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Aula 3 – Textura e Estrutura II UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS 27 Aula 3: Textura e Estrutura II A completa classificação de um solo depende também de outros fatores além da granulometria, sendo a adoção de uma nomenclatura baseada apenas na curva granulométrica insuficiente para uma previsão, ainda que qualitativa, do seu comportamento de engenharia. 1. Designação Segundo a NBR 6502 A NBR- 6502 apresenta algumas regras práticas para designar os solos de acordo com a sua curva granulométrica. A tabela abaixo ilustra o resultado de ensaios de granulometria realizados em três solos distintos. As regras apresentadas pela NBR-6502 serão então empregadas para classificá-los, em caráter ilustrativo. 1.1. Normas para a Designação do Solo Segundo a NBR, Baseando-se na Curvatura Granulométrica Quando da ocorrência de mais de 10% de areia, silte ou argila adjetiva-se o solo com as frações obtidas, vindo em primeiro lugar as frações com maiores percentagens. Aula 3 – Textura e Estrutura II MECÂNICA DOS SOLOS 28 Em caso de empate, adota-se a seguinte hierarquia: • 1°) Argila; • 2°) Areia; • 3°) Silte. No caso de percentagens menores do que 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo, independente da fração granulométrica considerada: • 1 a 5% → com vestígios; • De 5 a 10% → com pouco. Para o caso de pedregulho com frações superiores a 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo: • 10 a 29% → com pedregulho; • > 30% → com muito pedregulho. Resultado da nomenclatura dos solos conforme os dados apresentados na tabela acima: • Solo 1: Argila Silto-Arenosa com pouco Pedregulho; • Solo 2: Areia Silto-Argilosa com Pedregulho; • Solo 3: Pedregulho Arenoso com vestígios de Silte e Pedra. 2. Estrutura dos Solos Denomina-se estrutura dos solos a maneira pela qual as partículas minerais de diferentes tamanhos se arrumam para formá-lo. A estrutura de um solo possui um papel fundamental em seu comportamento, seja em termos de resistência ao cisalhamento, compressibilidade ou permeabilidade. Como os solos finos possuem o seu comportamento governado por forças elétricas, enquanto os solos grossos têm na gravidade o seu principal fator de influência, a estrutura dos solos finos ocorre em uma diversificação e complexidade muito maior do que a estrutura dos solos grossos. De fato, sendo a gravidade o fator principal agindo na formação da estrutura dos solos grossos, a estrutura destes solos difere, de solo para solo, somente no que se refere ao seu grau de compacidade. No caso dos solos finos, devido a presença das forças de superfície, arranjos estruturais bem mais elaborados são possíveis. A figura abaixo ilustra algumas estruturas típicas de solos grossos e finos. Aula 3 – Textura e Estrutura II UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS 29 Quando duas partículas de argila estão muito próximas, entre elas ocorrem forças de atração e de repulsão. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que elas possuem e que ocorrem desde que as camadas duplas estejam em contato. As forças de atração decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes. Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas resulta a estrutura dos solos, que se refere à disposição das partículas na massa de solo e as forças entre elas. Lambe (1969) identificou dois tipos básicos de estrutura do solo, denominando-os de estrutura floculada, quando os contatos se fazem entre faces e arestas das partículas sólidas, ainda que através da água adsorvida, e de estrutura dispersa quando as partículas se posicionam paralelamente, face a face. 3. Composição Química e Mineralógica Os solos são formados a partir da desagregação de rochas por ações físicas e químicas do intemperismo. As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos assim formados irão depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Estas propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o comportamento mecânico do solo. Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e que possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definidas. Eles podem ser divididos em dois grandes grupos, a saber: Aula 3 – Textura e Estrutura II MECÂNICA DOS SOLOS 30 • Primários: Aqueles encontrados nos solos e que sobrevivem a transformação da rocha (advêm, portanto, do intemperismo físico); • Secundários: Os que foram formados durante a transformação da rocha em solo (ação do intemperismo químico). 3.1. Solos Grossos: Areias e Pedregulhos As partículas dos solos grossos, dentre as quais apresentam-se os pedregulhos, são constituídas algumas vezes de agregações de minerais distintos, sendo mais comum, entretanto, que as partículas sejam constituídas de um único mineral. Estes solos são formados, na sua maior parte, por silicatos (90%) e apresentam também na sua composição óxidos, carbonatos e sulfatos. Como já estudado em Materiais de Construção I, a saber os grupos minerais: • Silicatos - feldspato, quartzo, mica, serpentina; • Óxidos - hematita, magnetita, limonita; • Carbonatos - calcita, dolomita; • Sulfatos - gesso, anidrita. 3.2. Solos Finos: Argilas Os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, etc., podem intervir no seu comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica, sendo formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde R = Al; Fe, etc. Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo- minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com diâmetro inferior a 2 µm. Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que estas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia. O estudo da estrutura dos argilo-minerais pode ser facilitado "construindo-se" o argilo- mineral a partir de unidades estruturais básicas. Este enfoque é puramente didático e não representa necessariamente o método pelo qual o argilo-mineral é realmente formado na natureza. Assim, as estruturas apresentadas nesta aula são apenas idealizações. Um cristal típico de um argilo-mineral é uma estrutura complexa similar ao arranjo estrutural aqui idealizado, mas contendo usualmente substituições de íons e outras modificações Aula 3 – Textura e Estrutura II UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS 31 estruturais que acabam por formar novos tipos de argilo-minerais. As duas unidades estruturais básicas dos argilo-minerais são os tetraedros de silício e os octaedros de alumínio (figura). Os tetraedros de silício são formados por quatro átomos de oxigênio equidistantes de um átomo de silício enquanto que os octaedros de alumínio são formados por um átomo de alumínio no centro, envolvido por seis átomos de oxigênio ou grupos de hidroxilas, OH-. A depender do modo como estas unidades estruturais estão unidas entre si, podemos dividir os argilo-minerais em três grandes grupos. • GRUPO DA CAULINITA: A caulinita é formada por uma lâmina silícica e outra de alumínio, que se superpõem indefinidamente. A união entre todas as camadas é suficientemente firme (pontes de hidrogênio) para não permitir a penetração de moléculas de água entre elas. Assim, as argilas cauliníticas são as mais estáveis em presença d'água, apresentando baixa atividade e baixo potencial de expansão; • MONTMORILONITA:É formada por uma unidade de alumínio entre duas silícicas, superpondo-se indefinidamente. Neste caso a união entre as camadas de silício é fraca (forças de Van der Walls), permitindo a penetração de moléculas de água na estrutura com relativa facilidade. Os solos com grandes quantidades de montmorilonita tendem a ser instáveis em presença de água. Apresentam em geral grande resistência quando secos, perdendo quase que totalmente a sua capacidade de suporte por saturação. Sob variações de umidade apresentam grandes variações volumétricas, retraindo- se em processos de secagem e expandindo-se sob processos de umedecimento; • ILITA: Possui um arranjo estrutural semelhante ao da montmorilonita, porém os íons não permutáveis fazem com que a união entre as camadas seja mais Aula 3 – Textura e Estrutura II MECÂNICA DOS SOLOS 32 estável e não muito afetada pela água. É também menos expansiva que a montmorilonita. Como a união entre as camadas adjacentes dos argilo-minerais do tipo 1:1 (grupo da caulinita) é bem mais forte do que aquela encontrada para os outros grupos, é de se esperar que estes argilo-minerais resultem por alcançar tamanhos maiores do que aqueles alcançados pelos argilo-minerais do grupo 2:1, o que ocorre na realidade: Enquanto um mineral típico de caulinita possui dimensões em torno de 500 (espessura) x 1000 x 1000 (nm), um mineral de montmorilonita possui dimensões em torno de 3x 500 x 500 (nm). A presença de um determinado tipo de argilo-mineral no solo pode ser identificada utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, o raio-X, a microscopia eletrônica de varredura, etc. 3.2.1. Superfície Específica Denomina-se de superfície específica de um solo a soma da área de todas as partículas contidas em uma unidade de volume ou peso. A superfície específica dos argilo-minerais é geralmente expressa em unidades como m2/m3 ou m2/g. Quanto maior o tamanho do mineral menor a superfície específica do mesmo. Deste modo, pode-se esperar que os argilo-minerais do grupo 2:1 possuam maior superfície específica do que os argilo-minerais do grupo 1:1. A montmorilonita, por exemplo, possui uma superfície específica de aproximadamente 800 m2/g, enquanto que a ilita e a caulinita possuem superfícies específicas de aproximadamente 80 e 10 m2/g, respectivamente. A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo-minerais, na medida em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças elétricas (em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do solo (estrutura, plasticidade, coesão, etc.). 4. As Fases do Solo O solo é constituído de uma fase fluida (água e/ou ar) e se uma fase sólida. A fase fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas. 4.1. Fase Sólida Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos grãos, conforme já apresentado anteriormente. Aula 3 – Textura e Estrutura II UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS 33 4.2. Fase Gasosa Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo-se também apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água). A fase gasosa é importante em problemas de deformação de solos e é bem mais compressível que as fases sólida e líquida. 4.3. Fase Líquida Fase fluida composta em sua maior parte pela água, podendo conter solutos e outros fluidos imiscíveis. Pode-se dizer que a água se apresenta de diferentes formas no solo, sendo, contudo, extremamente difícil se isolar os estados em que a água se apresenta em seu interior. A seguir são expressados os termos mais comumente utilizados para descrever os estados da água no solo. É diversificada em: • Água Livre: Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob a ação da gravidade ou de outros gradientes de energia; • Água Capilar: É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio de forças capilares. Esta se eleva pelos interstícios capilares formados pelas partículas sólidas, devido a ação das tensões superficiais nos contatos ar- água-sólidos, oriundas a partir da superfície livre da água; • Água Adsorvida: É uma película de água que adere às partículas dos solos finos devido a ação de forças elétricas desbalanceadas na superfície dos argilo-minerais. Está submetida a grandes pressões, comportando-se como sólido na vizinhança da partícula de solo; • Água de Constituição: É a água presente na própria composição química das partículas sólidas. Não é retirada utilizando-se os processos de secagem tradicionais. Ex: Montmorilonita (OH)4Si2Al4O20nH2O; • Água Higroscópica: Água que o solo possui quando em equilíbrio com a umidade atmosférica e a temperatura ambiente. Baseado e adaptado de Sandro Lemos Machado e Miriam C. Machado. Edições sem prejuízo de conteúdo.
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