Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução à Imunologia A imunologia é o estudo das defesas do organismo contra infecção. O sistema imune é composto de células e moléculas que garantem a imunidade do organismo através da resposta imune. Basicamente, a resposta imune é a reação aos microrganismos e moléculas estranhas. História da Imunologia A conscientização sobre a importância da defesa do organismo contra a invasão microbiana demorou a se desenvolver. No século XII, chineses observavam que os indivíduos que resistiam à varíola tornavam-se resistentes a tal doença. Com isso, eles passaram a infectar crianças com o vírus da varíola, inserindo crostas das feridas de indivíduos infectados. Essa inoculação do vírus da varíola (“variolação”) reduziu muito a mortalidade. Em 1798, Edward Jenner demonstrou que o material de lesões da varíola bovina poderia substituir o material humano na variolação. Ele descobriu isso ao observar que ordenhadoras que tinham se recuperado da varíola bovina nunca contraíram varíola humana. Desse modo, Jenner injetou o material de uma pústula de varíola bovina no braço de um menino, o qual não desenvolve mais varíola humana. Jenner deu o nome desse processo de vacinação (do latim vacca, vaca). No final do século XIX, Robert Koch provou que as doenças infecciosas eram causadas por microrganismos patogênicos. Nos dias atuais se reconhecem quatro categorias de patógenos: vírus, bactérias, fungos e parasitos. Em 1880, Louis Pasteur projetou uma vacina contra o cólera aviário. Pasteur possuía uma cultura da bactéria causadora do cólera (Pasteurella multocida) que acidentalmente envelheceu. Ao infectar as galinhas com essa cultura envelhecida, ele notou que as aves não ficaram doentes. Posteriormente, Pasteur injetou uma cultura fresca da bactéria nessas galinhas, as quais ficaram resistentes à infecção. Com essa descoberta, Pasteur propôs o princípio geral da vacinação: na vacinação, a exposição de um animal a uma cepa avirulenta não causará a doença, podendo desencadear uma resposta imune que o protegerá contra a infecção pela cepa virulenta da doença. O experimento de Pasteur com a cólera aviária Pasteur ainda desenvolveu uma vacina contra o antraz (Bacillus anthracis) para ovinos, ao cultivar o patógeno em altas temperaturas e uma vacina contra a raiva ao utilizar a medula espinal desidratada de coelhos infectados com o vírus. Barreiras Físicas Antes da imunidade inata e adaptativa o microrganismo deve passar pelas barreiras físicas do organismo. A primeira barreira é a pele, sendo muito eficiente. Nos tratos respiratório e gastrointestinal temos mecanismos de autolimpeza: tosse espirro, vômito, diarreia e o fluxo de urina (sistema urinário). As barreiras não são eficientes sozinhas, necessitando posteriormente da ajuda da imunidade inata. Imunidade Inata A defesa contra microrganismos é mediada pela imunidade inata e adaptativa. A imunidade inata (natural ou nativa) ocorre nas primeiras horas após a infecção, sendo mediada por mecanismos já existentes que facilitam rápidas respostas. Seus receptores são específicos para estruturas comuns a grupos de microrganismos, portanto, não possuem alta especificidade. Os principais componentes da resposta imune inata são: barreiras físicas e químicas, células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células dendríticas, mastócitos, células NK (natural killer) e proteínas do complemento. Os macrófagos, mastócitos e as DCs (células dentríticas) atuam como sentinelas, recrutando fagócitos para destruir os invasores e iniciar o processo de inflamação. O tratamento da infecção ocorre sem nenhum tipo de memória. Imunidade Adaptativa A imunidade adaptativa (específica ou adquirida) se desenvolve em resposta à infecção já existente, reconhecendo e reagindo com inúmeros antígenos e intensificando os mecanismos protetores da imunidade inata. Seus principais componentes são os linfócitos (linfócitos B e linfócitos T). Seleção e Expansão clonal dos linfócitos As principais características da imunidade adaptativa são: → Especificidade e diversidade: os linfócitos expressam receptores que distinguem pequenas diferenças entre os epítopos dos antígenos; → Seleção clonal: indivíduos não imunizados são capazes de reconhecer e responder a antígenos estranhos graças a presença de clones de linfócitos com diferentes especificidades. Com a entrada do antígeno, os clones específicos vão se ligar a esse antígeno e se ativar. Com a ativação vão se proliferar e gerar milhares de linfócitos com a mesma especificidade (expansão clonal); → Memória: a exposição ao antígeno aumenta a capacidade do sistema imune a responder de maneira mais eficiente em novas exposições. Isso ocorre pela formação de células de memória após a resposta imune primária; → Autotolerância: o sistema imune não reage aos antígenos do próprio indivíduo. Se isso ocorrer resulta em doenças autoimunes. A imunidade adaptativa pode ser dividida em imunidade humoral e imunidade mediada por células (celular). A imunidade humoral é mediada por moléculas no sangue (anticorpos), combatendo microrganismos extracelulares. Já a imunidade celular é mediada pelos linfócitos T, combatendo microrganismos intracelulares através da destruição das células infectadas. Imunidade Ativa A imunidade induzida pela exposição a um antígeno estranho é denominada imunidade ativa, pois o indivíduo tem papel ativo na resposta ao antígeno. Indivíduos e linfócitos que nunca encontraram um antígeno em particular são chamados de naive. Indivíduos protegidos de um antígeno são ditos imunes. Exemplo de vacinação Um exemplo de imunidade ativa é a vacinação. Ao inocular um antígeno pela primeira vez em um indivíduo (resposta imune primária), seus anticorpos se elevam até um pico e depois diminuem e desaparecem. Se for aplicada uma segunda dose desse antígeno (resposta imune secundária), os níveis de anticorpos sobem rapidamente, pois a memória criada na primeira resposta é ativada rapidamente para a produção de anticorpos. Imunidade Passiva A imunidade passiva ocorre pela transferência de anticorpos de um indivíduo imunizado para um indivíduo que nunca encontrou o antígeno, sendo um tipo de imunidade humoral. Como exemplo temos a transferência de anticorpos maternos da placenta para o feto (imunidade passiva natural). Um exemplo importante é a produção do soro (imunidade passiva artificial). O soro é obtido com a coagulação do sangue e a gradual retratação do coágulo. Já o plasma é obtido ao não se permitir a coagulação do sangue. Para a produção de um soro contra certo antígeno primeiro um antígeno deve ser inoculado em um animal capaz de produzir anticorpos contra aquele antígeno, como um cavalo. Depois, se coleta o sangue, deixa coagular e remove o soro. Esse soro será aplicado em um animal que está com a doença e precisa rapidamente de anticorpos para combate-la. A primeira demonstração de imunidade humoral foi feita por Emil von Behring e Shibasaburo Kitasato, em 1890, os quais descobriram que o soro de um animal imune a difteria ou tétano conferia imunidade aos receptores. Os componentes ativos do soro foram chamados de antitoxinas. Com isso, von Behring foi o primeiro ganhador do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina. Em 1890, Paul Erlich cunhou o termo anticorpos e antígenos e postulou que as células imunes utilizam receptores para reconhecer e combater as toxinas. Com isso foi criado a teoria humoral da imunidade, a qual diz que a defesa do organismo ocorre pelos humores (substâncias presentes nos fluidos corporais). Elie Metchnikoff defendeu a teoria celular da imunidade, a qual diz que as células do hospedeiro são os responsáveis pela defesa do organismo. Também demonstroua atuação dos fagócitos. Em 1900, Sir Almroth Wright descobriu o processo de opsonização, que nada mais é que o encobrimento de moléculas ao antígeno para a ingestão dos fagócitos. Mecanismos da Imunidade Adaptativa Quando um antígeno penetra no organismo, ele é capturado, processado e exposto aos linfócitos por meio das células apresentadoras de antígeno (APCs). Linfócitos naive são ativados, sofrendo expansão clonal. Depois são diferenciados em células efetoras (capazes de eliminar o antígeno) ou células de memória. A eliminação do antígeno requer a participação de neutrófilos e macrófagos, os quais fagocitam o invasor. Após a erradicação da infecção, a maior parte das células efetoras morrem e as células de memória permanecem. A interação entre as células do sistema imune ocorre por meio das citocinas, as quais regulam e coordenam muitas atividades das células imunes. As quimiocinas são citocinas que regulam a migração e o movimento celular. Imunidade Humoral Linfócitos B reconhecem antígenos, se proliferam e se diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos. A resposta das células B aos antígenos requer auxílio das células T CD4+ (auxiliares). ATIVA PASSIVA Os plasmócitos secretam anticorpos específicos a um único antígeno. Os anticorpos se ligam aos microrganismos e os impedem de infectar as células, fazem a opsonização e também ativam o sistema complemento. Imunidade Celular Linfócitos T reconhecem antígenos e auxiliam os fagócitos a destruir tais microrganismos ou matar as células infectadas. Os linfócitos T reconhecem peptídeos derivados dos antígenos que estão ligadas ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC), portanto, os linfócitos T reconhecem e respondem aos antígenos associados à superfície celular, mas não aos antígenos solúveis. Os linfócitos T podem ser auxiliares, citotóxicos ou reguladores. Os linfócitos auxiliares secretam citocinas que recrutam leucócitos e estimulam a fagocitose pelos macrófagos. Os linfócitos citotóxicos matam células infectadas por microrganismos. Os linfócitos reguladores inibem as respostas imunes. Os macrófagos são muito importantes para a fagocitose. Eles produzem moléculas microbicidas, como ROI (radicais intermediários de oxigênio) e NO (óxido nítrico) que degradam o microrganismo. Eles possuem outros nomes dependendo do tecido em que se encontram: osteoclasto (osso), macrófago alveolar (pulmões), células de Kupffer (fígado) e micróglia (sistema nervoso central). Na fagocitose, a célula fagocítica forma um pseudópode para fagocitar a bactéria. Depois um vacúolo armazena a bactéria. Lisozimas são capazes de digerir a bactéria ao entrar em contato com o vacúolo.
Compartilhar