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A ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I Módulo 47 Durante seu reinado, D. Pedro I já havia mostrado suas tendências autoritaristas, especialmente quando determinou o fechamento da Assembleia Constituinte, que resultou na outorga da Constituição de 1824. Desde então, o imperador vinha sofrendo críticas por parte dos brasileiros, sobretudo após ter desfechado penas violentas para muitos dos envolvidos na Confederação do Equador. 408 Entretanto, o desgaste do governo de D. Pedro I e sua consequente abdicação ao trono brasileiro deram-se em razão de um conjunto de fatores. Além do autoritarismo citado, o Brasil passava por uma grave crise econômica, causada pelo enfraquecimento do comércio do açúcar, esgotamento do ouro e dos diamantes, crise da pecuária, do algodão e do tabaco. Ademais, instalou-se uma crise financeira: as dívidas herdadas de Portugal com a Inglaterra para o reconhecimento da independência do Brasil por Portugal, para sufocar as províncias rebeldes, combater a Confederação do Equador e financiar a Guerra da Cisplatina, levaram o Brasil, logo no início de sua formação como Estado soberano, a uma completa dependência em relação ao capital inglês. A economia não conseguia produzir o suficiente para pagar os elevados juros, muito menos para eliminar as dívidas que o país havia contraído. Aos olhos da população, D. Pedro I tinha responsabilidade sobre a situação econômica e financeira precária que havia se instalado no país. Além disso, o relacionamento amoroso de D. Pedro I com a marquesa de Santos, que influenciou na política do governo brasileiro, provocando a ruptura entre o imperador e José Bonifácio, contribuiu, de forma significativa, para o desgaste e a futura abdicação de D. Pedro I do trono brasileiro. Essas notícias preocupavam os brasileiros, pois D. Pedro dividia-se entre o governo do Brasil e a necessidade de assegurar o trono português para a filha. Agravando esse cenário, o imperador contraiu novas dívidas com a Inglaterra para enfrentar os exércitos de D. Miguel. É válido lembrar, ainda, que, na Europa, os movimentos liberais combatiam, com sucesso, os governos absolutistas. Em 1830, na França, uma revolução liberal derrubou Carlos X. A imprensa brasileira comemorou com grande entusiasmo a queda do rei francês, comparando-o a D. Pedro I e insuflando os ânimos contra o imperador. Além disso, o assassinato de Líbero Badaró, jornalista que fazia críticas pesadas a D. Pedro I, prejudicou ainda mais a imagem do imperador, pois passou a circular o boato de que ele era protetor do mandante do crime. Tentando controlar a situação, D. Pedro I viajou para Minas Gerais, local com maior índice de rejeição ao seu governo. Lá foi recebido com frieza, especialmente em função dos boatos que circulavam de que ele estaria articulando um golpe para restaurar o Absolutismo. Quando voltou ao Rio de Janeiro, os portugueses organizaram uma festa para apoiar o imperador. Os brasileiros, rejeitando as manifestações a favor do monarca, confrontaram os portugueses, o que deu origem ao conflito conhecido como Noite das Garrafadas. Durante quatro dias, brasileiros e portugueses chocaram-se, lançando garrafas, quebrando as vidraças das casas e atirando pedras e pedaços de pau uns nos outros. VIAGEM A MINAS D. Pedro I ainda tentou, inutilmente, acalmar a oposição, sugerindo que o ministério fosse composto por brasileiros; entretanto, os ministros do Brasil foram substituídos por portugueses, piorando ainda mais o clima de tensão. Nesse contexto, os militares, apoiando a população, reuniram-se no Campo da Aclamação para exigir a readmissão do ministério deposto. D. Pedro I negou-se a atender ao pedido da massa popular, mantendo o ministério sob o comando dos portugueses. Sem condições de continuar no governo, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou em favor de seu filho D. Pedro de Alcântara, que tinha cinco anos de idade, motivo pelo qual nomeou como seu tutor José Bonifácio. Em seguida, partiu para a Europa, com o intuito de combater seu irmão e retomar o trono português para sua filha.