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Introdução à LIBRAS e Cultura Surda

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LIBRAS – AULA 1 
DESCRIÇÃO 
Características das línguas de sinais e das comunidades surdas. Traços culturais das 
comunidades surdas: literatura, humor e arte surda. Variações linguísticas, regionalismo 
e padronização das línguas de sinais. 
PROPÓSITO 
Compreender os conceitos relacionados às línguas de sinais e à perspectiva da 
comunidade surda para tornar o mundo um lugar mais acessível. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades 
surdas 
Módulo 2 
Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor 
Módulo 3 
Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de padronização das 
línguas de sinais 
Introdução 
Apresentaremos conceitos relativos às línguas de sinais e à cultura das comunidades 
surdas. 
Fonte: Pixabay. 
As comunidades surdas são minorias linguísticas com artefatos culturais 
riquíssimos, marcadas pela peculiaridade linguística. 
As línguas de sinais são de modalidade visoespacial que, por meio das mãos, em 
articulação com o corpo e a face, produzem sinais e discursos complexos. Organizada 
espacialmente diante da pessoa que produz a língua, por meio de um sistema linguístico 
regrado, tem o mesmo status de qualquer outra língua. 
Símbolo Internacional da Língua de Sinais. | Fonte: UFMG. 
No Brasil, temos a Língua de Sinais Brasileira (Libras), reconhecida pela Lei nº 10.436, 
de 24 de abril de 2002, como meio legal de expressão e comunicação da comunidade 
surda brasileira. Além dela, temos no país línguas de sinais indígenas e de comunidades 
surdas locais. 
A popular Lei de Libras é regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 24 de abril de 
2005, que institui a disciplina de Libras como componente curricular obrigatório nos 
cursos de licenciatura, fonoaudiologia e pedagogia, bem como disciplina optativa nos 
demais cursos de instituições de ensino superior. Portanto, esse decreto tem o intuito de 
disseminar a Libras e possibilitar que você curse essa disciplina e tenha contato com 
aspectos interessantes do povo surdo. 
MÓDULO 1 
 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades 
surdas 
Vamos começar nossos estudos com alguns questionamentos. 
Fonte: Syda Productions/Shutterstock 
São exatamente essas questões – ou fatos que podem ser considerados interessantes a 
respeito das línguas de sinais e das comunidades surdas – que serão trabalhadas neste 
módulo. 
Linguagem de sinais é a língua dos 
surdos-mudos? 
Aqui temos dois equívocos frequentes de pessoas que não conhecem as comunidades 
surdas e as línguas de sinais. Primeiro, o correto é língua e não linguagem de sinais. 
As línguas de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004) possuem todos os níveis 
linguísticos existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, 
javascript:void(0)
sintaxe e pragmática. Portanto, é tão língua quanto a língua oral, apenas expressada e 
percebida por outra modalidade. 
Saiba mais 
Além de ser incorreto, do ponto de vista teórico, usar o termo “linguagem de sinais” é 
pejorativo, já que diminui a língua de sinais, como se por meio dela não fosse possível 
expressar conceitos abstratos e complexos, levando à ideia equivocada de que a Libras é 
apenas mímica, pantomima e gestos. 
O segundo equívoco é o termo “surdo-mudo”. Trata-se de um termo antigo, ainda 
muito difundido por meio de canais de comunicação. Veja mais sobre isso a seguir: 
MUDO 
A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala, uma deficiência 
que nada tem a ver com a surdez 
SURDO 
Um surdo ou um deficiente auditivo pode aprender a falar frequentando um 
fonoaudiólogo e fazendo fonoterapia, se assim desejar. 
Portanto, o termo correto é apenas “Surdo”, e com frequência escrito com a primeira 
letra maiúscula, demarcando uma concepção cultural das pessoas surdas em oposição a 
uma abordagem clínica e normatizadora que tem o objetivo de consertar os corpos 
surdos (SKLIAR, 1999). Temos aqui uma concepção sociológica, não clínica, do 
indivíduo surdo. 
Os Surdos possuem uma língua, que no caso brasileiro é a Língua Brasileira de Sinais 
(Libras), adquirida naturalmente, da mesma forma que pessoas ouvintes aprendem a 
língua portuguesa. 
Fonte: Anukul/Suttterstock 
No entanto, no caso das crianças surdas, temos uma peculiaridade, já que cerca de 95% 
dos bebês surdos nascem em famílias ouvintes que não sabem língua de sinais e têm 
pouca ou nenhuma informação a respeito das possibilidades de educação bilíngue para 
crianças surdas. 
O QUE SERIA, ENTÃO, O 
BILINGUISMO SURDO? 
Os indivíduos Surdos são uma minoria linguística e aprendem a língua de sinais de 
forma natural quando entram em contato com seus pares, isto é, com a comunidade 
surda sinalizadora. A língua da comunidade ouvinte, que é majoritária, é aprendida 
como segunda língua – no caso dos Surdos brasileiros, a língua portuguesa. 
No entanto, por conta da falta de informações a respeito das possibilidades linguísticas 
de uma criança surda, os pais tendem a optar primeiramente por intervenções clínicas e 
tecnologia assistiva, e com frequência proibir a língua de sinais. 
Fonte: Andrey_Popov/Suttterstock 
É um equívoco, cometido por alguns profissionais da área da saúde, afirmar que a 
aquisição de uma língua de sinais prejudica a fala. Esse argumento já foi refutado 
diversas vezes, já que a aquisição de uma língua não atrapalha, de modo algum, a 
aprendizagem de outra. 
A língua de sinais resume-se ao alfabeto 
manual? 
A resposta é não! 
Você já viu uma lista do alfabeto com a respectiva 
soletração manual ou datilologia em Libras e pensou 
que, caso decorasse aquelas configurações, conseguiria 
se comunicar plenamente com os Surdos? 
Clique nas opções a seguir. 
O alfabeto manual, ou a soletração digital, é apenas um dos recursos utilizados por 
sinalizantes das línguas de sinais. É um código que representa as letras do alfabeto 
como um empréstimo linguístico. Portanto, soletrar não é um meio com um fim em si 
mesmo. 
Atenção 
Um ponto importante ressaltado por Gesser (2009) é que a soletração digital, tanto na 
sua forma produtiva (do ponto de vista de quem articula) quanto na receptiva (do ponto 
de vista de quem lê), pressupõe que a pessoa seja alfabetizada. 
Assim, como as crianças surdas que ainda não são alfabetizadas se comunicariam? 
O Surdo/ouvinte não alfabetizado (leitura/escrita) na língua oral da comunidade ouvinte 
majoritária teria a mesma dificuldade que um indivíduo iletrado para utilizar esse 
recurso. 
Veja o alfabeto manual e aproveite para treinar seu nome em Libras: 
Alfabeto Manual | Fonte: Ensine.Me. 
Para a maioria das palavras e dos representantes no mundo real, existe uma forma de 
expressão em língua de sinais que não requer o uso da soletração digital. No entanto, 
esse recurso é importante em alguns casos específicos na língua de sinais. 
O alfabeto manual não é uma língua, e sim um código de representação das letras 
alfabéticas. É, portanto, um empréstimo linguístico da língua portuguesa ou de outra 
língua oral da comunidade ouvinte. Por consequência, o alfabeto manual também não 
é universal, sendo, por exemplo, o alfabeto manual da Língua Britânica de Sinais 
(BSL) completamente diferente do alfabeto manual da Libras. 
javascript:void(0)
Exemplo 
Temos ainda um processo em que um sinal começa com a soletração manual e depois se 
transforma em um sinal lexicalizado. Podemos citar como exemplo o sinal de NUNCA. 
Sinal NUNCA SOLETRADO e sinal NUNCA LEXICALIZADO | Fonte: Ensine.Me 
A língua de sinais é a versão sinalizada 
da língua oral? 
A Libras não é a língua portuguesa sinalizada. Nenhuma língua de sinais segue a 
mesma estrutura da língua oral. 
A língua de sinais tem estrutura própria, e é autônoma, ou seja, 
independente de qualquer língua oral em sua concepção linguística. 
(GESSER,2009) 
Do ponto de vista da sociolinguística, o fato de a comunidade surda estar inserida e 
cercada pela comunidade ouvinte majoritária faz com que as línguas de sinais estejam 
em contato direto com as línguas orais – portanto, é natural ocorrerem empréstimos 
linguísticos. 
Isso acontece com qualquer língua com que se esteja em contato. Quantos 
empréstimos da língua inglesa nós, brasileiros, usamos no nosso cotidiano? Várias, 
correto? 
Portanto, mesmo que existam empréstimos linguísticos, como a soletração manual, isso 
não quer dizer que as línguas de sinais tenham suas raízes históricas nas línguas orais. 
As línguas de sinais emergem naturalmente em suas comunidades surdas. 
A língua de sinais é universal? 
Certamente uma das crenças mais frequentes em relação à língua de sinais é que ela 
seria universal, que todos os surdos ao redor do mundo se comunicariam com a mesma 
língua. Sabemos que as línguas orais variam geograficamente. 
Então, por que com as línguas de sinais seria diferente? Seria muito interessante 
aprender uma língua de sinais e ser capaz de se comunicar com todos os surdos do 
mundo, não é mesmo? 
Mas isso não acontece. As línguas de sinais variam muito, até mesmo dentro de um país 
ou estado, como veremos no último módulo. Segundo Sofiato (2011), podemos citar 
como exemplos: 
Surdos franceses 
Língua de Sinais Francesa (LSF) 
Surdos norte-americanos 
Língua de Sinais Americana (ASL) 
Surdos brasileiros 
Língua de Sinais Brasileira (Libras) 
Saiba mais 
Um fato interessante é que a Libras tem forte influência da LSF e nenhuma influência 
da Língua Gestual Portuguesa (LGP), de Portugal. Desse modo, podemos apenas 
determinar parentescos e influências entre as línguas. A influência da LSF na Libras é 
apontada em vários trabalhos acadêmicos, conforme Sofiato (2011) e Martins (2017). 
Os registros históricos sobre a educação de surdos no Brasil mostram que ela está 
presente desde a vinda do Surdo francês Eduard Huet para fundar a primeira escola para 
surdos do país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857. 
A influência da LSF sempre esteve presente na Libras. Aliás, também teve forte 
influência na ASL por meio de Edward Miner Gallaudet, que foi até a França observar 
como os surdos franceses eram ensinados. Em homenagem a Gallaudet, temos a única 
universidade específica para surdos no mundo, a Gallaudet University, onde a ASL é a 
língua de instrução. 
As línguas de sinais são línguas naturais das comunidades surdas, ricas e complexas, tão 
variáveis quanto as línguas orais. Como afirma Gesser (2009), em qualquer lugar em 
que existam surdos existe língua de sinais, e o que é universal é o impulso para 
comunicação dos indivíduos, não a língua em si. 
Fonte: New Africa/Shutterstock 
Seria possível nos cinco continentes termos apenas uma língua de sinais? 
É bem possível, na verdade, que as línguas de sinais tenham uma quantidade maior de 
variação que lembre-se que, com a mudanç línguas orais, já que não possuem registro 
gráfico difundido, como veremos no fim deste módulo. 
A língua de sinais tem gramática? 
Sim! As línguas de sinais são naturais da comunidade surda e possuem estrutura e 
gramática próprias. 
Os estudos linguísticos das línguas de sinais começaram com William Stokoe na 
década de 1960. Stokoe, considerado o pai da Linguística das línguas de sinais, fez 
análise linguística da ASL por meio das publicações seminais como: 
 
*Estrutura da língua de sinais: um esboço dos sistemas de comunicação visual dos 
surdos americanos (STOKOE, 1960) 
 
*Um dicionário de línguas de sinais americanas sobre princípios linguísticos 
(STOKOE; DOROTHY; CRONEBERG, 1965). 
Essas obras foram fundamentais para o reconhecimento do status linguístico das línguas 
de sinais, permitindo desenvolvimentos teóricos e metodológicos de análise de línguas 
de sinais, de sua estruturação interna e gramática. 
A língua de sinais, como afirmou Stokoe, tinha os mesmos parâmetros linguísticos das 
línguas orais, sendo eles fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. 
Apesar das diferenças de modalidade de realização e percepção entre as línguas orais e 
as de sinais, estas seguem princípios de organização estrutural semelhantes aos das 
línguas orais. 
Stokoe analisou sinais da ASL em suas unidades mínimas e propôs três parâmetros 
constitutivos independentes, como indicados a seguir. 
Clique nas informações a seguir. 
Posteriormente, mais dois parâmetros foram propostos por Battison (1974) e Friedman 
(1975): a orientação da palma e os aspectos não manuais. 
Resumindo 
Esses cinco parâmetros, portanto, são itens de composição fonético-fonológica das 
línguas de sinais, e a presença deles forma o sinal. É interessante lembrarmos que, 
enquanto nas línguas orais as expressões faciais demarcam sentimentos e intensidades, 
nas línguas de sinais temos expressões faciais gramaticais. 
Observe o sinal a seguir com os indicativos das unidades mínimas e lembre-se de que, 
com a mudança de apenas um parâmetro, o significado do sinal é completamente 
diferente. 
 
Sinal DESCULPA 
 
Sinal TELEFONE 
Fonte: Ensine.me 
Saiba mais 
No Brasil, os primeiros trabalhos sobre Libras são de Ferreira-Brito (1995) e, 
posteriormente, Quadros e Karnopp (2004). Temos também, lançado mais 
recentemente, um dicionário de Libras (CAPOVILLA et al., 2017), com cerca de 
14.500 entradas registradas. 
A língua de sinais é apenas mímica/gestos 
e icônica? 
Mais uma vez, a resposta é não! As línguas de sinais são naturais, complexas, 
recombinativas, arbitrárias e também icônicas em certo grau. 
Para compreendermos melhor, vamos retomar os conceitos de língua e iconicidade: 
Clique nas barras para ver as informações. 
LÍNGUA 
Para Saussure (1969), considerado o pai da Linguística, a língua, ou signo linguístico, é 
uma convenção entre os membros de uma comunidade e estabelece significado e 
significante. Um som, por si só, não possui nenhum significado. No entanto, se ele 
existe dentro de uma língua, esse som passa a ter significado por meio de uma 
convenção. Portanto, para Saussure, a relação entre a forma do referente e a forma das 
unidades básicas da língua falada, ou seja, palavras e morfemas, é essencialmente 
arbitrária. Isso significa dizer que não há necessariamente uma relação natural entre 
a língua (imagem acústica ou som) e o sentido a que ela remete (significante, 
representante no universo). 
ICONICIDADE 
Iconicidade é a propriedade linguística contrária à arbitrariedade e se caracteriza pela 
semelhança, em certos signos linguísticos, entre a forma (do sinal ou da palavra) e a 
“coisa” representada no universo. Iconicidade também existe nas línguas orais e ocorre, 
por exemplo, em onomatopeias, como “atchim” e “tique-taque”, e palavras 
onomatopaicas, como “sussurrar” e “zumbido”. 
Segundo Taub (2001), que é uma importante pesquisadora das línguas de sinais, a 
iconicidade é comum nas línguas orais e nas sinalizadas, e está presente em todos 
os níveis da estrutura linguística, incluindo desde morfologia e sintaxe até itens 
lexicais singulares. 
Mas e a língua de sinais? É só icônica? 
Veja os seguintes sinais retirados do Dicionário da língua de sinais do Brasil, o maior 
dicionário impresso de língua de sinais do mundo! 
 
Sinal CASA 
Fonte: Ensine.Me 
Certamente, mesmo sem ser fluente em Libras, você consegue reconhecer esses sinais. 
Agora observe este: 
 
Sinal ARBITRÁRIO 
Fonte: Ensine.Me 
Segundo Martins (2017), se as línguas de sinais fossem constituídas apenas de 
elementos icônicos, mímicos, pantomímicos e pictóricos, o significado deveria ser 
imediatamente compreendido por observadores ingênuos. Se esse fosse o caso, as 
línguas sinalizadas não teriam o mesmo status das línguas faladas. 
Ainda segundo a autora, a iconicidade de um sinal não decorre simplesmente dasemelhança entre a forma e o significado desse sinal, mas de um processo 
sofisticado em que os recursos fonéticos dos sinais permitidos pela língua são 
construídos em analogia com a imagem associada ao referente. Esse processo 
envolve uma quantidade substancial de trabalho conceitual, que inclui seleção de 
imagem, mapeamento conceitual e esquematização de itens para se enquadrar nas regras 
da língua. A iconicidade só existe por meio de esforços mentais dos seres humanos, e 
depende das nossas associações conceituais naturais e culturais. 
 
Sinal CASA 
Fonte: Ensine.Me 
A arbitrariedade da relação entre significante e significado é que permite a 
recombinação generativa entre as unidades mínimas abstratas que compõem a assim 
chamada “fonologia” das línguas de sinais. Em sinais icônicos transparentes, algum 
aspecto da forma física do sinal se assemelha à imagem sensória concreta do referente 
desse sinal. Assim, sinais icônicos transparentes podem representar analogicamente 
apenas referentes mais concretos. 
Há um paradoxo interessante sobre a iconicidade das línguas de sinais. Klima e Bellugi 
(1979) e Martins (2017) conduziram estudos explorando sistematicamente como a 
iconicidade poderia facilitar a compreensão de sinais por ouvintes ingênuos nessa 
língua. Temos duas observações, em parte, contraditórias entre si: 
Quando expostos a sinais e a informações acerca dos significados desses sinais, e 
solicitados a atribuir uma nota para avaliar o grau de iconicidade desses sinais, 
observadores ingênuos tendem a atribuir notas elevadas, e a persistir em buscar, nos 
sinais, aspectos que justifiquem, em maior ou menor grau, a sua forma a partir de seu 
significado. 
Quando expostos aos mesmos sinais, mas na ausência de informação acerca dos 
significados desses sinais, e solicitados a adivinhar-lhes o significado, esses mesmos 
observadores ingênuos tendem a atribuir a esses sinais significados díspares e 
inadequados. 
Esses estudos revelam que a maioria absoluta dos sinais é muito opaca, 
apesar de ser vista, quase sempre, como bastante icônica. Interessante, 
não é mesmo? 
A língua de sinais é ágrafa? 
Mais uma vez: não! 
Então as línguas de sinais possuem uma escrita única e difundida? 
Também não. Vejamos: 
A escrita é uma representação da língua falada ou sinalizada por meio de símbolos 
gráficos; portanto, o sistema de escrita é um conjunto de símbolos. 
Até pouco tempo atrás, as línguas de sinais eram consideradas uma língua sem escrita. 
Veja a seguir mais sobre a origem da escrita de sinais no mundo: 
Clique nas figuras abaixo. 
 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
A primeira tentativa de escrita de sinais de que se tem registro é a do francês Roch-
Ambroise Auguste Bébian, que publicou uma obra chamada Mimographie. 
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
Nos Estados Unidos, há o sistema de notação de William Stokoe (1960) – sim, o mesmo 
que fez a descrição fonético-fonológica das línguas de sinais. Também nos Estados 
Unidos temos o sistema de escrita de línguas de sinais mais difundido, o Signwritting 
(SW), baseado em um sistema para grafar coreografias. 
Os sistemas são como alfabetos e podem ser usados para grafar qualquer língua de 
sinais. Veja um exemplo da grafia do sinal casa em SW, preste atenção na 
transparência do sistema: 
javascript:void(0)
 
 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
Na Alemanha, há o Sistema de Notação de Hamburgo (HamNoSys) desde a década de 
1980. 
javascript:void(0)
 
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock 
No Brasil, temos a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), o primeiro sistema de 
transcrição criado no país por Mariângela Estelita Barros. 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos ajuda a desmitificar a Libras e os 
Surdos. Vamos assistir! 
Verificando o aprendizado 
1. Vimos no começo do primeiro módulo que linguagem se refere a um 
processo de comunicação por meio de mecanismos que transmitem todo 
tipo informações. Portanto, qualquer conjunto de sinais/signos pode ser 
considerado linguagem – uma placa de carro, músicas, gestos e assim por 
diante. Estudamos que o correto é língua de sinais, não linguagem de 
sinais. 
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Qual das sentenças abaixo é uma justificativa correta para essa 
afirmação? 
 
As línguas de sinais são padronizadas. 
 
As línguas de sinais têm estrutura complexa e são naturais. 
 
A linguagem leva em conta a complexidade das línguas. 
 
As línguas de sinais ainda não são reconhecidas. 
Comentário 
2. Chamamos de “surdo oralizado” o indivíduo com perda auditiva que 
se comunica oralmente e faz leitura orofacial. É comum pessoas que 
nasceram ouvintes perderem a audição com o tempo. Temos os “surdos 
sinalizantes”, que se comunicam por meio da Libras. Já o termo “surdo-
mudo” é antiquado, ainda muito utilizado por pessoas que não conhecem 
a comunidade surda. 
Nesse contexto, analise as afirmativas a seguir. 
 
I) Mudez é uma consequência da surdez. 
II) Surdos podem ser oralizados com fonoterapia. 
III) A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala. 
 
Das afirmativas acima: 
 
Somente III é verdadeira 
 
Somente I é falsa 
 
Somente II é verdadeira 
 
II e III são falsas 
Comentário 
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MÓDULO 2 
 
Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e 
humor 
Cultura surda 
Apesar de ser bastante utilizado, o termo “cultura” nem sempre é bem compreendido, 
pois sua abrangência por vezes não é clara. Em geral, o senso comum atribui prestígio 
somente à cultura erudita, reconhecendo o seu valor estético, e a trata como única forma 
válida de cultura, como se fosse mais desenvolvida. 
No entanto, cultura abrange o conjunto de hábitos, conhecimentos e crenças de um 
povo. Em nosso estudo, vamos partir do que é cultura para a Sociologia, já que essa 
ciência tem como premissa que “é por meio da cultura que buscamos soluções para 
nossos problemas cotidianos, interpretamos a realidade e produzimos novas formas de 
interação social” (SILVA et al., 2017). 
Fonte: melitas/Shutterstock 
Pensamos em cultura como o produto da interação de indivíduos que compartilham 
valores, experiências e visões semelhantes. Não é possível afirmar que há culturas 
inferiores ou superiores, visto que tal conceituação é advinda de preconceitos e visões 
de mundo há muito ultrapassados. Acreditamos numa visão sociológica, em que todos 
os artefatos culturais tenham valor. 
A fim de que isso possa ser explorado, é necessário que respeitemos valores, tradições, 
costumes e práticas dos povos, sem exceção, e deixemos de lado estereótipos e 
classificações sem fundamento. Esse conjunto de conhecimentos e ações é transmitido 
de geração a geração através de interações que podem ocorrer nas atividades do 
cotidiano ou em festividades especiais. 
Partindo desse pressuposto, lançamos uma questão: 
Existe uma cultura surda? 
Clique nas opções a seguir. 
A cultura surda traz em si elementos importantes que a identificam, 
constituem-na e a colocam no rol das diferentes culturas que perfazem o 
panorama das posições da modernidade tardia. Os espaços das culturas 
são regidos por tramas de poder. Cada cultura é, em si mesma, 
autoridade. 
(PERLIN, 2006, p. 138) 
Para Gladis Perlin, primeira doutora surda do Brasil na área dos estudos surdos (deaf 
studies), subárea dos estudos culturais, existe sim uma cultura dos surdos que é fruto da 
sua forma de ver o mundo. Vejamos alguns desses aspectos a seguir. 
Visualidade 
A vivência surda é muito visual. A visão é o principal sentido de contato com o mundo, 
de apreensão e significação das informações. 
 
Linguístico 
Como vimos no módulo anterior, as línguas de sinais, de modalidade visoespaciais, são 
as línguas naturais para as pessoassurdas. A língua de sinais é tão complexa quanto 
qualquer outra. Não se trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o 
português, nem de simples gestos ou mímica. Em salas de aula, eventos públicos ou 
mesmo na televisão, deve ser feita a tradução entre a língua oral e a de sinais por um 
intérprete. 
 
Família 
Ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ouvintes em lares 
surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas questões 
ligadas à aceitação, à superproteção e à concepção sobre a surdez são discutidas. 
 
Comunidade surda 
Composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como professores, familiares, 
intérpretes, amigos, entre outros. 
 
Associações e organizações 
Centros cuja importância se manifesta, por exemplo, na possibilidade de o surdo 
interagir com outras pessoas surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a 
possibilidade de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do segmento por vezes 
abraçadas nessas organizações etc. 
 
Literatura surda 
Arte que abarca produções literárias em língua de sinais produzidas ou adaptadas por 
pessoas surdas. 
 
Artes visuais 
Englobam o teatro surdo e as artes plásticas. 
 
Criações e transformações materiais 
Exemplificadas pelas soluções alternativas para as pessoas surdas, como campainhas 
luminosas, telefones adaptados, dispositivos de vibração (relógios, celulares) em 
substituição ao despertador etc. 
Existem vários aspectos que demarcam a existência da cultura surda. O mês de 
setembro, chamado de Setembro Azul, é um marco importante para comunidade surda, 
já que contém várias datas importantes como veremos a seguir: 
javascript:void(0)
Fonte: Jane Kelly/Shutterstock 
• 6/9 a 11/9 
Esses dias relembram um triste marco histórico para a comunidade surda, o Congresso 
de Milão, de 1880, onde as línguas de sinais foram proibidas e a educação de surdos 
passou a ser oralista. 
• 23/9 
Dia Internacional das Línguas de Sinais. 
• 26/9 
Dia Nacional do Surdo, data escolhida por conta da fundação da primeira escola de 
surdos do país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). 
• 30/9 
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Dia do Tradutor, dia de homenagear os intérpretes de Libras, profissionais de extrema 
importância para a acessibilidade dos surdos. 
Identidades surdas 
A comunidade surda não é homogênea; existe outro conceito muito presente trazido por 
Perlin (2006) que merece nossa atenção: as identidades surdas. Segundo ela, não 
existe apenas uma forma de ser surdo e de se entender como tal. Vejamos a seguir quais 
são essas identidades. 
Clique nas informações a seguir. 
Refere-se aos surdos que, após alguns anos vivendo sem conhecimento sobre a língua 
de sinais nem contato com a comunidade surda, aprendem a comunicar-se em uma 
língua visoespacial. 
Refere-se aos surdos que se expressam através da maneira de ser ouvinte, vivem e 
interagem na sociedade buscando ser ouvintes. 
Refere-se aos casos em que o surdo não se enxerga como bem compreendido pelos 
ouvintes, criando assim um sentimento de subalternidade. 
Nesta identidade, incluímos os surdos que nasceram ouvintes e perderam a audição 
ainda na infância. Essas pessoas utilizam a comunicação através da língua oral e 
também da língua sinais. 
São os surdos que utilizam a língua de sinais, participam da comunidade surda e têm 
orgulho de sua história, sua cultura e suas manifestações sociais. 
É fato que entendemos que as pessoas surdas de identidade surda são aquelas que se 
sentem à vontade com a sua diferença e, por isso, apresentam a surdez não como 
perda da audição. Também é fato que jamais poderemos nos referir às demais 
identidades como menores ou inferiores. 
Comentário 
A comunidade surda é heterogênea; os indivíduos surdos são atravessados por diversas 
questões. Surdos podem ser filhos de pais surdos ou ouvintes, podem usar aparelho 
auditivo ou ter implante coclear, podem ser oralizados ou não, e assim por diante. 
Subgrupos da comunidade surda 
Existem outras características que também unem os surdos em subgrupos menores 
dentro da comunidade surda. Podemos citar diversas relações de identificação que 
extrapolam a questão do ser surdo em um mundo ouvinte. 
Como exemplo de agrupamentos de surdos com outras características, estão: 
 
Religiosidade 
Podemos citar os surdos espíritas, testemunhas de Jeová, católicos e evangélicos. 
Fonte: fizkes/Shutterstock 
 
Identidade de gênero e orientação sexual 
Comunidades surdas que se encontram em associações e que também participam de 
paradas de diversidade. Nesses subgrupos, as questões relativas às necessidades 
específicas desses sujeitos são apresentadas e debatidas. 
/ 
Fonte: lazyllama/Shutterstock 
 
Esportes 
A prática de esportes também é muito presente nas comunidades surdas pelo mundo, 
estimulando a organização de jogos intermunicipais, estaduais, nacionais e 
internacionais. A XXIV Surdolimpíadas de Verão, um evento internacional, 
acontecerá no Brasil, na cidade de Caxias do Sul-RS, entre os dias 5 e 21 de dezembro 
de 2021. 
Fonte: Pavel1964/Shutterstock 
As manifestações culturais surdas são criações coletivas ou individuais relacionadas ao 
sistema artístico ouvinte e suas produções. Nisso, vemos o fato de que as expressões 
poéticas configuram um grande polissistema, constituído por sistemas menores 
independentes como o da arte surda. 
A literatura surda 
Outro exemplo de uma atividade produtiva surda é a literatura surda, que costuma 
utilizar adaptações de contos famosos para a cultura surda, apresentando personagens 
surdos. Nesses contos, a experiência visual é enfatizada, bem como a valorização da 
língua de sinais e da surdez. Existem também produções originais produzidas por 
autores surdos e que não são adaptações. 
Fonte: Pixabay. 
Essa literatura serve como meio de identificação e representatividade para seus leitores 
– apresentando histórias em que a narrativa sobre a surdez não é vista como uma perda, 
mas sim uma diferença, ajuda a construir no imaginário uma visão positiva de si. Os 
autores se utilizam também de estratégias da semiótica para destacar o uso das mãos e a 
visualidade, pois o objetivo é marcar a presença da visualidade e da Libras como 
empoderadoras, não como deficit. 
É possível afirmar que os surdos são seres biculturais, já que, além da cultura surda, 
experienciam a cultura de seu país, da comunidade ouvinte majoritária. Por meio das 
mais diversas relações sociais, todos compartilhamos da cultura de nosso país – na 
música, na dança, nas tradições e nos mais variados produtos culturais. 
Isso também inclui as pessoas surdas que interagem nesse grande sistema cultural 
brasileiro. O polissistema literário brasileiro inclui o sistema literário surdo, que busca 
protagonizar a experiência vivida por pessoas que nasceram no país e compartilham 
com os ouvintes de muitos traços culturais. Portanto, não se limita apenas a adaptar 
contos, mas a ajudar a interagir e a transformar através de um diálogo entre a tradição e 
a necessidade de ver-se representado. 
Livros infantis 
Clique nas informações a seguir. 
Fala de um patinho que nasceu em um lugar com patinhos ouvintes. O ápice da história 
é o momento em que ele encontra patos surdos e aprende a “Língua de Sinais da 
Lagoa”. Esse livro é uma adaptação que relaciona a experiência prévia à língua de sinais 
com a ideia de exclusão, apresentando a possibilidade de aceitação e pertencimento. 
(KARNOPP; ROSA, 2005) 
Humor surdo 
Dentro do sistema da literatura surda, podemos também falar do humor surdo e das 
piadas com personagens surdos. Essas anedotas são muito frequentes em encontros de 
surdos, tanto nos formais (congressos/fóruns de educação) como nos informais 
(associações de surdos). 
Fica clara a ideia de surdez constituída como diferença, não como limitação.Ao 
trazer o humor para as suas vidas, os contadores tratam de si mesmos com leveza e 
possibilitam que os interlocutores, da mesma forma, consigam compreender que não 
existe luto por serem surdos. Veja o exemplo de uma piada para crianças: 
Clique na figura abaixo. 
 
O lenhador 
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Um homem trabalhava em uma floresta. Ele cortava árvores. 
E procurava árvores grandes para cortar. 
Quando encontrava alguma, usava seu machado para cortá-las. E então ele gritava: 
– Madeira! – E a árvore caía no chão. 
Um dia ele encontrou uma árvore enorme, e começou a cortá-la. 
Ele gritou para árvore, mas a árvore não caiu. 
Ele chamou um médico que entendia de árvores, que, após examiná-la, percebeu que ela 
era surda. 
Então o lenhador chamou um intérprete, que falou para a árvore, em Libras: 
– Madeira. – E ela caiu! 
Nas piadas, outro fator que fica evidente é o “ganho surdo”, devido à possibilidade de 
comunicar-se em uma língua desconhecida para a maioria e a perda sofrida pelos 
ouvintes por não se comunicarem por meio dela. São denominados “ganhos surdos” (do 
inglês deaf gain) as relações que se dão com o mundo através da visualidade e os 
benefícios que isso pode trazer. Aqui a desvantagem não é do surdo, e sim do ouvinte, 
que desconhece os aspectos culturais relativos à visualidade. 
Na anedota surda, podem ser trazidas a diferença e as experiências difíceis vivenciadas 
pelos surdos como meio para o humor. Inclusive o elemento religioso é representado em 
sátiras de cura da surdez. Rir de si mesmo, do sagrado e do outro é uma forma de 
criar uma relação de proximidade. 
Vejamos um exemplo de humor. 
Clique nas figuras abaixo. 
 
O Waffle 
Em um café, dois amigos conversam sentados a uma mesa, enquanto na outra, um rapaz 
acompanhado por uma garota come seu lanche fazendo um enorme barulho com os 
talheres e também ao mastigar! 
Ao fim do lanche, o rapaz faz vários sinais com as mãos, em libras, dizendo “Este foi o 
melhor waffle que comi na vida!”. 
A garota, ao compreender a mensagem, diz em voz baixa e constrangida: “Todos aqui 
notaram!”. 
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javascript:void(0)
 
Na aula de mergulho 
Professor: Seu marido é surdo? Não tenho certeza se poderemos fazer isso. 
Esposa: O que você quer dizer? 
Professor: Eu preciso me comunicar com ele embaixo d’água e ele não pode ouvir! 
Esposa: Como você se comunica embaixo d’água com pessoas que podem ouvir? 
Professor: Bem, nós usamos sinais manuais para... não, peraí! 
Professor: Dã! Desculpa! 
O desafio da inclusão 
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Com o passar dos anos (BAUMAN e MURRAY, 2014), diversos questionamentos 
surgiram sobre por que lutar pelo direito à diferença para se contrapor às práticas 
educacionais e médicas com visão negativa da surdez – pela valorização da diferença, 
pela necessidade de lutar e pela preservação do que é visto como falta pela maioria. 
Nessa busca por uma autocompreensão da subjetividade surda, foi possível observar 
diversos ganhos com a aquisição da língua de sinais, por exemplo: 
Crianças surdas 
Percepção de ganho com sua experiência visual 
Crianças ouvintes de famílias ouvintes 
Vantagens cognitivas, como a possibilidade de desfrutar de mais de uma cultura, e ter 
acesso a duas modalidades de língua 
Toda a materialidade concernente à compreensão do que significa ser surdo e o que isso 
gera é fruto do trabalho de Paddy Ladd quanto aos deaf studies no Reino Unido e seu 
trabalho de “descolonizar” os trabalhos de pesquisa sobre a surdez: “A pesquisa de 
Paddy Ladd inaugura um amplo e multifacetado campo teórico investigativo que se 
propõe dar protagonismo à mentalidade surda (deaf way) e sua história de resistência” 
(TERCEIRO; FERNANDES, 2019). 
Na continuidade de visões sobre os ganhos surdos, há alguns autores que citam os 
seguintes exemplos: 
Fonte: zealous/ Shutterstock 
• a possibilidade de não ouvir barulhos e conversas em locais tumultuados; 
• a questão da visão periférica, aguçada em indivíduos surdos; 
• as diferentes perspectivas sobre o mundo. 
Atenção 
Ao falarmos de ganhos surdos, não estamos jamais tentando diminuir ou negar as 
dificuldades encontradas pelas pessoas surdas por viverem em uma sociedade 
predominantemente ouvinte. Sabe-se que a falta de comunicação enfrentada por muitos 
surdos com suas famílias pode causar-lhes muitos problemas, até mesmo na vida adulta. 
A visão de diferença e não de deficiência é capaz de nos ajudar a perceber que existem, 
sim, alguns ganhos na experiência da visualidade, e até mesmo no fato de não ser 
exposto a tudo que os ouvintes são sem poderem escolher. 
 O que se propõe aqui não é falar apenas sobre a Libras ou o que será preciso 
em relação às práticas educativas necessárias ao atendimento bilíngue. Na verdade, 
visamos a uma inclusão que atenda a todas as problemáticas das diferença dos 
sujeitos. Tem-se uma língua, uma cultura e diversas identidades que necessitam ser 
contempladas. 
Fonte: Agência Brasília- Criative Commons 
Atualmente, os mais variados grupos sociais estão lutando por sua representatividade na 
arte, na mídia e no meio acadêmico – e isso inclui os surdos. O processo de autonomia, 
contrário ao de assujeitamento, requer manifestações de todas as ordens porque, nesse 
momento, não se quer ocultar e sim mostrar as especificidades concernentes a cada um. 
Com o advento da tecnologia e das mídias sociais, temos um gama de produções surdas, 
com protagonismo surdo. 
Saiba mais 
Podemos citar dois canais interessantes no YouTube: Porta dos Surdos e o canal do 
youtuber Leo Venturino. São excelentes fontes para aprender Libras! 
Vídeo com Avaliação 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos apresenta um pouco da sua 
vivência com as culturas surdas. Vamos assistir! 
Verificando o aprendizado 
1. A comunidade surda não é homogênea. Os surdos são atravessados por 
várias outras questões sociais e individuais. As questões individuais estão 
fortemente relacionadas à idade da perda auditiva, a processos de 
escolarização, à utilização ou não de aparelhos auditivos, e assim por 
diante. Os surdos se identificam entre si especialmente por conta da 
língua em comum – no caso dos surdos brasileiros, a Libras. A partir do 
que nos apresenta Gladis Perlin, assinale a alternativa correta da 
correspondência identidade-característica. 
 
I) Identidade de transição 
II) Identidade inconformada 
III) Identidade híbrida 
IV) Identidade surda 
 
( ) Surdos que não se sentem compreendidos por ouvintes e têm 
sentimento de subalternidade. 
( ) Surdos que depois de um tempo vivendo sem língua de sinais 
encontram a comunidade surda. 
( ) Surdos que perderam a audição e se comunicam em língua de sinais e 
língua oral. 
( ) Surdos que utilizam língua de sinais e se orgulham da comunidade 
surda. 
 
I, IV, III, II 
 
IV, III, II, I 
 
III, IV, I, II 
 
II, I, III, IV 
Comentário 
2. Pela ótica da Sociologia e de pesquisadores da área dos estudos surdos, 
a comunidade surda se configura em uma minoria linguística, com 
histórias de lutas e conquistas que se une enquanto sujeitos com 
características específicas decorrentes de sua experiência de interação 
com o mundo. Sobre os artefatos culturais surdos, analise as alternativas 
a seguir. 
 
I) A literatura surda serve como um meio de identificação e 
representatividade para os seus leitores. 
II) É possível afirmarmos que os surdos são seres biculturais. 
III) Humor não faz parte da cultura surda, pois é pejorativo. 
IV) A literatura surda tem produções originais ou adaptações de 
clássicos. 
 
Qual alternativa está correta? 
 
I, II, IV 
 
I, II, III, IV 
 
I, II, III 
 
I, IV 
Comentário 
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MÓDULO 3 
 
Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de 
padronização das línguas de sinais 
Língua e sociedade 
Para compreendermosa variação linguística e a padronização, precisamos nos atentar 
para a língua em suas relações com a sociedade. Essas relações são estudadas pela: 
Sociolinguística 
Ramo da linguística que estuda a língua como um fenômeno social, tendo como seu 
expoente os estudos de William Labov (2008) 
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock 
Labov, desde meados dos anos 1960, levantou discussões acerca da pluralidade e 
heterogeneidade da língua nos seus estudos seminais. Como língua e sociedade são 
fortemente correlacionadas, a língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo, 
e nos diferentes espaços sociais, bem como nas diferentes situações comunicativas. 
Exemplo 
Percebemos no cotidiano essas variações por meio dos sotaques de indivíduos de outros 
estados, de uma palavra que uma pessoa mais velha utiliza e que não conhecemos, da 
formalidade de um tribunal do júri, e assim por diante. 
No primeiro módulo, vimos que as línguas de sinais não são universais e variam 
geograficamente – surdos franceses utilizam a Língua de Sinais Francesa (LSF), surdos 
norte-americanos utilizam a Língua Americana de Sinais (ASL), e assim por diante, 
certo? Este é o primeiro tipo de variação que notamos: existem línguas diferentes no 
mundo. 
Pensamos primeiramente nas “grandes línguas” associadas a grandes civilizações ou 
impérios. Isso nos remete à relação de língua e poder político. 
O mandarim é língua nativa de quase 1 bilhão de pessoas. Para termos uma ideia, se 
juntarmos o mandarim às outras sete línguas mais faladas no mundo (inglês, espanhol, 
hindi/urdu, árabe, russo, bengali e português), chegaremos a uma porcentagem entre 
40% e 45% da população mundial. 
 
• Assim, 45% falam oito línguas; 
• Os outros 50% falam trezentas línguas; 
• A minoria, 5%, fala mais de 6 mil línguas restantes. 
Antes da tecnologia da escrita e das grandes civilizações, cada grupo ou tribo tinha a sua 
própria língua; portanto, havia muito mais línguas no mundo, mesmo com uma 
população bem menor. 
Saiba mais 
Antes da colonização portuguesa do Brasil, imagina-se que havia aproximadamente 
1.175 línguas indígenas. Atualmente, temos cerca de 180 e dezenas estão ameaçadas de 
extinção. 
Exemplo 
Isso também acontece com as línguas de sinais. Segundo pesquisa publicada por 
Johnston (2006), a população de surdos nativos e sinalizadores na Austrália está 
diminuindo muito. Isso por conta do controle da rubéola, do mapeamento genético, do 
implante coclear e das políticas de inclusão. Com essa medida, a comunidade surda 
australiana pode diminuir a ponto de a Língua de Sinais Australiana (Auslan) 
desaparecer. 
Fonte: danceyourlife/ Shutterstock 
No Brasil, temos um fenômeno frequente que chamamos de regionalismo. Por se tratar 
de um país continental – cuja riqueza cultural é impressionante, constituída pela mistura 
de várias nacionalidades da Europa, África e, ainda, dos povos autóctones, sem falar da 
gama de empréstimos linguísticos, especialmente da língua inglesa –, o regionalismo é 
muito frequente, sendo o dialeto uma de suas formas de expressão. 
Por exemplo, qual palavra está correta: macaxeira, aipim ou mandioca? 
 Todas. Mas caso você utilize a palavra macaxeira no sul do Brasil, pode não ser 
compreendido. 
O fato de variarem dentro da mesma língua mostra o quanto as línguas naturais são 
orgânicas e vivas. A língua circula entre as pessoas e não pode estar “presa” em 
dicionários e gramáticas. Quando essa variação vai além do “sotaque” e de algum 
léxico, é chamada de: 
Clique na barra para ver as informações. 
Dialeto 
Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente 
definidas. O dialeto às vezes é entendido como uma forma menos importante e 
complexa da língua, como uma língua inferior. No entanto, para a Linguística, o dialeto 
é apenas uma variante regional, uma variedade da língua com a mesma complexidade 
da língua-padrão. Portanto, linguisticamente falando, cada dialeto é uma língua, 
mesmo que política ou socialmente o dialeto esteja sempre vinculado ou subordinado a 
uma língua-padrão. 
Segundo Amorim e Di Santi (2019), a concepção de uma língua-padrão surge na 
tentativa de unificação política dos Estados centrais modernos com o objetivo de apagar 
a diversidade linguística regional e social dos cidadãos com seus dialetos. 
A padronização da língua está especialmente relacionada à tecnologia da escrita e 
se dá por meio da elaboração de instrumentos normativos, como as gramáticas e os 
dicionários. 
Resumindo 
Portanto, devemos compreender que, quando nos referimos à norma padrão, não nos 
referimos exatamente a uma variedade da língua, e sim a um abstrato construto 
histórico-social e cultural usado como referência para que se promova um processo de 
uniformização da língua. 
Partindo da perspectiva da norma padrão, temos a: 
Clique na barra para ver as informações. 
Norma culta 
Tida como a variedade de uso corrente entre falantes que vivem em meio urbano e com 
escolaridade superior, com forte influência da mídia. É um termo mais abrangente que 
língua-padrão, pois refere-se não só ao padrão que é para além do regional, mas também 
às variedades cultas informais de cada região. Assim, norma culta pode ser tanto formal 
quanto informal. 
A língua-padrão pode ser considerada a variável linguística mais difundida, aquela 
língua utilizada nos telejornais, por exemplo, geralmente entendida por todos os falantes 
da língua. É a variante da língua utilizada neste texto, frequentemente a forma usada na 
educação formal e a mais amplamente utilizada pela mídia. 
Atenção 
Apesar de existir a chamada norma culta ou língua-padrão, quando ela está na “boca do 
povo”, a língua falada não deve ser tida como certa ou errada, caso contrário isso se 
configura, frequentemente, como preconceito linguístico. Sabemos que cada indivíduo 
tem sua história e seu contexto cultural, e o objetivo principal da língua é a 
comunicação. 
Você já percebeu que mesmo sem conhecimentos metalinguísticos a 
respeito de sintaxe ou morfologia da língua portuguesa conseguimos 
formar frases compreensíveis? 
Fonte: Agência Brasília- Criative Commons. 
Sabemos também, de forma automática e intuitiva, que o tipo de linguagem que usamos 
para nos comunicar com nossos avós, médicos ou em situações que demandem mais 
formalidade é diferente da forma que nos comunicamos com nossos amigos do bairro. 
Esse processo por vezes é automático e saudável; afinal, ficaria estranho chamar um 
amigo de senhor, não é mesmo? 
Portanto, alternar entre padrões linguísticos é adequado e devemos atentar para a 
pertinência de cada um deles. 
E nas línguas de sinais, como ocorrem as variações linguísticas? 
Vimos no módulo 1 que a Libras varia tanto quanto as línguas orais, certo? A grande 
maioria dos estudantes de Libras, já desde o início, costuma ouvir que existem 
regionalismos nessa língua. Muitos ficam desapontados pelo fato de não haver uma 
língua de sinais única, uniforme e utilizada em todos os países; outros compreendem 
que isso está presente nela como está em seu próprio idioma. 
Fonte: Elysangela Freitas/Shutterstock 
No caso do Brasil, com sua vasta extensão territorial, seria ainda mais difícil pensarmos 
em uma uniformidade linguística. Assim como no português brasileiro, a Libras possui 
características vinculadas à sua regionalidade decorrente de aspectos geográficos e 
culturais. Visto que aqui existem diversas culturas, em estados com hábitos bem 
singulares, não é possível evitar a variação linguística, nem “contorná-la”. De Norte a 
Sul, existem danças, tradições, culinária e outros artefatos culturais que não pertencem 
ao folclore de outras partes do país, o que influencia também o léxico da região. 
A variação linguística em Libras é um assunto muito complexo e apresenta diversas 
questões que devem ser analisadas. Compreender as variações linguísticasda língua de 
sinais requer uma visão histórica sobre os surdos enquanto minoria linguística, já que a 
Libras é uma língua de resistência da comunidade surda (MACHADO; WEININGER, 
2018). 
 
 
 
Fonte: Ensine.Me 
Esses são exemplos de variações lexicais regionais da Libras. Enquanto o primeiro sinal 
“Branco” é utilizado em São Paulo, o segundo é utilizado em vários estados, e o último 
somente no Rio Grande do Sul. 
Existe um sinal melhor do que o outro? 
Não! Mas existe um sinal que é amplamente utilizado, que nesse caso é o segundo 
sinal. 
Os processos de variação linguística são naturais e estão presentes em todas as 
línguas, tanto orais como de sinais. 
Exemplo 
Quando aprendemos inglês, sempre nos apresentam as variações norte-americana e 
britânica como se fossem somente essas as opções. Porém, mesmo dentro do que 
chamamos norte-americano ou britânico, há várias diferenças de sotaque e léxico. 
Em razão do exposto, precisamos compreender que, do ponto de vista linguístico, os 
regionalismos, os dialetos e as variações não são consequências da “falta de instrução”. 
Todas as variedades de uma língua têm o mesmo valor, nenhuma é melhor do que 
a outra. 
Já do ponto de vista social e político, há uma variedade considerada melhor, que é a 
variedade padrão de uma língua e a norma culta. Quando alguém vai aprender inglês ou 
qualquer outra língua estrangeira, normalmente quer aprender a variedade padrão. 
Fonte: FrankHH/Shutterstock 
O respeito à diversidade linguística deve estar presente nas conversas, nos momentos de 
troca e nas práticas de ensino. A linguagem apresenta-se em diferentes momentos, 
dentro de situações comunicativas e, por isso, todas as suas manifestações são válidas. 
Atenção 
Todas as outras formas de variações linguísticas presentes nas línguas orais acontecem 
também nas línguas de sinais. Podemos citar as variações linguísticas entre os surdos 
nas associações de surdos e os surdos acadêmicos, bem como as variações entre surdos 
jovens e surdos mais velhos e em diferentes situações comunicativas. 
Vimos que os processos de padronização da língua estão atrelados especialmente à 
tecnologia de escrita em dicionários, obras didáticas e obras literárias. Apesar dos 
sistemas de notação (escrita) das línguas de sinais, nenhum deles é difundido. Assim, 
podemos ter uma variabilidade ainda maior no léxico das línguas de sinais do que nas 
línguas orais. 
swap_horiz Arraste para os lados. 
 
 
 
 
 
Fonte: Ensine.Me 
Tomemos como exemplo a palavra “abacaxi”, registrada no Dicionário da Língua de 
Sinais do Brasil (CAPOVILLA et al., 2017): 
Ela apresenta seis sinais referentes! 
O excesso de variação lexical pode gerar alguns desafios, especialmente em relação a 
questões terminológicas específicas. Vejamos o exemplo a seguir. 
Se temos seis sinais de Libras diferentes para “membrana plasmática” e precisamos 
traduzir a prova do ENEM a fim de torná-la acessível aos surdos, qual dos sinais 
devemos utilizar? O ENEM é uma prova nacional. Por essa razão, alguma padronização 
da língua se faz necessária. 
Processos de padronização pressupõem no mínimo uma gramática prescritiva com as 
regras e estruturas da linguagem, que recomenda uma em prol de outra, e um dicionário 
padrão que apresente o vocabulário. 
No caso da Libras, podemos citar duas obras de extrema importância, que não almejam 
padronização linguística em si, mas apresentam léxico representativo da Libras e 
descrições linguísticas pertinentes: 
Dicionário da língua de sinais do Brasil. (CAPOVILLA et al., 2017) 
Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. (QUADROS; KARNOPP, 2004) 
Exemplo 
Inúmeras inovações tecnológicas vêm impulsionando a propagação do conhecimento 
produzido pelos grupos de pesquisas. Podemos citar as pesquisas no campo da 
linguagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as quais influenciam as 
demais pesquisas no Brasil. 
Os termos utilizados nas produções acadêmicas muitas vezes não possuem sinal – os 
sinais criados em salas de aula ou por pesquisadores podem integrar o léxico da Libras. 
Essas iniciativas podem gerar discussões sobre tentativas de padronização. 
Podemos perguntar: os sinais criados em outras localidades devem ser 
descartados? 
Não! Mas, quando uma entidade com maior alcance cria sinais e divulga as suas 
produções, isso faz com que a escolha lexical seja feita pelos termos criados por ela. 
Comentário 
Além da tecnologia, a participação em eventos faz com que aconteça a difusão dos 
sinais, principalmente para aquelas áreas em que a terminologia é muito específica. Para 
os surdos e profissionais intérpretes, a procura por glossários terminológicos específicos 
acontece sempre que um aluno surdo ingressa em uma área de estudos para a qual ainda 
não existem sinais oficiais. 
Com as novas políticas de inclusão, muitos surdos ingressaram em universidades e 
cursos técnicos e profissionalizantes. Assim, a necessidade de traduzir as aulas ocorre, 
fazendo com que os intérpretes procurem aprender a terminologia. Atualmente, pela 
facilidade de difusão do conhecimento, muitos grupos compartilham seus termos locais, 
possibilitando que essa lacuna seja preenchida por seus colegas surdos/intérpretes de 
outras regiões. 
Fonte: Agência Brasília - Criative Commons 
Apesar de não existir qualquer restrição quanto à utilização de sinais locais, os surdos e 
ouvintes sempre optam pela utilização de sinais produzidos em contextos acadêmicos. 
Dessa forma, as apresentações poderão ser mais bem compreendidas por pessoas de 
estados diferentes e criar certa uniformidade, pelo menos em relação à área de estudo. 
Atenção 
Contudo, os pesquisadores têm se atentado à relevância de evitar a dominação da língua 
portuguesa sobre a língua de sinais. Como muitos sinais apresentam marcas ligadas ao 
alfabeto manual, por exemplo, são realizadas novas discussões, e novos termos são 
criados. 
A relação binária “ouvinte ou surdo” e “língua oral ou língua de sinais” gera muitos 
conflitos decorrentes do desejo surdo de protagonizar a sua própria história. Por isso, os 
sujeitos surdos têm o papel principal na produção de terminologia. 
Tradutores e professores surdos, bem como intérpretes de LS, utilizam 
sinais dialetais próprios, sendo que a padronização é mais facilmente 
percebida só com o uso de sinais mais direcionados especificamente a 
determinada área de conhecimento (por exemplo: morfologia, fonologia, 
sintaxe etc.), por causa dos conteúdos eminentemente linguísticos dos 
textos-base. 
(AVELAR, 2008, p. 374) 
Padronização de sinais 
Apesar da busca por uma padronização dos sinais, mesmo em produções acadêmicas na 
plataforma educacional virtual, o uso de sinais regionais não deve deixar de ser utilizado 
(AVELAR, 2008). No entanto, acontece um movimento “natural” de pesquisar e utilizar 
aqueles sinais específicos aos conteúdos da área de tradução. 
Fonte: Allison C Bailey/Shutterstock 
Assim como nas línguas orais, a opção consciente ou não pela utilização de sinais gera 
algumas dificuldades para os tradutores-intérpretes de Libras, profissionais 
imprescindíveis para a acessibilidade linguística das pessoas surdas, que por vezes 
desconhecem o signo apresentado. 
Dica 
Nesses casos, a solução é solicitar o auxílio de colegas durante a tradução. Outra 
solução é pesquisar e registrar as diferenças dialetais, como uma estratégia de 
antecipação ao que poderia representar um problema. 
Vimos no começo deste módulo que língua e sociedade se relacionam fortemente, 
certo? E que poderes políticos e sociais atravessam essas relações. Podemos então 
questionar: 
Como deveria acontecer um processo de padronização das línguas de sinais, já que 
são consideradas línguas minoritárias? 
Processos de padronização são questionáveis e conduzem normalmente à discussão do 
que é a norma de uma língua. Eles, por vezes,servem para controlar a variação 
dialetal inerente aos sistemas linguísticos. 
Outro questionamento inerente aos processos de padronização das línguas de sinais são 
os interesses políticos que permeiam o processo. 
A quem interessa esse processo? Quem lidera esse processo? 
Hanna Eichmann (2009), por meio de entrevistas com professores surdos e análises 
teóricas, faz uma crítica aos processos de padronizações que por vezes são impostos e 
liderados por ouvintes. 
Atenção 
Segundo os resultados da pesquisa, os principais interessados nesse processo de 
padronização das línguas de sinais são os ouvintes, especialmente aqueles aprendizes de 
língua de sinais como segunda língua, já que os surdos, em sua maioria, não têm 
nenhuma dificuldade de compreender as variações linguísticas. 
A autora faz a distinção entre dois tipos de processos de padronização linguística, como 
podemos ver a seguir. 
Clique nas informações a seguir. 
Padronização imposta de “cima para baixo” 
Carrega a noção de intenção, intervenção deliberativa em uma língua, formando uma 
variante que incorpora as características de uma língua-padrão. Desse modo, uma 
língua-padrão não surgiria naturalmente, mas de forma intencional. 
Pela ausência de um código escrito difundido, as línguas de sinais possuem uma grande 
variação, especialmente a lexical. Sendo assim, os processos de padronização são 
naturais e por vezes passíveis de intervenções. Quando feitos como intervenção, 
devem ser examinados com cuidado e procedidos com muito respeito aos direitos 
linguísticos e ao protagonismo dos surdos em relação à própria língua. 
No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins comenta sobre limites e 
possibilidades linguísticos da língua de sinais. Vamos assistir! 
Verificando o aprendizado 
1. Estudamos que a língua-padrão pode ser considerada a variável 
linguística mais difundida e entendida por todos os falantes da língua. No 
entanto, variações linguísticas ocorrem em todas as línguas e são 
fenômenos naturais que mostram sua organicidade; no Brasil, o 
regionalismo é muito comum. 
Assinale a afirmativa correta sobre o tema. 
 
O regionalismo é mais frequente na língua inglesa. 
 
Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente mal 
definidas. 
 
A língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo e nos diferentes espaços 
sociais, bem como nas diferentes situações comunicativas. 
 
As línguas possuem relação superficial com a sociedade. 
Comentário 
2. O estudo de Eichmann (2009) faz críticas pertinentes aos processos de 
padronizações que por vezes são impostos e liderados por ouvintes. A 
autora diferencia dois tipos de padronização linguística. Sobre essa 
diferenciação, assinale a alternativa incorreta. 
 
As línguas se transformam naturalmente com o tempo; sendo assim, há uma 
padronização espontânea. 
 
Padronizações podem ser impostas de “cima para baixo”. 
 
Nos processos de padronização, o protagonismo surdo deve ser respeitado. 
 
A única padronização possível acontece naturalmente. 
Comentário 
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Conclusão 
Considerações Finais 
Nos três módulos aqui apresentados, compreendemos os conceitos relativos às 
comunidades surdas e às línguas de sinais. No caso dos surdos brasileiros, a língua 
utilizada é a Língua de Sinais Brasileira (Libras). Vimos que as línguas de sinais não 
são universais, mas línguas complexas que surgem naturalmente nas comunidades 
surdas. As línguas de sinais possuem gramática própria e todos os níveis linguísticos 
existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e 
pragmática. Portanto, possuem o mesmo status das línguas orais e sua peculiaridade 
mais importante é o fato de serem línguas visoespaciais, isto é, expressas pelo corpo no 
espaço e compreendidas visualmente. Estudamos que é uma língua recombinativa e 
arbitrária, apesar de ter presente a iconicidade. 
Entramos em contato com o universo da cultura surda, com artefatos culturais 
riquíssimos como a literatura surda, o humor surdo e assim por diante. As identidades 
surdas são diversas e heterogêneas, atravessadas pela cultura ouvinte. Nesse sentido, 
temos uma percepção sociológica dos indivíduos surdos e não clínica e normatizadora, 
que se preocupa apenas com reabilitação e grau de perda auditiva. 
Por conta da enorme variabilidade das línguas de sinais, o que as torna complexas, vivas 
e orgânicas, estudamos também o desafio dos processos de padronização das línguas 
de sinais. 
Esperamos que a história da comunidade surda inspire você a lutar por uma sociedade 
mais acessível e inclusiva, e que o conteúdo aqui disponibilizado lhe seja útil caso 
receba um aluno surdo em sala de aula ou encontre uma pessoa surda na sua trajetória 
de vida. 
Podcast 
Agora com a palavra a professora Antonielle Martins, comentando sobre questões 
como as linguagens, os preconceitos e as culturas surdas. Vamos ouvir! 
Referências 
AMORIM, L. M.; DI SANTI, B. T. Norma padrão, norma culta e hibridismo 
linguístico em traduções de artigos do New York Times. In: Cadernos de Tradução, 
Florianópolis, v.39, n.3, p.111-131, set. 2019. 
AVELAR, T. F. Entrevista com tradutores surdos do curso de Letras/Libras da 
UFSC: discussões teóricas e práticas sobre a padronização linguística na tradução para 
língua de sinais. In: QUADROS, R. M.; STUMPF, M. R. (Orgs.) Estudos surdos. 
Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2008. IV. 
BARROS, M. E. ELiS – Escrita das línguas de sinais: proposta teórica e verificação 
prática. 2008. 192f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Comunicação e 
Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. 
BATTISON, R. Phonological Deletion in American Sign Language. In: Sign 
Language Studies, n. 5, p. 1-19, 1974. 
BAUMAN, H. L.; MURRAY, J. J. Estudos surdos do século 21: “Deaf gain” e o 
futuro da diversidade humana. Curitiba: Editora UTFPR, 2014. (Educação de Surdos 
em Debate). 
BISOL, C. Tibi e Joca: uma história de dois mundos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 
2001. 
CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; TEMOTEO, J. G.; MARTINS, A. C. 
Dicionário da língua de sinais do Brasil: a Libras em suas mãos. São Paulo: Edusp, 
2017. v. 1 (Sinais de A a D). 
 
AULA 2 
Definição 
As políticas linguísticas e inclusivas como parte das políticas públicas. Os efeitos 
sociais, educacionais, inclusivos, práticos e comportamentais dessas políticas na 
comunidade surda. 
PROPÓSITO 
Conceituar políticas linguísticas, planejamento linguístico, comunidade linguística e 
minoria linguística, além de conhecer as políticas inclusivas e sua relação com o 
preconceito, em especial o que se relaciona com a comunidade surda. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade surda, 
como conquistas e garantias de direitos linguísticos 
Módulo 2 
Reconhecer como as políticas inclusivas ou de inclusão, com foco nos sujeitos surdos, 
contribuem para mitigar os preconceitos sociolinguísticos e culturais 
Introdução 
Prepare-se para conhecer um assunto importante no âmbito da inclusão social: a 
relevância das políticas linguísticas e inclusivas como parte das ações do poder público 
para a elaboração e efetivação de políticas públicas sociais, objetivando a proteção, a 
preservação, a perpetuação, o uso, o ensino e a interpretação de línguas de minorias 
linguísticas. Para tanto, é válido o levantamento de algumas questões: 
• O que é política? 
• O que são políticas públicas? 
• As políticas linguísticas e inclusivas são políticas públicas sociais? 
Embora não seja o objetivo esgotar o conceito de “política” aqui, basta nos lembrarmos 
de que, basicamente, a política é um processo de tomada de decisões que norteia 
diretrizes, ações, programas, projetos por diversos âmbitos (sociais, econômicos, 
linguísticos, educacionais, políticos, dentre outros) e suaaplicação com efeitos e 
atribuições na sociedade que vigora. 
É um processo de desenvolvimento dentro da própria sociedade e resulta da dinâmica de 
cooperação e competição entre os grupos que convivem no mesmo espaço, 
compartilhando ambientes, motivações, valores, aspirações sociais. 
As políticas públicas sociais são instrumentos ou mecanismos que institucionalizam a 
proteção e a promoção de todos os cidadãos integrantes de uma sociedade ou grupos 
sociais específicos, como uma comunidade etnolinguística. É o Estado quem exerce o 
papel de efetuar o desenvolvimento de políticas públicas para atender aos direitos, às 
garantias fundamentais e ao bem-estar de todos os cidadãos. 
As políticas linguísticas e inclusivas são direitos e garantias que se caracterizam como 
políticas públicas sociais para a equidade, o equilíbrio, a promoção do valor humano e a 
democratização de acesso aos serviços com qualidade, atendendo às peculiaridades 
individuais e coletivas. 
Mas não se preocupe: ao longo de nosso estudo, tudo isso ficará mais claro! 
MÓDULO 1 
 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade 
surda, como conquistas e garantias de direitos linguísticos 
Por que as políticas linguísticas são 
importantes para a comunidade surda? 
Os surdos foram proibidos de falar as suas respectivas línguas de sinais (pois não há 
uma língua de sinais universal) a partir de 1880, após o Segundo Congresso 
Internacional de Educação de Surdos – também conhecido como Congresso de Milão ‒, 
onde se reuniram educadores de surdos, que decidiram pela remoção das línguas de 
sinais na educação de surdos. 
Os professores surdos, à época, foram afastados da docência e, assim, os alunos surdos 
passaram a ter aulas (das diversas disciplinas) somente com professores ouvintes, que, 
por sua vez, nem eram bilíngues, nem seriam modelos – ou pares linguísticos culturais – 
para esse alunado. 
Fonte: Shutterstock.com | Por r.classen 
Saiba mais 
As comunidades surdas, como espaços de partilha linguística e cultural presentes em 
milhares de cidades do mundo, reúnem surdos e ouvintes – em geral, usuários das 
línguas de sinais – com expectativas, histórias, olhares ou costumes comuns. A ideia de 
comunidade, aqui, apoia-se na presença de vínculos simbólicos que congregam sujeitos 
– concentrados no mesmo local ou dispersos territorialmente – com interesses 
convergentes e propostas coletivas. Entende-se comunidade surda, então, como um 
espaço de trocas simbólicas em que as línguas de sinais, a experiência visual e os 
artefatos culturais surdos são partilhados entre sujeitos surdos (e ouvintes) que 
congregam interesses comuns e projetos coletivos. 
 
Fonte: Hugo Heiji, no site cultura surda. 
Implantou-se, nesse cenário, uma filosofia educacional denominada oralismo. A 
educação oralista passou a seguir as 8 (oito) Resoluções aprovadas nessa conferência, 
funcionando como uma espécie de “declaração”, “orientação” que os governos e seus 
programas educacionais assumiram, começando a preferir a oralização à língua de sinais 
de seu país. 
Percebamos que tal decisão não partiu dos surdos adultos, dos surdos professores, mas 
de um grupo de profissionais da educação ouvintes, desfavorecendo um grupo social e 
linguístico de uma comunidade com língua e cultura próprias. Os efeitos negativos disso 
reverberam na história da educação de surdos e seus efeitos resultam no distanciamento 
social entre surdos e ouvintes. 
Obviamente, o Congresso de Milão vai na contramão dos avanços socioeducacionais 
conquistados pelos surdos nos dois séculos anteriores e introduz, na história da 
comunidade surda, um acontecimento obscuro e, consequentemente, prejudicial que 
serve não apenas como meramente informativo, mas também como pano de fundo para 
uma discussão de políticas linguísticas no cenário mundial e no contexto brasileiro. 
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Eis um ponto que mostra como as políticas linguísticas 
importam: 
O conjunto de leis, decretos, portarias, tratados e declarações internacionais é ação de 
garantias de que as línguas minoritárias estão protegidas na forma legal, 
institucionalizadas nos países onde suas comunidades, também conhecidas como 
minoria linguística, estão presentes para que o Estado abranja os direitos linguísticos 
que tais grupos possuem. 
Isso reflete nas relações e práticas sociais no interior das minorias linguísticas, bem 
como nas inter-relações entre sujeitos de diversos grupos etnolinguísticos. A forma de 
sociabilidade pela língua e a mentalidade do uso, a tradução/interpretação, o ensino e a 
disseminação de línguas de comunidades minoritárias, por extensão, são modificados 
pelas forças legais. 
O valor e o estatuto das minorias linguísticas, em todos os aspectos, também perpassam 
o valor e o status das suas respectivas línguas. Respeitar a língua é respeitar o sujeito 
da língua, sua identidade cultural, seu modo de enxergar a vida e de se relacionar 
com ela e com seus pares. A intervenção das políticas linguísticas, como modo de 
operacionalizar, identifica e promove esses elementos e mecanismos, estrategicamente. 
 
AULA 3 
Descrição 
Apresentação dos modelos teóricos da Sociolinguística no contexto da Libras: a 
Sociolinguística Variacionista e a Sociolinguística Interacional. 
PROPÓSITO 
Discutir os principais conceitos da Sociolinguística Variacionista e da Sociolinguística 
Interacional articulados com a realidade das comunidades usuárias de Libras a fim de 
ampliar a visão sobre língua e sociedade. 
Preparação 
Tenha à mão um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. 
Na internet, você pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no 
Portal da Língua Portuguesa. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Identificar os tipos de variação linguística e a mudança na língua 
Módulo 2 
Relacionar a Sociolinguística com o contexto educacional da Libras 
Introdução 
Como explicar o fato de que falantes de uma mesma língua a usem de modo tão 
diferente? 
Você já reparou como uma pessoa modifica seu modo de falar, quando se encontra em 
uma festa com amigos ou quando está em uma reunião de trabalho? 
Notou como pessoas de diferentes grupos sociais escolhem palavras e expressões 
específicas? 
E o que dizer da dificuldade que pessoas mais idosas às vezes apresentam para entender 
a fala de adolescentes e vice-versa? 
Essas questões nos apontam para alguns fenômenos ou processos que verificamos no 
uso de determinada língua e que nos interessam aqui. 
Estudaremos os diferentes tipos de variações pelas quais as línguas passam, como isso 
se relaciona com a mudança em determinada língua e como os aspectos sociais e 
linguísticos interferem no diálogo com textos distintos, sem deixar de considerar em 
todas essas questões o contexto da Libras, a Língua Brasileira de Sinais. 
MÓDULO 1 
 
Identificar os tipos de variação linguística e a mudança na língua 
Os estudos linguísticos e a 
Sociolinguística 
Uma das maiores contribuições da Linguística sobre o funcionamento e a natureza da 
linguagem advém da corrente Sociolinguística, que tem por princípio básico o estudo 
da linguagem em diferentes recortes e realidades sociais. 
Será por meio da Sociolinguística que trataremos do uso da língua e das situações de 
variação e mudança, pois essa corrente se localiza no campo dos estudos da linguagem 
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como uma área de teorização e investigação que observa aspectos relacionados à 
variação e à mudança linguística. 
A Sociolinguística também trata de tendências relacionadas aos usos que diferentes 
grupos sociais fazem da língua, e das ideologias e relações de poder envolvidas no 
processo de percepção, legitimação e estigmatização dessas formas de uso da língua. 
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock 
A Sociolinguística se impõe como um campo de ação diverso, na medida em que se 
desdobra emáreas da interface linguagem/sociedade, trazendo contribuições para o 
entendimento das relações interacionais, para a descrição linguística em diferentes 
momentos do curso de formação da língua e para o enriquecimento de outras áreas, 
como a educação e a política. 
Ao focalizar o uso real e efetivo da língua por indivíduos socialmente localizados, a 
Sociolinguística se coloca no campo das ciências humanas e sociais, subsidiando 
discussões voltadas para o valor ou reconhecimento das formas de expressão de grupos 
majoritários e minoritários. 
Atenção 
No contexto da discussão sobre as línguas de sinais, em geral línguas de minorias 
linguísticas compostas por indivíduos surdos, por exemplo, a Sociolinguística traz 
informações importantes para o combate ao preconceito linguístico. 
Aqui vamos tomar dois direcionamentos a fim de entender um pouco sobre alguns 
princípios da Sociolinguística e como essa corrente dialoga com as discussões sobre a 
Libras e sua comunidade linguística. Trataremos, portanto, das duas grandes áreas, 
tradicionalmente falando, da Sociolinguística: 
A Variacionista 
Módulo 1 
A Interacional 
Módulo 2 
A Sociolinguística 
No início da década de 1960, William Labov, que posteriormente se tornaria um dos 
maiores linguistas da história, desenvolveu dois grandes estudos: 
Legenda: William Labov, autor desconhecido, século XXI. | Fonte: Alchetron. 
• Uma grande investigação sobre o inglês falado na ilha Martha's Vineyard, em 
Massachusetts, Estados Unidos. 
• Um estudo de mesma natureza, com o dialeto falado na cidade de Nova York. 
Em ambos os estudos, o pesquisador possuía um único e importante objetivo: 
Mostrar o papel crucial dos fatores sociais na explicação da variação linguística. 
O autor identificou que a variação de usos linguísticos de funções e significados 
semelhantes era altamente controlada e organizada por fatores ligados aos perfis sociais 
de seus falantes, além de fatores internos de seus dialetos. 
A partir dos estudos de Labov, foi superada a ideia de que a variação linguística seria 
aleatória e não sistêmica. A ideia de que a variação seria ordenada tornou-se um 
contraponto ao pensamento de que a língua se organizaria estruturalmente a despeito de 
seus falantes e seus usos diversos. 
Resumindo 
A variação linguística passou a ser entendida como objeto não aleatório, baseando-se na 
correlação existente entre fatores linguísticos e sociais. 
Vários pontos são identificados a partir dessa discussão, dos quais destacamos: 
O fato da heterogeneidade sistematizada 
O aparato metodológico variacionista 
A relação entre variação e mudança linguísticas 
O fato da heterogeneidade sistematizada 
A despeito da irregularidade observada no uso da língua, existe um conceito de 
homogeneidade advindo de certa concepção linguística que consiste em entender a 
língua como um sistema fechado de regras e possibilidades, como um objeto 
homogêneo, estruturalmente consistente e previsível, a partir de suas próprias 
possibilidades internas de arranjo. Essa é a concepção estruturalista da língua. 
Nesse sentido, o uso individual da língua é visto como o lugar do caos, da não 
regularidade, o lugar onde múltiplas formas surgem, como as formas menos legitimadas 
de um grupo social. Por outro lado, a dimensão coletiva ou social da língua representa o 
regular, o sistêmico, o homogêneo. 
Uso individual da língua 
Caos 
Uso coletivo ou social da língua 
Regularidade 
As pesquisas de Labov e toda a prática sociolinguística variacionista mostraram, 
entretanto, que a suposta homogeneidade linguística, prevista pela perspectiva 
estruturalista, poderia ser questionada pela ideia de heterogeneidade sistematizada. 
O que vem a ser essa heterogeneidade sistematizada? 
Trata-se de um fato verificável em qualquer língua natural ao notarmos que a variação 
linguística é controlada e fortemente condicionada por fatores inerentes à língua e por 
outros a ela externos: os fatores sociais. 
Há, portanto, uma dimensão probabilística nesse contexto: a tendência de que 
determinados usos ocorram em dado contexto, graças à ação desse conjunto de fatores. 
É um grande erro acharmos que o modo diferenciado como as pessoas se expressam 
para dizer a mesma coisa possa ser classificado simplesmente como resultado de 
escolhas aleatórias, ignorância, deficit cognitivo e tantos outros argumentos que 
costumamos testemunhar quando o assunto é a maneira diferenciada como todos nós 
nos expressamos. 
Qualquer fenômeno de variação linguística é explicável, portanto, por um conjunto de 
fatores relacionados que pode apontar o modo como as possibilidades de usos para um 
mesmo sentido se distribuem na língua. 
É nessa combinação de fatores que identificaremos o que há de sistemático na 
heterogeneidade linguística. A visão de homogeneidade linguística estruturalista é posta 
em xeque pela proposta da heterogeneidade sistematizada da Sociolinguística, que 
mostra que nada na língua é, por assim dizer, caótico. 
Exemplos do funcionamento da variação 
 
Para falar dos fatores que explicam o funcionamento sistêmico da variação, vejamos o 
caso dos gerúndios no português do Brasil (PB): 
Há um fenômeno de variação no uso do gerúndio, a realização ou apagamento do 
fonema /d/. 
Atualmente, observamos brasileiros usando as formas mais tradicionais /ando/, /endo/ e 
/indo/, mas também é comum encontrarmos o seu uso com apagamento, como 
verificamos inclusive no registro escrito das formas <andano>, <bebeno> e <vino>. 
Podemos levantar várias hipóteses sobre os fatores internos e fatores externos 
relacionados ao fenômeno em questão. Veja mais sobre isso a seguir: 
Clique nas barras para ver as informações. 
Fatores internos 
Se pensarmos em termos de fatores internos, veremos que talvez esse seja um 
fenômeno relacionado à possibilidade de ressilabificação, isto é, de reestruturação das 
sílabas: o apagamento do fonema /d/ não compromete a recuperação do sentido da 
palavra, já que o último fonema da sílaba anterior é uma consoante que é reanalisada 
como parte da nova sílaba em conjunto com a vogal final e guardando o morfema 
marcador do gerúndio. 
Esse condicionamento está previsto pelas possibilidades de articulação das palavras no 
português do Brasil, e o exemplo nos mostra que existem fatores internos do sistema 
linguístico do português que se relacionam à questão do apagamento do fonema /d/ 
nesse contexto. Não se trata, portanto, de um acontecimento (um fenômeno) aleatório. 
fatores externos 
Se pensarmos em termos de fatores externos, veremos que talvez pessoas com maior 
grau de escolaridade apresentem menos o apagamento que pessoas de menor grau de 
escolarização. Veremos, talvez, que pessoas de determinada região geográfica 
apresentem menos o apagamento em comparação com pessoas de outras regiões do 
país. 
Podemos nos perguntar sobre o que estaria contribuindo para essa variação regional. 
Talvez percebamos que, a depender do grau de formalidade de dada situação linguística, 
as pessoas possam estar mais ou menos sujeitas a realizar o apagamento do fonema em 
questão. 
Vale notar que estamos falando de realizações que ocorrem inconscientemente, o que 
evidencia a sistematicidade natural do fenômeno de variação, aqui exemplificado. 
 
A heterogeneidade linguística pode ser identificada, também, a partir do exemplo 
apresentado, se compararmos a variedade do português de Portugal e a do PB. 
A variedade europeia prevê o uso da forma [ESTAR + a + Verbo no infinitivo] para 
construções no gerúndio, como em <estou a cantar> e <estou a beber>. 
Vemos aqui outro desdobramento sobre a discussão da variação e sobre o fato de ela 
ser, ou não, prevista a partir de fatores diversos. Se pensarmos no português brasileiro e 
no português europeu como uma mesma língua, teremos um caso de variação 
regionalmente orientada e que revela implicações internas ainda mais complexas

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