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1 Lara Torres Pinto Brito – 5º SEMESTRE NEFROLOGIA “Pureza e impureza dependem da própria pessoa. Ninguém pode purificar o próximo” - Buda DOENÇA RENAL CRÔNICA DEFINIÇÃO: Anormalidade da estrutura ou função dos rins por um tempo superior à 3 meses, com implicações para a saúde. ANORMALIDADES/CRITÉRIOS Para que o indivíduo esteja classificado enquanto doente renal crônico, é preciso atender a algum desses critérios por um período superior a 3 meses. Quando falamos em alterações histológicas – determinada por biópsia renal – estas podem ser sob a forma de eventos fibróticos, atrofia tubular e nefroesclerose. Já as alterações anatômicas de maior prevalência são os rins em ferradura e aqueles hipoplásicos. IMPORTANTE! Na maioria das USGs de portadores de DRC, há alteração na relação córtex/medula, sendo difícil diferenciá-los. EPIDEMIOLOGIA A DCR é uma doença de relevância para a saúde pública, visto que cerca de 10 à 16% da população mundial possui é portadora de DRC, o que representa mais de 7 bilhões de habitantes. No Brasil, há mais de 150 mil pessoas realizando hemodiálise e 6 milhões em tratamentos conservados para evitar a sua progressão. Os portadores de DCR possuem 10x mais chances de morrerem por eventos cardiovasculares, principalmente por IAM. ETIOLOGIAS • Nefropatia diabética (principal causa) • Nefroesclerose hipertensiva • Glomerulopatia crônica • Anormalidades congênitas renais e geniturinárias (mais comum em crianças) • Doença renal policística • Doenças tubulointersticiais • Transplantes • Outros → afastar sempre as causas reversíveis ESTADIAMENTO ▪ G1: TFG > 90ml/min/1,73m² ▪ G2: 89 > TGF > 60 ml/min/1,73² ▪ G3a: 59 > TGF > 45 ml/min/1,73² ▪ G3b: 45 > TGF > 30 ml/min/1,73² ▪ G4: 29 > TFG > 15 ml/min/1,73² ▪ G5: TFG < 15 ml/min/1,73² ▪ A1 = albuminuria normal ▪ A2: albuminuria > 30mg/24h ▪ A3: albuminuria > 300mg/24h Quanto maior o estágio de classificação, maior a propensão de evoluir para a doença renal terminal. OBS: a partir do G3 já existe risco de insuficiência renal, que progride com o avançar dos estágios. CÁLCULO DA TFG Apesar de não ser a mesma coisa que Clearence de Creatinina, o seu valor é calculado por meio dela a) Clearence de creatinina - Urina de 24 horas; ou Proteinúria / Album. (>30mg/dL) Alteração no Sedimento Urinário Alterações nos Eletrólitos / Excreção Alterações na Histologia Alterações na Anatomia ↓TFG (<60ml/mi n/1,73m²) P á g i n a | 2 Lara Brito | 5º SEMESTRE - Estimada por fórmulas (CDK-EPI, Cockroft Gault, MDRD) Fórmula de Cockroft Gault*: [140 − 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝑎𝑛𝑜𝑠)] 𝑥 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 (𝑘𝑔) [(𝑐𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 ( 𝑚𝑔 𝑑𝐿 ) 𝑥 72] * Para mulheres, esse cálculo deve ser multiplicado por 0,85. b) Clearence de Inulina c) Cintilografia renal com DTPA AVALIAR/CORRIGIR COMORBIDADE Alguns ajustes devem ser feitos para inibir a progressão da DRC. Portanto, é preciso avaliar a presença de: - Hipertensão (alvo < 140 x 90 mmHg) - Diabetes (alvo Hb glicada < 7%) - Dislipidemia - Obesidade (alvo IMC < 30) - Tabagismo (responsável por arterioesclerose e lesão endotelial) - Drogas nefrotóxicas (AINES, ATB, etc) - Albuminúria (preditivo na progressão da DRC) IDENTIFICAR / TRATAR AS CONSEQUÊNCIAS: Anemia (normo-normo) A anemia no portador de DRC tende a ser multifatorial: > Redução de EPO -> estimulador da formação de hemácias > Inflamação -> estimula produção da hepicidina (reduz absorção de ferro). Além de reduzir a chegada da EPO ao seu receptor na medula óssea > Carenciais (ácido fólico, B12, ferro) > Tendência a sangramentos Distúrbio Hidroeletrolítico > Hiperpotassemia / Hipercalemia (aumento de potássio no sangue) > Hiponatremia (diminuição de sódio no sangue) – NÃO é específico O paciente com DRC, tende a ter níveis elevados de fósforo (P) e potássio (K), bem como níveis baixos de cálcio (Ca). Distúrbio Ácido – Base O rim na DRC tende a reter mais H+ e formar menos HCO3-, gerando acidose metabólica e, em alguns casos, alcalose respiratória compensatória. Isso porque no TCP, existe o processo de amoniogênese, onde o paciente produz bicarbonato e, na DRC, essa formação e absorção encontram-se prejudicadas. Formando menos HCO3- e retendo mais H+. Distúrbio Mineral (Ca e P) e Ósseo (osteodistrofia) Afeta praticamente todos os pacientes com DCR em diferentes graus. Suas características biopsiadas variam de aumento da remodelação óssea (turnover) - ↑PTH - até anormalidades que cursam com baixa remodelação. De forma específica, a DRC produz hiperfosfatemia, pois a ingestão de fosfatos tende a exceder a sua excreção, contribuindo de duas formas para a doença óssea renal: 1. Diminui a disponibilidade de cálcio ionizado, reduzindo a i Snteração entre o cálcio e seu receptor. A diminuição da ativação do receptor de cálcio faz com que a paratireoide hipertrofie e aumente a produção de PTH. Este, por sua vez, atua estimulando a atividade do osteoclasto e resultando em perda óssea. 2. Ação direta nas glândulas paratireoides, estimulando a produção de PTH. Outro fator que contribui para a doença óssea são as alterações no metabolismo da vitamina D: A ativação da vitamina D ocorre pela hidroxilação da vitamina D3 (colecalciferol). Inicialmente é hidroxilada no fígado, sendo formada a 25-hidroxivitamina D3, que estimula a absorção de cálcio a nível intestinal. Nos rins, a 25-hidroxivitamina D3 é convertida em calcitriol, forma ativa da vitamina D, mediada pela a- hidroxilase. Visto que é uma enzima expressa nas células do TCP, a perda progressiva da função renal causa deficiência de calcitriol. Por sua vez, a deficiência de calcitriol compromete a absorção tanto de cálcio, quanto de fosfatos, além de estimular a produção do PTH, cursando com HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO. ↑P + ↓Ca + ↓Vit. D = Hiperplasia da Paratireóide = ↑PTH A deposição de cristais parece estar associada rigorosamente a um aumento na concentração local de fosfatos, enfatizando o motivo do nível sérico de fósforo ser Ácido Base P á g i n a | 3 Lara Brito | 5º SEMESTRE mantido dentro da faixa normal, seja com o uso de quelante de fósforo ou diminuição da ingesta. Uremia – CAI EM PROVA O aumento da concentração de ureia do sangue (uremia) é decorrente da piora gradativa da doença renal (mais comum no estágio 5), sendo resultado do acúmulo de metabólitos não excretados ou das anormalidades metabólicas induzidas por eles. O paciente não consegue manter a homeostase e cursa com alguns sinais/sintomas: • Disfunção plaquetária – risco de sangramento (mucosas) • Confusão mental • Derrame pericárdico • Anorexia • Náuseas e vômitos • Diarreia • Gosto metálico na boca • Coma Dietas que contêm alimentos ricos em proteínas, fazem com que estas sejam metabolizadas em aminoácidos, usados na formação dos estoques proteicos corpóreos. Alternativamente, os aminoácidos são metabolizados para formar a ureia ou produtos potencialmente tóxicos que são excretados quando a função renal está normal. Com a DRC, o acúmulo de peptídeos (também conhecidos como moléculas intermediárias) está associado a doenças que vão da indução da anorexia aos distúrbios neurológicos. Hiperurecemia Os altos níveis de ácido úrico, que estão relacionados à ingestão excessiva de proteína, podem causar gota e estar associados ao desenvolvimento de hipertensão e respostas inflamatórias nos vasos sanguíneos. Hipervolemia -> Hipertensão A coincidência da DRC e da alta pressão arterial é em particular importante, já que a hipertensão contribui para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo as principais causas de morbimortalidade nos pacientes acometidos pelaDRC. A hipertensão em pacientes com DRC reflete o aumento do volume extracelular (hipervolemia) devido a uma dieta rica em sal + comprometimento da capacidade de excretar sódio. A resposta normal ao sódio retido é um aumento do volume extracelular, que eleva a pressão arterial e aumenta a excreção de sódio, provocando um equilíbrio entre a ingestão de sódio e excreção de sal. No novo estado estável dinâmico, no entanto, o equilíbrio de sal pode apenas ser mantido enquanto a pressão arterial for alta. Outro mecanismo para o desenvolvimento da hipertensão em pacientes com DRC é a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e do sistema nervoso simpático, conforme evidenciado pelos níveis circulantes de renina e aldosterona que estão muito altos para indivíduos que são hipertensos, bem como os de norepinefrina - responsável pela vasoconstrição e supressão da produção de óxido nítrico. Desnutrição O catabolismo acentuado (estado inflamatório crônico) e a diminuição de fonte proteica - devido a albuminúria – para formação de massa magra, resultam em desnutrição e, por vezes, anorexia. HIPERTENSÃO BENIGNA A hipertensão arterial mal controlada, sustentada por muito tempo, pode levar à nefroesclerose. Sua causa pode apresentar duas etiologias: a) Isquemia b) Hipertensão intraglomerular • Glomeruloesclerose segmentar e focal No caso da hipertensão intragomerular, esta decorre da pressão arterial não controlada que faz com que a pressão de filtração aumente e lese, de forma progressiva, a parede do glomérulo. Desse modo, surgem alterações histológicas irreversíveis - esclerose segmentar e focal. Essas alterações glomerulares, com o avançar do tempo, podem resultar em insuficiência renal crônica. P á g i n a | 4 Lara Brito | 5º SEMESTRE EXAMES ➢ Para diagnóstico e acompanhamento: • Sumário de urina • Microalbuminúria ou relação proteína/creatinina urinária ou proteinúria de 24h • Função renal (ureia e creatinina) • USG de vias urinárias ➢ Para avaliar as consequências: • Hemograma • Dosagem de eletrólitos (Na, K, Ca, P) • PTH, fosfatase alcalina, 25-OH vitamina D • Ácido Úrico • Proteínas totais e frações ➢ Para avaliar comorbidades: • Glicemia, HbA1c • Colesterol total e frações, triglicerídeos ➢ Outros: • Sorologias: AgHbs, Anti-Hbs, Anti-HCV, Anti-HIV • TSH, T4L, eletroforese de proteínas, CK total • Fundoscopia • Biopsia renal (se DRC não avançada e necessitar de diagnóstico etiológico) TRATAMENTO Medidas para lentificar a progressão da DRC: - Controlar as comorbidades (MEV, exercícios, emagrecer, dieta, cessar tabagismo) - Usar IECA ou BRA (atuam no rim)* - Evitar uso de drogas nefrotóxicas *IECA e BRA São medicamentos que lentificam a progressão da DRC. Isso porque são anti-hipertensivos que interferem, também, na hemodinâmica intraglomerular, diminuindo a sua pressão. Atua dilatando a arteríola eferente, diminuindo a pressão intraglomerular e reduzindo, consequentemente, a proteinúria. Além disso, é antifibrótico porque diminui citocinas inflamatórias, como a TGF-B. *Reduz PA sistêmica *Reduz PA intraglomerular -> ↓proteinúria *Inibe fibrose e esclerose Casos em que são contraindicados: - Hipercalemia grave - Estenose de artéria renal - DRC avançada (4 -> 5) Medidas para tratar as consequências: - Dieta: hipossódica, hipoproteica, pobre em potássio, fósforo e ácido úrico - Suplementação: vitamina, sulfato ferroso, EPO - Diuréticos e anti-hipertensivos - Quelante de fósforo, análogo da Vit. D - Reposição de bicarbonato, alopurinol Terapia de Substituição Renal (TSR): - Diálise * Hemodiálise * Diálise peritoneal - Transplante renal FUNÇÕES DOS RINS • Excreção dos produtos finais de vários metabolismos (incluindo fármacos) • Produção de hormônios (EPO – estimulador da produção de hemácias / Vitamina D – associado ao metabolismo do cálcio) • Controle do equilíbrio hidroeletrolítico • Controle do metabolismo ácido-básico (reabsorver bicarbonato e eliminar excesso do H+ fruto do metabolismo proteico) • Controle pressórico A amplitude das funções renais dá origem a várias consequências diretas e derivadas da DRC. Por exemplo, uma limitação na capacidade de excretar ácidos provoca hiperventilação e uma diminuição de PCO2. No músculo, a acidose ativa o processo enzimático de ubiquitinaproteassoma para degradar a proteína muscular, causando a perda de massa muscular. No osso, a acidose causa perda de cálcio e fosfatos, e essa resposta, em conjunto com a secreção do hormônio paratireoidiano (PTH) e diminuição da ativação de vitamina D, desmineraliza o osso e torna-o suscetível à fratura. Em síntese: 1. Identificar a DRC 2. Estadiar a DRC 3. Identificar a causa da DRC 4. Avaliar e corrigir as comorbidades 5. Identificar e tratar as consequências P á g i n a | 5 Lara Brito | 5º SEMESTRE M CASO CLÍNICO
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