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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA - TURMAS 2017/2020 – DISCIPLINA DE ODONTOLOGIA LEGAL - II AVALIAÇÃO NOME: Érica Paim DATA: 25/06/2021 NOTA:_________ Fernanda Staniczuk Fassina Karine Muraro Larissa Zago Informações importantes: a) O trabalho poderá ser realizado individualmente ou em grupo (máximo 5 componentes). b) Data de entrega: 30/06/2021 - via e-mail andream@uricer.edu.br. c) Os períodos da aula do dia 28/06/2021 serão utilizados para a feitura do trabalho. 1. Após a leitura da sentença do processo nº 001/1.10.0054637-4, e do Acórdão nº 70073932402, em que são partes Maria Helena Fernandes como Autora e Instituto de Ensino, Aperfeiçoamento Pesquisa Odont. Mercosul-IEAPOM como Réu, e verificando principalmente a responsabilidade na prestação de serviços dos procedimentos odontológicos realizados, e a condenação por danos materiais e morais, responda: a. A base legal, ou seja, os artigos que embasam o entendimento individual ou do grupo frente à situação fática e a decisão judicial; R. O cerne da questão é a verificação da ocorrência de fato do serviço, na realização dos procedimentos odontológicos. Conforme art. 14 do CDC. Assim caberia ao fornecedor conforme § 3º, do art. 14, do CDC, provar que tendo prestado o serviço o defeito inexiste; a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Porém , verifico que a ré não se desincumbiu do ônus que lhe cabia. Não há nenhum elemento de prova no sentido de que a culpa é exclusiva do consumidor. Por outro lado há prova que houve defeito na prestação do serviço. b. Ressalte(m) quais as precauções a serem utilizadas para que tais fatos possam ser evitados, eximindo ou atenuando a responsabilidade técnica do Instituto de Ensino ou do cirurgião- dentista; R. Quando o paciente procura um cirurgião dentista que não tem formação especializada para tal procedimento, o dever ético do dentista é pedir para que o mesmo procure outro cirurgião no qual irá resolver seu problema. mailto:andream@uricer.edu.br c. Existem outros fatores que podem interferir para o resultado final do procedimento? R. Para que a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram; que os meios escolhidos sejam compatíveis com os fins visados; que a sanção seja proporcional ao dano. Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes”. d. Qual a sua opinião, ou a opinião do grupo com relação à decisão dos julgadores? R. Concordamos com a decisão dos julgadores, pois a partir do momento que o paciente busca um profissional para a realização de algum procedimento, seja ele estético ou não, é dever do profissional fazer seu trabalho com ética profissional, dando toda segurança e conforto ao paciente, ausentando o mesmo de possíveis riscos. SENTENÇA - decisão do juiz sobre os pedidos formulados na petição inicial. Comarca de Porto Alegre VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL ALTO PETRÓPOLIS Av. Protásio Alves, 8144 _________________________________________________________________________ Processo nº: 001/1.10.0054637-4 (CNJ:.0546371-68.2010.8.21.2001) Natureza: Ordinária - Outros Autor: Maria Helena Fernandes Réu: Instituto de Ensino, Aperfeiçoamento Pesquisa Odont. Mercosul-IEAPOM Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. Paulo de Tarso Carpena Lopes Data: 12/01/2017 Vistos, etc. Maria Helena Fernandes ajuizou ação de Indenização por danos morais e materiais contra Instituto de Ensino, Aperfeiçoamento Pesquisa Odontológica Mercosul- IEAPOM, alegando, em suma, ter contratado a ré para a realização de tratamento dentário (serviço estético com enxerto e raspagem buco- facial para preenchimento de falha existente entre os dentes) pelo preço de R$ 621,00 (seiscentos e vinte e um reais). Aduziu que, após a realização da cirurgia, passou a sentir fortes dores no local, as quais não cessavam, mesmo tendo sido medicada pelos profissionais. Diante da continuidade das dores, optou por procurar outro profissional, o qual não estaria vinculado à clínica, a fim de que lhe fosse dada uma segunda opinião sobre as dores pós-cirúrgicas, quando lhe fora informado que o procedimento teria atingido um dos nervos da mandíbula, caracterizando, com isso, dores crônicas. Requereu a procedência da ação, a fim de condenar a demandada ao pagamento de indenização pelos danos morais sofridos, bem como restituição de todos os valores gastos após a cirurgia, que deverão ser averiguados mediante liquidação de sentença. Acostou documentos. Litiga sob a benesse da AJG. Citada, a demandada apresentou contestação, arguindo, preliminarmente, a sua ilegitimidade passiva, bem como a inépcia da petição inicial. Procedeu na denunciação à lide a Dentista responsável pela cirurgia, Carolina Bortolas Carvalho. No mérito, teceu consideração sobre o trabalho exercido pela clínica. Refutou o pedido indenizatório, porque inexistente qualquer ato danoso. Explanou sobre a natureza de sua responsabilidade civil. Requereu o acolhimento das preliminares e, consequentemente, a extinção do feito. Não sendo, pleiteou seja julgada improcedente a ação. Acostou documentos. Foi ofertada réplica. Em despacho saneador, restaram afastada a preliminar de inépcia da inicial, bem como o pedido de denunciação à lide, o que restou mantido em grau recursal. Diante da necessidade de produção de prova técnica, restou nomeado Perito Odontológico, a fim de lançar parecer sobre o caso em pauta. Juntado o laudo, deu-se vista às partes. Realizada audiência de instrução e julgamento, foi tomado o depoimento pessoal da autora e inquirida, via precatória, um testemunha arrolada pela parte ré. Encerrada a instrução, oportunizou-se a apresentação de memoriais. Vieram-me os autos conclusos para sentença. É o relatório. Decido. Passo à análise da preliminar de ilegitimidade passiva: O fundamento que rege a legitimidade das partes é bastante lógico; é necessário saber, desde logo, se as pessoas sobre as quais o pronunciamento jurisdicional produzirá seus efeitos são, realmente, aquelas que integram a situação fático-jurídica descrita pela parte autor na causa de pedir. Assim analisando situação fático-jurídica, verifico que há legitimidade da parte requerida, pois os documentos acostados na inicial indicam a clínica demandada como sendo a responsável pelo procedimento realizado na autora; portanto, caracterizada está a prestação de serviço. No Mérito Em primeiro lugar, é necessário assinalar que a relação havida entre as partes está submetida às disposições do Código de Defesa do Consumidor, enquanto relação de consumo, podendo-se definir como sendo um serviço. Nesse sentido, dispõe o art. 3º, § 2º, do referido diploma legal: Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Conforme já verificado na preliminar não se trata de profissional liberal, visto a vinculação desse à empresa. Da prestação do serviço. O cerne da questão é a verificação da ocorrência de fato do serviço, na realização dos procedimentos odontológicos. Conforme art. 14 do CDC. Assim caberia ao fornecedor conforme § 3º, do art. 14, do CDC, provar que tendo prestado o serviçoo defeito inexiste; a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Porém , verifico que a ré não se desincumbiu do ônus que lhe cabia. Não há nenhum elemento de prova no sentido de que a culpa é exclusiva do consumidor. Por outro lado há prova que houve defeito na prestação do serviço. O laudo pericial foi claro quando concluiu que houve erro no procedimento adotado, bem como que o dano poderia ter sido evitado caso o procedimento adotado fosse o correto. Concluiu, ainda, que a lesão mostra-se irreversível, tendo a autora que suportar a dor por toda a vida. Sendo evidente a ocorrência de dano material decorrente da necessidade de consertos e refazimentos dos serviços prestados. Com fundamento no art. 14 do CDC a ré deve reparar o dano causado à consumidora ressarcindo os valores gastos referente aos procedimento iniciais de refazimento do serviço e demais valores necessários a amenizar o problema. A ser verificado em liquidação de sentença. Estão presentes nos autos os elementos ensejadores da indenização por dano moral, quais sejam, o ato ilícito do réu diante do dano causado à autora; o dano sofrido, que nesse caso é inerente a necessidade de passar por vários procedimentos odontológicos bem com a dor ocasionada pela debilitação de sua saúde dentária pelo resto da vida, e o nexo causal entre o ato e o dano experimentado. Logo, não há como negar o direito da autora em indenização pecuniária pelos constrangimentos causados pela atitude da demandada. Para arbitrar o dano moral é necessário considerar alguns vetores, tais como: a) a situação econômica do autor e da ré; b) o grau de culpa da ré e se a vítima colaborou para o evento danoso; e, c) a extensão do dano. Nessa senda, para arbitrar o valor da indenização é oportuno visualizar proporcionalidade econômica da pretensão, devendo a indenização obedecer aos critérios de razoabilidade, atingindo função reparatória e punitiva, considerando os vetores supramencionados. Para que não ocorram novos ilícitos por parte dos demandados, sem ensejar enriquecimento injustificado à autora, vislumbrando o grau de culpa, fica arbitrado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a indenização para a demandante. Posto isso, julgo PROCEDENTES os pedidos deduzidos na inicial, e assim o faço com resolução do mérito com base no art. 487, I, do NCPC, para: a) determina que a ré efetue o ressarcindo de todos os valores gastos em razão da cirurgia mal procedida, referente aos procedimento iniciais de refazimento do serviço e demais valores necessários à solução do problema. A ser verificado em liquidação de sentença; os valores gastos devem ser atualizados monetariamente pelo índice do IGP-M e acrescidos de juros de mora de 12% (doze por cento) ao ano, o primeiro a contar do desembolso e o segunda da citação ou desembolso no caso de gastos posteriores a citação; b) condenar a demandada ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de danos morais à demandante, atualizados monetariamente pelo índice do IGP-M e acrescidos de juros de mora de 12% (doze por cento) ao ano, ambos a contar da presente data (Súmula nº 362 do STJ). Condeno a ré ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios em favor do procurador da outra parte, que arbitro em 20% sobre o valor da condenação, com fundamento no art. 85, §2º, do NCPC. Transitado em julgado, arquivem-se com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Porto Alegre, 12 de janeiro de 2017. Paulo de Tarso Carpena Lopes, Juiz de Direito ACÓRDÃO – Decisão dos Tribunais APELAÇÃO E RECURSO ADESIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. FATO DO SERVIÇO. NECESSIDADE DE REFAZIMENTO. AGRAVO RETIDO. DILAÇÃO DE PRAZO. NÃO CONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL NO ESTATUTO PROCESSUAL CIVIL EM VIGOR. CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE. Não se conhece do agravo retido, porquanto, tanto a sua interposição quanto o seu processamento ocorreram sob a égide do Novo Código de Processo Civil, que deixou de contemplar esta espécie de recurso. Ao juiz incumbe determinar as provas necessárias à instrução do feito, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. É ele, também, livre para apreciar a prova, bastando indicar, na sentença, os motivos que lhe levaram ao convencimento (CPC, artigos 370 e 371). Caso concreto em que o processo ficou à disposição das partes, tendo o réu impugnado a perícia, apresentando quesitos complementares, que foram devidamente respondidos. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. QUESTÃO PRECLUSA. Hipótese em que a questão acerca da inépcia da inicial já restou enfrentada por este Tribunal quando do julgamento do Agravo de Instrumento nº 70039908017, que manteve a rejeição da prefacial do juízo a quo, nada mais sendo necessário acrescentar. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. PRELIMINAR REPELIDA. Os documentos acostados na inicial indicam a clínica demandada como sendo a responsável pelo procedimento realizado na autora, com isso não subsistindo a prefacial de ilegitimidade passiva ad causam, porquanto caracterizada a prestação de serviço. RESPONSABILIDADE CIVIL DO DENTISTA. A obrigação assumida pelo cirurgião dentista, em regra, é de resultado, sendo a responsabilidade subjetiva, com culpa presumida. Ou seja, é do profissional o ônus da prova no sentido de que não agiu com culpa. Incidência do art. 14, § 4º, do CDC. RESPONSABILIDADE CIVIL DA CLÍNICA ODONTOLÓGICA. A clínica responde independentemente de culpa pelo serviço defeituoso prestado ao consumidor, na qualidade de prestadora de serviços, incidindo a responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do CDC. DEVER DE INDENIZAR CARACTERIZADO. Da análise da prova produzida é possível concluir pela existência do dever de indenizar do réu. A prova pericial concluiu pela existência de erro no procedimento, cujo dano poderia ter sido evitado caso outro tivesse sido adotado. Diagnosticada lesão de caráter permanente e irreversível. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. Mantido o valor fixado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), considerando as características compensatória, pedagógica e punitiva da indenização. JUROS. TERMO INICIAL. SÚMULA 54 DO STJ. APLICAÇÃO AFASTADA. Tratando-se de responsabilidade civil contratual, resta afastada a aplicação da Súmula 54 do STJ. RECURSOS DESPROVIDOS. AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL Nº 70073932402 (Nº CNJ: 0157355- 73.2017.8.21.7000) COMARCA DE PORTO ALEGRE INSTITUTO DE ENSINO, APERFEIÇOAMENTO PESQUISA ODONT. MERCOSUL-IEAP APELANTE/RECORRIDO ADESIVO MARIA HELENA FERNANDES RECORRENTE ADESIVA/APELADA A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em desprover os recursos e não conhecer do agravo retido. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (PRESIDENTE) E DES. CARLOS EDUARDO RICHINITTI. Porto Alegre, 13 de dezembro de 2017. DES. EDUARDO KRAEMER, Relator. R E L A T Ó R I O DES. EDUARDO KRAEMER (RELATOR) Trata-se de recurso de apelação interposto pelo INSTITUTO DE ENSINO, APERFEIÇOAMENTO E PESQUISA EM ODONTOLOGIA DO MERCOSUL - IEAP, contra a sentença (fls. 395/401) que julgou procedente a ação ordinária de indenização contra si movida por MARIA HELENA FERNANDES, cujo dispositivo restou assim redigido: Posto isso, julgo PROCEDENTES os pedidos deduzidos na inicial, e assim o faço com resolução do mérito com base no art. 487, I, do NCPC, para: a) determina que a ré efetue o ressarcindo de todos os valores gastos em razão da cirurgia mal procedida, referente aos procedimento iniciais de refazimento do serviço e demais valores necessários à solução do problema. A ser verificado em liquidação de sentença; osvalores gastos devem ser atualizados monetariamente pelo índice do IGP-M e acrescidos de juros de mora de 12% (doze por cento) ao ano, o primeiro a contar do desembolso e o segunda da citação ou desembolso no caso de gastos posteriores a citação; b) condenar a demandada ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de danos morais à demandante, atualizados monetariamente pelo índice do IGP-M e acrescidos de juros de mora de 12% (doze por cento) ao ano, ambos a contar da presente data (Súmula nº 362 do STJ). Condeno a ré ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios em favor do procurador da outra parte, que arbitro em 20% sobre o valor da condenação, com fundamento no art. 85, §2º, do NCPC. Transitado em julgado, arquivem-se com baixa. Opostos embargos de declaração pelo réu (fls. 316/17), foram desacolhidos (fls. 318/v.). Em suas razões (fls. 321/44), o apelante reitera o agravo retido das fls. 273/99, defendendo a necessidade da dilação do prazo requerida na origem para fins de análise tempestiva da prova colhida em sede de perícia, o que prejudicou a defesa. Ainda em prefacial, repisa a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, referindo que inexiste qualquer documento ou notificação ao recorrente no que tange à existência de vinculação entre as partes, pugnando pelo julgamento de extinção do feito. Defende, outrossim, a inépcia da petição inicial, uma vez que a parte autora deixou de apresentar o montante gasto ou a ser dispensado em seu tratamento para objetivar o ressarcimento. No mérito, repisa a assertiva de que a parte demandada é uma instituição de ensino de referência, com objetivo de produzir cursos de curta duração (hands-on), aperfeiçoamento e especialização nas mais diversas áreas da odontologia, contando com dois laboratórios, três ambulatórios e dois auditórios para aulas teórico- administrativas. Em vista disso, refere que, durante a realização do curso de especialização em implantodontia, compareceu a apelada, que foi atendida pelos profissionais instrutores, em nada se comunicando a situação narrada na exordial com a esfera jurídica da ré. Aduz que o quadro crônico apresentado pela apelada é anterior ao atendimento realizado pelos profissionais e, associado aos eventos posteriores (desleixo em efetivar o comparecimento nos momentos determinados para o tratamento e sua continuidade), impõe-se o afastamento da pretensão autoral. No mais, sustenta que a obrigação assumida pelo dentista é de meio e não de resultado, não evidenciada a existência de culpa, tampouco comprovada ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. Informa, por fim, que o emprego das técnicas no caso presente foi de acordo com as normas orientadoras do razoável exercício da profissão, requerendo, em havendo condenação, requer que o dano moral seja representativo de um salário mínimo. Pugna pela reforma da sentença. Ofertadas contrarrazões às fls. 348/51, a parte autora recorreu adesivamente às fls. 352/54, pugnando pela majoração do quantum indenizatório, entendendo que o valor de R$ 20.000,00 não se presta para amenizar o seu sofrimento, pois diagnosticada lesão permanente do nervo alveolar inferior. Outrossim, defende que os juros de mora incidem a contar do evento danoso, na forma da Súmula 54 do STJ. Declinada da competência (fls. 356/60), recebi, após redistribuição, em 29/06/2017 (fl. 363v.). Determinado o cadastramento do recurso adesivo, bem como a intimação do réu para, querendo, ofertar contrarrazões (fl. 364), restou cumprida a diligência, sobrevindo resposta ao recurso adesivo às fls. 367/69. Registro terem sido cumpridas as formalidades dos artigos 931 e 934, do CPC/2015, considerando a adoção do sistema informatizado por este Tribunal (Ato nº 24/2008- P). É o relatório. V O T O S DES. EDUARDO KRAEMER (RELATOR) Recebo os recursos principal e adesivo, porquanto preenchidos os requisitos de admissibilidade. A demanda visa ao ressarcimento de danos materiais e morais decorrente de serviços de odontologia estética contratados pela autora junto ao réu, de enxerto ósseo para a correção de falha existente na parte frontal do seu maxilar. Nos termos da exordial, o atendimento foi coordenado pela Dra. Caroline Bortolas Carvalho, inscrita no CRO nº 13728, cujo procedimento cirúrgico estético foi realizado na data de 28/11/2008. Refere que passou a sentir dores fortes no período pós-operatório, tendo retornado inúmeras vezes para se queixar e pedir providências. Foi atendida por vários profissionais que prestavam serviço junto ao réu, os quais se limitaram a prescrever fármacos, reiterando que a cirurgia tinha sido bem sucedida. Inconformada, procurou outro profissional na data de 11/11/2009, que diagnosticou a necessidade de novas intervenções cirúrgicas reparadoras, tendo em vista que o procedimento anterior acabou atingindo um dos nervos da mandíbula (fl. 66). Inconformada, busca a condenação da requerida ao ressarcimento das despesas decorrentes da cirurgia mal sucedida, além do pagamento de danos morais. Primeiramente, não conheço do Agravo Retido interposto às fls. 274/99 e reiterado no apelo, alusivo à dilação de prazo para a requerida se manifestar acerca da perícia. E isso porque tanto a sua interposição quanto o seu processamento ocorreram sob a égide do Novo Código de Processo Civil, que deixou de contemplar esta espécie de recurso. De todo modo, não subsiste o cerceamento de defesa apontado, porquanto, após a perícia realizada, o processo ficou à disposição das partes. Além disso, a ré impugnou o laudo, apresentando quesitos complementares, que foram devidamente respondidos (fls. 208/09 e 218/19). Não sendo demais lembrar, outrossim, que, a teor do que dispõe o artigo 370 do CPC, ao juiz incumbe determinar as provas necessárias à instrução do feito, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. O juiz é livre para apreciar a prova, bastando indicar, na sentença, os motivos que lhe levaram ao convencimento (CPC, artigo 371). Assim, não há falar em cerceamento de defesa. Relativamente à alegação de inépcia da petição inicial, tenho que efetivamente não subsiste, notadamente porque já restou enfrentada por este Tribunal quando do julgamento do Agravo de Instrumento nº 70039908017, em 17/11/2010, ao manter a rejeição desta prefacial pelo juízo a quo, nada mais sendo necessário acrescentar, tratando-se de questão efetivamente preclusa (fls. 138/v. e 150/53). Segue-se a alegação de ilegitimidade passiva ad causam, melhor sorte não merecendo. Bem referiu a ilustrada magistrada que “O fundamento que rege a legitimidade das partes é bastante lógico; é necessário saber, desde logo, se as pessoas sobre as quais o pronunciamento jurisdicional produzirá seus efeitos são, realmente, aquelas que integram a situação fático-jurídica descrita pela parte autor na causa de pedir”. E prossegue: “Assim analisando situação fático-jurídica, verifico que há legitimidade da parte requerida, pois os documentos acostados na inicial indicam a clínica demandada como sendo a responsável pelo procedimento realizado na autora; portanto, caracterizada está a prestação de serviço.” Com efeito, devidamente comprovada a prestação do serviço junto às dependências do réu, cujo defeito é apontado pela consumidora autora na presente demanda, é ele, sim, parte legítima para figurar no polo passivo. Na questão de fundo, tenho que as insurgências identicamente não comportam acolhimento. De início, cumpre tecer algumas considerações a respeito da responsabilidade civil do dentista e da clínica odontológica. O Código de Defesa do Consumidor, em exceção à regra da responsabilidade objetiva incidente às relações de consumo, prevê a responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais, conforme dispõe o § 4º do art. 14: "A responsabilidade pessoal dos profissionais liberaisserá apurada mediante a verificação da culpa". A responsabilidade subjetiva tem como pressupostos a conduta culposa do agente, o nexo causal e o dano, segundo o art. 186 do Código Civil, in verbis: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. No que concerne à responsabilidade do dentista, o entendimento que prevalece na doutrina e na jurisprudência é no sentido de que a obrigação assumida pelos profissionais de odontologia, é, em regra, de resultado. Sobre a questão, Sérgio Cavalieri Filho1 ensina: “Convém, entretanto, ressaltar que, se, em relação aos médicos, a regra é a obrigação de meio, no que respeita aos dentistas a regra é a obrigação de resultado. E assim é porque os processos de tratamento dentário são mais regulares, específicos, e os problemas menos complexos. A obturação de uma cárie, o tratamento de um canal, a extração de um dente etc., embora exijam técnica específica, permitem assegurar a obtenção do resultado esperado. Por outro lado, é mais freqüente nessa área de atividade profissional a preocupação com a estética. A boca é uma das partes do corpo mais visíveis, e, na boca, os dentes. Ninguém desconhece o quanto influencia negativamente na estética a falta dos dentes da frente, ou os defeitos neles existentes. Conseqüentemente, quando o cliente manifesta interesse pela colocação de aparelho corretivo dos dentes, de jaquetas de porcelana e, modernamente, pelo implante de dentes, está em busca de um resultado, não lhe bastando mera obrigação de meio. Tenha-se, ainda, em conta que o menor defeito no trabalho, além de ser logo por todos percebido, acarreta intoleráveis incômodos ao cliente. Haverá, sem dúvida, como observa Silvio Rodrigues, inúmeros casos intermediários em que a preocupação estética e a de cura se encontram de tal modo entrelaçadas que o exame do caso concreto é que dirá se houve ou não desempenho profissional adequado”. Conforme o entendimento doutrinário a respeito do tema, portanto, a obrigação assumida pelo cirurgião dentista, em regra, é de resultado, sendo a responsabilidade subjetiva, com culpa presumida. Ou seja, é do profissional o ônus da prova no sentido de que não agiu com culpa em qualquer das modalidades: negligência, imprudência ou imperícia. Relativamente à clínica odontológica, esta responde independentemente de culpa pelo serviço defeituoso prestado ao consumidor, na qualidade de prestadora de serviços, incidindo a responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor in verbis: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8ª edição, São Paulo: Ed. Atlas, 2008, p. 388/389. Sobre o tema, Sergio Cavalieri Filho2 diz: “Os estabelecimentos hospitalares são fornecedores de serviços, e, como tais, respondem objetivamente pelos danos causados aos seus pacientes”. [...] É o que o Código chama de fato do serviço, entendendo-se como tal o acontecimento externo, ocorrido no mundo físico, que causa danos materiais ou morais ao consumidor, mas decorrente de um defeito do serviço. Essa responsabilidade, como se constata do próprio texto legal, tem por fundamento ou fato gerador o defeito do serviço, que, fornecido ao mercado, vem a dar causa a um acidente de consumo. ‘O serviço é defeituoso, diz o § 1º do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais o modo do seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido’. Trata-se, como se vê, de uma garantia de que o serviço será fornecido ao consumidor sem defeito, de sorte que, ocorrido o acidente de consumo, não se discute culpa; o fornecedor responde por ele simplesmente porque lançou no mercado um serviço com defeito. E mais, será absolutamente irrelevante saber se o fornecedor tinha ou não conhecimento do defeito, bem como se esse defeito era previsível ou evitável. Em face do fato do serviço, o defeito é presumido porque o Código diz – art. 14, §3º, I – que o fornecedor só excluirá a sua responsabilidade se provar – ônus seu – que o defeito inexiste, vale dizer, que o acidente não teve por causa um defeito do serviço”. A responsabilidade é afastada, contudo, quando comprovada a inexistência de defeito ou a culpa exclusiva do consumidor, ou de terceiro, conforme dispõe o § 3º do art. 14 do CDC. Ainda, cumpre ressaltar que a responsabilidade objetiva não dispensa a demonstração do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o evento danoso, a ensejar o reconhecimento do dever de indenizar. Nesse passo, necessária a comprovação do dano e do nexo causal, conforme as regras de distribuição do ônus da prova do art. 373 do Código de Processo Civil. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. SUBCLASSE RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO. PERFURAÇÃO NA REGIÃO DA FURCA. EXTRAÇÃO DO DENTE E COLOCAÇÃO DE IMPLANTE. FALHA IMPUTADA À RÉ SUFICIENTEMENTE DEMONSTRADA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Dentre os pressupostos/requisitos/elementos da responsabilidade civil, como se sabe, constam a conduta (comissiva ou omissiva) de alguém, um dano, um nexo de causalidade entre um e outro, além do nexo de imputação (que será a culpa, em se tratando de responsabilidade subjetiva, ou o risco ou a idéia de garantia, quando se tratar de responsabilidade objetiva). Tratando-se de alegação de defeito na prestação de serviço disponibilizado no mercado de consumo, por clínica odontológica, a responsabilidade civil é objetiva (CDC, art. 14, caput), competindo ao fornecedor provar a ocorrência de alguma causa excludente dessa responsabilidade. 2. De toda sorte, ainda que objetiva a responsabilidade do fornecedor de serviços oferecidos no mercado de consumo, de forma empresarial, fato é que tal responsabilidade, no caso, é transubjetiva, na conhecida expressão 2 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8ª edição, São Paulo: Ed. Atlas, 2008, p. 382/383. de Pontes de Miranda. Isto porque, para que automaticamente surja a responsabilidade da empresa prestadora de serviços, deve estar evidenciada a responsabilidade do empregado ou preposto - no caso, do dentista (CDC, art. 14, §4°). Afirmada a responsabilidade do profissional liberal, que é subjetiva, surgirá automaticamente a responsabilidade do seu empregador ou preponente. Afastada aquela, afasta-se também esta, salvo se houver outro fundamento autônomo para sua responsabilização. 3. No caso, com ponderação das dificuldades probatórias inerentes à espécie (redução do módulo de prova em face das circunstâncias especiais do fato lesivo), tenho que o conjunto probatório, dotado de uma seqüência de fatos coerentes entre si, é satisfatoriamente convincente no tocante à responsabilidade da ré pela perfuração realizada em dente da autora, que resultou na extração do mesmo e na colocação de um implante. 4. Danos morais puros configurados, pois inegável o perturbação ocasionada pela dor de dente, a qual defluiu para necessidade de se submeter a desconfortável procedimento de extração dentária e colocação de implante, cujo resultado gera notável desconforto, passível de ser recompensado. 5. Danos materiais igualmente reconhecidos, devendo a ré restituir à autora o valor pago pelo serviço mal prestado e ressarcir as despesas decorrentes da falha apurada, compensando-se tais quantias com aquelas efetivamente devidas pela autora pelo tratamento de outro dente. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70066922758,Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 16/12/2015) APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRATAMENTO ORTODÔNTICO. SUPOSTA INEFICÁCIA DO SERVIÇO PRESTADO. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA CLÍNICA DEMANDADA. Cediço que a clínica requerida, na qualidade de prestadora de serviços, responde independentemente de culpa pelo serviço defeituoso prestado ou posto à disposição do consumidor, o que não dispensa a demonstração do nexo de causalidade entre o tratamento dispensado e o dano reclamado. Responsabilidade objetiva proclamada no art. 14 do CDC. DA INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. Inexistindo nos autos qualquer elemento dando conta de eventual conduta culposa do dentista vinculado a clinica corré, no tratamento ortodôntico dispensado à requerente, tendo esta optado por continuar o serviço como outro profissional, o que, inclusive, inviabilizou a realização de prova pericial, deve ser mantido o juízo de improcedência prolatado. Ausência de demonstração do nexo causal entre os danos descritos na exordial e serviço prestado pela parte demandante. Inteligência do artigo 333, I, do CPC. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70067216168, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 17/12/2015) APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAL. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE ORTODONTIA. COLOCAÇÃO DE APARELHOS DENTÁRIOS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PROVA PERICIAL QUE NÃO AFASTOU O DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. CONCLUSÕES PERICIAIS COMPREENDIDAS À LUZ DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. DEVER DE INDENIZAR RECONHECIDO. DANO MORAL. RAZÕES DISSOCIADAS. RECURSO NÃO CONHECIDO NO PONTO. DANOS MATERIAIS. RESSARCIMENTO DAS DESPESAS DEVIDAMENTE COMPROVADAS. PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença de improcedência em ação de reparação de danos materiais e extrapatrimoniais envolvendo suposto defeito na prestação de tratamento odontológico. DANO MORAL - Insurgência inserta na apelação da autora quanto à majoração do valor arbitrado a título de dano moral encontra-se dissociada da sentença profligada, considerando que a sentença foi de improcedência. De acordo com o princípio da congruência recursal, o conteúdo do recurso deve estar adstrito à decisão impugnada, não se devendo requerer pretensão recursal desconexa. Recurso não conhecido no ponto. DANOS MATERIAIS - A responsabilidade da clínica odontológica por defeito na prestação do serviço é objetiva, a qual resta afastada em caso de comprovação de que o defeito inexiste ou decorre de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, nos termos do art. 14, caput e §3º do Código de Defesa do Consumidor. "In casu", a perícia não afastou o defeito na prestação do serviço referente às lesões descritas nos dentes número 21 e 25. Ademais, o "expert" informou que o desgaste ocorreu em decorrência do uso do aparelho ortodôntico. Assim, as conclusões da perícia devem ser compreendidas à luz da inversão do ônus da prova, prevista no inciso VIII do art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, exsurgindo-se o dever de indenizar. Por outro lado, tratando-se de dano material, a procedência do pedido depende da comprovação da efetiva diminuição patrimonial de quem se diz lesado, razão pela qual a condenação resta limitada ao valor de R$ 1.200,00, conforme comprovantes juntados às fls. 32/38 e 43/45. APELAÇÃO CONHECIDA EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70053317053, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio José Costa da Silva Tavares, Julgado em 19/11/2015) APELAÇÕES CÍVEIS. PRINCIPAL E ADESIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. CLÍNICA ODONTOLÓGICA. IMPLANTE DE COROA DENTÁRIA. FRATURA DA PRÓTESE CERÂMICA POUCOS MESES DEPOIS DE CONCLUÍDO O TRATAMENTO. NECESSIDADE DE REFAZIMENTO. DEFEITO NO SERVIÇO CARACTERIZADO. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO PRESTADOR DO SERVIÇO. ART. 14 DO CDC. DEVER DE INDENIZAR. A responsabilidade civil das clínicas no contrato de prestação de serviços odontológicos é objetiva, segundo o "caput" do art. 14 do CDC, enquanto a responsabilidade do profissional dentista é subjetiva, nos termos do § 4º do art. 14 do CDC. A obrigação assumida pela clínica odontológica é de resultado, face a natureza do serviço prestado (implante de prótese dentária de porcelana). Comprovada falha na prestação do serviço odontológico. Fratura da prótese dentária poucos meses depois do implante. Circunstância inusual ou evento extraordinário. Ausência de justificativa convincente. Laudo pericial revelador da necessidade de refazer o serviço. Do resultado insatisfatório do procedimento decorre o dever de reparar os danos. DANOS MORAIS IN RE IPSA. Dano moral "in re ipsa", dispensando a prova do efetivo prejuízo em face do evento danoso. Presumível o desgosto da paciente ao deparar com a falta de resolutividade de tratamento dentário que se prolonga no tempo. ARBITRAMENTO DO "QUANTUM" INDENIZATÓRIO. VALOR MAJORADO. Montante da indenização majorado em atenção aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade, bem assim às peculiaridades do caso concreto. APELO PRINCIPAL DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70061989422, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 26/08/2015) No caso concreto, da análise da prova produzida é possível concluir pela existência do dever de indenizar do réu. Com efeito, o laudo pericial das fls. 191/95 apontou que “a ré ao realizar um procedimento de remoção de bloco ósseo que tinha como área doadora o ramo ascendente direito da mandíbula da autora, lesou de forma permanente o Nervo Alveolar Inferior (vide laudo anexo e tomografia depositada em Cartório) por meio de uma Neurotmese* que determina uma sequela caracterizada pela presença de paretesia** que a demandante portará pelo resto da vida”. Dito isso, tenho que a matéria em discussão foi examinada com acuidade pelo julgador a quo, conferindo aos fatos adequada aplicação do direito, razão pela qual, a fim de evitar desnecessária tautologia, adoto, como fundamentos de decidir, na parte que transcrevo: O cerne da questão é a verificação da ocorrência de fato do serviço, na realização dos procedimentos odontológicos. Conforme art. 14 do CDC. Assim caberia ao fornecedor conforme § 3º, do art. 14, do CDC, provar que tendo prestado o serviço o defeito inexiste; a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Porém , verifico que a ré não se desincumbiu do ônus que lhe cabia. Não há nenhum elemento de prova no sentido de que a culpa é exclusiva do consumidor. Por outro lado há prova que houve defeito na prestação do serviço. O laudo pericial foi claro quando concluiu que houve erro no procedimento adotado, bem como que o dano poderia ter sido evitado caso o procedimento adotado fosse o correto. Concluiu, ainda, que a lesão mostra-se irreversível, tendo a autora que suportar a dor por toda a vida. Sendo evidente a ocorrência de dano material decorrente da necessidade de consertos e refazimentos dos serviços prestados. Com fundamento no art. 14 do CDC a ré deve reparar o dano causado à consumidora ressarcindo os valores gastos referente aos procedimentos iniciais de refazimento do serviço e demais valores necessários a amenizar o problema. A ser verificado em liquidação de sentença. Estão presentes nos autos os elementos ensejadores da indenização por dano moral, quais sejam, o ato ilícito do réu diante do dano causado à autora; o dano sofrido, que nesse caso é inerente a necessidade de passar por vários procedimentos odontológicos bem com a dor ocasionada pela debilitação de sua saúde dentária pelo resto da vida, e o nexo causal entre o ato e o dano experimentado. Logo, não há como negar o direitoda autora em indenização pecuniária pelos constrangimentos causados pela atitude da demandada. Para arbitrar o dano moral é necessário considerar alguns vetores, tais como: a) a situação econômica do autor e da ré; b) o grau de culpa da ré e se a vítima colaborou para o evento danoso; e, c) a extensão do dano. Nessa senda, para arbitrar o valor da indenização é oportuno visualizar proporcionalidade econômica da pretensão, devendo a indenização obedecer aos critérios de razoabilidade, atingindo função reparatória e punitiva, considerando os vetores supramencionados. Para que não ocorram novos ilícitos por parte dos demandados, sem ensejar enriquecimento injustificado à autora, vislumbrando o grau de culpa, fica arbitrado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a indenização para a demandante. Acresço, por fim, que não há nada nos autos que retire a credibilidade do laudo pericial confeccionado pelo perito cirurgião dentista nomeado pelo juízo, Dr. Benjamin Heimberg Filho (CRO 5509), que respondeu a todos os quesitos formulados pelas partes, esclarecendo toda a situação da saúde bucal da autora e do trabalho ortodôntico realizado junto ao réu. No que tange ao arbitramento do valor a ser fixado a título de dano moral, tem-se que a indenização deve ser proporcional ao dano sofrido, devendo ser o suficiente para reparar o dano, conforme a sua extensão. De acordo com Sérgio Cavalieri Filho3: 3 Cavalieri Filho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 91-92. “Uma das objeções que se fazia à reparabilidade do dano moral era a dificuldade para se apurar o valor desse dano, ou seja, para quantificá-lo. A dificuldade, na verdade, era menor do que se dizia, porquanto em inúmeros casos a lei manda que se recorra ao arbitramento (Código Civil de 1916, art. 1.536, §1º; arts. 950, parágrafo único, e 953, parágrafo único, do Código Civil de 2002). E tal é o caso do dano moral. Não há, realmente, outro meio mais eficiente para se fixar o dano moral a não ser pelo arbitramento judicial. Cabe ao juiz, de acordo com o seu prudente arbítrio, atentando para a repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor, estimar uma quantia a título de reparação pelo dano moral. (...) Creio que na fixação do quantum debeatur da indenização, mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral, deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano não pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para reparar o dano, o mais completamente possível, e nada mais. Qualquer quantia a maior importará enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano. Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é sensato, comedido, moderado; que guarda uma certa proporcionalidade. A razoabilidade é o critério que permite cotejar meios e fins, causas e conseqüências, de modo a aferir a lógica da decisão. Para que a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram; que os meios escolhidos sejam compatíveis com os fins visados; que a sanção seja proporcional ao dano. Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes”. Assim, levando-se em consideração a ideia de reparação do dano para a vítima e, de outro lado, de desestímulo do ato reprovável para o ofensor, considerando as condições econômicas das partes, somado ao fato de que a lesão diagnosticada na autora é permanente e irreversível, considero justo e razoável o quantum fixado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sopesadas as características compensatória, pedagógica e punitiva da indenização. Finalmente, a despeito do termo inicial dos juros moratórios, descabida a pretensão autoral visando à aplicação da Súmula 54 do STJ – que estabelece que os juros incidem a contar do evento danoso - porquanto adstrita às hipóteses de responsabilidade civil extracontratual, o que não se verifica no presente caso. Destarte, a manutenção da sentença de procedência é medida que se impõe, não comportando acolhimento quaisquer das insurgências devolvidas nos recursos. Ante o exposto, voto por negar provimento aos recursos e pelo não conhecimento do agravo retido. Deixo de fixar honorários sucumbenciasi recursais, porquanto já estabelecidos na sentença no percentual máximo. DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. CARLOS EDUARDO RICHINITTI - De acordo com o(a) Relator(a). DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY - Presidente - Apelação Cível nº 70073932402, Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, DESPROVERAM OS RECURSOS E NÃO CONHECERAM DO AGRAVO RETIDO." Julgador(a) de 1º Grau: PAULO DE TARSO CARPENA LOPES
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