Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo — A ressonância magnética é uma modalidade que tem sido usada como instrumento clínico fundamental para a propedêutica diagnóstica. A eficiência das técnicas e protocolos acompanha a evolução científica do exame e da biologia que o cerca. O presente estudo busca entender a constituição e funcionamento de um componente cuja relevância é muito maior que a de um simples acessório. As bobinas de RF usadas em ressonância magnética, quando compreendidas em relação a sua utilização e composição permitem que as equipes de diagnóstico explorem melhor seu potencial. A evolução e avanço construtivo dessas bobinas de RF acompanharam o desenvolvimento da eletrônica. Desta forma, a física empregada para a formação da imagem pôde ser otimizada, refletindo diretamente na qualidade da imagem apresentada pelo equipamento. Podemos destacar uma série de parâmetros e variáveis que ao interagirem entre si influenciam em pontos fundamentais para a melhoria do exame: a relação sinal-ruído, a razão contraste-ruído e a resolução espacial. Palavras chave — Bobinas, radiofrequencia, ressonância magnética, RF, RM. Abstract — MRI is a modality that has been used as fundamental diagnostic procedures for clinical tool. The efficiency of the techniques and protocols accompanying the evolution of scientific examination and biology that surrounds it. This study seeks to understand the formation and operation of a component whose relevance is much greater than a simple accessory. The RF coils used in magnetic resonance imaging, when understood in relation to their use and composition allow teams to better exploit their diagnostic potential. The evolution and advancement of these constructive RF coils accompanied the development of electronics. Thus, employed to image formation physics could be optimized, reflecting directly on the quality of the image displayed by the machine. We highlight a number of parameters and variables interact to influence each other on key points to improve the exam: the signal-to - noise, contrast -to-noise ratio and spatial resolution. Index Terms — Coils, magnetic resonance, MRI, radio frequency, RF. I. INTRODUÇÃO A ressonância magnética foi utilizada para fins diagnósticos há pouco mais de 30 anos, quando foi possível realizar as primeiras imagens do corpo humano. Em 1946, o fenômeno Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de Telecomunicações, como parte dos requisitos para a obtenção do Certificado de Pós-Graduação em Engenharia Clínica e Biomédica. Orientador: Prof. Marco Túlio. Trabalho aprovado em julho/2014 físico já havia sido descrito por Block e Pucell para utilização com fins industriais, portanto, todo este intervalo demonstra a complexidade e o tempo necessário para o aprimoramento tecnológico a partir do avanço dos conceitos de física aplicada. Outros pontos fundamentais para a viabilidade fabril e comercial dos equipamentos de ressonância magnética foram o desenvolvimento de componentes eletrônicos e a evolução dos sistemas de resfriamento do magneto para manutenção do campo magnético. Todo o investimento se justifica uma vez que estamos falando de um equipamento de diagnóstico por imagem que, desde a sua descoberta, não apresentou efeitos deletérios relacionados ao campo eletromagnético a qual o paciente é exposto. [1] No processo de transmissão da RF, a principal função de uma bobina é a capacidade de produzir um campo magnético com alta homogeneidade dentro da região de interesse (RI). Além disso, muitas bobinas fazem também a recepção da resposta da relação sinal-ruído. Pela importância da função que realiza, as bobinas de RF são parte fundamental para o processo de melhoria da qualidade das imagens em sistemas de ressonância magnética. A ressonância magnética representa, na medicina contemporânea, um dos métodos mais estudados em todos os grandes centros médicos mundiais. II. PRINCÍPIOS FÍSICOS PARA OBTENÇÃO DAS IMAGENS A técnica de obtenção de imagens por ressonância magnética é uma extensão de técnicas similares, que também utilizam campos elétricos e magnéticos utilizados há muito tempo em física e química para fins não relacionados à imagem, baseado na interação de campos magnéticos com pulsos de radiofreqüência. Os princípios de RM têm por base o movimento giratório de um núcleo específico presente em tecidos biológicos, conhecidos como núcleos ativos em RM. A fonte de formação da imagem em ressonância são átomos de hidrogênio. Quando submetidos ao campo magnético os vetores dos prótons atômicos tendem a se alinhar ao eixo do campo magnético no mesmo sentido, mas não obrigatoriamente na mesma direção. Esse alinhamento acontece de modo paralelo e antiparalelo, com níveis de energia distintos devido às leis de indução eletromagnética. O equipamento produz, através de Bernardo A.C. Dória & Marco Túlio Perlato Bobinas de RF: utilização eficaz de bobinas receptoras em estudos de ressonância magnética para otimização da RSR. amplificadores eletrônicos de radiofrequência, diferentes pulsos. Eles interagem com os átomos magneticamente alinhados, causando desalinhamento vetorial de seus spins. Os pulsos também geram um ruído relevante e desconfortável para a maioria dos pacientes. Quando a emissão de RF cessa, observa-se o retorno do alinhamento de origem. A leitura dessa diferença vetorial dos prótons de hidrogênio submetidos ao campo magnético e a aplicação de pulsos de radiofreqüência são convertidos em logaritmos matemáticos, representando a intensidade de sinal dos diferentes tecidos, permitindo o contraste entre as estruturas[2]. Os prótons de hidrogênio são utilizados por três motivos básicos: • Fazem parte da constituição da água e da maior parte das moléculas orgânicas. Esta presença abrangente favorece a leitura da intensidade de sinal de diversos tecidos. • A análise do sinal emitido pelo hidrogênio é significativamente diferente quando presente nos tecidos normal e patológico. • Ele se comporta como um pequeno dipolo magnético. Por ser uma partícula carregada positivamente gera um campo magnético próprio ao seu redor. Isso significa dizer que ele tem bom momento magnético. III. CONSTITUIÇÃO DO EQUIPAMENTO O equipamento de ressonância magnética possui um complexo aparato mecânico e eletrônico, fruto de uma engenharia moderna organizada entre hardwares e softwares. Legenda Fig. 01 – Componentes do gantry de um equipamento de Ressonância Nuclear Magnética de campo fechado. Este sistema pode ser visto na imagem acima e é composto pelo magneto, sistemas de RF e bobinas, sistema de gradiente e bobina, shim coils, interface do operador, computador e um sistema de aquisição de dados. O magneto é o maior objeto deste equipamento. Possuem vários tamanhos e configurações, o que interfere diretamente na intensidade do campo. Os três tipos básicos de magnetos são os resistivos, magnetos permanentes e supercondutores, sendo este último baseado na inibição de resistência elétrica nos fios. IV. CAMPO MAGNÉTICO O campo magnético é a essência da RM. Equipamentos classificados como High Field são maioria nas instalações de diagnóstico por imagem (acima de 1.5 Tesla). Comparativamente, o campo magnético da terra é da ordem de 0.5 Gauss enquanto que 1 Tesla corresponde a 10000 Gauss. A manutenção de baixas temperaturas no interior do magneto é fundamental para a homogeneidade do campo magnético, também chamado de B0. A criogenia é induzida por Nitrogênio e depois mantida com Hélio líquido. Além disso, o shiller contribui promovendo a troca de calor usando água dentro de um circuito fechado. V. RADIOFREQUÊNCIA Produzida por um módulo específico chamado amplificador, os pulsos de radiofreqüência são tão necessários quanto é o magneto para a RM. Estes pulsos de radiofrequência são direcionados para a região do corpo que será avaliada. Essa região de interesse precisaser posicionada no isocentro magnético do equipamento para que haja maior sensibilização do hidrogênio. Neste ponto os pulsos gerados pelo equipamento transmitem a energia que será absorvida pelos prótons, fazendo com que comecem a girar em mais de um sentido, a maioria na mesma direção. Este alinhamento para uma frequência específica é chamada frequência de Larmor. Quando cessa o sinal de RF os prótons voltam a sua posição inicial de alinhamento e liberam energia. VI. BOBINAS Diversos tipos de bobinas compõem um sistema de ressonância magnética. Com funções específicas e constituições bem diferentes cada uma delas é fundamental para o funcionamento da máquina. Algumas delas são acessórios fáceis de identificar e posicionados sobre ou sob a região anatômica em destaque, enquanto que outras são componentes localizados no interior do equipamento, cercados por uma complexa constituição mecânica e eletrônica. Bobinas de Shiming Bobinas de shiming são bobinas eletromagnéticas menores, utilizadas para manter ou corrigir os distúrbios da homogeneidade do campo magnético, pois é praticamente impossível produzir um campo magnético perfeitamente homogêneo. Colaboram com a homogeneidade e ajuste da “sintonia fina” do magneto, tornando-o o mais homogêneo possível em seu centro, onde as imagens são obtidas. Bobinas de Gradiente Bobinas de gradiente são componentes eletromagnéticos com potencial para provocar variações lineares no campo magnético, possibilitando a localização espacial do sinal de RM ao longo de três direções perpendiculares. Elas envolvem o bore, logo abaixo do magneto principal. São especialmente capazes de localizar a estrutura e orientar a aquisição das imagens nos três eixos: transversal, sagital e coronal. Bobina de Corpo A bobina de corpo é uma parte fixa dentro do magneto e envolve todo o paciente durante o exame. São responsáveis por transmitir a radiofrequência para praticamente todas as sequências de pulso. Apesar de sua principal função estar relacionada à transmissão, também pode ser utilizada para a recepção do sinal, porém, com qualidade inferior em relação as bobinas de contato ou superfície. Bobinas de RF São dispositivos elétricos compostos por múltiplos fios, capazes de detectar uma oscilação do campo magnético quando há influência de uma corrente elétrica induzida. Algumas bobinas de RF são transmissoras e receptoras, porém, a grande maioria só possui antenas receptoras, neste caso a transmissão do sinal é realizada pela bobina de corpo. Arranjo de fios do conector Existem atualmente bobinas dedicadas que possuem formato anatômico para determinada parte do corpo. Com isso, além de mais conforto ao paciente, elas diminuem a distância entre a superfície das bobinas acessórias e o tecido estudado. Entretanto, o número de canais é a principal característica de uma bobina de superfície quando relacionamos à qualidade do sinal recebido. Quanto maior o número de canais maior a capacidade de subdividir em áreas menores a mesma área útil de uma bobina, fazendo com que a intensidade do sinal recebido apresente mais pontos de leitura. VII. INFLUÊNCIA DO OPERADOR TÉCNICO PARA OTIMIZAÇÃO DO SINAL/RUÍDO ATRAVÉS DA ESCOLHA E Para otimização do sinal/ruído através da escolha ideal e posicionamento da bobina de recepção é fundamental que o operador técnico entenda os conceitos físicos básicos que envolvem a RM. O conceito primário está relacionado à compreensão da influência do isocentro magnético, local onde a homogeneidade do campo é maior, representada pelo encontro dos eixos X, Y e Z. A medida em que nos afastamos do isocentro – facilmente destacado pelo fornecedor através do laser de posicionamento sagital e axial – o campo magnético torna-se mais instável. A bobina de gradiente é responsável por corrigir a diferença de freqüência de precessão dos prótons de hidrogênio. A influência negativa deste afastamento é observado principalmente quando utilizamos tamanhos de FOV grandes (Field of View)e em extremidades de bobinas de superfície. Quando o estudo é direcionado a estruturas unilaterais o deslocamento do paciente é fundamental, ele fará com que o sítio em análise apresente maior intensidade de sinal. A utilização de bobinas chamadas de “dedicadas” também colabora para uma excelente RSR (relação sinal ruído). Possuem modelagem anatômica para a região de interesse e tamanho ideal para que os parâmetros geométricos selecionados permitam a melhor resolução espacial e de contraste. A prática para manipulação de parâmetros de modo a conservar a relação sinal-ruído depende de maior aprofundamento e experimentação. A RSN é a razão da amplitude do sinal recebido pela amplitude média do ruído. Os fatores que afetam diretamente a amplitude do sinal são a densidade de prótons da área examinada, a homogeneidade do campo, o gap, o volume do voxel, a espessura de corte, TR (tempo de repetição), TE (tempo de eco), Flip Angle, NEX (número de aquisições ou excitações), tamanho da matriz, FOV (field of view), codificação de fase e freqüência, a largura da faixa de recepção e o foco principal do trabalho que é a utilização adequada e escolha da bobina de recepção. Bobinas com canais complementares, utilizadas em configurações R-L (rigth-left), AP (ântero-posterior) ou FH (feet-head) precisam estar em paralelo, simetricamente posicionadas, evitando assim artefatos por ausência de sinal. Um exemplo prático é a utilização de bobinas de superfície flexíveis para a utilização em extremidades. VIII. CONCLUSÃO Qualidade de imagem em RM é uma medida de precisão diagnóstica e aparência de uma imagem. É definida pelo contraste das imagens, a capacidade de detalhar espacialmente a resolução e a relação sinal ruído. Todo este cenário evidencia a necessidade de uma equipe 1 2 1 – Bobinas de Shiming 2 – Bobinas de Gradiente bem treinada para compreender a necessidade de cada exame, disposta a compartilhar os conhecimentos e trabalharem juntos para a multiplicação de boas práticas que possam interferir na busca do melhor resultado no apoio diagnóstico. São benefícios que podem ser observados tanto internamente quanto pelos clientes que precisam do diagnóstico por imagem para elucidação clínica. REFERÊNCIAS [1] Westbrook, Catherine, Kaut, Carolyn (2000), Ressonância Magnética Prática. Editora Guanabara Koogan. [2] Mazzola AA. Ressonância Magnética: Princípios de formação da imagem e aplicações em imagem funcional. Revista Brasileira de Física Médica 2009; 3(1)117-29. [3] Huettel SA, Song AW, McCarthy G. Funcional Magnetic Resonance Imaging. Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts, 2004. [4] Bushong, Stewart C., Manual de Radiologia para técnicos, Houston, Texas. Mosby/Doyma Livros. [5] Purchell EM, Torrey HC, Pound RV. Resonance absorption by nuclear magnetic moments in a solid Phys Rev. 1946.69:37-8. Bernardo Augusto Chaves Dória nasceu em Belo Horizonte, MG, em março de 1985. Recebeu o título de Tecnólogo em Radiologia pela Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) em 2008. Desde julho de 2012 atua como Supervisor Técnico em Diagnóstico por Imagem do Instituto Hermes Pardini. Marco Túlio Perlato possui graduação em Engenharia de Telecomunicações (1993) pelo Instituto Nacional de Telecomunicações, especialização em Engenharia Clínica (1995) pela Universidade Estadual de Campinas, especialização em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde Pública (2000) pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e Mestrado em Saúde Coletiva (2011) pela Universidade do Vale do Sapucaí. Atualmente é coordenador e professor do curso de graduação e pós graduação em Engenharia Biomédica e Engenharia Clínica do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), consultor em projetos de Engenharia Clínica e membro do Grupo de Trabalho para desenvolvimentode metodologia e classificação em tecnovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Compartilhar