Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. EMPRESA E EMPRESÁRIO E ESTABELECIMENTO No decorrer de nossos estudos veremos os conceitos de empresa e de empresário, as características, capacidade e requisitos para configuração da condição de empresário, o nome empresarial, tipos e classificação de sociedades, os atos constitutivos e a personalidade jurídica. 1.1 EMPRESA Em que pese o fato do Código Civil destinar um capítulo para tratar das questões inerentes ao “Direito de empresa”, não traz um conceito ou definição sobre empresa. Por seu turno, a doutrina entende que “empresa é definida como sendo a atividade econômica organizada, que visa à obtenção de lucros mediante o oferecimento, ao mercado, de bens e serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção, tais como força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia1”. 1.2 EMPRESÁRIO Já, a figura do empresário encontra-se conceituada pela própria Lei 10.406/02 (Código Civil): "Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços." Dessa forma, empresário pode ser definido como a pessoa física ou jurídica. 1.3 CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO O Código Civil dispõe no artigo 972 "podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos." 1.4 DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS O artigo 135, do Código Tributário Nacional, abrangia a responsabilidade pelos débitos tributários aos sócios, diretores, gerentes e representantes das sociedades. Já o artigo 50 da Lei 10.406/02 (Código Civil) prevê: 1 FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002. São Paulo, editora Noeses, 2005. p. 2 "Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica." Assim, os bens dos sócios podem ser executados por dívidas da sociedade, resguardados os direitos de meação (que devem ser objeto de ação própria) e o de ver seus bens executados após exaurimento do patrimônio da empresa. 1.5 SOCIEDADE ENTRE CÔNJUGES De acordo com o artigo 977, do CCB, a possibilidade dos cônjuges formarem uma sociedade somente é possível se não forem casados no regime de comunhão universal de bens: "Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória." 1.6 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL O artigo 1.142 do Código Civil estabelece que “considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou sociedade empresária." Dessa forma, todos aqueles estabelecimentos comerciais, também chamados de Fundos de Comércio, não são portanto o local da atividade do comerciante, mas sim toda a construção intelectual das atividades, os equipamentos (corpóreos e incorpóreos) que o empresário utiliza para desenvolver a sua atividade. São os móveis, utensílios, marca, logotipo etc. Enfim, o estabelecimento comercial, agora denominado de estabelecimento empresarial, compreende no conjunto de bens que o empresário ou a sociedade empresarial organiza para a atividade da empresa. 1.7 PERSONALIDADE JURÍDICA A sociedade somente adquire personalidade jurídica com o registro de seus atos constitutivos, conforme prescreve o artigo 1150 do Código Civil. Veja: “Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.” 1.8 DAS FORMAS SOCIETÁRIAS A sociedade individualmente considerada pode formar-se de mais de uma maneira. O artigo 9832, do Código Civil consigna que a sociedade deverá ser constituída segundo um dos tipos ali regulados, são elas: 1. sociedade em comum; 2. sociedade em conta de participação; 3. sociedade simples; 4. sociedade em nome coletivo; 5. sociedade em comandita simples; 6. sociedade limitada; 7. sociedade anônima; 8. sociedade em comandita por ações; 9. sociedade cooperativa; 10. sociedade coligada. 1.8.1 Sociedades não personificadas São aquelas sociedades personificadas, aquelas não personificadas ou existentes unicamente de fato, que não possuem seus atos constitutivos devidamente registrados. a) sociedades em comum: sobre este tipo de sociedade tem-se que enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. b) sociedades em conta de participação: a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito. 2 Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. 1.8.2 Sociedades personificadas As sociedades personificadas constituem-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Dentre elas, o Código Civil classificou como sociedade personificada as seguintes: 1. sociedade simples; 2. sociedade em nome coletivo; 3. sociedade em comandita simples; 4. sociedade limitada; 5. sociedade anônima; 6. sociedade em comandita por ações; 7. sociedade cooperativa; 8. sociedade coligada. 2 REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA “A reorganização societária envolve 4 (quatro) operações, a saber: incorporação, fusão, cisão e transformação. Por meio de tais operações, as pessoas jurídicas mudam de tipo societário3, aglutinam-se ou dividem-se, visando os sócios a dotar a respectiva sociedade de perfil mais adequado à realização do seu objeto social4.” Neste sentido trataremos das três primeiras modalidades de reorganização onde existe alteração da estrutura jurídica da empresa: a fusão, a incorporação e a cisão. 2.1 FUSÃO De acordo com o artigo 1.119 do C.C., fusão é a operação pela qual se unem duas ou maissociedades para formar uma sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações. Veja: “Art. 1.119. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações.” Os doutrinadores acenam como aspecto positivo desta modalidade, o fato de que o nascimento de nova empresa deixa todos os acionistas e credores em posição de igualdade, com reflexos no clima organizacional. Exemplo: Na fusão, deliberada, ocorre: a) cada uma das fusionadas, ao concordar com a fusão concorda, também, com sua extinção; b) a totalidade do patrimônio de cada sociedade, eliminado seu passivo, passa a constituir o capital social da sociedade nova; c) correspondentes ao capital social formado com a soma das contribuições patrimoniais das sociedades, são atribuídas aos antigos sócios, ações ou cotas de participação, na proporção das suas participações nas sociedades extintas; 3 NETO, Vera Lúcia Pereira. Reorganização Societária, Dissolução e Liquidação no Novo Código Civil. (www.fiscosoft.com.br) A B C d) é vedado aos sócios votar o laudo de avaliação patrimonial das sociedades que façam parte antes da fusão (art. 1120, § 3º, CCB); e) Até 90 dias, o credor que se sentir prejudicado com a fusão, pode requerer judicialmente a anulação; f) se em 90 dias a empresa nova sofrer falência, os credores anteriores podem requerer a separação dos bens (art. 1122, § 3º, CCB). 2.2 INCORPORAÇÃO Operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações (art. 1116 e seguintes do CC). Veja: “Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos. Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo. § 1o A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo. § 2o A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada. Art. 1.118. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio.” Exemplo: A B A 2.3 CISÃO Operação pela qual a sociedade transfere todo ou somente uma parcela do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a sociedade cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão. (Lei das S.A., art. 229) Exemplo: A cisão, portanto, pode ser total ou parcial. Ocorrerá cisão total quando houver completa transferência de patrimônio, caso em que a sociedade cindida se extinguirá; a cisão parcial, por sua vez, importa versão parcial do ativo e do passivo para outra sociedade, remanescendo a sociedade originária com uma parcela do patrimônio em seu poder e reduzindo-se seu capital social na proporção do patrimônio líquido transmitido Na hipótese de cisão parcial, estabelece o artigo 229 a existência de sucessão apenas quanto aos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão. Como regra geral para proteção dos credores, o artigo 233 prevê que a sociedade cindida que subsistir e as sociedades que receberem parte de seu patrimônio serão solidariamente responsáveis pela satisfação das obrigações da sociedade cindida anteriores à cisão 3 AGRUPAMENTOS ECONÔMICOS Dentre as formas mais comuns de agrupamentos com finalidade econômica e sem qualquer outro elemento comum e, de outro lado, aquelas empresas que se formarão em agrupamento com base contratual: 3.1. GRUPO ECONÔMICO “É a unidade empresarial de grande porte que está subordinada a um centro único de poder, de controle e de decisão estratégica, embora atual, em geral, em diversos mercados e através de diversas empresas, com uma organização institucional descentralizada e com diferentes graus de autonomia nas decisões de gestão”5 5 PORTUGAL Jr, José Geraldo, et al., Grupos econômicos: expressão institucional da unidade empresarial contemporânea”. P. 26. São Paulo : FUNDAP/IESP, 1994. A B c As empresas que compõem o grupo econômico são responsáveis, consoante dispõe a legislação trabalhista, por dívidas do grupo (art. 2º, da CLT) 3.2 CARTEL “Acordo de empresas concorrentes, destinado a regular o mercado em que atuam6” Formam-se por “acordo de cavalheiros” para obter condições mais vantajosas para os partícipes, seja na aquisição de matéria-prima, na conquista de mercados consumidores e, até, eliminação de concorrentes (instituição de monopólio – versão perniciosa e combatida). As empresas mantém sua independência administrativa, financeira e jurídica, inexistindo unidade diretiva. Não se equipara ao consórcio porque neste há manutenção de um órgão em comum, normalmente uma central de vendas ou de compras ou, ainda que fiscaliza ao cumprimento das obrigações acordadas. Os “pools” são simples variações de cartéis. 3.3 CONSÓRCIO Nos termos da Lei 6.404/76m artigo 278, o consórcio é a associação de duas ou mais empresas com o objetivo de executar determinado empreendimento de interesse comum. Não tem personalidade jurídica e as consorciadas tem limitadas suas obrigações ao previsto em contrato, respondendo cada qual por suas obrigações sem qualquer presunção de solidariedade e sem extensão de falência de umas em relações às outras empresas (art. 278, § 2º, da Lei 6.404/76). Exige documento formal – contrato - para sua constituição. Pode-se classificá-los de acordo com sua maior ou menor complexidade: 1º grau – quando a atuação das partes fica limitada a estipulação de um pacto, apenas; 2º grau – quando por acordo, estipulam a organização de escritório ou organismo comum de cunho fiscalizador e representativo perante terceiros; 3º grau – quando este papel de representação perante terceiros e coordenação do pactuado é desempenhado por uma sociedade formada para tanto. Dependendo da complexidade do consórcio, pode-se ou não ter configurado o grupo econômico. 6 BULGARELLI, Waldirio. Concentração de empresas e direito antitruste. 3a. Ed. São Paulo : Atlas, 1997. 3.4. JOINT VENTURE É, uma associação de empresas que combinam interesses para a execução de projeto comum com intuito de lucro. Não tem regulamentação, salvo em Portugal, e é por decisões judiciais norte- americana que se consegue destacar algumas das características essenciais destas associações: a) destinadas a um único objeto; b) contribuição e esforço comum dos “co-ventures”; c) busca lucro; d) recíproca faculdade para representar e obrigar os “co-ventures”; e) controle conjunto do empreendimento pelas associadas; f) repartem prejuízos; g) termina com a extinção de um dos “co-ventures”; h) dever de não-concorrência em relação ao objeto do joint venture 3.5. HOLDING COMPANY Holding deriva do verbo inglês “to hold” – segurar, manter, controlar, guardar. É uma sociedade formada para possuir ações e participações em outras empresas, sem ter, ela mesma, a princípio, qualquer atividade industrial, comercial ou financeira. A holding pode ser PURA, quando seu capital está investido em outras companhias, com objetivo de dominá-las ou OPERACIONAL, quando além de deter estaparticipação desenvolve atividades produtivas de bens ou serviços. Pode, ainda, ser DE FATO, quando é a empresa-mãe, que de fato centraliza a gestão do grupo, além de exerce suas atividades; será DE DIREITO PARTICIPADORA quando, formalmente constituída com o objetivo de controlar e centralizar o poder econômico no grupo, não interfere na administração das controladas; HOLDING DE DIREITO OPERADORA, quando além de formalmente constituída, centraliza o controle administrativo de todas as outras controladas. 3.7. SOCIEDADES COLIGADAS São coligadas as empresas ligadas por laços societários, onde uma participa com 10% ou mais do capital de outra, sem controlá-la (art. 243, § 1º, da Lei 6.404/76), não configurando, assim, grupo econômico, pois se mantém independentes.. Já o Regulamento do Imposto de renda, considera - art. 606, § 4º - como empresas coligadas, aquelas “cuja maioria do capital votante seja controlada direta ou indiretamente pela mesma pessoa física ou jurídica, compreendida também esta última, como integrante do grupo” Esta definição cria celeumas entre os doutrinadores que o vinculam apenas à questão tributária. É a independência destas empresas entre si, apesar da participação de capital, que a CVM (Comissão de valores mobiliários) possa exigir que a companhia, quando da publicação de sei balanço, divulgue informações adicionais sobre as empresas coligadas e controladas. 4. RESPONSABILIDADE Responsabilidade civil é, de forma sucinta, a obrigação jurídica que tem alguém de responder ao dano causado ao patrimônio de outrem. À luz do Código do Consumidor, quando determinado produto ou serviço causar dano ao consumidor ou a qualquer um deles equiparado, nasce para o fornecedor a obrigação de indenizar, sendo esta responsabilidade objetiva: constatando-se os elementos evento danoso, o acidente de consumo e o nexo causal entre estes, surge então a obrigatoriedade de reparação. Só haverá isenção de responsabilidade, desde que o fabricante, o construtor, o produtor, o importador e o fornecedor de serviços provem que não colocaram o produto ou o serviço no mercado, que, embora, o tendo colocado, o defeito inexiste, ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Ainda sobre responsabilidade do fornecedor pelos acidentes de consumo, temos que esta é regida pelo princípio da solidariedade passiva, em que o consumidor pode exigir de todos ou de apenas um responsável a indenização total ou parcial pelo dano sofrido; e que a reparação deverá ser ampla, devendo abranger tanto danos patrimoniais (materiais) quanto morais, tanto o dano emergente quanto o lucro cessante.
Compartilhar