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DIREITO À EDUCAÇÃO - PRINCIPAIS APONTAMENTOS

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DIREITO À EDUCAÇÃO
A Constituição de 1891, primeira do período republicano, pouco tratava da educação por primar pela autonomia das unidades federativas. Ficava subentendido que a legislação nessa matéria deveria ser resolvida no âmbito dos estados. Cabia à Federação apenas o ensino superior da capital (art. 34), a instrução militar (art. 87) e a tarefa, não exclusiva, de “animar, no país, o desenvolvimento das letras, artes e ciências” (art. 35). Não havia nessa Carta e também na anterior (Constituição de 1824) nem sequer menção à palavra “educação”. Até a década de 1930, os assuntos ligados à educação eram tratados pelo Departamento Nacional do Ensino ligado ao Ministério da Justiça. Somente em 1931 foi criado o Ministério da Educação. 
A Constituição de 1934 dedicou um capítulo inteiro ao tema, trazendo à União a responsabilidade de “traçar as diretrizes da educação nacional” (art. 5º) e “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino em todos os graus e ramos, comuns e especializados” para “coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o território do país” (art. 150). Por meio da unidade gerada por um plano nacional de educação e da escolaridade primária obrigatória pretendia-se combater a ausência de unidade política entre as unidades federativas, sem com isso tirar a autonomia dos estados na implantação de seus sistemas de ensino. Ideia defendida pelos educadores liberais, dentre os quais se destacava Anísio Teixeira. Um ponto importante de disputa que refletiu diretamente na tramitação da primeira LDB foi a questão do ensino religioso. 
Enquanto a proclamação da República teve como pano de fundo a separação entre Estado e igreja, a segunda Carta marca essa reaproximação. No que diz respeito à educação, instaurou o ensino religioso de caráter facultativo, e de acordo com os princípios de cada família, nas escolas públicas (art. 153). A despeito do ensino religioso, a Carta de 1934 pode ser considerada uma vitória do grupo de educadores liberais, organizados pela Associação Brasileira de Educação, por atender suas principais proposições. Porém, apenas três anos depois a Constituição de 1937, promulgada junto com o Estado Novo, sustentava princípios opostos às ideias liberais da Carta anterior. Rejeitava um plano nacional de educação, atribuindo ao poder central a função de estabelecer as bases da educação nacional. 
Com o fim do Estado Novo, a Constituição de 1946 retomou em linhas gerais o capítulo sobre educação e cultura da Carta de 1934, iniciando-se assim o processo de discussão do que viria a ser a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição Federal. Foi citada pela primeira vez na Constituição de 1934. A primeira LDB foi publicada em 20 de dezembro de 1961 pelo presidente João Goulart, quase trinta anos após ser prevista pela Constituição de 1934. O primeiro projeto de lei foi encaminhado pelo poder executivo ao legislativo em 1948, foram necessários treze anos de debate até o texto final. Em seguida, foi elaborada uma versão de LDB em 1971 (publicada em 11 de agosto de 1971, durante o regime militar pelo presidente Emílio Garrastazu Médici), que vigorou até a promulgação da mais recente em 1996. Com a promulgação da Constituição de 1988, a LDB anterior (Lei 4. 024/1961) foi considerada obsoleta, mas apenas em 1996 o debate sobre a nova lei foi concluído. O texto aprovado em 1996 é resultado de um longo embate, que durou cerca de seis anos, entre duas propostas distintas. A primeira conhecida como Projeto Jorge Hage foi o resultado de uma série de debates abertos com a sociedade, organizados pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, sendo apresentado na Câmara dos Deputados. A segunda proposta foi elaborada pelos senadores Darcy Ribeiro, Marco Maciel e Maurício Correa em articulação com o poder executivo por meio do MEC.
 A principal divergência era em relação ao papel do Estado na educação. Enquanto a proposta dos setores organizados da sociedade civil apresentava uma grande preocupação com mecanismos de controle social do sistema de ensino, a proposta dos senadores previa uma estrutura de poder mais centrada nas mãos do governo. Apesar de conter alguns elementos levantados pelo primeiro grupo, o texto final da LDB se aproxima mais das ideias levantadas pelo segundo grupo, que contou com forte apoio do governo FHC nos últimos anos da tramitação. A atual LDB – Lei Darcy Ribeiro (Lei 9.394/1996) foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da educação Paulo Renato em 20 de dezembro de 1996. Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LDB de 1996 trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como a inclusão da educação infantil (creches e pré-escolas) como primeira etapa da educação básica.
 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 
Darcy Ribeiro foi o relator da Lei 9.394/1996; Gestão democrática do ensino público e progressiva autonomia pedagógica e administrativa das unidades escolares; Ensino fundamental obrigatório e gratuito;Carga horária mínima de oitocentas horas distribuídas em duzentos dias para o ensino fundamental e médio; Prevê um núcleo comum para o currículo do ensino fundamental e médio e uma parte diversificada em função das peculiaridades locais; Formação de docentes para atuar na educação básica em curso de nível superior, sendo aceito para a educação infantil e as quatro primeiras séries do fundamental formação em curso Normal do ensino médio; Formação dos especialistas da educação em curso superior de pedagogia ou pós-graduação; A União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público; Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas; Prevê a criação do Plano Nacional de Educação.
 
 “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto(...)”
DARCY RIBEIRO
Darcy Ribeiro nasceu em Minas Gerais (Montes Claros, 26 de outubro de 1922), no centro do Brasil. Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946/1956). Neste período fundou o Museu do Índio e estabeleceu os princípios ecológicos da criação do Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena. Elaborou para a UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no Século XX e colaborou com a Organização Internacional do Trabalho (1954) na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Nos anos seguintes, dedicou-se à educação primária e superior. 
Criou a Universidade de Brasília, de que foi o primeiro Reitor, e foi Ministro da Educação, no Gabinete Hermes Lima. Mais tarde, foi Ministro-Chefe da Casa Civil de João Goulart e coordenava a implantação das reformas estruturais quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio. A propagação de suas ideias rompeu fronteiras. Viveu em vários países da América Latina, onde conduziu programas de reforma universitária, com base nas ideias que defende em A Universidade Necessária. Foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Escreveu neste período os cinco volumes de seus Estudos de Antropologia da Civilização (O Processo Civilizatório, As Américas e a Civilização, O Dilema da América Latina, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil e Os Índios e a Civilização), que têm 96 edições em diversas línguas. 
Neles propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos. Recebeu ainda títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Copenhague, da Universidade da República do Uruguai e da Universidade Central da Venezuela. Retornando ao Brasil, em 1976, voltou a dedicar-se à educação e à política. Elegeu-seVice-Governador do Estado do Rio de Janeiro (1982), foi Secretário da Cultura e Coordenador do Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs, que são grandes escolas de turno completo para mil crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema e o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária. Contava entre suas façanhas maiores haver contribuído para o tombamento de 96 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. 
Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer. Gravou um disco na série mexicana Vozes da América. E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Copenhague, da Universidade da República do Uruguai, da Universidade Central da Venezuela e da Universidade de Brasília (1995). Elegeu-se Senador da República (1991), função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles uma lei de trânsito para proteger os pedestres contra a “selvageria” dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares de crianças. Elaborou e fez aprovar no Senado e enviar à Câmara dos Deputados a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, sancionada pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996 como Lei Darcy Ribeiro. Publicou pelo Senado a revista Carta’, com dezesseis números (1991/1996), na qual os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos em artigos, conferências e notícias. Entre 1991 e 1992, como Secretário Extraordinário de Programas Especiais do Rio de Janeiro, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs e de criar um novo padrão de ensino médio, por meio dos Ginásios Públicos.
 Planejou e fundou, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF (1994), com a ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio, onde assumiu o cargo de Chanceler. Durante a Conferência Mundial do Meio Ambiente – ECO 92 – realizada no Rio de Janeiro, em 1992, implantou o Parque Floresta da Pedra Branca, numa área de 12000 hectares, para se tornar a maior floresta urbana do mundo. Ainda no exílio, começou a escrever os romances Maíra e O Mulo e, já no Brasil, escreveu dois outros: Utopia Selvagem e Migo. Publicou Aos Trancos e Barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou, também, uma coletânea de ensaios insólitos: Sobre o Óbvio e um balanço de sua vida intelectual: Testemunho. Editou, juntamente com Berta G. Ribeiro, a Suma Etnológica Brasileira. Em 1992 publicou pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em português, A Fundação do Brasil, um compêndio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira e precedidos de um longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil. Neste mesmo ano, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1995 lançou O Povo Brasileiro, que encerra a coleção de seus Estudos de Antropologia da Civilização, além de uma compilação de seus discursos e ensaios intitulada: O Brasil como Problema. 
Lançou ainda, um livro para adolescentes, Noções de Coisas, com ilustrações de Ziraldo, que recebeu, em 1996, o Prêmio Malba Tahan de Melhor Livro Informativo, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 1996 publicou, pela Editora Companhia das Letras, seus Diários Índios, em que reproduz anotações que fez durante dois anos (1949/1951) de convívio e de estudo entre os índios Urubus- -Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma edição comemorativa de seus 20 anos, que traz resenhas e críticas de Antônio Candido, Alfredo Bosi, Moacir Werneck de Castro, Antônio Houaiss, Carmen Junqueira e outros especialistas em literatura e antropologia. 
Ainda neste ano, recebe o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA a eminentes educadores das Américas. Darcy Ribeiro faleceu em 17 de fevereiro de 1997. No seu último ano de vida, dedicou-se especialmente a organizar a Universidade Aberta do Brasil, com cursos de educação à distância, para funcionar a partir de 1997, e a Escola Normal Superior, para a formação de professores de 1º grau. Organizou a Fundação Darcy Ribeiro, instituída por ele em janeiro de 1996, com sede própria, localizada em sua antiga residência em Copacabana, com o objetivo de manter sua obra viva e elaborar projetos nas áreas educacional e cultural. Um de seus últimos projetos lançado publicamente foi o Projeto Caboclo, destinado ao povo da floresta amazônica.
DIREITO À EDUCAÇÃO 
A Constituição Federal proclama que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
· Conceito de educação 
Conforme ensina Celso de Mello, “o conceito de educação é mais compreensivo e abrangente que o da mera instrução. A educação objetiva propiciar a formação necessária ao desenvolvimento das aptidões, das potencialidades e da personalidade do educando. O processo educacional tem por meta: 
a) qualificar o educando para o trabalho; e 
b) prepará-lo para o exercício consciente da cidadania. O acesso à educação é uma das formas de realização concreta do ideal democrático”.
· Competência 
Como previsto na Constituição anterior, é competência privativa da União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, nos termos do art. 22, XXIV, da CF. Por se tratar de competência privativa legislativa da União, a Lei Complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas. 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ENSINO 
O art. 206 da Constituição Federal enumera os princípios constitucionais do ensino que têm por finalidade atingir os objetivos constitucionais da educação: erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria na qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, cientifica e tecnológica do País. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
· Reserva de vagas 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal “julgou improcedente pedido formulado em arguição de descumprimento de preceito fundamental ajuizada pelo Partido Democratas (DEM) contra atos da Universidade de Brasília (UnB), do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Brasília (CEPE) e do Centro de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE), os quais instituíram sistema de reserva de 20% de vagas no processo de seleção para ingresso de estudantes, com base em critério étnico- -racial. Demonstrou-se que a Constituição estabeleceria que o ingresso no ensino superior seria ministrado com base nos seguintes princípios: 
a) igualdade de condições para acesso e permanência na escola; 
b) pluralismo de ideias; e 
c) gestão democrática do ensino público (art. 206, I, III e IV). Além disso, os níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação artística seriam alcançados segundo a capacidade de cada um (art. 208, V). 
Exprimiu-se que o constituinte teria buscado temperar o rigor da aferição do mérito dos candidatos que pretendessem acesso à universidade com o princípio da igualdade material. Assim, o mérito dos concorrentes que se encontrariam em situação de desvantagem com relação a outros, em virtude de suas condições sociais, não poderia ser aferido segundo ótica puramente linear. Mencionou-se que essas políticas não poderiam ser examinadas apenas sob o enfoque de sua compatibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos critériossobre outros. Deveriam, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o qual se assentaria o Estado, desconsiderados interesses contingenciais. 
Dessume-se que critérios objetivos de seleção, empregados de forma estratificada em sociedades tradicionalmente marcadas por desigualdades interpessoais profundas, acabariam por consolidar ou acirrar distorções existentes. Nesse aspecto, os espaços de poder político e social manter-se-iam inacessíveis aos grupos marginalizados, a perpetuar a elite dirigente, e a situação seria mais grave quando a concentração de privilégios afetasse a distribuição de recursos públicos. Evidenciou-se que a legitimidade dos requisitos empregados para seleção guardaria estreita correspondência com os objetivos sociais que se buscaria atingir. Assim, o acesso às universidades públicas deveria ser ponderado com os fins do Estado Democrático de Direito. Impenderia, também, levar em conta os postulados constitucionais que norteariam o ensino público (CF, arts. 205 e 207). Assentou-se que o escopo das instituições de ensino extrapolaria a mera transmissão e produção do conhecimento em benefício de poucos que lograssem transpor seus umbrais, por partirem de pontos de largada social ou economicamente privilegiados. 
Seria essencial, portanto, calibrar os critérios de seleção à universidade para que se pudesse dar concreção aos objetivos maiores colimados na Constituição. Nesse sentido, as aptidões dos candidatos deveriam ser aferidas de maneira a conjugar-se seu conhecimento técnico e sua criatividade intelectual ou artística com a capacidade potencial que ostentariam para intervir nos problemas sociais. Realçou-se que essa metodologia de seleção diferenciada poderia tomar em consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, para assegurar que a comunidade acadêmica e a sociedade fossem beneficiadas pelo pluralismo de ideias, um dos fundamentos do Estado brasileiro (CF, art. 1º, V). 
Partir-se-ia da premissa de que o princípio da igualdade não poderia ser aplicado abstratamente, pois procederia a escolhas voltadas à concretização da justiça social, de modo a distribuir mais equitativamente os recursos públicos” (ADPF 186, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 26.04.2012, Plenário, Informativo 663.) No mesmo sentido: RE 597.285, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 09.05.2012, Plenário, Informativo 665, com repercussão geral. 
· Remoção ex officio de servidor público 
O servidor público estadual, estudante de universidade pública do Estado, removido de ofício, pode ser matriculado em instituição congênere federal, caso não haja vaga na universidade de origem. (RE 464.217-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 07.08.2012, 2ª Turma, DJe de 20.08.2012). 
· Congeneridade das instituições – Transferências 
O “caput” do art. 49 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, dispõe que as instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo. O parágrafo único do referido artigo assim dispõe: As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei. Em dezembro de 1997 foi editada a Lei 9.536, que e regulamentou o citado parágrafo único, determinando que seja efetivada entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta. A regra supracitada não se aplica quando o interessado na transferência se deslocar para assumir cargo efetivo em razão de concurso público, cargo comissionado ou função de confiança. Com isso, o STF julgou a constitucionalidade da Lei 9.536/1997, viabilizador da transferência de alunos, que determina a observância da natureza jurídica do estabelecimento educacional de origem, a congeneridade das instituições envolvidas – de privada para privada, de pública para pública –, mostrando-se inconstitucional interpretação que resulte na mesclagem – de privada para pública. (ADI 3.324, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 16.12.2004, Plenário, DJ de 05.08.2005.). 
· Teoria do fato consumado 
Segundo essa teoria, as situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais. Assim, de acordo com essa tese, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e, após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída essa situação para que não haja insegurança jurídica. Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.4Trata-se de tema polêmico, que é resolvido de acordo com o caso concreto. No entanto, o STJ e o STF têm sido cada vez mais restritivos em aceitá-la. A Teoria do Fato consumado incide apenas em casos excepcionais, nas quais a inércia da Administração ou a morosidade do Judiciário deram ensejo a que situações precárias se consolidassem pelo decurso do tempo. 
Tal teoria tem valia em hipóteses extremas, de modo a não eternizar liminares indevidas e a não gerar expectativas de definitividade em juízos proferidos em cognição não exauriente, apenas em razão da demora do Judiciário. Sem prejuízo das linhas traçadas no item anterior, o examinando não pode desprezar de forma alguma a teoria do fato consumado. Vejamos: Determinado aluno, dependente de servidor público removido ex officio para estabelecimento de ensino privado para Universidade Federal, quando na verdade o aluno, ora recorrido, não era dependente de nenhum servidor público, pelo contrário, o próprio era titular e detentor de cargo público. Ocorre que a discussão só teve um desfecho após o término do curso superior, o que exige a aplicação da teoria do fato consumado. Observe que a congeneridade das instituições não deve ser levada em conta neste caso. “Aluno – Transferência – Conclusão do curso – Teoria do fato consumado – Aplicabilidade. O Supremo, ao analisar hipótese em que houvera conclusão de curso superior antes do trânsito em julgado da decisão em que se discutia a idoneidade do ato de matrícula do aluno, manifestou-se pela aplicação da teoria do fato consumado à espécie.” (RE 429.906-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 19.08.2008, 2ª Turma, DJe de 12.09.2008. II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
· Liberdade de cátedra 
A liberdade de cátedra é um direito do professor, que poderá livremente exteriorizar seus ensinamentos aos alunos, sem qualquer ingerência administrativa, ressalvada, porém, a possibilidade da fixação do currículo escolar pelo órgão competente. IV – Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
· Taxa de matrícula 
A cobrança de matrícula como requisito para que o estudante possa cursar universidade federal viola o art. 206, IV, da Constituição. Embora configure ato burocrático, a matrícula constitui formalidade essencial para que o aluno tenha acesso à educação superior. As disposições normativas que integram a Seção I, do Capítulo III, do Título VIII, da Carta Magna devem ser interpretadas à dos princípios explicitados no art. 206, que configuram o núcleo axiológico que norteia o sistema de ensino brasileiro. Conforme a Súmula Vinculante 12, a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da CF. A citada Súmula vinculante foi aprovada em Sessão Plenária do STF no dia 13 de agosto de 2008 e publicada no Diário Oficial da União no dia 22 de agosto de 2008. Todavia O principal recurso julgadono STF que deu origem a Súmula Vinculante 12 foi o da UFG (Universidade Federal de Goiás) contra a decisão do TRF- 1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), sediado em Brasília, a favor de sete candidatos aprovados em vestibular da UFG. O TRF da 1ª Região entendeu que a cobrança da taxa de matrícula feria a constitucionalidade do artigo 206, inciso IV, da Constituição Federal. 
Naquela oportunidade, o Ministro Ricardo Lewandowski declarou não ser factível a criação de obstáculos financeiros ao acesso dos cidadãos carentes ao ensino gratuito. Ele votou contra o recurso e foi acompanhado pelos Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Marco Aurélio que formaram a maioria. Apenas por curiosidade, a Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha votou pela constitucionalidade desta cobrança por parte da universidade, destacando que a cobrança não era obrigatória. Por uma questão lógica de segurança jurídica, houve a modulação dos efeitos da decisão que declarou a inconstitucionalidade da cobrança da taxa de matrícula nas universidades públicas a partir da edição da Súmula Vinculante 12, salvo o direito daqueles que já haviam ajuizado ações com o mesmo objeto jurídico (RE 500.171-ED, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16.03.2011, 1ª Turma, DJe de 03.06.2011, com repercussão geral.) No mesmo sentido: RE 563.386-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 14.06.2011, 1ª Turma, DJe de 01.07.2011. V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; 
· Planos de carreira para o magistério público 
O art. 206, V, da Constituição de 1988, embora não tenha repetido a exigência do art. 176, § 3º, VI, da Constituição de 1967 com a Emenda de 1969, não impede que a lei estabeleça, para o magistério superior, além da carreira que vai de professor auxiliar até professor adjunto, o cargo isolado de professor titular, cujo provimento se dá por meio de concurso público de provas e títulos, e não por simples promoção (AI 710.664-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 05.08.2008, 2ª Turma, DJe de 22.08.2008.) No mesmo sentido: RE 141.081, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 25.06.1996, 1ª Turma, DJ 05.09.1997; RE 206.629, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 06.04.1999, 1ª Turma, DJ de 13.08.1999; AI 212.774-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 22.06.1998, 2ª Turma, DJ de 20.04.2001. O examinando deve se ater que o Superior Tribunal de Justiça, há alguns anos reconheceu o direito de promover-se, por promoção automática, ao cargo de professor titular, sendo que o STF já tinha se pronunciando inúmeras vezes sobre a inconstitucionalidade pela via do Recurso Extraordinário. Com isso, foi ajuizada Reclamação contra o acórdão prolatado pelo e. STJ alegando violação de precedente da Corte Constitucional, que decidira que a exigência de concurso específico não violava a autonomia universitária (art. 206 da Constituição Federal). Corretamente a Reclamação foi conhecida e julgada procedente para cassar o v. acórdão reclamado do Superior Tribunal de Justiça (Rcl 2.280, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 01.04.2008, 2ª Turma, DJe de 18.04.2008). O examinando deve se perguntar como o STF admitiu a propositura de Reclamação, se as decisões estavam pautadas em Recursos Extraordinários, que por si só, tramitam pela via do controle de DIFUSO que apresenta efeitos inter partes, sendo que o cabimento da Reclamação se dá para garantir a autoridade das decisões erga omnes do Supremo Tribunal Federal. 
Na verdade, não cabe Reclamação constitucional para preservar a autoridade de decisão neutra aos interesses do jurisdicionado. O reconhecimento da repercussão geral da matéria constitucional não autoriza a suspensão imediata de todos os processos que versem sobre o assunto, mas apenas determina suspensão do envio dos autos de recursos extraordinários e de agravos de instrumento ao STF, ou seja, uma vez reconhecida a repercussão geral, os demais órgãos devem observar tais decisões, sob pena de sofrerem reclamações na Suprema Corte, que até a decisão definitiva da Reclamação suspende o envio de outros recursos extraordinários (Rcl 9.732-AgR, voto Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 20.06.2012, Plenário, DJe de 08.03.2013). É por isso que a decisão do STJ foi reclamada, pois desrespeitou uma decisão de mérito do STF pela via do Recurso Extraordinário. VI – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei; Como se pode notar, a Constituição consagra o princípio da gestão democrática nas instituições de ensino, significando a introdução de eleições diretas para reitores (Universidade federal. Autonomia (art. 207 da CF). Ação direta de inconstitucionalidade. Resolução 2/1988 do Conselho Universitário da UFRJ que dispõe sobre eleição do reitor e vice-reitor. Inconstitucionalidade. Ofensa ao inciso X e caput do art. 48 e inciso XXV do art. 84, ambos da CF (ADI 51, Rel. Min. Paulo Brossard, julgamento em 25.10.1989, Plenário, DJ de 17.09.1993). No mesmo sentido: ADI 578, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 03.03.1999, Plenário, DJ de 18.05.2001) e todas as demais autoridades universitárias, assim como a participação paritária de estudantes, funcionários e professores em órgãos colegiados. 
Deve ser garantida a representação de estudantes, funcionários e professores de todos os níveis nos órgãos e setores que lhes dizem respeito; a prevalência da hierarquia acadêmica em assuntos pedagógicos e de pesquisa a autonomia didático-científica dos departamentos, institutos e faculdades que integram as universidades; e definidos mecanismos de acompanhamento, supervisão e eventual intervenção dos órgãos universitários superiores sobre unidades cujo desempenho acadêmico ou administrativo seja considerado inferior aos padrões requeridos pela universidade. O supracitado princípio traz a baila a redação do artigo 242 da Constituição Federal, que determina que o princípio do art. 206, IV, da CF, não se aplica às instituições educacionais oficiais e criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação da Constituição de 1988, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos. Observe que o artigo supracitado se curva diante do princípio do art. 206, VI, da CF. 
· Exceção à gratuidade do ensino público 
O art. 242 do texto constitucional afasta excepcionalmente a incidência da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, o que não quer dizer, que o estabelecimento de ensino oficial não possa se utilizar de outra gestão democrática do ensino, desde que presentes os seguintes requisitos: 
a) instituição educacional oficial criada por lei estadual ou municipal. A Constituição não exclui a esfera federal da presente exceção; 
b) preexistência da instituição educacional à data da promulgação da Constituição Federal; 
c) instituição educacional mantida total ou preponderantemente com recursos privados. Neste diapasão, o ensino de história do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. 
AUTONOMIA DAS UNIVERSIDADES 
As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, sendo-lhes facultado, bem com às instituições de pesquisa científica e tecnológica, a admissão de professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. A regra se aplica às instituições de pesquisa científica e tecnológica. Como se pode notar, a Constituição brasileira de 1988 consagrou, pela primeira vez, o princípio da autonomia universitária, que não é irrestrito, mas sim limitado pelo princípio da legalidade. 
A autonomia universitária é uma dentre outras disposições constitucionais sobre a educação, que inclui também os preceitos de garantia da qualidade do ensino, gestão democrática, regime jurídicoúnico e plano de carreira para o magistério público, gratuidade do ensino público, acesso universal, e indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; e, acima de tudo, o da prioridade ao ensino fundamental. É fácil ver que nem todos os princípios são facilmente compatíveis entre si, ou podem ser atendidos ao mesmo tempo; e que, por isto, necessitam ser hierarquizados de alguma forma. Um critério razoável para esta hierarquização é partir das finalidades maiores do ensino superior, e depois examinar em que medida elas podem ser melhor cumpridas pelos outros dispositivos constitucionais. Pela Constituição, o ensino universitário, tal como os demais níveis de ensino, tem por objetivo o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania, e sua qualificação profissional (art. 205). 
Essa formulação inicial se combina com o direito de acesso de todos aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (art. 208, V). É à luz destes princípios gerais que os demais dispositivos constitucionais devem ser examinados. Vista nesse contexto mais amplo, fica claro que a autonomia universitária, definida de forma plena no artigo 207 da Constituição, não pode ser entendida como um direito incondicional de seus professores, funcionários e alunos de fazerem das universidades o que lhes aprouver, mas sim como um instrumento que tem por objetivo e encontra seus limites no atendimento aos fins mais gerais aos quais as Universidades se destinam, assim como no atendimento às normas mais gerais de probidade na gestão dos recursos públicos. Caberá à legislação ordinária estabelecer verdadeiro alcance e os limites desta autonomia. 
· Autonomia didático-científica 
As universidades devem ter plena liberdade de definir currículos, abrir e fechar cursos, tanto de graduação quanto de pós-graduação e de extensão. Elas devem ter, também, plena liberdade de definir suas linhas prioritárias e mecanismos de financiamento da pesquisa, conforme regras internas. É fundamental, em relação a este item, garantir a autonomia das universidades em relação a órgãos externos como os conselhos nacionais e estaduais de educação, conselhos profissionais e conselhos de pesquisa. Todos estes órgãos devem poder, em qualquer tempo, avaliar e opinar sobre os trabalhos desenvolvidos pelas universidades; mas estas apreciações não poderão ter força decisória ou de autorização sobre o que e como as universidades devem ou não pesquisar e ensinar. Isto significa, por exemplo, que as universidades não estarão mais presas a currículos mínimos de qualquer tipo. Dessa maneira, os conselhos profissionais deverão buscar novas formas de autorização para o exercício profissional (por meio de exames de ordem, ou acreditação de determinados cursos), que até hoje decorrem de forma automática da simples posse de diplomas universitários. 
· Autonomia administrativa 
A autonomia administrativa supõe que as universidades poderão se organizar internamente como melhor lhes convier, aprovando seus próprios estatutos, e adotando ou não o sistema departamental, o regime de crédito, a estrutura de câmaras, e assim por diante. A autonomia administrativa deve também se exercer em relação ao plano de carreira para o magistério público nas universidades federais. O inciso V do artigo 206 não fala em plano de cargos e salários unificado para o sistema federal, mas apenas em três princípios gerais, o piso salarial, o princípio de ingresso exclusivo por concurso público, e o regime jurídico único. Todos os demais itens, incluindo os sistemas de promoção, regimes de trabalho, e inclusive níveis salariais máximos, devem ser deixados a cada Universidade. Uma interpretação mais restritiva deste parágrafo sufocaria, na prática, a autonomia administrativa que as universidades federais deveriam ter em relação a seu elemento mais importante, que é da política de pessoal. 
· Autonomia de gestão financeira e patrimonial 
O princípio básico, aqui, deve ser o da dotação orçamentária global, com plena liberdade para remanejamento de recursos entre itens de pessoal, custeio e capital. A autonomia patrimonial significa que as universidades devem poder constituir patrimônio próprio, ter liberdade para obter rendas de vários tipos, e utilizar destes recursos como melhor lhe convenha. 8 A contrapartida desta autonomia expandida deve ser o cumprimento das finalidades maiores a que as universidades se destinam. Todas as instituições públicas do país, da Presidência da República ao município, estão sujeitas a mecanismos de fiscalização e controle, e as universidades não poderiam ser uma exceção. Este controle não pode se limitar, como acontece habitualmente, a verificar se o dinheiro foi gasto conforme determinadas regras burocráticas, mas sim se os objetivos maiores que ele se destina foram cumpridos. 
O artigo 206, VII, da Constituição, exige a garantia de padrão de qualidade para o ensino público, e o art. 209 condiciona o financiamento a instituições privadas também a critérios de qualidade. O princípio constitucional da autonomia universitária é genérico, e abrange inclusive as universidades privadas. Vejamos os pontos que eram controversos e hoje são incontroversos graças a interpretação do Supremo Tribunal Federal dada ao princípio da autonomia: 
· Programa universidade para todos – PROUNI 
O Prouni é um programa de ações afirmativas, que se operacionaliza mediante concessão de bolsas a alunos de baixa renda e diminuto grau de patrimônio. Mas um programa concebido para operar por ato de adesão ou participação absolutamente voluntária, incompatível, portanto, com qualquer ideia de vinculação forçada. Assim, inexiste violação aos princípios constitucionais da autonomia universitária (art. 207 da CF) e da livre-iniciativa (art. 170 da CF). Tais ações afirmativas do Estado enaltecem o princípio constitucional da isonomia e da autonomia (ADI 3.330, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 03.05.2012, Plenário, DJe de 22.03.2013). 
· Diploma com validade nacional 
Não há direito líquido e certo à expedição de diploma com validade nacional se o curso de mestrado não é reconhecido, como expressamente prevê a lei. As universidades gozam de autonomia administrativa, o que não as exime do dever de cumprir as normas gerais da educação nacional (RE 566.365, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 22.02.2011, 1ª Turma, DJe de 12.05.2011). 
Ministro da educação é parte ilegítima “Mandado de segurança impetrado porque o diploma não foi expedido, em virtude de o curso de pós-graduação não estar credenciado no MEC. Ministro de Estado não é autoridade competente para determinar a expedição de diploma, tendo a universidade autonomia específica para a prática desse ato. Desqualificada a autoridade apontada como coatora, Ministro de Estado da Educação, determina-se a remessa dos autos ao Tribunal competente para julgar o mandado de segurança com relação às outras autoridades apontadas como coatoras. Recurso ordinário em mandado de segurança desprovido.” (RMS 26.369, Rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito, julgamento em 09.09.2008, 1ª Turma, DJe de 19.12.2008.) O exercício da autonomia não pode se sobrepor A Constituição e às leis As universidades públicas são dotadas de autonomia suficiente para gerir seu pessoal, bem como o próprio patrimônio financeiro. O exercício desta autonomia não pode, contudo, sobrepor-se ao quanto dispõem a Constituição e as leis (art. 207 da CB/1988) (RE 83.962, Rel. Min. Soares Muñoz, DJ de 17.04.1979, e ADI 1.599-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 18.05.2001). 
As universidades públicas federais, entidades da administração indireta, são constituídas sob a forma de autarquias ou fundações públicas. Seus atos, além de sofrerem a fiscalização do TCU, submetem-se ao controle interno exercido pelo Ministério da Educação (MEC). Embora as universidades públicas federais não se encontrem subordinadas ao MEC, determinada relação jurídica as vincula ao Ministério, o que enseja o controle interno de alguns deseus atos (arts. 19 e 25, I, do Dec.-lei 200/1967). Os órgãos da administração pública não podem determinar a suspensão do pagamento de vantagem incorporada aos vencimentos de servidores quando protegido pelos efeitos da coisa julgada, ainda que contrária à jurisprudência. Não há ilegalidade nem violação da autonomia financeira e administrativa, garantida pelo art. 207 da Constituição, no ato do ministro da Educação que, em observância aos preceitos legais, determina o reexame de decisão, de determinada universidade, que concedeu extensão administrativa de decisão judicial (RMS 22.047-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21.02.2006, 1ª Turma, DJ de 31.03.2006). Definitivamente, o princípio da autonomia das universidades (CF, art. 207) não é irrestrito, mesmo porque não cuida de soberania ou independência, de forma que as universidades devem ser submetidas a diversas outras normas gerais previstas na Constituição, como as que regem o orçamento (art. 165, § 5º, I), a despesa com pessoal (art. 169), a submissão dos seus servidores ao regime jurídico único (art. 39), bem como às que tratam do controle e da fiscalização. 
PRECEITOS CONSTITUCIONAIS SOBRE A EDUCAÇÃO 
O artigo 208 da Constituição enumera os preceitos fundamentais sobre os quais deverá ser efetivado o direito á educação. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: 
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade; II – assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; 
III – progressiva universalização do ensino médio gratuito; 
IV – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; 
V – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; 
VI – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VII – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 
VIII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. 
A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). Essa prerrogativa jurídica, em consequência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até cinco anos de idade’ (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da CF. 
A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da administração pública nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental.9 A jurisprudência do STF firmou-se no sentido da existência de direito subjetivo público de crianças até cinco anos de idade ao atendimento em creches e pré-escolas. Também consolidou o entendimento de que é possível a intervenção do Poder Judiciário visando à efetivação daquele direito constitucional (RE 554.075-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 30.06.2009, 1ª Turma, DJe de 21.08.2009.) No mesmo sentido: AI 592.075-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 19.05.2009, 1ª Turma, DJe de 05.06.2009; RE 384.201-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26.04.2007, 2ª Turma, DJ de 03.08.2007. Julgou constitucional, por fim, resolução do Conselho Nacional de Educação que estabeleceu que, para acesso ao 1º ano do ensino fundamental, a criança precisa ter completado 6 (seis) anos de idade até 31 de março (ADC 17 e ADPF 292). 
O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. Por fim, compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. 
ENSINO E INICIATIVA PRIVADA 
A Constituição Federal, afirmando que a educação é direito de todos, consagra sua opção pelo ensino público, porém autoriza a atuação da iniciativa privada. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: 
I – cumprimento das normas gerais da educação nacional; 
II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. 
O ensino por ser “livre”, significa que a norma constitucional autoriza, dá permissão, para que seja ministrado por outras pessoas que não o Estado. E a menção direta à iniciativa privada deixa bem claro que é permitido explorar comercialmente a atividade educacional, ou seja, com o objetivo de lucro. As únicas condicionantes se referem aos aspectos de qualidade pedagógica, com o cumprimento de carga horária e currículo mínimo previamente descritos em lei e a possibilidade de fiscalização pelos órgãos administrativos competentes – diga-se Ministério e Secretarias de Educação. 
Contudo, temos nos deparado com muitos donos de escola que demonstram um receio infundado de admitir o óbvio: administram um negócio para ganhar dinheiro! Pois ao contrário, não é pecado, não é ilegal, e nem mesmo imoral exercer honestamente a função de educador e receber uma justa remuneração pelo trabalho. Aos que conseguem enriquecer, maior ainda o mérito, pois o princípio do crescimento financeiro, em regra, será a boa qualidade dos serviços, resultado maior do esforço e da dedicação pessoal. Nada a condenar, portanto. A Norma Constitucional, assim, dá permissão aos profissionais da educação para se estabelecerem comercialmente e prestarem serviços educacionais cobrando um pagamento, que popularmente é chamado de mensalidade. 
Trata-se da contrapartida financeira pelo trabalho realizado, que ainda está longe de representar o lucro, eis que todas as despesas do aprendizado são custeadas com essas mesmas receitas. Falamos aqui dos impostos, salários, manutenção, aluguel, e tudo o mais que representa desembolso em razão da atividade desenvolvida. Sem prejuízo, encontraremos ainda a chamada função social da educação. Ela está prevista também em nossa Constituição no art. 6º, destacando sua importância para o cidadão. O problema é que a maioria das decisões judiciais envolvendo as escolas particulares se baseia em discussões direta ou indiretamente ligadas à complexa coexistência entre esses dois temas: iniciativa privada e função social. Se existe um comando expresso na Carta Constitucional é porque tais estabelecimentos estão autorizados a cobrar mensalidades, também é uma verdade que há direitos fundamentais do educando em jogo, e já se notou uma tendência judicial em privilegiá-lo, a despeito da relação contratual perfeitamente lícita que permite às escolas particulares a cobrança pelos serviços. Em outras palavras: pode-se cobrar, mas o educando da iniciativa privada não é o mesmo que adquire produtos em lojas, supermercados e shoppings ou compra serviços de outros tipos. Sob o enfoque exclusivo do aluno, não podemos negar que a educação particular tem muitas semelhanças com a pública, especialmente no que diz respeito aos direitos coletivos, face à importância estratégica do ensino para o desenvolvimento do país. 
Não são poucos os que enxergam a escola privada como uma “concessão pública” ou “função delegada”, tratando o mantenedor como uma espécie de funcionário público gerenciando uma repartição. Esse entendimento está absolutamente equivocado, poisas instituições particulares coexistem com as públicas – e na maior parte das vezes com outras também particulares – em uma mesma localidade e para servir aos mesmos usuários. Nenhum órgão ou autoridade deixou de praticar suas funções, delegando-as ao mantenedor, nem tampouco garantiu exclusividade para determinada região ou serviço a quem desejasse abrir um educandário. 
Esse seria o exemplo dos tabeliães, das estradas privatizadas ou de alguns serviços de telecomunicações, todos eles sujeitos à regular licitação. Portanto, a própria Constituição Federal autoriza a qualquer interessado com a formação e o conhecimento necessários abrir e manter uma empresa para prestar serviços educacionais, desde que observados os parâmetros e diretrizes curriculares e que se coloque à disposição para que seus trabalhos sejam fiscalizados pelos organismos competentes. Dessa permissão de nossa Constituição Federal, surge o Contrato de Prestação de Serviços Educacionais, que vem regular individualmente cada matrícula efetuada no estabelecimento particular. 
A partir desse instante teremos uma relação contratual pautada pelo Código de Defesa do Consumidor. Sendo assim, os serviços de educação, seja os prestados pelo Estado, seja os prestados por particulares, configuram serviço público não privativo, podendo ser prestados pelo setor privado independentemente de concessão, permissão ou autorização. Tratando-se de serviço público, incumbe às entidades educacionais particulares, na sua prestação, rigorosamente acatar as normas gerais de educação nacional e as dispostas pelo Estado-membro, no exercício de competência legislativa suplementar (§ 2º do art. 24 da Constituição do Brasil). 
CONTEÚDO DO ENSINO FUNDAMENTAL 
A Constituição Federal delega ao legislador ordinário a fiação dos conteúdos mínimos para o ensino fundamental, obrigando-o, porém, ao respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. O artigo 210 da CF determina que serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. Diz ainda, que ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. Por fim, que o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Diante dessa premissa vamos estudar minuciosamente a questão do ensino religioso para a sua prova. 
· Ensino religioso 
A conquista constitucional da liberdade religiosa é verdadeira consagração de maturidade de um povo, pois, como salientado por Themístocles Brandão Cavalcanti, é ela verdadeiro desdobramento da liberdade de pensamento e manifestação. A abrangência do preceito constitucional é ampla, pois, sendo a religião um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana. A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões têm comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes.
 A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de um deus ou deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana. O desenvolvimento da religião assumiu diferentes formas em diferentes culturas. Algumas religiões colocam a tônica na crença, enquanto outras enfatizam a prática. Algumas religiões focam na experiência religiosa subjetiva do indivíduo, enquanto outras consideram as atividades da comunidade religiosa como mais importantes. Algumas religiões afirmam serem universais, acreditando que suas leis e cosmologia são válidas ou obrigatórias para todas as pessoas, enquanto outras se destinam a ser praticadas apenas por um grupo bem definido ou localizado. 
Alguns acadêmicos que estudam o assunto têm dividido as religiões em três categorias amplas: religiões mundiais, um termo que se refere à crenças transculturais e internacionais; religiões indígenas, que se refere a grupos religiosos menores, oriundos de uma cultura ou nação específica; e o novo movimento religioso, que se refere a crenças recentemente desenvolvidas. Uma teoria acadêmica moderna sobre a religião, o construtivismo social, diz que a religião é um conceito moderno que sugere que toda a prática espiritual e adoração segue um modelo semelhante ao das religiões abraâmicas, como um sistema de orientação que ajuda a interpretar a realidade e definir os seres humanos, assim, a religião, como um conceito, tem sido aplicado de forma inadequada para culturas não ocidentais que não são baseadas em tais sistemas ou em que estes sistemas são uma construção substancialmente mais simples.
Dessa forma, o constrangimento à pessoa humana, de forma a oprimi-lo a renunciar sua fé, representa o desrespeito à diversidade democrática de ideias, filosofias e à própria diversidade espiritual. A plena liberdade religiosa, o respeito pelas diversas religiões ou seitas, o fim de guerras santas e atos de terrorismo religiosos ainda não se trasmudou de uma garantia formalmente prevista pelas diversas constituições para uma verdade universal. A interpretação da Carta Magna brasileira deve ser a mesma dada a primeira emenda à Constituição Norte- -Americana, que assegura, em síntese, a liberdade de culto, de expressão e de imprensa, afirmando que o Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos, ou cerceando a liberdade de palavra, ou de imprensa, ou o direito do povo se reunir-se pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus agravos. 
A liberdade de convicção religiosa abrange inclusive o direito de não acreditar ou professar nenhuma fé, devendo o Estado respeitar o ateísmo. Com isso, a Constituição Federal assegura o livre exercício dos cultos religiosos (art. 5º, VII, da CF), enquanto não forem contrários à ordem, tranquilidade e sossego público, bem como compatíveis com os bons costumes. Dessa forma, a questão das pregações e curas religiosas devem ser analisadas de forma a não obstaculizar a liberdade religiosa garantida constitucionalmente, nem tampouco acobertar práticas ilícitas. Obviamente, assim como as demais liberdades públicas, também a liberdade religiosa não atinge grau absoluto, não sendo, pois, permitido a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilização civil e criminal. Todavia, temos ainda a questão da religião e a cultura, pois o ensino religioso poderá, desde que de matrícula facultativa, constituir disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental (art. 210, § 1º, da CF). Essa previsão constitucional deverá adequar-se às demais liberdades públicas, entre elas a liberdade de culto religioso e a previsão do Brasil com um Estado laico. 
Dessa forma, destaca-se uma dupla garantia constitucional. Primeiramente, não se poderá instituir nas escolas públicas o ensino religioso de uma única religião, nem tampouco pretender doutrinar os alunos a essa ou aquela fé. A norma constitucional prevê, implicitamente,que o ensino religioso deverá constituir-se de regras gerais sobre religião e princípios básicos da fé. Ainda que essa perspectiva ainda prevalece na doutrina, ao julgar a ADI 4439, o STF assentou, por apertada maioria (6x5), que é constitucional o acordo firmado entre o Brasil e a Santa Sé para que a religião católica apostólica romana seja ensinada nas escolas públicas. Restou vencedora a tese de que o ensino religioso pode ter natureza confessional, e não apenas histórica e sobre preceitos gerais de todas as religiões, como pretendia a PGR, autora da ação. 
Em segundo lugar, a Constituição garante a liberdade das pessoas em matricularem-se ou não, uma vez que, conforme já salientados, a plena liberdade religiosa consiste também na liberdade do ateísmo. Em relação à cultura, a lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas, inclusive feriados religiosos, de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais, conforme art. 215, § 1º, da CF. Ainda nesta esteira, a Constituição estabelece ser vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (art. 19 da CF) estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná- -los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes em relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. A República Federativa do Brasil é leiga ou laica, uma vez que há separação total entre Estado e Igreja, inexistindo religião oficial. Observe, porém, que o fato de ser uma Federação leiga não a confunde com os Estados ateus, pois o Brasil, expressamente, afirma acreditar em Deus, quando no preâmbulo constitucional declara: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. Surge como verdadeiro corolário desse princípio a vedação constitucional de instituição de impostos por parte da União, Estado, Distrito Federal e Municípios, sobre templos de qualquer culto (art. 150, VI, “b”, da CF). 
Vencidas tais considerações, não haveria lógica no texto constitucional determinar a junção entre o conteúdo básico do ensino fundamental público e determinada fé. Dessa forma, como vimos, a Constituição Federal prevê que o ensino religioso constituirá disciplina de matrícula facultativa. O que é absolutamente impossível, pois a Constituição Federal, ao prever a facultatividade da matrícula ao ensino religioso, somente adequou um dos problemas decorrentes da natureza laica do Estado brasileiro. O segundo problema, e de maior complexidade, corresponde à efetividade do ensino religioso, ou mais especificamente, á escolha e implementação de determinado ensino religioso a ser ministrado nas escolas públicas de ensino fundamental sem que haja ferimento a uma das vedações federativas, qual seja, o art. 19, I, da CF. Igualmente não nos parece que a conjugação de esforços para que se ministre um ensino ecumênico – por mais salutar e desejável que seja – cumpra a previsão constitucional, pois ecumenismo não corresponde a ensino religioso, cujos dogmas, por muitas vezes, são absolutamente antagônicos entre as diversas religiões. A União organizará o sistema federal de ensino e dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria constitucional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. 
Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio A título de ilustração, os “Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social.” (RE 436.996-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 22.11.2005, 2ª Turma, DJ de 03.02.2006). 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS – INTERPRETAÇÃO DO ART. 34, VII, “E”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
São Princípios Constitucionais Sensíveis aqueles que estão relacionados de modo taxativo no artigo 34, inciso VII, da Carta Magna. Assim, temos: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...) VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; 
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde”. 
O último princípio citado merece uma atenção um tanto quanto especial, pois todos os administradores públicos (prefeitos e governadores) devem sempre encaminhar um mínimo da arrecadação de tributos às áreas da educação e saúde, como prevê a própria lei. A razão destes cinco dispositivos serem considerados “sensíveis” dentro da constituição é devido à sua forma direta e expressa, e também pelo ensejo à representação de Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva, proposta sempre pelo Procurador-Geral da República, a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal ante determinada unidade federativa que não seguir as cinco alíneas do artigo. 
Estes recebem ocasionalmente também o nome de princípios apontados ou enumerados. A intervenção federal será executada quando não houver o cumprimento espontâneo dos princípios sensíveis, sendo assim nomeado um interventor ao Estado ou Distrito Federal responsável por tal descumprimento.Os Princípios Sensíveis constituem um dos três princípios dos quais o Poder Constituinte Derivado ao atuar, deve sempre ter como referência, sendo os outros dois conhecidos como “Princípios Constitucionais Estabelecidos” e “Princípios Constitucionais Extensíveis”. Neste diapasão o artigo 212, da CF, dispõe que a União aplicará, anualmente, nunca menos de 18 (dezoito), e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 25 (vinte e cinco) por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. 
A jurisprudência do STF determina ainda que se uma norma constitucional estadual destinar parte das receitas orçamentárias a entidades de ensino, não há que se falar em violação material, em relação aos arts. 167, IV e 212 da Constituição, na medida em que não há indicação de que o valor destinado (no caso concreto foram 2% sobre a receita orçamentária corrente ordinária) excede o limite da receita resultante de impostos do Estado (25% no mínimo) (ADI 2.447, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 04.03.2009, Plenário, DJe de 04.12.2009). Ainda temos: “Ação civil pública promovida pelo Ministério Público contra Município para o fim de compeli-lo a incluir, no orçamento seguinte, percentual que completaria o mínimo de 25% de aplicação no ensino. CF, art. 212. Legitimidade ativa do Ministério Público eadequação da ação civil pública, dado que esta tem por objeto interesse social indisponível (CF, art. 6º, arts. 205 e ss., art. 212), de relevância notável, pelo qual o Ministério Público pode pugnar (CF, art. 127, art. 129, III)” (RE 190.938, Rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.03.2006, 2ª Turma, Dje de 22.05.2009). A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada receita do governo que a transferir, para efeito do cálculo. O examinando deve observar que serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213 da Constituição Federal. A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere à universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação. Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. 
Sem prejuízo, a educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário educação, recolhida pelas empresas na forma da lei A Súmula 732 do STF, dispõe que é constitucional a cobrança da contribuição do salário educação, seja sob a Carta de 1969, seja sob a CF de 1988, e no regime da Lei 9.424/1996. Ainda: “É legítima a exigibilidade da contribuição especial pertinente ao salário educação, sem qualquer solução de continuidade, durante o período de tempo abrangido, sucessivamente, pela vigência de cada um dos diplomas legislativos (Dec.-lei 1.422/1975 e Lei 9.424/1996)” (AI 588.074-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14.08.2007, 2ª Turma, DJ de 21.09.2007).Por fim, as cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. 
RECURSOS PÚBLICOS E EDUCAÇÃO 
O texto constitucional autoriza, subsidiariamente, o direcionamento dos recursos públicos em matéria de educação às escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que preencham os requisitos exigidos pela própria Constituição Federal, quais sejam: 
I. comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; 
II. assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. Os recursos poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público. 
OBJETIVOS DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 
O artigo 214 da Constituição Federal prevê obrigatoriedade de o legislador ordinário estabelecer o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: 
I. erradicação do analfabetismo; 
II. universalização do atendimento escolar; 
III. melhoria da qualidade do ensino; 
IV. formação para o trabalho; 
V. promoção humanística, científica e tecnológica do País; 
VI. estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto.

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