Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE JI-PARANÁ – CEULJI MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO Ji-Paraná 2010 MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI, para obtenção de grau acadêmico de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora Especialista Rosicler Carminato Guedes de Paiva. Ji-Paraná 2010 CIP-Brasil. Catalogação na Fonte Biblioteca Central CEULJI/ULBRA Ficha Catalográfica: Ana Cláudia da Silva Rodrigues – CRB11/604 A445r Almeida, Mirelly Vieira Macêdo de. Responsabilidade Civil por erro médico./Mirelly Vieira Ma- cêdo de Almeida.Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná, 2010. 58 f.:il. Orientadora: Profª.Rosicler Carminato Guedes Paiva. Monografia(Graduação) Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná. Curso de Bacharelado em Direito. 1.Erro Médico. 2.Idenização. 3.Responsabilidade Civil. I.Paiva, Rosicler Carminato Guedes. II.Título. CDU 347.51:616-051 1.Estabilidade provisória. 2.Mulher. 3.Proteção à materni- dade. I.Silva, Marlete Maria da Cruz Corrêa da. II. Título. MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Luterano de Ji -Paraná– CEULJI, em 08/12/2010, para obtenção de grau acadêmico de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora Rosicler Carminato Guedes de Paiva. AVALIADORES _______________________________________________________ - __________________ Professora Especialista Rosicler Carminato Guedes de Paiva Nota _______________________________________________________ - __________________ Professora Mestra Débora Maciel Alevato Nota _______________________________________________________ - __________________ Professor Mestre Elpidio Santos Magalhães Nota __________________________ Média Ji-Paraná 2010 Aos meus pais pela paciência e por estarem sempre presentes. As minhas colegas, em especial a Naira e Sirlene por estarem comigo desde o começo dessa jornada A minha orientadora pela atenção RESUMO A Responsabilidade Civil vem como um equilíbrio social, minimizar as causas dos danos sofridos. Nos casos de Erro Médico os prejuízos podem ser irreparáveis. O presente trabalho objetiva o estudo das características que ocasionam no dever de indenizar para o médico em caso de erro, bem como a influência de sua atividade na sua responsabilização à luz da jurisprudência e doutrina. Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Erro Médico. Indenizar. ABSTRACT The Liability comes as a social balance, minimize the causes of the damage. In medical malpractice cases the damage may be irreparable. This paper aims to study the characteristics that cause the duty to indemnify to the doctor in case of error, and the influence of their activity in their accountability under the case law and doctrine. Keywords: Liability. Medical Error. Indemnify. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9 1. A RELAÇÃO ENTRE DIREITO E MEDICINA................................................................10 1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana........................................................................12 1.2 Código de Ética Médica......................................................................................................13 1.3 Evolução Histórica..............................................................................................................14 1.3.1 Primórdios........................................................................................................................14 1.3.2 Roma ...............................................................................................................................15 1.3.3 Egito.................................................................................................................................15 1.3.4 Grécia...............................................................................................................................16 1.3.5 França...............................................................................................................................16 2. RESPONSABILIDADE CIVIL............................................................................................18 2.1 Funções da Responsabilidade Civil....................................................................................20 2.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil.............................................................................20 2.2.1 Ação e Omissão...............................................................................................................20 2.2.2 Dano.................................................................................................................................21 2.2.3 Nexo de Causalidade........................................................................................................22 2.2.4 Culpa................................................................................................................................23 2.2.4.1 Ato Ilícito......................................................................................................................23 2.3 Espécies de Responsabilidade.............................................................................................25 2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual...............................................................25 2.3.2 Responsabilidade Subjetiva e Objetiva............................................................................26 2.3.3 Responsabilidade Direta e Indireta Complexa.................................................................26 3. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO......................................................27 3.1 Natureza da Responsabilidade Médica...............................................................................27 3.2 Obrigação de Meio e de Resultado.....................................................................................29 3.2.3 Cirurgia Plástica...............................................................................................................32 3.2.4 Anestesia..........................................................................................................................33 3.3 Código deDefesa do Consumidor......................................................................................35 3.4 Culpa Médica......................................................................................................................36 3.4.1 Prova Pericial...................................................................................................................38 3.4.2 Negligência......................................................................................................................39 3.4.3 Imprudência ....................................................................................................................40 3.4.4 Imperícia..........................................................................................................................40 3.5 Dano Médico.......................................................................................................................41 3.6 Nexo de Causalidade...........................................................................................................43 3.7 Erro Médico........................................................................................................................45 3.7.1 Erro de Diagnóstico.........................................................................................................49 3.7.2 Erro de Tratamento..........................................................................................................51 3.8 Indenização por Erro Médico..............................................................................................52 CONCLUSÃO..........................................................................................................................57 REFERÊNCIAS........................................................................................................................58 9 INTRODUÇÃO O instituto da Responsabilidade Civil se apresenta como mais do que um dever de indenizar, um equilíbrio social, procurando minimizar os males causados pelo agente. A presente monografia objetiva o estudo das características que acarretam a Responsabilidade Civil do médico em caso de erro, verificando a tendência dos Tribunais quanto a reconhecê- lo; bem como, analisar a influência de sua atividade, sendo que pode incidir em obrigação de meio ou de fim, na sua responsabilização. O médico, por essência de sua profissão lida com bens supremos do ser humano. Um erro pode causar danos irreparáveis, nascendo a partir daí uma relação entre a arte de curar e a ciência do Direito, hoje estudada por disciplina de nome próprio, Direito Médico. A atividade médica, antes vista como algo sagrado, passa a ser contestada pela evolução da sociedade seja pelas mudanças no aspecto da relação médico-paciente, antes confidente, hoje mal sabe o nome de seus pacientes, possuindo um ritmo voltado para sua economia; ou pela maior informação da população acerca de seus direitos. O fato é que os médicos têm sido levados aos Tribunais com mais frequência, principalmente no que diz respeito a sua Responsabilidade Civil. No primeiro capítulo trataremos da relação Medicina e Direito, abordando o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o novo Código de Ética Médica, e fazendo uma evolução histórica sobre a Responsabilidade Civil Médica. Destarte, para analisar essa responsabilidade é preciso passar pelos conceitos basilares do dever de indenizar, discutindo-se o que é necessário para sua caracterização, o que será feito no segundo capitulo deste trabalho. A Medicina é uma ciência que não é objetiva, tanto que é entendida como arte. Devendo as suas características naturais serem consideradas na apreciação do caso concreto. Ponderações a respeito da natureza da responsabilidade médica, as diferenças de suas obrigações de acordo com sua atividade, bem como opiniões jurisprudenciais serão realizadas no último capítulo que tratará da Responsabilidade Civil por Erro Médico. 10 1 A RELAÇÃO ENTRE MEDICINA E DIREITO Por muito tempo a atividade médica foi vista como algo sagrado, sendo o mau resultado culpa do destino. Com a evolução dos tempos, a consciência das pessoas sobre seus direitos tornou-se mais latente, transformando o mundo médico e paciente, não só em uma relação envolvendo saúde, mas também o direito. A Medicina trabalha em prol da saúde, devendo o profissional despender de todo seu conhecimento e cuidado em busca do melhor para o ser humano. Nesse sentido, Barros Júnior (2007, p. 3): A vida e a saúde são os bens maiores do homem, e para que a pessoa humana as tenha em plenitude é que se desdobra o profissional da Medicina. A Ciência Médica ganha relevância porque a vida com saúde é seu objetivo, ponto essencial permissivo do usufruto equilibrado de todos os sentidos biológicos da vida física/psíquica/social do ser humano. Por este motivo a saúde é interesse de todos, porque cada pessoa humana é integrante indispensável da humanidade. Tanto a saúde quanto a vida são garantias constitucionais e bens indispensáveis ao ser humano, por isso o médico tem grande responsabilidade na sociedade, posto que um erro pode acarretar danos irreversíveis. Pode-se, então, visualizar a correlação entre a Ciência Médica e a do Direito. O Direito regula as normas que regem a relação dos homens em sociedade. A Medicina, por sua vez, uma arte em função da cura. Dessa forma, surge um novo Direito, o Direito Médico. Trata-se de uma das vertentes do Biodireito, ramo autônomo, possuindo um conjunto de normas esparsas, que tem como foco a análise da atuação do médico, bem como suas consequências (BARROS JÚNIOR, 2007, p.2). Nos dias 2 e 3 de dezembro de 2010, acontecerá o 1º Congresso de Direito Médico do Conselho Federal de Medicina, em entrevista ao site do mesmo, Márcia Santana Fernandes, professora de Direito da Uniritter de Porto Alegre/RS, que estará presente no Congresso, fala sobre a relação Direito e Medicina: [...] O Direito e a Medicina se aproximam do ser humano em seus momentos de maior vulnerabilidade. O primeiro, porque existe para mediar conflitos. A segunda, porque a ela se recorre para que se lute contra alguma doença. A Bioética é o ponto 11 de conexão entre as duas áreas. A relação do paciente com o médico é multifatorial, e o juiz precisa saber disso tanto quanto o médico 1 . É crescente o número de casos levados à apreciação do Judiciário tratando sobre a atitude profissional do médico para com seu paciente. A conduta médica danosa pode gerar a responsabilidade civil, penal, administrativa e ética. Aponta-se como algumas situações que motivam o erro, no dizer de Luiz Augusto Coutinho (2006: p. 36): 1. Condições adversas para o pleno e bom exercício da Medicina variando desde a falta de recursos materiais até o excesso de pacientes diante de um número pequeno de profissionais disponíveis para o atendimento de toda a massa que busca orientações e aconselhamento. 2. Deficiência na formação médico-universitária, agravada diante da crise enfrentada pelo sistema de ensino vigente, mormente nas universidades públicas pelo descaso das políticas voltadas para a valorização da educação. 3. Acomodação do profissional que não procura especializar-se e atualizar-se em sua área de atuação profissional. 4. Interesses meramente comerciais, onde o paciente é visto exclusivamente como o resultado pecuniário advindo do exercício da profissão, seja por iniciativa isolada do médico em especialidades rentosas ou em conjunto por meio de cooperativas ou empresas médicas comprometidas com o lucro. 5. A baixa remuneração dos profissionais do setor público. 6. As péssimas condições de trabalho e emprego, fazendo que os médicos assumam jornadas de emprego sobre-humanas, elevando o nível de estresse. 7. Distorçõese desorganização do sistema de saúde pública, que acarretam complexas implicações de ordem ética e legal. 8. A falta de compromisso por parte de alguns médicos. 9. Precária fiscalização do exercício profissional por parte das entidades de classe, que nem sempre procuram ajustar o profissional às normas éticas que regem seu ofício. O Conselho Federal de Medicina definiu “ato profissional do médico” através da Resolução número 1.627 de 23 de outubro de 2001: Artigo 1º - Definir o ato profissional de médico como todo procedimento técnico- profissional praticado por médico legalmente habilitado e dirigido para: I. a promoção da saúde e prevenção da ocorrência de enfermidades ou profilaxia (prevenção primária); II. a prevenção da evolução das enfermidades ou execução de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos (prevenção secundária); III. a prevenção da invalidez ou reabilitação dos enfermos (prevenção terciária). Atualmente, corre um projeto de lei sob o número 7703/2006, dispondo sobre o exercício da Medicina, cuja explicação da ementa é a seguinte: Define a área de atuação, as atividades privativas e os cargos privativos de Médico resguardadas as competências próprias das diversas profissões ligadas à área de saúde. Projeto chamado de „Ato Médico‟ 2 . 1 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content&view =article&id=211&Itemid=103. Acesso em: 25/11/2010, às 12:45 horas. 2 Disponível em: http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=339409. Acesso em: 25/11/2010, às 18:32 horas. 12 A falha médica é uma grande preocupação, tendo em vista a proporção que pode causar. É claro que não se espera que o profissional, como um ser humano, não erre, mas este somente será justificável quando ultrapassar o alcance da medicina. Sobre isso Sérgio Cavalieri Filho (2000, p. 275): [...] o erro é a falha do homem normal, consequência inelutável da falibilidade humana. E, embora não se possa falar em um direito ao erro, será escusável quando invencível à mediana cultura médica, tendo em vista circunstâncias do caso concreto. A medicina não é objetiva como a matemática, cada corpo tem suas peculiaridades e algo inesperado é sempre capaz de acontecer, tanto é que a palavra arte é muito usada para referir-se a ela. Nem todo mau resultado é considerado erro e consequentemente passível de responsabilização. Segundo o princípio do neminem laedere, a ninguém é dado o direito de prejudicar a outrem, exigindo-se um dever de cuidado, sem o qual no âmbito civil aquele que causar dano é obrigado a repará-lo. O profissional deve ser diligente, se cercar de cuidados e ser estudioso. A medicina desenvolve-se trazendo um leque de possibilidades para a realização de diagnósticos e inúmeros tratamentos para que se consiga a cura. No tocante a obrigação de indenizar, além do erro médico Rui Stoco (2007: p. 554) aponta outras causas pelas quais o médico pode ser levado aos Tribunais: I – a violação da lei ou do regulamento e o abuso de poder; II – a prática de experiências médicas com técnicas não aceitas; III – deixar de informar e aconselhar adequadamente o paciente; IV – o erro grosseiro no diagnóstico, como causa do insucesso no procedimento médico; V – a quebra do sigilo médico; VI – exorbitar os limites estabelecidos no contrato; VII – a violação do consentimento do paciente; VIII – omitir ou negar socorro em caso de eminente perigo de vida ou de urgência. 1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A dignidade da pessoa humana está expressa no artigo 1º, III da Constituição Federal, como fundamento da República Federativa do Brasil. Trata-se de um valor supremo que abriga os direitos fundamentais e inspira todo o ordenamento jurídico. 13 O termo dignidade é derivado do latim dignitas, este apresenta-se como qualidade de digno, também pode significar honestidade, brio ou designar função, título, que confere posição graduada (FERREIRA, 2000, p. 236). Na doutrina Kantiana, entende-se como as duas modalidades de valores no meio social, o preço e a dignidade. O preço se refere a um valor de mercado constituindo interesses particulares. A dignidade importa num valor particular prescindindo um interesse geral. Assim, nenhum ser humano deve ser usado ou visto como um meio de alcançar algo, por ser um fim em si mesmo (BARROS, 2007, p. 25). Sobre a dignidade humana Alexandre de Morais (2007, p. 16), leciona: A dignidade é valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. Ela é inerente à essência do ser humano, é um valor interior, revelado na capacidade da própria pessoa de decidir por si, acompanhada com a intenção de ser respeitada pelos outros (MORAIS, 2007: p. 16). O Princípio da dignidade da pessoa humana compreende o direito às condições mínimas necessárias para uma vida íntegra, como a uma moradia, alimentação, lazer, vestuário, higiene, saúde, etc., devendo o Estado garantir esse mínimo necessário para todos. 1.2 Código de Ética Médica Compreende um conjunto de normas e princípios que os profissionais da Medicina devem seguir no exercício de qualquer atividade que exija conhecimento médico. Após 20 anos, entrou em vigor no dia 13 de abril de 2010 o sexto código de ética médica, trazendo atualizações de normas e novidades para o exercício da profissão. Prescreve o Código de Ética Médica, em seu capítulo I, quando trata sobre Princípios Fundamentais, que a “Medicina é uma profissão a serviço da saúde [...]” (I). Em prol dela, o profissional, deve ter o máximo de zelo e aplicar o melhor de sua capacidade profissional (II), competindo a ele se aprimorar cada vez mais, utilizando o melhor do progresso científico, 14 sempre em benefício do paciente (V), nunca usando seu conhecimento para causar ou permitir malefícios ao ser humano (VI). A respeito da responsabilidade profissional, o Código indica que ela será subjetiva; em seu capítulo III, dispõe sobre a proibição de dano por imprudência, imperícia ou negligência, e ressalta no parágrafo único do mesmo art. 1º, que a “responsabilidade do médico é sempre pessoal e não pode ser presumida”, ou seja, é necessário que se comprove a culpa do agente. 1.3 Evolução Histórica 1.3.1 Primórdios Nos primórdios a atividade médica era exercida por curiosos e observadores, não havia um estudo propriamente dito sobre as doenças, se buscava diretamente a cura baseando- se em erros e acertos. A prática médica era experimental e o conhecimento era empírico. A Medicina era confundida com magia ou divindade, seus praticantes possuíam dons sobrenaturais. Ela só veio a ser entendida como ciência tempos depois. No entanto, ainda assim, não havendo a cura, o curandeiro ou feiticeiro seria culpado, sendo responsabilizado pelo mau êxito, acusado de imperícia ou incapacidade (KFOURI NETO, 1998, p.32). O primeiro registro a regulamentar o erro médico é o Código de Hamurabi, criado na criado na Babilônia nos séculos XVIII e XVII a. C., através do Rei Khamu-Rabi (Hamurabi), sexto rei da Primeira Dinastia da Babilônia (STOCO, 2007, p. 550). Tratava, em seus artigos. 215 a 223, tanto a respeito do pagamento que seria devido ao médico, quanto das penas prevista em caso de erro, estas podiam chegar a amputação das mãos, já que esse seria o órgão causador do dano. Miguel Kfouri Neto (1998, p. 33) prescreve sobrea existência da responsabilidade objetiva, no conceito utilizado atualmente: Evidencia-se, assim, que inexistia o conceito de culpa, num sentido jurídico moderno, enquanto vigorava responsabilidade objetiva coincidente com a noção atual: se o paciente morreu em seguida à intervenção cirúrgica, o médico o matou – e deve ser punido. Em suma, naquela época, o cirurgião não podia dizer, com uma 15 certa satisfação profissional, como faz hoje: a operação foi muito bem-sucedida, mas o paciente está morto. 1.3.2 Roma A Lei de Talião está presente no Direito Romano primitivo, prevalecia-se a vingança privada. Após, passou a ser prerrogativa do Poder Público, onde ele decidia se ela poderia acontecer ou não. Passa-se à fase da composição voluntária, onde a vítima fazia a escolha, se receberia em dinheiro (poena) ou através da entrega de um item. Chegou-se, então, à composição tarifada, prescrita na Lei das XII Tábuas, que estabelecia o valor da pena para cada caso (KFOURI NETO, 1998, p. 34). A Lei Aquília, considerada a base da responsabilidade extracontratual, instituiu a ideia de reparação pecuniária, considerando-se a conduta culposa do agente para a responsabilização (DINIZ, 2009: p. 11), também, vê-se referencia a responsabilidade médica, como por exemplo, previa a pena de morte ou deportação do médico que fosse culpado pela falta profissional (KFOURI NETO, 1998, p. 35). 1.3.3 Egito No Egito a posição do médico era elevada perante a sociedade, suas funções se confundiam com as de sacerdote. Os médicos deviam seguir as regras de um Livro Sagrado, de obediência obrigatória, por exemplo, o médico não poderia atender o paciente antes de três dias que a doença tivesse aparecido. Respeitando as regras ele estaria livre de qualquer responsabilidade, desobedecendo-as seria punido com a morte, independente do desfecho da doença (KFOURI NETO, 1998, p. 37). 16 1.3.4 Grécia O Corpus Hippocraticum, foi o primeiro estudo na esfera da Medicina, baseado na filosofia aristotélica e transformado em um juramento lembrado até hoje, este aborda “a dedicação ao doente, a boa prática da arte médica e a busca incessante do conhecimento” (STOCO, 2007, p. 550). Começava-se a entender que a culpa do médico deve ser analisada através da conduta do profissional aplicada em cada caso e não apenas subentendido por ter sido, o tratamento, mal sucedido. Porém, a Medicina não era vista com uma atividade de grande importância, bem como os profissionais não entendiam muito da arte acabando por serem malsucedidos. Em razão disto adotou-se duras penas a eles, como, trabalhos forçados em minas, chibatadas, fratura das pernas e até a crucificação (KFORI NETO, 1998, p. 38). Aos poucos o conhecimento empírico foi sendo transformado em ciência, surgiram universidades e corporações de médicos. Os profissionais procuravam ampliar seus conhecimentos, tanto na área médica quanto em outras como letras e filosofia. Gradualmente, inclusive, o Estado passou a regulamentar a área da saúde, atribuindo-lhe um caráter público e não só privado. 1.3.5 França A Academia de Medicina de Paris declarou que a responsabilidade do médico seria exclusivamente moral, no início do século XIX. Para que houvesse a responsabilização era necessário demonstrar a falta grave, imprudência e imperícia visível (KFOURI NETO, 1998: p. 39). Seus defensores diziam que como na Medicina havia diversos caminhos, só podia o médico ser punido caso o paciente comprovasse o erro grosseiro. 17 Posteriormente começou a discussão sobre a possibilidade do ressarcimento material do dano. A responsabilidade penal e civil não se separavam, a pena para o ato danoso era a privada, logo substituída pela indenização. Em 1832 houve uma revolução na jurisprudência francesa, a partir de um processo doutrinou o Procurador Dupin (KFORI NETO, 1998, p. 40): [...] „do momento em que houve negligência, leviandade, engano grosseiro e, por isso mesmo, inescusável da parte do médico ou cirurgião, toda a responsabilidade do fato recai sobre ele, sem que seja necessário, em relação à responsabilidade puramente civil procurar se houve de sua parte intenção culposa‟. No ano de 1964 a 1ª Câmara Cível da Corte de Cassação, reapreciando julgado da Corte de Apelação de Paris, introduziu a jurisprudência La perte d’une chance (perda da chance), segundo a qual, na teoria francesa, o erro era sinônimo de não dar todas as oportunidades de cura ou sobrevivência ao paciente, perder a chance de alterar o que gerou o dano, devendo o médico responder de forma mais serena. 18 2. RESPONSABILIDADE CIVIL O vocábulo responsabilidade é originário do latim respondere (responder). Há também nessa palavra a presença do termo spondeo, utilizado no Direito Romano para ratificar a obrigação do devedor. Pronunciavam-se as palavras “dare mihi spondes?” e se respondia Spondeo (DINIZ, 2009: p. 33), partindo dessa forma de contratar, chamada stipulatio, a palavra responsabilidade, de acordo com Rui Stoco (2007: p.112), passa a ideia de “garantia de pagamento de dívida, descartando qualquer ideia de culpa”, aproximando-se do significado empregado juridicamente. Rui Stoco (2007: p. 115) diferencia “responsabilidade” da palavra obrigação: “Esta significa um dever jurídico originário, enquanto aquela traduz um dever jurídico sucessivo, decorrente da violação da obrigação”. Conforme significado encontrado na obra de De Plácido e Silva (1995, p. 124/125), no geral, traduz-se na obrigação de responder por algo, convencionado ou determinado por lei, e em virtude desta obrigação (seja ela de dar, fazer, ou não fazer alguma coisa), a pessoa a qual se atribui o fato deve arcar com os resultados, exigindo-se a “obrigação ou a imposição do dever”. Dependendo do ato danoso cometido poderá ensejar a responsabilidade civil, moral, penal, administrativa, etc., sendo que se manterá o sentido geral. Sobre o termo responsabilidade o doutrinador Venosa (2008, p.1) assevera: [...] é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar. O ser humano pode agir de acordo com seu entendimento, porém o convívio em sociedade pressupõe o respeito a certas regras a fim de haver uma ordem e justiça entre os seres que nela vivem. A opção pela violação de tais regras implica em arcar com consequências advindas do ato realizado. O direito de um termina quando começa o do outro. O instituto da responsabilidade civil tem início no Livro I, Do Direito Das Obrigações, Título IX do atual Código Civil, o primeiro artigo do título prescreve, sobre a obrigação de indenizar: 19 Art. 927 - Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Maria Helena Diniz (2009, p.34) conceitua responsabilidade civil como sendo: a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal. Definição esta que guarda, em sua estrutura, a ideia de culpa quando se cogita da existência de ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco, ou seja, da responsabilidade sem culpa (responsabilidadeobjetiva). Luiz Guilherme Loureiro (2009, p. 621), por sua vez, afirma objetivamente: Responsabilidade civil é a obrigação que pode recair sobre uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outrem por conduta própria ou de pessoas, animais, ou coisas que dele dependam. A responsabilidade civil, portanto, é parte do direito das obrigações e busca reparar um dano causado através de um ato ilícito, com a finalidade de obter um equilíbrio social. No caso de não haver a possibilidade da restituição e o retorno ao status quo ante, visa-se uma compensação pelo dano causado ao patrimônio, a moral, a saúde, etc., quase sempre de natureza pecuniária, respondendo o devedor com seus bens, podendo chegar à penhora destes, conforme dispõe Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007, p. 707), os quais apresentam a natureza da responsabilidade civil: [...] Natureza da responsabilidade civil. A responsabilidade civil é a consequência da imputação civil do dano a pessoa que lhe deu causa ou que responda pela indenização correspondente, nos termos da lei ou do contrato. A indenização devida pelo responsável pode ser de natureza compensatória e/ou reparatória do dano causado (JUNIOR NERY e NERY, 2007, p. 705). Observa Rui Stoco (2007, p. 112) que, trata-se de uma consequência e não uma obrigação original, de algo que se fez ou deixou de fazer, bem como, é meio pelo qual todos que estejam em prejuízo recorrem, através do judiciário, a fim de obter uma satisfação do seu direito, “[...] A responsabilidade civil é, portanto, a retratação de um conflito”. 20 2.1 Funções da Responsabilidade Civil A Responsabilidade Civil busca a restauração de um equilíbrio patrimonial e moral corrompido por meio de um ato ilícito. Segue com esse instituto um sentimento de Justiça ao trazer a obrigação de reparação para quem causar dano, procurando fazer a vítima retornar ao seu status quo ante através de uma indenização compensatória, que represente do melhor jeito o valor, e/ou reparatória, que seja equivalente a avaria, tentando ao máximo trazer a restituição integral (restitutio in integrum) ao prejudicado. Apresenta-se, portanto, como uma sanção civil, impondo ao agente gerador da lesão os encargos da indenização, garantindo a segurança da vítima, bem como, aplicando-se uma punição ao agente e servindo de desestímulo para que novos fatos aconteçam, obtendo ainda um caráter pedagógico inserido (DINIZ, 2009, p. 9). 2.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil É de uma conduta que infringe uma obrigação, dever jurídico ou direito, que decorre a necessidade da reparação do dano (VENOSA, 2008, p. 2). Os pressupostos para a responsabilização civil são: uma ação ou omissão voluntária, a existência de dano, o nexo de causalidade entre os dois e a culpa (VENOSA, 2008, p.6). Passemos a analisá-los. 2.2.1 Ação e Omissão Ação seria o fazer um comportamento que não deveria ser realizado, enquanto a omissão seria o deixar de praticar algo quando deveria ter sido feito. É o primeiro elemento gerador da responsabilidade civil e, este deve estar envolto de ilicitude (art. 186 e 187 do Código Civil), ou seja, precisa ser contrário a uma norma jurídica, a uma obrigação jurídica ou ser abusiva ao direito (MELLO, 2009, p. 240), sendo que a conduta deve ser capaz de gerar dano. 21 Maria Helena Diniz englobando na palavra ação o ato comissivo ou omissivo e o elemento da culpa declara: [...] A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. (DINIZ,2009, p. 40). Estas condutas devem ser voluntárias, não que deva haver a intenção do resultado, a voluntariedade refere-se somente à conduta. Sobre isso afirma Rui Stoco (2007: p. 129): [...] A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade sobre o resultado, isto é, o querer intencional de produzir o resultado, de assumir o risco de produzi-lo, de não querê-lo mas, ainda assim, atuar com afoiteza, com indolência ou com incapacidade manifesta. O querer intencional é matéria atinente à culpabilidade lato sensu. Observe-se que a voluntariedade desaparecerá se o agente for incapaz (VENOSA, 2008: p. 23), ficando excluída a responsabilidade quando os atos forem praticados por caso fortuito ou força maior. 2.2.2 Dano Não há a obrigação de indenizar se não houver um prejuízo a ser reparado, devendo este ser comprovado com base na lesão que causou ao seu patrimônio ou a sua moral e não nos direitos que foram violados (DINIZ, 2009, p. 61). Em relação a indenização prescreve o Código Civil no artigo 944: “A indenização mede-se pela extensão do dano”. Ela vem como uma compensação cuidando-se para que a vítima não se beneficie demais com a situação, ou seja, não se enriqueça, não receba mais do que conseguiria juntar com seu trabalho, deve ser observado um equilíbrio, pois não pode ser tão pequena a ponto de nem ser punição e nem uma satisfação para a vítima. Enneceus, citado por Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 594), define o dano como sendo “toda desvantagem que experimentamos em nossos bens jurídicos (patrimônio, corpo, vida, saúde, honra, crédito, bem-estar, capacidade de aquisição etc.)”. 22 O dano pode ser material ou patrimonial consistente em uma lesão a alguém de forma econômica, gera uma diminuição de seu patrimônio, sendo redutível ao seu equivalente em dinheiro, facilmente calculável (DINIZ, 2009, p. 67). Nessa matemática, pode-se discutir os danos emergentes e lucros cessantes, aquilo que efetivamente se perdeu e o que razoavelmente se deixou de ganhar (art. 402 do CC). No campo dos danos morais tem-se que os mesmos são de ordem subjetiva, pois os bens atingidos são de caráter interno, no âmbito dos direitos da personalidade (imagem, privacidade, a honra, etc.). Venosa (2008, p. 42) destaca a importância do critério objetivo do homem médio, para gerar a indenização, pois não pode qualquer aborrecimento ser qualificado como dano moral, este deve causar um distúrbio atípico na vida da pessoa a ser avaliado de acordo com o caso concreto. 2.2.3 Nexo de Causalidade Do mesmo modo, não se configura a responsabilização sem o nexo de causalidade, ou seja, a ligação entre a conduta e dano causado. Para defini-lo a doutrina aponta duas teorias predominantes: a Teoria da Equivalência e a da Causalidade Adequada. A Teoria da Equivalência, ou conditio sine qua non, é proposta pelo Código Penal em seu art. 13. Segundo a qual subtraindo-se a conduta analisa-se se o resultado teria ocorrido da mesma maneira. A crítica que se faz a essa teoria é a abertura regressiva por ela aceita. Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007: p. 343) exemplificam a possibilidade de se “atribuir responsabilidade a um industrial que, anos antes, fabricou uma telha que caiu de uma construção e atingiu uma pessoa”. Na Teoria da Causalidade Adequada discute-se se o fato seria capaz de gerar o resultado, examina-se a probabilidade. Porém, Rui Stoco (2007, p.152), conclui que: [...] independentemente da teoria que se adote como a questão só se apresenta ao juiz, caberá a este, analisar o caso concreto, sopesar as provas, interpretá-las em conjunto e estabelecer se houve violação do direito alheio, cujo resultado seja danoso, e se existe um nexo causal entre o comportamento do agente e o dano verificado. 23 Afasta-se o nexo de causalidade quando houver culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, fato de terceiro, e, na área contratual especificamente, a cláusula de não indenizar, desde que haja consenso entre as partes (VENOSA 2008, p 49). 2.2.4 CulpaEm sentido amplo, a Culpa, compreende atribuir ao agente a transgressão de um dever jurídico, por ocasião de uma ação propositada ou de uma omissão de diligência ou cuidado; incluindo-se nesse contexto o dolo, que se trata da vontade de produzir um ilícito; e a culpa em sentido estrito, onde não há intenção de originar um resultado antijurídico, mas entende-se que poderia ter agido com conduta diversa, ela vem marcada pela imperícia, imprudência e negligência (DINIZ, 2009, p. 42). 2.2.4.1 Ato Ilícito O aspecto da culpa decorre da produção de um ato ilícito indicado nos arts. 186 e 187 e ainda vale mencionar os art. 951 e 617, que apresentam a imperícia, igualmente, como modalidade de culpa, todos do Código Civil. Art. 186 do CC – Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187 do CC – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 617 do CC – O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar. Art. 951 do CC – O disposto nos arts. 948, 949 e 950, aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência e imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. Compreende ato ilícito a conduta dolosa ou culposa que lesa bens tutelados pelo ordenamento jurídico. Inclui-se nesse campo não só o patrimônio, mas também a moral, bem imaterial e de cunho subjetivo. Quando doloso, o ato voluntário já nasce ilícito, o autor já pretende o resultado por intermédio de sua ação ou omissão. Na culpa ele quer a ação, porém comete o ilícito pela 24 inobservância do dever de cuidado exigido (BARROS JÚNIOR, 2007: p. 45), discute-se aqui os institutos da imprudência, negligência e a imperícia. O dolo divide-se em direto e indireto, desdobrando-se o último em alternativo ou eventual, na concepção de Rui Stoco (2007, p. 149): Diz-se que o dolo é direto quando o resultado do mundo exterior corresponde perfeitamente à intenção e vontade do agente. O dolo indireto, por sua vez, desdobra-se em dois aspectos, alternativo e eventual; alternativo, quando o agente quer um ou outro dos resultados possíveis de sua ação; eventual, quando ele prevê o resultado como possível, e o admite como consequência de sua conduta, embora não queira propriamente atingi-lo. A prudência, segundo o dicionário Aurélio (2000, p. 565), é o cuidado, cautela, o agir evitando todos os perigos. A imprudência vem a ser o antônimo deste termo, é a ação sem a devida cautela, por impulso, afoita, por exemplo, quando alguém dirige em alta velocidade (STOCO, 2007, p. 134). A culpa pode, também, ser definida pela negligência que vem a ser a ausência de atenção ou cuidado, normalmente através de uma conduta omissiva, onde se exigia do agente um agir, um fazer. E por fim, a imperícia é a ausência de técnica ou de conhecimento para realizar determinado ato, caracterizada tanto por uma ação quanto por uma omissão, citando Luiz Augusto Coutinho (2006, p. 55), “fruto de ignorância, incompetência, desconhecimento, inexperiência ou até mesmo pela inabilidade da profissão”. A doutrina divide a culpa em três níveis, sendo a levíssima, leve e grave. Grave é aquela grosseira, que poderia ser prevista por uma pessoa comum, com conhecimento mínimo, por isso é próxima do dolo, bem como, cabe nesse campo a culpa consciente quando o agente prevê a possibilidade do dano ocorrer, porém acredita que pela sua perícia, não ocorrerá. Leve é o ato praticado sem consciência de estar realmente produzindo um dano, pressupõe um conhecimento mediano, de um pai de família. Na levíssima só haveria a previsão de uma pessoa fora do padrão comum, exige uma atenção formidável, perita. Diferencia-se a culpa, em três espécies: culpa in eligendo, quando há má escolha daquele em que se deposita a prática de ato ou adimplemento de um compromisso, respondendo por seus atos ilícitos e danos causados pelo escolhido; in comittendo, advém da conduta positiva (imprudência), incidindo em uma abstenção (negligência) a culpa será in 25 omittendo; a in vigilando ocorre pelo descuido quanto ao método de outro, do qual deve pagar o responsável pelo ato ilícito; in custodiendo, consiste na falta de atenção com relação à coisa, animal ou objeto, que tenha sob sua responsabilidade (DINIZ, 2009, p. 46). 2.3 Espécies de Responsabilidade A Responsabilidade civil pode ser classificada, segundo Maria Helena Diniz (2009, p. 128), quanto ao seu fato gerador em Responsabilidade Contratual e Extracontratual ou Aquiliana; quanto ao seu fundamento em Responsabilidade Subjetiva e Objetiva; e quanto ao seu agente em Responsabilidade Direta e Indireta ou Complexa. 2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual A responsabilidade contratual resulta do inadimplemento de um negócio jurídico bilateral ou unilateral celebrado; na extracontratual, não há uma conexão preestabelecida entre as partes, como num contrato, ela será oriunda da prática de um ato ilícito (DINIZ, 2009, p. 130), A respeito do assunto Rui Stoco (2007, p. 140), conceitua: Em resumo, a responsabilidade extracontratual é o encargo imputado pelo ordenamento jurídico ao autor do fato, ou daquele eleito pela lei como responsável pelo fato de terceiro, de compor o dano originado do ato ilícito, ou seja, da obrigação daquele que por ação ou omissão voluntária, violar direito e causar dano a outrem. A responsabilidade contratual é a inexecução previsível e evitável, por uma parte ou seus sucessores, de obrigação nascida de contrato, prejudicial à outra parte ou seus sucessores [...] (STOCO, 2007, p. 140). Venosa (2008, p. 135) indica não existir grande diferença a respeito das duas modalidades, mas havendo o contrato é em cima do estabelecido que será aferida a responsabilidade, e observa que no campo profissional, mesmo havendo um contrato, independente dele, existe um procedimento específico a ser estudado consonante com a profissão. 26 2.3.2 – Responsabilidade Subjetiva e Objetiva O Código Civil adota duas espécies de responsabilidade, com relação ao fundamento (DINIZ, 2009, p. 130): a Subjetiva que é a regra geral, conhecida como Teoria da Culpa, onde se exige, além dos requisitos já citados (ação ou omissão, nexo de causalidade e dano), a culpa do agente como fato gerador do dano; e a Objetiva, Teoria do Risco, onde afasta-se a culpa em sentido estrito, como causa do encargo (art. 927, parágrafo único do CC), basta a existência do dano e o nexo de causalidade (NERY JÚNIOR e NERY, 2007, p. 705) para a satisfação dos critérios da condenação. Pela insuficiência da Teoria da Culpa, criou-se a culpa presumida e após surgiu a Responsabilidade Objetiva, essa trata a culpabilidade como irrelevante. Somente a prova do dano e da relação de causalidade gera a obrigação de indenizar. A Teoria funda-se em assumir o risco da atividade que só de ser realizada expõe a um perigo (VENOSA, 2008: p. 10), Maria Helena Diniz (2009: p. 61) acrescenta: [...] funda-se num princípio de equidade, existente desde o direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelos riscos ou pelas desvantagens dela resultantes. Difere a Responsabilidade Objetiva da Culpa Presumida, apesar de se aproximarem bastante. Enquanto na primeira não se discute a culpa, a segunda permanece no campo no campo da culpa, aplicando-se a teoria subjetiva, porém ocorrendo a inversão do ônus da prova, cabendo ao réu evidenciar que não agiu com culpa, ao invés do autor. 2.2.3 ResponsabilidadeDireta e Indireta ou Complexa No que diz respeito ao agente causador do dano Maria Helena Diniz (2009: p. 130) classifica a responsabilidade como sendo direta ou indireta. Direta quando o agente responde por ato próprio, a conduta originou-se da pessoa em si não envolvendo conduta de terceiro. Indireta ou complexa quando o encargo recai por ato de terceiro, com o qual possui responsabilidade, será também por fato de animal ou de coisas que tenha sob sua guarda. 27 3. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO A doutrina de Edmilson de Almeida Barros Júnior (2007, p.44) conceitua responsabilidade civil médica, como: “[...] a obrigação que tem o profissional da saúde de reparar um dano porventura causado a outrem no exercício de sua profissão”. Miguel Kfouri Neto, sobre os limites da responsabilidade do ato médico: Ainda se mantém o princípio hipocrático: o médico sempre deve atuar no sentido de fazer o bem ao doente, nunca com a intenção de lhe causar qualquer mal. Primar pela conduta eticamente correta - como preconiza o seu Código - é outra recomendação a ser observada. 3 . Como visto, o Código Civil estabelece que aquele que causar dano a outrem está obrigado a ressarci-lo em razão do prejuízo (art. 927). Na responsabilidade civil médica não é diferente, deve, portanto, ser indenizado aquele que obteve prejuízo de ordem material e/ou imaterial pelo ato do profissional médico. Neri Tadeu Camara Souza (2003, p. 45) manifesta: [...] Para se pensar em responsabilizar o médico por algo, em termos de Direito Civil, no terreno da responsabilidade civil é crucial que o paciente tenha sofrido um dano – um prejuízo decorrente da atuação do médico em determinado atendimento médico. [sic] Para que se caracterize a responsabilidade civil médica, são necessários os mesmos pressupostos da responsabilidade civil, ou seja, uma ação ou omissão voluntária, o dano, nexo de causalidade entre ambos e a culpa (VENOSA, 2008, p. 06). 3.1 Natureza da Responsabilidade Médica A doutrina e a jurisprudência consolidaram o entendimento de que a Responsabilidade Civil do médico é subjetiva, ou seja, depende da comprovação da culpa. 3 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content&view= article&id=206&Itemid=100. Acesso em: em: 25/11/2010, às 12:40 horas. 28 O Código Civil de 2002 trouxe a responsabilidade dos profissionais no art. 951, manifestando a ideia de responsabilidade subjetiva ao mencionar “negligência, imprudência e imperícia” no texto: Art. 951 do CC – O disposto nos arts. 948, 949 e 950, aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência e imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. No âmbito do Código de Defesa do Consumidor ocorre a mesma espécie de responsabilidade, tendo em vista o art. 14 §4º do diploma legal estabelecer a responsabilidade dos profissionais liberais mediante culpa. Referente ao abordado destaca-se recente julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. CULPABILIDADE DE NATUREZA SUBJETIVA. PRESSUPOSTOS. ÔNUS PROBATÓRIO. A responsabilização do profissional liberal por defeito na prestação do serviço implica comprovação de culpa. Art. 14, § 4º, do CDC. São pressupostos da responsabilidade subjetiva a comprovação da ocorrência do dano, a culpa ou dolo do agente e o nexo de causalidade entre o agir do réu e o prejuízo da parte autora. Caso em que a demandante não comprovou a existência do nexo de causalidade entre a deficiência desenvolvida e a terapêutica aplicada, tampouco falha ou falta no serviço prestado pelo clínico. Julgamento desfavorável àquele sobre quem recaía o ônus probatório. Sentença de improcedência confirmada. RECURSO IMPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70028704575, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 30/09/2010). Discute-se, ainda, se a responsabilidade médica possui caráter contratual ou extracontratual. Na responsabilidade contratual o dano ocorre devido ao inadimplemento do negócio jurídico bilateral ou unilateral celebrado, mesmo que tácito. A respeito da natureza contratual da relação médico paciente, Sérgio Cavalieri Filho (2000, p: 272) explica: [...] Tratar-se-á de responsabilidade contratual se houver convenção, relação jurídica preexistente entre médico e paciente, mesmo que não escrita. Inexistindo contrato, a responsabilidade só poderá ser aquiliana ou delitual. A responsabilidade médica, é de regra, contratual, em razão da forma como se constitui a relação paciente-médico. Normalmente, o paciente procura o médico, escolhe o profissional de sua confiança, constituindo com ele vinculo contratual. Acontece a relação contratual entre médico e paciente, portanto, quando o segundo procura pelo primeiro e este aceita prestar o serviço requerido (MATIELO, 2001, p. 48). Assim, a responsabilidade aquiliana decorrerá não de uma conexão preestabelecida entre as partes, como num contrato, ela será oriunda da “prática de um ato ilícito”, da inobservância da lei (DINIZ, 2009, p. 130). Poderá a natureza jurídica da responsabilidade médica ser extracontratual quando, por exemplo, quando “o médico atende um paciente em 29 estado de impossibilidade de autodeterminação” (BARROS, 2007, p. 96). A respeito Souza (2003, p. 58): A responsabilidade contratual é aquela que se estabelece entre as partes, baseada na autonomia da vontade de ambas. Decorre de uma convenção entre as partes, tornando-se lei entre elas aquilo que for acordado entre elas. A relação extracontratual é aquela que se estabelece entre as partes, decorrente de disposições legais presentes em nosso ordenamento. Independe da vontade das partes. É regida por dispositivos que vigoram erga omnes. Ocorre que o Código de Defesa do Consumidor sobrepuja esses dois tipos, trazendo o foco para a relação de consumo, e não para a relação contratual ou o evento ilícito (VENOSA, 2008, p. 138), transformando-se o médico em um fornecedor de serviços. Sobre o CDC acrescenta Barros Júnior (2007, p. 96): Ao equiparar ao consumidor todas as vítimas do acidente de consumo (art. 17), submeteu a responsabilidade do fornecedor a um tratamento unitário, tendo em vista que o fundamento dessa responsabilidade é a violação do dever de segurança – o defeito do produto ou serviço lançado no mercado e que, numa relação consumerista, contratual ou não, provoca um acidente de consumo. A jurisprudência do STJ é pacífica na acepção de que a relação médico-paciente se trata de relação de consumo e, em regra, aplica-se o disposto no artigo 14, §4º do Código Consumerista, sendo a responsabilidade civil do médico subjetiva, salvo algumas exceções (CALADO, 2009, p. 34/35). 3.2 Obrigação de Meio e de Resultado As obrigações contratuais se dividem entre obrigação de meio e de resultado, para aferir a responsabilidade civil do médico é necessária a distinção entre estas duas modalidades. Na obrigação de meio o médico não se compromete a um resultado específico. Aqui, o profissional terá tão somente a obrigação de empregar toda a sua diligência, oferecendo o melhor tratamento, aplicando técnicas adequadas e aceitas, que a época lhe proporciona, para alcançar a cura. Porém, não a obtendo, não será caracterizada a responsabilidade, se tiver agido propriamente (STOCO, 2007, p. 556). Sérgio Cavalieri Filho (2000, p. 273) explica: 30 Nenhum médico, por mais competente que seja, pode assumir a obrigação de curar o doente ou de salvá-lo, mormente quando em estado grave ou terminal. A ciência médica, apesar de todo o seu desenvolvimento, teminúmeras limitações, que só os poderes divinos poderão suprir. A obrigação que o médico assume, a toda evidência, é a de proporcionar ao paciente todos os cuidados conscienciosos e atentos, de acordo com as aquisições da ciência, para usar-se a fórmula consagrada na escola francesa. Não se compromete a curar, mas a prestar os seus serviços de acordo com as regras e os métodos da profissão, incluindo aí cuidados e conselhos. Fabrício Zamprogna Matielo (2001, p. 56) conceitua: Obrigação de meios é a que vincula o profissional à aplicação diligente de todos os recursos disponíveis para a melhor condução possível do caso clínico que será alvo de seus préstimos. O médico não fica adstrito a um resultado final, mas tem de envidar todos os esforços e utilizar-se dos aparatos técnicos que estiverem razoavelmente ao seu alcance. Destarte, não poderá o prestador de serviços ser responsabilizado pela piora do paciente ou caso sobrevenha o falecimento do mesmo, desde que tenha cumprido os deveres que ensejam o contrato. Haverá a obrigação de indenizar se suceder evento danoso pela não utilização dos meios imperiosos, estando eles disponíveis sem ônus pecuniários ou pessoais, demonstrando-se a culpa do agente, e, qualificando-se o erro (MATIELO, 2001, p. 57). A obrigação de resultado difere da obrigação de meio, pois se implica o dever do contratado de obter um determinado fim. Ao não conseguir o resultado específico, resta inadimplente, e sua culpa presumida. O profissional terá que demonstrar que não foi culpado pelo inadimplemento, ou então que o fato aconteceu em razão de alguma excludente da responsabilidade civil; o paciente, por sua vez, terá que evidenciar o não cumprimento do contrato (STOCO, 2007, p. 557). Nesse sentido, acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ERRO MÉDICO - CIRURGIA PLÁSTICA - FINS ESTÉTICOS - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO - LESÃO MEDULAR - INVESTIGAÇÃO E AVALIAÇÃO DE PREDISPOSIÇÃO DA PACIENTE - INFORMAÇÕES SOBRE OS RISCOS DA CIRURGIA - AUSÊNCIA - RESPONSABILIDADE DO MÉDICO E DA CLÍNICA - CONDENAÇÃO EM DOBRO DO §1º DO ARTIGO 1.538 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 - APLICAÇÃO APENAS EM RELAÇÃO À MULTA CRIMINAL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REDUÇÃO - JUROS DE MORA DESDE O EVENTO DANOSO - OBRIGAÇÃO EXTRACONTRATUAL - SÚMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Por possuir a cirurgia plástica para fins estéticos obrigação de resultado, a culpa se presume a partir do descumprimento, bastando ao paciente lesado demonstrar a existência da obrigação e afirmar a inexecução. Se a cirurgia plástica realizada teve fim puramente estético, com obrigação de resultado, o qual não foi alcançado, resta caracterizada a culpa do médico cirurgião, quando não comprova que adotou os procedimentos pré- operatórios necessários a fim de avaliar a predisposição do paciente a reações alérgicas ou outras possíveis e, quando é omisso em prestar informações necessárias e adequadas ao paciente acerca da probabilidade de sequelas desagradáveis e 31 indesejáveis após a cirurgia plástica. Utilizando-se o médico das dependências do hospital ou clínica, não só para fins ambulatoriais, como também cirúrgicos, sendo auxiliado pelos seus funcionários, não resta dúvida quanto à responsabilidade solidária do nosocômio, vez que incumbe ao mesmo zelar pela eficiência dos serviços prestados pelos profissionais em seu estabelecimento. A indenização deve proporcionar à vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem enriquecimento sem causa, produzindo, no causador do mal, impacto suficiente para dissuadi-lo de igual e semelhante atentado. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que a duplicação prevista no § 1º do art. 1.538 do Código Civil de 1.916 não abrange todas as verbas tratadas no seu caput, mas somente a multa criminal, porventura devida. Os juros moratórios incidentes sobre a indenização são devidos desde a data da cirurgia, ou seja do evento danoso, de acordo com a Súmula 54 do STJ, por se tratar de obrigação extracontratual. (Apelação Cível nº 1.0525.01.001526-7/002, 12ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Relator: Alvimar de Ávila, data do Julgamento em 10/02/2010). Em regra à atividade médica se aplica a obrigação de meio, onde o que se busca é a atividade do devedor e não uma finalidade específica, apesar da cura ser certamente o desejo e se configurar como o alvo, esta não é o “objetivo jurídico da contratação” até porque cada paciente reage de um jeito para com o tratamento (MATIELO, 2001, p. 56). Na obrigação de resultado, o objeto do contrato é o próprio resultado, ela se determina por suas características peculiares, se contrata algo “previsto, antecipado e anunciado” (STOCO, 2007, p. 557), ao analisar especificamente as espécies meio e fim, Rizzato Nunes (2009, p. 353) em sua obra sobre o Direito do Consumidor, expõe que para os profissionais de fim, exige-se o resultado, pois este não depende de outra circunstância que não seja sua capacitação. É empregada a obrigação de resultado, também, quando garante expressamente a cura, conforme expõe Rui Stoco (2007, p. 556/557). Nesse sentido, Antonio Carlos Efing, professor da PUC-PR afirma em entrevista: Quando se realiza uma oferta, uma publicidade, é criado um vínculo. Se você disser ao paciente „você vai ficar bom‟, você prometeu a cura. E às vezes, por esforço de retórica, o profissional acaba se expressando dessa maneira. Se ele faz isso, ele assume a obrigação de alcançar o resultado. Assim ele fica sujeito a ser demandado judicialmente 4 . Silvio de Salvo Venosa (2008, p. 139) elenca algumas possibilidades de obrigação de resultado na atividade médica: Na grande maioria das atuações, portanto, a obrigação do médico é de meio; por vezes será de resultado, como se afirma na cirurgia plástica meramente estética e em exames laboratoriais, hoje cada vez mais sofisticados. 4 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content& view=article&id=209&Itemid=102. Acesso em: 25/11/2010, às às 12:45 horas. 32 Em julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul abordou-se o tema de forma ampla, assim ementado: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. MAMOPLASTIA. CIRURGIA ESTÉTICA. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. Preambularmente, cumpre ressaltar que a responsabilidade civil do médico é subjetiva, de acordo com o que preceitua o art. 14, § 4º, do CDC. 2. A obrigação assumida pelo médico, na maioria dos casos, é de meio e não de resultado. O objeto da obrigação não é a cura do paciente, e sim o emprego do tratamento adequado de acordo com o estágio atual da ciência, de forma cuidadosa e consciente. 3. Contudo, na hipótese dos autos no que tange à mamoplastia diz respeito claramente à obrigação de resultado, porquanto o médico se compromete na obtenção de determinado benefício clínico, tendo em vista que a pretensão do paciente é melhorar seu aspecto estético. 4. Assim, oportuno ressaltar que, embora o CDC na norma precitada estabeleça que a responsabilidade civil do profissional liberal seja subjetiva, tal disposição não impede a inversão do ônus da prova, na medida em que, obviamente, o paciente é hipossuficiente em relação àquele no que tange à técnica aplicada e aos conhecimentos médicos necessários. 5. Na análise quanto à existência de falha no serviço prestado, bem como da culpabilidade do profissional, o Magistrado, que não tem conhecimentos técnico-científicos atinente à área médica, deve se valer principalmente das informações prestadas no laudo técnico. 6. Contudo, no presente feito não há como se reconhecer imperícia ou imprudência do médico-réu na realização do procedimento cirúrgico, namedida em que este adotou a técnica habitual e as cicatrizes resultaram das condições preexistentes na paciente. 7. Não desconheço que o resultado almejado pela autora não foi atingido, pois de outra forma não haveria razão para o ingresso da presente demanda. O que se vislumbra, em verdade, é que a parte postulante não ficou satisfeita com os frutos da cirurgia, possivelmente não por uma expectativa criada pelo médico demandado, mas sim por uma inconformidade pessoal, avessa às promessas médicas e as possibilidades técnicas de melhoria da região. 8. Assim, não assiste razão à autora ao imputar ao réu a responsabilidade pelo evento danoso, na medida em que não restou comprovado nos autos qualquer conduta culposa pelo profissional que prestou atendimento aquela que pudesse resultar no dever de reparar. Negado provimento ao apelo. (Apelação Cível Nº 70037312303, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 29/09/2010). O essencial para gerar a responsabilidade civil médica é a relação entre a culpa e dano, porém para fins de prova é necessário apreciar qual a espécie da obrigação violada, se esta foi de meio ou de resultado. Sendo a obrigação contratual de meio o onus probandi será da vítima, do contrário, continuará no campo da responsabilidade subjetiva, mas sua culpa será presumida (STOCO, 2007, p. 556). 3.2. 1 Cirurgia Plástica A cirurgia plástica é constantemente definida como atividade cuja obrigação é de resultado. 33 João Monteiro de Castro (2005, p. 148) explica: A cirurgia plástica é especialidade médica reconhecida mundialmente e visa tratar doenças e deformidades anatômicas, congênitas, adquiridas, traumáticas, degenerativas e oncológicas, bem como de suas consequências, objetivando beneficiar os pacientes visando seu equilíbrio biopsicossocial e consequente melhoria sobre a sua qualidade devida. A cirurgia plástica se divide em duas modalidades: estética e reparadora. A estética compreende o embelezamento, o aperfeiçoamento da aparência da pessoa, “através do manejo de contornos corporais tidos por deficientes ou incorretos”, os fins são puramente estéticos não envolvendo qualquer doença preexistente onde seja necessária uma cirurgia (MATIELO, 2001: p. 63). A reparadora apresenta-se com o intuito de retornar ao estado original ou retificar deformidades congênitas, abarcando a cirurgia designada para consertar uma cirurgia estética malsucedida, esta modalidade também possui uma visão estética, porém suas finalidades são terapêuticas, como exemplo de cirurgia plástica reparadora, a cirurgia que pretende restaurar queimaduras (CASTRO, 2005, p. 148). Entende-se que na cirurgia puramente embelezadora a obrigação do profissional é de resultado. O acórdão que julgou o Recurso Especial número 81.101-PR, em 1999, colocou à cirurgia estética ou plástica a obrigação contratual de resultado, a partir desse momento, aos casos que se referiam à espécie eram imputados a responsabilidade objetiva pelo STJ. Recentemente houve uma mudança no quadro, e voltou-se a analisar a culpa no campo da cirurgia embelezadora, apesar de ainda ser considerada obrigação de resultado (CALADO, 2009, p. 35). 3.2.2 Anestesista Trata-se de uma das especialidades da Medicina imprescindíveis para a realização de uma cirurgia e onde a falha pode ocasionar danos irreversíveis. Prescreve Maria Helena Diniz (2009, p. 316), as normas que o anestesista deverá observar: [...] a) o risco da anestesia nunca deverá ser maior que o da intervenção cirúrgica, isto é, em operações de menor importância não se deve aplicar anestesia geral; b) não deve anestesiar sem a anuência do paciente ou de seus familiares; c) aplicar a anestesia na presença de testemunhas; d) examinar previamente as condições fisiopsíquicas do enfermo; e) não deve proporcionar anestesia a operação ilícita ou fraudulenta, p. ex., aborto criminoso, alteração da fisionomia para fugir da identificação policial, reconstituição do hímen etc.; f) não usar entorpecentes senão 34 nas condições necessárias para aliviar a dor. A violação dessas normas indica imperícia, negligência, imprudência e torpeza. O anestesista incorre em obrigação de meio e sua culpa será analisada de acordo com os preceitos da responsabilidade subjetiva, a culpabilidade pode acontecer durante as três etapas que envolvem a atividade, de acordo com Venosa (2008, p. 146): [...] uma fase preparatória, na qual o profissional avalia o estado do paciente e escolhe a melhor técnica, tendo em vista seu estado; o trabalho durante a ministração das drogas e o monitoramento do paciente durante a cirurgia e, no final, a atividade de recobro do paciente à consciência e o monitoramento dos efeitos da anestesia após o procedimento cirúrgico [...]. O cirurgião chefe pode responder solidariamente pelo ato provocado pelo anestesista através da culpa in eligendo, por ter escolhido mal o profissional. Manifesta ainda, o doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2008, p. 147) que deve ser apurado se houve culpa concorrente entre o cirurgião e o anestesista, e que, na dúvida, todos os participantes do procedimento cirúrgico devem responder solidariamente, devendo ser levado em consideração às circunstâncias em que a anestesia foi aplicada. Sobre o anestesista julgado do Tribunal da Bahia: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CIRURGIA. ERRO MÉDICO. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO MÉDICO-ANESTESISTA. JULGAMENTO PROFERIDO PELO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DA BAHIA E DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. CULPA DEVIDAMENTE DEMONSTRADA. LESÕES NEUROLÓGICAS IRREVERSÍVEIS. NEGLIGÊNCIA CONSUBSTANCIADA. OCORRÊNCIA DE DANOS MORAIS. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. DESNECESSIDADE DA SUA PROVA. PRESUNÇÃO IN RE IPSA. DEVER DE INDENIZAR. NÃO COMPROVAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS. NECESSIDADE DE PROVA EXPLÍCITA E INEQUÍVOCA. REFORMA DA SENTENÇA. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. TRATANDO-SE DE RESPONSABILIDADE SUBJETIVA, PARA QUE SE CONFIGURE O DEVER DE INDENIZAR, IMPERATIVO O RECONHECIMENTO DA CULPA E O LIAME CAUSAL ENTRE A AÇÃO E O RESULTADO. DEMONSTRANDO A AUTORA O FATO CONSTITUTIVO DE SEU DIREITO, NA ESPÉCIE, O AGIR CULPOSO DO MÉDICO-ANESTESISTA DO NOSOCÔMIO, PELA LESÃO RESULTANTE DO PROCEDIMENTO ANESTÉSICO, O CONSECTÁRIO LÓGICO É A PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. O DANO MORAL ESTÁ PREVISTO NOS INCISOS V E X DO ART. 5° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E EQUIVALE A UMA REPOSIÇÃO DO DANO PSICOLÓGICO E PESSOAL, SENDO DESNECESSÁRIA A SUA PROVA POR SE TRATAR DE PRESUNÇÃO IN RE IPSA. O DANO MORAL, EM TAIS CASOS, ESTÁ ÍNSITO NO PRÓPRIO ERRO COMETIDO PELO APELAÇÃO CÍVEL Nº 33.659-4/2007 PROFISSIONAL, DE TAL MODO QUE, PROVADO O FATO DANOSO, IPSO FACTO, ESTÁ PROVADO O DANO MORAL. EM SE TRATANDO DE DANOS MATERIAIS, CABE AO AUTOR APONTAR, DE FORMA EXPLÍCITA, QUAIS OS DANOS EFETIVAMENTE SOFRIDOS E QUE CONDUZIRAM À REPARAÇÃO PLEITEADA, VEZ QUE, PARA APURAÇÃO NESTE TIPO DE INDENIZAÇÃO, NECESSÁRIO SE FAZ A DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DOS PREJUÍZOS SOFRIDOS, POIS, SOMENTE COM TAIS ELEMENTOS, PODE O MAGISTRADO VALORAR O QUANTUM DEVIDO (TJ/BA, APELAÇÃO nº 35 33659-4/2007, Relator: Josevando Sousa Andrade, data do Julgamento: 20/10/2009). 3.3 Código de Defesa do Consumidor A relação médico-paciente se encaixa no estabelecido pelo Código de Defesa do Consumidor, pois o médico presta serviços ao paciente, sendo, portanto, fornecedor na forma do disposto em seu artigo 3º. A responsabilidade pelo CDC baseia-se na Teoria do Risco, conforme o art. 14, caput, pois o fornecedor responde independente de culpa pelos danos causados na prestação de serviços, mas faz uma ressalva em seu parágrafo 4º para os profissionais liberais, instituindo a responsabilidade subjetiva para esse tipo de profissão, que é o caso do médico. Entende-se por profissional liberal, nas palavras de RizzattoNunes (2009, p. 359), aquele que tem: [...] autonomia profissional, com decisões tomadas por conta própria, sem subordinação; prestação do serviço feita pessoalmente, pelo menos nos seus aspectos mais relevantes e principais; feitura de suas próprias regras de atendimento profissional, o que ele repassa ao cliente, tudo dentro do permitido pelas leis e em especial pela legislação de sua categoria profissional. No exercício de sua atividade o médico tem o dever de aplicar todo o seu conhecimento, e deve ser conhecedor de sua área, em benefício do paciente, fazer tudo que estiver ao seu alcance para obter o resultado, a fim de que a pessoa tenha sua saúde restaurada e/ou melhorada, sendo que para algumas atividades reserva-se a obrigação desse resultado, como na cirurgia plástica, por exemplo, influindo na espécie de responsabilização, apontada pelo artigo supracitado. A diferença fundamental ocorre no campo da inversão do ônus da prova, garantido aos consumidores no art. 6º, VIII, do CDC, que como já abordado anteriormente terá variação de acordo com a obrigação assumida pelo agente causador do dano. Indagado sobre a responsabilidade do médico quando possuir vínculo com hospital, Miguel Kfouri Neto, em entrevista disposta no site do 1º Congresso de Direito Médico, respondeu: 36 Caso o médico não seja vinculado, por alguma forma de subordinação, ao hospital, a responsabilidade é pessoal. Quando o médico puder ser considerado preposto do hospital, o estabelecimento responderá solidariamente, desde que provada a culpa do profissional - imperícia, imprudência ou negligência 5 . A responsabilidade dos hospitais funda-se na responsabilidade objetiva pelo Código de Defesa do Consumidor, porém quando o dano estiver ligado à conduta médica no exercício de sua profissão, sendo ele preposto ou empregado do hospital, a responsabilidade será subjetiva, ou seja, dependente da demonstração da culpa do profissional, só responderá na primeira forma quando a lesão não tiver relação com o médico, como, por exemplo, for referente a instalações. 3.4 Culpa Médica Ao se falar em erro médico é imperioso observar que a falha no resultado pode advir da evolução da própria doença que assola o paciente ou pode estar além do conhecimento da Medicina, uma vez que ela não é absoluta e tais resultados, sucessivos de um natural infortúnio, não podem ser atribuídos a conduta do médico. Não há que haver responsabilização, pois esta deve vir para aqueles que, de alguma forma, descumpriram com seu dever. Nesse contexto, cabe mencionar o entendimento do doutrinador Jõao Monteiro de Castro (2005, p. 27) ao versar sobre dano: A doença, a enfermidade e a morte fazem parte da condição humana. E elas sempre terão contra o médico a última palavra. Em matéria de responsabilidade médica, o prejuízo pode resultar de elementos de natureza extremamente variada. Vai do prejuízo puramente econômico até o puramente moral, como por exemplo, pela violação do segredo profissional. Vai do prejuízo resultante do uso de um atestado falso até incapacidade, invalidez e morte. E como anota Jean Penneau, o paciente pode chegar ao médico afetado por uma morbidez preexistente, até mesmo resultado de tratamentos, bem ou mal sucedidos, anteriores. Então, para a verificação do verdadeiro prejuízo, objetivamente causado pela atividade médica, engajando a responsabilidade do médico, deve ser levado em conta esse estado preexistente, prestando atenção em avaliar se o dano reclamado pelo paciente decorre da atividade médica ou à evolução patológica da doença já instalada. Antonio Carlos Efing considera que para questões envolvendo a atividade médica os processos devem ser lentos: 5 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/índex.php?option=com_content &view=article&id=206&Itemid=100. Acesso em: 25/11/2010, às 12:40. 37 [...] O que fazemos hoje no Direito é aplicá-lo com razoabilidade e bom senso e, então, detectar nuances específicas. Há uma dificuldade de ordem prática: quanto mais complexa a sociedade e suas relações, mais o Direito tem que ser individualizado, e então há um problema de tempo: para analisar as coisas em detalhe é necessário mais tempo, e em nossa sociedade não há tempo. A Justiça justa, no caso das questões médicas, é uma Justiça lenta, porque ela vai ter que analisar detalhes que são cruciais para a decisão; e então ela encontra a antipatia da população, por conta dessa lentidão necessária. 6 Para verificar a culpabilidade do profissional médico serão válidas as provas estabelecidas no Código de Processo Civil: depoimento pessoal (arts. 342 a 347), confissão (arts. 348 a 354), exibição de documento ou coisa (arts. 355 a 363), documental (arts. 364 a 391), testemunhal (arts. 400 a 419), pericial (arts. 420 a 439), inspeção judicial (arts. 440 a 443). A Lei 5.869 (CPC) prescreve, em seu artigo 333, o dever do autor de provar os fatos “constitutivos do seu direito” e do réu demonstrar a “existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito nos autos”. O aspecto da culpa vem como elemento essencial para a configuração da responsabilidade civil do médico, devendo ser observada a espécie de obrigação assumida conforme exposto acima. Se a obrigação for de meio, como é em regra, cabe à vítima ou aos seus herdeiros provar que a conduta voluntária médica ilícita causou o dano, respondendo o profissional pela forma subjetiva. No caso da obrigação de resultado compete ao paciente evidenciar o não cumprimento da obrigação do médico; ao profissional, incumbirá provar que não teve culpa do evento danoso, ou então que o fato aconteceu em razão de alguma excludente da responsabilidade civil, responde o médico subjetivamente, porém sua culpa será presumida (STOCO, 2007, p. 557). Ressalte-se que quando o juiz verificar que, as alegações da vítima são verossímeis ou sua hipossuficiência, lhe será facultado determinar a inversão do ônus da prova, como estabelece o Código de Proteção ao Consumidor, independentemente de pedido. Tal determinação deve ocorrer antes do começo da instrução para que a outra parte possa se adequar ao fato (VENOSA, 2008, p. 149/150). 6 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content& view=article&id=209&Itemid=102. Acesso em: 25/11/2010, às 12:45 horas. 38 Deste modo, discutir-se-á a culpa do agente, decorrente da produção de um ato ilícito, como ventilado, a conduta dolosa ou culposa que lesa bens tutelados pelo ordenamento jurídico, no campo da culpa stricto sensu é exteriorizada pela negligência, imprudência e imperícia. 3.4.1 Prova Pericial A prova pericial consiste em prova técnica realizada por um profissional especialista em determinada área, no caso também médico, a qual o magistrado poderá se valer quando houver necessidade do conhecimento específico (art. 145 do CPC), no caso do erro médico ela será indispensável. Bastos Júnior (2007, p. 136), demonstrando a essencialidade da prova pericial, aponta: Para obter êxito na ação, o paciente tem a seu encargo três provas: do dano, do nexo de causalidade e da culpa. É basilar que o autor deve sempre provar seu prejuízo, mas quanto aos outros dois, problemas severos se apresentam. A prova testemunhal leiga não é de grande utilidade pela ignorância técnica e impressionabilidade da maior parte das pessoas, quanto aos temas médicos. Ademais, a maioria das faltas médicas, que causam dano culposo ao paciente reveste-se de grande tecnicidade, e o juiz não as sabe identificar e nem apreciá-las (2007, p. 136). Bem como o autor supracitado, Bastos Júnior (2007, p. 140), defende a vinculação fática da prova pericial ao resultado da demanda judicial. Lembra
Compartilhar