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Como transformar a fazenda em um negócio mais produtivo, rentável e de valor para as pessoas. PAULO FERNANDO MACHADO Como transformar a fazenda em um negócio mais produtivo, rentável e de valor para as pessoas. PAULO FERNANDO MACHADO Piracicaba (SP) 2017 M149s Machado, Paulo Fernando Sucesso no leite : como transformar a fazenda em um negócio mais produtivo, rentável e de valor para as pessoas / Paulo F. Machado. – Piracicaba (SP) : Clínica do Leite, 2017. 192 p. : il. ; grafs. , tabs. Inclui referências bibliográficas ISBN 978-85-906518-3-3 1. Leite – Produção. 2. Fazendas – Administração. 3. Sucesso nos negócios. 4. Administração rural. I. Título. CDU: 631.1 Expediente. CONSELHO EDITORIAL Augusto Cesar Lima da Silva Henrique Zaparoli Marques Sandro Viechnieski PRODUÇÃO Relata DIREÇÃO: Débora Horn EDIÇÃO: Débora Horn e Bruna de Paula EDIÇÃO DE ARTE: João Henrique Moço COORDENAÇÃO DE PROJETO: Vanessa Colla REVISÃO: Sérgio Ribeiro GESTÃO OPERACIONAL: Márcio Hangai PROJETO GRÁFICO: Lud/co. IMAGENS: Acervo Clínica do Leite, Cristiano Bueno, Raul Voorsluys, Shutterstock, Gustavo Gonçalves (Assoc. Bras. dos Criadores de Girolando - imagem da página 120). Apresentação. Segmento de extrema importância para o agronegócio brasileiro, tanto pelo volume de negócios quanto pelo número de empregos que gera, a pecuária de leite exige dedicação intensa das pessoas envolvidas na atividade. Talvez poucos consumido- res saibam quanto trabalho é necessário, de domingo a domingo, para que nossa sociedade tenha leite e derivados à disposição. Da fazenda à indústria, uma enorme corrente de pessoas, empresas e instituições se empenha, todos os dias, para oferecer um produto de qualidade. Ao longo das últimas décadas, a regulamentação e a pressão do mercado impulsio- naram a evolução dos processos produtivos, a fim de garantir segurança alimentar e também competitividade. Assim, avançamos em sanidade, nutrição, reprodução, manejo e tantos outros aspectos técnicos necessários à produção. Apesar de todo esse avanço, ainda encontramos produtores e colaboradores de fazendas insatisfeitos. Baixa rentabilidade, relacionamentos conflituosos e dificuldade de prever o futuro da atividade estão entre as queixas mais comuns dessas pessoas. No passado, eu fui uma delas. Em minhas experiências como consultor, gerente e produtor de fazendas de leite, enfrentei as mesmas dúvidas e desafios. Intrigado – e já atuando como pesquisador e professor universitário –, passei a buscar respostas para uma pergunta que me acompanhava há anos: se gostamos tanto do que fazemos, por que não conseguimos ter mais sucesso e, assim, nos sentirmos realmente felizes com nosso trabalho? Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 3 Guia de Leitura. A resposta não tardou: falta gestão adequada. Ao observar a rotina das fazendas e os mecanismos adotados para administrá-las, era nítida a carência de um modelo capaz de organizar o fluxo de trabalho, engajar as pessoas e criar condições para que os resultados do negócio melhorassem. Do desejo de reverter esse cenário, aliado à paixão por estudar, nasceu o Sistema MDA, foco deste livro. A sigla vem de Master Dairy Administration, expressão em inglês que escolhemos para nomear um conjunto de conceitos, ferramentas e práticas de gestão aplicáveis a fazendas produtoras de leite. E esse tem sido o grande diferencial do MDA: fazer com que modelos de gestão bem-sucedidos, adotados por negócios de diferentes portes e setores no mundo todo, funcionem também na fazenda. À medida que passamos a compartilhar essa proposta, por meio de treinamentos oferecidos a produtores e outros profissionais da área, a troca de experiências nos ajudou a lapidar conceitos, selecionar ferramentas eficazes e adaptar o Sistema MDA à realidade das fazendas. Hoje vemos esse modelo se alastrar por propriedades de diferentes regiões do Brasil e, aos poucos, transformar a atividade em um negócio mais produtivo, rentável e de valor para as pessoas. Com enorme alegria, posso afirmar que o Sistema MDA deixou de ser a criação de um homem só. Na trajetória que nos trouxe a esta publicação, muitas pessoas e or- ganizações contribuíram de forma decisiva para que o modelo evoluísse e pudesse ser disseminado. A todos, minha gratidão e também uma provocação: que este livro seja só o início! Sigamos em busca de um agronegócio cada vez melhor. É possível. E juntos o faremos. Paulo Fernando Machado A fim de facilitar a compreensão do conteúdo, este livro foi dividido em quatro seções temáticas, identificadas por cores distintas e compostas por capítulos diversos (veja o Sumário, na página 6). Ao longo dos capítulos, boxes indicam oportunidades de reflexão, exercícios e acesso a conteúdo complementar, identificados por ícones específicos: A partir da Seção 2, um infográfico no rodapé da página indicará sempre que você estiver avançando para um novo passo na Jornada de Implantação do MDA, como no exemplo abaixo: VOCÊ ESTÁ AQUI Missão, Visão e Valores SUCESSO Dúvidas, comentários e sugestões sobre o livro podem ser encaminhados para a equipe da Clínica do Leite pelo e-mail: comunicacao@clinicadoleite.com.br. Boa leitura! Convite à reflexão Proposta de exercício/ação, para fixar conhecimento Indicação de conteúdo complementar e/ou ferramentas disponíveis na plataforma do Sistema MDA na Web: www.sucessonoleite.com.br 4 54 5 mailto:comunicacão@clinicadoleite.com.br Sumário. Cap. 1 Afinal, o que é sucesso? 12 Cap. 2 O sucesso na bovinocultura de leite 16 Cap. 3 O Sistema MDA 24 Cap. 4 Jeito de ser 30 Cap. 5 Sonhe grande: visão e propósito 54 Cap. 6 O projeto de implantação do Sistema MDA 58 Cap. 7 Entenda o seu negócio 68 Cap. 8 Defina e prepare o território 80 Cap. 9 Dê significado ao trabalho 90 Cap. 10 Engaje e dê fluxo à rotina 114 Cap. 11 Organize as pessoas 128 Cap. 12 Identifique e corrija 140 Cap. 13 Converse com os indicadores 150 Cap. 14 Padronize processos e capacite as pessoas 156 Cap. 15 Planeje e inove 172 Cap. 16 Agora é com você 186 01. 03. 02. 04. O sucesso como destino Solução de problemas O começo da jornada Olhar no futuro Referências bibliográficas 188 Agradecimentos 190 Prefácio. Dar início à transformação de um negócio é desafiador. Além de muita vontade, disciplina e trabalho duro, é fundamental ter um método, um modelo capaz de guiar o gestor e sua equipe em direção às mudanças e às melhorias que precisam acontecer. Por isso, é com enorme satisfação que recebemos esta obra, dedicada a introduzir o Sistema MDA, um modelo de gestão aplicado à realidade das fazendas brasileiras. Embora o livro aprofunde conceitos, ferramentas e práticas gerenciais que compõem o Sistema, podemos considerá-lo introdutório porque, quando se trata do MDA, o con- teúdo precisa sair do papel e tomar vida, no dia a dia da fazenda. Foi assim na Sekita Agronegócios, onde, a partir de um treinamento realizado por alguns integrantes de nossa equipe, entendemos que havíamos encontrado o caminho para dar um salto de qualidade em nossa gestão. Os resultados não demoraram. Iniciamos na pecuária de leite, naquela época uma nova área de produção, e seguimos a jornada proposta nas próximas páginas: escolha do território, implantação do 5S, controle de informações, registro de anomalias, organização das pessoas, solução de problemas, planejamento e gestão visual. Enfim, todas as etapas do Sistema MDA foram sendo cumpridas, permeadas pelo seu maior diferencial: o engajamento. Aos poucos, vimos nossas equipes se transformarem. Nos diversos níveis. Dos gestores aos operadores, todos passaram a ter maior clareza sobre seu papel e a importância de cada tarefa executada para garantir não apenas o fluxo de trabalho, mas também o crescimento e o futurodo negócio. Em um curto espaço de tempo, a aplicação do MDA fez da pecuária leiteira da Sekita um negócio forte, organizado, com equipes altamente eficazes e comprometidas. Com isso, o modelo despontou como o caminho a ser trilhado pela gestão em outras áre- as da empresa – inclusive a agrícola, onde iniciamos recentemente a implantação. O avanço é inegável, mas passa por mudanças estruturais e culturais significativas. Alte- ramos o sistema de remuneração dos colaboradores, fortalecemos lideranças para que compreendessem e cumprissem sua função, instituímos um vigoroso programa de capa- citação e nos empenhamos em criar um ambiente de trabalho acolhedor e transparente. Esses são apenas alguns exemplos das transformações que o Sistema MDA gera. Mas há outras, mais profundas, vivenciadas por cada pessoa envolvida. Como mostra a primeira seção deste livro, a definição de sucesso depende dos sonhos de cada indivíduo. Somente quando entendemos o propósito do trabalho em nossas vidas e o que desejamos, de fato, que nossas atividades produzam como resultado, temos mais certeza quanto ao rumo a tomar. Na Sekita, temos conseguido fazer com que o sonho, manifestado em nossas missão e visão de negócio, seja compartilhado pelas pessoas que dedicam seus dias à empresa. Sem esse sonho comum, não seria possível avançar. Acreditamos que assim também acontecerá com cada negócio que buscar implantar o Sistema MDA, seguindo os passos detalhados a partir da seção 2 deste livro. Eles vão da mais simples organização dos espaços de trabalho até o planejamento estratégico, passando por práticas cotidianas, como as reuniões, o acompanhamento de indica- dores, a perambulação e a eliminação de desperdícios. Tudo isso só faz sentido para quem decidiu tomar as rédeas da situação e definir a própria trajetória, olhando, com consciência, para aquilo que pode ser mudado da porteira para dentro. É esse o apelo do professor Paulo Machado, que há tantos anos se dedica a ajudar pessoas, empresas e o setor como um todo a evoluir. Este livro representa mais uma de suas contribuições à sociedade, sempre amparadas pelo conhecimento, pela experiência e, claro, pela vocação para ensinar. Em nome de algumas das pessoas de nossa equipe, com quem compartilhei a leitura antecipada dos capítulos para a produção deste prefácio, afirmo sem medo: leia o livro e coloque a mão na massa, que o sucesso é garantido! Makoto Edison Sekita, sócio-fundador da Sekita Agronegócios 8 9 01. O sucesso como destino “Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem.” Peter Drucker, professor, escritor e consultor administrativo, considerado o pai da Administração moderna. 10 Seção 01 – O sucesso como destino Capítulo 1 Afinal, o que é sucesso? Embora seja um desejo compartilhado pela maioria das pessoas, o sucesso representa uma condição que só pode ser constatada a partir de parâmetros muito pessoais. Para o executivo de uma grande empresa, por exemplo, pode ser chegar à presidência e conduzir o negócio a lucros crescentes. Já para um universitário, cursar a faculdade dos sonhos e obter bom desempenho nos estudos, com perspectivas interessantes de carreira, também representa sucesso. A definição, portanto, varia e vai muito além do campo profissional – para mães e pais, por exemplo, pode não haver missão mais bem-sucedida na vida do que ver os filhos crescerem saudáveis e felizes. Assim, o primeiro passo para quem almeja o sucesso talvez seja ter clareza quanto ao que isso representa na própria vida, considerando todos os aspectos que a envol- vem – e não apenas o trabalho ou a acumulação de bens. Voltemos ao exemplo do executivo: quantas histórias você já ouviu sobre grandes empresários que deixaram tudo para trás e optaram por uma vida mais simples, na praia ou no campo, mais perto da família e dos amigos? Essas histórias são uma prova de que o sucesso não se baseia apenas na condição financeira. Então, fica a pergunta: o que é sucesso para você, produtor de leite? Somente a resposta a essa questão poderá indicar o caminho para chegar lá. E nesse processo será possível perceber que suas escolhas pessoais ajudam a definir, também, o quão bem-sucedido será o seu trabalho. Isso significa que somente após refletir sobre o seu conceito próprio de sucesso você será capaz de compreender se o resultado da fazenda, por exemplo, está sendo positivo – orientado a uma trajetória bem-sucedida – ou não. 12 Capítulo 1 – Afinal, o que é sucesso?Seção 01 – O sucesso como destino Por essa razão, o Sistema MDA tem o sucesso como foco, com o objetivo de contri- buir para que sua fazenda evolua em direção àquilo que é importante para você. Para ajudar nessa reflexão, vale destacar o trabalho desenvolvido por dois pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, chamados Laura Nash e Howard Stevenson. Eles investigaram, por meio de estudos bastante aprofundados1, as ca- racterísticas comuns a pessoas de sucesso e identificaram quatro fundamentais: realização, reconhecimento, legado e felicidade. CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS DE SUCESSO Realização Executam atividades orientadas a resultados e criam algo de valor – para si mesmas e para outras pessoas. Reconhecimento Têm o trabalho reconhecido por pessoas ou instituições importantes para elas. Legado Ajudam a construir algo – uma família, um negócio, um processo – que seguirá vivo no futuro, mesmo que elas já não estejam mais presentes. Felicidade Sentem-se felizes em fazer o que fazem, mantendo a paixão e o entusiasmo pelo trabalho. De acordo com os pesquisadores, o sucesso é real quando reunimos essas quatro características ao mesmo tempo – não seria possível, assim, ter uma primeiro e de- pois conquistar a outra. Todos esses fatores estão interligados: o legado não existe sem realização, o reconhecimento é importante para a felicidade e assim por diante. Na pecuária leiteira, ter clareza quanto a isso é essencial. Quem disse que é preciso produzir 10 mil litros ao dia para ter um bom negócio? Sua fazenda pode produzir um volume muito menor e ser um tremendo sucesso – oferecendo um produto de qualida- de, tendo clientes satisfeitos, proprietários e empregados felizes. Então não esqueça: a régua para medir o sucesso – do negócio e da vida – é desenhada por você. Para ajudar nesse desenho, apresentaremos, nos próximos capítulos, os aspectos que o Sistema MDA considera fundamentais ao sucesso de uma empresa produtora de leite, como a sua fazenda. 1 Os estudos de Nash e Stevenson foram relatados no livro “Just Enough: Tools for Creating Success in Your Work and Life”. Não esqueça: a régua para medir o sucesso – do negócio e da vida – é desenhada por você. 14 15 Capítulo 2 – O sucesso na bovinocultura de leiteSeção 01 – O sucesso como destino O sucesso na bovinocultura de leite Depois de definir o que significa, para você, ser bem-sucedido, resta a pergunta: o que determina o sucesso na pecuária leiteira? De modo geral, podemos considerar que a resposta a essa questão parte do equilíbrio entre quatro pilares, apresentados no infográfico da página ao lado. Não por acaso, esses conceitos se assemelham muito às características de pessoas bem-sucedidas, identificadas por Nash e Stevenson e abordadas no capítulo ante- rior (veja página 14). Da mesma forma, funcionam de maneira sistêmica – ou seja, o sucesso é sustentado por esses pilares de forma equilibrada e interligada, como as colunas que suportam uma edificação. Se um dos pilares entra em desequilíbrio, toda a estrutura fica comprometida. PILARES DO SUCESSO EM EMPRESAS PRODUTORAS DE LEITE Trabalho prazeroso O proprietário e seus empregados falam com orgulho da fazenda. O proprietário, muitas vezes, dedica tempo extra para gerenciar o negócio, em detrimento de atividades de lazer, mas sente satisfação nisso. Crescimento com qualidade Estão sempre crescendo graças à melhoria de produtividadee da qualidade de seus produtos. Como consequência, conseguem boa remuneração do capital investido. Continuidade Possuem familiares do proprietário ou outras pessoas interessadas em seguir com o negócio. Os filhos do dono, quando é o caso, trabalham harmonicamente com os pais. Reconhecimento São sempre lembradas como fazendas-modelo, despertando, em fornecedores e técnicos, o desejo de trabalhar no local. Geralmente, há fila de pessoas interessadas em ser empregadas na fazenda. Além disso, as indústrias disputam a compra do leite lá produzido. Ter um negócio bem-sucedido, no entanto, vai muito além do quanto sua fazenda é capaz de gerar em termos de volume e receita. Também passa pelo legado que esse negócio deixará para a sociedade, pelo reconhecimento ao trabalho desenvolvido e pela satisfação que essa atividade produz. Mas como chegar lá? Para encontrar o caminho, precisamos, primeiro, saber exatamente onde estamos e também os motivos que nos levam a esse lugar. Capítulo 2 16 17 Capítulo 2 – O sucesso na bovinocultura de leiteSeção 01 – O sucesso como destino Onde você está? E por quê? Quando colocamos uma lupa sobre a realidade das fazendas produtoras de leite no Brasil, fica difícil associá-las aos atributos de sucesso de uma fazenda, que listamos há pouco. Isso por que, nas últimas décadas, apesar do avanço intenso em áreas como reprodução, nutrição, genética e bem-estar animal, os resultados das fazendas brasileiras, ao contrário da expectativa, não avançaram na mesma velocidade. Após mais de 40 anos trabalhando na área e estudando fazendas brasileiras produtoras de leite, observamos que o desempenho do negócio não está relacionado à falta de conhecimento tecnológico, mas a outras razões, descritas a seguir. 1) Falta de clareza Quando o gestor não sabe ao certo qual é o seu papel no negócio, quais as funções dos empregados, as responsabilidades dos envolvidos e os resultados esperados de cada atividade que compõe o fluxo de produção. Essa dificuldade está intimamente relacionada a conceitos que abordaremos em profundidade mais adiante, como pro- pósito, missão e visão. Ter clareza sobre o negócio significa saber quem somos, qual é a nossa situação atual e a situação de quem nos cerca e, além disso, ter uma projeção do lugar que queremos ocupar no futuro. Se não soubermos qual é a nossa razão de ser, nem para onde queremos ir, fica difícil escolher o melhor caminho. 2) Falta de foco Sabemos que a fazenda é um ambiente muito complexo, onde são realizadas tarefas distintas e, muitas vezes, executadas em paralelo. Embora a vontade de resolver tudo seja grande, não é possível atacar todas as frentes de uma só vez. É importante manter o foco na priorização dos problemas mais críticos, ou não teremos solução para nenhum deles. Não há como ser multitarefas e, ao mesmo tempo, fazer tudo bem feito. Se soubermos onde estamos, fica mais fácil projetar o futuro. Conforto Nutrição Transição Reprodução Sanidade Criação Qualidade Desorganização 18 19 Capítulo 2 – O sucesso na bovinocultura de leiteSeção 01 – O sucesso como destino “Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir.” Steve Jobs, fundador da Apple. 3) Falta de prática Imagine um medalhista de ouro na ginástica olímpica. Ele não chegou lá sem esforço, dedicação e, principalmente, regularidade. Certamente, dedicou horas da vida a trei- nos, sofreu alguns tombos e executou à exaustão um mesmo movimento. A prática é imprescindível para que alcancemos a excelência na atividade à qual nos dedicamos – seja ela uma modalidade esportiva ou a produção de leite. Essa persistência, aliada à orientação de uma outra pessoa, que indique se o que estamos fazendo está certo, é fundamental para que nossos objetivos sejam alcançados. 4) Falta de engajamento Uma andorinha só não faz verão – assim como uma fazenda necessita do esforço conjunto de muitas pessoas para que obtenha sucesso. Por isso, é fundamental que criemos as condições ideais para que os empregados se engajem em torno dos ob- jetivos que traçamos. Se na sua fazenda parece que os empregados não se importam com o resultado do negócio, o caminho passa por melhorar essas condições. Mais adiante, vamos compreender melhor como empreender essa difícil tarefa, mas des- tacamos, de antemão, dois pontos importantes: o dinheiro não gera a motivação e o problema não está nos empregados. 21 Capítulo 2 – O sucesso na bovinocultura de leiteSeção 01 – O sucesso como destino CONHECIMENTO GERENCIAL Organização do fluxo de trabalho e busca pela melhoria contínua do negócio. Como superar esses desafios É preciso ter conhecimento técnico, conhecimento sobre gestão e conhecimento sobre pessoas. O gráfico a seguir, adaptado de um modelo proposto pelo professor Vicente Falconi, ilustra os fatores necessários para se chegar ao resultado. No caso de fazendas produtoras de leite, o produtor deve ser o líder do empreendimento, dominando por completo as ferramentas, práticas e princípios gerenciais. Ele não precisa ser especialista em tecnologia – isso ele pode contratar de empresas e pro- fissionais externos (veremos com mais detalhes o papel do produtor e do consultor, por exemplo, na Seção 02). Nos capítulos a seguir, apresentaremos o Sistema MDA, que aborda o conhecimento de pessoas (liderança) e o conhecimento gerencial. Cabe destacar que este livro não é dedicado aos aspectos tecnológicos da pecuária de leite. RESULTADO CONHECIMENTO SOBRE PESSOAS Melhoria do relacionamento com empregados e criação das condições para engajamento. CONHECIMENTO TÉCNICO Saberes e tecnologias aplicados ao negócio. 22 23 Capítulo 3 – O Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino O Sistema MDA O Sistema MDA tem como fundamento a filosofia Lean Management, desenvolvida a partir dos Programas de Qualidade Total iniciados no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, e aplicados na indústria manufatureira. Os trabalhos relativos a essa filosofia foram iniciados pelo professor norte-americano William Edwards Deming e aprimorados ao longo do tempo por diversos outros estudiosos, gerando variações de modelos de gestão, como, por exemplo, o Sistema Toyota de Produção e o Método Shingo2. Com base nesses modelos, o Sistema MDA foi adaptado para aplicação na agrope- cuária, mais especificamente na pecuária de leite. Assim, segue a filosofia Lean, que prega aumentar o desempenho dos negócios a partir da redução de desperdício em todas as áreas (dinheiro, pessoas, tempo e insumos, por exemplo), por meio dos três pilares detalhados na página ao lado. Capítulo 3 2 Tendo o Lean Management como um de seus fundamentos, o Sistema Toyota de Produção foi desenvolvido pela montadora japonesa entre 1948 e 1975, com foco em ampliar a produtividade e reduzir os desperdícios. O Método Shingo, por sua vez, foi desenvolvido pelo engenheiro japonês Shigeo Shingo e é centrado na busca por qualidade e excelência operacional. Cultura Busca criar comportamentos voltados ao atendimento das necessidades dos clientes externos e internos do negócio. Pessoas Empodera as pessoas para que elas possam identificar e resolver problemas e, assim, se engajar no empreendimento, passando a ter o que chamamos de “sentimento de dono”. Liderança Torna o proprietário/ gerente/colaborador um modelo para a equipe, comprometido com a eliminação de desperdícios, o desenvolvimento das pessoas e o acompanhamento próximo das atividades, com objetivos claros e inspiradores. PILARES DO SISTEMA MDA 24 Capítulo 3 – O Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino Dessa forma, o Sistema MDA tem como objetivo melhorar o desempenho das fazen- das produtoras de leite, a fim de que alcancem a máxima produção que seu rebanho, infraestrutura e equipe são capazes de entregar, eliminando desperdícios. Isso envolve três dimensões: 1 Fluxo Trabalhar sem interrupções 2 Melhoria Fazer mais e melhor,com menos 3 Inovação Fazer diferente, para resultados cada vez melhores EXCELÊNCIA NA PRODUÇÃO MODELO DO SISTEMA MDA Como modelo de gestão, o Sistema MDA reúne princípios e práticas, alicerçados em uma visão do negócio orientada a resultados. Tudo isso tem base na cultura da fa- zenda, envolvendo o proprietário e demais pessoas dedicadas ao negócio, conforme demonstramos a seguir. Resultados O que geramos com nosso trabalho Práticas O que fazemos no dia a dia Sistemas Como nos organizamos para chegar lá Visão Onde queremos chegar Proprietário Princípios Gerenciais Operadores Gerente Jeito de ser A cultura e o ambiente que criamos para trabalhar 26 27 Capítulo 3 – O Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino Como demonstra o esquema da página anterior, tudo se inicia com o conhecimento dos Princípios Gerenciais, que são a base para a tomada de qualquer decisão em um negócio. Tais princípios foram delineados há bastante tempo pelo professor William Edwards Deming, na Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, e sua adap- tação às condições da agropecuária brasileira levaram à criação dos Princípios do MDA, apresentados a seguir e detalhados ao longo deste livro. Observe que no centro do modelo do Sistema MDA está o “Jeito de ser”, aspecto fundamental explicado no próximo capítulo. PRINCÍPIOS GERENCIAIS DO SISTEMA MDA Princípios Gerenciais são a base para a tomada de decisão em um negócio. Tenha rotina. Esteja junto das pessoas. Trabalhe com base em fatos e dados. Pense no fim e aja no começo. Crie valor para todos os envolvidos. Padronize os processos. Simplifique ao máximo as atividades. Trabalhe com gestão visual. Faça bem feito da primeira vez. Identifique e resolva problemas rapidamente, com método. 28 29 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Jeito de ser O comportamento e os hábitos do proprietário do negócio determinam seu estilo de liderança. E isso caracteriza o que chamamos de “Jeito de ser” da fazenda, sua cultura. De forma bastante simples, a cultura de um negócio pode ser explicada como “tudo o que acontece nele quando ninguém está olhando”. Assim, o jeito de ser de uma fazenda é um espelho do jeito de ser do dono. Por isso, ele é o principal responsável pelos resultados do negócio. A pesquisadora Jolanda Jansen, da Holanda, avaliou, durante cinco anos, as características da personalidade dos produtores de leite daquele país, relacionando essas características com resultados que expressassem o sucesso do negócio. A conclusão do estudo foi impressionante: 47% da variação de CCS3 entre os tanques analisados estava relacionada ao jeito de ser do produtor. Isso significa que, entre todos os fatores que podem gerar a CCS do Capítulo 4 tanque, a forma de pensar e agir do produtor afetava muito mais a qualidade do leite do que as instalações, os equipamentos, o manejo e o uso de antibióticos, por exemplo. Intrigados com o resultado da pesquisa holandesa, realizamos um trabalho semelhante no Brasil, para verificar se a conclusão se aplicava às condições brasileiras4. Nosso objetivo era descobrir se o comportamento dos produtores locais – considerando que muitos deles não moram nas propriedades – também influenciava diretamente os resultados do negócio. Para isso, avaliamos 78 fazendas que forneciam leite para uma única indústria proces- sadora, de modo que todas se concentravam em uma mesma região e estavam sujeitas à mesma política de remuneração do leite. O resultado desse trabalho foi ainda mais incisivo que o da pesquisa holandesa: observamos que, no Brasil, 62% da variação na CCS se devia ao jeito de ser do produtor e não a diferenças relacionadas ao tamanho da propriedade, ao número de empregados, à escolaridade e ao tempo de casa dos 3 A Contagem de Células Somáticas (CCS) é o principal indicador de mastite subclínica, doença prevalente em rebanhos leiteiros e que influencia a qualidade (e a precificação) do leite. 4 Os resultados da pesquisa foram publicados na dissertação de Mestrado “O homem como fator de risco de mastite”, produzida por Juan Camilo Esguerra Alvarez com orientação do autor. Mais informações nas referências bibliográficas. 30 31 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino “O líder precisa ser a base da pirâmide, focado na solução dos problemas e nas práticas gerenciais.” James C. Hunter, autor do livro “O monge e o executivo”. ordenhadores, à raça dos animais, à produção por vaca, ao tipo de equipamento de ordenha ou mesmo ao sistema de produção (confinado ou pasto). Com base nessas e em outras pesquisas dedicadas ao tema, podemos afirmar com segurança que o jeito de ser dos produtores de leite é o principal responsável pelo sucesso do negócio, independentemente do porte da fazenda. O jeito de ser errado está na raiz do insucesso da maioria das propriedades. Mas qual é o jeito de ser certo? Alguns pesquisadores foram em busca da resposta, em setores diferentes da pecu- ária leiteira. Entre eles estavam Kotter & Heskett5 , que investigaram o tema em 207 indústrias norte-americanas durante 11 anos. Eles selecionaram empresas dentro de uma mesma área de negócios e de porte semelhante e compararam seus resultados agrupando-as pelo que chamaram “Empresas com jeito de ser certo” e “Empresas com jeito de ser errado”. Como resultado, as primeiras tiveram desempenho muito melhor do que as demais, conforme demonstra a tabela a seguir. DESEMPENHO EMPRESARIAL COM BASE NO JEITO DE SER* Empresas com jeito de ser “certo” Empresas com jeito de ser “errado” Receita + 682% + 166% Engajamento dos empregados + 282% + 36% Valor das ações + 901% + 74% Lucro líquido + 756% + 1% * Conforme pesquisa de Kotter e Heskett. Os valores indicam o percentual de crescimento verificado em cada item da tabela. 5 Kotter, J. P., and J. L. Heskett. Corporate Culture and Performance. New York: Free Press, 1992. 33 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Com base nesses resultados, os pesquisadores caracterizaram o “jeito de ser errado” encontrado nas empresas de pior desempenho, destacando: • Arrogância do líder e isolamento nas decisões • Muita política, em vez de tratamento igualitário • Muita ênfase no poder e na hierarquia • Favorecimento de interesses pessoais em vez dos de clientes, empregados e parceiros • Resistência a mudanças Da mesma forma, o “jeito de ser certo”, que marcava as empresas de alto desempenho, tinha como características principais6: • Comprometimento com o negócio • Foco no cliente • Respeito pelos empregados • Empoderamento das pessoas - Sentimento de dono • Simplicidade • Transparência sobre os assuntos do negócio A partir desses estudos e do que observamos nas mais bem-sucedidas fazendas produtoras de leite, definimos o jeito de ser das fazendas que adotam o Sistema MDA: • Foco no cliente: consciência quanto à responsabilidade sobre a entrega e o impacto de cada atividade no negócio. Quando há foco no cliente, uma única vaca com mastite, por exemplo, representa um problema para todos. • Trabalho em equipe: percepção de que o sucesso da fazenda é resultado de uma construção coletiva, ou seja, que o trabalho de todos é importante e contribui para a melhoria contínua do negócio. • Sentimento de dono: compreensão de que, embora haja um (ou mais) proprietário do negócio, todos têm interesse no sucesso da fazenda. Com isso, cada envolvido cuida do negócio como se fosse seu. Para muitos esse jeito de ser significa pensar e agir de forma diferente do que vêm fazendo. Essa é a proposta do Sistema MDA para transformar fazendas produtoras de leite em empresas de sucesso, o que exige grande disposição para mudar. Sem dúvida, a mudança tem que partir do maior interessado em chegar ao sucesso: você. Como gestor do negócio, é sua a responsabilidade de liderar as pessoas rumo a um novo jeito de trabalhar, orientado a resultadose à satisfação de todos os envolvidos. 6 As características expostas pelos pesquisadores no estudo foram adaptadas pelo autor, sem prejuízo ao sentido. 34 35 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Ao assumir o papel de líder desse processo, você se compromete a fazer com que a transformação realmente dê certo. Então, por onde começar? Nossa sugestão: ques- tionando o próprio comportamento. Que tipo de líder você tem sido para sua equipe? A resposta a essa pergunta pode ser a chave para a mudança. Após décadas de convivência com milhares de produtores de leite, alguns muito bem-sucedidos e outros nem tanto, conseguimos identificar cinco características bas- tante relevantes aos produtores de sucesso. Juntas, elas compõem o que chamamos de mentalidade gerencial, que leva ao jeito de ser certo. MENTALIDADE GERENCIAL Empreendedorismo Altruísmo HumildadeServidão Inovação CARACTERÍSTICAS DO PRODUTOR DE SUCESSO Para que fique mais claro, vamos explicar detalhadamente cada uma dessas carac- terísticas que determinam comportamentos gerenciais. • EMPREENDEDORISMO: os produtores de sucesso encaram sua fazenda como uma verdadeira empresa produtora de leite. Agem, assim, como empresários. Se preocupam em gerar emprego e renda, fazer dos fornecedores seus parceiros, contratar as pessoas certas e ajudá-las a crescer com o negócio. Além disso, con- tribuem para tornar suas comunidades lugares melhores para se viver. • ALTRUÍSMO: caracteriza um comportamento em que as ações individuais têm como objetivo o benefício de outros. Produtores altruístas possuem um propósito mais nobre para seu negócio, se orgulham de suas atividades e, assim, conse- guem que seus empregados acordem todos os dias ansiosos para trabalhar, de modo que o dinheiro se torna consequência do perfeito entendimento da razão de ser da fazenda. • HUMILDADE: os produtores humildes não se consideram os donos da verdade – estão sempre dispostos a compartilhar experiências e conhecimento, ouvir e aprender com os outros. Assim, são mais abertos à mudança, não egoístas e me- nos materialistas, respeitam as diferenças e dividem o sucesso com todos os que ajudam a construir bons resultados. • SERVIDÃO: um líder servidor está sempre à disposição para ajudar a equipe. São acessíveis e se preocupam com o bem-estar das pessoas – cuidam, orientam, ensinam e também põem a mão na massa junto com os empregados. • INOVAÇÃO: são incansáveis na busca pela melhoria contínua dos resultados. Não se conformam com desempenho insatisfatório e, a partir de sua inquietação, incentivam novas ideias e soluções. Pensam grande, mas não ficam só no sonho: agem na hora certa e junto às pessoas certas para fazer acontecer. 36 37 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Os produtores que reúnem essas carac- terísticas se tornam verdadeiros líderes e passam a ser referência não apenas para seus empregados, mas também para ou- tras pessoas envolvidas com o negócio. Isso porque agem de forma transparente, responsável e respeitosa com todos. Mas se você acha que não nasceu com todas essas virtudes, não desanime. Diferente- mente do que muitos imaginam, essas características não são um dom ou uma predisposição genética. Pelo contrário: são habilidades que podem ser desen- volvidas, mesmo que, até este momento, ainda não façam parte de sua vida. Para isso, é preciso, primeiro, querer mudar. Obstáculos à mentalidade gerencial Em nossa jornada de implantação do Sistema MDA nas fazendas, percebemos clara- mente algumas barreiras que impedem a mudança de comportamento do produtor e, com isso, a melhoria dos resultados do negócio. Entre esses obstáculos, dois merecem atenção especial: dificuldade de entender as pessoas e falta de tempo. Dificuldade de entender as pessoas O produtor precisa considerar os empregados como parte fundamental do negócio e criar hábitos que demonstrem isso. Quando isso não acontece, as ferramentas de gestão de nada servem. É preciso compreender que, embora não entrem com capital, os funcionários investem no negócio um bem precioso: tempo de vida. Nada Faça um exame crítico de seus comporta- mentos e busque identificar os pontos fortes e fracos relacionados a cada característica. Pergunte a si mesmo: como posso ser mais altruísta, humilde, servidor, empreendedor e inovador? A partir dessa análise, procure mu- dar um comportamento por vez. Aos poucos, você verá o poder de seus (novos) hábitos e atitudes na transformação da fazenda. “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einsten, cientista alemão. 39 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino mais justo, portanto, que sejam tratados como “sócios” do empreendimento. Isso envolve engajá-los no cotidiano da ope- ração, permitindo que criem soluções, manifestem opiniões e estejam sempre atualizados sobre o que ocorre na fazen- da. Mudar a forma de relacionamento com as pessoas exige que o produtor crie novos hábitos: estar junto dos fun- cionários, perambular pelos ambientes de trabalho, conversar, fazer reuniões semanais e mensais, acompanhar indi- cadores, solucionar problemas. Como veremos ao longo deste livro, a dificuldade de entender as pessoas que trabalham na fazenda está entre as bar- reiras que impedem o produtor de mu- dar seu comportamento e desenvolver a mentalidade gerencial. Nossa experiência permite afirmar, com toda segurança, que esse é o principal desafio a ser superado na pecuária leiteira. Para construir uma fazenda bem-sucedida, o Sistema MDA parte de um fundamento: a valorização das pessoas. Isso porque – muito mais do que instalações gigantescas, equipamentos de ponta e animais de genética avançada – são elas, as pessoas, a força motriz capaz de transformar a fazenda em uma empresa de alto desempenho. A plena consciência quanto à importância do fator humano para alcançar bons resultados é um pré-requisito para o sucesso. Não à toa, nos últimos anos muito tem se falado, no ambiente empresarial, sobre a necessidade de engajar os empregados, de modo que eles se sintam envolvidos com o trabalho como se fossem donos do negócio. Afinal, quem não quer empregados engajados, que cheguem no horário, tenham iniciativa, sempre saibam exatamente o que fazer e, além disso tudo, demonstrem felicidade no trabalho? Esse, sem dúvida, é o sonho de todo empregador – mas ainda uma realidade distante da maior parte das fazendas produtoras de leite. Preocupados com a questão, os produtores costumam perguntar: “Como devo tratar meus empregados para que eles se engajem?”. Costumamos dizer que há um erro já na formulação dessa pergunta, pois o correto seria questionar: “Como posso criar as condições necessárias para que os empregados se engajem?” E que condições são essas? No Sistema MDA, consideramos três fatores essenciais para que o engajamento aconteça de forma efetiva: Sabemos que mudar hábitos é difícil, mas não impossível. Faça um teste: escreva cin- co vezes o seu nome por completo em um papel e registre o tempo que você demorou. Em seguida, assine novamente por cinco vezes seu nome, mas agora com a mão es- querda (ou direita, se for canhoto) e grave novamente o tempo. Você verá que, com a mão esquerda, demora muito mais. O moti- vo: falta de hábito! Se você praticar escrever com a outra mão, diariamente, acabará por dominar a técnica e o tempo será o mesmo. Mas isso só será possível depois de muito esforço e dedicação. Com a implantação do Sistema MDA, acontece o mesmo. Criação Consequência da conexão e da participação, oferecer oportunidades de criação significa permitir que o empregado se envolva com o crescimento do negócio. Ele pode ser convidado a sugerir novos caminhos e soluções para tornar a fazenda um lugar cada vez melhor para trabalhar e produzir. Participação Envolver os empregados nas decisões relacionadas ao trabalho e, especialmente,na busca por soluções para os problemas da fazenda. Na maior parte das vezes, as pessoas conhecem como ninguém – inclusive o proprietário – as atividades que executam e os desafios que enfrentam no cotidiano. Por isso cada empregado pode contribuir (e muito) para a melhoria dos resultados. 1 2 3 Conexão Fazer com que as pessoas entendam o propósito do negócio em que estão envolvidas, dando sentido ao trabalho que executam no dia a dia. 40 41 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Comportamento humano Criar condições para o engajamento dos empregados exige compreender o com- portamento das pessoas. Pense em quantas vezes você já viu funcionários que, ao iniciarem em um novo emprego, se mostram completamente entusiasmados com o trabalho, dispostos a aprender e a ajudar o negócio a crescer, mas, com o passar do tempo, vão deixando essa empolgação para trás e já não se importam mais com os resultados das suas atividades. O que leva a essa mudança brutal de comportamento? Uma das explicações para essa mudança foi dada pelo pesquisador B. J. Fogg, da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos. Segundo ele, o comportamento humano é resultado da combinação entre a motivação para apresentar esse comportamento, as barreiras para realizá-lo e um fator iniciador gatilho. Para compreender o modelo do professor Fogg, imagine um ordenhador recém-con- tratado. Contente com o novo emprego, ele está altamente motivado. Nesse caso, se as barreiras para executar o trabalho forem pequenas, dando a ele condições adequadas para ordenhar, basta o gatilho – aqui entendido como um fator iniciador, como o sinal para começar a ordenha – para que o empregado realize o trabalho naturalmente, com qualidade. No entanto, se ele estiver desmotivado ou encontrar barreiras à execução do trabalho – um ambiente mal iluminado, por exemplo – e não houver gatilhos bem claros, como horários fixos para iniciar a ordenha, certamente o trabalhador não realizará suas tarefas com a disposição desejada. Na prática, para aplicarmos na fazenda os ensinamentos do professor Fogg, precisamos entender melhor os fatores determinantes do comportamento humano: motivação, barreiras e gatilho. Motivação Muita gente acredita que motivação e engajamento significam a mesma coisa. Mas não é bem assim. A motivação resulta de uma série de crenças individuais – tem a ver com a essência de cada um. Já o engajamento está relacionado à disposição das pessoas em buscar um objetivo comum. É o que faz, assim, com que os empregados identifiquem um alinhamento entre seus interesses pessoais e os da empresa em que trabalham, por exemplo. A motivação pode se dar de duas formas: MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA A realização da tarefa é, por si mesma, recompensadora, pois o trabalho: • É naturalmente agradável; • Permite aprender coisas novas e desenvolver habilidades; • É desafiador. As tarefas são realizadas com a finalidade de obter uma recompensa externa, tais como: • Salário; • Incentivos financeiros (bônus); • Viagens; • Elogios. Buscar a motivação intrínseca é o melhor caminho para levar as pessoas ao engaja- mento. Quando vem “de dentro para fora”, a motivação costuma ser mais duradou- ra, pois depende somente do indivíduo e está relacionada ao atendimento de suas necessidades que vão além de questões materiais – tem a ver com a vida social, a autoestima e a realização pessoal. No caso da motivação extrínseca, para que ela se mantenha, é preciso oferecer constantemente uma recompensa. Caso contrário, a pessoa se desmotiva. Para criar condições de engajamento, é preciso compreender o comportamento humano. 42 43 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino ARMADILHAS DA RECOMPENSA Um exemplo clássico de motivação extrínseca, ainda muito comum nas fazendas brasileiras, é a oferta de bônus aos empregados, pela produtividade ou pela qualidade do leite. O problema desse modelo está em vincular a recompensa do indivíduo a questões que não dependem ex- clusivamente dele. No caso da produtividade, sabemos que o volume de leite produzido sofre interferência de uma série de fatores – da estação do ano ao tipo de alimentação oferecido às vacas. Da mesma forma, muitas são as variáveis que influenciam a qualidade do produto. Não parece justo, portanto, que uma pessoa seja remunerada por um desempenho que não depen- de somente do resultado de seu trabalho, não é mesmo? Quando implantamos esse tipo de recompensa, criamos uma armadilha. Em pouco tempo, em vez de engajar os empregados, a bonificação desmotiva mais e mais gente, pois a sensação de injustiça – “faço tudo certo e mesmo assim não recebo o bônus”– surge. Se você adota esse modelo, talvez seja a hora de repensar. A motivação está diretamente relacionada ao atendimento das necessidades dos em- pregados. Para compreender melhor que necessidades são essas, vamos recorrer a uma das principais referências na área de comportamento humano: Abraham Maslow, um psicólogo norte-americano que já na década de 1940 buscava entender por que algumas pessoas se mostravam mais motivadas que outras. Depois de diversas pesquisas, ele concluiu que a motivação estava relacionada ao atendimento das necessidades humanas, as quais foram agrupadas em cinco cate- gorias, conforme apresenta o infográfico da página a seguir. NECESSIDADES HUMANAS - PIRÂMIDE DE MASLOW Necessidades sociais Sentimento de fazer parte de um grupo, de ter família, manter relacionamentos acolhedores e saudáveis entre colegas e com superiores, com comunicação facilitada e transparente. Necessidades de autoestima Sentir-se valorizado, ser tratado com respeito, ter o trabalho apreciado e reconhecido, ser encorajado a enfrentar desafios. Autorrealização Participar das decisões, ser consultado para definições que envolvem o trabalho e possuir responsabilidade e autoridade compatíveis com sua função. Necessidades básicas Salário recebido, horário de trabalho, condições de moradia, educação dos filhos, assistência médica. Necessidades de segurança Percepção de que a empresa onde trabalha é forte, conhecimento das normas de conduta, sensação de saber para onde o negócio está indo e garantia de que irá dispor de aposentadoria adequada. 44 45 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino E nas fazendas brasileiras? Em que medida todas essas necessidades vêm sendo atendidas? Uma pesquisa recente da Clínica do Leite7 revelou que, no setor, ainda há muito a evoluir nesse sentido. Ao questionar um grupo de ordenhadores, de diferentes fazendas, sobre o atendimento a suas necessidades, constatamos que apenas as básicas e sociais eram atendidas em níveis considerados satisfatórios, capazes de gerar motivação. 7 Impacto da mentalidade do produtor e do engajamento dos funcionários sobre a qualidade do leite – dissertação de Mestrado de Larissa Nazareth de Freitas, 2016. Em todas as demais necessidades indicadas por Maslow, os empregadores deixavam a desejar. A maioria dos ordenhadores se mostrava insegura quanto ao futuro das empresas em que trabalhavam – e, portanto, quanto ao próprio futuro. Além disso, eles não se sentiam importantes na fazenda e consideravam que o seu trabalho não era suficientemente relevante para o sucesso do negócio. Com tantas preocupações e incertezas, como seria possível que essas pessoas trabalhassem motivadas? E na sua fazenda? Como anda a motivação da equipe? É possível identificar o que os empregados mais valorizam no trabalho que você oferece? Na mesma pesquisa citada anteriormente fizemos essa última pergunta aos ordenhadores e também aos donos das fazendas. Ao analisar as respostas, constatamos que muitas das percepções dos proprietários sobre o que era importante para seus empregados estavam equivocadas8. Quer um exemplo? Na opinião da maioria dos proprietários consultados, a principal necessidade de um ordenhador era ter um bom salário. Já osordenhadores indicaram que, para eles, mais importante do que o valor que receberiam no final do mês era ter segurança no emprego. Esse resultado demonstra uma desconexão entre a percepção dos produtores e o sentimento manifestado pelos empregados – o produtor não sabe o que o empregado pensa e deseja. Nas entrevistas realizadas com os ordenhadores, identificamos que a segurança citada por eles estava diretamente relacionada à incerteza quanto à continuidade do negócio. Em geral, os ordenhadores não viam seus patrões entusiasmados com a pecuária leiteira, pois os ouviam reclamar, com frequência, que a atividade não era boa nem rentável e que, se pudessem, abandonariam a produção. Ao refletir sobre isso, vale se colocar no lugar do empregado: como manter a motivação no trabalho se meu chefe indica que a empresa pode acabar a qualquer momento? Se o proprietário não acredita no potencial do negócio, quem mais acreditará? 8 O resultado completo da pesquisa está disponível para acesso em www.sucessonoleite.com.br. 46 47 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Agora que você já compreendeu melhor os fatores que determinam a motivação dos empregados, é natural que esteja se questionando: será que eu posso fazer algo para motivar minha equipe? A resposta é: negativo! De nada adianta querer agradar os empregados com maior salário, oferta de bonificações, tapinhas nas costas ou outras demonstrações de apreço. Como vimos, para ser duradoura, a motivação precisa partir do próprio indivíduo. Por isso, mais importante do que buscar motivar um empregado, seu esforço deve ser no sentido de não desmotivá-lo. Assim, o foco deve ser eliminar as barreiras. Barreiras Como vimos, a motivação humana também está relacionada à ausência de barreiras que impeçam as pessoas de alcançarem seus objetivos. No cotidiano das fazendas, infelizmente, ainda observamos inúmeros exemplos de barreiras à execução do trabalho com qualidade, como as descritas a seguir. • Falta de meios – condições inadequadas de trabalho, materiais inapropriados. • Carga horária ou volume de atividades excessivos. • Falta de conhecimento, treinamento e capacitação. • Desorganização do ambiente de trabalho. • Processos equivocados ou despadronizados – as atividades não são realizadas sempre da mesma forma, não há rotina no fluxo de trabalho. • Problemas de comunicação com o gestor (proprietário ou gerente) – a ausência do dono na fazenda, a linguagem incompreensível. • Falta de saúde física e mental dos envolvidos com o negócio – proprietário e empregados. “O mais importante ingrediente na fórmula do sucesso é saber lidar com pessoas.” Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos. 48 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino Gatilhos Além da relação entre barreiras e motivação, Fogg sugere que o comportamento huma- no depende de gatilhos, aqui entendidos como elementos que lembram as pessoas de realizar determinadas tarefas. Os gatilhos são criados a partir da rotina. Ao estabelecer uma rotina de trabalho, como, por exemplo, um mesmo horário para alimentação das vacas, um mesmo procedimento para a ordenha e para outras tarefas do dia a dia, estaremos criando gatilhos e, portanto, hábitos que conduzirão as pessoas a melhores resultados. Nos próximos capítulos, apresentaremos outras formas de criar gatilhos para iniciar as tarefas, tais como ferramentas de gestão visual. Dos três fatores mencionados por Fogg, dois são relativamente mais fáceis de serem implantados: eliminação de barreiras e estabelecimento de gatilhos. Assim, se você quiser que seus empregados tenham comportamentos adequados e se engajem, não busque motivá-los. Trabalhe na eliminação das barreiras, estabeleça uma rotina diária de tarefas e entenda as necessidades de seus empregados. Esses são os primeiros passos para não desmotivá-los. Melhorar o relacionamento entre gestores e empregados está entre os principais objetivos do Sistema MDA, pois o sucesso, inevitavelmente, passa pelo fator humano. Afinal, todo e qualquer negócio é construído por pessoas, que dedicam boa parte da vida ao trabalho. Quando a relação com o empregado não é satisfatória, temos uma tendência a acreditar que o problema está nos outros. Desafiamos você a chacoalhar essa perspectiva: antes de tentar mudar o comportamento de outra pessoa, que tal olhar para o seu? Falta de tempo O número de horas dedicado à gestão é uma variável que depende exclusivamente do produtor. Afinal, é você quem define, na sua rotina, o que é prioridade. Em geral, os produtores trabalham muito, sempre com agendas lotadas, sem espaço para mais tra- balho. Nesse caso, a saída é a priorização. É essencial diferenciar o que é importante do que é urgente para o negócio. Importan- tes são as ações que afetam diretamente o resultado, enquanto urgentes são aquelas que precisam ser executadas neste exato momento. No infográfico a seguir, sugerimos o que seria a distribuição ideal do tempo de um gestor de fazenda. Dê uma olhada e res- ponda: a sua agenda se parece com isso? Em caso negativo, é hora de mudar hábitos. Uma forma de organizar o tempo é respon- der às seguintes perguntas: 1. O que eu estou fazendo e não precisaria ser feito? 2. O que eu estou fazendo e poderia ser feito por outra pessoa? 3. O que eu estou fazendo e realmente só eu posso fazer? 4. O que eu deveria fazer e não estou fazendo? 50 51 Capítulo 4 – Jeito de serSeção 01 – O sucesso como destino IMPORTANTE NÃO URGENTE PLANEJAMENTO Exemplos: • Planejamento estratégico • Treinamento de funcionários • Avaliação da rotina diária • Análise de anomalias NÃO IMPORTANTE URGENTE URGÊNCIAS Exemplos: • Telefonemas • Visitas inesperadas IMPORTANTE URGENTE CRISES Exemplos: • Quebra de máquinas • Falta de matéria-prima • Doenças NÃO IMPORTANTE NÃO URGENTE DESPERDÍCIO Exemplos: • Palestras, dentro ou fora da área de trabalho • Tarefas delegáveis 50% Esteja certo de que o aproveitamento de seu tempo será melhor à medida que você eliminar barreiras, tirando pedras do caminho. Esse deverá ser o foco do seu trabalho no início de nossa jornada, pois permitirá abrir espaço em sua agenda para outras ações, relacionadas às mudanças que o Sistema MDA propõe. Em pequenas proprie- dades, nas quais a equipe é composta pela própria família, sabemos que é mais difícil introduzir atividades novas quando as pessoas já parecem sobrecarregadas. Por isso aprenderemos como tirar as pedras do caminho e ter mais foco. Lembre-se: as ações importantes a que você deve se dedicar agora são as relaciona- das à gestão e à liderança do negócio. Deixe, pelo menos inicialmente, as relativas a questões técnicas (infraestrutura, equipamentos etc.) para outro momento. Ao adquirir este livro, você já sinalizou a busca por conhecimento gerencial e de pessoas e o desejo por mudança. Siga nesse caminho. Uma das maiores belezas da vida está na possibilidade contínua de aprendizado: nunca é tarde para buscarmos e aprendermos algo novo, que nos ajude a melhorar e a ser mais feliz. 30% 15% 5% DISTRIBUIÇÃO IDEAL DO TEMPO 52 53 Seção 01 – O sucesso como destino Sonhe grande: visão e propósito “Ter um sonho grande dá o mesmo trabalho de ter um sonho pequeno”. Essa é uma frase de Jorge Paulo Lemann, um dos mais bem-sucedidos empresários brasileiros, dono de uma série de empreendimentos de destaque em todo o mundo. No modelo do Sistema MDA, a visão é colocada em posição de destaque porque, para mudar seu comportamento, é preciso ter um propósito maior. Isso significa que você precisa ter um sonho grande o suficiente para lhe motivar a mudar (grande, aqui, não significa grande número de vacas mas, sim, grande em qualidade e eficiência). O seu sonho é a projeção de onde você quer chegar no futuro. É sua visão. Para criá-la, pense na sua família e no futuro que você projeta para a sua vida como um todo. Lembre-se que a visão é produto deuma análise muito reflexiva e pessoal. Não se limite ao presente. Imagine o que fará com que você se sinta completamente realizado, mesmo que isso não seja atingível por meio das condições atuais. Seu sonho dará a direção a ser segui- Capítulo 5 da. Transformar o sonho em algo mais palpável, como a foto de um empreendimento semelhante ou de uma pessoa admirável, ajuda a passar a mensagem para todos da equipe. É importante, para o sucesso do negócio, que o sonho do dono seja, também, o sonho dos empregados. Esse ideal compartilhado fará com que eles se engajem para trabalhar todos os dias por algo maior. Porém, seu sonho precisa ser viável, criando valor para todos os envolvidos. Para que isso seja possível, é necessário entender melhor o negócio de produção de leite dentro de um ecossistema maior: o mercado. Isso significa criar a consciência de que a fazenda não pertence exclusivamente ao dono, mas também aos clientes, aos funcionários e à sociedade. O proprietário entra com o capital e, eventualmente, com serviços específicos, como a gestão do negócio. Os funcionários, além do serviço prestado, também entram com capital, porém na forma de conhecimento – ou seja, embora não possa ser mensurada, 54 55 Capítulo 5 – Sonhe grande: visão e propósitoSeção 01 – O sucesso como destino sua contribuição é real. A sociedade é quem concede o que chamamos de licença social para operar. Em outras palavras, se ela for contrária ao negócio – seja por que ele provoca contaminação ambiental ou por que não trata adequadamente os funcio- nários, por exemplo –, dificilmente a empresa prosperará. Pensando nesses quatro envolvidos, para que todo e qualquer negócio sobreviva é preciso atender a algumas condições básicas listadas a seguir. Fornecer ao cliente um produto com melhor qualidade e de forma econo- micamente mais atrativa em relação à concorrência. Remunerar o proprietário de forma competitiva com o mercado financeiro, garantindo os recursos necessários ao crescimento da empresa e à geração de novas riquezas. Pagar um salário justo aos empregados e propiciar boas condições de trabalho, de forma que a empresa consiga reter talentos. Respeitar o meio ambiente e a sociedade – pagar impostos, cumprir leis trabalhistas e ambientais e agir de forma ética e responsável. Excelência na bovinocultura leiteira No caso específico da pecuária de leite, para que o negócio sobreviva é necessário atender às dimensões da excelência. Em primeiro lugar, deve-se garantir ao cliente a segurança sanitária do leite, o fornecimento de matéria-prima para alto rendimento na produção de derivados e a regularidade no fluxo dos processos industriais. Para que isso seja possível, deve-se oferecer volume de leite nas quantidades especificadas, com qualidade comprovada e com ausência de resíduos. Por fim, o acesso à fazenda deve ser facilitado e a logística, favorável. Já o proprietário, a partir da venda de produto, deve ter como resultado o cresci- mento sustentável do negócio, trabalhando com prazer, tranquilidade e reconhe- cimento, além de obter lucro. Esses são os componentes do sucesso duradouro. Por último, mas não menos importante, deve-se buscar sempre o engajamento dos empregados e atender aos interesses da sociedade como um todo: respeitar a legislação, recolher impostos e contribuir com o desenvolvimento da região onde a fazenda está inserida. Para que esses quatro aspectos – relacionados ao cliente, ao produtor, aos empre- gados e à sociedade – sejam contemplados, é fundamental que o sistema de pro- dução da fazenda tenha alta produtividade (o máximo possível de desempenho com os meios disponíveis) e baixa variabilidade (regularidade na qualidade do produto). Agora sim, levando em consideração o que é um negócio e as condições para sua sobrevivência, você deve sonhar e sonhar grande. Visite outras fazendas e até empresas de outros ramos de negócio. Tenha esses modelos em mente e crie sua visão. Ela, como foi dito, será seu propósito e de seus empregados. Você deve estar se perguntando, agora, qual é o próximo passo. Visto que sei onde gostaria de chegar devo sair investindo na compra de vacas, na construção de instalações? Nada disso! Você precisa, em primeiro lugar, dominar as práticas e ferramentas do Sistema MDA para, a partir desse ponto, conhecer melhor você mesmo como líder e também os meios de que dispõe, como pessoas, animais, terra, instalações e máquinas. Só assim poderá investir com mínimo risco. 56 57 Capítulo 6 – O projeto de implantação do Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino O projeto de implantação do Sistema MDA Alterar a forma de gestão de qualquer negócio exige coragem, disposição e, principal- mente, paciência. Muitas vezes, a ansiedade por resolver problemas leva à tentativa de transformar tudo na fazenda ao mesmo tempo, uma fórmula que costuma fracassar. Para barrar o impulso e evitar a frustração, nossa proposta é que a implantação do Sistema MDA se dê gradualmente, em etapas bem definidas, as quais permitam avançar um passo de cada vez, no ritmo adequado à realidade de cada fazenda. A fim de tornar esse caminho mais simples, construímos a Jornada para o Sucesso, um modelo que visa ao avanço gradual do Sistema MDA nas propriedades, conforme demonstra o infográfico a seguir. Capítulo 6 58 Capítulo 6 – O projeto de implantação do Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino 1 Entenda o seu negócio e a sua vida 2 Defina e prepare o território 3 Dê significado ao trabalho 4 Engaje os empregados 5 Solucione problemas 6 Inove A JORNADA PARA O SUCESSO SUCESSO Missão, Visão e Valores Controle de informações Escolha do território 5S: implantação e monitoria Mapa do Sistema Indicadores Identificação de anomalias e desperdícios Perambulação Reunião semanal Organização das pessoas Evento Kaizen de anomalias recorrentes Padronização de processos Evento Kaizen de Indicadores Planejamento estratégico Reunião mensal 60 61 Capítulo 6 – O projeto de implantação do Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino O desafio está em assegurar que a fazenda avance nessa Jornada, passando por cada um dos marcos definidos, a partir da implantação das ferramentas e práticas de gestão que compõem o Sistema. Nesse sentido, a melhor forma de fazer a Jornada sair do papel é tratar a implantação do Sistema MDA como um projeto9 que colabora para atingir a visão que você traçou para o negócio. Como em todo bom projeto, as ações para implantação precisam ter começo, meio e fim bem definidos. Recomendamos que você considere 12 meses como prazo máximo para cumprir todas as etapas da Jornada. Depois desse período, sua fazenda estará pronta para avançar com outros projetos rumo à visão. 9 Este livro toma como base os conceitos de métodos ágeis de gestão de projetos. Para começar precisamos, em primeiro lugar, ter claro o que é o Sistema MDA implan- tado. Seus componentes são: Organização do Trabalho » Coleta de dados zootécnicos e financeiros » Implantação do 5S nos ambientes de trabalho » Elaboração do Mapa dos Sistemas Gestão da Rotina » Perambulação » Identificação de anomalias » Uso de painéis de gestão visual » Reunião semanal » Reunião mensal Gestão da Melhoria » Realização de Evento Kaizen para a solução de problemas » Padronização de processos - Definição de Procedimentos Operacionais Organização das Pessoas » Elaboração do organograma » Descrição do trabalho de cada função » Elaboração do plano de cargos e salários » Definição das Normas de Conduta Ano 2 Ano 3 Ano X VISÃO Gestão da Inovação » Planejamento estratégico » Definição de projetos prioritários – Painéis de projetos Ano 1 MDA implantado 62 63 Capítulo 6 – O projeto de implantação do Sistema MDASeção 01 – O sucesso como destino PROJETO: IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA MDA NA FAZENDA INÍCIO: 01/01 TÉRMINO: 31/12 ENTREGAS: DEFINIR O PRIMEIRO TERRITÓRIO A FAZER O5S ESCOLHA DO TERRITÓRIO JOÃO MARIA JOSÉ TAREFA EQUIPE ACEITO FINALIZADO Acesse nossa plataforma virtual, baixe os modelos de painéis e assista aos tutoriais sobre sua utilização. Painel de Projeto Para facilitar sua implantação, você deve abrir um Painel de Projeto como o da figura ao lado. As Entregas serão as etapas que compõem a Jornada, como por exemplo Controle de informações e Escolha do território, entre outras. Na sequência, devem ser selecionadas as pessoas que serão responsáveis pela implantação. O dono do projeto é, normalmente, o proprietário ou alguém indicado por ele. O facilitador deve ser uma pessoa com conhecimento e prática no Sistema MDA. A equipe, por sua vez, será formada pelos empregados envolvidos na etapa que está sendo implementada. Cada entrega deve ser quebrada em tarefas. Ou seja, dividida nas ações que precisam ser realizadas para que ela aconteça. Ao definir as tarefas, também devem ser indica- dos os prazos para execução e os respectivos responsáveis. Quando o responsável a assume, a descrição da tarefa passa para a coluna ACEITO. Quando concluída, deve ser transferida para a coluna FINALIZADO. Assim todos os envolvidos ficam informados sobre o andamento do projeto. 64 65 02. O começo da jornada “Nada é difícil se for dividido em pequenas partes.” Henry Ford, fundador da Ford Motors. 66 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada VOCÊ ESTÁ AQUI Missão, Visão e Valores Entenda o seu negócio O primeiro passo rumo à implantação do Sistema MDA está no entendimento da fa- zenda como empreendimento. Ou seja: um negócio com propósito claro e objetivos definidos. Essa clareza permite ao gestor tomar decisões com segurança, buscando a melhoria contínua dos resultados. Para tanto é preciso identificar a missão, a visão e os fatores-chave de sucesso, além de outras informações que permitam avaliar se os objetivos traçados estão sendo alcançados. Embora a reflexão seja profunda, nossa proposta é que ela tenha como guia uma fer- ramenta simples e prática, que chamamos de Canvas de Entendimento do Negócio. Capítulo 7 Funcionando como um grande mapa, o Canvas parte da identificação do cliente, suas necessidades e as características que valoriza. Com isso claro, é possível compreender os fatores-chave de sucesso da fazenda e seus diferenciais competitivos, além da missão e da visão do negócio. No infográfico a seguir, exemplificamos o preenchimento do Canvas. SUCESSO 68 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada ENTENDIMENTO DO NEGÓCIO - CANVAS Meu cliente-alvo (Quem é e o que produz?) Indústria (derivados). Necessidades do cliente (O que ele precisa para trabalhar?) Leite com qualidade, volume constante e com preço competitivo. Minha essência competitiva (O que me faz receber entre os 10%?) Negócio organizado, bem gerenciado, com pessoas engajadas e o Sistema MDA implantado. Visão (Onde quero chegar?) Ser uma das fazendas da região com a maior produtividade e a melhor qualidade do le ite. Minha missão (O que tenho de fazer?) Garantir à indústria a entrega de le ite de qualidade, com volume constante, por meio de um negócio organizado, lucrativo, bem gerenciado, mantendo as pessoas engajadas. Pacote de valor (O que o meu cliente ganha comprando de mim?) • Segurança da marca • Alto rendimento de derivados • Longo tempo de pratele ira • Sem interrupção de fluxo de produção • Disponibil idade constante Valores (O que deve guiar os comportamentos do meu time?) • Integridade • Respeito • Excelência • Comprometimento • Trabalho em Equipe • Responsabilidade • Disponibil idade constante Fatores-chave de sucesso (Quais atividades e recursos são fundamentais para entregar o que meu cliente quer?) • Processos controlados e eficientes • Pessoas engajadas • Sistema MDA implantado Feito por: Empresa/fazenda: Data: Versão: 70 71 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada Considerando o mapa apresentado anteriormente, o preenchimento do Canvas deve ser feito da seguinte forma: Escreva quem é o seu principal cliente, ou seja, o responsável pela maior parte do faturamento da fazenda. É uma indústria? Uma cooperativa? Outra fazenda? Descreva as necessidades desse cliente – o que ele precisa para se manter ou ser melhor? Uma forma interessante de identificar essas necessidades é olhar com atenção as principais barreiras que os clientes encontram para realizar suas atividades. Uma indústria processadora de leite, por exemplo, pode ter dificuldade em obter produto de qualidade, a preço competitivo e com volume constante. Assim, os produtores que a ajudarem a superar essas dificuldades – vendendo a preço justo, produzindo leite com baixa CCS e garantindo a produtividade – estão entregando a essa indústria a solução para seus problemas. Chamamos essa entrega de pacote de valor. Defina o pacote de valor, ou seja, o conjunto de soluções que faz com que o cliente decida comprar determinado produto. Elenque os fatores-chave de sucesso do seu negócio. Tratam-se dos meios de que você dispõe e que garantem a entrega das necessidades do cliente e, ao mesmo tempo, não são encontrados na maioria dos concorrentes. Esses diferenciais podem ser a localização da fazenda, as instalações, suas máquinas e equipamentos, seus animais, a qualidade da equipe ou até mesmo a capacidade de liderança do proprietário ou gestor. Para que isso fique mais claro, vale ilustrarmos com alguns exemplos. Você pode, eventualmente, dispor de uma lavoura integrada com a atividade pecuária e com isso, obter um custo de alimentação mais baixo que o dos outros fornecedores, refletindo no preço final do leite. Talvez você não tenha a lavoura, mas um estilo de liderança que atraia e retenha bons empregados, ou um bom gerenciamento das atividades de rotina que faz com que as tarefas sejam bem executadas sempre – garantindo, assim, menores índices de mastite e melhor reprodução. Agora pense na sua fazenda e faça uma lista desses diferenciais, sempre os associando ao que o seu negócio precisa para garantir que você esteja produzindo e entregando valor para o seu cliente. Com a lista em mãos, selecione de dois a três fatores. Você será o responsável por cultivá-los e disseminá-los junto à equipe. A ideia é que todos na fazenda tenham esses fatores na ponta da língua: eles são a essência competitiva do seu negócio. A partir dessa reflexão, podemos partir para outra etapa muito importante: a definição da missão da fazenda. A missão nada mais é do que atender as necessidades do cliente por meio de nossa essência competitiva. Simples assim. Não complique, nem copie a missão de outras empresas. A missão de sua fazenda é única e você é a pessoa capaz de identificá-la. Mas vale uma dica: deve ser uma frase curta, direta e que seja rapidamente fixada na cabeça de todos que trabalham na fazenda. A missão é fundamental para sabermos se o que estamos fazendo é o certo. Em seguida, você deverá escrever a Visão do negócio e os Valores que devem guiar o comportamento de todos os envolvidos no negócio – espe- cialmente você e sua equipe. 1 3 2 4 5 6 7 A MISSÃO COMO NORTE Muitas vezes escrevemos uma missão e praticamos atos que depõem contra ela. Se na missão está escrito, por exemplo, que precisamos ter baixo custo, não podemos desperdiçar comida no cocho. O contrassenso entre o que está expresso como missão e as atitudes tomadas na fazenda cria o que chamamos de dissonância cognitiva. Ou seja: desejamos algo, mas nos comportamos de modo diferente. Essas atitudes nos levam à angústia e à infelicidade. Defina com cuidado sua missão e a leve a sério nas ações cotidianas. 72 73 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada VOCÊ ESTÁ AQUI Controle de informações Informação para avançar Como vimos na seção anterior, trabalhar com fatos e dados é um dos princípios do Sistema MDA. Isso significa ter informaçãoconfiável, de forma sistematizada e acessível, para ajudar no processo de tomada de decisão. Não à toa, um dos pri- meiros passos da jornada de implantação do Sistema é o registro de dados sobre o desempenho da fazenda. Hoje há diversas ferramentas disponíveis para coletar e controlar essas informações. Por meio de softwares específicos, relatórios ou planilhas simplificadas é possível registrar os dados e, como resultado, construir o histórico de indicadores importantes, como ocorrência de cio, taxa de prenhez e produção, por exemplo. Porém, tome cuidado para não se tornar um colecionador de dados. O dado nada mais é do que um número registrado, incapaz de revelar o contexto da fazenda. É preciso transformar dados em informações acionáveis, interpretando os números a partir dos objetivos traçados para o negócio. Quer um exemplo? Um relatório fi- nanceiro pode registrar que a fazenda faturou R$ 1 milhão em um determinado mês. O que isso significa? Nada! É apenas um dado. Somente quando soubermos o que esse R$ 1 milhão representa na realidade da fazenda, se é relevante ou não naquele con- texto, é que teremos informação. Registre e analise A coleta de dados deve ser uma atividade rotineira na fazenda. Para que o resultado seja confiável, adote, preferencialmente, sistemas informatizados para o registro e o armazenamento dos dados. Essa prática também facilitará o acesso a eles de forma mais rápida e prática. O ideal é que tudo o que acontece na fazenda seja registrado no seu sistema de controle. SUCESSO 74 75 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada Com os dados sistematizados, é hora de transformá-los em informação, analisando o que foi registrado e interpretando o que os números estão dizendo sobre o rebanho, o fluxo de produção, a rentabilidade do negócio. No Sistema MDA definimos 15 questões fundamentais, cujas respostas dependem de dados, para se avaliar o desempenho da fazenda produtora de leite. São elas: Consigo pagar minhas dívidas neste ano? Se eu fechar, pago todas as minhas dívidas? Minha margem operacional é maior do que 20%? Minha rentabilidade está maior do que 7,5%? O giro do capital está acima de 0,50? Estou conseguindo captar todos os bônus pagos pela indústria para a qual forneço? A produção das vacas está acima dos 90% do máximo potencial produtivo? A laminite está abaixo de 15%? A CCS está abaixo de 200 mil? A acidose está abaixo de 20%? A ureia está entre 10 e 14 mg/100 ml? A taxa de prenhez está acima de 18%? A idade ao primeiro parto está abaixo de 25 meses? As perdas nos processos representam menos de 20% do lucro operacional? Os empregados estão totalmente engajados? 1 2 3 4 5 8 9 10 11 12 13 14 15 6 7 “Sem dados você é apenas uma pessoa qualquer com opinião.” W. Edwards Deming, professor e consultor norte-americano, responsável pela evolução dos conceitos e práticas de gestão da qualidade. 77 Capítulo 7 – Entenda o seu negócioSeção 02 – O começo da jornada Se você ainda não tem resposta para a maior parte dessas questões, não desanime. Nosso intuito, aqui, é demonstrar a importância de se ter informações confiáveis, ca- pazes de indicar se seu negócio tem saúde para seguir e crescer. Imagine que a saúde da fazenda é bastante similar à do nosso organismo. Um bom médico dificilmente dá qualquer diagnóstico sem o auxílio de exames. E o que são os exames? Uma série de informações sobre a saúde humana, com base em padrões pré-estabelecidos. Na fazenda não é diferente. Precisamos de uma base de informações qualificadas que permitam avaliar o desempenho da propriedade em relação a outras propriedades similares e também em relação às próprias metas, traçadas pelo proprietário. Além disso, fazendas com dados bem estruturados aproveitam muito mais o trabalho dos consultores externos. Assim como os médicos, eles precisam analisar os exames da propriedade para identificar problemas e propor melhorias. Isso trará maior clareza para responder as perguntas listadas anteriormente e também para fazer os ajustes necessários no processo produtivo, tornando a fazenda cada vez mais competitiva. Coletar, armazenar e interpretar dados está entre os maiores desafios de implantação do Sistema MDA. Por isso, recomendamos que ele seja enfrentado logo no início da jornada. Comece registrando os dados financeiros e zootécnicos mínimos e avance gradualmente, em paralelo à aplicação de outras ferramentas de gestão. Com o passar do tempo, essa atividade será incorporada à rotina de forma natural. Nos capítulos a seguir, trataremos de indicadores e então você entenderá melhor a relevância da informação para decidir os rumos do negócio. Informações confiáveis são a base de um modelo de gestão eficiente. 78 Capítulo 8 – Defina e prepare o territórioSeção 02 – O começo da jornada VOCÊ ESTÁ AQUI Escolha do território Defina e prepare o território Estamos prontos para levar os conceitos que aprendemos nas últimas seções para a prática. Para começo de conversa, mapeamos o que chamamos de “territórios da fazenda” – são os diferentes setores comuns a todas as propriedades. Eventualmen- te, pode haver alguma variação de uma fazenda para outra, mas consideraremos os territórios descritos a seguir. Capítulo 8 EXEMPLOS DE TERRITÓRIOS DA FAZENDA SUCESSO ADMINISTRATIVO CONFINAMENTO MATERNIDADE BEZERREIRO CENTRAL DE ALIMENTOS ORDENHA 80 81 Capítulo 8 – Defina e prepare o territórioSeção 02 – O começo da jornada No decorrer desta seção, detalharemos o passo a passo para a organização da fazenda. Mas, antes de colocarmos mãos à obra, recomendamos que você escolha um dos territórios mapeados para começar a implantar a metodologia do Sistema MDA. Não tente fazer tudo de uma vez! Lembre-se que um dos principais empe- cilhos ao crescimento da fazenda é a falta de foco. Se você escolheu o bezerreiro, por exemplo, aplique as cinco etapas nesse território, e só depois de concluído o ciclo passe para o próximo. Por onde começar? A escolha do melhor território é fundamental para o sucesso da implantação do sis- tema. Essa tarefa cabe ao gestor do projeto de implantação do Sistema MDA. Mas como saber qual território deve ser priorizado? Nossa recomendação é que você não utilize como critério o território mais crítico, mas que comece pelo território onde trabalham menos pessoas. É mais fácil mudar o comportamento de um ou dois empregados do que fazer o mesmo trabalho com 10. Outra opção é escolher o local onde se encontram os empregados mais proativos – eles já têm uma predisposição à novidade muito maior do que as pessoas que são resistentes a inovações, os chamados reativos. As pessoas proativas e reativas podem ser reconhecidas por meio dos comportamentos mencionados no quadro ao lado. Reflita sobre os empregados da fazenda: qual deles está mais aberto à aprendizagem e permitiria que você interferisse no ambien- te de trabalho sem se incomodar? REATIVAS PROATIVAS Não existe nada que eu possa fazer Vamos olhar as alternativas que temos Ele me faz sentir muito bravo Eu controlo meus sentimentos Eu tenho que fazer isso Eu vou escolher a resposta mais adequada Eu não posso Eu escolho Eu devo Eu prefiro As coisas estão piorando Que ações vamos iniciar? A proatividade não se restringe apenas à tomada de iniciativa. Se relaciona tam- bém à capacidade de assumir respon- sabilidades na execução de tarefas e de decidir o que deve ser feito e como isso deve ser conduzido10. As pessoas proa- tivas costumam ter um elevado poder de influência sobre as demais. Esse aspecto é muito importante, pois elas podem se tornar aliadas na disseminação de um novo comportamento na fazenda. 10 COVEY, Stephen R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. Franklin Covey Co., 2016. 82 83 Capítulo 8 – Defina e prepare o territórioSeção 02 – O começo da jornada VOCÊ ESTÁ AQUI 5S: implantação e monitoria CARACTERÍSTICAS DAS PESSOASPROATIVAS 1. Estão buscando continuamente novas oportunidades. 2. Definem objetivos específicos orientados a mudanças. 3. Antecipam e preveem problemas. 4. Desenvolvem atividades de forma diferente das demais, mais eficiente. 5. Agem e se aventuram, apesar da incerteza. 6. São perseverantes e esforçadas. 7. Conseguem resultados perceptíveis, já que estão orientadas a resultados. Utilize a capacidade de influência dessas pessoas em favor da implantação do Sistema na sua fazenda. Você vai perceber que as mudanças positivas que acontecerão no primeiro território escolhido contagiarão os demais e, ao fim, ficará mais fácil mobilizar um número maior de pessoas. Vamos em frente? Implantação do 5S O primeiro passo da nossa jornada rumo à excelência na fazenda está intimamente ligado a uma questão básica: a organização do ambiente. Imagine a oficina de uma fazenda completamente bagunçada. Quanto tempo um funcionário perde, dia após dia, procurando por ferramentas? E quantas vezes será preciso comprar um item novo simplesmente porque o que se tem está perdido em meio à bagunça? Esse é apenas um exemplo do impacto da desorganização no fluxo de trabalho e no próprio desempenho da fazenda. Para reverter esses impactos, acreditamos que uma ferramenta amplamente utilizada no universo da gestão da qualidade pode aju- dar – e muito! Trata-se do 5S, uma técnica de origem japonesa baseada na ordem, na limpeza e na produtividade. O “S” vem da inicial das palavras que, em japonês, definem os pilares da técnica: Seiri (utilização), Seiton (seleção), Seiso (limpeza), Seiktsu (monitoria) e Shitsuke (melhoria contínua). Para aproximar da realidade das fazendas produtoras de leite, adaptamos a técnica, mantendo seus principais obje- tivos: ordem, limpeza e produtividade. Os dois principais motivos para a implantação do 5S na fazenda são: a. Aumentar a eficiência do trabalho: com o ambiente organizado, ganha-se tempo na execução das tarefas de rotina e se reduz os desperdícios de recursos. b. Provocar a mudança de comportamento dos empregados: a melhoria do ambiente sinaliza que estão ocorrendo mudanças na fazenda, para melhor. No caso do funcionário que trabalha no ambiente organizado, cria-se o sentimento de dono em relação à area que ele domina, além de reforçar sua importância para o sucesso do negócio. Acompanhe na sequência a descrição dos cinco pilares dessa ferramenta. SUCESSO 84 85 Capítulo 8 – Defina e prepare o territórioSeção 02 – O começo da jornada PILARES DO 5S NO SISTEMA MDA UTILIZAÇÃO Nesta etapa, deve-se separar o que é útil do que é desnecessário para realizar as tarefas na fazenda. O que não for útil deve ser destinado ao lixo ou doado. E se algo está faltando, deve ser providenciado. Essa dimensão contribui para a eficiência das atividades, já que é muito mais fácil trabalhar apenas com as ferramentas que de fato são úteis. ORDEM Os materiais selecionados devem ser, agora, organizados, de modo que sejam facilmente encontrados por todos. Itens mais utilizados devem ser colocados em lugares próximos à área de trabalho, enquanto aqueles pouco utilizados devem ser guardados. Se algum objeto não é facilmente identificado, coloque uma etiqueta com o nome. A ideia é facilitar o acesso a esses materiais. LIMPEZA Trabalhar em um lugar limpo e organizado é muito mais fácil, aumenta a eficiência e diminui o risco de erros. Cada funcionário deve ser responsável pela limpeza de seu ambiente e ter a consciência de que ambiente limpo não é o que mais se limpa, mas o que menos se suja. MANUTENÇÃO O quinto e último pilar é o mais desafiador, pois pressupõe a transformação de hábitos e comportamentos. Para que novas ideias e hábitos sejam motores da melhoria contínua, é necessário ter uma equipe engajada, que se sinta à vontade para colaborar e participar. ROTINA Não basta apenas arrumar a casa, deixar tudo limpo e organizado. É preciso se assegurar de que tudo continue em ordem todos os dias. Por isso, o quarto pilar corresponde à monitoria dos três primeiros. Assim, garantimos que equipamentos, ferramentas e insumos estejam disponíveis e organizados, dando fluxo ao trabalho. 1 2 3 5 4 86 87 Capítulo 8 – Defina e prepare o territórioSeção 02 – O começo da jornada Na prática Se você ainda está em dúvida sobre como aplicar a técnica, acompanhe o passo a passo abaixo, desenhado especificamente para a implantação na fazenda. Forme uma equipe responsável pela implantação do 5S. Mostre a importância dessa iniciativa para o negócio e como essa ferramenta pode facilitar o trabalho deles na propriedade. Inicie pelo território escolhido e avance devagar, para que as pessoas se acostumem com a rotina do 5S. No território definido, a equipe deve levantar os pontos que precisam ser melhorados e fazer uma lista. É recomendado registrar a situação do local com fotos. O “antes e depois” costuma ser surpreendente e impactante. Com essa lista em mãos, a equipe deve montar um plano de ação para a implantação do 5S e organizar o que chamamos de “Dia da Bermuda”. Nesse dia, a equipe e todos os funcionários que trabalham no local colocarão o plano de ação em prática, eliminando os materiais desnecessários, consertando coisas quebradas, pintando as paredes e limpando o local. É hora de arregaçar as mangas! O quinto e último passo para implantar o programa é monitorar o local semanalmente, revisitando todos os pontos levantados pela equipe. Para se ter uma referência de como deve ser/estar o local, tire fotos e deixe-as afixadas no mural. Para garantir que todos estejam contribuindo com a organização do local, deixe os resultados da monitoria explícitos. Isso é feito de forma simples, por meio de um sistema de atribuição de notas para cada ponto que foi anteriormente listado. Ao mapear esse resultado ao longo do tempo, cria-se um gráfico – ele representa o indicador do 5S. Se você não entendeu com clareza o que é um indicador, fique tranquilo. Esse é um dos temas do nosso próximo capítulo. Baixe painéis de monitoramento e outras ferramentas para implantação do 5S. O 5S é uma ferramenta poderosa, pois a mudança do ambiente leva, consequentemen- te, à mudança no comportamento das pessoas. É importante que seja implantado com a participação de todos os envolvidos nas tarefas relacionadas ao território escolhido. Lembre-se sempre das três dimensões para o engajamento dos seus empregados: conexão, participação e criação. O 5S é uma maneira de exercitar esses três aspectos, contribuindo de forma impactante para a motivação da equipe. 1 2 3 4 5 88 89 Seção 02 – O começo da jornada Dê significado ao trabalho Já aprendemos que somente com empregados motivados e engajados conseguimos conduzir a fazenda rumo ao sucesso. Agora vamos entender a importância de dar sentido ao trabalho dos empregados para alcançarmos esse engajamento. Capítulo 9 Dar sentido ao trabalho é, em síntese, proporcionar que o empregado saiba como a função que ele desempenha é importante para a entrega do produto ou do serviço final do negócio – no nosso caso, o leite no tanque. Esclarecer a ele essa dimensão do todo confere muito mais propósito a toda e qualquer tarefa, seja ela ordenhar vacas, inseminar ou limpar determinado ambiente. VOCÊ ESTÁ AQUI Mapa do Sistema SUCESSO 90 Seção 02 – O começo da jornada Quando se tem a percepção do fluxo de trabalho completo, fica mais fácil entender o impacto que uma tarefa mal executada (como a inadequada limpeza do teto, por exemplo), pode afetar o produto final. Transmitir essa percepção aos empregados reforça um aspecto importantíssimo do engajamento, que é a conexão. As pessoas passam a reconhecer a importância do próprio trabalho, deixando de ser meras exe- cutoras de tarefas sem significado. Assim, as tarefas executadas por cada um devem ser entendidas como parte fun- damental dos processos que compõem o que chamamos de sistemas, conformedemonstra a ilustração a seguir: SISTEMA PROCESSO 1 PROCESSO 2 PROCESSO 3 TAREFA 1 TAREFA 1 TAREFA 1 TAREFA 2 TAREFA 2 TAREFA 2 TAREFA 3 TAREFA 3 TAREFA 3 TAREFA 4 TAREFA 4 TAREFA 4 As pessoas precisam reconhecer a importância do próprio trabalho na fazenda. 92 93 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Para termos domínio sobre os rumos da fazenda, precisamos dedicar atenção a todas essas esferas – tarefas, processos e sistemas. Isso exige entender quais são os fatores associados ao desempenho da produção de leite. Eles podem ser organizados em sistemas, e teríamos: ordenha, transição, alimentação, reprodução, sanidade, criação e conforto. ADMINISTRATIVO ORDENHA TRANSIÇÃO ALIMENTAÇÃO REPRODUÇÃOSANIDADE CRIAÇÃO CONFORTO O SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE PRODUÇÃO LEITE ANIMAIS Para o entendimento de cada sistema, é preciso responder às perguntas a seguir. • Qual é o objetivo? A razão de ser do sistema. Por que ele existe. O que ele produz. • Qual é o resultado esperado? O que o “cliente” do sistema espera do produto do sistema. • Quais são as atividades e processos envolvidos? O que é preciso fazer para entregar o que o sistema produz, com o resultado esperado. • Quais são os indicadores? Como podemos medir se o processo está entre- gando o que os clientes especificaram. Os indicadores podem ser agrupados em dois tipos – produtividade e qualidade. A produtividade na forma de quantidade de produtos, tempo para produção e, eventualmente, custo. Já a qualidade, na forma de falhas, retrabalho e sobras. As falhas poderiam ser as não conformidades de determinada especificação, como CBT11, por exemplo. As respostas a essas perguntas, no entanto, somente podem ser dadas se entender- mos o negócio de produção de leite. É a prática do primeiro princípio gerencial do Sistema MDA – Definir, primeiro, o fim esperado e depois o que e como deve ser feito. 11 A Contagem Bacteriana Total (CBT) é um dos parâmetros analisados para avaliar a qualidade do leite. VOCÊ ESTÁ AQUI Indicadores SUCESSO 94 95 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada AdministrAtivo ordenhA trAnsição AlimentAção reproduçãosAnidAde CriAção Conforto produção leite AnimAis FORNECEDORES INSUMOS INDÚSTRIA EMPREGADOS PROPRIETÁRIO SOCIEDADE S I P O C O NEGÓCIO DA PRODUÇÃO DE LEITE • Objetivo: » Criar valor para os interessados no negócio de produção de leite. • Resultado esperado: » Indústria: leite em volume constante, de baixo preço, diariamente, com a qualidade especificada, sem adulterantes. » Produtor: lucro, reconhecimento, crescimento. • Sistemas: » Ordenha » Alimentação » Transição » Reprodução » Criação » Sanidade » Conforto » Administrativo • Indicadores: » Volume de leite vendido » Custo de produção » Margem » Lucro operacional » Captura de bônus / preço do leite • Responsável: » Proprietário Vamos, então, fazer esse exercício. A melhor forma de entendermos o negócio é utilizando o método SIPOC. O nome do método vem do inglês, de modo que: No caso da pecuária de leite, o SIPOC ficaria como apresentado no infográfico a seguir. S I P O C Fornecedores (Suppliers) Entradas (Inputs) Processos (Process) Saídas (Outputs) Clientes (Customers) 96 97 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Agora, tendo entendido o seu negócio, é possível mapear o sistema de produção e os subsistemas. A seguir, sugerimos caminhos para esse mapeamento. Vale des- tacar que os indicadores apresentados na sequência são resultado de um amplo estudo e da observação prática em fazendas de diferentes portes, de modo que representam elementos relevantes para demonstrar se determinado sistema está funcionando efetivamente. 1. SISTEMA DE ORDENHA 2. SISTEMA DE CRIAÇÃO Objetivo: • Ordenhar as vacas. Atividades/Processos: • Condução de vacas para ordenha • Preparo de ordenha • Ordenha • Limpeza do equipamento • Limpeza da sala de ordenha • Coleta de amostras de leite Resultados esperados: • Vacas completamente ordenhadas, rapidamente, sem injúrias, preservando a qualidade natural do leite. Indicadores: • Número de mastite clínica • Taxa de novas infecções (subclínica) • Número de vacas ordenhadas por hora • Sujidade de filtro Objetivo: • Criar bezerras e novilhas para repor as vacas, com baixa mortalidade e morbidade. Atividades/Processos: • Congelamento de colostro • Fornecimento de colostro • Alimentação de bezerras até as baias coletivas • Limpeza de baias / baldes • Limpeza do bezerreiro coletivo • Tratamentos: tristeza, diarreia, pneumonia etc. • Desmama • Mudança de lote • Descorna Resultados esperados: • Novilhas saudáveis e com desenvolvimento adequado. Indicadores: • Diarréias • Imunoglobulinas (% dos animais) • Número de ocorrências sanitárias MAPAS DOS SISTEMAS 3. SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO Objetivo: • Alimentar os animais. Atividades/Processos: • Limpeza e manutenção de silo • Recebimento de alimentos • Controle de qualidade de ingredientes • Mistura e fornecimento de dietas • Controle de oferecido e sobras • Controle de estoque • Manutenção TMR • Limpeza do local de armazenamento dos alimentos Resultados esperados: • Comida certa, no cocho certo, na hora certa, na quantidade certa, bem misturada. Indicadores: • Escore de cocho (disponibilidade) • Horário de fornecimento • Temperatura da dieta • Escore de fezes • Escore de enchimento de rúmen 98 99 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada 5. SISTEMA DE TRANSIÇÃO 6. SISTEMA DE REPRODUÇÃO4. SISTEMA DE CONFORTO Objetivo: • Propiciar conforto aos animais, por meio da manutenção e limpeza do ambiente. Atividades/Processos: • Limpeza de pisos, cochos, bebedouros, corredores • Manejo de esterco (esterqueira) • Coleta de lixo • Controle de moscas • Manutenção de cama, contenções, cercas • Manejo e manutenção de ventiladores / aspersores • Manutenção de instalações civis, elétricas e hidráulicas Resultados esperados: • Animais confortáveis (sem estresse calórico, limpos, sem injúrias ou mancando). Indicadores: • Escore de limpeza de vacas • Ocupação de camas • Casos novos de laminite • Animais com estresse calórico Objetivo: • Propiciar uma transição entre o período seco e o de lactação com o mínimo de intercorrências. Atividades/Processos: • Limpeza de baias / bebedouros / cocho • Fornecimento de alimentos extras • Movimentação de lotes • Realização de parto • Acompanhamento no pós-parto • Cuidados com o recém-nascido, exceto fornecimento de colostro Resultados esperados: • Vacas comendo e produzindo bem, com 14 dias pós- parto, e bezerros de pé após o parto. Indicadores: • % de vacas liberadas com 14 dias • Número de natimortos • Número de retenção de placenta • Produção de leite com 14 dias - vacas • Produção de leite com 14 dias - novilhas Objetivo: • Emprenhar vacas e novilhas. Atividades/Processos: • Identificação de vacas e novilhas a serem cobertas • Inseminação • Identificação de prenhez Resultados esperados: • Vacas e novilhas prenhas dentro do período esperado. Indicadores: • Número de vacas prenhas na palpação • Número de novilhas prenhas na palpação • Número de vacas inseminadas 7. SISTEMA DE SANIDADE Objetivo: • Prevenir, identificar e tratar as doenças dos animais. Atividades/Processos: • Mudança de animais de lotes • Identificação visual de animais doentes • Tratamentos (metrite, drench, mastite etc.) • Vacinação • Vermifugação • Aplicação de BST Resultados esperados: • Baixa ocorrência de doenças e pronto restabelecimento da saúde dos animais doentes. Indicadores: • Recorrências • Ocorrências novas • Número de animais em tratamento • Número de descartes por doenças 100 101 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada 8. SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO Objetivo: • Dar suporte aosdemais sistemas quanto a compras, pagamentos, controles zootécnicos, financeiros e de recursos humanos. Atividades/Processos: • Contratação e demissão de pessoas • Coleta e manutenção de banco de dados • Elaboração de Relatórios Gerenciais e de Rotina • Compra de insumos e de serviços • Venda de produtos ou de serviços • Recebimentos e pagamentos • Controle de estoque • Manutenção de arquivos de “Documentos” Resultados esperados: • Não faltar nada para a execução das tarefas da fazenda. Indicadores: • Número de materiais faltantes “Se você quer chegar onde a maioria não chega, faça aquilo que a maioria não faz.” Bill Gates, fundador da Microsoft. 102 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Coletando os dados dos indicadores Detalhados os sistemas, temos, agora, uma visão clara dos indicadores da fazenda produtora de leite, conforme demonstra o infográfico a seguir. Para que esses indicadores sejam calculados de maneira correta é preciso definir cla- ramente o que queremos dizer por mastite clínica, metrite, sujidade de filtro, sobras e uniformidade da dieta, por exemplo. Muitas vezes pensamos uma coisa e o empregado entende outra – teto limpo para uma pessoa pode não ser a mesma coisa para outra pessoa. A incapacidade de descrever o resultado esperado com precisão é a fonte de grande parte dos problemas vivenciados no dia a dia da fazenda. SISTEMA DE ORDENHA • Número de mastite clínica • Taxa de novas infecções (subclínica) • Número de vacas ordenhadas por hora • Sujidade de filtro SISTEMA DE CRIAÇÃO • Diarreias • Imunoglobulinas (% dos animais) • Número de ocorrências sanitárias SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO • Escore de cocho (disponibilidade) • Horário de fornecimento • Temperatura da dieta • Escore de fezes • Escore de enchimento de rúmen SISTEMA DE CONFORTO • Escore de limpeza de vacas • Ocupação de camas • Casos novos de laminite • Animais com estresse calórico SISTEMA DE REPRODUÇÃO • Número de vacas prenhas na palpação • Número de novilhas prenhas na palpação • Número de vacas inseminadas SISTEMA DE SANIDADE • Recorrências • Ocorrências novas • Número de animais em tratamento • Número de descartes por doenças • CBT • CCS • NUL • Taxa de prenhez • PL VL (10-40 DEL) • PL NOV (10- 40 DEL) • Ganho de peso mensal de novilhas • Volume de leite no tanque • Número de descartes por sanidade • Faturamento • Custo operacional de produção • Margem operacional • Captura de bônus/ preço do leite • Horas extras SISTEMA DE TRANSIÇÃO • % de vacas liberadas com 14 dias • Número de natimortos • Número de retenção de placenta • Produção de leite com 14 dias - vacas • Produção de leite com 14 dias - novilhas SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO • Número de materiais faltantes SUPERVISOR GERENTE PROPRIETÁRIO 104 105 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Por mais claras que pareçam as instruções, transmitir o que se passa na cabeça de uma pessoa, em palavras, é uma tarefa pra lá de difícil. Exige tempo, paciência e dedicação. Quando você fala para o seu empregado que ele deve “limpar bem o teto da vaca”, o que isso significa exatamente? Qual é o seu padrão para “limpar bem”? Eventualmente – e muito provavelmente – a sua imagem de teto bem limpo não é a mesma imagem que o ordenhador tem na cabeça. Você acha que ele é quem está fazendo a tarefa da forma errada ou você está falhando na demonstração das suas expectativas? Tendo definido o padrão, precisamos pedir aos empregados que coletem os dados de forma sistemática. Alguns dados serão coletados diariamente, enquanto outros semanalmente, mensalmente ou até em intervalos maiores. Alguns dados podem ser apresentados de forma crua, como, por exemplo, ocorrências de diarreia, enquanto outros precisarão ser processados – caso de taxa de prenhez, o que pode ser feito por meio de um software. Os indicadores devem ser registrados em quadros como os apresentados a seguir. indiCAdor: diarreia em bezerras Como é calculado: número de casos novos de diarreia por dia 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 106 107 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Outra possibilidade é registrar em lousas, como na imagem abaixo. Assista ao vídeo sobre como elaborar uma Carta de Controle. Os dados dos indicadores, acompanhados ao longo do tempo, compõem o que chamamos de “Carta de Con- trole”, um documento que ilustra graficamente o desem- penho do processo em um determinado período. Isso é importante para a identificação de problemas, como veremos no capítulo 13. Para que os envolvidos tenham conhecimento dos números, os indicadores devem ser afixados em painéis de con- trole, uma ferramenta importante do que chamamos de “Gestão à vista”. Visibilidade Você já parou para pensar no quanto conhecer os resultados do trabalho é importan- te? Como isso traz mais significado e motivação para as tarefas diárias? Imagine-se jogando boliche. Você lança a bola e, imediatamente, uma cortina cai sobre a pista, impossibilitando a visão de quantos pinos foram derrubados. Você teria vontade de jogar a próxima bola? É exatamente dessa forma que um empregado desinformado se sente. Deixar as informações acessíveis a todos não significa abrir todos os dados financeiros da fazenda, muito menos explicar para o ordenhador como o mercado de leite afeta o desempenho do negócio. Por isso, é importante conhecer a realidade dos seus em- pregados, falando a mesma língua e se esforçando para entender quais informações têm importância para eles. Uma forma prática, simples e barata de deixar todos a par dos resultados é o que chamamos de gestão à vista. No Sistema MDA, sugerimos a implantação de um Painel de Indicadores, que reunirá os dados controlados na fazenda para monitorar o desempenho do negócio. Acesse a plataforma e faça download do Painel de Indicadores. 109 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada Para contribuir com a gestão, a instalação de painéis de indicadores e de informações sobre a fazenda deve seguir os seguintes passos: Instale o painel em um local onde todos os interessados naquelas informações possam vê-lo. A sala do café, a sala do tanque ou o corredor por onde os empregados passam são exemplos de locais adequados. Procure fazer um painel para cada território, começando pelo escolhido para iniciar a implantação do Sistema MDA, expondo apenas indicadores do setor. Assim, o painel relacionado à alimentação pode ser afixado no barracão de alimentos, por exemplo. Incentive os empregados a se sentirem responsáveis pelo painel. Mantenha uma periodicidade regular e frequente no monitoramento dos indicadores. Ao utilizarmos indicadores diários ou semanais, estimu- lamos as pessoas a olharem o painel. Porém, tome cuidado com eventos que não ocorrem com frequência na fazenda. Nesses casos, não é adequa- do registrá-los como indicadores e sim como anomalias (falaremos mais 1 2 3 FIQUE ATENTO Embora façam sentido para a maioria das fazendas, os indicadores sugeridos neste livro devem ser adotados à medida que houver necessidade na sua fazenda. Além disso, novos indicadores, aplicáveis apenas ao seu negócio, podem surgir conforme a implantação do Sistema evolua na propriedade. Lembre-se: à medida que você agrega controles à operação, será necessário despender tempo para essa atividade. Por isso, defina um número restrito de indicadores, que tenham impacto no resultado do Sistema. 111 Capítulo 9 – Dê significado ao trabalhoSeção 02 – O começo da jornada sobre esse conceito no capítulo 10). Exemplo disso são casos de diarreia em bezerros. Se o número de casos novos for entre 3, 4 e 5 por dia, os indicadores representam a eficácia do processo. No entanto, se a diarreia não representar um evento frequente, não cabe monitorá-la diariamente e sim quando acontece – registrando-acomo uma anomalia. Preste atenção na forma como você se comunica. Utilize sempre palavras e termos que sejam facilmente compreendidos por todos da fazenda. Dê preferência ao uso de números absolutos e não percentuais. Alguns exemplos: número de coberturas e número de casos de diarreias. O cálculo do percentual pode ser feito pelo gerente ou pelo dono da fazenda, a partir dos números absolutos. Apresente o comportamento dos indicadores ao longo de um período de tempo. Somente dessa forma é possível criar um referencial do desempenho histórico de determinado indicador. É possível, assim, saber se o indicador está controlado ou fora de controle, ou se os números tendem a variar em função da sazonalidade. Em pouco tempo, você vai notar como o compartilhamento de informações gera, nas pessoas, um senso se pertencimento ao negócio – um passo fundamental para mobilizá-las na direção da mudança. Ao chegar neste ponto da jornada, você também perceberá benefícios relaciona- dos ao comportamento dos empregados (ou sócios e familiares), maior clareza em relação aos resultados esperados para o trabalho de cada um e, eventualmente, uma melhoria dos processos monitorados. Nos próximos capítulos, continuaremos avançando para potencializar esses benefícios. Até aqui, preocupe-se apenas em dar fluxo ao trabalho. “Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.” Mahatma Gandhi, líder indiano. 4 5 112 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada Engaje e dê fluxo à rotina Como vimos nos capítulos anteriores, criar condições para o engajamento das pessoas é fundamental ao sucesso de qualquer negócio. Aqui entendido como o resultado da junção entre criação, conexão e participação das pessoas (veja mais na página 41), o engajamento faz com que cada indivíduo envolvido em determinada atividade alinhe seus interesses aos do negócio para buscar resultados cada vez melhores. Capítulo10 A base para o engajamento, portanto, está na relação de confiança, respeito e coopera- ção estabelecida com as pessoas. Isso significa que só teremos empregados engajados à medida que transmitirmos o quão importante é, para o sucesso do negócio, o traba- lho executado por eles. Para ajudar nesse processo, o Sistema MDA inclui uma série de práticas que têm por objetivo dar fluxo ao trabalho e potencializar o engajamento. Anomalias: retire as pedras do caminho Consideramos como anomalia qualquer ocorrência que afete o resultado esperado. Costumamos nos referir a elas como “pedras no caminho”, que atrapalham o fluxo de produção (quantidade, tempo, custo) ou a qualidade do produto (defeitos, retrabalho, sobras). Mas o limite para o que se considera ou não uma anomalia pode variar de fazenda para fazenda. Uma vaca com mastite é anomalia? Uma vaca suja é anomalia? Uma vaca com pla- centa retida é anomalia? A falta de energia elétrica é uma anomalia? Vacas chegando sujas para a ordenha é uma anomalia? Depende do estágio de desenvolvimento ge- rencial da fazenda. O gerente, sempre que necessário, com a ajuda de um consultor, deve determinar o que é considerado anomalia. Em uma fazenda em que o grau de VOCÊ ESTÁ AQUI Identificação de anomalias e desperdícios SUCESSO 114 115 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada conformidade das tarefas é bastante elevado, todas essas ocorrências devem ser consideradas anomalias. Entretanto, em uma fazenda em estágio inicial de implan- tação de boas práticas de gestão, somente serão consideradas como anomalias as ocorrências que interferem diretamente no ciclo de produção, como a falta de energia elétrica, por exemplo. Com o passar do tempo, a tendência é que as pessoas fiquem com os sentidos mais apurados para identificar anomalias. ALGUNS EXEMPLOS DE ANOMALIAS • Quebra de máquinas • Falta de medicamentos • Falta de energia elétrica • Comida molhada ou estragada • Faltas e atrasos recorrentes de funcionários PEQUENOS VILÕES Tudo que afeta o fluxo é anomalia. Mesmo eventos ou fatos corriqueiros (a queima de uma lâm- pada, por exemplo), às vezes encarados com naturalidade, atrapalham a execução das tarefas. Várias falhas pequenas têm mais impacto no leite no tanque do que muitas grandes que costu- mamos focar, tais como genética, reprodução, nutrição. Lembre-se: o que faz a diferença não é uma grande ação certa, mas um grande número de pequenas ações realizadas corretamente. São, também, considerados anomalias os desperdícios que ocorrem na fazenda, tais como os listados abaixo. • Retrabalho (pode representar até 20% da receita) • Perdas de alimentos (representa o terceiro ou quarto maior custo na produção de leite – 15% a 20% do custo de alimentação) • Transportar itens leves em tratores pesados • Transportar cargas por distância muito longa • Vencimento do prazo de validade dos produtos • Ventiladores ligados sem haver vacas no galpão Algumas anomalias ocorrem frequentemente e podem ser tratadas como indicadores. Considere como exemplo a ocorrência de diarreias em uma fazenda pequena. Se observadas cerca de uma ou duas diarreias por semana, podem ser tratadas como anomalias, visto que apontam para casos isolados. Se, no entanto, observamos mais de uma por dia, poderemos tratar como indicador. Independentemente de como as trataremos, o importante é identificá-las como um problema e trabalhar para resolvê-lo. Quando a anomalia é identificada, o supervisor deve registrá-la e tomar medidas corretivas para eliminar os sintomas. Cabe ao gerente acompanhar as anomalias reportadas, diariamente, e monitorar as medidas corretivas adotadas pelo supervisor. Eliminar sintomas é o primeiro passo para corrigir anomalias. 116 117 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada O papel de cada um O operador deve identificar as anomalias, já que é quem está na linha de frente da produção. A capacidade de identificar anomalias está diretamente associada a um bom treinamento: se o operador foi devidamente treinado para qual é o resultado esperado no sistema onde trabalha, saberá quando algo foge da normalidade. Veja a seguir um modelo de registro de anomalia. Data: 10/03/2016 Setor: Conforto Responsável: José Descrição da anomalia/desperdício: Bebedouro sem água Ações imediatas tomadas (remoção de sintomas): Troca de bomba Baixe fichas para o registro de anomalias. Quadro de Solicitações Muitas vezes as ações corretivas dependem de outra pessoa, e pode ser difícil comunicar e acompanhar o andamento da tarefa. Para agilizar e garantir a execução das ações, criamos o Quadro de Solicitações. Trata-se de outra ferramenta de gestão à vista que pode ser usada para corrigir anomalias e também para orientar outras solicitações que envol- vam delegação ou compartilhamento de tarefas específicas – com começo, meio e fim. Funciona de uma forma bem simples: você deve instalar um quadro em um local acessível a todos os que podem solicitar tarefas ou que podem ser demandados. Conforme demonstrado na imagem a seguir, insira o nome das pessoas, identificando-as com cores, por meio de tarjetas de papel, e elenque três categorias de ações: solicitado, aceito e finalizado. Preencha os campos com as cores correspondentes de cada pessoa, descrevendo as ações, acompanhadas da data prevista para finalização. À medida que as ações forem concluídas, basta retirar os papéis. Acesse a plataforma e baixe um modelo do Quadro de Solicitações. Paulo José João Ações solicitadas Ações assumidas Ações concluídas REGISTRO DE ANOMALIA 118 119 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada Perambulação No Sistema MDA, costumamos dizer que um bom mestre deve sempre “estar junto”. Isso não significa que o proprietário da fazenda ou o gerente tenham que ordenhar vacas, por exemplo, mas eles devem estar familiarizadoscom a forma de execução dessa e de todas as outras atividades da propriedade. A pergunta é: como conciliar as atividades gerenciais com o acompanhamento da rotina da fazenda? A resposta é simples: perambule! A perambulação é uma técnica que, além de possibilitar o monitoramento das tarefas da fazenda, abre espaço para uma comunicação mais próxima junto aos funcionários e, consequentemente, ajuda a manter o engajamento em alta. Esse é, aliás, o princi- pal objetivo da perambulação: verificar o comportamento das pessoas. Durante a ronda, o gerente ou o diretor percor- rem todos os territórios da fazenda, com olhos e ouvidos atentos. Isso não quer dizer que você deva fiscalizar o trabalho das pessoas, mas sim acompanhá-lo e contribuir para que ele seja desempenha- do da melhor forma, quando necessário. O que devo olhar durante a perambulação? Não se esqueça: o principal objetivo da perambulação é verificar o comportamento das pessoas. Às vezes um simples “bom dia” é o suficiente para injetar ânimo nos funcionários. Eles devem entender que o gestor está lá para ajudar, não para fiscalizar o trabalho. Além de conversar com todos e se mostrar interessado pelo trabalho deles, é fundamental identificar formas de facilitar o trabalho dos supervisores, que, por sua vez, facilitarão o trabalho dos operadores, eliminando barreiras. Assim, todos ficarão ansiosos pela chegada do gestor no local, em vez de maquiar a tarefa ou se esconder. Se você perceber que algo parecido está ocorrendo, provavelmente há algum problema com a forma que você está perambulando. Acesse o vídeo e acompanhe a perambulação em uma fazenda onde o Sistema MDA foi implantado. Perceba o comportamento do gestor e os aspectos aos quais ele está atento enquanto circula pelos territórios. VOCÊ ESTÁ AQUI Perambulação SUCESSO 121 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada Além das pessoas, devemos acompanhar também o comportamento dos processos mais críticos, monitorado por meio dos indicadores. As anomalias devem ser checadas, assim como as contramedidas adotadas para lidar com elas. É na perambulação que observamos, ainda, se os padrões operacionais das tarefas estão adequados. Verifique, por exemplo, a quantidade de comida no cocho, a homogeneidade na distribuição do alimento e a limpeza de tetos, entre outros aspectos que você julgue importante para que a fazenda funcione bem. EXEMPLOS PRÁTICOS DO QUE PODE SER AVALIADO DURANTE A PERAMBULAÇÃO • Humor das pessoas • Desperdícios • Padrões operacionais • Qualidade dos alimentos oferecidos aos animais • Consumo e digestibilidade dos alimentos (por meio da observação das fezes dos animais) • Conforto das vacas • Comportamento dos indicadores • Ocorrências de anomalias e as contramedidas tomadas • Status do Quadro de Solicitações Quando perambular? Se você acumula as funções de proprietário e gerente da fazenda, deveria perambular todos os dias. Se tiver uma pessoa para cada uma das funções, o ideal é que o gerente perambule diariamente e o proprietário, no mínimo, uma vez por semana. Sabemos que o tempo é precioso e a fazenda está cheia de tarefas esperando para serem realizadas. Por isso, não prolongue demais a perambulação. O ideal é que você gaste entre 30 e 60 minutos, dependendo do tamanho da propriedade e do deslocamen- to necessário entre os territórios. Esteja certo que o tempo investido é muito pequeno frente a todos os benefícios que a prática oferece, pois estabelece e consolida a nova cultura (jeito de ser) da fazenda. Por onde iniciar o roteiro de perambulação? Não podemos perder de vista que o nosso foco é sempre atender as necessidades do cliente. Com isso em mente, é fácil deduzir que o melhor lugar para começar a pe- rambulação é a sala de leite. Devemos começar observando em que condições está o produto que entregamos. Avalie aspectos como volume e cheiro e, depois de concluir essa primeira etapa, siga para a sala de ordenha, fazendo o caminho contrário do pro- cesso de produção, até chegar ao bezerreiro – concluindo, assim, o ciclo. O que devo fazer se vir algo errado durante a perambulação? Existem dois tipos de não conformidades no comportamento dos funcionários. Uma delas diz respeito às ações desalinhadas às normas da fazenda (que podem estar ex- pressas no Código de Conduta) – um funcionário batendo em um animal ou utilizando uma máquina de forma inadequada, por exemplo. Nesses casos, o empregado deve ser alertado imediatamente, pois está descumprindo as regras. Entretanto, durante a perambulação também podemos notar algum desvio na execução das tarefas – um descumprimento dos procedimentos operacionais. Quando isso acon- tece, o recomendado é alertar o supervisor para que ele ajude o operador. Dessa forma, o supervisor não perde a sua autoridade diante do operador. Uma dica também é andar com um bloco de anotações – físico ou digital – e tomar nota do fato para uma conversa posterior, que acontecerá na reunião semanal (falaremos dessa reunião a seguir). Devo ajudar o funcionário se eu perceber que ele precisa de ajuda? Você pode ajudar. Porém, o ideal seria facilitar, chamando outras pessoas para ajudá-lo. 122 123 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada Não comece a fazer a perambulação sem antes organizar os territórios. O 5S deve ser implantado antes, para que enxerguemos o que acontece na fazenda, e não somente a bagunça! O que fazer se o funcionário se dirigir a mim, e não ao seu superior imediato? Dentro do Sistema MDA seguimos o princípio da unidade de comando, ou seja, o operador responde para uma única pessoa – em geral, o seu supervisor. Orientar um funcionário a executar determinada tarefa sem que o supervisor saiba faz com que o empregado perca a confiança no supervisor e passe a desrespeitar a hierarquia na fazenda, o que pode causar conflitos. Assim, sugerimos que sempre que possível o supervisor seja chamado para que todos juntos resolvam a dúvida do funcionário. O que posso fazer para incorporar o hábito da perambulação ao dia a dia da fazenda? Para tornar a perambulação um hábito, uma boa dica é vincular a atividade a alguma outra ação do cotidiano do gestor – uma espécie de gatilho. Você pode começar a perambular logo depois de sair do carro, ao chegar na fazenda. Ou, ainda, depois de ler os e-mails. No início será necessário criar lembretes para alertar sobre o início da atividade, mas logo a perambulação estará incorporada ao dia a dia. CRIE ROTINA A perambulação é uma prática de quem vivencia a gestão do negócio (gerente ou dono). Quando o responsável não está presente, pode delegar a outro essa função, desde que essa pessoa seja devidamente capacitada para perambular e observar os aspectos corretos. Reunião semanal A perambulação cria condições para “enxergar” o cotidiano da fazenda de forma cada vez mais clara. Com isso, é hora de compartilhar informações e ter uma visão geral do fluxo – o que aconteceu nos últimos dias, o fechamento da semana atual e o que está previsto para a próxima. O gestor, então, olha as tarefas que não são rotina, atento ao resultado esperado. E como é possível fazer isso? Uma forma eficiente é a reunião semanal. Essa reunião deve ocorrer sempre no mesmo dia da semana e ser conduzida pelo gerente, com a presença dos supervisores e empregados, de preferência no escritório e de pé, em frente aos painéis de indicadores e do quadro de solicitações. Os super- visores devem levar ao escritório os indicadores que mereçam atenção. A função da reunião é criar o hábito de verificar o andamento das atividades da fazenda. Por isso, não deve se dedicar à resolução de problemas complexos. Durante a reunião, são analisados os indicadores que apontam problemas, a resolução das ações do Quadro de Solicitações e também a possível ocorrência recorrente de uma mesma anomalia. A essas anomalias que persistem, damos o nome de anomalia crônica. O gerente éo responsável por analisar a ocorrência de anomalias ao longo do tempo e, se verificar que ela ocorre por mais de duas ou três vezes, classificá-la como crônica. Nesse caso, deve-se utilizar o método de análise e solução de problemas, que veremos na próxima seção. Essa investigação deve ser feita apenas com os afetados especificamente por aquele problema e pode ocorrer após o encerramento da reunião semanal. VOCÊ ESTÁ AQUI Reunião semanal SUCESSO 124 125 Capítulo 10 – Engaje e dê fluxo à rotinaSeção 02 – O começo da jornada Se, durante a reunião, houver uma demanda de tarefa para outra pessoa, não esqueça de colocá-la no Quadro de Solicitações. Além disso, na reunião semanal devem ser distribuídas as atividades da próxima semana. Na fazenda, o uso de cadernetas de campo permitem observar as vacas que irão parir, secar, as inseminações e palpa- ções, entre outros aspectos. É uma forma de organizarmos o trabalho dos próximos dias. Na reunião da semana seguinte, essas listagens devem ser apresentadas para analisar o que foi executado. O PASSO A PASSO DA REUNIÃO SEMANAL 1 4 2 3 Verificar anomalias recorrentes Distribuir tarefas e prazos, usando o Quadro de Solicitações (página 119) Analisar indicadores Avaliar o que foi feito fora da rotina durante a semana e o que está programado para a próxima Ao chegar neste ponto, você já compreendeu a importância do fluxo de trabalho, o gestor já tem o controle dos processos, as pessoas já estão mais engajadas e esse território estará muito mais organizado. Isso significa que você está pronto para replicar essas práticas no próximo território escolhido. 126 127 Capítulo 11 – Organize as pessoasSeção 02 – O começo da jornada VOCÊ ESTÁ AQUI Organização das pessoas SUCESSO Organize as pessoas Quem não sabe para onde vai caminha inseguro, não é mesmo? Infelizmente, essa é a situação de boa parte dos funcionários de fazendas produtoras de leite no Brasil. Isso porque as propriedades, em geral, não estão estruturadas como negócios e, assim, não percebem o quão importante é a clareza dos empregados em relação às funções que executam e as entregas esperadas para o seu trabalho. Há, também, certa dificuldade de identificar quais são as competências necessárias às pessoas contratadas para executar determinadas funções. Capítulo11 O conceito de competência não se resume à capacidade técnica e abrange três esferas: atitude (saber agir), habilidade (saber fazer) e conhecimento (saber teoricamente). A atitude está intimamente ligada à personalidade, é moldada ao longo dos anos pelas experiências vivenciadas por cada indivíduo, refletindo seus valores pessoais. Cada trabalho exige um profissional de determinado perfil. É uma característica que dificil- mente muda ao longo do tempo. Por isso, é fundamental que o perfil desejado seja claro e que a seleção e manutenção de empregados leve em conta as atitudes que eles demonstram no dia a dia. 128 Capítulo 11 – Organize as pessoasSeção 02 – O começo da jornada Já a habilidade se relaciona com a capacidade funcional de executar determinado trabalho – é o jeito de fazer. A habilidade, diferentemente da atitude, pode ser moldada em um prazo de tempo curto, por meio do treinamento e da prática regular. Por isso, todos os empregados devem ser treinados ao ingressarem no trabalho, retreinados sempre que necessário e avaliados periodicamente. O conhecimento diz respeito à capacidade de saber fazer – saber executar as tarefas da forma correta. As outras duas características, atitude e habilidade, não sustentam a realização de um bom trabalho se o indivíduo não tiver conhecimento sobre aquela atividade. Cada cargo ou função exige uma gama de conhecimentos específicos rela- cionados a ela, e essa habilidade geralmente é desenvolvida ao longo do tempo. Um gerente deve saber resolver problemas, enquanto um ordenhador deve saber como limpar o teto da vaca e como identificar mastite clínica, por exemplo. O conhecimento, assim como a habilidade, pode ser ensinado. Dessa forma, é fundamental que o gestor crie condições para organizar os em- pregados no ambiente de trabalho. A seguir, apresentamos uma série de docu- mentos e processos relacionados à gestão de pessoas, os quais ajudarão você a formalizar essas informações e, assim, organizar as pessoas para que atuem da forma desejada. Organograma: trata-se de uma imagem que apresenta a estrutura hierárquica da fazenda. Além de dar uma visão geral sobre as funções desempenhadas na propriedade, ajuda o funcionário a entender quem é seu superior imediato e quem está sob sua tutela, por exemplo. É importante porque se refere a cargos e funções, e não a pessoas em particular. Se um operador questionar a ordem do supervisor, por exemplo, fica fácil, por meio do organograma, justificar a autoridade do supervisor, sem entrar em questões pessoais. Deve-se sempre lembrar que, como parte da cultura do Sistema MDA, o dono deve dar suporte ao gerente, esse aos supervisores e eles aos empregados, como ilustra a figura a seguir. 1 No quadro abaixo é apresentado o modelo de organograma proposto pelo Sistema MDA: PROPRIETÁRIO GERENTE Administrativo Supervisor de ordenha Supervisor de alimentação Supervisor de criação Supervisor de reprodução, transição e sanidade Supervisor de conforto ORGANOGRAMA DA FAZENDA Operadores Operadores Operadores Operadores Operadores O mesmo organograma pode ser utilizado em fazendas grandes ou pequenas. Nas peque- nas, as pessoas vestem vários “chapéus”/cargos, ora como gerente, ora como supervisor ou, mesmo, ora como operador. Nas grandes, no entanto, temos um cargo por pessoa. 130 131 Capítulo 11 – Organize as pessoasSeção 02 – O começo da jornada No organograma são inseridos os cargos, que devem representar as diferentes fun- ções das pessoas. Em qualquer fazenda, independentemente do tamanho, temos as seguintes funções: diretor, gerente, supervisor e operador. A seguir destacamos as atividades desempenhadas em cada função e o respectivo resultado esperado. 1. DONO/DIRETOR 2. GERENTE/ADMINISTRADOR 3. SUPERVISOR 4. OPERADOR Atividades: • Definir a missão e a visão do negócio • Definir cultura / valores / comportamentos • Planejar o futuro do negócio – acompanhamento do mercado, definição de projetos e metas • Organizar o trabalho e os recursos necessários, especialmente os recursos humanos • Monitorar os resultados do negócio • Tratar do relacionamento com clientes e fornecedores Resultado esperado: • Necessidades de clientes, acionistas, empregados e sociedade atendidas para garantir a sobrevivência do negócio Atividades: • Organizar o trabalho e os recursos necessários, especialmente os recursos humanos • Participar do planejamento do negócio • Definir procedimentos e padrões operacionais • Capacitar os supervisores • Monitorar os resultados • Perambular • Organizar e participar das reuniões • Solucionar problemas do Sistema de Produção • Eliminar desperdícios Resultado esperado: • Mais e melhores produtos com menos Atividades: • Criar e desenvolver relacionamento com cada subordinado • Realizar os check lists • Municiar os operadores com os meios para a realização de tarefas • Aplicar as contramedidas imediatas às anomalias • Monitorar o trabalho realizado, coletar dados, fazer a auditoria do 5S • Corrigir os desvios de comportamento e do trabalho • Capacitar e realizar o trabalho quando necessário • Indicar formas de facilitar o trabalho • Eliminar desperdícios • Solucionar problemas - retirar as pedras do caminho Resultado esperado: • Fluxo nos processos, eliminação de pedras no caminho Atividades: • Executar as tarefas • Identificar anomalias • Ajudar a solucionar problemas Resultado esperado: • Tarefas executadas de maneira certa, na primeira vez, sempre, e ajuda na melhoria do fluxo 132 133 Capítulo 11 – Organize as pessoasSeção 02 – O começo da jornada Plano de cargos e salários: documento importantepara que o proprietário e o funcionário tenham clareza sobre as possibilidades de ascensão dentro da fazenda. Isso ajuda a manter as pessoas engajadas, pois confere clareza para todos sobre as oportunidades e também os limites de crescimento proporcionados pelo negócio. As funções, como vimos, são determinadas no organograma, e os cargos derivam delas. Por exemplo: dentro da função de operador, podemos ter o cargo de ordenhador – que, por sua vez, pode ser escalonado em operador 1, operador 2, e assim por diante. Cada um desses cargos deve ter tarefas e salários claramente descritos, e a evolução do funcionário dentro da fazenda deve levar em conta critérios como complexidade das atividades e tempo de casa. Descrição do trabalho: ao ingressar na fazenda, os funcionários devem estar cientes de todas as tarefas que competem ao cargo que ocupam. A descrição das atividades leva em conta as três dimensões da competência que vimos no início deste capítulo: atitude, conhecimento e habilidade. Lembre-se sempre: a descrição deve considerar o cargo, e não a pessoa que o ocupa. Fazer com que todos entendam perfeitamente o seu papel na empresa é muito impor- tante. Para entender melhor, imagine uma equipe esportiva se preparando para uma competição. Se o objetivo é o sucesso, ou seja, vencer, é preciso traçar um caminho para chegar lá. Veja só: 2 3 Na fazenda é a mesma coisa – é preciso identificar onde se quer chegar, comunicar a todos, de- terminar o que deve ser feito e por quem, alinhando tudo isso com as necessidades de cada um. a. O treinador estabelece a mesma visão na mente de todos os jogadores; no final do campeonato seremos o time número 1 em nossa série, cidade, estado ou país. c. Existem oponentes – ou barreiras à vitória – e todos devem conhecê-los, para neutralizar sua ação. Não à toa os times adversários são profundamente estudados antes dos jogos. b. Todos os jogadores compartilham de uma mesma missão; ganhar cada um dos jogos do campeonato. d. Cada jogador tem uma missão pessoal e objetivos ligados a ela que complementam a do time: fazer seu melhor em cada jogo, explorando ao máximo suas habilidades. e. Cada jogador sabe qual é a sua posição no campo e como seu esforço individual contribui com o sucesso do time. Eles têm consciência que os demais jogadores também dependem deles. 134 135 Capítulo 11 – Organize as pessoasSeção 02 – O começo da jornada Normas de Conduta: transparecem o jeito de ser da fazenda, definindo o que é e o que não é permitido fazer e o que se espera do funcionário no aspecto comportamental. Esse documento aborda temas como conduta pessoal, disciplina no trabalho, comportamento com os animais, uso e manutenção de máquinas e instalações, saúde e segurança no trabalho, pagamentos e adiantamentos e, inclusive, sanções previstas para o caso de descumprimento das normas. Isso contribui para evitar conflitos entre as pessoas e deixar as regras claras para todos. Procedimentos de contratação: é um guia importante para que o diretor da fazenda e o gerente saibam como proceder na hora de contratar novos funcionários. Assim como nos tópicos abordados anteriormente, cumpre a função de despersonalizar os processos. Todas as contratações devem seguir os procedimentos previstos no documento, sem levar em conta aspectos pessoais. Sempre que possível, prepare esses materiais com a ajuda de especialistas, tais como contadores, advogados, administradores, pois eles adequarão os modelos sugeridos à realidade do seu negócio, reduzindo riscos. Quando todos esses passos estiverem realizados, você poderá apresentar os materiais para as pessoas, inclusive no primeiro dia de trabalho após a contratação. 4 5 Baixe o kit de ferramentas para organização das pessoas. 136 03. Solução de problemas “Cada vez que pensamos que o problema não é nosso, esta atitude é o problema.” Stephen Covey, escritor norte-americano. 138 Capítulo 12 – Identifique e corrijaSeção 03 – Solução de problemas VOCÊ ESTÁ AQUI Evento Kaizen de anomalias recorrentes Identifique e corrija Se você já implantou os passos da Jornada até aqui e está praticando os Princípios Gerenciais e os hábitos sugeridos pelo Sistema MDA na sua propriedade, certamente começou a ver os resultados. Além da melhoria do fluxo de produção, é possível que você tenha observado uma mudança no jeito de ser das pessoas. Agora, então, chegou a hora de você dedicar parte do seu tempo às anomalias crônicas e aos sistemas com resultados indesejáveis revelados pelos indicadores. Junto da organização, que deve ser perceptível, você também terá mais clareza para começar a identificar os problemas que certamente vão surgir. Capítulo12 Inicialmente você deve se dedicar à solução das anomalias crônicas, apenas. Deixe os problemas mostrados pelos indicadores para quando você tiver dominado o Mé- todo de Análise e Solução de Problemas (MASP), que apresentaremos na sequência. Relacione as anomalias que você vem anotando e agrupe-as de forma que possa contar o número delas. Analise, então, qual é a mais recorrente. Ela é, também, a mais impactante no fluxo de trabalho? Ela é fácil de resolver? Escolha essa, então, e vamos solucioná-la de forma que não mais aconteça, por meio do MASP. O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) O caminho indicado pelo Sistema MDA para a solução de problemas na fazenda tem como base, novamente, os estudos do professor William Edwards Deming, mais es- pecificamente a metodologia conhecida como PDSA – do inglês Plan (Planejar) - Do (fazer) - Study (estudar) - Act (agir). A proposta dessa metodologia é promover a me- lhoria contínua a partir de uma análise mais aprofundada do processo, que antecede qualquer ação corretiva. É isso que o Sistema MDA propõe: antes de tomar qualquer decisão para ajustar rotinas e processos na fazenda, é preciso ter um entendimento real do problema, consideran- do suas causas e também os impactos que ele gera para o negócio como um todo. Agora, então, chegou a hora de você dedicar parte do seu tempo às anomalias crônicas e aos sistemas com resultados indesejáveis revelados pelos indicadores. SUCESSO 140 141 Capítulo 12 – Identifique e corrijaSeção 03 – Solução de problemas Esse método tem como fundamento as respostas às seguintes perguntas: a. Qual é o problema? b. Por que ele aconteceu? c. O que será feito? Para que essas perguntas sejam respondidas de forma organizada e sistemática, criamos o MASP, aplicando uma ferramenta chamada “Evento Kaizen”. Também de origem japonesa, essa ferramenta sugere um passo a passo para a melhoria continua – a palavra Kaizen, em japonês, significa “mudar para melhor”. Para que esse caminho seja tão eficiente na agropecuária quanto é nas indústrias, o adaptamos à realidade das fazendas brasileiras, conforme demonstrado a seguir. O EVENTO KAIZEN NA FAZENDA - PASSO A PASSO 1 8 2 3 4 56 7 Entender o problema Validar as soluções encontradas Formar o time Executar ações imediatas Mapear as causas Elaborar um plano de ação Executar as ações previstas Acompanhar os resultados • Passo 1 : Entender o problema » Entenda claramente o problema a ser resolvido. » O quê? Qual é o problema? » Quando? Data em que o problema foi identificado. Vem piorando ou melhorando? » Onde? Em que locais/ambientes ocorre? » Como? Em que condições ocorre? » Qual o impacto nas necessidades dos interessados no negócio? Avalie as con- sequências do problema para empregados, clientes, acionistas e o próprio futuro do negócio. 142 143 Capítulo 12 – Identifique e corrijaSeção 03 – Solução de problemas • Passo 2 : Formar o time O time deve ser composto pelas pessoas envolvidas com o problema. Eventualmente, quando não sabemos a causa e a melhor ação para solucioná-lo, convidamos pessoas externas à fazenda para nos ajudar – podem ser os consultores ou especialistas em determinadas máquinasou processos. Essas pessoas devem ser reunidas em local apropriado (silencioso e com o material de apoio necessário – quadro/lousa, canetas, papéis, além de painéis e relatórios que ajudem na discussão). A depender da complexidade do problema, essa reunião pode levar até quatro horas e já no início deve-se definir o papel de cada um dos partici- pantes e suas responsabilidades: » Produtor: patrocina, aprova e prioriza as ações. » Consultor: orienta, identifica causas técnicas e propõe soluções. » Gerente/Supervisor: convoca as reuniões, facilita os trabalhos, faz as anotações, reporta ao produtor (ou ao gerente, no caso do supervisor). » Operador: sugere soluções e executa as ações validadas pelos superiores. Vale ressaltar que quando os operadores participam da construção das soluções, elas costumam ser mais simples/aplicáveis e geram menor resistência à mudança. Em seguida deve-se esclarecer o objetivo da reunião e os resultados esperados (crie um indicador para esses resultados), incentivando todos a participarem das discussões e, então, avançar para o próximo passo. O Evento Kaizen cria condições para o engajamento das pessoas. 144 Capítulo 12 – Identifique e corrijaSeção 03 – Solução de problemas • Passo 3 : Executar ações imediatas Deve-se perguntar ao time o que devemos fazer para eliminar os sintomas do problema – são as ações imediatas ou corretivas. As ações imediatas representam uma solução temporária para o problema – muitas vezes, elas precisam ser tomadas ainda antes da discussão com o time, dada a urgência e o impacto do problema. Por exemplo, frente a um problema de quebra crônica do pasteurizador, a ação imediata seria chamar o técnico para consertar. Isso, normalmente não garante que o problema não volte a ocorrer, mas assegura que haja fluxo no trabalho. • Passo 4 : Mapear as causas Para a solução definitiva do problema, precisamos identificar suas causas-raízes. Para entendermos melhor, a ilustração a seguir nos lembra que a eliminação de um problema não pode ser realizada apenas com base nos sintomas. Como acontece na natureza, o que vemos inicialmente é apenas parte do problema (na planta, o que é visível, acima do solo), sintomático. Para que não volte a acontecer, precisamos ver o que está abaixo da superfície (na raiz e suas ramificações). O método de identificação das causas-raízes é o de perguntar “por quê?” inúmeras vezes, até que se chegue à(s) causa(s) e, a partir dela(s), às soluções. Devemos fazer essa pergunta ao time e escrever as causas em papéis, afixando-os à vista de todos (na lousa ou no painel). As causas do problema (causas-raízes) Sintomas do problema MODELO DE PAINEL DE CAUSAS E EFEITOS Evidência EvidênciaEvidência Evidência Evidência Evidência Evidência Evidência EvidênciaEvidência Causa RaízCausa 4 Causa 3 Causa 3 Causa 4 Causa 4 Causa Raíz Causa 2 Causa 1Impacto Causa Raíz Ação sobre a causa Ação sobre a causa Ação imediata Ação imediata Ação sobre a causa Por quê? Por quê? Po r q uê ? Po r q uê ? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? 146 147 Capítulo 12 – Identifique e corrijaSeção 03 – Solução de problemas Para cada causa deve-se procurar uma evidência e afixá-la, também, na lousa. As evidências devem ser procuradas nas anomalias já registradas, nos indicadores afi- xados nos painéis de controle e nos relatórios zootécnicos e financeiros disponíveis. Quando não temos evidências, levantamos uma hipótese que poderá, eventualmente, ser testada na fazenda ou pesquisada na literatura. É importante que as causas sejam as mais específicas possíveis. Por exemplo: dizer que “o procedimento não está sendo seguido” não leva a soluções específicas. É preciso dizer qual passo do procedimento não está sendo seguido. Se isso não for feito, invariavelmente criam-se mais e mais controles, os quais não garantem que o problema reapareça. • Passo 5 : Elaborar plano de ações preventivas Agora, com as causas levantadas, vamos primeiro focar naquelas com evidências e listar as ações para reduzir a probabilidade do problema voltar a ocorrer. Essas ações devem ser priorizadas em função de sua rapidez, facilidade e custo de implementação e colocadas no Painel de Projetos, apresentado na página 65. • Passo 6 : Executar as ações previstas Neste passo você já é um mestre, pois vem praticando a gestão de projetos desde que começou a implantação da Jornada MDA. Relembrando: você deve desdobrar, semanalmente, cada ação em tarefas, junto com o time, e cada pessoa vai assumir uma tarefa relacionada ao trabalho dela. A descrição da tarefa deve ser afixada na parte inferior do Painel de Projetos. • Passo 7 : Acompanhar os resultados Verifique diariamente a execução das tarefas e as anomalias ligadas a cada uma delas. Na próxima reunião semanal do projeto, antes de desdobrar novas ações, confira se todas as tarefas foram executadas e se os resultados esperados (indica- dores criados especificamente para o projeto em questão) estão sendo alcançados. Se não, analise o porquê. Não adianta avançar deixando pendências para trás. Resolva primeiro as pendências e depois faça coisas novas. • Passo 8 : Validar as soluções Esta etapa é importante, pois se não fecharmos o Plano perderemos o foco. Não inicie outro Evento Kaizen sem fechar o que está em andamento. Para tanto, é preciso responder às seguintes perguntas: » Os resultados previstos foram alcançados? » Todas as tarefas foram executadas? » Quais foram as anomalias registradas? » Quais foram os aprendizados? » Quais as próximas ações? Se eventualmente não se conseguiu os resultados esperados, não há problema. É assim mesmo e por isso o processo é chamado de Melhoria Contínua. Feche o Plano de Ação atual e abra um novo, partindo do Passo 4. Antes, porém, documente o trabalho realizado até o momento, preenchendo uma ficha específica, que con- tenha a descrição do problema (situação real e causas-raízes), o plano de ação, o objetivo desse plano, as lições aprendidas, as pendências e ações corretivas. Isso é importante para construir a memória dos desafios superados. Sugerimos, inclusive, que você monte um “caderno” com todos os seus registros para, ao final do ano, celebrar as conquistas. Acesse a plataforma onli- ne e baixe um modelo de ficha de registro do Evento Kaizen. 148 149 Capítulo 13 – Converse com os indicadoresSeção 03 – Solução de problemas Converse com os indicadores Você já deve estar coletando dados há alguns meses e, agora, gostaria de melhorar os resultados que esses indicadores vêm revelando. Porém, olhando os gráficos é natural que fique em dúvida se está diante de um problema ou não. Para exempli- ficar, considere o gráfico a seguir, que indica a ocorrência de natimortos em uma fazenda. A pergunta é: com base nessas informações, temos um problema? Se sim, qual seria a causa? Capítulo13 É difícil afirmar que existe um problema e procurar suas causas apenas olhando o gráfico. Uma forma de facilitar essa identificação seria buscar referências na literatura ou mesmo em outras fazendas. Se pesquisas científicas indicarem que o máximo de natimortos deveria ser 7 e observarmos uma média de 6 em nossa fazenda, podería- mos concluir que não temos problema ou que, pelo menos, não temos problema na maior parte do tempo. Com base no período que identificamos com problema (valores superiores a 7), abri- ríamos um Evento Kaizen para procurar as causas e soluções. No outro (valores abaixo de 7), acharíamos que estamos indo bem e não faríamos nada. A falha desse procedimento é que não sabemos de onde veio esse número “7”. As condições são as mesmas? Se, no entanto, acreditarmos erroneamente que temos um problema, acabaremos “achando” causas-raízes em vários pontos. Como por exemplo nas tare- fas, nas instruções de trabalho (processos) e nas pessoas e implementaremos várias ações que custarão tempo e dinheiro, semque isso venha a trazer algum benefício, porque, de fato, não há problema. VOCÊ ESTÁ AQUI Evento Kaizen de Indicadores SUCESSO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 16 14 12 10 8 6 4 2 0 5 8 8 7 7 7 7 7 3 3 6 2 5 1 8 6 6 6 910 OCORRÊNCIA DE NATIMORTOS (%) 150 151 Capítulo 13 – Converse com os indicadoresSeção 03 – Solução de problemas Precisamos achar um outro método de caracterizar problema nos indicadores. A melhor forma é definir limites de controle superiores e inferiores do processo, a partir das observações dos dados coletados na própria fazenda. Isso pode ser feito com a ajuda de procedimentos estatísticos (cálculo do desvio padrão) ou de forma empírica. No Sistema MDA, o fazemos de forma empírica, assim: • Esperamos ter um número suficientemente grande de observações (no mínimo 5) • Traçamos os limites superior e inferior de controle, de forma a ter certeza que as próximas observações dos dados estarão dentro dos limites estipulados. Observe o gráfico a seguir. Quais os limites de controle, de maneira a garantir que os próximos dados se enquadrem dentro dos limites? 1 mês 2 meses 3 meses 4 meses 5 meses 6 meses 1 mês 2 meses 3 meses 4 meses 5 meses 6 meses Imaginando os dados futuros, os limites seriam fixados acima e abaixo dos registrados ao longo dos últimos seis meses, conforme demonstra o gráfico a seguir. ? Causas comuns ou especiais Quando temos os limites estabelecidos, fica mais fácil identificar se estamos frente a um problema cuja causa é comum ou especial. Causas especiais mostram grandes variações nos resultados de somente alguns pontos de controle, enquanto as comuns mostram pequena variação em todos os pontos de controle. Quando se trata de uma causa comum, mudar os resultados exige mudar o processo (dieta ou medicamento, por exemplo). Já quando se trata de uma causa especial, para mudar os resultados devemos agir sobre eventos ou questões pontuais (treinamento do folguista, troca de uma bomba). 152 153 Capítulo 13 – Converse com os indicadoresSeção 03 – Solução de problemas Para compreender melhor, observe o gráfico a seguir, que apresenta duas situações. Na primeira, a porcentagem de lesões nos cascos chegou a 14,4% e estávamos frente a uma causa especial. Na segunda, temos uma média de observações da ordem de 9% e gostaríamos que esse número fosse menor do que 3%. Na primeira situação vamos procurar as causas em eventos ocasionais, não comuns, como chuva intensa, falta de areia momentânea, quebra de equipamento. No segundo caso, as causas estarão no tipo de piso, tipo de cama, dimensões das baias, tempo fora do estábulo, entre outros – causas que se repetem dia após dia, independentemente da situação momentânea. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 16 14 12 10 8 6 4 2 0 9,1 8,0 10,6 7,4 14,4 9,4 10,7 8,5 8,3 10,9 9,6 Causa especial Causa comum LESÕES DE CASCOS EM VACAS (%) “Se eu tivesse que resumir minha mensagem sobre gestão em algumas palavras, falaria que tudo está ligado a reduzir variação.” W. Edwards Deming Perceba que um ponto-chave desse método de solucionar problemas é reduzir ao máximo a variação dos dados. Assim se torna mais fácil identificar problemas e suas causas (se comuns ou especiais), permitindo ação imediata, o que leva à melhoria do desempenho do sistema rapidamente. No próximo capítulo, indicaremos o caminho para avançar nesse sentido nas fazendas: a padronização de processos e a capacitação das pessoas. 154 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas Padronize processos e capacite as pessoas A padronização dos processos representa um passo fundamental para reduzir a variação de dados e, por consequência, os problemas da fazenda. Na Jornada MDA, essa etapa envolve a elaboração de três documentos – procedimento operacional, instrução de trabalho e check list – que têm como função orientar a execução das tarefas. Feito isso, será preciso capacitar as pessoas para compreender e seguir tais orientações. Capítulo14 VOCÊ ESTÁ AQUI Padronização de processos SUCESSO 1. Elabore os documentos Escreva o Procedimento Operacional (PO) Para começar, escolha o processo que esteja mais relacionado ao indicador que o preocupa. Acompanhe todas as pessoas na execução das tarefas desse processo e fotografe o trabalho realizado, de ponta a ponta. Imprima todas as fotos, chame os empregados envolvidos e peça que eles as coloquem na sequência em que realizam as tarefas. É possível que haja opiniões divergentes, mas não se preocupe – isso é natural quando ainda não há um padrão estabelecido. Sugira a sequência que você acredita ser a melhor para alcançar os resultados esperados do processo e certifique-se de que todos concordam com essa sugestão ou a aprimorem. Não copie, nunca, os procedimentos de outra fazenda. Lembramos sempre que o mapeamento das tarefas em cada processo pode variar de acordo com a rotina e os procedimentos de cada negócio. Pode ser que o processo de ordenha, que detalha- mos a seguir, não seja o realizado da mesma forma na sua fazenda. Não há problema. Padronize o que é feito na sua e, com a ajuda dos eventos Kaizen você aprenderá com seu pessoal, nas suas condições, e ajustará a forma de realizar as tarefas para atingir o melhor desempenho. 156 157 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas Aplicar pós-dipping PROCESSO DE ORDENHA Você notou que temos uma linha de corte no início e no fim de cada processo? Quem determina essas linhas é você. Aqui convencionamos que o processo começa quando as vacas estão prontas para a ordenha, na frente do operador. Poderíamos começar com as vacas no pasto, detalhando as tarefas até a chegada à sala de ordenha. Essa definição depende da avaliação do proprietário e de cada negócio. Se a forma de conduzir as vacas até a ordenha for fundamental, comece pelas vacas no pasto. “Partindo de problemas reais, é mais fácil atribuir um valor ao problema – e, com isso, dimensionar os recursos que podemos investir na solução.” Claus Suffert, fundador da Qualitin, consultoria especializada em gestão. Tem grumo? Aplicar pré-dipping Limpar lateral do teto Limpar ponta do teto Descartar primeiros jatos na caneca Anotar na ficha Aplicar pré-dipping Secar ponta e lateral do teto Colocar equipamento e ajustar FIM INÍCIO SIM NÃO 159 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas PROCESSO DE ORDENHA - REPRESENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Aplicar pré-dipping Aplicar novo pré-diping Secar a ponta e a lateral do teto Limpar a lateral do teto Limpar a ponta do teto Colocar e ajustar equipamento Descartar os primeiros jatos na caneca Pós-dipping cobrindo todo o teto A seguir, apresentamos a representação fotográfica do procedimento. Embora seja a mais recomendada, em função do apelo visual, essa representação não é obrigatória. Você pode fazer um passo a passo em texto, um painel com tarjetas de papel coloridas ou qualquer outra forma criativa que comunique corretamente o que precisa ser feito. Instrução de Trabalho A Instrução de Trabalho nada mais é do que o detalhamento do Procedimento Ope- racional. Assim, ela descreve cada uma das tarefas que compõem o procedimento. Seguindo no exemplo da ordenha, a segunda tarefa, “limpar tetos”, exige a preparação de uma solução desinfetante. Veja a seguir como poderia ser a Instrução de Trabalho para essa tarefa. INSTRUÇÃO DE TRABALHO As tarefas devem ser executadas todos os dias da mesma maneira, com constância e uniformidade. Preparação da solução de cloro para desinfetar tetos 1. Jogar fora todo o conteúdo restante do galão de desinfetante 2. Colocar água limpa até a marca sinalizadora 3. Adicionar 1 litro da solução de cloro da bombona 4. Fechar a bombona de cloro e manter em local seco e abrigado 5. Fechar ogalão de desinfetante 6. Utilizar o desinfetante do galão em até duas (2) horas 160 161 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas Check list Tendo escrito o Procedimento Operacional e a Instrução de Trabalho, é hora de escrever o check list – a lista de itens que devemos observar quando estivermos monitorando as pessoas na execução das tarefas. Essa lista segue, portanto, exatamente a mesma ordem dos documentos acima (PO e IT). A seguir, um exemplo de check list. CHECK LIST SETOR: Ordenha SUPERVISOR: Paulo DATA: 05/01/2018 Procedimentos Manhã Tarde Noite Antes da ordenha Sala de tanques A bomba de vácuo está OK? ✓ ✓ ✓ O tanque de leite está limpo e fechado? ✓ ✓ ✓ A temperatura do leite está OK? ✓ ✓ ✓ Todo o volume ordenhado cabe no tanque onde está o leite? ✓ ✓ ✓ Sala de ordenha Foram verificadas anomalias da ordenha anterior? ✓ ✓ ✓ Foram verificadas as vacas paridas? ✓ ✓ ✓ Tem cloro para toda a ordenha? ✓ ✓ ✓ Tem luva descartável? ✓ ✓ ✓ Os pulsadores estão todos funcionando? ✓ ✓ ✓ As teteiras estão limpas, secas e inteiras? ✓ ✓ ✓ O tambor de tirar leite para os bezerreiros está limpo? ✓ ✓ ✓ As entradas de ar do coletor de leite estão livres? ✓ ✓ ✓ Os ventiladores e as luzes estão funcionando? ✓ ✓ ✓ Tem filtro de leite para a ordenha? ✓ ✓ ✓ Foram verificadas as vacas a liberar (colostro, tratamento etc.)? ✓ ✓ ✓ Depois da ordenha Tem ácido e detergente para a lavagem? ✓ ✓ ✓ A limpeza foi realizada por completo? ✓ ✓ ✓ A temperatura do leite está adequada? ✓ ✓ ✓ Os ventiladores e as lâmpadas foram desligados? ✓ ✓ ✓ VALIDE E DEIXE À VISTA Ao elaborar o Procedimento Operacional e a Instrução de Trabalho, atente-se às seguintes recomendações. • Escreva com os resultados esperados já em mente. • Defina início e fim do procedimento. • Acompanhe os operadores e peça ajuda para identificar como cada tarefa é realizada. • Escreva na forma de texto a partir do que está sendo feito. Jamais mude o que é feito para facilitar a escrita. • Sempre que possível, desenhe o procedimento em formato de diagrama, para que a sequência de tarefas seja compreendida. • Quando concluir a redação dos procedimentos, apresente a pessoas que conheçam o negócio, como consultores, e também a leigos. Essa validação externa é importante para garantir que o conteúdo dos documentos seja compreensível a todos. Depois de validar o Procedimento Operacional e a Instrução de Trabalho, deixe-os afixados na parede do território onde a tarefa é executada. Todos devem ter acesso a eles, podendo consultá-los sempre que surgir alguma dúvida. Esses documentos são importantes aliados na criação de uma rotina na fazenda. Lembre-se que a constância na execução das atividades leva à excelência do produto. 162 163 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas APRENDER Forme mestres A elaboração do Procedimento Operacional, por si só, não vai garantir que as tarefas sejam executadas da forma esperada. Para que esse resultado seja alcançado é ne- cessário treinar os empregados, criando as condições para que entreguem o melhor trabalho. Um empregado bem treinado é aquele que, ao fim do processo, é capaz de transmitir o conhecimento adquirido para outras pessoas. No Sistema MDA, isso caracteriza um mestre. JORNADA DO MESTRE FAZER ENSINAR Antes de qualquer ação de capacitação, faça um plano do treinamento, prevendo to- das as etapas. Providencie os equipamentos e materiais a serem utilizados e prepare o local exatamente do jeito como o empregado irá encontrá-lo no dia a dia. Não faça um treinamento teórico nem se utilize de slides ou qualquer material sofisticado. Aqui vale reforçar a dica: exemplifique os passos do procedimento operacional com fotos, preferindo sempre textos curtos, diretos e com linguagem simples. Depois de preparar o terreno, fale com o empregado, deixando-o à vontade e procu- rando entender o que ele já sabe a respeito da tarefa. Lembre-o sempre do propósito daquela atividade, valorizando o trabalho – fale, por exemplo, como um teto bem lim- po pode contribuir para a redução das ocorrências de mastite clínica. Mostre, então, como a tarefa deve ser executada, explicando cada passo com calma. Não aprofunde mais do que o necessário, para que ele não perca o foco nem a motivação e consiga assimilar o que de fato interessa. Em uma etapa posterior, solicite que o operador execute sozinho o trabalho e que explique cada um dos passos descritos no procedimento operacional. Peça que repita a tarefa, até que você tenha certeza de que ele pode fazê-la sozinho. Esclareça, então, que de agora em diante ele está preparado para fazer o trabalho sozinho – mas indique a quem deve recorrer em caso de dúvidas (o supervisor, por exemplo). Lembre-se sempre: se o empregado não aprendeu, é sinal de que o instrutor não ensinou direito. 164 165 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas Por último, monitore o trabalho periodicamente. No início, o supervisor (ou você mesmo) pode checar várias vezes ao dia se a tarefa está sendo bem executada. Com o tempo, dê mais autonomia ao operador e passe a fazer o acompanhamento com intervalos maiores de frequência, até que a monitoria passe a ser feita somente uma ou duas vezes ao ano. Não deixe de documentar o desempenho do empregado, para posterior feedback. CAPACITAÇÃO EM 9 PASSOS 1 2 9 45 3 6 7 8 Veja o que a pessoa já sabe sobre o assunto. Mostre a importância do trabalho para ela e para o negócio. Combine com ela como serão as monitorias, reforçando a importância dessas monitorias para ajudar na execução correta do trabalho. Demonstre novamente, agora explicando passo a passo e os porquês de cada passo. Faça o trabalho mais uma vez, mas peça que a pessoa o oriente, falando o que você deve fazer. Mostre como se faz o trabalho. Peça para que ela faça, explicando o que será feito, antes de cada passo. Aproveite esse momento para corrigir ou lembrar de pontos importantes. Peça para que ela faça o trabalho novamente, explicando os porquês de cada passo. Parabenize a pessoa e se coloque à disposição para tirar qualquer dúvida que ela venha a ter. Essa técnica de capacitação foi desenvolvida por Charles Allen em 1944 para treinar os operadores da indústria bélica dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e foi chamada de TWI (do inglês Training Within Industry). O procedimento se tornou, mais tarde, a base do programa de treinamento da Toyota, sendo reconhecido como uma das principais causas do sucesso da montadora.166 167 Capítulo 14 – Padronize processos e capacite as pessoasSeção 03 – Solução de problemas VENÇA RESISTÊNCIAS É normal que, no início, alguns empregados manifestem uma certa resistência ao treinamento. Eles estão se adaptando às novidades introduzidas na fazenda e seu papel é, sempre, deixar os objetivos claros e manter uma relação de transparência. Veja, a seguir, algumas simulações de situações que podem vir a acontecer e quais seriam as possíveis reações a elas: “Isso não trará nada para mim a não ser mais trabalho!” Reação: Explique a missão e os valores da fazenda e destaque os benefícios que o empregado terá com a execução correta dos trabalhos. “Nós fazemos dessa maneira há muito tempo e tem dado resultado!” Reação: Explique a necessidade da mudança, com base nos dados coletados, e escute as considerações do empregado. “O chefe quer microgerenciar tudo que eu faço.” Reação: Encoraje as pessoas a participarem das decisões, pedindo sugestões de como executar melhor determinadas tarefas. Isso minimiza a sensação de falta de poder. 168 04. Olhar no futuro “Uma empresa sem estratégia faz qualquer negócio.” Michael Porter, professor da Harvard Business School. 170 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro VOCÊ ESTÁ AQUI Planejamento estratégico Planejee inove Nesse estágio da implantação do Sistema MDA você já estará conhecendo a si próprio como gestor, seus empregados, o potencial de produção de suas vacas e os meios de produção que você tem disponível. Agora é hora de fazer uma análise profunda do negócio para que você, na perspectiva dos interessados, defina novamente visão da fazenda, as metas para o próximo ano, a estratégia a seguir e os investimentos necessários para atingir o lugar desejado. No âmbito empresarial, uma ferramenta bastante utilizada para planejar o futuro de forma estratégica é a chamada Análise SWOT. A sigla vem de iniciais de quatro termos em inglês: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) Capítulo15 SUCESSO e Threats (Ameaças). Em resumo, a SWOT é uma ferramenta que permite pensar o futuro do negócio com base no ambiente interno, analisando forças e fraquezas, e também externos, a partir da identificação de oportunidades e ameaças. Essa lógica também se aplica à fazenda, de modo que a análise deve considerar os seguintes aspectos: Ameaças e oportunidades » Competitividade em relação aos fornecedores da indústria local e nacional. » Localização em relação ao mercado consumidor e tipo de produto (principalmente leite fluido). » Capacidade de expansão em função de disponibilidade de terra e restrições ambientais. » Disponibilidade de mão de obra treinada. Pontos fortes e fracos » Eficiência de produção. » Disponibilidade de capital. » Engajamento das pessoas. » Plano de sucessão. 172 173 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro Mais específicamente, poderíamos dividir essa análise em quadrantes, como demons- trado a seguir. Os fatores-chave de sucesso do negócio. Atributos positivos, tangíveis e intangíveis, internos. Ou seja, que estão sob seu controle. Exemplos: conhecimento, capital, crédito, tecnologia. Pergunte-se: • Quais as melhores atividades executadas? • Quais os melhores recursos disponíveis? • Qual a maior vantagem competitiva? • Qual o nível de engajamento de clientes e fornecedores? Os fatores que reduzem sua competitividade. Tudo que precisa ser aperfeiçoado ou resolvido para que você possa, por exemplo, figurar entre os melhores produtores de sua região. Exemplos: localização ruim, poucos recursos, instalações inadequadas, genética de baixa qualidade. Outras perguntas importantes: • A mão de obra é capacitada? • Existem lacunas de treinamento? Sua visão quanto aos rumos do mercado, considerando as razões que fazem com que seu negócio possa melhorar. Exemplos: percepção da sua fazenda pelos compradores de leite, melhoria da região como bacia produtora, instalação de novas indústrias nas proximidades. Fatores externos, além do seu controle, que podem afetar o negócio. Exemplos: novos competidores, queda de preços do leite, aumento de preço de insumos, fornecedores ineficientes. S W TO FORÇAS Strengths OPORTUNIDADES Opportunities FRAQUEZAS Weaknesses AMEAÇAS Threats ANÁLISE SWOT APLICADA ÀS FAZENDAS O QUE É VALOR 1 1 2 2 3 3 • Volume • Referência • Preço • Crescimento/ realização • Satisfação dos funcionários • Prazer/ tranquilidade • Reconhecimento • Composição • CCS • CBT • Lucratividade • Custo • Acesso • Distância • Carga no caminhão • Produtividade • Variabilidade INDÚSTRIA FAZENDA Observe que uma área fundamental dessa análise é concentrada no que é valor para seu cliente e para sua fazenda. Essa análise de valor pode, de maneira genérica, ser a apresentada na figura a seguir, mas vale lembrar que a depender de cada realidade, essa categorização pode ser diferente, de modo que deverá ser adaptada. Isso determina que tipo de negócio você quer ou precisa ter. Normalmente agrupamos os tipos de negócio de produção de leite em três categorias. a. Baixo custo: são aqueles que, para ter sucesso, focam em eficiência operacional. b. Diferenciados: os que têm um produto prêmio, como leite tipo “A” e queijos finos. c. De nicho: os que aproveitam uma situação local como a venda de produto regional. 174 175 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro A maior parte dos negócios de produção de leite são os que se enquadram na categoria de baixo custo. Esses possuem os atributos da fazenda de alta eficiência operacional, que consolidamos na lista a seguir. Tem o maior número possível de vacas em lactação em relação ao capital empregado. Possui o menor custo de criação de novilhas sem que elas deixem de expressar seu potencial genético. Captura todos os bônus possíveis com a qualidade do leite. Maximiza as receitas em relação aos custos de alimentação do rebanho. Produz a forragem de melhor qualidade possível. Gera prenhezes – prenhez leva a fluxo de vacas e a aumento de RMCA (receita em relação aos custos de alimentação). Corta custos inteligentemente – em itens que não afetam a saúde das vacas nem a qualidade das forragens. Dilui os custos de mão de obra por meio de maior volume de leite produzido e não às custas de pagar menos para as pessoas. Minimiza as perdas de comida, um dos maiores custos na produção de leite. Oferece o máximo conforto para os animais. Lembre-se: a eficiência operacional é fundamental para qualquer negócio, pois leva à alta produção do rebanho e por vaca, que são os dois principais influenciadores de baixo custo. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Questões fundamentais Tendo essas considerações como base, é hora de você analisar a fazenda como negócio. Para tanto, resgate o que você fez no mapeamento dos sistemas (capítulo 9) e, juntamente com informações gerenciais (zootécnicas, financeiras), responda às seguintes perguntas: Finanças » Consigo pagar minhas dívidas neste ano? » Se eu fechar, pago todas as minhas dívidas? » Minha margem operacional é maior do que 20%? » Minha rentabilidade está maior do que 7,5%? » O giro do capital está acima de 0,50? » Estou conseguindo captar todos os bônus que minha indústria paga? » A produção das vacas está mais de 90% do máximo potencial produtivo? Rebanho » A laminite está abaixo de 15%? » A CCS está abaixo de 250 mil? » A acidose está abaixo de 20%? » A ureia está entre 10 e 14 mg/100 ml? » A taxa de prenhez está acima de 18%? » A idade ao primeiro parto está abaixo de 25 meses? 176 177 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro Gestão » As perdas nos processos representam menos do que 20% do lucro operacional? » Os empregados estão totalmente engajados? Esse primeiro bloco de perguntas permite indicar os pontos fortes e fracos de seu negócio. Para complementar, respondas as questões a seguir, que ajudam a identificar ameaças e oportunidades: • A fazenda atende à legislação do setor leiteiro? • A fazenda atende à legislação ambiental? • A fazenda atende à legislação trabalhista? • Existe alguma tendência na política que pode favorecer a fazenda? • Existe disponibilidade de mão de obra competente na região? • O clima da região é favorável à produção de leite? • Existem vários compradores de leite na região? • Existe disponibilidade de consultores competentes na região? • Há fornecedores de insumos na região? • Há prestadores de serviço para as máquinas e equipamentos na região? • Há produtores inovadores e empreendedores na vizinhança? • Há possibilidade de expansão de área agricultável? • Há mercado regional para seus produtos? • Não existe nenhuma limitação sanitária em sua região? • Há disponibiliade de recursos a baixo custo para investimentos? O QUE FAZER Seguir melhorando, continuamente Repensar a manutenção do negócio (fechar?) Investir Diversificar OPORTUNIDADES FRAQUEZAS FORÇAS AMEAÇAS Dependendo das respostas, você poderá definir a estratégia a seguir. Em geral, essa estratégia se enquadrará em uma das seguintes situações abaixo. Simulação do crescimento Em nossa experiência, na maioria das fazendas encontramos muitas oportunidades e muitasfraquezas, o que leva à estratégia de melhorar continuamente. Algumas, por sua vez, se veem no quadrante de “investir”, pois já dominaram todo o método de gestão do Sistema MDA e podem crescer rapidamente no negócio, com baixo risco. Preocupe-se primeiro em ser o melhor, depois o maior. 178 179 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro Se esse for o seu caso e você decidir por investir, é preciso fazer uma simulação do que vai acontecer no negócio no curto prazo (próximo ano) e no futuro (próximos 10 anos). Eventualmente, na simulação, você sugere uma melhoria que exige investimento. Por exemplo: aumentar dois quilos na média de produção dos animais. Para tanto, seria necessário adquirir um equipamento de mistura total da dieta das vacas. É preciso, contudo, verificar se essa aquisição é viável. Ou seja, se “cabe no bolso” da fazenda. A análise do investimento pode ser feita de maneira mais sofisticada, utiizando o valor do dinheiro no tempo, o cálculo da taxa interna de retorno, o custo-benefício e o “pay back” (tempo de retorno do investimento). No Sistema MDA, utilizamos simplesmente a análise do fluxo de caixa sem desconto, associado ao conceito de lucro marginal. No box ao lado, você confere as premissas dessa análise. Mas não se preocupe: caso a linguagem financeira seja estranha para você, basta pedir ajuda a um especialista (contador ou administrador) para obter os números necessários à simulação. Baixe o simulador de- senvolvido pela Clínica do Leite e exercite o planejamento de seu negócio. PREMISSAS PARA ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA • Os fluxos de caixa devem ser montados em base incremental (marginal). • Devem ser considerados todos os efeitos do projeto. • Os fluxos devidos ao financiamento não devem ser considerados no fluxo de caixa de avaliação econômica. • Os fluxos devidos ao financiamento (principal + juros) devem ser considerados no fluxo de caixa de avaliação financeira. • Os valores utilizados não devem ser inflacionados. • O valor residual ou de liquidação do projeto deve ser estimado de modo consistente. • A vida técnica dos ativos não determina necessariamente o prazo sobre o qual se devem projetar os fluxos de caixa do projeto. • A depreciação, por ser um custo não caixa, não deve ser computada. 180 181 Capítulo 15 – Planeje e inoveSeção 04 – Olhar no futuro Aplicando o conceito Para que você pratique a análise de viabilidade de investimento, vamos fazer um exercício simples, com base em uma situação bastante comum em fazendas produ- toras de leite. Imagine que uma fazenda possui um equipamento de ordenha antigo e o proprietário pensa em substituí-lo por um novo. A questão é: essa troca é viável? Vamos considerar que o equipamento antigo ainda pode ser utilizado por mais cin- co anos. Se substituído, pode ser vendido por R$ 18.000,00. O equipamento novo custa R$ 300.000,00 e tem vida útil de 10 anos. Admite-se que o equipamento novo pode ser vendido até o término de sua vida útil. O equipamento novo pode resultar em aumento na produção de leite (de 2.044 mil litros/ano para 2.190 mil litros/ano), redução de mão de obra (de cinco ordenhadores para três) e redução de material de consumo (de R$ 0,019 /litro de leite para R$ 0,015 /litro de leite). Considere que, em valores fictícios, o preço do leite é R$ 0,685, a mão de obra custa R$ 6.000,00 por ano e o custo de alimentação para produzir 1 litro de leite é R$ 0,115. Assim, a resposta ao exercício seria o seguinte: Item Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Investimento Equipamento novo -$300.000 $150.000 Equipamento antigo $18.000 Aumento de receita -$100.000 -$100.000 -$100.000 -$100.000 -$100.000 Aumento do custo de alimentação -$16.000 -$16.000 -$16.000 -$16.000 -$16.000 Redução de mão de obra $12.000 $12.000 $12.000 $12.000 $12.000 Redução de material de consumo $6.000 $6.000 $6.000 $6.000 $6.000 Fluxo econômico -$282.000 $102.000 $102.000 $102.000 $102.000 $252.000 Se somarmos os valores da linha “Fluxo econômico” teríamos R$ 378.000,00. Ou seja, esse valor é positivo e, portanto, vale a pena substituir o equipamento de ordenha olhando os aspectos econômicos da transação. Observe que nesse fluxo de caixa foram considerados somente os valores financeiros (positivos ou negativos) relativos ao investimento analisado. Por isso é chamado de “custo marginal”. Será preciso, no entanto, avaliar se o desembolso de R$ 300 mil para a compra do equipamento “cabe em nosso bolso”. Para isso, devemos ter o fluxo de caixa do “negócio” (todas as receitas e despesas, incluindo, eventualmente, recursos de fontes externas – pou- pança particular, por exemplo). Esse processo será mais fácil se você tiver informações confiáveis à disposição, por meio de seu sistema de controle de caixa. Vamos imaginar, agora, que você decidiu pelo investimento. É hora, portanto, de fazer um Plano de Ação para implementar esses investimentos no próximo ano. Aqui, mais uma vez você abre novos projetos, tendo como marcos/ entregas os inves- timentos a serem realizados, definidos com base nas simulações. Esses projetos têm como forma o mesmo da implantação do Sistema MDA apresentado no Capítulo 3. 182 183 Seção 04 – Olhar no futuro VOCÊ ESTÁ AQUI Reunião mensal SUCESSO Reuniões mensais Agora é só acompanhar o andamento do projeto, por meio de reuniões mensais nas quais você, seu gerente e seu consultor executarão as seguintes atividades: Avaliação dos indicadores do Sistema e do Negócio. Avaliação do Caixa para os próximos três meses. Avaliação do Orçado X Realizado e do Previsto X Realizado. Andamento das tarefas do projeto ativo do gerente. Desdobramento das entregas do projeto ativo em tarefas. As reuniões mensais, a exemplo das reuniões semanais, devem sempre ser feitas na frente do Painel de Controle – no caso, o do Negócio ou Gerencial. Veja na imagem a seguir um modelo desse Painel. 1 2 3 4 5 Com isso, a sua rotina (e a do seu gerente) no próximo ano será: • Diariamente: perambular pelos setores e acompanhar os projetos. • Semanalmente: fazer a reunião com os supervisores. • Mensalmente: realizar a reunião com o(s) consultor(es). • Anualmente: elaborar o planejamento estratégico. 184 Capítulo 16 – Agora é com vocêSeção 04 – Olhar no futuro Agora é com você Chegamos ao final da Jornada de Implantação do Sistema MDA. Caso tenha seguido nossa sugestão de tornar a implantação um projeto da fazenda, você levou cerca de 12 meses para concluir o percurso. É bastante provável que esse percurso tenha sido marcado por uma série de desafios, muitos problemas, inúmeras pedras no caminho. Pouco a pouco, no seu ritmo e de acordo com a sua realidade, os desafios foram superados, os problemas resolvidos e as pedras retiradas. Mas o trabalho não tem fim, pois gestão efetiva exige melhoria contínua. Lembre-se de que é preciso estender o MDA a todos os territórios da fazenda, registrar as infor- mações, reforçar as condições para o engajamento dos empregados, seguir atento às demandas do cliente, eliminar todo e qualquer desperdício e planejar o futuro. Essas atividades nunca terminam. Porém, com o tempo, elas se tornam orgânicas, ou seja, são incorporadas naturalmente à rotina de gestão. Capítulo16 Os sinais de que o MDA está funcionando são claros. A fazenda está mais silenciosa, as pessoas contentes, os conflitos acabaram, o trabalho flui e, obviamente, há cada vez mais leite no tanque – com qualidade, regularidade, segurança. Assim, as expec- tativas do cliente são conhecidas e atendidas, a propriedade é competitiva. Como consequência, as finanças também melhoraram, de modo que o negócio está mais lucrativo, os custos sob controle e há caixa suficiente para se manter na atividade com tranquilidade e talvez investir, crescer. Quando atinge esse patamar, a fazenda demonstra muito mais resistência a qualquer crise. O preço do leite pode oscilar, o custo do insumo subir, um funcionário importante sair e tantasoutras situações difíceis acontecerem. Ainda assim, o negócio seguirá seu rumo, pois agora há um gestor no comando, apoiado por pessoas completamente engajadas. É um “negócio-polvo”, em que há uma cabeça coordenando os movimentos de inúmeros braços, todos na mesma direção. Com essa segurança, a qualidade de vida desse gestor e das pessoas que o rodeiam tende a melhorar. Todo mundo está mais feliz, ciente de que a produção de leite é, sim, um bom negócio – e tem futuro. Esse é o grande propósito do Sistema MDA: mudar a vida das pessoas para melhor. Se você não tiver esse objetivo em mente, pensando na própria vida e na dos demais envolvidos, dificilmente dará certo. Agora, se estiver disposto a transformar, vá em frente. O sucesso o espera! 186 187 Referências bibliográficas. AGRINESS. 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À Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), instituição à qual a Clínica do Leite é vinculada, pelo apoio ao desen- volvimento de nossas atividades no âmbito do Departamento de Zootecnia. Aos alunos de graduação e pós-graduação, atuais e egressos, por inspirarem a dedi- cação ao ensino e à pesquisa. À equipe da Clínica do Leite, representada no processo de elaboração deste livro pelos membros da Comissão Editorial (Augusto, Henrique e Sandro), pelas importantes contribuições cotidianas à evolução do Sistema MDA e pelas demais realizações de nossa instituição. À Débora Horn e seu time, pelo apoio na concre- tização deste projeto. Às indústrias e demais organizações que atuam no setor, pelo esforço coletivo com vistas ao progresso conjunto. Aos produtores e colaboradores de fazendas produtoras de leite, pela rica e constante troca de experiências que impulsionaram a busca por conhecimento e os avanços na metodologia de aprendizagem e implantação do Sistema MDA. Ao Dr. Lair Antônio de Souza, que me deu a oportunidade de aplicar conceitos geren- ciais inovadores na Fazenda Colorado e me ensinou a não esmorecer ao receber um não – “tudo é possível”, dizia ele. À minha família, por absolutamente tudo. Em especial à Angélica, minha esposa, que abriu mão de sua vida profissional para viver a minha. Meu profundo e eterno agradecimento! Paulo Fernando Machado O autor. Com mais de 40 anos de experiência em bovinocultura de leite, Paulo Fernando Machado tem paixão por compartilhar conhecimento. Com esse intuito, migrou das fazendas, onde atuou como consultor e gestor por décadas, para a academia. É professor titular do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), desde 1980, onde fundou a Clínica do Leite, instituição sem fins lucrativos dedicada à melhoria da bovinocultura leiteira. Em meados da década de 1990, quando consultor de fazendas, percebeu que o su- cesso da atividade dependia diretamente da gestão do negócio. Passou a se dedicar, então, ao estudo de diversos modelos gerenciais, testando sua aplicação no cotidiano da propriedade. Assim nasceu o Sistema MDA, cujos resultados atrairiam, ao longo das décadas seguintes, centenas de pessoas às capacitações realizadas pela Clínica do Leite – cerca de 1,2 mil pessoas já foram formadas. Por meio do MDA, o Professor estendeu sua paixão por ensinar a um número crescente de alunos, que há tempos demandavam pelo registro formal do conheci- mento compartilhado. Este livro resulta do desejo de atendê-los e, assim, fazer com que esse conhecimento chegue ainda mais longe. Formação acadêmica » Graduado em Engenharia Agronômica na ESALQ/USP (1974) » Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens na ESALQ/USP (1980) » Doutorado em Ciência dos Alimentos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF)/ USP (1983) » Pós-Doutorado na Michigan State University, Estados Unidos (1986) » Especialização em Business for Scientists and Engineers na Kellogg School of Management, Estados Unidos (2014) 190 191 “Somos inquietos, inconformados por natureza. Enquanto houver espaço para melhorar – e sempre há – seguiremos lapidando o Sistema MDA, empenhados em ajudar o agronegócio a evoluir. É isso que nos move.” Paulo Fernando Machado www.cl in icadolei te.com.br capa pag_183_LIVRO_SUCESSO_NO_LEITE