vez que fica difícil comprovar haver vantagem de preço ou de qualidade. Esses acordos são feitos para elevar vendas e dificilmente envolverão produtos com a melhor qualidade e melhores preços, ferindo certamente as regras internas da empresa e a livre concorrência. Para coibir esses desvios de conduta, as empresas têm estruturado e colocado em prática códigos de ética que ditam os comportamentos esperados de seus funcionários, bem como as melhores atitudes a serem adotadas em diversos casos, que poderiam causar dúvida quanto ao que fazer. Algumas perguntinhas simples enquadram qualquer pessoa num comportamento mais ético. São elas: se alguém 98 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II me visse fazendo isso, eu ficaria envergonhado? Se meu filho ou minha mãe soubesse disso, tudo bem? E se esse meu comportamento saísse no jornal? Se a resposta for negativa, em teoria, não se está incorrendo em falta de ética. Resumo Nesta unidade, você aprendeu as diferenças e especificidades que precisam ser observadas quando tratamos de marketing industrial, organizacional, corporativo ou B to B. O produto é diferente, assim como o cliente e a forma de comprar. Os mercados envolvidos englobam as empresas, o comércio, os governos e as instituições em geral. O marketing industrial utiliza as ferramentas de marketing, adaptando‑as para ter um bom resultado. Se os produtos de consumo são vendidos aos milhões para muitos compradores, no marketing industrial a venda de poucos produtos é responsável pelo faturamento total da empresa. Conhecemos as diferenças para vender a esse tipo de cliente, que envolve muito mais pessoas na decisão, chegando até a ter áreas inteiras para analisar essas compras. Além disso, vimos que as influências pessoais dos envolvidos precisam ser confrontadas e superadas. São estes os grandes desafios para quem pretende atuar nessa área. Foram tratados os 4 Ps no marketing B to B e as formas de atuar no gerenciamento deles para conseguir o melhor resultado. Se para produtos de consumo a comunicação de massa ajuda bastante, para o marketing industrial ela representa altos investimentos com resultados pífios. Compreendemos também a importância dos serviços ao cliente e a oferta de assistência técnica continuada como parte do produto e também da criação do relacionamento de longo prazo para esses clientes tão especiais, apresentando a internet e as redes sociais como um diferencial competitivo para as empresas que as utilizam como forma de comunicação pelo marketing digital. Por fim, foram pinceladas algumas questões éticas relacionadas à área de compras empresariais, vilã da corrupção em alguns setores e empresas. A oferta de presentes, favores ou pagamento de ofertas de clientes deve ser coibida e controlada duramente pela direção das empresas que pretendem permanecer no mercado, sendo reconhecidas como éticas e responsáveis socialmente. 99 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Exercícios Questão 1. “A orientação ao cliente está no centro do conceito de marketing. Como profissionais da área, nos é exigido que entendamos nossos clientes e construamos nossas organizações em volta deles. Esse requisito é particularmente importante para serviços que, em muitas ocasiões, ainda tendem a ser operações dominadas pelo cliente em vez de orientadas para ele” (HOFFMAN et al., 2009, p. 94). Essa citação vem ao encontro do que você estudou nesta disciplina. Assinale a alternativa que não se adéqua a essa afirmação. A) Nos dias de hoje, uma das tarefas mais importantes do gestor de marketing é entender as necessidades dos clientes, seja no que diz respeito ao problema que o serviço vai solucionar, seja nas suas necessidades de custos, prazo e qualidade. B) O cliente, principalmente o industrial, tem foco voltado apenas para o custo, uma vez que seu desempenho é medido pela melhor administração das verbas destinadas às compras. C) Os vendedores que atuam no mercado organizacional devem entender o processo de compra do cliente e imprimir esforços para a construção de relacionamentos, o que se traduz no atendimento eficaz de todas as suas necessidades. D) O reconhecimento do critério econômico (um dos critérios que orientam as compras) deve ser entendido, pois leva à organização vendedora o prazo de retorno do investimento e também a eficiência do serviço a ser contratado. E) As organizações que desejam ganhar e manter mercados necessitam saber como os clientes estabelecem seus processos de decisão de compras e como avaliam os serviços contratados. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: tanto clientes finais (consumidores) como os clientes organizacionais têm à sua disposição, em maior ou menor escala, opções de serviços e produtos. Ao invés de a clientela determinar o que deve ser feito, e a empresa agir de formareativa, esta deve entender a operação do cliente e antecipar‑se na solução dos problemas. Isso é conhecê‑lo: o que ele precisa, como opera e o que espera. B) Alternativa incorreta. 100 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 Unidade II Justificativa: nas empresas, os compradores organizacionais sofrem influências ambientais, organizacionais, interpessoais e individuais que podem alterar o processo de compra. Nem sempre o custo é o determinante de uma decisão. A qualidade, a adequação do serviço, os prazos etc. são questões importantes para o fechamento do negócio. C) Alternativa correta. Justificativa: conhecer o cliente implica em conhecer os envolvidos na decisão, ou seja, verificar quem são os principais participantes do processo de decisão, em quais decisões e em que graus eles exercem influência, bem como os critérios de avaliação de cada um desses participantes. D) Alternativa correta. Justificativa: o critério econômico é provavelmente o mais importante e observado, considera o prazo de retorno do investimento e a eficiência do serviço ou produto. Nem sempre as empresas decidem pelo menor custo. Há situações em que um produto ou serviço mais caro pode representar, ao longo do tempo, o alcance de economia em alguma parte do processo importante da empresa, em função da eficiência proporcionada (menos perdas de material, maior garantia etc.). E) Alternativa correta. Justificativa: o processo de aquisição de produtos ou contratação de serviços não se restringe ao departamento de compras. Ao contrário, sofre influências de diversos setores da empresa, sendo, portanto, complexo. Requer conhecimento por parte da empresa fornecedora, tanto do fluxo da decisão como também sobre as políticas dessa decisão. Questão 2. A comunicação voltada para o consumidor final pode valer‑se da combinação de todas as ferramentas do composto de comunicação: propaganda, publicidade/relações públicas, promoção de vendas, vendas pessoais e marketing direto. Já no marketing industrial ou B to B, o uso do marketing de relacionamento, da publicidade e, principalmente, das vendas pessoais são mais indicadas. Isso ocorre porque: I – No marketing industrial, ou B to B, a decisão pela compra de um produto é basicamente de ordem pessoal e cabe à propaganda, por exemplo, mostrar diferenciais do produto de forma a convencer o consumidor a optar por determinada marca. II – As vendas industriais, por serem mais complexas e muitas vezes dirigidas para a aquisição de matérias‑primas e insumos, dependem de diversos critérios, como o econômico, o de qualidade e, ainda, o da avaliação do processo do fornecedor, o que envolve prazos, garantias etc. III – No B to B, o marketing de relacionamento é uma estratégia que visa a desenvolver a aproximação entre fornecedor e cliente, gerando benefícios e ganhos para ambos, tanto no que diz respeito ao cumprimento das especificações técnicas do produto como à lucratividade esperada no negócio. 101 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 16 /0 8/ 20 17 GERENCIAMENTO DE PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS Assinale a alternativa correta. A) As afirmativas I, II e III são verdadeiras. B) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. C) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras. D) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras. E) Apenas a afirmativa I é verdadeira. Resolução desta questão na plataforma.