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TCC - RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE JI-PARANÁ – CEULJI 
 
 
MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ji-Paraná 
2010 
MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro 
Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI, para 
obtenção de grau acadêmico de Bacharel em Direito, sob 
orientação da Professora Especialista Rosicler Carminato 
Guedes de Paiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ji-Paraná 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CIP-Brasil. Catalogação na Fonte 
 Biblioteca Central CEULJI/ULBRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha Catalográfica: Ana Cláudia da Silva Rodrigues – CRB11/604 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A445r Almeida, Mirelly Vieira Macêdo de. 
 Responsabilidade Civil por erro médico./Mirelly Vieira Ma- 
 cêdo de Almeida.Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná, 
 2010. 
 58 f.:il. 
 
 
 Orientadora: Profª.Rosicler Carminato Guedes Paiva. 
 Monografia(Graduação) Centro Universitário Luterano 
 de Ji-Paraná. Curso de Bacharelado em Direito. 
 
 
 1.Erro Médico. 2.Idenização. 3.Responsabilidade Civil. 
 I.Paiva, Rosicler Carminato Guedes. II.Título. 
 
 
 CDU 347.51:616-051 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1.Estabilidade provisória. 2.Mulher. 3.Proteção à 
materni- 
 dade. I.Silva, Marlete Maria da Cruz Corrêa da. II. 
Título. 
 
 
 
 
MIRELLY VIEIRA MACÊDO DE ALMEIDA 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Luterano de Ji -Paraná–
CEULJI, em 08/12/2010, para obtenção de grau acadêmico de Bacharel em Direito, sob 
orientação da Professora Rosicler Carminato Guedes de Paiva. 
 
AVALIADORES 
 
_______________________________________________________ - __________________ 
 Professora Especialista Rosicler Carminato Guedes de Paiva Nota 
 
_______________________________________________________ - __________________ 
 Professora Mestra Débora Maciel Alevato Nota 
 
_______________________________________________________ - __________________ 
 Professor Mestre Elpidio Santos Magalhães Nota 
 
 
 
 
__________________________ 
Média 
 
 
 
 
 
 
Ji-Paraná 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais pela paciência e por estarem sempre presentes. 
As minhas colegas, em especial a Naira e Sirlene por estarem 
comigo desde o começo dessa jornada 
A minha orientadora pela atenção 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A Responsabilidade Civil vem como um equilíbrio social, minimizar as causas dos 
danos sofridos. Nos casos de Erro Médico os prejuízos podem ser irreparáveis. O presente 
trabalho objetiva o estudo das características que ocasionam no dever de indenizar para o 
médico em caso de erro, bem como a influência de sua atividade na sua responsabilização à 
luz da jurisprudência e doutrina. 
Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Erro Médico. Indenizar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The Liability comes as a social balance, minimize the causes of the damage. In 
medical malpractice cases the damage may be irreparable. This paper aims to study the 
characteristics that cause the duty to indemnify to the doctor in case of error, and the influence 
of their activity in their accountability under the case law and doctrine. 
Keywords: Liability. Medical Error. Indemnify. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9 
 
1. A RELAÇÃO ENTRE DIREITO E MEDICINA................................................................10 
1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana........................................................................12 
1.2 Código de Ética Médica......................................................................................................13 
1.3 Evolução Histórica..............................................................................................................14 
1.3.1 Primórdios........................................................................................................................14 
1.3.2 Roma ...............................................................................................................................15 
1.3.3 Egito.................................................................................................................................15 
1.3.4 Grécia...............................................................................................................................16 
1.3.5 França...............................................................................................................................16 
 
2. RESPONSABILIDADE CIVIL............................................................................................18 
2.1 Funções da Responsabilidade Civil....................................................................................20 
2.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil.............................................................................20 
2.2.1 Ação e Omissão...............................................................................................................20 
2.2.2 Dano.................................................................................................................................21 
2.2.3 Nexo de Causalidade........................................................................................................22 
2.2.4 Culpa................................................................................................................................23 
2.2.4.1 Ato Ilícito......................................................................................................................23 
2.3 Espécies de Responsabilidade.............................................................................................25 
2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual...............................................................25 
2.3.2 Responsabilidade Subjetiva e Objetiva............................................................................26 
2.3.3 Responsabilidade Direta e Indireta Complexa.................................................................26 
 
3. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO......................................................27 
3.1 Natureza da Responsabilidade Médica...............................................................................27 
3.2 Obrigação de Meio e de Resultado.....................................................................................29 
3.2.3 Cirurgia Plástica...............................................................................................................32 
3.2.4 Anestesia..........................................................................................................................33 
3.3 Código deDefesa do Consumidor......................................................................................35 
3.4 Culpa Médica......................................................................................................................36 
3.4.1 Prova Pericial...................................................................................................................38 
3.4.2 Negligência......................................................................................................................39 
3.4.3 Imprudência ....................................................................................................................40 
3.4.4 Imperícia..........................................................................................................................40 
3.5 Dano Médico.......................................................................................................................41 
3.6 Nexo de Causalidade...........................................................................................................43 
3.7 Erro Médico........................................................................................................................45 
3.7.1 Erro de Diagnóstico.........................................................................................................49 
3.7.2 Erro de Tratamento..........................................................................................................51 
3.8 Indenização por Erro Médico..............................................................................................52 
 
CONCLUSÃO..........................................................................................................................57 
 
REFERÊNCIAS........................................................................................................................58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O instituto da Responsabilidade Civil se apresenta como mais do que um dever de 
indenizar, um equilíbrio social, procurando minimizar os males causados pelo agente. A 
presente monografia objetiva o estudo das características que acarretam a Responsabilidade 
Civil do médico em caso de erro, verificando a tendência dos Tribunais quanto a reconhecê-
lo; bem como, analisar a influência de sua atividade, sendo que pode incidir em obrigação de 
meio ou de fim, na sua responsabilização. 
O médico, por essência de sua profissão lida com bens supremos do ser humano. Um 
erro pode causar danos irreparáveis, nascendo a partir daí uma relação entre a arte de curar e a 
ciência do Direito, hoje estudada por disciplina de nome próprio, Direito Médico. 
A atividade médica, antes vista como algo sagrado, passa a ser contestada pela 
evolução da sociedade seja pelas mudanças no aspecto da relação médico-paciente, antes 
confidente, hoje mal sabe o nome de seus pacientes, possuindo um ritmo voltado para sua 
economia; ou pela maior informação da população acerca de seus direitos. O fato é que os 
médicos têm sido levados aos Tribunais com mais frequência, principalmente no que diz 
respeito a sua Responsabilidade Civil. 
No primeiro capítulo trataremos da relação Medicina e Direito, abordando o Princípio 
da Dignidade da Pessoa Humana, o novo Código de Ética Médica, e fazendo uma evolução 
histórica sobre a Responsabilidade Civil Médica. 
Destarte, para analisar essa responsabilidade é preciso passar pelos conceitos basilares 
do dever de indenizar, discutindo-se o que é necessário para sua caracterização, o que será 
feito no segundo capitulo deste trabalho. 
A Medicina é uma ciência que não é objetiva, tanto que é entendida como arte. 
Devendo as suas características naturais serem consideradas na apreciação do caso concreto. 
Ponderações a respeito da natureza da responsabilidade médica, as diferenças de suas 
obrigações de acordo com sua atividade, bem como opiniões jurisprudenciais serão realizadas 
no último capítulo que tratará da Responsabilidade Civil por Erro Médico. 
 
10 
 
1 A RELAÇÃO ENTRE MEDICINA E DIREITO 
 
 
Por muito tempo a atividade médica foi vista como algo sagrado, sendo o mau 
resultado culpa do destino. Com a evolução dos tempos, a consciência das pessoas sobre seus 
direitos tornou-se mais latente, transformando o mundo médico e paciente, não só em uma 
relação envolvendo saúde, mas também o direito. 
A Medicina trabalha em prol da saúde, devendo o profissional despender de todo seu 
conhecimento e cuidado em busca do melhor para o ser humano. Nesse sentido, Barros Júnior 
(2007, p. 3): 
A vida e a saúde são os bens maiores do homem, e para que a pessoa humana as 
tenha em plenitude é que se desdobra o profissional da Medicina. A Ciência Médica 
ganha relevância porque a vida com saúde é seu objetivo, ponto essencial 
permissivo do usufruto equilibrado de todos os sentidos biológicos da vida 
física/psíquica/social do ser humano. Por este motivo a saúde é interesse de todos, 
porque cada pessoa humana é integrante indispensável da humanidade. 
Tanto a saúde quanto a vida são garantias constitucionais e bens indispensáveis ao ser 
humano, por isso o médico tem grande responsabilidade na sociedade, posto que um erro 
pode acarretar danos irreversíveis. 
Pode-se, então, visualizar a correlação entre a Ciência Médica e a do Direito. O 
Direito regula as normas que regem a relação dos homens em sociedade. A Medicina, por sua 
vez, uma arte em função da cura. 
Dessa forma, surge um novo Direito, o Direito Médico. Trata-se de uma das vertentes 
do Biodireito, ramo autônomo, possuindo um conjunto de normas esparsas, que tem como 
foco a análise da atuação do médico, bem como suas consequências (BARROS JÚNIOR, 
2007, p.2). 
Nos dias 2 e 3 de dezembro de 2010, acontecerá o 1º Congresso de Direito Médico do 
Conselho Federal de Medicina, em entrevista ao site do mesmo, Márcia Santana Fernandes, 
professora de Direito da Uniritter de Porto Alegre/RS, que estará presente no Congresso, fala 
sobre a relação Direito e Medicina: 
[...] O Direito e a Medicina se aproximam do ser humano em seus momentos de 
maior vulnerabilidade. O primeiro, porque existe para mediar conflitos. A segunda, 
porque a ela se recorre para que se lute contra alguma doença. A Bioética é o ponto 
11 
 
de conexão entre as duas áreas. A relação do paciente com o médico é multifatorial, 
e o juiz precisa saber disso tanto quanto o médico
1
. 
É crescente o número de casos levados à apreciação do Judiciário tratando sobre a 
atitude profissional do médico para com seu paciente. A conduta médica danosa pode gerar a 
responsabilidade civil, penal, administrativa e ética. 
Aponta-se como algumas situações que motivam o erro, no dizer de Luiz Augusto 
Coutinho (2006: p. 36): 
1. Condições adversas para o pleno e bom exercício da Medicina variando desde a 
falta de recursos materiais até o excesso de pacientes diante de um número pequeno 
de profissionais disponíveis para o atendimento de toda a massa que busca 
orientações e aconselhamento. 2. Deficiência na formação médico-universitária, 
agravada diante da crise enfrentada pelo sistema de ensino vigente, mormente nas 
universidades públicas pelo descaso das políticas voltadas para a valorização da 
educação. 3. Acomodação do profissional que não procura especializar-se e 
atualizar-se em sua área de atuação profissional. 4. Interesses meramente comerciais, 
onde o paciente é visto exclusivamente como o resultado pecuniário advindo do 
exercício da profissão, seja por iniciativa isolada do médico em especialidades 
rentosas ou em conjunto por meio de cooperativas ou empresas médicas 
comprometidas com o lucro. 5. A baixa remuneração dos profissionais do setor 
público. 6. As péssimas condições de trabalho e emprego, fazendo que os médicos 
assumam jornadas de emprego sobre-humanas, elevando o nível de estresse. 7. 
Distorçõese desorganização do sistema de saúde pública, que acarretam complexas 
implicações de ordem ética e legal. 8. A falta de compromisso por parte de alguns 
médicos. 9. Precária fiscalização do exercício profissional por parte das entidades de 
classe, que nem sempre procuram ajustar o profissional às normas éticas que regem 
seu ofício. 
O Conselho Federal de Medicina definiu “ato profissional do médico” através da 
Resolução número 1.627 de 23 de outubro de 2001: 
Artigo 1º - Definir o ato profissional de médico como todo procedimento técnico-
profissional praticado por médico legalmente habilitado e dirigido para: I. a 
promoção da saúde e prevenção da ocorrência de enfermidades ou profilaxia 
(prevenção primária); II. a prevenção da evolução das enfermidades ou execução de 
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos (prevenção secundária); III. a prevenção 
da invalidez ou reabilitação dos enfermos (prevenção terciária). 
Atualmente, corre um projeto de lei sob o número 7703/2006, dispondo sobre o 
exercício da Medicina, cuja explicação da ementa é a seguinte: 
Define a área de atuação, as atividades privativas e os cargos privativos de Médico 
resguardadas as competências próprias das diversas profissões ligadas à área de 
saúde. Projeto chamado de „Ato Médico‟
2
. 
 
1
 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content&view 
=article&id=211&Itemid=103. Acesso em: 25/11/2010, às 12:45 horas. 
2
 Disponível em: http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=339409. Acesso em: 
25/11/2010, às 18:32 horas. 
12 
 
A falha médica é uma grande preocupação, tendo em vista a proporção que pode 
causar. É claro que não se espera que o profissional, como um ser humano, não erre, mas este 
somente será justificável quando ultrapassar o alcance da medicina. Sobre isso Sérgio 
Cavalieri Filho (2000, p. 275): 
[...] o erro é a falha do homem normal, consequência inelutável da falibilidade 
humana. E, embora não se possa falar em um direito ao erro, será escusável quando 
invencível à mediana cultura médica, tendo em vista circunstâncias do caso 
concreto. 
A medicina não é objetiva como a matemática, cada corpo tem suas peculiaridades e 
algo inesperado é sempre capaz de acontecer, tanto é que a palavra arte é muito usada para 
referir-se a ela. Nem todo mau resultado é considerado erro e consequentemente passível de 
responsabilização. 
Segundo o princípio do neminem laedere, a ninguém é dado o direito de prejudicar a 
outrem, exigindo-se um dever de cuidado, sem o qual no âmbito civil aquele que causar dano 
é obrigado a repará-lo. 
O profissional deve ser diligente, se cercar de cuidados e ser estudioso. A medicina 
desenvolve-se trazendo um leque de possibilidades para a realização de diagnósticos e 
inúmeros tratamentos para que se consiga a cura. 
No tocante a obrigação de indenizar, além do erro médico Rui Stoco (2007: p. 554) 
aponta outras causas pelas quais o médico pode ser levado aos Tribunais: 
I – a violação da lei ou do regulamento e o abuso de poder; II – a prática de 
experiências médicas com técnicas não aceitas; III – deixar de informar e aconselhar 
adequadamente o paciente; IV – o erro grosseiro no diagnóstico, como causa do 
insucesso no procedimento médico; V – a quebra do sigilo médico; VI – exorbitar os 
limites estabelecidos no contrato; VII – a violação do consentimento do paciente; 
VIII – omitir ou negar socorro em caso de eminente perigo de vida ou de urgência. 
 
1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
 
A dignidade da pessoa humana está expressa no artigo 1º, III da Constituição Federal, 
como fundamento da República Federativa do Brasil. Trata-se de um valor supremo que 
abriga os direitos fundamentais e inspira todo o ordenamento jurídico. 
13 
 
O termo dignidade é derivado do latim dignitas, este apresenta-se como qualidade de 
digno, também pode significar honestidade, brio ou designar função, título, que confere 
posição graduada (FERREIRA, 2000, p. 236). 
Na doutrina Kantiana, entende-se como as duas modalidades de valores no meio 
social, o preço e a dignidade. O preço se refere a um valor de mercado constituindo interesses 
particulares. A dignidade importa num valor particular prescindindo um interesse geral. 
Assim, nenhum ser humano deve ser usado ou visto como um meio de alcançar algo, por ser 
um fim em si mesmo (BARROS, 2007, p. 25). 
Sobre a dignidade humana Alexandre de Morais (2007, p. 16), leciona: 
A dignidade é valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta 
singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que 
traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se 
um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, 
somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos 
fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem 
todas as pessoas enquanto seres humanos. 
Ela é inerente à essência do ser humano, é um valor interior, revelado na capacidade 
da própria pessoa de decidir por si, acompanhada com a intenção de ser respeitada pelos 
outros (MORAIS, 2007: p. 16). O Princípio da dignidade da pessoa humana compreende o 
direito às condições mínimas necessárias para uma vida íntegra, como a uma moradia, 
alimentação, lazer, vestuário, higiene, saúde, etc., devendo o Estado garantir esse mínimo 
necessário para todos. 
 
1.2 Código de Ética Médica 
 
 
Compreende um conjunto de normas e princípios que os profissionais da Medicina 
devem seguir no exercício de qualquer atividade que exija conhecimento médico. Após 20 
anos, entrou em vigor no dia 13 de abril de 2010 o sexto código de ética médica, trazendo 
atualizações de normas e novidades para o exercício da profissão. 
Prescreve o Código de Ética Médica, em seu capítulo I, quando trata sobre Princípios 
Fundamentais, que a “Medicina é uma profissão a serviço da saúde [...]” (I). Em prol dela, o 
profissional, deve ter o máximo de zelo e aplicar o melhor de sua capacidade profissional (II), 
competindo a ele se aprimorar cada vez mais, utilizando o melhor do progresso científico, 
14 
 
sempre em benefício do paciente (V), nunca usando seu conhecimento para causar ou permitir 
malefícios ao ser humano (VI). 
A respeito da responsabilidade profissional, o Código indica que ela será subjetiva; em 
seu capítulo III, dispõe sobre a proibição de dano por imprudência, imperícia ou negligência, 
e ressalta no parágrafo único do mesmo art. 1º, que a “responsabilidade do médico é sempre 
pessoal e não pode ser presumida”, ou seja, é necessário que se comprove a culpa do agente. 
 
1.3 Evolução Histórica 
 
 
1.3.1 Primórdios 
 
Nos primórdios a atividade médica era exercida por curiosos e observadores, não 
havia um estudo propriamente dito sobre as doenças, se buscava diretamente a cura baseando-
se em erros e acertos. A prática médica era experimental e o conhecimento era empírico. 
A Medicina era confundida com magia ou divindade, seus praticantes possuíam dons 
sobrenaturais. Ela só veio a ser entendida como ciência tempos depois. No entanto, ainda 
assim, não havendo a cura, o curandeiro ou feiticeiro seria culpado, sendo responsabilizado 
pelo mau êxito, acusado de imperícia ou incapacidade (KFOURI NETO, 1998, p.32). 
O primeiro registro a regulamentar o erro médico é o Código de Hamurabi, criado na 
criado na Babilônia nos séculos XVIII e XVII a. C., através do Rei Khamu-Rabi (Hamurabi), 
sexto rei da Primeira Dinastia da Babilônia (STOCO, 2007, p. 550). Tratava, em seus artigos. 
215 a 223, tanto a respeito do pagamento que seria devido ao médico, quanto das penas 
prevista em caso de erro, estas podiam chegar a amputação das mãos, já que esse seria o órgão 
causador do dano. 
Miguel Kfouri Neto (1998, p. 33) prescreve sobrea existência da responsabilidade 
objetiva, no conceito utilizado atualmente: 
Evidencia-se, assim, que inexistia o conceito de culpa, num sentido jurídico 
moderno, enquanto vigorava responsabilidade objetiva coincidente com a noção 
atual: se o paciente morreu em seguida à intervenção cirúrgica, o médico o matou – 
e deve ser punido. Em suma, naquela época, o cirurgião não podia dizer, com uma 
15 
 
certa satisfação profissional, como faz hoje: a operação foi muito bem-sucedida, mas 
o paciente está morto. 
 
1.3.2 Roma 
 
A Lei de Talião está presente no Direito Romano primitivo, prevalecia-se a vingança 
privada. Após, passou a ser prerrogativa do Poder Público, onde ele decidia se ela poderia 
acontecer ou não. 
Passa-se à fase da composição voluntária, onde a vítima fazia a escolha, se receberia 
em dinheiro (poena) ou através da entrega de um item. Chegou-se, então, à composição 
tarifada, prescrita na Lei das XII Tábuas, que estabelecia o valor da pena para cada caso 
(KFOURI NETO, 1998, p. 34). 
A Lei Aquília, considerada a base da responsabilidade extracontratual, instituiu a ideia 
de reparação pecuniária, considerando-se a conduta culposa do agente para a 
responsabilização (DINIZ, 2009: p. 11), também, vê-se referencia a responsabilidade médica, 
como por exemplo, previa a pena de morte ou deportação do médico que fosse culpado pela 
falta profissional (KFOURI NETO, 1998, p. 35). 
 
1.3.3 Egito 
 
 
No Egito a posição do médico era elevada perante a sociedade, suas funções se 
confundiam com as de sacerdote. 
Os médicos deviam seguir as regras de um Livro Sagrado, de obediência obrigatória, 
por exemplo, o médico não poderia atender o paciente antes de três dias que a doença tivesse 
aparecido. Respeitando as regras ele estaria livre de qualquer responsabilidade, 
desobedecendo-as seria punido com a morte, independente do desfecho da doença (KFOURI 
NETO, 1998, p. 37). 
 
 
 
 
16 
 
1.3.4 Grécia 
 
 
O Corpus Hippocraticum, foi o primeiro estudo na esfera da Medicina, baseado na 
filosofia aristotélica e transformado em um juramento lembrado até hoje, este aborda “a 
dedicação ao doente, a boa prática da arte médica e a busca incessante do conhecimento” 
(STOCO, 2007, p. 550). 
Começava-se a entender que a culpa do médico deve ser analisada através da conduta 
do profissional aplicada em cada caso e não apenas subentendido por ter sido, o tratamento, 
mal sucedido. 
Porém, a Medicina não era vista com uma atividade de grande importância, bem como 
os profissionais não entendiam muito da arte acabando por serem malsucedidos. Em razão 
disto adotou-se duras penas a eles, como, trabalhos forçados em minas, chibatadas, fratura das 
pernas e até a crucificação (KFORI NETO, 1998, p. 38). 
Aos poucos o conhecimento empírico foi sendo transformado em ciência, surgiram 
universidades e corporações de médicos. Os profissionais procuravam ampliar seus 
conhecimentos, tanto na área médica quanto em outras como letras e filosofia. Gradualmente, 
inclusive, o Estado passou a regulamentar a área da saúde, atribuindo-lhe um caráter público e 
não só privado. 
 
1.3.5 França 
 
 
A Academia de Medicina de Paris declarou que a responsabilidade do médico seria 
exclusivamente moral, no início do século XIX. Para que houvesse a responsabilização era 
necessário demonstrar a falta grave, imprudência e imperícia visível (KFOURI NETO, 1998: 
p. 39). 
Seus defensores diziam que como na Medicina havia diversos caminhos, só podia o 
médico ser punido caso o paciente comprovasse o erro grosseiro. 
17 
 
Posteriormente começou a discussão sobre a possibilidade do ressarcimento material 
do dano. A responsabilidade penal e civil não se separavam, a pena para o ato danoso era a 
privada, logo substituída pela indenização. 
Em 1832 houve uma revolução na jurisprudência francesa, a partir de um processo 
doutrinou o Procurador Dupin (KFORI NETO, 1998, p. 40): 
[...] „do momento em que houve negligência, leviandade, engano grosseiro e, por 
isso mesmo, inescusável da parte do médico ou cirurgião, toda a responsabilidade do 
fato recai sobre ele, sem que seja necessário, em relação à responsabilidade 
puramente civil procurar se houve de sua parte intenção culposa‟. 
No ano de 1964 a 1ª Câmara Cível da Corte de Cassação, reapreciando julgado da 
Corte de Apelação de Paris, introduziu a jurisprudência La perte d’une chance (perda da 
chance), segundo a qual, na teoria francesa, o erro era sinônimo de não dar todas as 
oportunidades de cura ou sobrevivência ao paciente, perder a chance de alterar o que gerou o 
dano, devendo o médico responder de forma mais serena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2. RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
O vocábulo responsabilidade é originário do latim respondere (responder). Há também 
nessa palavra a presença do termo spondeo, utilizado no Direito Romano para ratificar a 
obrigação do devedor. Pronunciavam-se as palavras “dare mihi spondes?” e se respondia 
Spondeo (DINIZ, 2009: p. 33), partindo dessa forma de contratar, chamada stipulatio, a 
palavra responsabilidade, de acordo com Rui Stoco (2007: p.112), passa a ideia de “garantia 
de pagamento de dívida, descartando qualquer ideia de culpa”, aproximando-se do significado 
empregado juridicamente. 
Rui Stoco (2007: p. 115) diferencia “responsabilidade” da palavra obrigação: “Esta 
significa um dever jurídico originário, enquanto aquela traduz um dever jurídico sucessivo, 
decorrente da violação da obrigação”. 
Conforme significado encontrado na obra de De Plácido e Silva (1995, p. 124/125), no 
geral, traduz-se na obrigação de responder por algo, convencionado ou determinado por lei, e 
em virtude desta obrigação (seja ela de dar, fazer, ou não fazer alguma coisa), a pessoa a qual 
se atribui o fato deve arcar com os resultados, exigindo-se a “obrigação ou a imposição do 
dever”. Dependendo do ato danoso cometido poderá ensejar a responsabilidade civil, moral, 
penal, administrativa, etc., sendo que se manterá o sentido geral. 
Sobre o termo responsabilidade o doutrinador Venosa (2008, p.1) assevera: 
[...] é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, 
deva arcar com as consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa 
noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse 
modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e 
normas que regem a obrigação de indenizar. 
O ser humano pode agir de acordo com seu entendimento, porém o convívio em 
sociedade pressupõe o respeito a certas regras a fim de haver uma ordem e justiça entre os 
seres que nela vivem. A opção pela violação de tais regras implica em arcar com 
consequências advindas do ato realizado. O direito de um termina quando começa o do outro. 
O instituto da responsabilidade civil tem início no Livro I, Do Direito Das Obrigações, 
Título IX do atual Código Civil, o primeiro artigo do título prescreve, sobre a obrigação de 
indenizar: 
19 
 
Art. 927 - Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para 
os direitos de outrem. 
Maria Helena Diniz (2009, p.34) conceitua responsabilidade civil como sendo: 
 a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial 
causado a terceiros, em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele 
responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples 
imposição legal. Definição esta que guarda, em sua estrutura, a ideia de culpa 
quando se cogita da existência de ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco, 
ou seja, da responsabilidade sem culpa (responsabilidadeobjetiva). 
Luiz Guilherme Loureiro (2009, p. 621), por sua vez, afirma objetivamente: 
Responsabilidade civil é a obrigação que pode recair sobre uma pessoa de reparar o 
prejuízo causado a outrem por conduta própria ou de pessoas, animais, ou coisas que 
dele dependam. 
A responsabilidade civil, portanto, é parte do direito das obrigações e busca reparar 
um dano causado através de um ato ilícito, com a finalidade de obter um equilíbrio social. No 
caso de não haver a possibilidade da restituição e o retorno ao status quo ante, visa-se uma 
compensação pelo dano causado ao patrimônio, a moral, a saúde, etc., quase sempre de 
natureza pecuniária, respondendo o devedor com seus bens, podendo chegar à penhora destes, 
conforme dispõe Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007, p. 707), os quais 
apresentam a natureza da responsabilidade civil: 
[...] Natureza da responsabilidade civil. A responsabilidade civil é a consequência da 
imputação civil do dano a pessoa que lhe deu causa ou que responda pela 
indenização correspondente, nos termos da lei ou do contrato. A indenização devida 
pelo responsável pode ser de natureza compensatória e/ou reparatória do dano 
causado (JUNIOR NERY e NERY, 2007, p. 705). 
Observa Rui Stoco (2007, p. 112) que, trata-se de uma consequência e não uma 
obrigação original, de algo que se fez ou deixou de fazer, bem como, é meio pelo qual todos 
que estejam em prejuízo recorrem, através do judiciário, a fim de obter uma satisfação do seu 
direito, “[...] A responsabilidade civil é, portanto, a retratação de um conflito”. 
 
 
 
 
 
20 
 
2.1 Funções da Responsabilidade Civil 
 
 
 A Responsabilidade Civil busca a restauração de um equilíbrio patrimonial e moral 
corrompido por meio de um ato ilícito. Segue com esse instituto um sentimento de Justiça ao 
trazer a obrigação de reparação para quem causar dano, procurando fazer a vítima retornar ao 
seu status quo ante através de uma indenização compensatória, que represente do melhor jeito 
o valor, e/ou reparatória, que seja equivalente a avaria, tentando ao máximo trazer a 
restituição integral (restitutio in integrum) ao prejudicado. 
Apresenta-se, portanto, como uma sanção civil, impondo ao agente gerador da lesão os 
encargos da indenização, garantindo a segurança da vítima, bem como, aplicando-se uma 
punição ao agente e servindo de desestímulo para que novos fatos aconteçam, obtendo ainda 
um caráter pedagógico inserido (DINIZ, 2009, p. 9). 
 
2.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil 
 
 
É de uma conduta que infringe uma obrigação, dever jurídico ou direito, que decorre a 
necessidade da reparação do dano (VENOSA, 2008, p. 2). Os pressupostos para a 
responsabilização civil são: uma ação ou omissão voluntária, a existência de dano, o nexo de 
causalidade entre os dois e a culpa (VENOSA, 2008, p.6). Passemos a analisá-los. 
 
2.2.1 Ação e Omissão 
 
 
Ação seria o fazer um comportamento que não deveria ser realizado, enquanto a 
omissão seria o deixar de praticar algo quando deveria ter sido feito. É o primeiro elemento 
gerador da responsabilidade civil e, este deve estar envolto de ilicitude (art. 186 e 187 do 
Código Civil), ou seja, precisa ser contrário a uma norma jurídica, a uma obrigação jurídica 
ou ser abusiva ao direito (MELLO, 2009, p. 240), sendo que a conduta deve ser capaz de 
gerar dano. 
21 
 
Maria Helena Diniz englobando na palavra ação o ato comissivo ou omissivo e o 
elemento da culpa declara: 
[...] A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, 
comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do 
próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause 
dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. (DINIZ,2009, p. 
40). 
Estas condutas devem ser voluntárias, não que deva haver a intenção do resultado, a 
voluntariedade refere-se somente à conduta. Sobre isso afirma Rui Stoco (2007: p. 129): 
[...] A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade sobre 
o resultado, isto é, o querer intencional de produzir o resultado, de assumir o risco de 
produzi-lo, de não querê-lo mas, ainda assim, atuar com afoiteza, com indolência ou 
com incapacidade manifesta. O querer intencional é matéria atinente à culpabilidade 
lato sensu. 
Observe-se que a voluntariedade desaparecerá se o agente for incapaz (VENOSA, 
2008: p. 23), ficando excluída a responsabilidade quando os atos forem praticados por caso 
fortuito ou força maior. 
 
2.2.2 Dano 
 
 
Não há a obrigação de indenizar se não houver um prejuízo a ser reparado, devendo 
este ser comprovado com base na lesão que causou ao seu patrimônio ou a sua moral e não 
nos direitos que foram violados (DINIZ, 2009, p. 61). 
Em relação a indenização prescreve o Código Civil no artigo 944: “A indenização 
mede-se pela extensão do dano”. Ela vem como uma compensação cuidando-se para que a 
vítima não se beneficie demais com a situação, ou seja, não se enriqueça, não receba mais do 
que conseguiria juntar com seu trabalho, deve ser observado um equilíbrio, pois não pode ser 
tão pequena a ponto de nem ser punição e nem uma satisfação para a vítima. 
Enneceus, citado por Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 594), define o dano como 
sendo “toda desvantagem que experimentamos em nossos bens jurídicos (patrimônio, corpo, 
vida, saúde, honra, crédito, bem-estar, capacidade de aquisição etc.)”. 
22 
 
O dano pode ser material ou patrimonial consistente em uma lesão a alguém de forma 
econômica, gera uma diminuição de seu patrimônio, sendo redutível ao seu equivalente em 
dinheiro, facilmente calculável (DINIZ, 2009, p. 67). Nessa matemática, pode-se discutir os 
danos emergentes e lucros cessantes, aquilo que efetivamente se perdeu e o que 
razoavelmente se deixou de ganhar (art. 402 do CC). 
No campo dos danos morais tem-se que os mesmos são de ordem subjetiva, pois os 
bens atingidos são de caráter interno, no âmbito dos direitos da personalidade (imagem, 
privacidade, a honra, etc.). Venosa (2008, p. 42) destaca a importância do critério objetivo do 
homem médio, para gerar a indenização, pois não pode qualquer aborrecimento ser 
qualificado como dano moral, este deve causar um distúrbio atípico na vida da pessoa a ser 
avaliado de acordo com o caso concreto. 
 
2.2.3 Nexo de Causalidade 
 
 
Do mesmo modo, não se configura a responsabilização sem o nexo de causalidade, ou 
seja, a ligação entre a conduta e dano causado. Para defini-lo a doutrina aponta duas teorias 
predominantes: a Teoria da Equivalência e a da Causalidade Adequada. 
A Teoria da Equivalência, ou conditio sine qua non, é proposta pelo Código Penal em 
seu art. 13. Segundo a qual subtraindo-se a conduta analisa-se se o resultado teria ocorrido da 
mesma maneira. A crítica que se faz a essa teoria é a abertura regressiva por ela aceita. Nelson 
Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007: p. 343) exemplificam a possibilidade de se 
“atribuir responsabilidade a um industrial que, anos antes, fabricou uma telha que caiu de uma 
construção e atingiu uma pessoa”. 
Na Teoria da Causalidade Adequada discute-se se o fato seria capaz de gerar o 
resultado, examina-se a probabilidade. Porém, Rui Stoco (2007, p.152), conclui que: 
[...] independentemente da teoria que se adote como a questão só se apresenta ao 
juiz, caberá a este, analisar o caso concreto, sopesar as provas, interpretá-las em 
conjunto e estabelecer se houve violação do direito alheio, cujo resultado seja 
danoso, e se existe um nexo causal entre o comportamento do agente e o dano 
verificado. 
23 
 
Afasta-se o nexo de causalidade quando houver culpa exclusiva da vítima, caso 
fortuito e força maior, fato de terceiro, e, na área contratual especificamente, a cláusula de não 
indenizar, desde que haja consenso entre as partes (VENOSA 2008, p 49). 
 
2.2.4 CulpaEm sentido amplo, a Culpa, compreende atribuir ao agente a transgressão de um dever 
jurídico, por ocasião de uma ação propositada ou de uma omissão de diligência ou cuidado; 
incluindo-se nesse contexto o dolo, que se trata da vontade de produzir um ilícito; e a culpa 
em sentido estrito, onde não há intenção de originar um resultado antijurídico, mas entende-se 
que poderia ter agido com conduta diversa, ela vem marcada pela imperícia, imprudência e 
negligência (DINIZ, 2009, p. 42). 
 
2.2.4.1 Ato Ilícito 
 
 
O aspecto da culpa decorre da produção de um ato ilícito indicado nos arts. 186 e 187 
e ainda vale mencionar os art. 951 e 617, que apresentam a imperícia, igualmente, como 
modalidade de culpa, todos do Código Civil. 
Art. 186 do CC – Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito. Art. 187 do CC – Também comete ato ilícito o 
titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites 
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons 
costumes. Art. 617 do CC – O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais 
que recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar. Art. 951 do CC – 
O disposto nos arts. 948, 949 e 950, aplica-se ainda no caso de indenização 
devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por 
negligência, imprudência e imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe 
o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. 
Compreende ato ilícito a conduta dolosa ou culposa que lesa bens tutelados pelo 
ordenamento jurídico. Inclui-se nesse campo não só o patrimônio, mas também a moral, bem 
imaterial e de cunho subjetivo. 
Quando doloso, o ato voluntário já nasce ilícito, o autor já pretende o resultado por 
intermédio de sua ação ou omissão. Na culpa ele quer a ação, porém comete o ilícito pela 
24 
 
inobservância do dever de cuidado exigido (BARROS JÚNIOR, 2007: p. 45), discute-se aqui 
os institutos da imprudência, negligência e a imperícia. 
O dolo divide-se em direto e indireto, desdobrando-se o último em alternativo ou 
eventual, na concepção de Rui Stoco (2007, p. 149): 
Diz-se que o dolo é direto quando o resultado do mundo exterior corresponde 
perfeitamente à intenção e vontade do agente. O dolo indireto, por sua vez, 
desdobra-se em dois aspectos, alternativo e eventual; alternativo, quando o agente 
quer um ou outro dos resultados possíveis de sua ação; eventual, quando ele prevê o 
resultado como possível, e o admite como consequência de sua conduta, embora não 
queira propriamente atingi-lo. 
A prudência, segundo o dicionário Aurélio (2000, p. 565), é o cuidado, cautela, o agir 
evitando todos os perigos. A imprudência vem a ser o antônimo deste termo, é a ação sem a 
devida cautela, por impulso, afoita, por exemplo, quando alguém dirige em alta velocidade 
(STOCO, 2007, p. 134). 
A culpa pode, também, ser definida pela negligência que vem a ser a ausência de 
atenção ou cuidado, normalmente através de uma conduta omissiva, onde se exigia do agente 
um agir, um fazer. 
E por fim, a imperícia é a ausência de técnica ou de conhecimento para realizar 
determinado ato, caracterizada tanto por uma ação quanto por uma omissão, citando Luiz 
Augusto Coutinho (2006, p. 55), “fruto de ignorância, incompetência, desconhecimento, 
inexperiência ou até mesmo pela inabilidade da profissão”. 
A doutrina divide a culpa em três níveis, sendo a levíssima, leve e grave. Grave é 
aquela grosseira, que poderia ser prevista por uma pessoa comum, com conhecimento 
mínimo, por isso é próxima do dolo, bem como, cabe nesse campo a culpa consciente quando 
o agente prevê a possibilidade do dano ocorrer, porém acredita que pela sua perícia, não 
ocorrerá. Leve é o ato praticado sem consciência de estar realmente produzindo um dano, 
pressupõe um conhecimento mediano, de um pai de família. Na levíssima só haveria a 
previsão de uma pessoa fora do padrão comum, exige uma atenção formidável, perita. 
 Diferencia-se a culpa, em três espécies: culpa in eligendo, quando há má escolha 
daquele em que se deposita a prática de ato ou adimplemento de um compromisso, 
respondendo por seus atos ilícitos e danos causados pelo escolhido; in comittendo, advém da 
conduta positiva (imprudência), incidindo em uma abstenção (negligência) a culpa será in 
25 
 
omittendo; a in vigilando ocorre pelo descuido quanto ao método de outro, do qual deve pagar 
o responsável pelo ato ilícito; in custodiendo, consiste na falta de atenção com relação à coisa, 
animal ou objeto, que tenha sob sua responsabilidade (DINIZ, 2009, p. 46). 
 
2.3 Espécies de Responsabilidade 
 
 
A Responsabilidade civil pode ser classificada, segundo Maria Helena Diniz (2009, p. 
128), quanto ao seu fato gerador em Responsabilidade Contratual e Extracontratual ou 
Aquiliana; quanto ao seu fundamento em Responsabilidade Subjetiva e Objetiva; e quanto ao 
seu agente em Responsabilidade Direta e Indireta ou Complexa. 
 
2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual 
 
 
A responsabilidade contratual resulta do inadimplemento de um negócio jurídico 
bilateral ou unilateral celebrado; na extracontratual, não há uma conexão preestabelecida entre 
as partes, como num contrato, ela será oriunda da prática de um ato ilícito (DINIZ, 2009, p. 
130), A respeito do assunto Rui Stoco (2007, p. 140), conceitua: 
Em resumo, a responsabilidade extracontratual é o encargo imputado pelo 
ordenamento jurídico ao autor do fato, ou daquele eleito pela lei como responsável 
pelo fato de terceiro, de compor o dano originado do ato ilícito, ou seja, da 
obrigação daquele que por ação ou omissão voluntária, violar direito e causar dano a 
outrem. A responsabilidade contratual é a inexecução previsível e evitável, por uma 
parte ou seus sucessores, de obrigação nascida de contrato, prejudicial à outra parte 
ou seus sucessores [...] (STOCO, 2007, p. 140). 
Venosa (2008, p. 135) indica não existir grande diferença a respeito das duas 
modalidades, mas havendo o contrato é em cima do estabelecido que será aferida a 
responsabilidade, e observa que no campo profissional, mesmo havendo um contrato, 
independente dele, existe um procedimento específico a ser estudado consonante com a 
profissão. 
 
 
 
 
26 
 
2.3.2 – Responsabilidade Subjetiva e Objetiva 
 
 
O Código Civil adota duas espécies de responsabilidade, com relação ao fundamento 
(DINIZ, 2009, p. 130): a Subjetiva que é a regra geral, conhecida como Teoria da Culpa, onde 
se exige, além dos requisitos já citados (ação ou omissão, nexo de causalidade e dano), a 
culpa do agente como fato gerador do dano; e a Objetiva, Teoria do Risco, onde afasta-se a 
culpa em sentido estrito, como causa do encargo (art. 927, parágrafo único do CC), basta a 
existência do dano e o nexo de causalidade (NERY JÚNIOR e NERY, 2007, p. 705) para a 
satisfação dos critérios da condenação. 
Pela insuficiência da Teoria da Culpa, criou-se a culpa presumida e após surgiu a 
Responsabilidade Objetiva, essa trata a culpabilidade como irrelevante. Somente a prova do 
dano e da relação de causalidade gera a obrigação de indenizar. A Teoria funda-se em assumir 
o risco da atividade que só de ser realizada expõe a um perigo (VENOSA, 2008: p. 10), Maria 
Helena Diniz (2009: p. 61) acrescenta: 
[...] funda-se num princípio de equidade, existente desde o direito romano: 
aquele que lucra com uma situação deve responder pelos riscos ou pelas 
desvantagens dela resultantes. 
Difere a Responsabilidade Objetiva da Culpa Presumida, apesar de se aproximarem 
bastante. Enquanto na primeira não se discute a culpa, a segunda permanece no campo no 
campo da culpa, aplicando-se a teoria subjetiva, porém ocorrendo a inversão do ônus da 
prova, cabendo ao réu evidenciar que não agiu com culpa, ao invés do autor. 
 
2.2.3 ResponsabilidadeDireta e Indireta ou Complexa 
 
 
 No que diz respeito ao agente causador do dano Maria Helena Diniz (2009: p. 130) 
classifica a responsabilidade como sendo direta ou indireta. Direta quando o agente responde 
por ato próprio, a conduta originou-se da pessoa em si não envolvendo conduta de terceiro. 
Indireta ou complexa quando o encargo recai por ato de terceiro, com o qual possui 
responsabilidade, será também por fato de animal ou de coisas que tenha sob sua guarda. 
 
 
27 
 
3. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO 
 
 
A doutrina de Edmilson de Almeida Barros Júnior (2007, p.44) conceitua 
responsabilidade civil médica, como: “[...] a obrigação que tem o profissional da saúde de 
reparar um dano porventura causado a outrem no exercício de sua profissão”. 
Miguel Kfouri Neto, sobre os limites da responsabilidade do ato médico: 
Ainda se mantém o princípio hipocrático: o médico sempre deve atuar no sentido de 
fazer o bem ao doente, nunca com a intenção de lhe causar qualquer mal. Primar 
pela conduta eticamente correta - como preconiza o seu Código - é outra 
recomendação a ser observada.
3
. 
 
Como visto, o Código Civil estabelece que aquele que causar dano a outrem está 
obrigado a ressarci-lo em razão do prejuízo (art. 927). Na responsabilidade civil médica não é 
diferente, deve, portanto, ser indenizado aquele que obteve prejuízo de ordem material e/ou 
imaterial pelo ato do profissional médico. 
Neri Tadeu Camara Souza (2003, p. 45) manifesta: 
 
[...] Para se pensar em responsabilizar o médico por algo, em termos de Direito 
Civil, no terreno da responsabilidade civil é crucial que o paciente tenha sofrido um 
dano – um prejuízo decorrente da atuação do médico em determinado atendimento 
médico. [sic] 
 
Para que se caracterize a responsabilidade civil médica, são necessários os mesmos 
pressupostos da responsabilidade civil, ou seja, uma ação ou omissão voluntária, o dano, nexo 
de causalidade entre ambos e a culpa (VENOSA, 2008, p. 06). 
 
3.1 Natureza da Responsabilidade Médica 
 
 
A doutrina e a jurisprudência consolidaram o entendimento de que a Responsabilidade 
Civil do médico é subjetiva, ou seja, depende da comprovação da culpa. 
 
3
 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content&view= 
article&id=206&Itemid=100. Acesso em: em: 25/11/2010, às 12:40 horas. 
28 
 
O Código Civil de 2002 trouxe a responsabilidade dos profissionais no art. 951, 
manifestando a ideia de responsabilidade subjetiva ao mencionar “negligência, imprudência e 
imperícia” no texto: 
 Art. 951 do CC – O disposto nos arts. 948, 949 e 950, aplica-se ainda no caso de 
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por 
negligência, imprudência e imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, 
causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. 
No âmbito do Código de Defesa do Consumidor ocorre a mesma espécie de 
responsabilidade, tendo em vista o art. 14 §4º do diploma legal estabelecer a responsabilidade 
dos profissionais liberais mediante culpa. Referente ao abordado destaca-se recente julgado 
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. CULPABILIDADE 
DE NATUREZA SUBJETIVA. PRESSUPOSTOS. ÔNUS PROBATÓRIO. A 
responsabilização do profissional liberal por defeito na prestação do serviço implica 
comprovação de culpa. Art. 14, § 4º, do CDC. São pressupostos da responsabilidade 
subjetiva a comprovação da ocorrência do dano, a culpa ou dolo do agente e o nexo 
de causalidade entre o agir do réu e o prejuízo da parte autora. Caso em que a 
demandante não comprovou a existência do nexo de causalidade entre a deficiência 
desenvolvida e a terapêutica aplicada, tampouco falha ou falta no serviço prestado 
pelo clínico. Julgamento desfavorável àquele sobre quem recaía o ônus probatório. 
Sentença de improcedência confirmada. RECURSO IMPROVIDO. UNÂNIME. 
(Apelação Cível Nº 70028704575, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 30/09/2010). 
Discute-se, ainda, se a responsabilidade médica possui caráter contratual ou 
extracontratual. Na responsabilidade contratual o dano ocorre devido ao inadimplemento do 
negócio jurídico bilateral ou unilateral celebrado, mesmo que tácito. A respeito da natureza 
contratual da relação médico paciente, Sérgio Cavalieri Filho (2000, p: 272) explica: 
[...] Tratar-se-á de responsabilidade contratual se houver convenção, relação jurídica 
preexistente entre médico e paciente, mesmo que não escrita. Inexistindo contrato, a 
responsabilidade só poderá ser aquiliana ou delitual. A responsabilidade médica, é 
de regra, contratual, em razão da forma como se constitui a relação paciente-médico. 
Normalmente, o paciente procura o médico, escolhe o profissional de sua confiança, 
constituindo com ele vinculo contratual. 
Acontece a relação contratual entre médico e paciente, portanto, quando o segundo 
procura pelo primeiro e este aceita prestar o serviço requerido (MATIELO, 2001, p. 48). 
Assim, a responsabilidade aquiliana decorrerá não de uma conexão preestabelecida 
entre as partes, como num contrato, ela será oriunda da “prática de um ato ilícito”, da 
inobservância da lei (DINIZ, 2009, p. 130). Poderá a natureza jurídica da responsabilidade 
médica ser extracontratual quando, por exemplo, quando “o médico atende um paciente em 
29 
 
estado de impossibilidade de autodeterminação” (BARROS, 2007, p. 96). A respeito Souza 
(2003, p. 58): 
A responsabilidade contratual é aquela que se estabelece entre as partes, baseada na 
autonomia da vontade de ambas. Decorre de uma convenção entre as partes, 
tornando-se lei entre elas aquilo que for acordado entre elas. A relação 
extracontratual é aquela que se estabelece entre as partes, decorrente de disposições 
legais presentes em nosso ordenamento. Independe da vontade das partes. É regida 
por dispositivos que vigoram erga omnes. 
Ocorre que o Código de Defesa do Consumidor sobrepuja esses dois tipos, trazendo o 
foco para a relação de consumo, e não para a relação contratual ou o evento ilícito (VENOSA, 
2008, p. 138), transformando-se o médico em um fornecedor de serviços. Sobre o CDC 
acrescenta Barros Júnior (2007, p. 96): 
Ao equiparar ao consumidor todas as vítimas do acidente de consumo (art. 17), 
submeteu a responsabilidade do fornecedor a um tratamento unitário, tendo em vista 
que o fundamento dessa responsabilidade é a violação do dever de segurança – o 
defeito do produto ou serviço lançado no mercado e que, numa relação 
consumerista, contratual ou não, provoca um acidente de consumo. 
A jurisprudência do STJ é pacífica na acepção de que a relação médico-paciente se 
trata de relação de consumo e, em regra, aplica-se o disposto no artigo 14, §4º do Código 
Consumerista, sendo a responsabilidade civil do médico subjetiva, salvo algumas exceções 
(CALADO, 2009, p. 34/35). 
 
3.2 Obrigação de Meio e de Resultado 
 
 
As obrigações contratuais se dividem entre obrigação de meio e de resultado, para 
aferir a responsabilidade civil do médico é necessária a distinção entre estas duas 
modalidades. 
Na obrigação de meio o médico não se compromete a um resultado específico. Aqui, o 
profissional terá tão somente a obrigação de empregar toda a sua diligência, oferecendo o 
melhor tratamento, aplicando técnicas adequadas e aceitas, que a época lhe proporciona, para 
alcançar a cura. Porém, não a obtendo, não será caracterizada a responsabilidade, se tiver 
agido propriamente (STOCO, 2007, p. 556). 
Sérgio Cavalieri Filho (2000, p. 273) explica: 
30 
 
Nenhum médico, por mais competente que seja, pode assumir a obrigação de curar o 
doente ou de salvá-lo, mormente quando em estado grave ou terminal. A ciência 
médica, apesar de todo o seu desenvolvimento, teminúmeras limitações, que só os 
poderes divinos poderão suprir. A obrigação que o médico assume, a toda evidência, 
é a de proporcionar ao paciente todos os cuidados conscienciosos e atentos, de 
acordo com as aquisições da ciência, para usar-se a fórmula consagrada na escola 
francesa. Não se compromete a curar, mas a prestar os seus serviços de acordo com 
as regras e os métodos da profissão, incluindo aí cuidados e conselhos. 
Fabrício Zamprogna Matielo (2001, p. 56) conceitua: 
Obrigação de meios é a que vincula o profissional à aplicação diligente de todos os 
recursos disponíveis para a melhor condução possível do caso clínico que será alvo 
de seus préstimos. O médico não fica adstrito a um resultado final, mas tem de 
envidar todos os esforços e utilizar-se dos aparatos técnicos que estiverem 
razoavelmente ao seu alcance. 
Destarte, não poderá o prestador de serviços ser responsabilizado pela piora do 
paciente ou caso sobrevenha o falecimento do mesmo, desde que tenha cumprido os deveres 
que ensejam o contrato. Haverá a obrigação de indenizar se suceder evento danoso pela não 
utilização dos meios imperiosos, estando eles disponíveis sem ônus pecuniários ou pessoais, 
demonstrando-se a culpa do agente, e, qualificando-se o erro (MATIELO, 2001, p. 57). 
A obrigação de resultado difere da obrigação de meio, pois se implica o dever do 
contratado de obter um determinado fim. Ao não conseguir o resultado específico, resta 
inadimplente, e sua culpa presumida. O profissional terá que demonstrar que não foi culpado 
pelo inadimplemento, ou então que o fato aconteceu em razão de alguma excludente da 
responsabilidade civil; o paciente, por sua vez, terá que evidenciar o não cumprimento do 
contrato (STOCO, 2007, p. 557). Nesse sentido, acórdão do Tribunal de Justiça de Minas 
Gerais: 
EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ERRO MÉDICO - CIRURGIA 
PLÁSTICA - FINS ESTÉTICOS - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO - LESÃO 
MEDULAR - INVESTIGAÇÃO E AVALIAÇÃO DE PREDISPOSIÇÃO DA 
PACIENTE - INFORMAÇÕES SOBRE OS RISCOS DA CIRURGIA - 
AUSÊNCIA - RESPONSABILIDADE DO MÉDICO E DA CLÍNICA - 
CONDENAÇÃO EM DOBRO DO §1º DO ARTIGO 1.538 DO CÓDIGO CIVIL 
DE 1916 - APLICAÇÃO APENAS EM RELAÇÃO À MULTA CRIMINAL - 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REDUÇÃO - JUROS DE MORA 
DESDE O EVENTO DANOSO - OBRIGAÇÃO EXTRACONTRATUAL - 
SÚMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Por possuir a cirurgia 
plástica para fins estéticos obrigação de resultado, a culpa se presume a partir do 
descumprimento, bastando ao paciente lesado demonstrar a existência da obrigação 
e afirmar a inexecução. Se a cirurgia plástica realizada teve fim puramente estético, 
com obrigação de resultado, o qual não foi alcançado, resta caracterizada a culpa do 
médico cirurgião, quando não comprova que adotou os procedimentos pré-
operatórios necessários a fim de avaliar a predisposição do paciente a reações 
alérgicas ou outras possíveis e, quando é omisso em prestar informações necessárias 
e adequadas ao paciente acerca da probabilidade de sequelas desagradáveis e 
31 
 
indesejáveis após a cirurgia plástica. Utilizando-se o médico das dependências do 
hospital ou clínica, não só para fins ambulatoriais, como também cirúrgicos, sendo 
auxiliado pelos seus funcionários, não resta dúvida quanto à responsabilidade 
solidária do nosocômio, vez que incumbe ao mesmo zelar pela eficiência dos 
serviços prestados pelos profissionais em seu estabelecimento. A indenização deve 
proporcionar à vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem 
enriquecimento sem causa, produzindo, no causador do mal, impacto suficiente para 
dissuadi-lo de igual e semelhante atentado. A jurisprudência do Superior Tribunal de 
Justiça consolidou o entendimento de que a duplicação prevista no § 1º do art. 1.538 
do Código Civil de 1.916 não abrange todas as verbas tratadas no seu caput, mas 
somente a multa criminal, porventura devida. Os juros moratórios incidentes sobre a 
indenização são devidos desde a data da cirurgia, ou seja do evento danoso, de 
acordo com a Súmula 54 do STJ, por se tratar de obrigação extracontratual. 
(Apelação Cível nº 1.0525.01.001526-7/002, 12ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça 
de Minas Gerais, Relator: Alvimar de Ávila, data do Julgamento em 10/02/2010). 
Em regra à atividade médica se aplica a obrigação de meio, onde o que se busca é a 
atividade do devedor e não uma finalidade específica, apesar da cura ser certamente o desejo e 
se configurar como o alvo, esta não é o “objetivo jurídico da contratação” até porque cada 
paciente reage de um jeito para com o tratamento (MATIELO, 2001, p. 56). 
Na obrigação de resultado, o objeto do contrato é o próprio resultado, ela se determina 
por suas características peculiares, se contrata algo “previsto, antecipado e anunciado” 
(STOCO, 2007, p. 557), ao analisar especificamente as espécies meio e fim, Rizzato Nunes 
(2009, p. 353) em sua obra sobre o Direito do Consumidor, expõe que para os profissionais de 
fim, exige-se o resultado, pois este não depende de outra circunstância que não seja sua 
capacitação. 
É empregada a obrigação de resultado, também, quando garante expressamente a cura, 
conforme expõe Rui Stoco (2007, p. 556/557). Nesse sentido, Antonio Carlos Efing, professor 
da PUC-PR afirma em entrevista: 
Quando se realiza uma oferta, uma publicidade, é criado um vínculo. Se você disser 
ao paciente „você vai ficar bom‟, você prometeu a cura. E às vezes, por esforço de 
retórica, o profissional acaba se expressando dessa maneira. Se ele faz isso, ele 
assume a obrigação de alcançar o resultado. Assim ele fica sujeito a ser demandado 
judicialmente
4
. 
 
Silvio de Salvo Venosa (2008, p. 139) elenca algumas possibilidades de obrigação de 
resultado na atividade médica: 
Na grande maioria das atuações, portanto, a obrigação do médico é de meio; por 
vezes será de resultado, como se afirma na cirurgia plástica meramente estética e em 
exames laboratoriais, hoje cada vez mais sofisticados. 
 
4
 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content& 
view=article&id=209&Itemid=102. Acesso em: 25/11/2010, às às 12:45 horas. 
32 
 
Em julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul abordou-se o tema de forma 
ampla, assim ementado: 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO 
MÉDICO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. 
MAMOPLASTIA. CIRURGIA ESTÉTICA. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. 
Preambularmente, cumpre ressaltar que a responsabilidade civil do médico é 
subjetiva, de acordo com o que preceitua o art. 14, § 4º, do CDC. 2. A obrigação 
assumida pelo médico, na maioria dos casos, é de meio e não de resultado. O objeto 
da obrigação não é a cura do paciente, e sim o emprego do tratamento adequado de 
acordo com o estágio atual da ciência, de forma cuidadosa e consciente. 3. Contudo, 
na hipótese dos autos no que tange à mamoplastia diz respeito claramente à 
obrigação de resultado, porquanto o médico se compromete na obtenção de 
determinado benefício clínico, tendo em vista que a pretensão do paciente é 
melhorar seu aspecto estético. 4. Assim, oportuno ressaltar que, embora o CDC na 
norma precitada estabeleça que a responsabilidade civil do profissional liberal seja 
subjetiva, tal disposição não impede a inversão do ônus da prova, na medida em que, 
obviamente, o paciente é hipossuficiente em relação àquele no que tange à técnica 
aplicada e aos conhecimentos médicos necessários. 5. Na análise quanto à existência 
de falha no serviço prestado, bem como da culpabilidade do profissional, o 
Magistrado, que não tem conhecimentos técnico-científicos atinente à área médica, 
deve se valer principalmente das informações prestadas no laudo técnico. 6. 
Contudo, no presente feito não há como se reconhecer imperícia ou imprudência do 
médico-réu na realização do procedimento cirúrgico, namedida em que este adotou 
a técnica habitual e as cicatrizes resultaram das condições preexistentes na paciente. 
7. Não desconheço que o resultado almejado pela autora não foi atingido, pois de 
outra forma não haveria razão para o ingresso da presente demanda. O que se 
vislumbra, em verdade, é que a parte postulante não ficou satisfeita com os frutos da 
cirurgia, possivelmente não por uma expectativa criada pelo médico demandado, 
mas sim por uma inconformidade pessoal, avessa às promessas médicas e as 
possibilidades técnicas de melhoria da região. 8. Assim, não assiste razão à autora ao 
imputar ao réu a responsabilidade pelo evento danoso, na medida em que não restou 
comprovado nos autos qualquer conduta culposa pelo profissional que prestou 
atendimento aquela que pudesse resultar no dever de reparar. Negado provimento ao 
apelo. (Apelação Cível Nº 70037312303, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça 
do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 29/09/2010). 
O essencial para gerar a responsabilidade civil médica é a relação entre a culpa e dano, 
porém para fins de prova é necessário apreciar qual a espécie da obrigação violada, se esta foi 
de meio ou de resultado. Sendo a obrigação contratual de meio o onus probandi será da 
vítima, do contrário, continuará no campo da responsabilidade subjetiva, mas sua culpa será 
presumida (STOCO, 2007, p. 556). 
 
3.2. 1 Cirurgia Plástica 
 
 
A cirurgia plástica é constantemente definida como atividade cuja obrigação é de 
resultado. 
33 
 
João Monteiro de Castro (2005, p. 148) explica: 
A cirurgia plástica é especialidade médica reconhecida mundialmente e visa tratar 
doenças e deformidades anatômicas, congênitas, adquiridas, traumáticas, 
degenerativas e oncológicas, bem como de suas consequências, objetivando 
beneficiar os pacientes visando seu equilíbrio biopsicossocial e consequente 
melhoria sobre a sua qualidade devida. 
 
 A cirurgia plástica se divide em duas modalidades: estética e reparadora. A estética 
compreende o embelezamento, o aperfeiçoamento da aparência da pessoa, “através do manejo 
de contornos corporais tidos por deficientes ou incorretos”, os fins são puramente estéticos 
não envolvendo qualquer doença preexistente onde seja necessária uma cirurgia (MATIELO, 
2001: p. 63). A reparadora apresenta-se com o intuito de retornar ao estado original ou 
retificar deformidades congênitas, abarcando a cirurgia designada para consertar uma cirurgia 
estética malsucedida, esta modalidade também possui uma visão estética, porém suas 
finalidades são terapêuticas, como exemplo de cirurgia plástica reparadora, a cirurgia que 
pretende restaurar queimaduras (CASTRO, 2005, p. 148). 
 Entende-se que na cirurgia puramente embelezadora a obrigação do profissional é de 
resultado. O acórdão que julgou o Recurso Especial número 81.101-PR, em 1999, colocou à 
cirurgia estética ou plástica a obrigação contratual de resultado, a partir desse momento, aos 
casos que se referiam à espécie eram imputados a responsabilidade objetiva pelo STJ. 
Recentemente houve uma mudança no quadro, e voltou-se a analisar a culpa no campo da 
cirurgia embelezadora, apesar de ainda ser considerada obrigação de resultado (CALADO, 
2009, p. 35). 
 
3.2.2 Anestesista 
 
 
Trata-se de uma das especialidades da Medicina imprescindíveis para a realização de 
uma cirurgia e onde a falha pode ocasionar danos irreversíveis. Prescreve Maria Helena Diniz 
(2009, p. 316), as normas que o anestesista deverá observar: 
[...] a) o risco da anestesia nunca deverá ser maior que o da intervenção cirúrgica, 
isto é, em operações de menor importância não se deve aplicar anestesia geral; b) 
não deve anestesiar sem a anuência do paciente ou de seus familiares; c) aplicar a 
anestesia na presença de testemunhas; d) examinar previamente as condições 
fisiopsíquicas do enfermo; e) não deve proporcionar anestesia a operação ilícita ou 
fraudulenta, p. ex., aborto criminoso, alteração da fisionomia para fugir da 
identificação policial, reconstituição do hímen etc.; f) não usar entorpecentes senão 
34 
 
nas condições necessárias para aliviar a dor. A violação dessas normas indica 
imperícia, negligência, imprudência e torpeza. 
 O anestesista incorre em obrigação de meio e sua culpa será analisada de acordo com 
os preceitos da responsabilidade subjetiva, a culpabilidade pode acontecer durante as três 
etapas que envolvem a atividade, de acordo com Venosa (2008, p. 146): 
[...] uma fase preparatória, na qual o profissional avalia o estado do paciente e 
escolhe a melhor técnica, tendo em vista seu estado; o trabalho durante a ministração 
das drogas e o monitoramento do paciente durante a cirurgia e, no final, a atividade 
de recobro do paciente à consciência e o monitoramento dos efeitos da anestesia 
após o procedimento cirúrgico [...]. 
O cirurgião chefe pode responder solidariamente pelo ato provocado pelo anestesista 
através da culpa in eligendo, por ter escolhido mal o profissional. Manifesta ainda, o 
doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2008, p. 147) que deve ser apurado se houve culpa 
concorrente entre o cirurgião e o anestesista, e que, na dúvida, todos os participantes do 
procedimento cirúrgico devem responder solidariamente, devendo ser levado em consideração 
às circunstâncias em que a anestesia foi aplicada. Sobre o anestesista julgado do Tribunal da 
Bahia: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CIRURGIA. ERRO MÉDICO. 
RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO MÉDICO-ANESTESISTA. 
JULGAMENTO PROFERIDO PELO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA 
DO ESTADO DA BAHIA E DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. 
CULPA DEVIDAMENTE DEMONSTRADA. LESÕES NEUROLÓGICAS 
IRREVERSÍVEIS. NEGLIGÊNCIA CONSUBSTANCIADA. OCORRÊNCIA DE 
DANOS MORAIS. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. DESNECESSIDADE DA 
SUA PROVA. PRESUNÇÃO IN RE IPSA. DEVER DE INDENIZAR. NÃO 
COMPROVAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS. NECESSIDADE DE PROVA 
EXPLÍCITA E INEQUÍVOCA. REFORMA DA SENTENÇA. APELO 
PARCIALMENTE PROVIDO. TRATANDO-SE DE RESPONSABILIDADE 
SUBJETIVA, PARA QUE SE CONFIGURE O DEVER DE INDENIZAR, 
IMPERATIVO O RECONHECIMENTO DA CULPA E O LIAME CAUSAL 
ENTRE A AÇÃO E O RESULTADO. DEMONSTRANDO A AUTORA O FATO 
CONSTITUTIVO DE SEU DIREITO, NA ESPÉCIE, O AGIR CULPOSO DO 
MÉDICO-ANESTESISTA DO NOSOCÔMIO, PELA LESÃO RESULTANTE DO 
PROCEDIMENTO ANESTÉSICO, O CONSECTÁRIO LÓGICO É A 
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. O DANO MORAL ESTÁ PREVISTO NOS 
INCISOS V E X DO ART. 5° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E EQUIVALE A 
UMA REPOSIÇÃO DO DANO PSICOLÓGICO E PESSOAL, SENDO 
DESNECESSÁRIA A SUA PROVA POR SE TRATAR DE PRESUNÇÃO IN RE 
IPSA. O DANO MORAL, EM TAIS CASOS, ESTÁ ÍNSITO NO PRÓPRIO ERRO 
COMETIDO PELO APELAÇÃO CÍVEL Nº 33.659-4/2007 PROFISSIONAL, DE 
TAL MODO QUE, PROVADO O FATO DANOSO, IPSO FACTO, ESTÁ 
PROVADO O DANO MORAL. EM SE TRATANDO DE DANOS MATERIAIS, 
CABE AO AUTOR APONTAR, DE FORMA EXPLÍCITA, QUAIS OS DANOS 
EFETIVAMENTE SOFRIDOS E QUE CONDUZIRAM À REPARAÇÃO 
PLEITEADA, VEZ QUE, PARA APURAÇÃO NESTE TIPO DE INDENIZAÇÃO, 
NECESSÁRIO SE FAZ A DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DOS PREJUÍZOS 
SOFRIDOS, POIS, SOMENTE COM TAIS ELEMENTOS, PODE O 
MAGISTRADO VALORAR O QUANTUM DEVIDO (TJ/BA, APELAÇÃO nº 
35 
 
33659-4/2007, Relator: Josevando Sousa Andrade, data do Julgamento: 
20/10/2009). 
 
3.3 Código de Defesa do Consumidor 
 
 
A relação médico-paciente se encaixa no estabelecido pelo Código de Defesa do 
Consumidor, pois o médico presta serviços ao paciente, sendo, portanto, fornecedor na forma 
do disposto em seu artigo 3º. 
A responsabilidade pelo CDC baseia-se na Teoria do Risco, conforme o art. 14, caput, 
pois o fornecedor responde independente de culpa pelos danos causados na prestação de 
serviços, mas faz uma ressalva em seu parágrafo 4º para os profissionais liberais, instituindo a 
responsabilidade subjetiva para esse tipo de profissão, que é o caso do médico. 
Entende-se por profissional liberal, nas palavras de RizzattoNunes (2009, p. 359), 
aquele que tem: 
[...] autonomia profissional, com decisões tomadas por conta própria, sem 
subordinação; prestação do serviço feita pessoalmente, pelo menos nos seus 
aspectos mais relevantes e principais; feitura de suas próprias regras de atendimento 
profissional, o que ele repassa ao cliente, tudo dentro do permitido pelas leis e em 
especial pela legislação de sua categoria profissional. 
No exercício de sua atividade o médico tem o dever de aplicar todo o seu 
conhecimento, e deve ser conhecedor de sua área, em benefício do paciente, fazer tudo que 
estiver ao seu alcance para obter o resultado, a fim de que a pessoa tenha sua saúde restaurada 
e/ou melhorada, sendo que para algumas atividades reserva-se a obrigação desse resultado, 
como na cirurgia plástica, por exemplo, influindo na espécie de responsabilização, apontada 
pelo artigo supracitado. 
 A diferença fundamental ocorre no campo da inversão do ônus da prova, garantido aos 
consumidores no art. 6º, VIII, do CDC, que como já abordado anteriormente terá variação de 
acordo com a obrigação assumida pelo agente causador do dano. 
 Indagado sobre a responsabilidade do médico quando possuir vínculo com hospital, 
Miguel Kfouri Neto, em entrevista disposta no site do 1º Congresso de Direito Médico, 
respondeu: 
36 
 
Caso o médico não seja vinculado, por alguma forma de subordinação, ao hospital, a 
responsabilidade é pessoal. Quando o médico puder ser considerado preposto do 
hospital, o estabelecimento responderá solidariamente, desde que provada a culpa do 
profissional - imperícia, imprudência ou negligência
5
. 
A responsabilidade dos hospitais funda-se na responsabilidade objetiva pelo Código de 
Defesa do Consumidor, porém quando o dano estiver ligado à conduta médica no exercício de 
sua profissão, sendo ele preposto ou empregado do hospital, a responsabilidade será subjetiva, 
ou seja, dependente da demonstração da culpa do profissional, só responderá na primeira 
forma quando a lesão não tiver relação com o médico, como, por exemplo, for referente a 
instalações. 
 
3.4 Culpa Médica 
 
 
Ao se falar em erro médico é imperioso observar que a falha no resultado pode advir 
da evolução da própria doença que assola o paciente ou pode estar além do conhecimento da 
Medicina, uma vez que ela não é absoluta e tais resultados, sucessivos de um natural 
infortúnio, não podem ser atribuídos a conduta do médico. Não há que haver 
responsabilização, pois esta deve vir para aqueles que, de alguma forma, descumpriram com 
seu dever. 
Nesse contexto, cabe mencionar o entendimento do doutrinador Jõao Monteiro de 
Castro (2005, p. 27) ao versar sobre dano: 
A doença, a enfermidade e a morte fazem parte da condição humana. E elas sempre 
terão contra o médico a última palavra. Em matéria de responsabilidade médica, o 
prejuízo pode resultar de elementos de natureza extremamente variada. Vai do 
prejuízo puramente econômico até o puramente moral, como por exemplo, pela 
violação do segredo profissional. Vai do prejuízo resultante do uso de um atestado 
falso até incapacidade, invalidez e morte. E como anota Jean Penneau, o paciente 
pode chegar ao médico afetado por uma morbidez preexistente, até mesmo resultado 
de tratamentos, bem ou mal sucedidos, anteriores. Então, para a verificação do 
verdadeiro prejuízo, objetivamente causado pela atividade médica, engajando a 
responsabilidade do médico, deve ser levado em conta esse estado preexistente, 
prestando atenção em avaliar se o dano reclamado pelo paciente decorre da atividade 
médica ou à evolução patológica da doença já instalada. 
Antonio Carlos Efing considera que para questões envolvendo a atividade médica os 
processos devem ser lentos: 
 
5
 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/índex.php?option=com_content 
&view=article&id=206&Itemid=100. Acesso em: 25/11/2010, às 12:40. 
37 
 
[...] O que fazemos hoje no Direito é aplicá-lo com razoabilidade e bom senso e, 
então, detectar nuances específicas. Há uma dificuldade de ordem prática: quanto 
mais complexa a sociedade e suas relações, mais o Direito tem que ser 
individualizado, e então há um problema de tempo: para analisar as coisas em 
detalhe é necessário mais tempo, e em nossa sociedade não há tempo. A Justiça 
justa, no caso das questões médicas, é uma Justiça lenta, porque ela vai ter que 
analisar detalhes que são cruciais para a decisão; e então ela encontra a antipatia da 
população, por conta dessa lentidão necessária.
6
 
 
Para verificar a culpabilidade do profissional médico serão válidas as provas 
estabelecidas no Código de Processo Civil: depoimento pessoal (arts. 342 a 347), confissão 
(arts. 348 a 354), exibição de documento ou coisa (arts. 355 a 363), documental (arts. 364 a 
391), testemunhal (arts. 400 a 419), pericial (arts. 420 a 439), inspeção judicial (arts. 440 a 
443). 
A Lei 5.869 (CPC) prescreve, em seu artigo 333, o dever do autor de provar os fatos 
“constitutivos do seu direito” e do réu demonstrar a “existência de fato impeditivo, 
modificativo ou extintivo do direito nos autos”. 
O aspecto da culpa vem como elemento essencial para a configuração da 
responsabilidade civil do médico, devendo ser observada a espécie de obrigação assumida 
conforme exposto acima. 
Se a obrigação for de meio, como é em regra, cabe à vítima ou aos seus herdeiros 
provar que a conduta voluntária médica ilícita causou o dano, respondendo o profissional pela 
forma subjetiva. No caso da obrigação de resultado compete ao paciente evidenciar o não 
cumprimento da obrigação do médico; ao profissional, incumbirá provar que não teve culpa 
do evento danoso, ou então que o fato aconteceu em razão de alguma excludente da 
responsabilidade civil, responde o médico subjetivamente, porém sua culpa será presumida 
(STOCO, 2007, p. 557). 
Ressalte-se que quando o juiz verificar que, as alegações da vítima são verossímeis ou 
sua hipossuficiência, lhe será facultado determinar a inversão do ônus da prova, como 
estabelece o Código de Proteção ao Consumidor, independentemente de pedido. Tal 
determinação deve ocorrer antes do começo da instrução para que a outra parte possa se 
adequar ao fato (VENOSA, 2008, p. 149/150). 
 
6
 Disponível em: http://www.medico.cfm.org.br/direitomedico/index.php?option=com_content& 
view=article&id=209&Itemid=102. Acesso em: 25/11/2010, às 12:45 horas. 
38 
 
Deste modo, discutir-se-á a culpa do agente, decorrente da produção de um ato ilícito, 
como ventilado, a conduta dolosa ou culposa que lesa bens tutelados pelo ordenamento 
jurídico, no campo da culpa stricto sensu é exteriorizada pela negligência, imprudência e 
imperícia. 
 
3.4.1 Prova Pericial 
 
 
 A prova pericial consiste em prova técnica realizada por um profissional especialista 
em determinada área, no caso também médico, a qual o magistrado poderá se valer quando 
houver necessidade do conhecimento específico (art. 145 do CPC), no caso do erro médico 
ela será indispensável. 
 Bastos Júnior (2007, p. 136), demonstrando a essencialidade da prova pericial, aponta: 
Para obter êxito na ação, o paciente tem a seu encargo três provas: do dano, do nexo 
de causalidade e da culpa. É basilar que o autor deve sempre provar seu prejuízo, 
mas quanto aos outros dois, problemas severos se apresentam. A prova testemunhal 
leiga não é de grande utilidade pela ignorância técnica e impressionabilidade da 
maior parte das pessoas, quanto aos temas médicos. Ademais, a maioria das faltas 
médicas, que causam dano culposo ao paciente reveste-se de grande tecnicidade, e o 
juiz não as sabe identificar e nem apreciá-las (2007, p. 136). 
Bem como o autor supracitado, Bastos Júnior (2007, p. 140), defende a vinculação 
fática da prova pericial ao resultado da demanda judicial. Lembra

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