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Crítica textual e fontes históricas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE ARTES E LETRAS
CURSO DE LETRAS BACHARELADO
DISCIPLINA: PORTUGUÊS HISTÓRICO
NOME: Laura Ferrarini
DATA: 30/05/2021
ESTUDO DIRIGIDO – Introdução à Crítica Textual, de César N. CAMBRAIA (2005)
Leia os capítulos 1, 3 e 4 do livro de Cambraia (2005) e responda às questões a seguir. Poste o arquivo na atividade do Moodle até a data marcada.
Capítulo 1
1) Quais tipos de modificações que um documento pode sofrer?
Conforme são transmitidos, os textos podem sofrer modificações que podem ser distribuídas em exógenas e endógenas.
As modificações exógenas derivam da corrupção do material utilizado para o registro do texto, seja ele a matéria subjetiva (como o papel) ou a matéria aparente (tinta, grafite, etc). Essa corrupção pode se dar por vários motivos — condições naturais, como umidade e o calor, ou até mesmo vandalismo.
As modificações endógenas, por outro lado, ocorrem no ato de reprodução do texto em si, da realização da sua cópia em um novo suporte material. Nesta categoria, há outras duas: autorais e não-autorais. Enquanto as autorais são realizadas pelo próprio autor da obra, as não-autorais ocorrem sem o consentimento ou o conhecimento do autor — e podem ainda ser voluntárias ou involuntárias. As voluntárias são realizadas deliberadamente por quem reproduz o texto, por quaisquer que sejam os motivos; as involuntárias são o que chamamos de erro de cópia.
2) Dê exemplos de modificações exógenas.
Dois casos em que ocorreram modificações exógenas são em Pergaminho Vindel e em Pergaminho Sharrer. 
Em 1914, Pedro Vindel anunciou a descoberta de um pergaminho contendo o texto das sete cantigas de amigo atribuídas ao trovador medieval Martin Codax e a partitura de seis delas. Esse pergaminho servia até então de forro a um códice do século XIV, contendo uma cópia do De Officiis de Cícero. O pergaminho tornou possível, pela primeira vez, conhecer a música de cantigas de amigo, pois até então só se conhecia a música de cantigas galego-portuguesas de caráter religioso. Os furos que existiam no pergaminho não impediram de todo o conhecimento do texto das cantigas pois elas também estavam registradas no Cancioneiro da Biblioteca Nacional e no Cancioneiro da Vaticana, mas o conhecimento da música não escapou à necessidade de conjecturas, pois um dos furos encontra-se na parte final de duas pautas da terceira cantiga. Outro furo também eliminou parte da quinta cantiga. 
Décadas depois, uma história semelhante aconteceu. Em 1991, Harvey Sharrer descobriu um pergaminho que possuía não somente o texto de sete cantigas de amor de autoria do rei D. Dinis, mas também sua partitura. Esse pergaminho fazia parte da capa de um livro do Cartório Notarial de Lisboa copiado em 1571 e revelou pela primeira vez a música de cantigas de amor. Também no caso das cantigas de D. Dinis, o conhecimento do texto dessas composições líricas que se tem atualmente é menos lacunoso do que seria se contassem apenas do referido pergaminho (mais fragmentado que o localizado por Vindel), pois elas encontram-se registradas no Cancioneiro da Biblioteca Nacional e no Cancioneiro da Vaticana. De maneira igual, porém, a restituição das notações musicais demandou conjecturas.
Em ambos os casos os estragos no pergaminho impediram a continuidade da transmissão das notações musicais em sua integridade. No que se refere aos textos, embora haja outros registros, ainda pode-se considerar existir uma perda, pois, do ponto de vista de autoridade, os dois pergaminhos, por serem os registros mais antigos, têm mais valor no processo de restituição da forma genuína dos textos do que os dois cancioneiros citados.
3) Dê exemplos de modificações endógenas.
Um exemplo de modificação endógena autoral é o que aconteceu com Os Sertões, de Euclides da Cunha. Segundo esclarece Walnice Galvão, a obra foi publicada pela primeira vez em 1902 pela editora Laemmert e reeditada em 1903 e 1905. Porém, apenas após publicada a quarta edição, em 1911, já sob a responsabilidade da editora Francisco Alves, que se descobriu um exemplar da terceira edição com emendas do próprio autor, que foram integradas ao texto apenas a partir da quinta edição, saída em 1914. Galvão, após comparar as três primeiras edições e o exemplar com reprodução apógrafa das emendas euclidianas, apurou a existência de cerca de 6.000 variantes. 
Para as modificações endógenas não-autorais, um exemplo é a primeira edição que Augusto Magne fez do texto medieval português da Demanda do Santo Graal em 1944. Por achar que certas passagens do texto poderiam chocar o público, o editor as suprimiu do corpo do texto e transferiu para uma seção final intitulada aditamento. Mais tarde, tendo sido criticado pela censura, Magne preparou uma segunda edição, em que recolocou todas as passagens em seu devido lugar e incluiu reprodução fac-similar do manuscrito para evidenciar sua fidelidade a ele.
Uma modificação involuntária é vista em História de Vespasiano, em que há vários casos de salto-bordão. 
4) Defina crítica textual e ecdótica.
A crítica textual é a designadora do campo do conhecimento que trata da restituição da forma genuína dos textos, ou seja, de sua fixação ou estabelecimento. Edótica, por outro lado, é o nome dado ao campo de conhecimento que engloba o estabelecimento de textos e sua apresentação, isto é, sua edição. A ecdótica não abarca apenas o processo de restituição do texto, mas também os procedimentos técnicos para apresentá-lo ao público.
5) Quais são as definições de filologia?
No Dicionário Houaiss, há quatro significados para filologia:
1. estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos
2. estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos
3. o estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas; gramática histórica 
4. estudo científico de textos (não obrigatoriamente antigos) e estabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritos e edições, utilizando-se de técnicas auxiliares [...].
Alguns autores gregos dos séculos IV-III a.C. listaram os seguintes significados:
1. “desejo de falar, palavrório”;
2. “gosto pela dialética”;
3. “gosto pela literatura ou pela erudição”;
4. “dissertação sobre um assunto literário ou de erudição”.
No mundo moderno, obtemos os seguintes significados:
1. “estudo do que é necessário para conhecer a correta interpretação de um texto literário” - Friedrich August Wolf;
2. estudo das letras humanas, começando da gramática e prosseguindo com a eloquência oratória e poética; a parte da ciência que tem como objeto as palavras e suas propriedades - Bluteau;
3. “a arte que trata da inteligência e interpretação crítica gramatical, ou retórica dos autores, das antiguidades, histórias etc” - Silva;
4. “o conhecimento da civilização de um povo, num dado momento da sua história, através dos seus monumentos literários” - Bueno.
	Por filologia portuguesa, temos os seguintes significados:
1. “o estudo da nossa língua em toda a sua amplitude, no tempo e no espaço, e acessoriamente o da literatura, olhada sobretudo como documento formal da mesma língua” - Leite de Vasconcelos;
2. “o estudo científico, histórico e comparado da língua nacional em toda sua amplitude, não só quanto à gramática (fonética, morfologia e sintaxe) e quanto à etimologia, semasiologia etc., mas também como órgão da literatura e como manifestação do espírito nacional” - Silva Neto;
3. “o estudo largo e profundo dos textos de nossa língua para atingir em cheio a mensagem intelectual ou artística neles contida” - Melo.
6) Cite as contribuições da crítica textual.
A contribuição mais evidente e importante da crítica textual é a recuperação do patrimônio escrito de uma cultura. Após a forma genuína deum texto ser restituída, ele é publicado novamente, contribuindo também, assim, para a transmissão e preservação desse patrimônio. A crítica textual tem impacto sobre toda a atividade que se utiliza do texto escrito como fonte. Duas dessas atividades são os estudos linguísticos e literários.
No domínio dos estudos linguísticos, os textos escritos são utilizados como fonte de dados para conhecimento da língua. Uma descrição linguística só tem validade se os textos adotados como fonte de dados espalharem o emprego efetivo da língua — textos com deturpações levam um linguista a considerar algo que é simplesmente erro de uma cópia e que não reflete o uso real da língua.
Já para os estudos literários, os textos escritos são ainda mais essenciais, já que são a principal forma de expressão da literatura. Considerando a literatura escrita, a contribuição da crítica textual está em assegurar que o crítico literário possa exercer sua função com base em um testemunho que efetivamente reproduz a forma genuína do texto.
7) O que é:
a) paleografia
A paleografia pode ser definida como o estudo das escritas antigas, com finalidade tanto teórica quanto pragmática. A finalidade teórica se manifesta na preocupação em compreender a constituição sócio-histórica dos sistemas de escrita, e a pragmática, na capacitação de leitores para avaliarem a autenticidade de um documento, com base na escrita, e de interpretarem as escritas do passado. Para um crítico textual, a paleografia é relevante pois para se fixar a forma genuína de um texto, é necessário ser capaz de decodificar a escrita.
b) diplomática
Pode-se definir a diplomática como o estudo de documentos — estritamente, toda notícia escrita de algum acontecimento. Suas origens estão entrelaçadas com as da paleografia, já que os tratados mais antigos visavam a orientar a avaliação da autenticidade de documentos legais. 
Os conhecimentos diplomáticos são especialmente relevantes para o crítico textual, pois a decifração e a reprodução de um documento podem ser realizadas com mais segurança e propriedade quando se tem consciência de como esses documentos eram produzidos.
c) codicologia
A codicologia consiste no estudo da técnica do livro manuscrito. Para Lemaire, a codicologia deve fixar-se sobretudo em compreender os diversos aspectos da confecção material primitiva do códice. Para o crítico textual, fornece informações que permitem compreender algumas razões pelas quais os textos se modificam no processo de transmissão. 
Além de possibilitar uma compreensão mais profunda do processo de transmissão dos textos, os conhecimentos codicológicos são também utilizados na descrição de códices.
Capítulo 3
8)	O que é um testemunho?
Cada registro de um texto escrito constitui um testemunho, que pode ter sido fixado pelo próprio autor, por outra pessoa mas com supervisão do autor ou ainda por outra pessoa sem supervisão do autor. Nos dois primeiros casos, ainda se trata dos originais, pois registram efetivamente a vontade do autor em função do controle exercido por ele de forma direta ou indireta. No terceiro caso, diz-se que se trata apenas de uma cópia.
9) Na produção de um livro manuscrito, quais são as matérias subjetivas, aparentes e instrumentais envolvidas?
A matéria subjetiva constitui o suporte material para a escrita. De modo geral, pode-se dizer que os livros manuscritos têm como suporte uma ou mais das seguintes matérias subjetivas: papiro, pergaminho e papel. Em manuscritos lavrados em língua portuguesa, as matérias subjetivas básicas são o pergaminho e o papel; a matéria aparente consiste na tinta; e a matéria instrumental consiste no instrumento que registra a escrita sobre o suporte. Sobre suporte duro (argila ou tábua encerada), utilizou-se o estilo. Sobre suporte brando (papiro, pergaminho e papel), empregaram-se o pincel, o cálamo e a pena de ave para distribuir a tinta. 
10) O que é um volume? E um códice?
Os livros manuscritos se apresentaram historicamente em duas formas principais: o volume e o códice. O volume consistia em um rolo composto de folhas, normalmente de papiro, coladas umas às outras pelas laterais, formando uma longa sequência em cujas extremidades se colocavam bastões que serviam para desenrolar e enrolar com cada uma das mãos. Com a substituição da matéria subjetiva de papiro para pergaminho, viabilizou-se uma nova forma de livro: o códice. Em vez de serem coladas pelas extremidades como antes, as folhas eram dobradas ao meio, formando um bifólio, e colocadas umas dentro das outras, constituindo um conjunto a que se chama de caderno. Os cadernos eram costurados pelo vinco da dobra, unindo-se uns aos outros e a uma capa constituída de um material mais firme, como placas de madeira. O formato do códice decorria do sistema de dobragem utilizado para se obterem os bifólios. 
11) No sistema artesanal, quais são as fases de produção de um livro impresso?
	No sistema artesanal de produção do livro impresso, a primeira fase era a composição: tratava-se do processo em que o compositor, com base em um modelo, montava tipograficamente as páginas. Seu trabalho consistia em pegar cada um dos tipos necessários para formar uma linha de texto e os colocar no componedor. Depois de composta, cada sequência de tipos era transferida para a galé, sendo cada linha separada pela intermediação da entrelinha e todas conjuntamente amarradas, formando assim uma chapa. As chapas eram engradadas em uma moldura retangular, constituindo, assim, uma forma ou matriz.
	A segunda fase era a impressão, processo em que se marca, sobre uma folha, a imagem da matriz. Sobre o mármore, era colocada uma forma, a qual se entintava com a bala. Em seguida, colocava-se uma folha sobre essa forma entintada e descia-se a platina, fazendo com que a folha ficasse com a marca dos tipos da matriz. Para se imprimir o verso das folhas, era necessário esperar a tinta secar.
12) No processo de transmissão de um texto, o que é um erro? Quais são os tipos de erros?
	No processo de transmissão dos textos, é inevitável a ocorrência do erro, entendido como modificação não-autoral do texto. Considerando que o objetivo fundamental da crítica textual é restituir a forma genuína de um texto (eliminar todos os erros incorporados a um dado texto), é importante compreender sua natureza. 
Segundo Blecua, os erros têm sido classificados no processo de cópia de várias formas. Há, por exemplo, a classificação baseada nas categorias modificativas aristotélicas, segundo a qual existiam quatro tipos possíveis: por adição, por omissão, por alteração da ordem ou por substituição. Outra distribui os erros em categorias como visuais, mnemônicos, psicológicos ou mecânicos, proposta recategorizada por Roncaglia em erros de leitura, de memorização, de ditado interior ou de execução manual. Dentre os erros que teriam origem na leitura do modelo, encaixam-se aqueles que podem ser chamados de paleográficos, que derivam de dificuldades encontradas pelo copista na decifração do modelo.
Capítulo 4
 13) Quais são as categorias em que se dividem os tipos de edição? Explique cada uma delas.
Uma primeira categoria de tipos de edição baseia-se no material usado, em termos de dimensão e qualidade do suporte. Na subcategoria dimensão do livro, encaixam-se edições como a de bolso, a compacta e a diamante/liliputiana/microscópica. Na subcategoria qualidade do suporte, enquadram-se edições como a popular e a de luxo.
Uma segunda categoria diz respeito ao sistema de registro e inclui a edição impressa e a digital.
Uma terceira categoria fundamenta-se na publicação da edição. Tem-se uma edição princeps/príncipe quando se publica um texto pela primeira vez. Uma edição limitada é aquela que foi feita em número menor que o habitual. Uma edição extra/extraordinária é a que é publicada fora da periodicidade regular. Uma edição comemorativa é aquela cuja publicação está relacionada à celebração de alguma data, normalmente ligada à vida do autor ou da obra.
Uma quarta categoria baseia-se na questão da permissão. Uma edição autorizada éaquela publicada com permissão do autor ou do detentor dos direitos autorais, e uma edição pirata, sem.
Uma quinta categoria diz respeito à integralidade do texto. Quando há reprodução por inteiro do texto, tem-se uma edição integral. Em uma edição abreviada, partes de um dado texto são suprimidas. Se são feitas supressões sem se explicitar, a edição pode ser considerada expurgada. Uma edição com supressões é chamada de ad usum delphini.
Uma sexta categoria baseia-se na reelaboração do texto. Uma edição pode ser revista, porque foi retificada pelo autor ou editor; atualizada, porque se substituíram dados ultrapassados por novos; ou ainda ampliada/aumentada, porque se acrescentaram novas partes. Todos esses adjetivos costumam ser empregados apenas na reedição de textos científicos.
Há também uma categoria de edições que se baseia na forma de estabelecimento do texto, que compreende o que se pode chamar de tipos fundamentais de edição.
 14) O que é uma edição monotestemunhal? Quais são seus tipos?
Edições monotestemunhais são aquelas baseadas em apenas um testemunho de um texto e podem ser divididas em quatro tipos, diferenciados com base no grau de mediação realizada pelo crítico textual na forma do texto.
A edição fac-similar baseia-se no grau zero de mediação, porque, neste tipo, se reproduz apenas a imagem de um testemunho através de meios mecânicos, como fotografia e xerografia. Este tipo de edição tem como vantagem permitir o acesso ao texto de forma praticamente direta, o que confere ao consulente grande autonomia e liberdade na interpretação do testemunho. Por outro lado, a desvantagem é que só pode ser consultada por especialistas, porque pressupõe a capacidade de se ler um texto na escrita original. Além disso, costuma ser cara.
Na edição diplomática, tem-se a primeira forma de mediação feita pelo crítico textual, sendo também bastante limitada. Trata-se de um grau baixo de mediação. Neste tipo de edição, faz-se uma transcrição conservadora de todos os elementos presentes no modelo, como sinais abreviativos e de pontuação, entre outros. Uma vantagem destas edições é a facilitação de leitura, pois dispensa o leitor da tarefa de decifrar as formas gráficas da escrita original do modelo. Como desvantagem, tem-se o fato de que também pode ser consultada fundamentalmente por especialistas, pois, apesar da facilitação, a manutenção de certas características exige conhecimento especializado. A edição diplomática já constitui uma interpretação subjetiva, pois deriva da leitura que um especialista faz do modelo.
Temos também a edição paleográfica, também chamada de semidiplomática, paradiplomática ou diplomático-interpretativa. Neste tipo, há um grau médio de mediação, pois, no processo de reprodução do modelo, realizam-se mudanças para torná-lo mais apreensível para um público que não seria capaz de decodificar certas características originais, como sinais abreviativos. Aqui o editor atua de forma mais interventiva, através de operações como desenvolvimento de sinais abreviativos, inserção ou supressão de elementos por conjectura, dentre outras, com as intenções de (1) facilitar ainda mais a leitura do texto e torná-lo acessível a um público menos especializado e (2) tentar retificar falhas óbvias no processo de cópia do texto, como supressão ou repetição de letras.
Já a edição interpretativa apresenta o grau máximo de mediação admissível. Como na paleográfica, fazem-se operações como desenvolvimento de abreviaturas e conjecturas, mas, além disso, o texto passa por um forte processo de uniformização gráfica e as conjecturas vão além de falhas óbvias, compreendendo intervenções que aproximem o texto do que teria sido sua forma genuína. Esses procedimentos permitem apresentar o texto em uma forma acessível a um público amplo e oferecer um texto mais apurado. Neste tipo de edição, a uniformização é essencialmente gráfica: não se uniformizam variantes fonológicas, morfológicas, sintáticas e lexicais (como se vê nas edições modernizadas).
 15) O que é uma edição politestemunhal? Quais são seus tipos?
Já as edições politestemunhais são baseadas no confronto de dois ou mais testemunhos de um mesmo texto e podem ser divididas em dois tipos,
Uma edição crítica se caracteriza pelo confronto de mais de um testemunho, geralmente apógrafos, no processo de estabelecimento do texto, com o objetivo de reconstituir a última forma que seu autor havia lhe dado. A consulta a mais de um testemunho permite ao crítico textual identificar e separar os elementos de um texto que não seriam genuínos, pois, como os copistas não erram sempre no mesmo ponto do texto que reproduzem, uma forma genuína pode ser adulterada em um ou em outro testemunho, mas geralmente se mantém intacta em outros. Assim, uma edição crítica é muito superior a uma edição interpretativa, pois nesta só se pode recorrer à conjectura como instrumento de restituição da forma genuína do texto, ou seja, toda intervenção fundamenta-se em apenas uma decisão subjetiva do crítico.
Como em uma edição crítica, faz-se uma genética também através da comparação de mais de um testemunho, só que geralmente autógrafos e/ou idiógrafos, e almeja-se registrar todas as diferenças entre as redações preliminares de um texto e a forma final dada pelo seu autor. A edição genética é fruto do desenvolvimento de uma abordagem de crítica do texto literário baseada no estudo de sua gênese. Segundo Salles, essa abordagem fundamenta-se em uma constatação básica:
“[...] o texto definitivo de uma obra, publicado ou publicável, é, com raras exceções, resultado de um trabalho que se caracteriza por uma transformação progressiva.”
Para delinear o percurso criativo de um texto, o crítico genético utiliza uma gama heterogênea de fontes: de acordo com Hay, elas podem ser as marcas dos impulsos iniciais, os documentos das operações preliminares e ainda os instrumentos do trabalho redacional.
Portanto, a edição genética deve apresentar a forma final de um dado texto, acompanhada do registro das informações relativas à sua gênese obtidas através das já referidas fontes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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