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Hanseníase. Epidemiologia. No mundo, foram reportados a OMS 208.619 novos casos da doença em 2018. Desses, 30.957 ocorreram na região das Américas e 28.660 (92,6% do total das Américas) foram notificados do Brasil. Brasil é classificado como um país de alta carga para a doença, ocupando 2º lugar na relação de países com maior nº de casos no mundo, atrás apenas da Índia. A prevalência apresenta ainda importantes variações regionais e estaduais. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (exceto Rio Grande do Norte e DF) = COEFICIENTES ELEVADOS. Sobretudo nos estados MT, Tocantins e Maranhão. Considerada uma das principais causas de incapacidades físicas = potencial de causar lesões neurais. 95% dos expostos ao M. leprae são naturalmente resistentes à infecção. 5% suscetíveis = doença se manifesta de diferentes formas, de acordo com a idade, sexo, susceptibilidade genéticas ou as coletividades – condições geográficas e socioeconômicas. Fisiopatologia. Causada pelo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen = parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos. ALTA infectividade e BAIXA patogenicidade = infecta muitas pessoas porém poucas adoecem. Homem = considerado o único reservatório natural do bacilo. Pacientes portadores de formas multibacilares = principal fonte de infecção. Contágio = através de uma pessoa dente, portadora do bacilo, não tratada, que o elimina para o meio exterior. Vias aéreas superiores = principal via de inoculação e eliminação do bacilo. Distribuição da doença em conglomerados, famílias, ou comunidades com antecedentes genéticos comuns = possibilidade de uma pré-disposição genética à infecção. Existem marcadores imunológicos relacionados à capacidade dos macrófagos em destruir o bacilo ou deixá-lo se multiplicar. M. leprae se reproduz por divisão binária simples a cada 14 dias. Levam anos para que o organismo possua uma carga bacilar capaz de se expressar clinicamente → Período de incubação = longo, em média 2 a 5 anos, podendo ser de meses a mais de 10 anos. Depois da sua entrada no organismo (não ocorrendo destruição) = bacilo na célula de Schwann e pele. Disseminação para outros tecidos ocorre nas formas mais graves da doença = agente infectante não encontra resistência contra sua multiplicação. Defesa pela imunidade celular = fagocita e destrói os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação (destruição no interior do macrófago). Classificação. Classificação de Madri = mais utilizada no Brasil. Dois polos estáveis e opostos (virchowviano e tuberculoide) e dois grupos instáveis (indeterminado e dimorfo). Classificação operacional da OMS = pelo nº de lesões. Até 5 lesões = paucibacilar e > 5 lesões = multibacilar. Clínica. Hanseníase Indeterminada. Manchas hipocrômicas, anestésica e anidrótica com bordas imprecisas. Lesões únicas ou em pequeno nº e podem se localizar em qualquer área da pele. NÃO há comprometimento de troncos nervosos, apenas pequenos ramos nervosos cutâneos. 1ª manifestação clínica da hanseníase; Após período de tempo (dependendo da imunidade) = evolui para cura ou outra forma clínica → paucibacilar ou multibacilar. Baciloscopia negativa. Histopatologia = infiltrado perineural e perivascular. Hanseníase Tuberculoide. Surge a partir da HI não tratada nos pacientes com boa resistência. No polo de resistência = é a forma clínica de contenção da multiplicação bacilar, dentro do espectro da doença. Lesões bem delimitadas em nº reduzido. Eritematosas. Perda total da sensibilidade e de distribuição assimétrica. Inicialmente máculas → lesões placa com bordas papulosas e áreas de pele eritematosa ou hipocrômicas. Neurite = quadro agudo de dor intensa e edema. A princípio sem comprometimento funcional do nervo. Lesão se torna crônica → anidrose e ressecamento cutâneo; Alopecia; Alteração sensitiva (ORDEM em que é perdida = térmica, dolorosa e tátil) e motora (dormência e perda da força muscular). Se não tratado = acometimento neural provoca incapacidades e deformidades. Em alguns casos, alterações de sensibilidade e motricidade podem aparecer SEM os sintomas agudos de neurite = neurite silenciosa. Forma neural pura = espessamento do tronco nervoso, dano neural precoce grave sem presença de lesões cutâneas. Sinal da Raquete = espessamento neural emergindo da placa. Principais troncos nervosos periféricos e principais síndromes: Face = trigêmeo e fácil → Ramo trigeminal do facial (lagoftalmo). Braços = Radial → queda do punho. Ulnar → mão em garra e atrofia de interósseos. Mediano → mão do pregador. Ulnar + mediano → mão simiesca ou garra completa. Pernas = Fibular → queda do pé. Tibial → mal perfurante plantar, deformidade em garra de artelhos. HT e HI = formas paucibacilares da hanseníase. Hanseníase Virchowviana. Forma multibacilar. Polo de baixa resistência ao bacilo. Pode evoluir a partir da HI ou se apresentar desde o início. Infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos; Pode afetar linfonodos, fígado e o baço (hepatoesplenomegalia). Na pele = máculas, pápulas, nódulos e tubérculos. Infiltração difusa e mais acentuada na face e nos membros. Pele = luzidia, xerótica com aspecto apergaminhado e tonalidade semelhante ao cobre. Rarefação dos pelos nos membros, cílios e cauda da sobrancelha (madarose). Infiltração da face e pavilhões auriculares + madarose e sem queda de cabelo = fácies leonina. Comprometimento nervoso = pequenos ramos da pele, inervação vascular e troncos nervosos (deficiências funcionais e sequelas tardias). Acometimento dos testículos = ↓ testosterona = ↑ FSH e LH, ↓ da libido e ginecomastia. Acometimento câmara anterior do olho = glaucoma e catarata. Insensibilidade da córnea = triquíase e infecção secundária. Baciloscopia fortemente positiva. Nos casos não tratados = importante foco infeccioso ou reservatório da doença. Histopatologia = aglomerado de bacilos nas camadas profundas da derme. Hanseníase Dimorfa ou Borderline. Instabilidade imunológica = grande variação em suas manifestações clínicas na pele, nos nervos ou no comprometimento sistêmico. Lesões de pele numerosas e sua morfologia conta com aspectos HV + HT, podendo haver predominância alternativa. Infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares + presença de lesões no pescoço e nuca = SUGESTIVO. Lesões neurais precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidade física. De acordo com a morfologia, nº de lesões e simetria é subclassificada em: Borderline Tuberculoide: placas ou manchas eritematosas, anulares, de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco numerosas ou com lesão satélite. Baciloscopia negativa ou discretamente positiva. Borderline Borderline: lesões bizarras, semelhante ao ‘’queijo suíço’’ (‘’esburacadas’’), anulares ou foveolares, com limite interno nítido e externos imprecisos, bordos de cor ferruginosa. Lesões numerosas de distribuição assimétrica. Baciloscopia moderadamente positiva. Borderline Virchowviana: múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, algumas anulares. Baciloscopia francamente positiva. Diagnóstico. Etapa essencialmente clínica e epidemiológica. História e condições de vida do paciente + exame dermatoneurológico. Objetivo = identificar lesões ou áreas de pele com alterações de sensibilidade + comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autônomo). Anamnese Conversar sobre sinais e sintomas da doença e possíveis vínculos epidemiológicos. Algumaalteração na sua pele? Manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e há quanto tempo apareceram. Possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do seu corpo? Presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés? Se usou medicamento e qual o resultado. Avaliação Dermatológica. Identificar lesões de pele características, pesquisando sensibilidade. Inspeção de toda a superfície corporal, sentido crânio-caudal, procurando identificar áreas acometidas. Maior frequência em = face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas. Pesquisa de sensibilidade: Explicar o exame a ser realizado. Demonstrar a técnica, com os olhos do paciente aberto e em pele com sensibilidade normal. Em seguida, sensibilidade deve ser testada com os olhos do paciente fechados. Selecionar aleatoriamente a sequência a serem testados. Tocar a pele deixando tempo suficiente para o paciente responder. Repetir o teste para confirmar resultado. Sensibilidade térmica = dois tubos de ensaio, um aquecido e um frio. Tocar área sadia e área com lesão e pedindo para que identifique sensações de frio e calor. Fazer nas áreas suspeitas = lesões de pele não elevadas (manchas) ou elevadas (placas, nódulos); áreas de pele secas ou áreas referidas como regiões com alteração de sensibilidade; territórios dos nervos ulnar (quarto e quinto dedos da mão), do nervo radial (dorso da mão até o terceiro dedo), do nervo fibular (lateral da perna e dorso do pé), do nervo tibial (região plantar). Diferença na percepção da temperatura nas lesões (hipo ou anestesia) circundada por áreas periféricas de sensibilidade normal (normoestesia) = alteração da sensibilidade térmica. Confirma o diagnóstico apenas com alteração de uma das sensibilidades, não necessitando fazer os testes de sensibilidade dolorosa ou tátil. Sensibilidade tátil = mecha fina de algodão. Tocar área sadia e área com lesão, alternadamente, e perguntar se sente o toque. Sensibilidade dolorosa = agulha de insulina. Tocar a ponta nas lesões de pele com uma leve pressão, suficiente para causar sensação álgica. Alternar área interna e externa à lesão. Observar expressão facial e queixa de respostar à picada. A insensibilidade (anestesia) ou sensibilidade diminuída (hipoestesia) dentro da área de lesão confirma o diagnóstico. Avaliação neurológica. 1. Inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés. Olhos = nódulos, infiltrações, secreção, hiperemia, madarose, triquíase, ectrópio e lagoftalmo, ou opacidade da córnea. Alteração no contorno, tamanho e reação das pupilas, se apresentam pretas ou esbranquiçadas. Nariz = condições da pele, mucosa (alteração cor, umidade e se há crostas, atrofias, infiltração ou úlceras) e septo = perfuração, desabamento do nariz ou outros sinais. Mãos = diminuição de força, dormência. Pés = dor, dormência, perda de força, inchaço. Observação da marcha, pode apresentar características de comprometimento neural (pé caído). 2. Palpação dos troncos nervosos periféricos. Procurar = déficit motor, sensitivos e espessamento dos troncos nervosos pela palpação. Verificar queixa de dor espontânea no trajeto do nervo; Choque ou dor; Espessamento do nervo palpado comparado com o nervo correspondente, no lado oposto; Alteração na consistência do nervo (endurecimento, amolecimento); Alteração na forma do nervo (abcesso e nódulo); Se apresenta aderência. Avaliam-se: MS = nervo ulnar, mediano e radial. MI = tibial posterior e fibular comum. Segmento cefálico = grande auricular e nervo facial (motor e não palpável). 3. Avaliação da mobilidade articular. 4. Avaliação da força muscular. Verificar = comprometimento funcional dos músculos inervados pelos nervos que passam pela face, MS e MI. Evidenciado pela diminuição de força ou perda muscular. 5. Avaliação de sensibilidade nos olhos, MS e MI. Baciloscopia. Exame complementar mais útil, é de fácil execução e baixo custo. Feito com linfa obtida em PELO MENOS 4 locais = lóbulos das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) e em lesão cutânea suspeita. Coloração feita pelo método Ziehl-Neelsen e apresenta o resultado sob forma de Índice Baciloscópico (IB), numa escala de 0 a 6+. Considerar um caso de hanseníase se apresentar 1 ou + dos sinais cardinais: 1) Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração de sensibilidade. 2) Comprometimento do nervo periférico (espessamento + alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas). 3) Presença de bacilos M. leprae na baciloscopia do esfregaço intradérmico. Em caso de dúvida, provas complementares: Teste da Histamina. Gota de solução de cloridrato de histamina sob a pele. Com agulha fina escoriação embaixo do líquido, de modo que não haja sangramento. Esperado que ocorra a tríplice reação de Lewis: a. Eritema inicial no local da picada, no max com 10mm, 20 a 40s após a picada. b. Eritema pseudopódico com 30 a 50mm após aproximadamente 1m. c. Seropápula, 2 a 3m após escarificação. Útil para auxiliar no diagnóstico de manchas hipocrômicas iniciais = falta o eritema pseudopódico.
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