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O preconceito linguístico em questão no Brasil O Romantismo, escola literária que surgiu durante as últimas décadas do século XVIII, ansiava uniformizar a escrita. Em contrapartida, o Modernismo, amplo movimento literário, que surgiu na primeira metade do século XX, buscou romper com a ideia de uma linguagem “correta e padronizada”. À vista disso, percebe-se que o preconceito linguístico – presente na sociedade desde os primórdios da civilização brasileira – é fruto de fatores econômicos, geográficos e sociais enraizados no país. Dessa forma, há um fator que não pode ser menosprezado: a atuação da mídia para perpetuação dessa problemática. Nesse contexto, é válido ressaltar que o preconceito linguístico é uma das formas mais perversas da exclusão social e, também, possui outros intensificadores. O trecho “Qué apanhá sordado? O quê? Qué apanhá?” do poema “O Capoeira” do escritor Oswald de Andrade, chama atenção para a necessidade de uma espécie de ética linguística pautada no contraste das variações da linguagem em uma única língua. Entretanto, sabe-se que parte da população não compreende e recusa essas variações, consequência das diferenças geográficas-culturais e da desigualdade social e econômica presente na sociedade, uma vez que a camada mais rica tende a considerar o domínio da norma culta como um instrumento de ascensão social e menospreza a pluralidade dos diferentes modos de comunicação. Logo, é perceptível que, ao inviabilizar as linguagens distintas advindas de regiões, classes sociais e níveis de escolaridade diferentes, o preconceito linguístico é agravado e uma forma de falar tão eficiente quanto a considerada “padrão” é deixada de lado e vista como errada. Além disso, a influência dos meios de comunicação de massa, devido à veiculação de “modismos” de linguagem, contribui para a valorização da norma culta e, muitas vezes, nega a característica de o Brasil de ser um país culturalmente diversificado. Marcos Bagno, escritor e linguista mineiro, retratou, em uma de suas obras, que a sociedade é influenciada a ter pensamentos preconceituosos em relação às variedades linguísticas de menor prestígio social, já que, em novelas da TV, os personagens de regiões, como o sertão e o agreste, são representados como atrasados, ignorantes e grotescos. Diante dessa perspectiva, evidencia-se que esse preconceito está enraizado na sociedade brasileira e ganha, ainda mais, força na medida em que a mídia – desde programas televisivos a redes sociais – distorce o conceito de língua e a despreza como fator social, o que faz com que o senso comum acredite que há apenas um único conceito de se desenvolver o fenômeno da linguagem. Logo, é nítida a urgência de uma forma para solucionar o problema. Portanto, para que as diversas formas de discurso não sejam menosprezadas, o Ministério da Educação (MEC) deve, por meio de verbas governamentais, promover projetos que visem fazer com que a população compreenda as diferenciações lexicais brasileiras e suas origens a partir de meios lúdicos e acessíveis – como jogos de vocabulário e peças teatrais. Concomitantemente, cabe ao MEC, com auxílio de especialistas nas áreas da linguagem e das ciências sociais, reformular a grade curricular do Ensino Fundamental ao Médio, implementando matérias que abordem os benefícios da variação linguística. Somente assim, será construída uma educação robusta, permanente e, acima de tudo, inclusiva e a população respeitará as diversas espécies de diálogos, rompendo com os preceitos do Romantismo no século XVIII. Redação escrita por Maria Cecília R. Ramalho
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