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48 Garantia de qualidade O conceito de garantia da qualidade, que inclui o controle de qualidade e ensaios de proficiência, refere- -se principalmente às atividades de medição. Embora estes conceitos estão quase sempre associados a labo- ratórios analíticos, o seu âmbito deve ser expandido para incluir também as amostragens e as medições. Sempre que seja necessário realizar a amostra- gem e análise, ambos os procedimentos devem ser considerados com um do ponto de vista da qualida- de. Uma vez que nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco, o uso de ferramentas e técni- cas com diferentes níveis de qualidade nas diferentes etapas de um mesmo processo de avaliação implica- rá no desperdício de recursos. A precisão e exatidão de uma balança analítica de alta qualidade não pode compensar o uso de uma bomba de amostragem que tem uma velocidade de fluxo inadequada. O desempenho dos laboratórios deve ser re- vistos para identificar e corrigir potenciais fontes de erro. É preciso adotar uma abordagem sistemática para manter sob controle os muitos detalhes envol- vidos. É importante estabelecer nos laboratórios de higiene laboral programas de garantia de qualidade, que englobem tanto os controles internos de quali- dade como avaliações externas da qualidade. Em relação à coleta de amostras ou medições 49feitas com instrumentos de leitura direta (como os utilizados para a medição de agentes físicos), a qua- lidade implica na existência de procedimentos corre- tos e adequados para: • Realização de estudos preliminares, incluindo a identificação de riscos potenciais e os fatores a se- rem levados em conta na elaboração da estratégia; • Conceber a estratégia de amostragem (ou medição); • Selecionar as metodologias de uso e equipa- mentos de amostragem ou medição, levando-se em conta os objetivos de investigação e os de qualidade; • Executar os procedimentos, incluindo o con- trole do tempo; • Manipular, transportar e, se for o caso, arma- zenar as amostras. No que diz respeito ao laboratório de análises, a qualidade implica a existência de procedimentos adequados e corretos de: • Concepção e instalação de equipamentos; • Seleção e utilização de métodos analíti- cos validados; • Seleção e instalação de instrumentos; • Fornecimento adequado para reagentes, amostras de referência, etc. 50 Em ambos os casos é indispensável dispor de: • Protocolos, procedimentos e instruções escri- tas os quais devem ser claros; • Calibração e manutenção de rotina dos equipamentos; • Pessoal devidamente treinado e motivado para realizar os procedimentos estabelecidos; • Gestão adequada; • O controle interno da qualidade; • Testes de avaliação externa da qualidade ou provas de aptidão, quando aplicáveis. É também essencial que existam procedimen- tos apropriados para o tratamento dos dados obti- dos e a interpretação dos resultados, bem como para notificação e registro. O conceito de qualidade deve aplicar-se a todas as fases da prática de higiene laboral, desde a identifi- cação do risco até a implementação de programas de prevenção e controle de riscos. A partir deste ponto de vista, os programas de higiene laboral devem ser avaliados periodicamente e criticamente para alcan- çar a melhoria contínua. Identificação dos perigos Perigo no local de trabalho pode ser definido 51como qualquer condição que pode afetar negativa- mente o bem-estar ou a saúde das pessoas expos- tas. A identificação de perigos em qualquer ativida- de profissional envolve a caracterização do local de trabalho para identificar agentes perigosos e grupos de trabalhadores potencialmente expostos aos riscos associados. Os perigos podem ser dos tipos: • Químico; • Biológico; • Físico. Alguns perigos do ambiente de trabalho são fáceis de identificar; por exemplo, as substâncias ir- ritantes, que tem um efeito imediato após a exposi- ção da pele ou inalado. Outros não são tão fáceis de identificar, por exemplo, os produtos químicos que se formam acidentalmente e que não têm proprieda- des de alerta de sua presença. Alguns agentes, tais como os metais (ex., chum- bo, mercúrio, cádmio, manganês), que podem causar danos depois de vários anos de exposição, podem ser facilmente identificados se os riscos existentes são conhecidos. Um agente tóxico pode não representar um pe- rigo se presentes em pequenas concentrações ou se ninguém está exposto a ele. Para saber que os pe- rigos existem é essencial identificar os agentes que 52 possam estar presentes no local de trabalho, conhe- cer os riscos envolvidos com as situações de saúde e as possíveis situações de exposição. Identificação e classificação dos perigos Antes de fazer uma investigação de higiene do trabalho deve-se definir claramente sua finalidade. O propósito de uma investigação de higiene laboral pode ser identificar os riscos potenciais, avaliar os riscos existentes no local de trabalho, demonstrar se os requisitos regulamentares estão sendo cumpridos, avaliar as medidas de controle ou avaliar a exposição em relação a um estudo epidemiológico. Existem diversos modelos e técnicas que foram desenvolvidas para identificar e avaliar os riscos no ambiente de trabalho, e sua complexidade varia des- de listas de verificação simples, estudos preliminares de higiene do trabalho, matrizes de exposição ocu- pacional, estudos de perigos e operabilidade, e pro- gramas de monitorização no local de trabalho. Não há nenhuma técnica particular para todos os casos, mas todas as técnicas têm componentes que podem ser úteis em qualquer investigação. A uti- lidade dos modelos depende também do objetivo da investigação, do local de trabalho, o tipo de produ- ção e de atividade e de complexidade das operações. 53O processo de identificação e classificação dos perigos podem ser divididos em três elementos básicos: • Caracterização do local de trabalho; • Descrição do padrão de exposição; e • Avaliação de riscos. Caracterização do local de trabalho Um local de trabalho pode ser configurado com apenas alguns funcionários ou até mesmo a vários mi- lhares deles, e em inúmeros tipos diferentes de ativi- dades que podem se desenvolvidas (ex.: fábricas, esta- leiros de construção, escritórios, hospitais, fazendas). Em um local de trabalho podem distinguir-se áreas especiais, tais como departamentos ou seções, em que diferentes atividades ocorrem. Em um pro- cesso industrial, diferentes etapas e operações são observadas nas atividades produtivas das fábricas, que recebem as matérias-primas transformando-as em produtos acabados. O higienista deve obter informação detalhada sobre os processos, as operações e outras atividades de interesse, a fim de identificar os agentes utilizados, incluindo matérias-primas, materiais processados ou acrescentados no processo, os produtos primários, produtos intermediários, produtos finais, produtos 54 de reação e subprodutos. 55 56 57 58 Convém também identificar os aditivos e os ca- talisadores que intervem no processo. As matérias- -primas ou material agregado que são identificados apenas pelo seu nome comercial devem ser avaliados em termos da sua composição química. O fabrican- te ou o fornecedor deve fornecer informações ou dados de segurança toxicológica dos seus produtos. Algumas etapas de um processo pode ter lu- gar em um sistema fechado, sem que nenhum traba- lhador seja exposto, exceto quando realizam a ma- nutenção ou uma falha ocorre no processo. Esses eventos devem ser registrados e todas as precauções devem ser tomadas para evitar a exposição a agentes perigosos. Outros processos ocorrem em sistemas 59abertos, com ou sem exaustão local. Neste caso deve ser fornecida uma descrição geral do sistema de ven- tilação, incluindo o sistema de ventilação localizada e/ou exaustão. Sempre que possível, os riscos devem ser iden- tificados durante o planejamento e projeto de novas plantas ou processos, quando as mudanças ocorre- rem isto podeser feito para prevenir e evitar riscos. Os riscos devem ser identificados, bem como as si- tuações e procedimentos que podem desviar-se do processo de design planejado. A identificação de riscos também deve incluir as emissões para o meio ambiente externo e a eliminação de resíduos. A localização das instalações, operações, fontes e agentes de emissão devem agrupar-se sistematica- mente para formar unidades reconhecíveis na análise subsequente da exposição potencial. Em cada unida- de, as operações e os agentes devem ser agrupados com base em efeitos sobre a saúde e a estimativa dos montantes liberados para o ambiente de trabalho. Padrões de exposição As principais vias de exposição aos agentes quí- micos e biológicos são por inalação e absorção atra- vés da pele ou ainda por ingestão acidental. O padrão de exposição depende da frequência de contato com 60 os perigos, intensidade e duração da exposição dos mesmos, portanto, as tarefas executadas pelos traba- lhadores devem ser examinadas sistematicamente. É importante não apenas estudar as regras de trabalho, mas o que realmente acontece no local de trabalho. A exposição pode afetar diretamente os traba- lhadores quando realizam o seu trabalho, ou indi- retamente, se estiverem localizados na mesma área geral onde há a fonte de exposição. Pode ser neces- sário focar primeiro em tarefas que têm um elevado potencial de dano se a exposição é de curta dura- ção. Devemos também ter em conta as atividades não rotineiras e operações intermitentes, como por exemplo, a manutenção, limpeza e mudanças nos ci- clos de produção, bem como a variação de tarefas e situações de trabalho ao longo do ano. Em postos de trabalhos semelhantes, a exposi- ção ou a absorção podem variar segundo a utilização ou não de equipamento de proteção individual. Em grandes fábricas, quase nunca pode realizar-se uma identificação de perigos ou uma avaliação qualitativa dos perigos para cada um dos trabalhadores. Portan- to, os trabalhadores que desempenham tarefas seme- lhantes devem ser classificados na mesma exposição coletiva. As diferenças de tarefas, técnicas de trabalho e horas de trabalho geram diferenças significativas na exposição e são fatores que devem ser considerados. Tem sido demonstrado que as pessoas que tra- 61balham ao ar livre e aqueles que trabalham sem venti- lação ou exaustão local têm maior variabilidade de um dia para outro que os grupos que trabalham em áreas fechadas com ventilação ou exaustão localizada. Para caracterizar grupos com semelhantes ní- veis de exposição, podem ser utilizados critérios como os processos de trabalho, os agentes usados durante este processo ou trabalho ou as diferentes tarefas incluídas na descrição de um posto de traba- lho, em vez de uma descrição genérica do posto. Dentro de cada grupo, os trabalhadores po- tencialmente expostos devem ser classificados de acordo com agentes perigosos, vias de exposição, os efeitos destes agentes sobre a saúde, a frequência de contato com os perigos, intensidade e duração da exposição. Os diferentes grupos de exposição devem ser classificados como agentes perigosos e a exposição estimada para determinar quais os traba- lhadores estão em maior risco. Avaliação qualitativa dos perigos A determinação dos efeitos de agentes quími- cos, biológicos e físicos no local de trabalho que po- dem ocorrer sobre a saúde deve ser baseada numa avaliação de estudos epidemiológicos, toxicológicos, clínicos e ambientais disponíveis. 62 Esta determinação dos efeitos pode também ser obtida através de informações atualizadas sobre os riscos que implicam na saúde os produtos e agen- tes utilizados no local de trabalho, servindo como fonte te consulta: revistas sobre saúde e segurança, bases de dados sobre a toxicidade e os efeitos na saúde, publicações científicas e técnicas sobre este tema etc. Fichas de dados toxicológicos dos materiais (FISPQ – Ficha de Informação de Segurança do Produto Químico) devem ser atualizadas quando ne- cessário. Estas fichas toxicológicas registram as por- centagens de componentes perigosos, juntamente com o identificador químico, e o valor limite (TLV), quando se dispõe do mesmo. A ficha também con- tém informações sobre os riscos para saúde, equi- pamentos de proteção, as medidas preventivas, o fabricante ou fornecedor, etc. Às vezes, os dados sobre os componentes são bastante rudimentares e precisam ser complementados com informações mais detalhadas. As informações das FISPQ devem ser estuda- das, controladas e registros de suas medições devem ser feitos. Os TLVs fornecem orientação geral para decidir se a situação é aceitável ou não, mas deve ser considerada possíveis interações quando os traba- lhadores estão expostos a vários produtos químicos. Os trabalhadores devem ser classificados em 63grupos de acordo com a exposição, efeitos na saú- de de agentes presentes e exposição estimada, por exemplo, os efeitos para a saúde à baixa exposição até estudos dos efeitos para a saúde nas altas exposi- ções, ainda que seja uma estimada. Os trabalhadores que tenham obtido a pon- tuação mais elevada devem ser atendidos de forma prioritária. Antes de iniciar qualquer ação preventi- va, pode ser necessário empreender um programa de controle de exposição. Todos os resultados devem ser documentados e facilmente localizados. Em investigações de higiene laboral, também podem ser considerados os riscos para o meio am- biente exterior, como por exemplo, a contaminação e o efeito estufa, ou efeitos sobre a camada de ozônio. Agentes químicos, biológicos e físicos Os riscos podem ser dos tipos: químico, bioló- gico e físico. As substâncias químicas podem ser classifica- das em gases, vapores, líquidos e aerossóis (poeira, fumo, neblina). Gases Os gases são substâncias que podem passar do estado líquido ou sólido pelo efeito combinado
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