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07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 1/37 DIREITO CONSTITUCIONAL CAPÍTULO 1 - POR QUE A SEPARAÇÃO DOS PODERES ESTÁ BASEADA NA TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS Rosana Silvério Siqueira/Guilherme Rocha INICIAR 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 2/37 Introdução Olá, caro aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Direito Constitucional. Você já pensou qual a finalidade da separação dos poderes? Por que a função de elaborar as leis, assim como a de administrar os recursos públicos e a de resolver os conflitos, não é executada por apenas uma pessoa? Por exemplo, o presidente da República não poderia substituir os deputados e senadores, assim como os ministros do Supremo Tribunal Federal, concentrando todas as atribuições a si próprio? Evidente que não. O Estado possui diferentes funções, que precisam ser exercidas por centros de poder distintos, o que evita o autoritarismo. É por isso que se procede a uma separação de poderes, que visa a atribuir funções específicas a cada um, de modo a organizar o Estado, mas também para garantir liberdades. Quando cada centro de poder cuida de determinada atribuição, dificulta-se o abuso e viabiliza-se que um possa controlar o outro, como você estudará neste capítulo. 1.1 Separação dos poderes A separação dos poderes vem diferenciar as funções (legislação, administração e jurisdição) de cada um dos órgãos dos poderes estatais, os quais desempenharão suas atividades com autonomia. A organização dos poderes que conhecemos atualmente não partiu de uma invenção genial de um homem inspirado, mas sim do resultado empírico da evolução constitucional inglesa, a qual consagrou o Bill of Rights de 1689 (FERREIRA FILHO, 2015, p. 163). Ferreira Filho explica de maneira objetiva a influência da revolução na separação dos poderes: Pôs no mesmo pé a autoridade real e a autoridade do parlamento, forçando um compromisso que foi a divisão do poder, reservando-se ao monarca certas funções, ao parlamento outras e reconhecendo-se a independência dos juízes. (2015, p. 165) 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 3/37 Ainda que não tenha sido resultado da obra de uma pessoa, a separação dos poderes teve como maior expositor o francês Charles Louis de Secondat, mais conhecido pelo nome da comuna francesa que ele administrada – Montesquieu (MONTESQUIEU, 2010, p. 02). A obra "O Espírito das leis" influenciou fortemente a teoria da separação dos poderes, o que justifica a indicação de Montesquieu como um dos seus principais expositores. É importante salientar que "O Espírito das leis" foi publicado em 1748. A partir daí a teoria da separação dos poderes sofreu diferentes influências, a depender dos interesses de cada Estado. Ainda assim, é a teoria utilizada há mais tempo na área do Direito sem que se cogite, efetivamente, da sua modificação. Contudo, existem algumas vozes que propõem mudanças nesse sistema, como Bruce Ackerman (2014). “Adeus, Montesquieu” é um artigo do professor da Universidade de Yale, Bruce Ackerman, publicado na Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n. 265, p. 13-23, jan./abr. 2014. No texto, ele critica a organização das funções do Estado em apenas três poderes. Agora que você compreendeu a separação dos poderes e sua importância na organização do Estado, vamos fazer um passeio pela história da teoria de freios e contrapesos! 1.1.1 Origem e evolução da teoria: ideia de freios e contrapesos A origem da teoria é apresentada pela primeira vez em um momento histórico, em que o poder era exercido pela figura de uma única pessoa, ou seja, em período absolutista. As três funções estatais eram exercidas pelo soberano, ou seja, era ele quem editava as normas gerais a serem observadas pelos cidadãos e, ao mesmo VOCÊ QUER LER? 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 4/37 tempo, realizava a aplicação dessas normas ao caso concreto (administrando). Por fim, na função de juiz, resolvia os conflitos provenientes do cumprimento das normas gerais nos acontecimentos reais. (TAVARES, 2016) A prática inglesa que viabilizou a separação dos poderes também iniciou, ainda que em grau embrionário, a teoria dos freios e contrapesos, cada poder exercia uma função típica, inerente à sua natureza, atuando independente e autonomamente, não mais sendo permitido a um único órgão legislar, aplicar a lei e julgar, de modo unilateral. (TAVARES, 2016) Com Montesquieu, no entanto, também evoluiu a necessidade de controle de um poder sobre o outro, sem prejuízo da autonomia de cada um. Essa teoria se contrapõe ao absolutismo, servindo como base estrutural de várias agitações políticas, como as revoluções americana e francesa. (TAVARES, 2016) O célebre Charles-Louis de Secondat, Barão de La Bréde e de Montesquieu, é responsável pela teoria mais sólida do meio jurídico. Diferente das demais, que são objetos de constantes questionamentos e modificações, a teoria da separação das funções ganhou grande estabilidade na maioria dos Estados e sequer cogita-se sua modificação. A estruturação de poderes, em Executivo, Legislativo e Judiciário, parece atender adequadamente aos anseios de organização social, o que motiva até mesmo a ausência, com raras exceções, de teorias que proponham a alteração desse sistema. Dessas revoluções consagra-se uma das declarações de maior importância aos direitos do homem: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789 (ONU). No bojo de seu artigo 16, estabelece que: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”. (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão). VOCÊ O CONHECE? 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 5/37 Com efeito, a contar dessa teoria, cada poder passa a exercer uma função típica correspondente às atribuições de suas atividades, de forma independente e autônoma. Extirpando a concentração de poderes nas mãos do soberano, surgindo assim o que designou teoria dos freios e contrapesos. O sistema de freios e contrapesos visa a manter o equilíbrio entre os três poderes no exercício das suas respectivas funções. Por meio desse sistema, são dadas atribuições para que um poder limite a atuação do outro, o que evita arbitrariedades. Por exemplo, após votar pela aprovação de um projeto de lei, o poder Legislativo o envia ao Executivo, que pode sancioná-lo (caso concorde com o seu conteúdo) ou vetá-lo (caso identifique que o seu conteúdo viola a Constituição ou é contrário ao interesse público). Note que o veto nada mais é do que um mecanismo de controle que o poder Executivo exerce sobre o Legislativo, de modo a evitar abusos. A teoria dos freios e contrapesos aponta, ainda, a função atípica de cada um dos órgãos, ou seja, o Legislativo exerce, por exemplo, uma função atípica do Executivo e outra atípica do jurisdicional. No tópico que segue será abordada a distribuição das funções típicas e atípicas de cada um dos órgãos: Legislativo, Executivo e Judiciário. 1.1.2 Funções do Estado distribuídas pelos poderes As funções estatais são distribuídas entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, tendo em vista a coadunação existente entre eles, em razão dos fundamentos da República Federativa do Brasil, descrito no art. 2º, da Constituição Federal: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si [...]”. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_16/37 A evolução histórica da separação dos poderes sofreu diferentes influências em cada Estado, a depender dos governos de cada localidade. No Brasil, o modo de desenvolvimento da teoria da separação dos poderes sofreu forte influência do modelo estadunidense. Especificamente, sofreu forte influência da teoria de John Jay, Alexander Hamilton e James Madison, conhecidos como federalistas. Esses três autores publicaram 85 artigos, que foram reunidos na obra The federalist papers, em 1788. Quadro 1 - Distribuição das funções dos poderes. Fonte: LENZA, 2017, p. 535. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 7/37 Os artigos federalistas influenciaram a transformação da sistemática de Montesquieu nos Estados Unidos e foram importados pela doutrina nacional. Dentre outros objetivos, abordava-se a necessidade de evitar o protagonismo do poder Legislativo, que era visto como um vórtice impetuoso de poder (MADISON, 1788). Para isso, transferiu-se parte das funções inerentes ao Legislativo ao Executivo (como a iniciativa para a apresentação de projetos de leis), além de um fortalecimento do poder Judiciário, que passou a ser considerado um corpo intermediário entre o povo e o legislativo, de modo a evitar que os representantes do povo substituam a vontade dos constituintes, noções que ficaram evidentes no caso Marbury vs. Madison, da Suprema Corte dos Estados Unidos. (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1803) A evolução da teoria da separação dos poderes culminou no aprimoramento dos mecanismos de freios e contrapesos, haja vista a necessidade de controle recíproco dos limites da atuação de cada um, sem que qualquer deles possa assumir a função de controle dos demais e, em consequência, do próprio Estado. Nesse contexto, você consegue imaginar algum exemplo de um instrumento de controle de um poder sobre o outro? Veja, se o poder Legislativo aprovar emenda à Constituição para retirar funções do Executivo e transferi-las a si próprio, o Judiciário poderá excluir essa emenda do ordenamento jurídico brasileiro (mediante julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade). O que se tem, nesse exemplo hipotético, é o controle de um poder (Judiciário) sobre outro (ou seja, sobre o Legislativo). (TAVARES, 2016) Note, contudo, que embora existam recursos para impedir que um poder assuma o controle dos demais e do próprio Estado, de modo contrário ao regime constitucional, é inequívoca a busca de preponderância dos poderes no exercício das suas atribuições. A busca pelo poder é fruto de constante conflito entre instituições públicas, o que sabidamente não é exclusividade da realidade brasileira e o que ressalta a importância dos instrumentos de freios e contrapesos (TAVARES, 2016). 1.2 Organização do poder Legislativo 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 8/37 Pensando na organização do poder Legislativo, qual a sua estrutura? Ele é composto pelas duas Casas do Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Você já se perguntou qual o sistema aplicado pelo poder Legislativo e o seu objetivo? No âmbito federal, o Brasil adota o sistema bicameral, com o objetivo de manter o equilíbrio federativo entre os representantes da população, Câmara dos Deputados, e os representantes dos Estados-membros, Senado Federal. (TAVARES, 2016) Tendo o Brasil adotado o sistema bicameral em âmbito federal, qual o sistema adotado na esfera estadual e municipal? O sistema adotado por ambas as esferas é unicameral, sendo a Assembleia Legislativa formada somente por deputados estaduais e Câmara Municipal apenas por vereadores. Você sabe o que vem a ser uma Comissão Parlamentar? Elas integram as Casas Legislativas brasileiras e são fundamentais ao exercício das funções legislativas, conforme você estudará nos tópicos seguintes, oportunidade em que também serão abordadas as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), que possuem poderes de investigação próprios da atividade de fiscalização. 1.2.1 Estrutura e Composição do Congresso Nacional e das Casas locais O Congresso Nacional encontra-se entre os órgãos do poder Legislativo, como órgão legislativo federal, com atribuições típicas do poder legislativo como atividade legiferante, bem como as atípicas, na administração de seus serviços, ainda a jurisdicional, quando do julgamento de outras autoridades do Estado nos crimes de responsabilidade. Possui competência para dispor sobre assuntos de alçada da União, no que tange a temas designados à Lei, por fim, representa a pretensão e proteção dos interesses dos cidadãos utilizando da elaboração de leis e da fiscalização dos demais poderes do Estado. (TAVARES, 2016) Moraes (2017, p. 316) dispõe que: O Poder Legislativo Federal é bicameral e exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, diferentemente dos estaduais, distritais e municipais, onde é consagrado unicameralismo. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 9/37 O bicameralismo do Legislativo Federal está intimamente ligado à escolha pelo legislador constituinte da forma federativa de Estado, pois no Senado Federal encontram-se, de forma partidária, representantes de todos os Estados-membros e do Distrito Federal, consagrando o equilíbrio entre as partes contratantes da Federação. Na estrutura interna do Congresso Nacional, encontra-se a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Este é composto por três representantes de cada Estado e do Distrito Federal, eleitos pelo sistema majoritário, com mandato de oito anos e eleições a cada quatro anos. Dessa forma, a cada eleição, a casa renova alternadamente um terço e dois terços de suas 81 cadeiras. Em outras palavras, os senadores da República são eleitos para duas legislaturas. Lembre-se, nesse contexto, que uma legislatura equivale a um período de quatro anos, computado a partir da posse dos eleitos, em 1° de janeiro do ano subsequente ao da respectiva eleição (TAVARES, 2016). Já os Deputados são eleitos a cada quatro anos pelo sistema proporcional em cada Estado e no Distrito Federal. (MENDES, 2016) O número total de Deputados Federais, bem como a representação por Estado e pelo Distrito federal, é proporcional à população. Nos dias atuais, cada unidade da Federação pode eleger entre oito (mínimo) e 70 (máximo) deputados, dentro do limite estabelecido pelo art. 45, da CF/88 e da Lei Complementar 78/93. Diferente dos senadores da República (eleitos para duas legislaturas, como você aprendeu), os deputados federais são eleitos para uma legislatura, ou seja, para um mandato de quatro anos. A sessão Legislativa pode ser ordinária ou extraordinária. A ordinária corresponde ao ano legislativo, ou seja, ao período de atividade normal do Congresso Nacional (de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro). A extraordinária é a que pode acontecer no decorrer do recesso parlamentar, período de suspensão dos trabalhos legislativos (23 de dezembro a 1º de fevereiro e de 18 a 31 de julho). Ela pode ser convocada pelo presidente do Senado (§ 6º, I, art. 57 da CF/88), nos seguintes casos: decretação de estado de defesa ou de intervenção federal; pedido de autorização para a decretação de estado de sítio; para a prestação de compromisso e posse do presidente e do vice-presidente da República. Além desses casos, também podem convocar sessões extraordinárias o presidente da República, 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 10/37 os presidentes da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, ou a maioria dos membros de ambas as Casas do Congresso Nacional, em caso de urgênciaou de interesse público relevante (§ 6º, II, art. 57 da CF/88). Nomenclatura das sessões legislativas: Temos ainda, as sessões preparatórias que antecedem a inauguração dos trabalhos do Congresso Nacional, na primeira e terceira sessões legislativas de cada legislatura, e são designadas para a “posse dos membros das casas legislativas, bem como às eleições das respectivas mesas”. (CUNHA; NOVELININO, 2016, p. 479) Figura 1 - Sessão ordinária e sessão extraordinária. Fonte: CUNHA; NOVELINO, 2016, p. 478-479. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 11/37 A sessão conjunta do Congresso Nacional acontece com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal no mesmo recinto e pode ser convocada para inaugurar a sessão legislativa, dar posse ao presidente e ao vice-presidente da República eleitos (art. 57, §3º, CF). Para o exercício da função de fiscalizar, o Congresso Nacional conta com o auxílio do Tribunal de Contas da União - TCU, que analisa a arrecadação das receitas e aplicação das despesas públicas em todos os setores e, ao final do processo de análise, emite parecer (recomendando a aprovação ou rejeição das contas do presidente da República) e o remete ao Congresso, que delibera definitivamente sobre a questão, acatando ou discordando do parecer do TCU. (TAVARES, 2016) Além da estrutura legislativa federal, há a distrital e a municipal, esses são os assuntos a serem abordados a seguir. 1.2.2 Estrutura Legislativa Estadual A estrutura legislativa estadual é unicameral, tendo em vista sua composição: Assembleia Legislativa. Ela é composta pelos deputados estaduais, que atuam como representantes do povo. O art. 27, da CF/88, dispõe que: O número de Deputados da Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do estado na Câmara dos Deputados e, atingindo o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-lhes as regras desta Constituição sobre o sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às forças Armadas. § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III e 153, § 2º, I. § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos. § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 12/37 O professor Pedro Lenza (2017, p. 542) nos ensina de forma didática como fica a estrutura legislativa do Estado: Portanto, até o número de 12 Deputados Federais, o número de Deputados Estaduais será obtido pela multiplicação por 3 (o triplo). Acima de 12, segue a seguinte fórmula: y = (x – 12) + 36, em que y corresponde ao número de Deputados Estaduais e x, ao número de Deputados Federais. A fórmula, para facilitar, pode ser assim resumida: y = x + 24, em que y corresponde ao número de Deputados Estaduais e x, ao número de Deputados Federais (quando forem acima de 12). Quadro 2 - Fórmula da estrutura Legislativa Estadual. Fonte: LENZA, 2017, p. 542. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 13/37 O mandato será de quatro anos, sendo o regime estabelecido aos deputados estaduais o mesmo aplicado aos parlamentares federais. (TAVARES, 2016) Para o exercício da função de fiscalizar, os Estados contam com o auxílio do Tribunal de Contas, que analisa a arrecadação das receitas e aplicação das despesas públicas em todos os setores e, ao final do processo de análise, emite parecer (recomendando a aprovação ou rejeição das contas do Governador) e o remete à Assembleia Legislativa, que delibera definitivamente sobre a questão, acatando ou discordando do parecer do Tribunal de Contas. (TAVARES, 2016) Agora que você já conheceu a estrutura e composição do Congresso Nacional e a estrutura legislativa dos Estados, vamos compreender a composição do legislativo municipal. 1.2.3 Estrutura Legislativa do Município A estrutura Municipal é unicameral, uma vez que é composta por uma casa apenas, a Câmara Municipal, onde se encontram os representantes dos interesses do povo no Município. Os vereadores são eleitos para mandato de quatro anos, em quantidades variáveis, observados os limites quantitativos previstos no artigo 29, IV da Constituição Federal. O número máximo de vereadores, portanto é proporcional ao número de habitantes de cada Município. A quantidade de vereadores nas Câmaras Municipais pode variar entre nove (para Municípios com até 15.000 habitantes) e 55 (para Municípios com mais de 8 milhões de habitantes). Note, porém, que esses são os limites máximos, mas nada impede, por exemplo, que um Município com 15.000 habitantes tenha sete vereadores. Para o exercício da função de fiscalizar, a Câmara Municipal conta com o apoio do Tribunal de Contas. Importante ressaltar, porém, que a Corte de Contas que auxilia a Câmara Municipal é o Tribunal de Contas do Estado, pois a Constituição proibiu a criação de Tribunais ou Conselhos de Contas Municipais (art. 31, § 4°). Note, porém, que a Constituição impede que os Municípios criem Tribunais ou Conselhos de Contas, mas não proíbe que os Estados criem órgãos destinados, especificamente, ao auxílio das Câmaras Municipais – Tribunais de Contas para os Municípios. Nesse sentido, veja o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.° 687, do Supremo Tribunal Federal: 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 14/37 A CR impede que os Municípios criem os seus próprios Tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais (CF, art. 31, § 4º), mas permite que os Estados-membros, mediante autônoma deliberação, instituam órgão estadual denominado Conselho ou Tribunal de Contas dos Municípios (RTJ 135/457, rel. min. Octavio Gallotti – ADI 445/DF, rel. min. Néri da Silveira), incumbido de auxiliar as Câmaras Municipais no exercício de seu poder de controle externo (CF, art. 31, § 1º). Esses Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios – embora qualificados como órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º) – atuam, onde tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e de cooperação técnica das Câmaras de Vereadores. A prestação de contas desses Tribunais de Contas dos Municípios, que são órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º), há de se fazer, por isso mesmo, perante o Tribunal de Contas do próprio Estado, e não perante a Assembleia Legislativa do Estado-membro. Prevalência, na espécie, da competência genérica do Tribunal de Contas do Estado (CF, art. 71, II, c/c o art. 75). [ADI 687, rel. min. Celso de Mello, j. 2-2-1995, P, DJ de 10-2-2006.] VOCÊ SABIA? Que embora a Constituição tenha proibido a criação de Tribunais ou Conselhos de Contas Municipais, assegurou a continuidade dos que já existiam, como é o caso do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e do Município do Rio de Janeiro. Agora desenvolveremos o conhecimento das comissões parlamentares. 1.2.3 Comissões parlamentares Para compreender as comissões, vamos recorrer ao que dispõe o art. 58, caput, da CF/88: as comissões do Congresso Nacional e suas Casas são organizadas em permanentes e temporárias, observadas as diretrizes estabelecidas nas normas ou no ato decorrente de sua origem.07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 15/37 As comissões parlamentares são órgãos que fazem parte do poder Legislativo com competência para analisar e emitir pareceres sobre as propostas legislativas em andamento no parlamento ou monitorar e investigar fatos. Dentre as competências atribuídas às comissões, podemos mencionar a discussão e votação de projetos de lei que dispensem apreciação pelo plenário, nos termos do regimento, a convocação de ministros do Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes às atribuições legais, dentre outras. (TAVARES, 2016) Dentre as comissões temporárias, está a Comissão Parlamentar de Inquérito, instituída por meio da solicitação de um terço dos membros das respectivas casas, para a investigação de fato determinado, com prazo certo para encerrar e com poderes de investigação próprios de autoridades judiciais. (TAVARES, 2016) Isso posto, passaremos a análise da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que existe para viabilizar a função de fiscalizar que o poder Legislativo possui. Para executar essa função adequadamente, a Constituição conferiu à CPI poderes de investigação próprios de autoridades judiciais. (TAVARES, 2016) Mas quem pode criar uma CPI? Apenas parlamentares. Em âmbito federal, a CPI pode ser criada separadamente por cada Casa Legislativa (Câmara dos Deputados e Senado Federal), ou em conjunto. Lembre-se, nesse contexto, que também é possível instituir Comissões de Inquérito em âmbito estadual, distrital e municipal. Figura 2 - Comissões Parlamentares: permanentes e temporárias. Fonte: CUNHA; NOVELINO, 2016, p. 481-482. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 16/37 E como se cria uma CPI? Os requisitos de criação estão previstos no § 3° do art. 58 da CF/88, que exige requerimento de um terço dos membros da Casa Legislativa. Além disso, deve-se determinar qual fato será apurado e por quanto tempo a investigação será realizada. Ao final das atividades da CPI, suas conclusões podem ser encaminhadas ao Ministério Público, para que promova as ações judiciais cabíveis, tanto na esfera cível (como uma ação de ressarcimento em razão de prejuízo causado ao erário, por exemplo) como criminal. (TAVARES, 2016) As CPIs se submetem à fiscalização jurisprudencial, ato esse que não se opõe a separação dos poderes, pois trata tão somente de um exame destinado a impedir atos abusivos que as comissões possam vir a cometer no decorrer de suas atividades. Desta feita, tanto as limitações quanto os poderes outorgados às CPIs são formas de prevenir a ingerência de um poder sobre o outro e, ainda resguardar e efetivar os direitos e garantias fundamentais. (TAVARES, 2016) Com a alteração dada pela Lei n. 13.367/2016, as Comissões Parlamentares de Inquérito tiveram seus poderes de investigação adequados às previsões constitucionais. Recorde-se que os poderes das CPIs são próprios das autoridades judiciais, além de outros que estão previstos nos regimentos do Congresso Nacional. Poderes próprios de autoridades judiciais incluem a possibilidade de tomar depoimento de autoridades, de ouvir testemunhas sob compromisso, de requisitar informações e documentos. Com o decorrer da história, maneiras diferentes de interpretar o que são “poderes próprios das autoridades judiciais” provocam a análise de novos aspectos. Em uma dessas situações se decidiu que as CPIs podem determinar medidas de busca e apreensão, desde que providência seja devidamente fundamentada e que não seja efetivada em local inviolável, como o domicílio. Do contrário, a medida será completamente nula (BRASIL, 2015). Em relação à quebra do sigilo das informações bancárias, fiscais e telefônicas, também se exige fundamentação adequada, não se admitindo a medida com base em alegações genéricas, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2006). 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 17/37 Especificamente em relação às informações telefônicas, note que o poder atribuído à CPI alcança apenas o acesso aos dados telefônicos e não à interceptação telefônica (BRASIL, 2010). Em outras palavras, é possível obter registros documentais das ligações feitas e recebidas, mas não é possível “grampear” os telefones dos investigados. A interceptação telefônica somente pode ser realizada pela autoridade judicial. Sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito, Mendes (2016, p. 918) traça que: O quadro de atribuições das CPIs quer no direito brasileiro, quer no estrangeiro, não costumam ser preciso; vai – se delineando a partir dos problemas que surgem e à medida que são resolvidos pelo Judiciário. Fixar em concreto a extensão dos poderes das Comissões Parlamentares de Inquérito depende, portanto, da sensibilidade político – constitucional das Supremas Cortes, incumbidas de aparar os atritos entre a vontade de agir do Legislativo e outros valores. Para compreender as CPIs, no nosso direito, é imprescindível o conhecimento da visão jurisprudencial desse importante mecanismo de atuação do Legislativo. Chegamos ao final de mais um tópico de nossos estudos, onde foi demonstrado parte da estrutura da organização do poder Legislativo, envolvendo a composição do Congresso Nacional e das Casas locais e as comissões parlamentares, como são instituídas, competências por fim apresentamos a Comissão Parlamentar de Inquérito. 1.3 Estatuto dos parlamentares Iniciaremos a terceira parada de nossa viagem na exploração da disciplina Direito Constitucional. Preparado? Nessa parada, será apresentado a você os direitos e deveres dos parlamentares, de um lado a Constituição institui direitos para que haja equilíbrio entre os três poderes, por outro lado, os parlamentares terão alguns deveres ou proibições a serem observadas na constância de seu mandato. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 18/37 O regime jurídico específico dos parlamentares visa a independência do Legislativo em face dos demais poderes, coibindo abusos e pressões, sendo instrumento de proteção aos parlamentares no exercício de sua função. 1.3.1 Direitos e deveres dos membros do poder Legislativo A Constituição Federal estabelece expressamente em seu texto regras instituidoras de imunidades e proibições parlamentares, para garantir ampla liberdade de atuação ao parlamentar no exercício do mandato outorgando-lhes algumas prerrogativas. As imunidades ou prerrogativas estão relacionadas à independência do poder Legislativo, ou seja, às prerrogativas concedidas pela Lei Maior, visa a assegurar a liberdade do parlamentar no exercício de suas funções e se faz necessárias para o bom funcionamento do Estado de Direito. Trata-se de exceções ao regime comum e deriva de interesse público, em observação a prestação de um bom mandato, que não venha a ser abdicado por aqueles que são por elas protegidos. As prerrogativas estão estabelecidas pelo art. 53, caput, da Constituição Federal, e podem ser divididas em material ou substantiva (inviolabilidade) e processual ou formal. A imunidade material é regulamentada pelo art. 53, caput, da CF/88, enquanto a processual é instituída pelo mesmo dispositivo, §§ 2º à 5º. Veja como ficam as prerrogativas parlamentares no quadro que segue. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 19/37 Para a compreensão de cada uma das prerrogativas ou imunidades dispostas no quadro, serão apresentadas as diferenças de aplicabilidade das prerrogativas matéria e processual. A prerrogativa material implica na exclusãoda prática de crime e na inviolabilidade civil pelas palavras, opiniões e votos dos parlamentares, desde que proferidos no exercício de sua função, conforme prevê o artigo 53 da Constituição Federal. Mas o que se considera como exercício da função, para fins da imunidade mencionada? Apenas o discurso proferido durante uma sessão plenária está livre de reprimendas, ou também aquele proferido em outros momentos? Somente palavras proferidas na Quadro 3 - Imunidades parlamentares. Fonte: MORAES, 2014, p. 449. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 20/37 sede do poder Legislativo ou também manifestadas em outros lugares estão abrangidas pela proteção constitucional? Essas situações já foram enfrentadas pelo Supremo Tribunal Federal. As palavras e opiniões dos parlamentares são imunes de reprimenda civil ou penal sempre que proferidas com relação ao exercício da sua atividade de legislar ou fiscalizar, independente do local ou meio de comunicação. Não há diferença, portanto, entre uma palavra proferida durante um discurso em sessão plenária ou fora da sede do poder Legislativo, desde que entre ela e o mandato parlamentar exista uma relação clara, ou seja, um nexo de causalidade. Isso abrange, também, palavras e opiniões proferidas em redes sociais ou quaisquer outros meios de comunicação (BRASIL, 2016). Não se pode confundir as prerrogativas funcionais ou profissionais com os privilégios pessoais. Diferente destes, as prerrogativas funcionais são conferidas em relação à atividade ou função exercida, independente de quem a exerce. Um exemplo atual que pode ilustrar casos de prerrogativas são os benefícios (como o foro especial, previsto no § 1º do art. 53 da CF/88) de alguns parlamentares investigados no bojo da Lava Jato. CASO Como exemplo prático, segue a indicação de um caso de imunidade aplicada - Petição 5.875 Distrito Federal, que relata uma decisão do STF a respeito da imunidade parlamentar material (art. 53, caput, da CF/88), manifestação de parlamentar veiculada em meio de comunicação social (Twitter). Considerando que os deputados e senadores são invioláveis pelas opiniões, palavras e votos que proferirem desde que o façam no exercício de suas atividades (TAVARES, 2017), vamos analisar a situação. Por exemplo, em uma das reuniões incidida no Congresso Nacional ocorre uma desavença entre dois parlamentares. Depois de um tempo, um dos parlamentares envolvido na desavença está almoçando em um restaurante com seus amigos, quando adentra o mesmo seu desafeto que, após se acomodar em sua mesa e fazer seu pedido, começa a emitir opiniões desagradáveis. Consequentemente, o 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 21/37 outro revida as provocações proferindo palavras de baixo calão, relacionados ao seu comportamento profissional. Não incidirá crime contra a honra um do outro? Não, pois pode estender o privilégio da inviolabilidade ainda que as opiniões, palavras e votos sejam expressos fora das atividades relacionadas às obrigações dos parlamentares, tendo em vista que tais provocações advieram de uma diferença acontecida no exercício de suas funções. Nas palavras de Moraes (2014, p. 458), a imunidade material apresenta certos pressupostos, para que afaste a incidência de ilícito à conduta do parlamentar, isentando-o de responsabilidade penal e civil. Precisamente, exige-se a demonstração do nexo de causalidade entre o que foi dito e o exercício da atividade parlamentar, bem como que o discurso tenha sido proferido no período em que o agente era titular de mandato eletivo. Sobre esses requisitos, Alexandre de Moraes escreve: Refere-se somente aos atos funcionais, ou seja, atos praticados por parlamentares, por meio de opiniões, palavras ou votos, no exercício de suas funções sobre matéria parlamentar. Além disso, a imunidade material possui eficácia temporal permanente ou absoluta, de caráter perpétuo, pois, pressupondo a inexistência da infração penal ou ilícito civil, mesmo após o fim da sua legislatura, o parlamentar não poderá ser investigado, incriminado ou responsabilizado. (2014, p. 458) No que tange à imunidade processual ou formal do parlamentar, ao contrário da material, não há a possibilidade da exclusão da ilicitude praticada pelo parlamentar. Segundo Tavares (2016, p. 1003), essa “imunidade [...] se refere à regulamentação da prisão, e do processo em curso contra o congressista”. No que tange à prisão em flagrante delito de parlamentar, ocorre apenas em caso de crime inafiançável. Trata-se de uma garantia que beneficia o parlamentar desde a sua diplomação. Em casos como esse, os autos são enviados no prazo de 24 horas à respectiva Casa parlamentar, para que esta decida, por maioria de seus membros, sobre a manutenção da prisão. (TAVARES, 2016) 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 22/37 Mas não é apenas em decorrência do flagrante delito (no caso de crime inafiançável) que o parlamentar pode ter uma ordem de prisão decretada contra si. Medidas cautelares (previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, como recolhimento domiciliar noturno, proibição de ausentar-se da Comarca etc.) também podem ser determinadas pelo poder Judiciário em face de parlamentares, mas como proceder nesse caso? O Supremo Tribunal Federal decidiu (na ADI 5526) que a decisão judicial que aplica uma medida cautelar a qualquer parlamentar deve ser submetida, em 24 horas, à respectiva Casa Legislativa, para que seja deliberada pelos seus membros. Contudo, o STF decidiu que apenas medidas cautelares que impeçam ou embaracem o exercício do mandato é que devem ser submetidas ao Legislativo para apreciação. O fundamento utilizado pelo STF foi o § 2º do artigo 53, que trata do dever de comunicar o poder Legislativo, no mesmo prazo, no caso da prisão em flagrante. Outra situação é a determinação de prisão em decorrência de uma sentença condenatória transitada em julgado. Nesse caso, como você estudará no tópico a seguir, cabe à respectiva Casa Legislativa instaurar processo que determinará, ou não, a perda do mandato do parlamentar condenado. Sem a perda do mandato, o parlamentar não poderá ser impedido de exercer suas atribuições, ou seja, não poderá ser preso. Em caso oposto, ou seja, se tiver a perda do mandato decidida pela respectiva Casa Legislativa, poderá ser imediatamente recolhido à prisão. Esse entendimento, manifestado pelo Ministro Ricardo Lewandowski, contudo, não é pacífico (BRASIL, 2013). Sobre a imunidade parlamentar, faça a leitura do texto que "Imunidade parlamentar à luz da Constituição Federal de 1988", disponibilizado pela Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, de autoria de Divani Alves dos Santos, 2009. O trabalho aborda o histórico constitucional das imunidades até a atualidade. Acesse: < http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3604/imunidade_parlamentar_divani.pdf? VOCÊ QUER LER? http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3604/imunidade_parlamentar_divani.pdf?sequence=4 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 23/37 sequence=4 (http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3604/imunidade_parlamentar_divani.pdf? sequence=4)>. Os parlamentares gozam ainda da prerrogativa de foro em razão da função conhecido como foro privilegiado, que implica no deslocamento ou no início do processo perante o STF, desde a expedição do diploma até o término do mandato parlamentar. A prerrogativa de foro significa que os deputados e senadores somente serão submetidos a julgamento penal perante o Supremo Tribunal Federal (art. 53, § 1º). Ou seja, eles não são submetidosaos tribunais ou juízes comuns, como ocorre com os demais cidadãos. Ainda constitui prerrogativa parlamentar a limitação quanto ao dever de testemunhar, “os parlamentares jamais poderão ser obrigados a conduzir-se para prestar seu testemunho em juízo. São, em realidade, apenas convidados a prestar depoimento". (TAVARES, 2016, p. 1.006). Porém, a limitação apresentada refere-se tão somente ao testemunho relativo às informações recebidas em razão do exercício do mandato. No § 7º, encontra-se a isenção do serviço militar, a incorporação a qualquer dos órgãos militares, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. Os deveres ou proibições aos parlamentares dividem-se em impedimentos e incompatibilidade, “esta visa a impedir que o parlamentar se coloque em situação de conflito de interesses, assim sendo, é vedado ao parlamentar o ingresso em mais de um cargo mandato político, enquanto o primeiro proíbe o gozo de regalias indevidas por seus parlamentares, o rol de impedimentos é estabelecido pelo art. 54, da Constituição Federal”. (FERREIRA, 2015, p. 208). Com a finalidade de uniformizar o tratamento dado aos deputados estaduais, a Constituição de 1988 inovou entendendo que cabe aos parlamentares da esfera estadual o mesmo estatuto dos congressistas, ou seja, a inviolabilidade, a imunidade, a remuneração, a perda do mandato, a licença, os impedimentos e incorporação às forças armadas, estabelecido no art. 27, § 1º, CF/88. http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3604/imunidade_parlamentar_divani.pdf?sequence=4 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 24/37 O art. 29, VIII, da CF/88 dispõe sobre a inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município, não importando se a manifestação se deu dentro ou fora do recinto da Câmara do Município, pois a questão versa sobre o nexo funcional, ou seja, se no momento de sua manifestação estava em defesa dos interesses públicos municipais. Achou esse assunto interessante? Assista ao advogado Luís Henrique Machado falar sobre A imunidade parlamentar e a prisão preventiva, no qual, é convidado do programa Cidadania, apresentado por Glauciane Lara. A indicação do vídeo busca trazer para você mais conhecimento sobre esse tema. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=AVWpDiHQv74&t=44s (https://www.youtube.com/watch? v=AVWpDiHQv74&t=44s)>. Não há, contudo, imunidade parlamentar formal para os vereadores, que podem ser processados e presos, se for o caso. Eles também não possuem foro privilegiado, o que significa que eventuais processos nos quais sejam réus tramitarão perante a primeira instância do poder Judiciário (Estadual ou Federal, a depender do crime objeto de denúncia) (TAVARES, 2016). Isto posto, passaremos ao estudo da perda do mandato envolvendo a análise de normas que a regem. 1.3.2 Perda do mandato parlamentar Pelas palavras de André Ramos Tavares (2016, p. 1006), “a Constituição não previu apenas privilégios a serem exercidos pelos ocupantes do posto parlamentar. Também contempla uma série de exigências que devem ser preenchidas devidamente pelos Senadores e Deputados”. VOCÊ QUER VER? https://www.youtube.com/watch?v=AVWpDiHQv74&t=44s 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 25/37 As hipóteses de perda do mandato parlamentar estão taxativamente previstas pela Constituição Federal. A primeira delas ocorre quando o deputado ou senador viola as proibições previstas no artigo 54 da Constituição, que impedem atos específicos a partir da expedição do diploma e a partir da posse. Por exemplo, após a expedição do diploma de eleito, o parlamentar não pode, em regra, firmar ou manter contrato com a administração pública. Já depois da posse não pode ser titular de mais de um cargo ou mandato público eletivo. Nesses casos, a violação da proibição pode gerar a perda do cargo, mediante decisão da respectiva Casa Legislativa, por decisão da maioria absoluta dos seus membros. A segunda hipótese de perda do mandato decorre da quebra do decoro parlamentar. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal possuem regramentos específicos sobre a ética dos deputados e senadores. A violação dessas regras pode gerar a perda do mandato, o que também deve ser decidido pela maioria absoluta dos membros da respectiva Casa. Por exemplo, o deputado que assedia sexualmente uma assessora viola as regras éticas fixadas para o desempenho da sua atividade (TAVARES, 2016). A terceira situação de perda do mandato é a ausência, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da respectiva Casa, exceto quando licenciado ou em missão autorizada. Nesse caso, porém, a perda do mandato é decidida diretamente pela mesa diretora da respectiva Casa, não havendo o processo de votação mencionado nas hipóteses anteriores (TAVARES, 2016). A quarta hipótese de perda do mandato parlamentar é a perda ou a suspensão dos direitos políticos, que ocorre, por exemplo, quando há uma condenação transitada em julgado por improbidade administrativa. Nesse caso, também compete à mesa diretora proceder ao ato de perda do mandato (TAVARES, 2016). A quinta situação de perda do mandato ocorre quando a própria Justiça Eleitoral o determina, hipótese em que a mesa diretora procederá ao ato de formalização, sem submissão da matéria para que seja votada pelos parlamentares (TAVARES, 2016). A sexta hipótese de perda do mandato parlamentar prevista pelo art. 55 da Constituição decorre da condenação criminal com sentença transitada em julgado. Após ser comunicada, a respectiva Casa Legislativa votará pela perda ou manutenção do mandato, por maioria absoluta (TAVARES, 2016). 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 26/37 Em qualquer caso, um processo administrativo, no âmbito da respectiva Casa Legislativa, precede a perda do mandato. Nesse processo, assegura-se ao parlamentar o exercício ao contraditório e à ampla defesa, sob pena de nulidade. Nesses casos, o que ocorre se o parlamentar renunciar ao mandato durante o trâmite de um processo dessa natureza? O ato da renúncia ficará suspenso até o desfecho do processo, ou seja, não serve para evitar a aplicação da sanção de perda do mandato. Lembre-se, então, que a Constituição define, no artigo 55, que cabe à Casa Legislativa as formas por meio das quais se processa a perda do mandato do parlamentar. Nesse contexto chegamos ao final de mais uma parte do nosso conteúdo de estudo, da disciplina de Direito Constitucional, onde tivemos a oportunidade de estudar os direitos e deveres dos parlamentares. 1.4 Processo legislativo (parte I) No Brasil, o Processo Legislativo é regulamentado a partir do art. 59 da Constituição Federal. O processo legislativo garante que todos os atos, bem como a construção de acordos políticos serão públicos e de conhecimento de todos. Aliás, as regras atinentes ao processo legislativo previstas na Constituição Federal são aplicáveis aos Estados e Municípios, com base no princípio da simetria, que impõe a reprodução dessas normas nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas dos Municípios. Nesse sentido, o Ministro Sepúlveda Pertence se posicionou na ADIMC 872/RS: Consolidação da jurisprudência do STF no sentido de que – não obstante a ausência de regra explicita na Constituição de 1988 – impõe aos Estados-membros a observância das linhas básicas do correspondente modelo federal, particularmente as de reserva de iniciativa, na medida em que as configuram prima relevante do perfil do regime positivo de separação e independência dos poderes, que é princípio fundamental ao qual se vinculam compulsoriamente os ordenamentos das unidades federadas. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_127/37 Mas você sabe como se desenvolve o processo legislativo? Quais as consequências caso ocorra a não observância aos requisitos necessários para a elaboração da lei? Leis ordinárias e complementares possuem hierarquias diferentes? A elaboração da lei ordinária e da complementar deve observância aos mesmos procedimentos, você sabe relatar quais são as exceções existentes para a produção da lei complementar? Essas são algumas das indagações que instigam o desenvolvimento deste tópico e que você aprenderá a responder na sequência. 1.4.1 Lei ordinária e lei complementar Antes de analisarmos como se dá a elaboração de uma lei ordinária e de uma lei complementar, faremos uma breve analise do processo legislativo. Para que o processo legislativo possa cumprir o seu fim mister a realização de determinados atos, quer pelo legislativo (deliberação legislativa) quer pelo executivo (deliberação executiva). Esses atos são geralmente conhecidos como atos do processo legislativo. Assim, o processo legislativo compõe-se dos seguintes atos: iniciativa legislativa, emendas parlamentares, votação, sanção e veto, promulgação e publicação. (CUNHA; NOVELINO, 2016, p. 490) O procedimento legislativo do processo legislativo divide-se em: Figura 3 - Fases do processo legislativo. Fonte: CUNHA; NOVELINO, 2016, p. 490. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 28/37 Da iniciativa da lei ordinária O procedimento legislativo ordinário destina-se à preparação da lei ordinária, que difere do procedimento especial, em face da espécie legislativa em produção. O início do processo legislativo pode ocorrer mediante iniciativa (TAVARES, 2016): comum ou concorrente: quando o projeto de lei pode ser apresentado, indistintamente, por mais de um legitimado. Essa é a regra do processo legislativo brasileiro, mediante a qual admite-se, em relação às leis ordinárias e complementares, que qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao presidente da República e aos cidadãos; Quadro 4 - Procedimentos das propostas legislativas. Fonte: CUNHA; NOVELINO, 2016, p. 461. Deslize sobre a imagem para Zoom 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 29/37 exclusiva ou reservada: quando o projeto de lei pode ser apresentado somente pelo legitimado constitucional, que está expressamente indicado no texto da Constituição Federal. É o caso das matérias previstas no §1º do art. 61, que são de iniciativa privativa do presidente de República. São as leis que: fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; disponham sobre: criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VIf) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva (art. 61, § 1º). Especificamente em relação à possibilidade dada pela Constituição para que os cidadãos apresentem projetos de lei, é importante ressaltar que essa faculdade deve preencher determinados requisitos. Ela deve ser exercida mediante a apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, que deve estar subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. (art. 61, § 2º) Por derradeiro, ressalte-se que em alguns casos o processo legislativo pode ser iniciado por pessoas ou órgãos diversos do poder Legislativo ou Executivo, como é o caso do Judiciário (art. 96, II, c/c o art. 48, XV, CF).Trata-se de mera hipótese de iniciativa reservada, já que a Constituição atribui com exclusividade a determinados órgãos (como é o caso do Supremo Tribunal Federal em relação ao Estatuto da Magistratura, nos termos do art. 93) a possibilidade de apresentar projetos de lei sobre assuntos específicos. Não obstante, é importante que você saiba que alguns autores chamam essas hipóteses de competência extraparlamentar. (BULOS, 2011). 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 30/37 Da deliberação É por meio da deliberação que o Legislativo institui novos preceitos jurídicos. A deliberação exige a aprovação, por maioria simples, de cada uma das Casas do Congresso Nacional. Vale lembrar que a deliberação pode ser delegada pela respectiva Casa a uma Comissão, fundamentado em seu regimento interno (art. 58, § 2º, I, CF). Após o exame de sua constitucionalidade no âmbito material e formal realizado pela Comissão de Constituição e Justiça, o projeto será remetido ao plenário para votação. (OLIVEIRA, 2016) VOCÊ SABIA? Qualquer parlamentar pode alterar o projeto de lei em trâmite. Isso pode ser feito mediante a apresentação de emendas, que após tramitarem pelas Comissões, são discutidas e votadas conjuntamente com o projeto. Após a aprovação do projeto pela Casa iniciadora, este será enviado à Casa revisora. Onde será revisado pelas comissões e o plenário, em que ocorrerá três situações: a rejeição, a sanção e o veto. No caso de rejeição, sua reapresentação somente poderá ser feita perante a mesma sessão legislativa por manifestação da maioria absoluta dos membros de qualquer uma das Casas do Congresso Nacional (art. 67, da CF). Quando de sua aprovação pelas duas Casas, será enviado para a elaboração do autógrafo, instrumento formal de aprovação no Congresso Nacional, por fim, será remetido ao presidente da República para sanção ou veto. A sanção decorre da concordância do poder Executivo ao projeto de lei aprovado pelo Legislativo. A aceitação poderá ser expressa ou tácita. É expressa a sanção quando o presidente da República declara a concordância e a formaliza. É tácita a sanção quando o presidente deixa transcorrer o prazo para se manifestar, sem nenhuma ação. Mas qual é o prazo para manifestação acerca da concordância ou discordância de um projeto? O prazo é de 15 dias úteis (art. 66, § 1º da CF/88). 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 31/37 Por fim, temos o veto que é a não concordância (total ou parcial) do poder Executivo em relação ao projeto de lei aprovado pelo Legislativo, por entendê-lo inconstitucional ou contrário ao interesse público. Lembre-se que, após receber o projeto aprovado pelo poder Legislativo, o presidente tem o prazo de 15 dias úteis para se manifestar. Se quiser vetá-lo, o ele deve apresentar sua discordância por escrito, pois, se silenciar no prazo, o projeto estará (tacitamente) sancionado. Assim que o presidente da República veta um Projeto, ele deve devolvê-lo ao Congresso Nacional em 48 horas. Recebido o projeto com o respectivo veto, o Congresso Nacional tem 30 dias para apreciá-lo, o que deve fazer em sessão conjunta (art. 57, § 3º, IV c.c. art. 66, § 4º, ambos da CF/88). Após a análise dos motivos que geraram o veto, o Congresso Nacional pode concordar ou discordar das razões do presidente da República. Se concordar, o veto será mantido e o projeto arquivado, caso o veto tenha sido total. Se discordar,poderá derrubar o veto mediante obtenção do voto da maioria absoluta dos deputados e senadores (metade, mais um, do total de congressistas – 513 deputados e 81 senadores), ou seja, mediante 298 votos. Derrubado o veto, o Congresso devolve o projeto ao presidente da República, para que este proceda à promulgação e publicação na imprensa oficial (art. 66, § 5º da CF/88). Por fim, a publicação da lei, que trata de ato em que se faz conhecer a existência da lei por todos. Após o ato de publicação, a lei poderá ter sua aplicabilidade imediata ou após o período de vacância, sendo assim, ninguém poderá deixar de cumprir a lei alegando desconhecimento. Lei complementar A lei complementar segue o mesmo procedimento da ordinária, com exceção do quórum, que deve ser de maioria absoluta e, na hipótese de incidência, deverá versar sobrematéria definida na Constituição. Do procedimento sumário 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 32/37 Diferentemente dos procedimentos de lei ordinária e lei complementar, o procedimento sumário será cabível quando do requerimento de urgência do presidente da República. O procedimento sumário parte da iniciativa do presidente da República, e é cabível quando tratar de solicitação de urgência na tramitação da propositura. Sua tramitação deve ocorrer no período de 45 (quarenta e cinco dias) em cada uma das Casas. Em caso de emenda proferida pelo Senado, a apreciação pela Câmara dos Deputados será de dez dias. Não sendo votada dentro do prazo, será colocada na pauta do dia. Hierarquia entre as leis ordinária e as leis complementares Há uma grande divergência entre os doutrinadores no que tange o tema hierarquia entre as leis ordinárias e as leis complementares, para uma parte da doutrina é possível à existência de hierarquia, para outra não há a possibilidade de hierarquia entre as duas normas (TAVARES, 2016). Apesar das divergências, encontramos duas posições doutrinárias a respeito da hierarquia entre as leis ordinárias e as complementares, de um lado André Ramos Tavares (2016, p. 982) defende que não há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária. Por outro lado, Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015, p. 241) considera a lei complementar hierarquicamente superior à lei ordinária. Para o Supremo Tribunal Federal, no entanto, a questão é pacífica no sentido de que não há hierarquia entre leis complementares e leis ordinárias, haja vista a “distribuição material entre as espécies legais” (BRASIL, 2008), ou seja, ao analisar a Constituição é possível identificar quais assuntos devem ser regulados por meio de lei complementar e quais podem ser disciplinados por lei ordinária. Síntese Concluímos o primeiro capítulo da disciplina Direito Constitucional. Você estudou a separação dos poderes e iniciou os estudos sobre o poder Legislativo. 07/06/2021 Direito Constitucional https://fmu.blackboard.com/bbcswebdav/institution/laureate/conteudos/NEG_DIRCON_19/unidade_1/ebook/index.html#section_1 33/37 Neste capítulo, você teve a oportunidade de: identificar as diferentes funções exercidas pelo Estado, que são organizadas por meio da estrutura dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; compreender que a teoria da separação dos poderes decorre de uma evolução, que também viabilizou a implantação de instrumentos de freios e contrapesos que permitem a um poder controlar o outro; conhecer a função típica e as atípicas de cada um dos poderes do Estado; entender que o poder Legislativo, em âmbito federal, é exercido por duas Casas Legislativas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal; estudar a composição das Casas Legislativas e as características de cada uma; identificar que o poder Legislativo, em âmbito estadual, é exercido pelas Assembleias Legislativas; aprender que o poder Legislativo, em âmbito municipal, é exercido pelas Câmaras Municipais; estudar as comissões parlamentares, que podem ser permanentes ou temporárias, como é o caso da Comissão Parlamentar de Inquérito; aprender sobre o Estatuto dos Parlamentares, oportunidade em que estudou os direitos e deveres dos membros do poder Legislativo; conhecer as regras do processo legislativo, utilizando o trâmite das leis ordinárias e complementares como parâmetro. 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